Realiza-se entre ontem e amanhã na Universidade de Amesterdão uma conferência internacional intitulada «Regimes de Pluralismo Religioso na Europa do Século XX», que inclui, no dia de hoje, o tópico a «Identidade Europeia e Memória do Paganismo».
A identidade da Europa tem sido tipicamente construída nos dois pilares do Cristianismo e do secularismo iluminista. Consequentemente, as alternativas religiosas foram sempre colocadas em sistemas de pluralismo nos quais o Cristianismo e a sociedade secular foram vistas como hegemónicas. Outras identidades religiosas (tais como a judaica, a muçulmana, a budista) são assim tipicamente vistas como acrescentos ao veio principal da cultura europeia, mais do que como partes integrais do desenvolvimento da própria cultura europeia. Esta perspectiva monolítica da identidade europeia está todavia a ser cada vez mais rejeitada pelos estudiosos: nem na Idade Média foi a Cristandade uma entidade monolítica, nem era a única identidade religiosa possível.
Embora seja bem sabido que os encontros interconfessionais com o Islão e o Judaísmo tenham desempenhado um papel significativo na história europeia da religião, menos atenção tem sido dado ao papel do Paganismo. Todavia, a memória de um passado pagão tem sido um foco maior de tentativas históricas para definir o que «nós» não somos: desde a luta dos primeiros padres da Igreja com as autoridades intelectuais pré-cristãs, até ao por vezes violento exorcismo das alegadas sobrevivências pagãs durante a Reforma e a Contra-Reforma, até à reinvenção do Paganismo como irracionalidade e superstição durante o Iluminismo. Neste sentido, o Paganismo tem sido um «Outro» nas construções da identidade ocidental - mas um Outro insidioso e interno que suscitou não apenas uma atitude de demonização e rejeição, mas também um contínuo fascínio.
O painel explora o papel da «memória do Paganismo» nas lutas modernas e contemporâneas das políticas de identidade na Europa. Perturbando o encontro triangular entre as identidades cristã, muçulmana e secular que domina o discurso público, as reconstruções de visões pagãs para os Estados-Nação individuais bem como para a Europa como um todo têm ressurgido no movimento da Nova Direita europeia nas décadas mais recentes. Historicamente, as memórias do Paganismo têm tido um papel nos movimentos nacionalistas na Europa dos séculos dezanove e vinte. Os textos neste painel exploram, de diversos ângulos e diferentes casos de estudo, como é que as ideias amorfas de «Paganismo» continuam a ser usadas para desafiar não apenas as identidades assumidamente hegemónicas da Cristandade e do secularismo, mas também para sugerir regimes completamente novos de governar a relação entre a Religião, o Estado e o povo.
Noticiado no Gladius, pelo Caturo.
Fonte [original]: Heterodoxology
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