sábado, 2 de maio de 2009

Se Obama fosse Papa

O Presidente Barack Obama conseguiu num curto período de tempo retirar os Estados Unidos de um ambiente desânimo e apoiar reformas, apresentando uma visão credível de esperança e introduzindo uma mudança estratégica na política interna e externa deste grande país.
Na Igreja Católica as coisas são diferentes. O ambiente é opressivo, a pilha de reformas é paralisante. Após quase quatro anos no cargo, muitas pessoas vêem o Papa Bento XVI como outro George W. Bush. Não foi nenhuma coincidência que o Papa celebrasse o seu 81º aniversário na Casa Branca. Bush e Ratzinger não conseguem aprender nada em matérias de controlo de natalidade e aborto, não são propensos a realizar quaisquer reformas sérias, arrogantes e sem transparência na forma como exercem os seus cargos restringindo liberdades e direitos humanos.
Tal como Bush no seu tempo, o Papa Bento também sofre de uma crescente falta de confiança. Muitos católicos já não esperam nada dele. Pior ainda, com a retirada da excomunhão a quatro bispos tradicionalistas que consagravam ilegalmente, incluindo um que notoriamente nega o Holocausto, Ratzinger confirmou todos os receios que se levantaram quando foi eleito Papa. O Papa favorece pessoas que ainda rejeitam a liberdade de religião afirmada pelo Vaticano II, o diálogo com outras igrejas, a reconciliação com o Judaísmo, uma elevada estima pelo Islão e outras religiões mundiais e a reforma da liturgia.
Com o objectivo de promover a “reconciliação” com um pequeno grupo de tradicionalistas arqui-reaccionários, o Papa arrisca perder a confiança de milhões de Católicos em todo o mundo que continuam a ser leais ao Vaticano II. Por ser um Papa alemão que está a dar passos errados, acentua o conflito. As desculpas após o evento não conseguem juntar as peças.
O Papa teria um trabalho mais fácil do que o Presidente dos Estados Unidos ao adoptar uma mudança de rumo. Não tem ao seu lado nenhum Congresso como corpo legislativo, nem um Supremo Tribunal como magistratura. É chefe absoluto do Governo, legislador e juiz supremo na Igreja. Se quisesse, poderia autorizar imediatamente a contracepção, permitir o casamento dos padres, tornar possível a ordenação de mulheres e permitir a eucaristia partilhada com as Igrejas Protestantes. O que faria um Papa se agisse no espírito de Obama?
Claramente, tal como Obama, ele:
Afirmaria claramente que a Igreja Católica está numa crise profunda e identificaria a origem do problema: muitas congregações sem padres, ainda insuficiente número de novos recrutas para o sacerdócio, e um colapso oculto de estruturas pastorais como consequência de fusões impopulares de paróquias, um colapso que frequentemente se desenvolveu ao longo de séculos;
Proclamaria a visão da esperança de uma Igreja renovada, um ecumenismo revitalizado, entendimento com os Judeus, Muçulmanos e outras religiões mundiais e uma avaliação positiva da ciência moderna; Reuniria ao seu redor os colegas os mais competentes, e não os “yes-men” mas mentes independentes, apoiados por peritos competentes e destemidos;
Iniciaria imediatamente as medidas reformadoras mais importantes por decreto (“ordem executiva”); e convocaria um concílio ecuménico para promover a mudança de rumo.
Mas que contraste deprimente: Enquanto o Presidente Obama, com o apoio do mundo inteiro, olha para a frente e está aberto às pessoas e ao futuro, este Papa encaminha-se o mais para trás possível, inspirado por um ideal de igreja medieval, céptico sobre a Reforma, ambígua sobre os direitos modernos de liberdade.
Enquanto o Presidente Obama se preocupa com uma nova cooperação com parceiros e aliados, o Papa Bento XVI, tal George W. Bush, está preso num raciocínio em termos de amigo e inimigo. Despreza os companheiros cristãos nas Igrejas Protestantes ao recusar reconhecer estas comunidades como Igrejas. O diálogo com os Muçulmanos não foi mais além do que uma mera confissão verbal de “diálogo”. As relações com o Judaísmo dizem-se profundamente danificadas.
Enquanto o Presidente Obama irradia a esperança, promove actividades cívicas e apela a uma nova “era de responsabilidade”, o Papa Bento XVI está encarcerado nos seus medos e quer limitar a liberdade humana tanto quanto possível, com o propósito de restabelecer uma “era de restauração”.
Enquanto o Presidente Obama se lançou na ofensiva usando a Constituição e a grande tradição do seu país como base para passos corajosos na reforma, o Papa Bento interpreta em direcção contrária os decretos do Concílio da Reforma de 1962, tendo em mente o Concílio conservador de 1870.
Mas porque, com toda a probabilidade, o Papa Bento XVI não será nenhum Obama, para o futuro imediato precisamos:
Primeiro: um episcopado que não oculte os problemas manifestos da Igreja mas mencione-os abertamente e aborde-os de forma enérgica a nível diocesano;
Segundo: teólogos que colaborem activamente numa visão futura da nossa Igreja e não tenham receio de falar e escrever a verdade;
Terceiro: pastores que opor as cargas excessivas impor constantemente pela fusão de muitas paróquias e que tomam corajosamente a responsabilidade como pastores;
Quarto: em particular as mulheres, sem as quais muitas paróquias entrariam em colapso, que com confiança empregam as possibilidades da sua influência.
Mas podemos nós realmente fazer isto? Sim, conseguimos.
Autor: professor Hans Kung, tradução: Marco, capturado do blog: Povo de Bahai

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