quarta-feira, 19 de julho de 2017

Heterogênese XV

O homem deve vir a saber, o mais rápido possível, de que é um animal, como outro ser qualquer, bestial ou genial, na medida ou necessidade e de que a ruína que lhe cerca, é produto do seu esforço em possuir tudo sob seu controle.
Que isso seja feito não pela violência, método masculino, que só cresce enquanto houver cumplicidade. Mas pela sabedoria, realeza merecida e dignidade que, somente a mulher possui em si. Como brasa, esperando ser exposta, para acender a cabeça do homem onde, em algum lugar, aguarda o fogo negro da consciência, para reformular toda a humanidade, desta vez nutrida pela sabedoria divina da mulher.

Deles virá a nova geração, o filho é a união do homem e da mulher, não pode esquecer sua origem nem negar gratidão.
Crescerá, aprendendo e sendo apoiado por seus pais, consultando-os, para resolver os problemas que encontrar ao enfrentar o mundo. Não deve ser nem mais nem menos que isso. De nada adianta tomar outros comportamentos alheios e costumes fúteis, pois isto não lhe dará o respeito e a dignidade que deseja obter. Tudo vira em seu tempo, pela capacidade de responder aos atos e pela lógica de como usá-los corretamente. Divergir disto, não os torna diferentes, não os tornará adultos, não trará temor ou respeito dos pais ou dos seus amigos. Tenham tanta riqueza quanto quiserem, sejam tão bonitos quanto acharem necessário para impressionar seus pares fúteis, ajam violentamente, irresponsavelmente, infantilmente, achem quantas vezes quiserem que são muito importantes e muito poderosos. Logo a ilusão cairá, beleza não dura sempre e a vida é árdua; riqueza não se mantém diante do ócio; cedo ou tarde cairão vítimas da violência que distribuem; cairão do pedestal, ao descobrirem o quanto dependem dos pais e dos seus amigos, para que consiga suportar o fardo da vida. Terão que carregá-lo sozinhos, se não melhorarem seus hábitos, falecerão rapidamente, pois não terão preparo nem resistência para tanto. Quem quiser evitar isso, que aprenda de uma vez por todas: só se pode obter aquilo que se dá, não se pode cobrar por algo que não se tem. De respeito e o terão de volta, de amor e serão amados.

Quem não faz isto, pode até escapar impunemente, pode até não perceber que, no futuro, receberá de volta a conseqüência dos seus atos impensados, mas estarão condenando toda uma geração que será herdeira desta, a uma vida mais infeliz, mesquinha e medíocre que esta. Ora, se não é contra isso que os jovens lutam, então porque agem desta forma? Por que querem tão mal à vida dos outros, só porque não se encaixam no estilo de vida que impuseram como sendo jovem? Por que querem condenar seus filhos a viverem de uma forma tão baixa e miserável, pior que a dos jovens de hoje, inaceitável para os pais de hoje? Vivam intensamente, vivam futilmente e furtivamente, não haverá futuro, por sua causa.

Estão ocupados em admirar e aperfeiçoar a sua vaidade, fascinados demais por sua beleza e nada é mais importante que seu valoroso eu. Pensam, se ainda há cérebro, que estão, com comportamentos mais irascíveis que irreverentes, negando a antiga sociedade.
Mas não há cérebro, tanto na força bruta quanto na beleza fútil, é uma tolice achar que a sociedade jovem difere da sociedade adulta. Não são mais do que sociedades, com regras impostas, absurdas, repressivas, censoras. Recusam a pensar ou perceber de outra forma, que não a estipulada. Desprezam, humilham, marginalizam todo aquele que apenas quer seguir um caminho autônomo, todo aquele que possui uma mente, que tenha seus pensamentos, que vive experimentando com erros e acertos, que vive aprendendo sem nunca querer ensinar. Tal é o desperdício da vida de pessoas, que em muito poderiam ajudar a humanidade a compreender-se e a cair em si. Eles são, tão pensadores quanto artistas, de todo um mundo de sabedoria, que nunca virá a ser conhecido.

Homem, mulher ou filho não devem lutar entre si, mas sim cooperarem entre si. Tudo vira em seu tempo, segundo o mérito, nada do que for conquistado com violência permanece, pois terá que ser mantido à força. O uso indiscriminado de violência e força só conduz à destruição e à ruína. Nenhuma raça que se preza como inteligente pode desejar a autodestruição. A não ser que a humanidade tenha tomado como sendo essa sua meta maior e definitiva, que terminara em si, não sobrará vestígios, nem tão pouco a existência de tal raça mesquinha no futuro. É fácil perceber isso vendo que o que perdura é a arte e a ciência, com o passar dos séculos. Da violência, apenas o registro histórico, que só é possível por causa da existência de uma linguagem, de documentos de pessoas que usaram a mente, nunca as mãos. Sem o uso da mente, o uso das mãos é vazio.

Mas o homem prefere o uso das mãos, da força. Prefere, como animal, à superficialidade da Luz, da beleza, do poder e da riqueza. Para a Luz, seu fervor, embora tenha sido criado para raciocinar. Para a beleza, sua veneração, embora seu íntimo apodreça. Para o poder, sua obstinação, embora seus iguais morram. Para a riqueza, sua ilusão, embora o tempo ceifa igualmente ao pobre e ao rico.

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