Joãozinho, você conseguiu sobreviver da primeira vez e, ousado, ainda retorna ao seu novo lar, ao seu pai e mãe espirituais.
Confiante, usa seu próprio veículo e sua memória para chegar na Terra do Indigo. Alguns pequenos erros, mas você conseguiu chegar até lá.
Alegre, você ainda anuncia sua chegada e vitória buzinando. Sadações, saudações. Salve Exu, guardião de seu novo lar.
Algo mudou, Joãozinho e começou por você. Exibe, orgulhoso, as marcas do seu tratamento cirúrgico e conta sua saga. Mas a melhor mudança se mostrará no seu temperamento. Silêncio, Joãozinho, que isto interessa apenas para a família.
Um pequeno passeio, almoço, conversas, descobertas.
Mais tarde, um pouco do maná indigo, afinal, sua cabeça dura precisa de um auxiliador e o espírito da Terra do Indigo lhe oferece seu maná.
Tudo parece ficar dançando, contrastes são mais detalhados, cores ficam mais vívidas, os movimentos parecem ser mais lentos, expressões faciais ganham uma rica textura. Sua boca tem gosto de cigarro, seus ouvidos zunem, suas pernas bambeiam, seus dedos formigam. E isto ainda acordado, Joãozinho.
Na hora de dormir, um belo festival kaleidoscópio, figuras em cores brilhantes, como se fossem moldadas em neon, vão aparecendo e se multiplicam. Arte psicodélica. Por duas vezes você vê como um fusível entrando em curto e você estremece.
No escuro da noite você delibera consigo mesmo, Joãozinho, como na primeira vez. Antes, você resolveu suas manias em relação aos outros. Agora você resolveu suas manias em relação e você mesmo. Quem sabe na próxima, se você sobreviver mais uma vez, consiga resolver suas manias em relação ao mundo espiritual.
Dia seguinte, a cabeça dói, o gosto de cigarro continua na boca. Café e aspirina. Você se serve do último pedaço de omelete.
Chega as compras, alegria! Você vai poder ajudar, enfim, Joãozinho. Pena que houve um chamado e você não vai poder ficar para a cerimônia de fim de ano, mas ajudou a guardar o porquinho.
Adeus pai, adeus mãe. Joãozinho volta para a cidade fria, insensível e morta.
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