segunda-feira, 8 de março de 2021

Falando do Velho Nick

Jason Mankey escreveu em sua coluna “Raise the Horns” o seguinte trecho [traduzido pelo Google Tradutor]:

“É uma história adorável, mas não verdadeira. O Deus Chifrudo é uma construção moderna, não antiga, e embora seja verdade que ele tem um pouco do Diabo em Seu DNA, isso também é uma adição moderna. Os antigos não tinham um Deus com chifres universal, o que eles tinham eram vários deuses com chifres (e chifres) que serviam a uma variedade de necessidades. Esses deuses eram todos muito diferentes também, e às vezes não se sincronizam de outra forma a não ser por terem ornamentação no topo de suas cabeças”. [https://www.patheos.com/blogs/panmankey/2016/02/the-horned-god-not-as-old-as-you-think]

Eu acho engraçado, afinal, o Paganismo Moderno, especialmente a Wicca e as religiões da Deusa, divulgam a Deusa Mãe, usando a tese de Marija Gimbutas. Existem inclusive páginas que fazem uma leitura [tendenciosa] de achados do período Neolítico para “provar” a “antiguidade” dessa Deusa Mãe. Essa leitura/interpretação é bastante comum entre Diânicos e grupos das “religiões da Deusa”, mas eu devo, infelizmente, seguir o raciocínio de Jason Mankey e apontar que a Deusa Mãe é uma construção moderna, que os povos antigos tinham diversas Deusas, muitas inclusive que simplesmente não se encaixam nessa “teologia do sagrado feminino” patrocinada pelo Dianismo e pelas “religiões da Deusa”.

Se vamos coletar a arte do neolítico para ler/interpretar como sinais de uma religião primordial, então o Deus Hasteado é tão antigo quanto a Deusa Mãe. Desde o Neolítico, ao lado da ”Donzela”, havia a presença de um "Bisão".

“Por milhares de anos, o símbolo do touro foi cercado por uma aura mítica que abrange não apenas eras de história, perdurando até os dias atuais, mas também a vasta gama de culturas que surgiram no mundo mediterrâneo. As lendas e cultos tecidos em torno do touro e a parte integrante que este animal maravilhoso, quase divino, representava na vida das pessoas é o tema de "O touro no mundo mediterrâneo, mitos e lendas" no Museu Benaki. Uma exposição sobre antiguidades do paleolítico à época cristã (objetos foram emprestados do Museu do Louvre, do Museu Britânico, do Museu Ashmoleon, do Museu de Chipre e de museus arqueológicos na Grécia), é organizada conjuntamente pelo Museu d'Histoira de la Ciutat em Barcelona, ​​onde também foi originalmente exibido, e é realizado em Atenas sob os auspícios da Olimpíada Cultural. De âmbito amplo, a exposição considera as imagens do touro como um símbolo de fertilidade e poder, uma entidade divina e um objeto de medo e veneração associados a antigos ritos de passagem, crenças sobre as origens do mundo e a vida após a morte, como bem como com a vida de uma comunidade. A exposição contém uma riqueza de ideias, reflete a semiótica dos mitos, os cruzamentos culturais e os valores de todas as diferentes civilizações que se desenvolveram na Mesopotâmia e na bacia do Mediterrâneo, desde a cultura suméria à itálica, ibérica e romana pré-cristã, e em todas as regiões de Chipre, Palestina, Assíria-Babilônia, Pérsia, Anatólia e Egito. Como costuma acontecer com exposições que cobrem um terreno tão extenso, a exibição de antiguidades no Museu Benaki não consegue desvendar totalmente essa teia de ideias. É por isso que a exposição gira em torno de pontos gerais selecionados e é estruturada em seções temáticas para facilitar a compreensão do espectador. O catálogo suplementar fornece uma análise mais aprofundada por meio de ensaios de especialistas. Touros pintados ou gravados nas paredes das cavernas paleolíticas sugerem que, desde os tempos pré-históricos, o touro era associado à energia cósmica e às forças de vida e morte. Na Anatólia, o touro era adorado como filho da deusa-mãe, e seus chifres, que sustentavam o mundo, eram vistos como os pilares do universo”. [https://www.ekathimerini.com/culture/13743/the-bull-in-the-ancient-world] – traduzido com o Google Tradutor.

Na gruta de Trois Frères foi achada pinturas rupestres do que foi chamado de “pequeno feiticeiro”. Nos sítios arqueológicos de Gobeklitepe, Çatalhöyük, Alaca Höyük e Alişar Hüyük, frequentemente citados para falar dessa “Deusa Mãe”, possui sinais de um “culto ao touro”. A presença do culto ao touro está presente no povo Hitita, no povo Hurrita e no povo Anatoliano. No vale do rio Indus, na civilização Harappan, foi encontrado o “Selo de Pashupati”. Na Dinamarca foi encontrado o Caldeirão de Gundestrup. Em Paris foi encontrado o Pilar dos Barqueiros. Esses são sinais da sobrevivência da crença do Deus Touro, o Consorte da Deusa Serpente.

Uma simbologia não é imitada ou copiada sem que haja uma origem em comum. Se a “Deusa Mãe” e seu culto tem sua origem no Neolítico, o Deus Hasteado e seu culto tem sua origem no Neolítico. No âmbito do subconsciente, no folclore popular, essa crença antiga sobreviveu aos reinos, impérios, colonizações e aculturamentos. As crenças populares na Europa durante a Idade Média e que foram denunciadas como heresia e bruxaria, são o registro de que essa crença antiga resistiu até a imposição do Cristianismo. Quando a Igreja e os Tribunais Seculares deram início ao Santo Ofício, tanto a população, como os padres, os inquisidores, os juízes e reis, carregavam em si esse conceito subconsciente de uma entidade cornuda que foi identificada com o Diabo. O conceito, a ideia, de uma entidade cornuda de poderes mágicos imensos que governa o mundo é, portanto, anterior ao Cristianismo e ao Judaísmo.

Toda a mitologia que envolve a bruxa, como o “sinal das bruxas”, o voo com vassouras, a presença de “familiares” [animais que são guias espirituais], o cozimento de poções no caldeirão. Todo o imaginário, popular, clerical e governamental, sobre a Assembleia de Bruxas, sobre o Sabat e seu Mestre, o “Homem de Preto”. Esses registros estão além de meros testemunhos obtidos, na maioria das vezes, com tortura (o que não descarta os testemunhos voluntários), são resquícios que estão presentes no imaginário coletivo por que o poder clerical e secular é formado por pessoas que preservaram [ainda que inconscientemente] essa antiga crença. A Igreja simplesmente vestiu Satã com esse conceito, de onde procederam as acusações de que as bruxas faziam um pacto com o Diabo.

Então eu afirmo que qualquer pessoa que afirme ser um sacerdote wiccano, mas que não acredita na antiguidade do Deus Hasteado, perde todo o sentido de seu sacerdócio, perde toda credibilidade. Eu, que sou um pagão ordinário (bem ordinário), tenho o orgulho e a ousadia de clamar bem alto e em bom som o Nome do Antigo.

Ave, meu Doce Senhor.

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