Baseado no texto:
"O universo teve um começo? Ou sempre existiu sem uma causa? Se for esse o caso, isso daria aos descrentes o argumento final contra a existência de Deus?"
Qual seria a resposta do Paganismo?
A bruma da manhã cobria o vale, um véu cinzento que se dissipava lentamente sob o olhar dourado do sol nascente. Elara, seus cabelos grisalhos presos em um coque despretensioso, observava o espetáculo de sua janela, uma xícara de chá de camomila fumegante em suas mãos. A pergunta ecoava em sua mente, uma inquietação silenciosa que a acompanhava há dias: O universo teve um começo?
Elara não era uma mulher de respostas fáceis, ou de certezas absolutas. Criada em uma tradição pagã moderna, longe das doutrinas rígidas de antigos credos, sua fé era um rio que serpenteava por paisagens de mistério e maravilha, sem a necessidade de um mapa definido. A questão da criação, para ela, não era uma equação matemática a ser resolvida, mas um enigma a ser contemplado com reverência e respeito.
A pergunta sobre a origem do universo, frequentemente lançada como um trunfo contra a fé, a incomodava. Para muitos crentes tradicionais, um universo sem começo implicava em ausência de um criador, um vácuo onde Deus deveria residir. Mas Elara via a questão de forma diferente.
O universo, para os praticantes do paganismo moderno, não é uma obra isolada, criada do nada. É um fluxo constante, um ciclo eterno de criação e destruição, de vida e morte, de luz e sombra. A ideia de um “começo” é uma construção humana, limitada pela nossa percepção linear do tempo. Para uma árvore milenar, a vida de um homem é um instante fugaz; para um rio que percorre eras, a montanha que o molda é jovem. Como poderíamos, então, compreender a vastidão do cosmos dentro de nosso pequeno espectro de tempo?
Elara lembrou-se de uma conversa com seu mentor, um ancião sábio que lhe dera uma perspectiva essencial: "O cosmos não é uma máquina com um inventor, Elara. É uma teia, um grande organismo vivo e respirante, em constante transformação. A pergunta não é ‘Quem o criou?’, mas sim ‘Como participamos dele?’"
Para o paganismo moderno, a divindade não é um ser externo, separado da criação. Ela é a criação, a energia que permeia tudo, a força vital que pulsa em cada átomo, em cada flor, em cada estrela. É a Mãe Terra, o Pai Céu, a energia bruta e sagrada que anima o universo. A busca por um “começo” ignora a beleza da interconexão, a dança incessante de energia que molda e recria o cosmos sem cessar.
A ideia de um universo sem começo, então, não era uma ameaça à sua crença, mas uma ampliação de sua compreensão. Dava espaço para a maravilha do infinito, para a aceitação da misteriosa beleza do desconhecido. Não era uma prova contra a existência do Divino, mas uma prova de Sua grandeza insondável, de um poder que transcende nossa capacidade de compreensão.
Elara tomou outro gole do seu chá, contemplando o sol que já banhava o vale com sua luz plena. A pergunta sobre o começo permanecia, mas o medo que a acompanhava havia diminuído. Ela encontrou sua resposta não em um livro sagrado, mas na contemplação da natureza, no silêncio da meditação, na interação com o mundo em sua magnífica e misteriosa totalidade. Para ela, a prova da divindade não estava em um ato de criação único, mas na contínua manifestação do ciclo vital, infinito e sagrado do universo. A resposta, então, não importava tanto quanto a jornada de busca e a reverência pelo mistério que a cercava.
Criado com Toolbaz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário