sexta-feira, 12 de agosto de 2016

A humanidade em desencanto

O ser humano quer entender a existência do mundo, das coisas e de si mesmo. Para entender a sucessão de pessoas e eventos, o ser humano criou o mito, a lenda e a história. Para o estudo desse processo, desse fluxo, chamado história, o ser humano separou em Eras esse conceito abstrato que nós chamamos de tempo. A ilusão de movimento, de sequência, criou a ilusão da passagem do tempo, mas quem passa é o mortal, não o tempo. Não há o Tempo, apenas a eternidade do espaço e as ações dos eventos. O valor do tempo é tão abstrato quanto o valor do dinheiro, o valor apenas existe enquanto o ser humano assim determinar.

O ser humano determina as Eras conforme certas características. Determinados eventos ou situações são alterados, então a humanidade iniciou outra Era, mas frequentemente os germes e indícios da “Nova Era” estão presentes na Era que sucumbe.

Dizemos que a Era Moderna foi marcada pelas revoluções, mas a ideia de direito, de cidadania, de república, de parlamentarismo, de limites aos poderes absolutistas estão presentes quando a Grã-Bretanha fez o Rei João promulgar a Carta Magna.

Dizemos que o Pós-Modernismo foi marcado pelo fim da Segunda Guerra Mundial, mas muita coisa aconteceu no meio do caminho, como a Segunda Colonização, a Primeira Guerra Mundial, as guerras de independência de várias colônias europeias, o fim do Império Otomano, o surgimento de outros Impérios. Entender o Pós-Modernismo sem incluir a Revolução Industrial é o mesmo que entender o Rock’n’roll sem incluir o Blues. Entender a Revolução Industrial sem incluir o Capitalismo é o mesmo que entender a Renascença sem incluir o Mercantilismo.

A Era Moderna é uma era de crueldade, pois o avanço industrial e tecnológico serve para expropriar o trabalho e a vida de muitos. O avanço da ciência e da tecnologia tem seu uso mais prático e imediato em melhorar a capacidade humana em matar seu semelhante. Matou-se e mutilou-se mais gente em poucos anos do que em vários séculos. Entre a Primeira e Segunda Guerra, as necessidades militares deram origem à prótese, uma segunda destinação à ciência e à tecnologia. Aqui começa o fim da ilusão do indivíduo, do corpo, do organismo, como sendo coisas necessariamente orgânicas e pertencentes à natureza. O ser humano entra em uma crise de meia idade. A Era Moderna foi cruel, o Pós-Modernismo é desumano. O homem entra em uma crise existencial, filósofos contemporâneos desconstroem todas suas falsas convicções, ideias orientais desconstroem a ilusão da existência da pessoa do indivíduo.

Cruel e desumana, a Era Contemporânea deve muito de seu conforto, facilidade, fascínio, massificação, plastificação e coisificação, ao que foi originalmente desenvolvido para fins militares. As ideias antes elitistas das revoluções do princípio da Era Moderna se tornam a fonte para estudantes e intelectuais da Classe Média, de onde surge a Contracultura. Grupos, subgrupos e setores da sociedade, antes sem voz e sem expressão, começam a se organizar, surgindo o Feminismo e a luta pelos direitos civis para todos.

O Espírito do Tempo torna tudo um produto de massa, tudo pode e será comercializado. A Indústria Pornográfica surge como uma resistência do sistema ao Amor Livre. As ideias reacionárias surgiram como uma resistência do sistema aos ideais de esquerda. Surge o rádio, a televisão, o cinema, tornando massificado o acesso à informação. Surgem diversos métodos contraceptivos, a princípio para controlar a gravidez indesejada e as doenças venéreas que se tornaram endêmicas durante as guerras mundiais. A sociedade é sacudida por casamentos inter-raciais, pelo divórcio e pela fertilização in-vitro.

O homem sonhou com liberdade e um mundo melhor desde que surgiu neste planeta. Agora ele tenta frear, sem sucesso. A criatura superou seu criador. A Igreja não pode nem consegue mais amedrontar ou deter a Ciência. O Governo não pode nem consegue mais manipular ou controlar o cidadão.

O ser humano desafia a fronteira do real e do virtual, surge a internet, a rede de computadores, a inteligência artificial, a vida artificial, a rede social artificial. Se o humano é um conjunto de partes [corpos] que constituem um sistema [organismos], então também é humana nossa persona virtual, uma vez que sua manifestação dentro do universo virtual é resultado do conjunto de partes [programas] que constituem um sistema [realidade virtual]. Não é mera coincidência, então, quando um cientista afirmou que isto que chamamos de realidade não é nada mais senão o programa de um enorme computador.

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