quarta-feira, 8 de julho de 2020

Como se mata uma cultura e um povo

Londres, 28 mar (2011) (EFE).- A tribo indígena Enawenê-nawê começou seu ritual de pesca anual com o temor de que as cerca de 80 represas projetadas para o rio Juruena, no Mato Grosso, destruam os peixes dos quais dependem para subsistência, indica a organização não-governamental Survival.
O ritual Yakwa é reconhecido pelo Ministério da Cultura como parte do legado cultural do Brasil, mas no ano passado, pela primeira vez, não pôde ser realizado porque a tribo praticamente não encontrou peixes devido às obras no rio.
Os índios Enawenê-nawê se viram assim expostos a uma catastrófica escassez de alimentos. A empresa construtora das represas - destinadas a armazenar água para usinas hidrelétricas - teve de comprar 3 mil quilos de peixes para a manutenção da psicultura local.
Algumas das represas projetadas são financiadas pelo Grupo André Maggi, um dos maiores produtores de soja do mundo, pertencente ao senador Blairo Maggi.
Durante o ritual Yakwa, os índios passam vários meses na floresta, construindo complicadas represas de madeira nos rios para capturar os peixes, antes de levá-los de canoa a suas aldeias.
Esse ritual faz parte da cultura espiritual da tribo, além de ser essencial para a subsistência dos índios locais, já que os Enawenê-nawê não comem outros tipo de carne.
A tribo dirigiu uma carta à ONU em que dizem: "Não queremos que as represas sujem nossas águas, matem nossos peixes, nem que nossas terras sejam invadidas".
A tribo não deu autorização para a construção das polêmicas represas e realizou manifestações de protesto.
"É irônico que um ritual como o de Yakwa, reconhecido como parte do legado cultural do Brasil, possa deixar de existir muito em breve. Toda uma forma de vida corre perigo, a dos Enawenê-nawê", advertiu o diretor da Survival, Stephen Corry.[G1](original perdido).

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