domingo, 31 de março de 2024

Acordando para a realidade

O casal americano Jairo e Gloria viralizaram após contar sua história durante o programa ‘Caso Cerrado’ na última semana. Ele passou duas semanas em coma e, ao acordar, disse não se lembrar que era casado e pediu o divórcio. O homem ainda afirmou que a união era impossível, já que é gay.

“Minha memória está zerada, eu não sei quem ela é. Vêm uns flashes, mas logo eles desaparecem da minha mente. Não me lembro de absolutamente nada. Não me lembro do momento que assinei a certidão de casamento", declarou. A apresentadora Ana Maria Polo chegou a questionar Jairo, mas ele continuou não se lembrando mesmo após ver fotos do casal e a certidão de casamento. "Eu tenho meu namorado, eu não quero ficar com mulheres, porque eu não gosto disso. Tenho alergia a mulher. Eu nasci gay. Eu só quero viver a minha vida, mas ela não deixa", afirmou.

Insatisfeita, Gloria acusa o marido de mentir, já que os dois viviam um bom relacionamento, estável e tentando ter filhos. “Nós éramos o casal mais feliz do mundo, não consigo acreditar que de repente alguém vire gay", lamentou.

A mudança ocorreu após Jairo ser levado para o hospital após um desmaio. Ele, que sofre de constipação, ficou inconsciente após fazer muita força para defecar. Após duas semanas, o homem acordou desmemoriado.

O programa também recebeu um médico que explicou como o homem parou em coma após uma tentativa de evacuar. Segundo Moisés Irrizary, durante o ato de fazer cocô. Há um aumento da pressão sanguínea. “Se a pessoa tem alguma predisposição, pode acontecer um pequeno derrame. Podem acontecer algumas mudanças de comportamento, mas não como as que ele descreve", apontou.

Já a sexóloga Antónia Lopez, que também estava no ‘Caso cerrado’, levantou a hipótese de que Jairo tinha relacionamentos heterossexuais para esconder sua real sexualidade. “Quando acontece esse incidente no lóbulo frontal, que é o lóbulo da razão e da tomada de decisões, ele não consegue mais controlar o que faz e aí aparecem essa desinibição sexual e a amnésia. A memória ele pode recuperar, mas a orientação sexual veio de fábrica. Ele tinha comportamentos heterossexuais, mas isso não tem nada a ver sobre como ele percebia sua orientação sexual. É só olhar para o contexto que o rodeia: uma mãe homofóbica e que provavelmente o criou dizendo que a homossexualidade é algo muito negativo", explicou.

Fonte: https://www.em.com.br/internacional/2024/03/6824800-homem-acorda-de-coma-diz-ser-gay-e-pede-divorcio-a-mulher-gravida.html

Encontrado altar de Anahita

Em 2022, arqueólogos identificaram uma “cidade perdida” no Iraque, na região do Curdistão. Os resquícios foram encontrados no assentamento montanhoso de Rabana-Merquly, que era utilizado para fins militares. Agora, os especialistas levantam a hipótese de o local também ter funcionado como um santuário para Anahita, a antiga deusa persa da água.

Há cerca de 2 mil anos, Rabana-Merquly foi um importante centro do Império Parta – que ocupava partes do Irã e da Mesopotâmia. Localizada na Cordilheira de Zagros, a área envolve fortificações com quase 4 km de extensão e dois pequenos assentamentos (Rabana e Merquly).

Desde 2009, são conduzidas escavações na região, sendo as mais recentes entre 2019 e 2022. A partir delas, os arqueólogos descobriram, em Rabana, estruturas arquitetônicas nos arredores de uma queda d’água sazonal e resquícios de um possível altar onde oferendas ou óleo seriam queimados.

Tais achados podem indicar a existência de um local voltado para culto e adoração de Anahita, conforme sugerem os pesquisadores em artigo publicado na revista IRAQ em janeiro. “A proximidade com a queda d’água é significativa, porque a associação entre elementos de fogo e água tinha um papel importante na religião persa pré-islâmica”, ressalta o pesquisador Michael Brown, em comunicado divulgado última quinta-feira (7).

Anahita, a deusa da água, era fortemente cultuada nas regiões ocidentais do Iraque durante a época Parta. Sua primeira menção é feita em manuscritos da religião Avesta, nos quais ela aparece como a fonte celestial de todas as águas da Terra, sendo descrita como uma mulher extremamente bela e capaz de se transformar em riachos ou cascatas.

Os arqueólogos acreditam que o santuário tenha sido frequentado entre os séculos 2 e 1 a.C., no período em que os assentamentos fortificados de Rabana e Merquly surgiram.

Naquela época, muitos locais religiosos atuavam também como cultos dinásticos voltados ao rei e aos seus antepassados. “Mesmo que o local do culto não possa ser atribuído definitivamente à deusa da água Anahita devido à falta de achados arqueológicos similares para uma comparação direta, o santuário de Rabana ainda nos fornece uma visão fascinante das interconexões regionais sacras e geopolíticas durante a era Parta”, afirma Brown.

Fonte: https://revistagalileu.globo.com/google/amp/ciencia/arqueologia/noticia/2024/03/cidade-perdida-no-iraque-pode-ter-sido-santuario-para-deusa-persa.ghtml

sábado, 30 de março de 2024

Semana Santa no terreiro

A celebração da Semana Santa não é uma tradição religiosa apenas para os cristãos. A data é também um momento de profunda reverência e espiritualidade nos territórios afro-religiosos do Brasil.

No Pará, muitos terreiros de Candomblé, Umbanda e outras religiões afro-brasileiras vivenciam o período com nuances únicas, refletindo a rica herança cultural e espiritual dessas comunidades.

A Mãe Janaína de Xangô, Mãe de santo e Dirigente da Casa de Umbanda Templo da Cigana, fala um pouco sobre como os umbandistas vivem esse a Semana Santa. “Para nós, todas as sextas-feiras são santas, mas na sexta-feira santa em especial é um período de reflexão e conexão espiritual e a renovação de votos perante aos sagrado”, afirma.

Na Umbanda, muitas casas de axé fazem o ritual de fechar o corpo na Sexta-feira Santa, uma realização que significa uma forma de proteção espiritual e de renovação energética. É um ritual significado para os médiuns ou líderes espirituais porque eles acreditam que dessa forma invocam a proteção dos guias espirituais e dos orixás para fortalecer seu campo energético individual.

“Muitos umbandista usam este período para um recolhimento, para reflexão e também para vigília contra a densidade energética , este e um período de oração e vigília”, acrescenta.

É importante ressaltar que os rituais variam a depender da doutrina de cada casa de axé, como também são chamados terreiros de Umbanda, Candomblé e outras religiões de origem afro.

A mãe da casa de axé Templo da Cigana deixa umas orientações para os seus filhos e quem quiser seguir neste período. “Vista o branco, use seu contato egum, não coma carne vermelha, não fique em bares ou onde as energias possam estar baixas ou densas e faça banhos energéticos e ritualística de proteção e se mantenha em oração perante ao sagrado, Axé!”, orienta Mãe Janaína.

Fonte: https://diariodopara.dol.com.br/para/celebracoes-da-semana-santa-tambem-acontecem-em-terreiros-afro-religiosos-116026/

A conexão miliciana

As ligações políticas, financeiras e pessoais do clã Bolsonaro com o ex-policial militar Ronnie Lessa, assassino confesso da ex-vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, e seu motorista Anderson Gomes, e com os integrantes da família Brazão são fortes e indiscutíveis. Com informações do Intercept Brasil, em matéria assinada pelo repórter João Filho.

A Polícia Federal (PF) deflagrou uma operação na manhã deste domingo (24) na qual prendeu os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão pelo suposto envolvimento na morte de Marielle. O ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Rivaldo Barbosa também foi detido.

Apontar a proximidade de Bolsonaro com os mandantes e o executor do assassinato da vereadora não é mera especulação, mas sim uma constatação dos fatos. Ronnie Lessa era conhecido por ser um dos matadores de aluguel do Escritório do Crime, grupo liderado por Adriano da Nóbrega, assassinado em fevereiro de 2020.

Ambos frequentaram o curso de formação do Bope ao mesmo tempo em que atuavam como seguranças para famílias de bicheiros no Rio de Janeiro. Apesar de competirem pelo título de melhor assassino profissional do Rio de Janeiro, Lessa e Nóbrega frequentemente se uniam para eliminar alvos em comum. A relação dos ex-policiais com a família Bolsonaro remonta a essa época.

Como se sabe, Flávio Bolsonaro empregou a mãe e a esposa de Adriano em seu gabinete. Quando Adriano foi morto, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) o chamou de “herói”. Além disso, Lessa residia no mesmo condomínio que o ex-mandatário, e os filhos de ambos chegaram a namorar.

O ex-PM também confirmou que recebeu ajuda de Bolsonaro no final de 2009, embora afirme que mal o conhece. Após perder parte da perna esquerda na explosão de uma bomba em seu carro, ele alega que Bolsonaro, então deputado federal, intercedeu para que seu atendimento fosse priorizado na Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR), no Rio de Janeiro.

“Bolsonaro era patrono da ABBR. Quando soube o que aconteceu, interferiu. Ele gosta de ajudar a polícia porque é quem o botou no poder. Podia ser qualquer outro policial”, disse o ex-PM. Na época, ele trabalhava como segurança do bicheiro Rogério de Andrade.

A proximidade e as semelhanças entre os Bolsonaros e a família Brazão são ainda mais evidentes. Ambas são famílias políticas que conquistam vários cargos simultaneamente, atuando historicamente na zona oeste do Rio de Janeiro e mantendo fortes vínculos com a milícia local.

Flávio Bolsonaro e Chiquinho Brazão foram vistos juntos em uma carreata eleitoral em apoio à candidatura de Jair Bolsonaro em 2022. Além de colaborarem em campanhas políticas, Flávio e Chiquinho estiveram envolvidos em negócios imobiliários associados às milícias na zona oeste do Rio de Janeiro.

Ambos compartilham o interesse pela especulação imobiliária irregular na região. Documentos do Ministério Público do Rio de Janeiro revelaram que Flávio Bolsonaro utilizou recursos provenientes da prática de rachadinha em seu gabinete para financiar a construção ilegal de edifícios pelas milícias.

Queiroz, então chefe de gabinete de Flávio Bolsonaro e próximo de Lessa e Nóbrega, desviava 40% dos salários dos funcionários do gabinete para repassar ao Escritório do Crime. Conforme as investigações, os lucros obtidos com a venda dos imóveis seriam compartilhados com Flávio Bolsonaro.

Essa investigação do Ministério Público foi o motivo que levou Bolsonaro a pressionar o ex-ministro Sergio Moro pela substituição do comando da Polícia Federal no Rio e em Brasília.

Vale destacar que os negócios imobiliários irregulares nessa mesma região do Rio de Janeiro foram o motivo do assassinato de Marielle. A ex-vereadora representava um obstáculo para aqueles que lucravam com a especulação imobiliária ilegal.

Embora não haja evidências do envolvimento de Flávio Bolsonaro no crime, é fato que ele seria um dos beneficiários. Assim como os irmãos Brazão, ele lucraria com a venda dos edifícios construídos com recursos públicos provenientes de seu gabinete.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/milicia-e-terrenos-saiba-o-que-as-familias-bolsonaro-e-brazao-tem-em-comum/

A explicação de Oxford

Vicente Valentin, cientista político e professor de Oxford, afirma que o crescimento da extrema-direita, como ocorreu nas eleições de Portugal, acontece por meio da “normalização” de ideais do espectro político.

Ele avalia que parte dos eleitores já concordavam com opiniões e ideias radicais, mas não se expressavam por medo de “ostracismo social”.

O especialista aponta que a extrema-direita tem “líderes pouco qualificados” e tem obtido apoio ao redor do mundo com a adesão de políticos maiores e mais conhecidos às suas ideias. 

Leia o texto de Vicente Valentin na íntegra:

As eleições portuguesas de ontem realçam uma tendência comum: o apoio à extrema-direita cresce muitas vezes muito rapidamente.

Sabemos, porém, que as pessoas não mudam de ideia tão rapidamente. O que pode explicar esta velocidade de crescimento?

Eu trato dessa questão em meu livro, que será lançado este ano.

No livro, argumento que isto acontece porque o crescimento da extrema-direita deve ser entendido (pelo menos parcialmente) como um processo de normalização.

Muitas pessoas já tinham opiniões de extrema-direita, mas não as expressavam porque temiam o ostracismo social.

Como consequência, a extrema-direita tinha, na sua maioria, líderes pouco qualificados, que eram incapazes de mobilizar até mesmo os eleitores que concordavam privadamente com eles.

Mas, uma vez que políticos qualificados se juntem à extrema-direita (como Ventura em Portugal), são capazes de atrair o apoio destes eleitores.

Quando o fizerem, poderão crescer com uma rapidez impressionante, porque esse crescimento não exige uma mudança real nas preferências políticas das pessoas (o que é um processo de longo prazo).

Requer simplesmente que as pessoas comecem a agir de acordo com o que já pensavam em particular.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/professor-de-oxford-explica-ascensao-da-extrema-direita-normalizacao/

Nota: eu vi que muitos comentaristas estão espantados em ver brasileiros votarem em um partido de extrema direita em Portugal, que tem, inclusive, um integrante negro. A extrema direita não pode ser resumida em um rótulo, um líder ou um partido, mas nos ideais. Ainda que seja suicídio, a falta de consciência política, social e histórica faz pessoas comuns elegerem representantes de extrema direita. Na época do III Reich tinham judeus que colaboravam com o regime. Pessoas fazem isso na ilusão ou esperança de ter algum ganho ou tratamento especial. Mas serão descartados quando não forem mais úteis.

sexta-feira, 29 de março de 2024

Lavanderia Malafaia

Novas revelações surgem no caso Marielle Franco a partir de registros do “disque-denúncia” do Rio de Janeiro, apontando o envolvimento de Robson Calixto, assessor de Domingos Brazão na Alerj e no TCE-RJ, com atividades de milicianos.

De acordo com informações anônimas fornecidas à Polícia do Rio, Robson Calixto, conhecido como “Peixe”, era intermediário entre os Brazão e Ronnie Lessa, o assassino da vereadora Marielle Franco.

Relatos indicam que Robson era avistado regularmente em uma igreja evangélica do pastor Silas Malafaia próxima à UPP da Taquara, recebendo dinheiro arrecadado na região para a milícia, nos dias 15 e 30 de cada mês. Além disso, denúncias sugerem que Robson atuava como “segurança informal” de Domingos Brazão, estando frequentemente armado.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) afirmou que Robson Calixto acompanhava Domingos Inácio Brazão em atividades relacionadas às milícias e ao controle territorial sobre loteamentos ilegais, o que corrobora a suspeita de seu envolvimento como intermediário em práticas ilícitas.

Por determinação de Alexandre de Moraes, Robson foi alvo de busca e apreensão. O envolvimento de Robson Calixto, assessor de Domingos Brazão, lançou luz sobre mais investigações de possíveis ligações entre políticos e milicianos no Rio de Janeiro.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/peixe-assessor-de-brazao-usava-igreja-de-malafaia-para-arrecadar-dinheiro-para-a-milicia/

Ateus sofrem preconceito

Em setembro, diante de uma sala cheia de conservadores cristãos, o governador da Flórida, Ron DeSantis, fez uma declaração ousada: “Não sei como você pode ser um líder sem ter fé em Deus”.

Ser ateu continua a ser uma responsabilidade política nos Estados Unidos, embora não seja tão grave como DeSantis quer que acreditemos. Embora uma sondagem Gallup de 2020 tenha concluído que seis em cada 10 pessoas votariam num candidato presidencial ateu bem qualificado, menos pessoas disseram que estariam dispostas a votar num ateu do que num candidato que fosse gay, lésbica ou muçulmano. Apenas os socialistas têm uma classificação inferior entre os inquiridos.

Embora a porcentagem de americanos que dizem não acreditar num poder superior tenha aumentado na última década, algumas pessoas ainda veem os ateus de forma negativa. Um estudo de 2017 descobriu que as pessoas acreditam que os ateus têm maior probabilidade de serem assassinos em série do que os crentes, embora os dados federais sugiram que eles têm muito menos probabilidade de cometer crimes do que as pessoas religiosas.

Assim como as pessoas crentes, nem todos os ateus acreditam nas mesmas coisas. Além da falta de crença num poder ou poderes superiores, os ateus variam muito nas suas respostas a questões espirituais e existenciais.

Dados os equívocos que cercam este grupo, muitas pessoas relutam em chamar-se ateus, o que significa que é difícil identificar as ligações e diferenças entre os seus membros.

Um ateu é alguém “que não acredita na existência de um deus ou deuses”, de acordo com o dicionário online Merriam-Webster.

Como os ateus se definem por aquilo em que não acreditam, é difícil generalizar aquilo em que acreditam. Nas palavras do comediante e ateu declarado Ricky Gervais em X, “Dizer ‘ateísmo é um sistema de crenças’ é como dizer ‘não esquiar é um hobby'”.

Alguns ateus, como o biólogo evolucionista Richard Dawkins e o neurocientista Sam Harris, permanecem firmes na sua rejeição da religião organizada. Outros são céticos ou apáticos quando se trata de questões filosóficas sobre a existência de um deus.

Devido ao estigma social que os ateus podem enfrentar nos Estados Unidos e em todo o mundo, algumas pessoas têm sentimentos complicados sobre o termo, disse Nick Fish, presidente da organização American Atheists. Muitas pessoas que se enquadram na definição de ateu não se identificam como tal, mas preferem termos menos conflituosos, como agnóstico, humanista ou livre-pensador, acrescentou.

Existem também católicos culturais, judeus não praticantes e muçulmanos leigos, ou seja, pessoas que não necessariamente acreditam numa divindade, mas se identificam com uma fé específica devido à sua formação familiar, etnia ou cultura.

“Uma simples definição de dicionário não captura necessariamente a identidade das pessoas, que usam termos diferentes, embora no fundo acreditem na mesma coisa”, explicou Fish.

Os ateus também têm interpretações diferentes sobre o que significa não acreditar.

Embora quase todos os que se autodenominam ateus não acreditem no Deus descrito na Bíblia judaico-cristã, 23% acreditam em Deus ou em algum outro poder superior ou força espiritual no universo, de acordo com um relatório do Pew Research Center publicado em janeiro.

A crença dos ateus vai além da questão de saber se existe um poder superior.
Especificamente, um quinto daqueles que se autodenominam ateus se consideram espirituais, de acordo com a recente pesquisa da Pew sobre “não-crentes”. O relatório também contém outros factos surpreendentes: a maioria dos ateus diz que o mundo natural é tudo o que existe, mas quase um quarto acredita que há algo espiritual para além do nosso ambiente atual.

Cerca de um terço acredita que outros animais além dos humanos podem ter espíritos ou energias espirituais, e uma percentagem ligeiramente menor acredita que as energias espirituais podem ser encontradas em partes da natureza, como montanhas, árvores ou rios. Pouco menos de um em cada cinco ateus acredita que cemitérios ou locais memoriais podem ter energias espirituais, enquanto menos de um em cada 10 dizem o mesmo sobre objetos como cristais. Quase um terço dos ateus acredita que os seres humanos têm almas ou espíritos além dos seus corpos físicos.

Estas respostas podem parecer confusas ou contraditórias, mas o ateísmo e a espiritualidade não estão necessariamente em conflito. Embora algumas pessoas associem a espiritualidade à conexão com um deus, para outras pode significar se sentir conectado a outras pessoas ou a algo maior do que você mesmo.

Na verdade, existem ateus que acreditam na interconexão cósmica ou em momentos transcendentes de maravilha sem se considerarem religiosos. A nadadora de longa distância e autoproclamada ateia Diana Nyad discutiu esta distinção numa entrevista de 2013 à Oprah.

“Sou uma ateia espantada”, disse ela. “Acho que você pode ser ateu sem acreditar em um ser supremo que criou tudo isso e o controla. Mas existe espiritualidade porque nós, seres humanos, e nós, animais, e talvez até nós, plantas – mas é claro que o oceano e a lua e as estrelas – todos vivemos com algo que é apreciado e sentimos o seu tesouro.

É difícil saber quantos ateus existem quando algumas pessoas relutam em aceitar o rótulo.

Embora uma pesquisa da Pew de 2018 tenha descoberto que 10% dos adultos americanos dizem não acreditar em nenhum poder superior ou força espiritual, apenas cerca de 4% dos adultos americanos se identificam como ateus. Uma pesquisa Gallup de 2022 coloca o número de não crentes no mais alto, com 17% dos americanos dizendo que não acreditam em Deus.

Alguns estudiosos, no entanto, consideram estes números subestimados: uma análise dos psicólogos Will Gervais e Maxine B. Najle sugere que a contagem verdadeira está mais próxima de 26%. Gervais observa que a era da Guerra Fria associou os ateus aos “comunistas ímpios” e que o cristianismo perdurou na cultura americana.

“O termo ateu tem conotações desagradáveis”, acrescentou. “Além disso, a religião [nos EUA] é recompensada política e socialmente, por isso as pessoas podem relutar em declarar-se ateus”.

Também vale a pena notar que o ateísmo – pelo menos no Ocidente – é geralmente definido em relação às tradições monoteístas, isto é, as religiões abraâmicas do Judaísmo, do Cristianismo e do Islã. Como observa a organização American Atheists em seu site, dicionários mais antigos definiam anteriormente o ateísmo como a “crença de que Deus não existe”, o nome próprio singular normalmente usado por cristãos e alguns judeus. Até a pesquisa Gallup de 2022 perguntou sobre a crença em “Deus”.

Enquadrar o ateísmo nestes termos não consegue captar uma série de outras crenças que os ateus podem defender. Fios de pensamento ateísta podem ser encontrados em tradições não-teístas, como o budismo, o jainismo e o hinduísmo, bem como em culturas ao redor do mundo que praticam o animismo.

É difícil falar sobre os ateus como um grupo amplo porque eles são definidos por aquilo em que não acreditam.

Existem todos os tipos de rótulos para descrever os não-crentes. Embora o ateísmo e o agnosticismo estejam entre os mais comuns, existem algumas diferenças entre esses termos.

Embora sejam frequentemente consideradas visões de mundo distintas, elas não são tecnicamente mutuamente exclusivas. Em vez disso, os termos ateísmo e agnosticismo respondem a questões diferentes, observou Nick Fish, da American Atheists. O ateísmo responde se uma pessoa acredita em um deus ou deuses, e o agnosticismo responde se é possível saber se existe um ser supremo.

Mas, mais uma vez, as definições do dicionário são limitantes neste caso. Na realidade, muitas pessoas consideram o agnosticismo uma forma menos estrita de ateísmo.

“Se você se aprofundar um pouco mais, acho que (muitos agnósticos) acabarão dizendo: ‘Não acredito em Deus, mas não tenho certeza, então sou agnóstico’”, disse Fish.

Jocelyn Williamson, cofundadora da Comunidade de Pensamento Livre da Flórida Central, não acredita em um poder superior, mas diz que não pode ter certeza. Tecnicamente, isso se enquadra na definição de ateu agnóstico. Mas ela diz que muitas vezes diz às pessoas que lhe perguntam sobre as suas crenças religiosas que ela é uma humanista secular.

“A maioria das pessoas não sabe o que isso significa e então posso conversar”, disse Williamson. “Há muitas noções preconcebidas se eu apenas disser que sou ateu.”

O termo ateu apenas transmite aquilo em que ela não acredita, disse Williamson. O termo humanista, por sua vez, indica que é motivado pela compaixão pelos outros e que acredita que a tomada de decisões sociais deve ser baseada na razão e na ciência.

Um dos equívocos mais comuns sobre os ateus é que eles não possuem a moral que outros frequentemente atribuem à religião.

Numa pesquisa da Pew de 2019, 44% dos residentes dos EUA disseram que a crença em Deus era necessária para ser moral e ter bons valores; Em outros países, essa proporção é muito maior.

Williamson está muito familiarizado com essas noções. Quando começou a conhecer líderes religiosos no seu estado através do seu trabalho com a Comunidade de Pensamento Livre da Florida Central, ele lembra-se de um membro do clero lhe ter perguntado o que o impedia de matar outras pessoas se não acreditasse num poder superior.

“Sempre pensei que isso fosse um meme, um lugar-comum”, disse ele. “Eu não achei que alguém realmente acreditasse nisso.”

Na verdade, vários estudos sugerem que os ateus não são mais imorais do que as pessoas religiosas. Eles também têm tanta probabilidade de participar da vida cívica quanto aqueles que são afiliados religiosamente e têm a mesma probabilidade de se comprometer com o serviço comunitário, de acordo com a recente pesquisa da Pew sobre “não-religiosos”.

Os ateus também são estereotipados como pessoas raivosas que se opõem veementemente à religião e aos seus seguidores. No entanto, como qualquer outra população, não constituem uma unidade. Williamson, por exemplo, atua no Conselho Inter-religioso da Flórida Central e trabalha com líderes religiosos em direção a objetivos comuns. Ele acrescentou que muitos não-crentes são voluntários em organizações religiosas pelo desejo de servir as suas comunidades: o seu pai trabalhou como diretor local para a organização sem fins lucrativos cristã Habitat for Humanity, apesar de não ser religioso.

Outro equívoco sobre os ateus é que eles são seguros ou inabaláveis em suas crenças, disse Fish. Muitas vezes dizem que não têm certeza sobre as grandes questões existenciais e, portanto, não podem ser ateus. Mas muitos ateus também estão pensando nisso.

“Só porque não acreditamos em um deus não significa que temos todas as respostas para todo o resto”, disse ele. “Na verdade, para muitos, a maioria de nós, é o oposto. Reconhecemos que não os temos.”

Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/lifestyle/por-que-as-pessoas-estao-evitando-dizer-que-sao-ateias/

quinta-feira, 28 de março de 2024

Argentinos protestam

Neste domingo (24), a organizações de direitos humanos, movimentos populares e partidos de esquerda foram às ruas na Argentina na marcha para homenagear as vítimas da última ditadura no país (1976-1983), instaurada há 48 anos por meio de um golpe civil e militar. Na data é celebrado o Dia da Memória pela Verdade e Justiça, que marca a reivindicação pelo esclarecimento dos crimes cometidos durante o período autoritário e a punição dos responsáveis.

Milhares de pessoas protestam em vários pontos do país, mas a concentração principal é na Plaza de Mayo, em Buenos Aires. Ali milhares de pessoas trouxeram cartazes sobre a importância da memória e rejeitando a negação dos horrores da ditadura, que são discurso habitual do atual presidente Javier Milei. “Memória sim, medo não” e “tudo fica guardado na memória”, eram algumas das frases dos manifestantes. 

A presidente da associação Avós da Plaza de Mayo, Estela de Carlotto, foi a primeira a falar no principal evento do dia. "Hoje é um dia histórico, com mobilizações massivas, e é uma demonstração de que o povo está enfrentando esse governo neofascista. Precisamos fortalecer a unidade e a organização para defender a democracia", disse ela, diante de milhares de pessoas que se reuniram na Plaza de Mayo.

"Nossos parentes e companheiros estavam lutando por uma sociedade mais justa, igualitária, solidária e soberana. É por isso que eles foram levados. Nós, organizações de direitos humanos, levantamos as mesmas bandeiras no auge do genocídio, quando saímos para enfrentar a ditadura mais sangrenta. E fazemos isso hoje, porque o governo de Milei está vindo para tudo: para nossos direitos, para nossa soberania e para nossa liberdade", continuou Estela.

A manifestação na Plaza de Mayo foi uma das maiores dos últimos 40 anos de democracia na Argentina. Foi a primeira vez em 40 anos de democracia que o evento ocorreu em um contexto em que o governo nacional nega que tenha havido 30.000 desaparecidos. Javier Milei é o primeiro governo negacionista na história da Argentina. 

Taty Almeida, integrante das Madres de Plaza de Mayo Línea Fundadora, logo no início de seu discurso exclamou: “Temos 30 mil motivos para defender a Pátria”. Para ela, é preciso uma forte unidade dos diferentes grupos para defender a democracia e derrotar o ódio. “A unidade das forças políticas e sociais, dos sindicatos e dos movimentos de direitos humanos, dos feminismos e das diversidades deve ser um mandato urgente para organizar a resistência e gerar as alternativas necessárias para acabar com tanto sofrimento”, disse Almeida.

"Vemos no governo de Milei atitudes de extrema crueldade e violência contra aqueles que pensam de forma diferente. Ele nega as contribuições que os movimentos populares, os movimentos de mulheres e as organizações de direitos humanos fizeram ao longo desses 40 anos de democracia. Um governo que não está a serviço do povo, está contra o povo. Reafirmamos nosso compromisso com os direitos humanos que nos afetam diariamente: alimentação, saúde, educação, moradia, cultura e trabalho. E também com as crianças e os jovens. Com a sociedade, o estado e o meio ambiente que deixamos para eles. Devemos fortalecer os valores fundamentais dos direitos humanos, da solidariedade e da proteção coletiva", concluiu ela.

O ganhador do Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel, também participou do evento central na Plaza de Mayo e destacou que “o governo de Milei e (a vice-presidenta Victoria) Villarruel está executando, de forma brutal e acelerada, o plano de ajustamento mais implacável destes 40 anos de história democrática".

“Dias depois de tomar posse, implementaram uma desvalorização que significou uma enorme perda de salários e pensões. Pretendem desmantelar o sistema laboral, previdenciário e previdenciário com as piores receitas do neoliberalismo. ajuda. Interromperam a entrega de alimentos às cozinhas populares. É necessário que sejam restauradas imediatamente. É claro: a única coisa que este plano gera são lucros extraordinários para alguns e fome para a maioria. Nos bairros populares há é uma emergência humanitária sem precedentes no nosso país. Lembramos a este governo que deve ter em mente que com ódio, repressão e vingança não se pode construir uma sociedade mais justa e fraterna", criticou Esquivel.

A marcha deste ano foi marcada por um clima de tensão na véspera, diante da disputa pelo significado da data. Desde a campanha eleitoral o presidente ultraliberal Javier Milei e sua vice Victoria Vilarruel, contestam os dados oficiais e negam o número de desaparecidos durante o regime de exceção. Na sexta-feira (22), Vilarruel ironizou a mobilização do 24 de março e usou o termo "festejar" para se referir à celebração dessa data trágica na história do país.

"Estamos em um estado democrático, se querem festejar o golpe, vão lá", disse a vice de Milei. Questionada sobre o uso do termo, ela afirmou que "há claramente uma morbidez" em relação à data, "porque toda a vida da esquerda parece que vai desaparecer se no 24 de março não fizer ser escutada sua mensagem ininterrupta há 40 anos". Hoje, o governo Milei divulgou um vídeo com o título “Dia da Memória pela Verdade e Justiça”, deturpando informações sobre o período.

Em uma entrevista à rádio Delta, também na sexta, a presidente das Avós da Praça de Maio, principal organizadora da mobilização de domingo, Estela Barnes de Carlotto respondeu à fala da vice-presidente. “Isto não é um festejo, mas sim manter viva a memória, saber o que aconteceu nessas datas para que não volte a acontecer. Não queremos que as novas gerações passem pelo que passamos de ter que procurar nossos filhos e netos devido a uma ditadura feroz”.

Na quinta-feira (21), outra organização que luta pelos direitos-humanos na Argentina, Hijos (Filhos e Filhas pela Identidade e Justiça contra o Esquecimento e o Silêncio), denunciou a agressão sexual e ameaça de morte a uma de suas integrantes, que atribuíram a uma motivação política.

"Estes atos têm uma clara relação com as ações e os discursos de ódio que as autoridades máximas do país expressam cotidianamente e incita a violência contra nós que militamos pelos direitos humanos. Exigimos o imediato esclarecimento do fato por parte do poder judicial e responsabilizamos o governo nacional pelos fatos ocorridos”, diz o comunicado da organização.

Diferente do Brasil, onde os militares que cometeram crimes durante a ditadura (1964-1985) permanecem impunes, na Argentina nove líderes das três primeiras juntas militares que governaram o país após o golpe de Estado de 1976 foram condenados. Os julgamentos de crimes da ditadura no país foram reabertos em 2004 com Políticas de Estado de Memória, Verdade e Justiça no governo de Néstor Kirchner (1950 - 2010). 

Em torno de 1.100 repressores foram julgados após a declaração de inconstitucionalidade das leis de proteção: Lei de Ponto Final (1986), instituída um ano após o primeiro grande julgamento das juntas militares, e lei de Obediência Devida (1987), na qual os feitos cometidos pelos membros das forças armadas não eram puníveis por, supostamente, terem agido em virtude de obediência devida.

Na madrugada do dia 24 de março de 1976, um golpe de Estado derrubou a presidenta argentina María Estela Martínez, conhecida como Isabelita Perón, que assumiu o poder em 1974, após a morte de seu marido Juan Domingos Perón (1895 - 1974), de quem era vice. O golpe foi comandado por uma junta militar formada pelo general Jorge Rafael Videla, pelo almirante Emilio Massera e pelo brigadeiro Orlando Agostí. A junta militar comandada por Videla dissolveu o Congresso, afastou os juízes e suprimiu as liberdades de imprensa e de expressão no país.

Sob a justificativa de combater a "influência socialista", os militares instauraram um regime de terror, com sistemática violação dos direitos humanos.

Um ano após o golpe, o jornalista argentino Rodolfo Walsh publicou uma carta em que denunciava as torturas e mortes causadas pela repressão instaurada no país, assim como a piora da qualidade da vida e o aumento da miséria devido à má gestão econômica da junta militar. "O que vocês chamam acertos são erros, os que reconhecem como erros são crimes e o que omitem são calamidades", escreveu o jornalista na "Carta aberta de um escritor à Junta Militar". 

"O que vocês liquidaram não foi o mandato transitório de Isabel Martínez, mas a possibilidade de um processo democrático onde o povo remediaria males que vocês continuaram e agravaram", escreveu Walsh.

"A política econômica dessa junta só reconhece como beneficiários a velha oligarquia de grãos, a nova oligarquia especuladora e um grupo seleto de monopólios internacionais encabeçados pela ITT, Esso, empresas automobilísticas, USSteel, Simenes, às quais estão ligados pessoalmente o ministro Martínez de Hoz e todos os membros do seu gabinete", diz o último texto publicado pelo jornalista. Dias depois da publicação da carta, Walsh se tornou mais um desaparecido pela ditadura militar argentina.

A Ditadura Civil Militar na Argentina fazia parte do chamado Plano Condor, uma coordenação repressiva entre as diferentes ditaduras que governavam a América Latina na época (como Bolívia, Brasil, Chile, Uruguai e Paraguai) e o governo dos Estados Unidos.

Washington estava encarregado de fornecer apoio logístico, propagandístico e econômico por meio do Departamento de Estado dos EUA e da CIA às várias ditaduras para "combater o comunismo".

Além disso, os EUA foram responsáveis pelo treinamento das forças militares ditatoriais no Instituto do Hemisfério Ocidental para Cooperação em Segurança, mais conhecido como Escola das Américas. Membros das forças armadas latino-americanas aprenderam métodos de tortura, assassinato e repressão em grande escala contra setores sociais que "distribuíam propaganda em favor de grupos extremistas de esquerda ou de seus interesses e simpatizavam com manifestações ou greves", de acordo com o Manual de Estudos de Contrainteligência da Escola, um documento desclassificado em 1996.

Fonte (com correções): https://www.brasildefato.com.br/2024/03/24/manifestacoes-marcam-os-48-anos-do-golpe-que-instaurou-ultima-ditadura-militar-na-argentina

O enigma de Tiwanaku

Autora: Cristina J. Orgaz.

A civilização de Tiwanaku (ou Tiahuanaco) é conhecida como a "cultura mãe" da América do Sul. Seu esplendor e influência alcançaram o Peru, o Chile, a Argentina e a Bolívia.

Sua história é uma das mais ricas e vibrantes do mundo. Foi uma das civilizações mais complexas e sofisticadas da história, que dominou uma vasta extensão da América do Sul por vários séculos.

O centro espiritual e político ficava localizado na cidade-estado de Tiwanaku, cerca de 74 km a oeste de La Paz, perto do lago Titicaca.

A uma altitude de quase 4.000 metros acima do nível do mar, a cidade exibiu toda sua grandeza entre 400 d.C. e 900 d.C. - antes de ir desaparecendo gradualmente.

"Os vestígios de seus monumentos atestam a importância cultural e política de uma civilização que é claramente diferente das outras culturas pré-hispânicas da América", afirma a Unesco sobre o sítio arqueológico.

O conjunto monumental de edifícios e pirâmides foi construído com pedras enormes esculpidas com precisão milimétrica. Ainda não está claro como eles conseguiram erguer essas estruturas ou mesmo trazer as pedras necessárias, já que essa civilização não conhecia a roda.

"Era uma cidade brilhante, que tinha de 4 a 6 quilômetros quadrados. Uma parte dessa área estava repleta de pirâmides de pedra, palácios e residências para a elite. Além disso, foram construídas moradias para o restante da população que se estendiam até o lago. Isso dá cerca de 20 quilômetros, um espaço bastante extenso", explica à BBC Mundo Charles Stanish, antropólogo da Universidade do Sul da Flórida.

A pirâmide de Akapana é, por exemplo, a maior e mais antiga das construções pré-hispânicas da América do Sul. Tinha um grande significado espiritual e os arqueólogos acreditam que foi erguida há cerca de 2.500 anos.

A cidade foi projetada para atrair gente de todos os lugares e os especialistas estão convictos de que ela tinha bairros diferentes e uma população composta por várias etnias.

"Provavelmente diferentes idiomas eram ouvidos na cidade. Grandes cerimônias e festivais eram organizados para atrair pessoas e fortalecer o comércio. Seus tecidos são absolutamente impressionantes, sua cerâmica é linda", afirma Stanish.

A economia foi construída com base no comércio e na agricultura. A metrópole possuía um complexo sistema de drenagem subterrânea que controlava o fluxo da água da chuva.

Seus quase 50.000 campos agrícolas, conhecidos como sukakollos, tinham uma tecnologia de irrigação surpreendente para a época que permitia que eles se adaptassem facilmente às difíceis condições climáticas da região.

Eles também construíram terraços artificiais que possibilitaram uma forma sustentável de cultivo e ajudaram na evolução cultural do império.

"Essas inovações foram adotadas por civilizações posteriores e se estenderam até Cusco", explica a Unesco.

O povo de Tiwanaku estabeleceu colônias em uma área do tamanho da Califórnia onde foram abertas lojas de artesanato, por exemplo.

Assim, eles estabeleceram seu poder político e econômico: controlando pequenos enclaves e fazendo comércio com os locais.

"Eles conseguiam objetos da floresta tropical e os comercializavam com pessoas do sul, nas encostas dos Andes, desde a cidade peruana de Moquegua até San Pedro de Atacama, no Chile", acrescenta Stanish.

"Eles se comportavam como um imperialismo clássico, traziam matérias-primas e fabricavam determinados produtos, especialmente cerâmica e tecidos. Tinham compostos alucinógenos que eram muito populares na época, trabalhavam com pedra e metal, tinham toda uma gama de atividades. E sobreviveram durante centenas de anos", explica o antropólogo.

"Era uma sociedade hierárquica. Isso está muito claro. Tinham uma realeza e uma elite conectada com o sacerdócio que usava símbolos e estruturas de poder tradicionais dos Andes. É quase certo que o povo de Tiwanaku falava uma forma ancestral da língua aimará, que chamamos jaqi", diz.

Mas apesar da grandiosidade e da influência de Tiwanaku, da sua força econômica e política, a civilização desapareceu misteriosamente sem deixar muitas pistas sobre o que levou ao seu colapso.

"Temos muitos mistérios para resolver, como o seu desaparecimento e a tecnologia que usaram para transportar pedras de mais de 140 toneladas que foram retiradas de pedreiras a mais de 50 quilômetros da cidade", disse à BBC o arqueólogo boliviano Luis Miguel Callisaya.

Parte da cultura e das tecnologias desse povo foram absorvidas pelos incas. E, de fato, antes que a técnica de datação por carbono fosse desenvolvida, se considerava que os Tiwanaku eram parte da civilização inca.

Mas, nos anos 60 e 70, começaram a aparecer artefatos e vestígios que demonstraram que, na verdade, a civilização era muito anterior aos incas.

Os incas não habitaram os planaltos dos Andes até o século 13. "Já não há absolutamente nenhuma dúvida de que houve um intervalo grande de tempo entre o colapso dos Tiwanaku e o começo do Estado Inca", diz Stanish.

Existem muitas hipóteses para explicar o colapso e o desaparecimento dessa civilização. Infelizmente, Tiwanaku foi saqueada ao longo dos séculos e grande parte de seu precioso patrimônio se perdeu.

Vários documentos históricos mostram que o sítio arqueológico se transformou em uma pedreira da qual se extraíam materiais para construir edifícios modernos. As evidências disso, segundo a Unesco, ainda são visíveis no centro de uma cidade próxima e mesmo em La Paz, a capital da Bolívia.

Apenas cerca de 10% da cidade foi escavada, o que significa que ainda há muito trabalho pela frente. Por isso, é difícil saber exatamente o que aconteceu.

A tese mais difundida é a de uma crise ambiental que gerou uma seca prolongada.

Para Callisaya, uma das evidências arqueológicas que apontam nessa direção é o descobrimento de 19 ossadas de jovens que "consideramos que foram parte de uma oferenda para enviar uma mensagem pedindo chuva aos deuses", explica.

Stanish diz que a civilização não desapareceu da noite para o dia. "O processo ocorreu durante pelo menos 200 anos", diz.

Também não se tratou de um colapso biológico, ou seja, a população não morreu em um curto período de tempo. É provável que os habitantes tenham se dispersado aos poucos.

"Sabemos que não foi uma doença que dizimou a população. Fala-se que a razão é uma seca que afetou os sistemas agrícolas e também que houve invasores que vieram do sul. Essa foi a narrativa registrada por muitos historiadores espanhóis", explica o arqueólogo.

Para ele, não houve apenas uma causa, mas a convergência de várias. Entre elas provavelmente estaria também uma revolta dos camponeses devido a uma forte insatisfação com os governantes e a elite.

"Parece muito com o que aconteceu com os maias, onde as pessoas simplesmente se dispersaram. Qualquer que fosse o sistema político e econômico que mantinha Tiwanaku, ele veio abaixo", diz.

Dessa forma, a agricultura e a riqueza que ela produzia, que durante séculos foi o que manteve unido o sistema político de Tiwanaku, caiu gradualmente em desuso, e ocorreram grandes mudanças em relação à saúde, à demografia e às estratégias de subsistência do povo, o que teria resultado em uma diáspora.

"A primeira etapa foi uma diáspora colonizadora e limitada a lugares de altitude intermediária. A segunda etapa foi uma diáspora muito mais extensa, impulsionada pela desintegração violenta das colônias em torno de 1000 d.C, junto com o colapso da cidade de Tiwanaku ou sua reorientação radical por uma elite militar", afirma Bruce D. Owen no estudo "Distant Colonies and Explosive Collapse: The Two Stages of the Tiwanaku Diaspora in the Osmore Drainage" ("Colônias Distantes e Colapso Explosivo: As Duas Etapas da Diáspora de Tiwanaku na Drenagem de Osmore", em tradução livre).

Alguns foram para áreas pouco povoadas e estabeleceram aldeias pequenas, dispersas e fáceis de defender. Outros foram para locais onde já havia populações maiores ou mais estabelecidas e foram integrados como uma minoria de menor status.

"Esse colapso explosivo sugere que Tiwanaku era composta por vários grupos cujos diferentes interesses não podiam ser contidos", acrescenta Owen.

Quando as civilizações colapsam, normalmente há várias razões: crescimento demográfico, doenças, invasões ou guerras. Todas elas se somam e engolem civilizações inteiras.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c4nk7y1kevlo

quarta-feira, 27 de março de 2024

CPI da COVID

A OXFAM Brasil publicou um estudo sobre Mortes Evitáveis por Covid-19 no Brasil que mostra o tamanho da desgraça de ter um governo negacionista na administração de uma pandemia.

O estudo teve dois focos: as ações não-farmacológicas e a preparação do sistema. Nos dois o governo Bolsonaro apresentou falhas graves.

No caso das ações não-farmacológicas o governo Bolsonaro agiu no sentido contrário do que deveria ser feito, como o fechamento provisório de atividades econômicas, distanciamento físico e limitação de aglomerações, redução da mobilidade e uso de máscaras.

Também falhou na preparação do sistema de saúde para o atendimento à população, trocando de ministros e colocando um general que nada entendia do assunto à frente do ministério — o hoje deputado federal general Pazuello.

As conclusões do estudo são assustadoras e revelam o crime que foi cometido contra a população.

120 mil mortes por Covid-19 e mais 305 mil mortes em relação ao normal no período, o que significa que muitos desses 305 mil podem ter morrido de Covid-19, mas sem o diagnóstico. Outros morreram por falta de atendimento já que os casos de Covid-19 lotaram hospitais e exauriram as equipes médicas.

Principais destaques do estudo Mortes Evitáveis por Covid-19 no Brasil:

Cerca de 120 mil vidas poderiam ter sido poupadas no primeiro ano de pandemia no Brasil se tivéssemos adotado medidas preventivas como distanciamento social, restrição a aglomerações e fechamento de estabelecimento comerciais e de ensino.
Com base nos óbitos registrados entre 2015 e 2019, verificou-se que houve um excesso de mortes por causas naturais no primeiro ano da pandemia — foram 305 mil mortes acima do esperado.  
Mais de 20 mil pessoas (pouco mais de 11% do total de registros de internação) perderam a vida à espera de atendimento durante o 1º ano da pandemia no Brasil. 
As mortes em fila de espera no sistema brasileiro de saúde atingiu mais as pessoas negras e indígenas (13,1%) do que pessoas brancas (9,2%).  
Pessoas negras são mais afetadas pela falta de leitos hospitalares, têm menos acesso a testes diagnósticos e tem risco 17% maior de morrer na rede pública.
Menos de 14% da população brasileira fez testes de diagnóstico para covid-19 até novembro de 2020. Dentro desse universo, pessoas com renda maior consumiram 4 vezes mais testes.

A CPI da COVID apontou o envolvimento de Bolsonaro nos seguintes crimes:

epidemia com resultado morte;
infração de medida sanitária preventiva;
charlatanismo;
incitação ao crime;
falsificação de documento particular;
emprego irregular de verbas públicas;
prevaricação;
crimes contra a humanidade;
crimes de responsabilidade (violação de direito social e incompatibilidade com dignidade, honra e decoro do cargo)

Fonte: https://revistaforum.com.br/politica/2024/3/23/covid-ma-gesto-de-bolsonaro-contribuiu-para-morte-de-120-mil-aponta-estudo-156144.html

Satanismo na escola

A notícia foi publicada em uma página dedicada aos evanjegues, com intenção de cultivar pânico moral.
Gente que vive choramingando por liberdade de expressão e de crença.

Citando:

Depois que a Flórida, nos Estados Unidos, aprovou uma lei que permite capelães nas instituições de ensino, o Templo Satânico está se preparando para enviar um grupo às escolas.

O Templo Satânico, fundado há 10 anos, administra uma série de grupos extracurriculares como o “After School Satan Club” (Clube Satânico Pós-Escola), alegando que são uma alternativa a outras religiões.

Uma das líderes do Templo Satânico informou ao Tallahassee Democrat que o grupo estava pronto para “ajudar as crianças”. “Qualquer oportunidade que exista para ministros ou capelães no setor público não deve discriminar com base na filiação religiosa”, disse Penemue Grigori.

E continuou: “Os nossos ministros esperam participar de oportunidades para fazer o bem na comunidade, incluindo as oportunidades criadas por este projeto de lei, juntamente com a liderança de outras religiões”.

A iniciativa do Templo Satânico ocorreu depois que a legislação da Flórida aprovou uma lei que permite que capelães frequentem escolas na região com o objetivo de ajudar crianças com distúrbios psicológicos. 

A lei foi aprovada no dia 22 de fevereiro e está prevista para entrar em vigor no dia 1 de julho.

Apesar de estar sendo apresentado como uma forma de ajudar alunos com distúrbios psicológicos, um capelão só poderá atender uma criança após a autorização dos pais.

De acordo com o The Independent, a verificação de antecedentes criminais dos voluntários também será necessária para que ele possa trabalhar em uma escola e caberá às instituições de ensino decidir como adotar a nova política.

Em Utah, um projeto de lei semelhante foi aprovado recentemente prometendo que os capelães seriam “não-denominacionais e justos para todos”. No ano passado, o Texas também aprovou uma versão.

Retomando.
Evidente que eu não vou citar a fonte.
Adendo: eu vou deixar aqui o registro do fim do OnlySky. Que surgiu como alternativa depois da debandada dos ateus do Patheos. Que virou mais uma página de fundamentalismo cristão.
Iniciativas como as do TST são bem vindas. Pena que aqui no Brasil seria impossível.

terça-feira, 26 de março de 2024

A cruzada russa

"Extremismo" e "violação dos valores tradicionais", esses foram os motivos que levaram à prisão dos gerentes de um bar LGBT+ localizado na região dos Urais. A decisão foi anunciada por um tribunal da cidade de Orenburg nesta quarta-feira (20).

"Este é o primeiro caso criminal deste tipo na Rússia depois da decisão do Supremo Tribunal de classificar o movimento LGBTQIA+ como extremista", declarou Ekaterina Mizulina, militante dos "valores tradicionais", segundo a AFP.

Os responsáveis pelo bar "Pose" ficarão detidos até 18 de maio. Segundo a AFP, as prisões provisórias geralmente são prorrogadas na Rússia até o julgamento final.

De acordo com a acusação, "durante a apuração foi constatado que os acusados, pessoas com orientação sexual não tradicional [...] também apoiam as opiniões e atividades da associação pública internacional LGBTQIA+ proibida em nosso país".

Caso sejam condenados, o que é muito provável que aconteça, os donos do bar "Pose" podem pegar até dez anos de prisão.

O parlamento russo, que é controlado pelos partidos aliados do presidente Vladimir Putin, decretou uma cruzada contra as pessoas LGBT+ em 2013, quando aprovou a Lei anti-propaganda LGBT. Por possuir um texto genérico, qualquer coisa pode ser considerada "propaganda".

Com a aprovação da lei, as Paradas do Orgulho, eventos, programas de TV foram proibidos, pois, um dos artigos da lei visa "proteger os menores de idade da propaganda LGBT", ou seja, a vida LGBT é criminalizada desde então.

No ano passado, a cruzada russa contra as LGBT+ ganhou um novo capítulo quando a Suprema Corte classificou o movimento LGBT+ e suas filiais internacionais como "grupos extremistas que atentam contra os valores tradicionais".

Dessa maneira, todas as fundações, ONGs e institutos LGBT+ foram banidos do país. À época, a ONU condenou a nova promoção de ódio às LGBT+ na Rússia.

Fonte: https://revistaforum.com.br/lgbt/2024/3/21/lgbt-so-presos-na-russia-por-extremismo-ataque-aos-valores-tradicionais-156018.html

Evidências da religião dos filisteus

JERUSALÉM – Uma equipa de investigadores da Universidade Bar-Ilan de Israel anunciou a descoberta de vestígios botânicos e pistas arqueológicas num templo com 3.000 anos situado no centro de Israel. Estas descobertas são cruciais para desvendar os mistérios que cercam o antigo povo do sul de Canaã, comumente chamados de filisteus. Os pesquisadores afirmaram que as evidências sugerem um culto à Deusa Mãe, bem como o uso de medicamentos vegetais que incluíam substâncias psicoativas.

A pesquisa publicada recentemente no Scientific Reports descreve a escavação de dois templos sucessivos em Tell eṣ-Ṣâfī/Gath, Tel Tsafit, um sítio arqueológico localizado no centro de Israel. É identificada como o maior assentamento filisteu conhecido e é reconhecida como a antiga cidade de Gate. O local tem sido particularmente interessante para arqueólogos e historiadores devido à sua associação com os filisteus, um povo antigo mencionado em relatos bíblicos e conhecido pelas suas interações e conflitos com os israelitas. Gate é mencionada na Bíblia como a casa de Golias, “um campeão do acampamento dos filisteus, cuja altura era de seis côvados e um palmo” (Samuel 17:4), e notoriamente derrubado por David.

O site já forneceu informações valiosas sobre a cultura material, a vida cotidiana e as práticas religiosas dos filisteus durante a Idade do Ferro. As descobertas em Tell eṣ-Ṣâfī incluíram artefatos, estruturas e vestígios que contribuem para a nossa compreensão da história antiga e da dinâmica da região. O local é significativo não apenas pelas suas associações históricas e bíblicas, mas também pelas informações que fornece sobre o contexto cultural mais amplo do antigo Oriente Próximo.

Na presente investigação, os arqueólogos pretenderam melhorar a nossa compreensão destas comunidades antigas. Eles dependiam, em parte, de sementes carbonizadas e frutas recuperadas dos restos de um antigo templo em Gate, cobrindo dois períodos consecutivos de seu uso entre os séculos IX e X a.C. A antiga cidade de Gath/Tell eṣ-Ṣâfī está localizada a meio caminho entre Jerusalém e a moderna cidade de Ashkelon, na costa do Mediterrâneo.

O foco nas plantas ajudou os pesquisadores a descrever não apenas seu possível uso, mas também como o local se conectava com as culturas das regiões. Os pesquisadores escrevem que “as plantas em contextos rituais esclarecem a sazonalidade dos ritos, o papel da agricultura, as atividades médicas/psicoativas e a origem geográfica das oferendas”.

Os pesquisadores notaram que o site relaciona muitos aspectos da prática ritual e como os filisteus poderiam explorar poderes elementais. Algumas plantas parecem ser usadas para incenso, outras como inseticidas e ainda outras para medicina e magia.

“A água doce, a agricultura e o nascimento, morte e renascimento cíclicos de uma planta são reconhecidos e venerados como transformadores, e até mágicos, nos mitos mais antigos, como o épico de Gilgamesh, o conto de Aqhat e a adoração de divindades como como Tamuz, Istar e Baal.”

Os investigadores também observaram que “estas plantas mediterrânicas generalizadas eram conhecidas até agora apenas em cultos posteriores”, escrevem os autores do novo estudo, que ligam a “primeiras divindades gregas, como Hera, Ártemis, Deméter e Asclépios”. As plantas também parecem destacar conexões interculturais nas tradições e práticas regionais.

A equipe de pesquisa destacou a árvore casta como exemplo. Embora a árvore casta seja difundida em todo o Mediterrâneo, o seu uso simbólico é limitado à Grécia antiga. A planta está associada aos cultos em Esparta (Ártemis e Asclépios), aos ritos de Thesmophoria, bem como ao culto de Hera em Samos.

A equipe arqueológica também encontrou evidências do uso de plantas psicoativas como parte dos rituais realizados em Gath/Tell eṣ-Ṣâfī. Uma planta, o joio venenoso (comumente chamado de azevém), é uma fonte natural de ergot, um fungo que “contém um alcalóide do tipo LSD, conhecido por ser alucinógeno, usado por parteiras e como ingrediente fortificante na fabricação de cerveja”.

Ergot é conhecido em outros contextos relacionados aos julgamentos de bruxas mais recentes de 1600. Alguns historiadores acreditam que uma infestação de cravagem em Massachusetts causou atividades estranhas entre algumas mulheres em 1691 e acabou levando à caça às bruxas em Salem. Os toxicologistas agora sabem que o envenenamento por ergotamina pode causar convulsões, espasmos, alucinações, sensações de arrepio na pele e comportamentos erráticos.

Os pesquisadores observaram que o “uso da cravagem em contextos de culto como psicoativo é mencionado em relação aos mistérios gregos de Elêusis, associados aos cultos da agricultura”. Eles acrescentaram: “É plausível que a prática ritual do templo incluísse o uso de adições medicinais e que melhoram o humor aos alimentos regulares”. A presença de cálices rituais sugere o uso dessas substâncias dessa forma.

O que parece claro é que o local tinha uso ritual relacionado com a estação e as oferendas, ao mesmo tempo que era um local de cura e conexão com deusas-mães em toda a região. As descobertas também parecem mostrar que as práticas de utilização destas plantas eram mais antigas do que a sua presença em cultos posteriores das primeiras divindades gregas, como Hera, Ártemis, Deméter e Asclépios.

“Essas divindades femininas estão de acordo com a ampla ocorrência de estatuetas femininas em contextos filisteus”, escreveram os pesquisadores, acrescentando que a descoberta de estatuetas em Gath/Tell eṣ-Ṣâfī “conecta os filisteus com cultos generalizados da Grande Deusa Mãe Egeu ou Micênica”.

Os investigadores sublinharam que a religião filisteu dependia claramente da “magia e do poder da natureza, como a água doce e a sazonalidade, que influenciam a vida, a saúde e a atividade humana”.

Fonte: https://wildhunt.org/2024/03/researchers-shed-light-on-philistine-religion-and-mother-goddess-cult-practices.html
Traduzido com Google Tradutor.

segunda-feira, 25 de março de 2024

A "educação" de Nicholas

O presidente da Comissão de Educação da Câmara, o deputado federal bolsonarista Nikolas Ferreira (PL-MG), abordou uma série de requerimentos da oposição durante a sessão da última quarta-feira (20) no colegiado.

Um dos pedidos mais controversos aprovados na reunião, proposto pela deputada Adriana Ventura (Novo-SP), é um debate sobre casos de violência ocorridos em universidades ou em eventos acadêmicos devido à intolerância à diversidade de pensamento.

Na justificativa, a parlamentar afirma que há uma cultura de “fascismo de esquerda” nessas instituições. Para a audiência, Ventura sugere a presença de representantes da União Nacional dos Estudantes (UNE) e do Movimento Brasil Livre (MBL), entre outros grupos e entidades.

“A violência contra pessoas com opiniões divergentes impede o livre fluxo de ideias e prejudica a missão fundamental da academia. No entanto, percebe-se, nos dias atuais, uma cultura do ‘fascismo de esquerda’, um autoritarismo por parte daqueles que defendem os pensamentos de esquerda contra quem não os adota”, diz.

Fonte, citado parcialmente: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/comissao-de-educacao-nickolas-ferreira-fara-debate-sobre-fascismo-de-esquerda-em-faculdades/

Nota: combater o Bolsonarismo pode ser inócuo se não combatermos o Olavismo.

Primeira pessoa intersexual registrada

Após quase três anos de espera, a pernambucana Céu Albuquerque conseguiu o reconhecimento na certidão de nascimento como intersexo. O processo judicial foi iniciado em julho de 2021 e foi concluído com a expedição do documento corrigido na última quinta-feira (7). A jornalista e ativista é a primeira pessoa no país a conseguir o reconhecimento oficial da condição de intersexo, segundo a Associação Brasileira Intersexo (Abrai).

Céu tem hiperplasia adrenal congênita, condição genética que afeta a produção de cortisol e influencia o desenvolvimento sexual e a formação dos órgãos genitais externos. Ao nascer, Céu tinha uma genitália ambígua e foi submetida a uma cirurgia de redesignação sexual, considerada pela comunidade intersexo como uma forma de mutilação. A partir do teste, Céu foi registrada com o sexo feminino. A decisão pelo procedimento cirúrgico e registro com sexo feminino foram baseados em um exame de cariótipo, que avalia estrutura de cromossomos da pessoa.

No entanto, a jornalista luta há dez anos pelo reconhecimento das pessoas intersexo, que não se encaixam nos padrões tradicionais de sexo divididos entre masculino e feminino. Essa situação é causada por diversas variações, como cromossomos atípicos, genitais ambíguos e produção hormonal fora do padrão.

“Quando eu nasci em 1991, fiquei seis meses sem registro de nascimento, esperando o exame de cariótipo sair para verem qual a prevalência de gênero o meu corpo possuía, vejo isso como a primeira violação de direitos humanos que sofri”, conta Céu.

Segundo a Abrai, as pessoas nessa situação são frequentemente estigmatizadas e discriminadas. Entre as violações, a associação destaca a falta de acesso a documentos e as intervenções médicas desnecessárias.

A retificação do registro é para a ativista uma conquista de toda a comunidade intersexo. “O resultado deste processo era muito aguardado, não apenas como uma realização pessoal, mas também como um marco significativo para toda a comunidade intersexo em geral. Muitas vezes, uma conquista coletiva é o fruto de uma luta individual, e essa batalha foi travada por meio de mim, com a esperança de um futuro melhor para essas crianças”, acrescentou a jornalista.

Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2024-03/pernambucana-e-primeira-do-pais-ter-obter-registro-intersexo

domingo, 24 de março de 2024

Palavra imposta é tortura

Publicado no X do Jean Wyllys.

Acabo de mandar uma real para um taxista. Quando entrei em seu carro ele aumentou o rádio com um programa proselitista neopentecostal.

Pedi que desligasse. Ele relutou em silêncio uns 10s. Repeti o pedido e ele então desligou.

“Mas por quê?”, ele me perguntou.

“Porque não sou evangélico. E porque acho esse proselitismo de vocês desrespeitoso e arrogante. Nós somos um país com muitas religiões e com pessoas ateias. Não somos obrigados a ouvir pregações e exorcismos em rádios de sua religião quando estamos pagando pelo seu serviço. Quando o senhor estiver só no carro, o senhor ouve sua pregação”.

“Quando entrar um passageiro, tenha a educação de ao menos perguntar se ele quer ou não ouvir essa pregação gritada ou prefere ouvir música. Isto é viver em democracia e respeitar o direito do outro”, respondi firme e pacientemente.

“Ah, mas é A Palavra”, ele me disse.

E eu respondi: “Palavra imposta é tortura, meu senhor! E a única palavra que que me interessa agora é silêncio”. Estamos em silêncio desde então. Ah, que chatice!

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/palavra-imposta-e-tortura-a-licao-de-jean-wyllys-a-um-taxista-evangelico/

Nota: eu continuo com a campanha de criminalizar o proselitismo.

Crítica contra a manipulação religiosa

Roberto Barroso, presidente do STF, criticou nesta 6ª feira (8) o que denominou de “manipulação política” da religião para obtenção de votos e campanhas contrárias aos adversários. De acordo com o magistrado, a fé precisa ocupar um espaço na vida particular das pessoas, que não se torne em “uso abusivo” do tema por suas lideranças.

Durante sua intervenção, Barroso destacou a importância de preservar a fé como uma questão privada e não instrumentalizá-la para objetivos políticos momentâneos. Ele enfatizou que a exploração da religião por líderes públicos para ganhar votos e demonizar oponentes é uma prática antiética e não condizente com os valores cristãos.

O ministro relembrou os incidentes ocorridos na Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023, onde observou pessoas que, após cometerem atos de vandalismo, se ajoelharam para rezar. Ele destacou a contradição entre o uso da religião como veículo de ódio e violência, ressaltando que a verdadeira religião preconiza o entendimento e a compaixão.

Além disso, mencionou os desdobramentos da operação Tempus Veritatis da Polícia Federal, que investiga a existência de um gabinete do ódio no governo anterior, responsável pela disseminação de fake news e supostos planos de golpe de Estado.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/barroso-critica-manipulacao-religiosa-na-politica-e-preciso-combater/

sábado, 23 de março de 2024

Helênicos celebram Dionísio

ATENAS, Grécia – Estamos reunidos, vestidos de preto, à sombra dos restos do templo de Dionísio. O antigo altar está decorado com flores silvestres, coroando uma efígie do Deus da Primavera. Flores de acácia amarelas brilhantes pontuadas por flores brancas de achillea (yarrow) e bagas vermelhas de aroeira evocam a primavera em tempo real: colhidas na área circundante, sua beleza é uma oferenda aos deuses e um lembrete de sua conexão com os ciclos da Terra. Ando até lá e coloco as flores silvestres que colhi no altar, junto com as oferendas dos outros participantes. O altar de mármore envelhecido é encimado por um labrys, ou machado de duas cabeças, símbolo do grupo politeísta Labrys, que acolhe o ritual de hoje. Braseiros de incenso perfumado de livani (olíbano) decoram o espaço e, quando começam as invocações a Dionísio, o grande braseiro queima videiras secas, planta sagrada ao deus da Folia e do Êxtase.

Mas o verdadeiro ritual extático ainda está por vir na lua nova. Em vez disso, estamos reunidos no dia 18 de fevereiro para celebrar o terceiro e último dia da Anthestiria. Ao mesmo tempo um mês no calendário ateniense e um ciclo de feriados dedicado a Dionísio, é uma preparação gradual para a primavera, uma forma de dar as boas-vindas à primavera em sua própria chegada lenta. Este dia é conhecido como Chytroi e celebra as memórias dos falecidos com a chegada da primavera. Pode parecer incomum para os politeístas ocidentais, pagãos, bruxos e praticantes espirituais celebrar os mortos nesta época de nova vida, mas essa era exatamente a conexão que os antigos viam. Porque tanta vida estava surgindo nesta época – a primavera está em pleno andamento aqui na Grécia – acreditava-se que era um festival onde os mortos caminhavam entre os vivos. Para homenageá-los, convocamos Hermes Ctônico, um psicopompo (guia) do Submundo, bem como Perséfone, Rainha do Submundo, em conjunto com Dionísio.

Chytroi significa 'os Potes', referindo-se ao prato de luto oferecido como oferenda. Este prato é muito semelhante ao prato de luto ainda feito nas igrejas ortodoxas gregas em memória dos mortos, chamado coliva . Inclui romãs, símbolo do ciclo de vida e morte, cevada e salsa, entre outras coisas (geralmente nozes). Também era oferecido leite, como símbolo de vida; e uma romã foi esmagada ritualmente. Todas as ofertas foram enterradas como composto. Também servimos vinho aos nossos falecidos e escrevemos seus nomes para serem queimados no braseiro com o incenso.

Avançando para a lua nova: 9 de março de 2024. Agora é a hora da liberação extática e catártica que é o Desfile de Falliforia. Os mortos foram homenageados – a primavera foi convidada – e só resta uma coisa a fazer. Este é um desfile para homenagear Dionísio através da loucura ritual. No ano passado, participei timidamente neste festival, olhando mais para o significado histórico e as implicações espirituais do renascimento deste festival nos tempos modernos . Mas este ano, comprometi-me totalmente com o êxtase e a excitação.

Esta é uma procissão para invocar Dionísio para participar da folia. Enquanto nos tempos antigos esta celebração era um evento catártico, orgíaco, que durava a noite toda, a nossa era, em vez disso, um desfile espetacular convidando todos a participar. Desde turistas desavisados que deixaram suas mesas de jantar para se juntar a nós enquanto passávamos, até devotos que fizeram suas próprias máscaras e fantasias (como eu), nos reunimos em uma bela procissão de 400 pessoas. Apresentados novamente por Labrys, um grupo politeísta helênico inclusivo, iniciamos a procissão de 3 horas na base da Acrópole. Começou com uma bênção liderada por Christos Pandion Pannopoulos, o líder de Labrys, servindo vinho diante da efígie de Dionísio e convidando-o a juntar-se a nós na nossa procissão. Ele veio prontamente: fiquei impressionado com sua presença e só senti seu fortalecimento à medida que o festival avançava.

Vestidos como mênades e sátiros – os seguidores femininos e masculinos de Dionísio – caminhamos pelas partes mais antigas da cidade seguindo um falo vermelho brilhante de 1,80 metro de altura e 60 centímetros de largura. Carregado verticalmente por quatro devotos e seguido de perto por uma efígie de Dionísio de 3 metros carregada por outro, dá a impressão de um… Dionísio fértil liderando a multidão. Muitos de nós carregamos imitações do cajado do tirso de Dionísio, um longo bastão com uma pinha amarrada no topo, representando a fertilidade, e vinhas e tênias (fitas sagradas, geralmente vermelhas) decorando seu comprimento.

Gritamos, gritamos e cantamos, os gritos agudos e animalescos soando como sirenes ao longo das batidas dos tambores, alalala. Os cantos que pronunciamos são conhecidos como invocações de Baco: “eví, evá, Io Bacchus!” Alguns podem ver uma semelhança na invocação “Io, Pan”, popular no paganismo ocidental, e isso não é um erro: Pan e Dionísio estão profundamente conectados como deuses da floresta, e em diferentes fontes mitológicas há implicações de que Dionísio é um posterior, Visão helênica do deus popular mais antigo, Pã.

Paramos diversas vezes para homenagear o falo através de canções e danças sagradas. As canções cantadas eram contos obscenos e lascivos, tradicionalmente apresentados em celebrações folclóricas. Essas canções muitas vezes também trazem uma mensagem radical contra a opressão política, como aquela que foi cantada sobre um homem pedindo para não ser enterrado no cemitério de uma igreja, mas em vez disso ser enterrado na encruzilhada com seu falo ereto saindo do chão como um poste de amarração para o rei e um... assento... para a rainha. Outra fala sobre as atividades orgíacas envolvendo três freiras que passavam. E outra canção folclórica (mais suave) incentiva os participantes a beber e a passar o cálice de vinho uns aos outros.

A dança é uma oferenda, uma oração, um ato sagrado incluído na maioria dos rituais antigos. Quando parávamos, muitas vezes em frente a um templo antigo, os portadores do falo colocavam-no na vertical, e depois dançávamos a antiga e sagrada dança da fertilidade em torno do falo ereto. O desfile também terminou, bem em frente à Acrópole, no sopé do morro, com uma dança extasiante de 30 minutos.

O êxtase, a liberdade, a excitação e a pura libertação são difíceis de expressar em palavras. Como um espectro movendo-se no meio da multidão, a energia de Dionísio era palpável: uma alegria pura e não adulterada que inspirava até os participantes mais quietos e reservados a torcer e gritar conosco. Espalhando sua energia estridente, parecia a energia mais pura do masculino divino. Sua presença não era o que alguns poderiam esperar. Ele é seguro e convidativo, com prazer e auto-expressão na vanguarda da sua mensagem para nós. Dançar continuamente em um desfile com centenas de pessoas durante 3 horas parece exaustivo para mim em um dia normal: mas neste dia foi uma experiência extracorpórea e puramente feliz. Enquanto aguardamos a chegada oficial da Primavera com o regresso de Perséfone do Submundo no Equinócio da próxima semana, é seguro dizer: a energia da fertilidade está no ar, e a Primavera está certamente a caminho.

Fonte: https://wildhunt.org/2024/03/hellenic-polytheists-celebrate-dionysus-and-the-coming-of-spring.html
Traduzido com Google Tradutor.

Mais um na conta

Em diversas postagens eu deixo bem claro minha posição contra a liberação do porte e posse de arma por civis. Inúmeras notícias demonstram o quanto isso é errado. Nós tivemos muitos ataques contra escolas, tiroteios, como acontecem nos EUA. Também tem notícias de discussões de trânsito e rixas de torcedores sendo "resolvidas" na bala.

Então vale a pena reforçar a denúncia que os CACs apenas serviram de fornecedores de armas ao crime organizado. Quando os próprios não deveriam ter tal licença.

Citando:

Nos últimos anos, o Exército brasileiro emitiu autorizações para Caçadores, Atiradores e Colecionadores (CACs) a indivíduos condenados por crimes graves, como tráfico de drogas e homicídio, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), conforme informações do Estadão..

Segundo um relatório confidencial do Tribunal de Contas da União (TCU), entre 2019 e 2022, mais de 5.000 pessoas em situação penal conseguiram obter, renovar ou manter os certificados de registro (CR) para possuir armas de fogo.

Mais de 1.500 delas estavam em processo de execução penal quando solicitaram as autorizações. Além disso, a Força liberou armas de fogo para 2.690 pessoas com mandado de prisão em aberto, ou seja, que eram foragidas da Justiça.

“A concessão, a revalidação e o não cancelamento de CRs vinculados a pessoas inidôneas possibilita o acesso delas a armas de fogo e munições, representando um risco à segurança pública”, afirma o relatório.

De acordo com o relatório, essa concessão indiscriminada representa um risco à segurança pública, indo contra o disposto na Lei 10.826/2003, conhecida como Estatuto do Desarmamento, que condiciona o acesso a armas apenas a pessoas consideradas idôneas, ou seja, que não estejam respondendo a inquérito policial ou processo criminal.

O relatório do TCU aponta que a legislação tem sido descumprida, destacando a falta de uma declaração de antecedentes nacional e unificada como um dos motivos. Um decreto assinado por Bolsonaro em 2019 restringiu a documentação ao local atual de domicílio da pessoa que solicita o registro de CAC.

O documento elenca os crimes mais comuns que renderam condenações aos CACs. Entre eles, homicídio, tráfico de drogas, lesão corporal dolosa, direção sob efeito de álcool, roubo, receptação e ameaça.

“A gravidade das condutas, por si só, já reforça indicadores de criminalidade e abala a sensação de segurança, sobretudo daqueles impactados de algum modo pelos delitos. Contudo, quando se leva em consideração que parcela significativa desses indivíduos ainda possui CRs ativos e acesso a armas, entende-se haver disponibilidade de meios para: a reincidência de práticas criminosas; a progressão da gravidade das condutas – por exemplo, a ameaça evoluir para um homicídio ou a lesão corporal contra a mulher evoluir para um caso de feminicídio; e a obstrução das investigações ou dos processos criminais – afinal, a arma pode ser utilizada para fuga, intimidação ou assassinato de testemunhas, entre outros”, diz o TCU.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/cacs-exercito-liberou-armas-para-assassinos-e-traficantes-durante-governo-bolsonaro/

Nota: pode colocar na conta do Inominável a morte de toda pessoa morta por arma de fogo por uma discussão trivial.

sexta-feira, 22 de março de 2024

Censura e pânico moral

Primeiro a notícia.
Citando:

A diretora de uma escola de Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, publicou um vídeo em uma rede social criticando o livro “O Avesso da Pele”, escrito por Jeferson Tenório e vencedor do Prêmio Jabuti 2021. Ela alega que a obra traz “vocabulários de tão baixo nível”.

Na mensagem, ela solicita que o governo federal retire os exemplares.

Em nota, o Ministério da Educação afirma que a “aquisição das obras se dá por meio de um chamamento público, de forma isonômica e transparente” e que as obras são avaliadas por profissionais inscritos no banco de avaliadores.

O MEC ainda destaca que “os livros aprovados passam a compor um catálogo no qual as escolas podem escolher, de forma democrática, os materiais que mais se adequam à sua realidade pedagógica, tendo como diretriz o respeito ao pluralismo de concepções pedagógicas”.

A pasta reforça a relevância do Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) e a adesão de mais de 95% das redes de ensino do Brasil.

A Companhia das Letras, editora que publicou o livro, disse repudiar qualquer ato de censura. A empresa argumenta que, “para chegar ao colégio em questão, ainda precisou passar por aprovação da própria diretora, que assinou o documento de ‘ata de escolha’ da obra e agora contesta o conteúdo do livro. Esses dados são transparentes e públicos”.

(https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/diretora-critica-livro-o-avesso-da-pele-e-alega-vocabularios-de-tao-baixo-nivel/)

Detalhe que ficou faltando na reportagem da CNN (citando):

Porém, o tiro, obviamente no governo Lula, acabou acertando no governo de seu mito Bolsonaro, que autorizou tecnicamente em 2019 a distribuição do livro, que agora Leite – governador do partido de Zaffa – corretamente não vai permitir que seja censurado.

(https://seguinte.inf.br/a-censura-do-livro-antirracista-vereador-de-gravatai-atirou-em-lula-acertou-bolsonaro-e-vai-ter-que-agasalhar-decisao-de-leite-autorizando-obra-no-ensino-medio-a-linguagem-da-hipocrisia/)

Mas evidente que os jornais dessa bolha, conservadores, fundamentalistas cristãos e bolsonaristas, vão omitir e esconder esse detalhe. Querem ganhar audiência com o cultivo do pânico moral.

quinta-feira, 21 de março de 2024

Igrejas lavam dinheiro do tráfico

O Primeiro Comando da Capital (PCC), um dos maiores grupos criminosos da América do Sul, tem sido identificado como uma entidade que movimenta bilhões de reais anualmente. Estima-se que sua receita anual chegue a cerca de R$ 5 bilhões.

Para mascarar suas transações financeiras, oriundas do tráfico de drogas, roubos e outras atividades criminosas, a facção adota uma série de estratégias, incluindo o uso de comércios legítimos, criptomoedas e, surpreendentemente, até mesmo igrejas evangélicas.

As autoridades policiais e o Ministério Público têm intensificado esforços para interromper as fontes de financiamento do PCC. O grande desafio enfrentado pelas autoridades é rastrear o fluxo de dinheiro ilícito que entra em instituições religiosas sob a forma de doações aparentemente legítimas, apenas para ser convertido novamente em ativos ilegais, como drogas e armas.

A relação entre o PCC e igrejas evangélicas se tornou tão entrelaçada que o Ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), alertou para a existência do que ele chamou de “narcomilícia evangélica” no Brasil – essa expressão reflete a profunda ligação entre o crime organizado e certos setores da comunidade religiosa.

Para o promotor de justiça Fábio Bechara, um dos principais desafios enfrentados pelo PCC é a utilização do dinheiro em espécie gerado por suas atividades criminosas.

As igrejas, neste contexto, desempenham um papel fundamental, fornecendo uma maneira de “lavar” o dinheiro sujo, transformando-o em ativos que parecem legais. Essa prática torna ainda mais difícil para as autoridades rastrearem e interromperem as atividades financeiras do grupo criminoso.

“A igreja tem a situação que envolve a liquidez gerada pelo dinheiro em espécie. O dinheiro em espécie, ele é uma forma de você romper esse nexo, esse vínculo da origem com o destino dessa história”, disse Fábio Bechara.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/como-o-pcc-fatura-bilhoes-com-igrejas-evangelicas/

Globo é Bolsonaro de sapatênis

Embora visualmente sejam muito diferentes, a Globo e Bolsonaro têm em comum pontos vitais em relação à economia, aos direitos trabalhistas e ao espectro políticos. As diferenças são mais de comportamento, mais superficiais que de fundo. A tal ponto que não é absurdo afirmar que a Globo é Bolsonaro de sapatênis.

Vamos lá:

Ambos são a favor do livre mercado, da independência do Banco Central, das privatizações de todas as empresas.

Ambos são contra a presença do estado na economia; contra os governos de esquerda em qualquer país.


Acham que a legislação trabalhista atrapalha o empresário.

Ambos são americanófilos e defensores intransigentes do estado de Israel, mesmo diante dos crimes cometidos agora em Gaza.

Ambos andaram de braços dados com a ditadura civil-militar de 1964.

Ambos acham que o agro é pop, o agro é tudo.

Ambos têm dupla moral. Quanto a Bolsonaro, nem é preciso dar exemplos, tantos que são. Mas a Globo não. A Globo, por exemplo, sempre criticou e ainda critica os banqueiros do bicho. Não apenas como contraventores envolvidos em outros crimes mais graves, mas por serem vindos de outra classe social.

Sendo assim, como justificar então a venda do triplex da Avenida Atlântica, em Copacabana, que pertencia a Roberto Marinho ao bicheiro e presidente da Beija-Flor Anísio Abraão David?

Como separar o dinheiro sujo de sangue dos homicídios (também denunciados em editorial por O Globo) do usado para comprar o triplex do fundador da Rede Globo?

Outro caso aconteceu em outubro de 2010, quando da assinatura de um convênio entre o governo do estado do Rio e a Fundação Roberto Marinho para a criação do Museu do Amanhã.

A Fundação entrou com o bolso e o governador da época, Sergio Cabral, com R$ 24 milhões, verba que deveria ser usada para prevenção de enchentes, desviada do Fundo Estadual de Conservação Ambiental (Fecam), da Secretaria do Ambiente, para o Museu.

O dinheiro não foi usado pela Secretaria do Ambiente e dois meses depois, no início de janeiro de 2011, ocorreu a Tragédia da Região Serrana, segundo o Portal G1 (da própria Globo), "maior tragédia climática da história do país. Segundo a Polícia Civil, 470 corpos já foram identificados pelo IML, num total de 511 mortos".

Por último, outro denominador comum: ambos são contra Lula e o PT. 

Embora a Globo faça oposição a Bolsonaro, sua oposição é ao político, não a grande parte de suas ideias.

Fonte: https://revistaforum.com.br/opiniao/2024/3/2/globo-bolsonaro-de-sapatnis-tantas-as-semelhanas-entre-os-dois-155007.html

Nota: o autor não explica o motivo do uso do termo sapatênis. Esse termo é muito utilizado para identificar uma determinada classe social, mas acaba sendo um preconceito. Torna-se tão absurdo quanto falar em esquerda caviar.

quarta-feira, 20 de março de 2024

Ilegal e inconstitucional

Na terça-feira (12), a Comissão de Legislação e Justiça da Câmara de Belo Horizonte aprovou o uso da Bíblia como material paradidático nas escolas públicas da capital mineira. Isso significa que o livro poderá ser utilizado como auxílio nas aulas do ensino municipal.

O projeto ainda será analisado pela Comissão de Direitos Humanos antes de seguir para votação no plenário. De acordo com o texto, as “histórias bíblicas” deverão contribuir para os projetos escolares em áreas como história, literatura, ensino religioso, artes, filosofia e outras atividades pedagógicas complementares relevantes.

A vereadora Flávia Borja, autora da proposta, argumenta que a Bíblia poderia ser usada nas escolas públicas, respeitando a opção dos alunos que preferirem não participar das aulas que envolvam o livro.

O relator do projeto na comissão, Sérgio Fernando (PL), destacou que não há irregularidades no projeto com base na Constituição e na legislação municipal. Segundo ele, a regulamentação sobre o uso de recursos paradidáticos visa melhorar a qualidade do ensino nas escolas municipais e complementar o sistema de ensino estabelecido pela União.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/a-biblia-pode-vir-a-ser-adotada-como-material-de-apoio-nas-escolas-de-bh-entenda/

Inteligência artificial no pornô

Interessante como o DCM, um jornal supostamente progressista, parece ter uma preocupação com a pornografia.

Citando:

Nos últimos 25 anos, o cenário do entretenimento adulto foi moldado por plataformas como Pornhub e OnlyFans. Agora, uma nova mudança está no horizonte: o uso de inteligência artificial (IA) para criar imagens e vídeos realistas.

Segundo o The New York Times, proprietários de sites estão desenvolvendo modelos de IA personalizados, que utilizam um vasto repositório de conteúdo adulto para gerar pornografia sob demanda. No entanto, essa evolução levanta questões éticas e legais, especialmente em relação à compensação dos artistas, consentimento e potencial para abusos.

Atualmente, não existem leis federais nos Estados Unidos para proteger as vítimas de deepfakes não consensuais, o que abre espaço para o uso indevido da tecnologia. Apesar dos desafios, o setor pornográfico está sempre em busca de inovações, sendo um dos primeiros a adotar novas tecnologias ao longo dos anos.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/como-a-industria-pode-usar-inteligencia-artificial-para-acabar-com-estrelas-porno/

Nota: isso vai suscitar muita polêmica e controvérsia. Nossa civilização ainda está sob um sistema regido pela repressão e opressão sexual. Nossa civilização ainda sofre com os dogmas cristãos que coloca o mundo, a natureza, o corpo, o desejo, o prazer e o sexo como algo maligno. Mesmo depois de Freud e Kinsey, nós ainda não sabemos lidar com nossas impulsões, instintos e libidos. A representação ou recriação de uma pessoa real por IA mexe com direitos autorais, de privacidade e intimidade. Mas e quanto a imagens de pessoas fictícias? Isso, aliado ao uso de andróides, pode acabar com as restrições e proibições?
Se isso puder melhorar, mesmo que dentro de alguma regulamentação, vai ser um alívio. Chega de gente (conservadores, fundamentalistas cristãos, radfems) querendo proibir a pornografia e a prostituição.

terça-feira, 19 de março de 2024

Melhor do que o original

Homem de duas caras Bolsonaro sempre foi: diz uma coisa pela manhã e desmente tudo à tarde, zombando da população.

Foi assim nos seus quatro anos no exercício da presidência do Brasil.

A Reuters, fundada no Reino Unido em 1851, reconhecida como a maior agência de notícias do mundo, resolveu trabalhar com o tema das duas caras do falastrão. E o resultado ficou melhor que o esperado.

Num vídeo divulgado neste domingo em seu canal no YouTube, 17, a agência utilizou imagens de um sósia do capitão interagindo com seus seguidores. A ideia é ilustrar a matéria. O sósia aparece nos primeiros 14 segundos.

A reportagem critica as declarações feitas por Bolsonaro durante o evento de lançamento da pré-candidatura do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) à Prefeitura do Rio de Janeiro, ocorrido no sábado, 16.

Bolsonaro declarou não sentir temor de ser julgado pelas acusações de seu alegado envolvimento em uma tentativa de “golpe de Estado” articulada após as eleições de 2022.

A Reuters ressaltou que as declarações foram feitas “um dia após uma investigação policial revelar que Bolsonaro tentou cooptar os chefes militares do país para o golpe”.

A agência se refere a Bolsonaro como “líder de extrema direita”, destacando que ele está inelegível por “abusar de seu poder como presidente” e “criticar repetidamente o sistema eleitoral do país”.

Seguidores do ex-presidente foram às redes para criticar a peça criativa.

Até o momento, o vídeo possui mais de mil visualizações no canal da agência de notícias no YouTube, com mais de 3 milhões de inscritos.

Fonte, citado parcialmente: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/reuters-usa-sosia-de-bolsonaro-em-materia-e-fica-melhor-que-o-original/

Nota: no humor estilo Planeta Diário ou TV Pirata, a Reuters mostra o que é humor. A Jovem Klan, digo, Jovem Pan, deveria seguir o exemplo. Isso é, se ainda existir.😏🤭

Biblioteca no terreiro

O llè Okowoò Asé Ya Lomin'Osà - Egbé Òmórisá Sangó inaugurará neste sábado (16) a Biblioteca Adalgiza Lima da Silva. O espaço cultural será voltado para produções sobre religiões de matriz africana, especialmente candomblé, mas também contará com amplo acervo da história e cultura da população negra. O evento é aberto ao público e será realizado no bairro Jardim Universitário, em Cuiabá, a partir das 9h.

A biblioteca consolida o projeto político- cultural da comunidade religiosa, que atua na luta contra o racismo religioso na capital mato-grossense há 14 anos. Para o babalorixá João Bosco Ty Sangó, a inauguração é um marco não só para as religiões de matriz africana. Isso porque o espaço possibilitará o acesso a leituras sobre as lutas e conquistas da população negra para toda a sociedade.

"Desde a fundação do ilè em 2010, buscamos não sermos apenas um espaço de culto aos Orixás. Por meio da Associação Cultural Ébano Brasil, braço civil do nosso ilè, fomentamos debates sobre a importância do povo preto na formação social, cultural, econômica e religiosa da nação brasileira", afirmou o babalorixá.

"Em rodas de conversa, debates e projetos buscamos a compreensibilidade e importância de uma educação antirracista e decolonial. Compreendemos que o território de um ilè asè deve ter essa função. Para além do contexto religioso, também deve ser um espaço de aquilombamento e debates que visem a formação de mentalidades críticas e engajadas em ações antirracistas", completou.

A biblioteca homenageia a ativista cuiabana Adalgiza Lima, que fomentou importantes mobilizações por meio do Grupo de União e Consciência Negra (Grucon) e no Movimento de Inteligência Negra. Engajada, incentivou que os filhos - dentre eles o babalorixá alcançassem a autonomia e lutassem por uma sociedade mais justa por meio da educação.

Com a inauguração do espaço, as pessoas interessadas no acervo poderão acessar a biblioteca de forma gratuita de segundas- feiras as sextas-feiras das 19h30 às 21h30, enquanto que aos sábados o funcionamento se dará das 7h às 13h.

Fonte: https://www.folhamax.com/cultura/casa-de-candomble-inaugura-biblioteca-em-mt/430807

segunda-feira, 18 de março de 2024

A ameaça da extrema direita

“[Em] 2024 temos agora eleições municipais. Vamos caprichar no voto, em especial, para vereadores.” A fala de Jair Bolsonaro mostra aquela que deve ser uma das prioridades da extrema direita e do campo conservador no próximo pleito. Onde não for possível disputar com chances a prefeitura, eleger o máximo possível de candidatos à Câmara Municipal.

A estratégia de ocupar os Legislativos pelo país tem sido posta em prática há tempos, mas tomou corpo e se tornou visível em 2018, quando o segmento conseguiu expressivas bancadas na Câmara e no Senado com a onda bolsonarista, então no seu auge. Muitos achavam que se tratava de um fenômeno pontual, mas as eleições de 2022 indicaram o contrário.

Ainda que o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha vencido o primeiro turno, com mais de 5% de diferença sobre Bolsonaro, equivalente a mais de 6 milhões de votos, a vantagem não refletiu, por exemplo, na eleição do Senado. Com 27 vagas em jogo, 14 foram conquistadas ou por bolsonaristas de primeira ordem, como Damares Alves e o então vice-presidente Hamilton Mourão, ou por políticos de direita que colaram sua imagem à do líder extremista. Na Câmara, o PL também conseguiu fazer a maior bancada.

E o caminho para chegar ao Congresso Nacional muitas vezes se inicia na vereança, que pode ser um trampolim até direto, como foi o caso do ex-vereador de Belo Horizonte e influencer Nikolas Ferreira (PL-MG), que conquistou a maior votação individual para a Câmara dos Deputados no país e agora já projeta uma candidatura à prefeitura da capital mineira. O youtuber e também deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) foi outro que se elegeu em função de um pleito municipal. Foi candidato pela primeira vez a prefeito de Goiânia em 2020, obtendo na ocasião 8% dos votos válidos, para dois anos depois chegar à Câmara dos Deputados como o segundo parlamentar mais votado do estado.

Os dois estavam no palanque de Bolsonaro na manifestação da Paulista, no domingo (25). Além da pauta e da influência nas redes sociais, ambos são um exemplo da importância que as eleições de 2024 têm não somente para a disputa em si, mas para o futuro próximo, no pleito nacional.

Após os resultados das eleições municipais de 2020, muitas análises apontavam que o bolsonarismo havia sido derrotado. Afinal, a maioria das disputas das prefeituras têm como pauta principal as questões locais e, mesmo em grandes metrópoles, é difícil “nacionalizar” o embate.

Já nas eleições para a Câmara Municipal, diversos fatores se misturam. As lideranças locais são historicamente importantes influenciadores na decisão do voto, tanto que muitos candidatos conseguem calcular sua base de votação fechando alianças e acordos com personagens relevantes em determinadas áreas. Essa dinâmica não passou incólume pelo advento das redes sociais, mas ainda resiste em boa parte do país. Instituições que têm capilaridade tendem a se sair bem quando traçam estratégias para angariar apoios aos nomes que lançam.

Não à toa, o segmento conservador, em especial aquele ligado a igrejas neopentecostais e também a correntes católicas mais conservadoras, se preocupou em 2023 em promover a ocupação dos conselhos tutelares nas cidades, considerados importantes espaços para o surgimento de possíveis candidatos a vereador. A esquerda se mobilizou, mas tardiamente, embora tenha obtido importantes vitórias, de certa forma, contendo o que seria um desastre ainda maior.

Uma vez eleitos, os candidatos extremistas conseguem aparecer ainda mais para o seu público no cumprimento dos mandatos. Desde homenagens, concessão de títulos, nomes de rua, moções de repúdio até proposição de projetos tidos como “polêmicos” e mesmo francamente inconstitucionais, aproveitam todo espaço para reafirmar seu ideário perante sua base, buscando novos eleitores com perfil similar. Tudo serve como palco, inclusive para discursos que nada tem a ver com a realidade local, com as falas tendo o alcance amplificado nas redes sociais, onde tal segmento político está mais estruturado que o campo progressista ao menos desde 2014.

Com um protagonismo maior que o usual em outros atos do tipo, o teor religioso marcou a manifestação da Paulista. Ainda que a maioria dos presentes tenha se declarado católica, de acordo com pesquisa feita pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, as mensagens ali transmitidas, em especial a da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que legitimou textualmente a mistura de religião e política, devem circular nas redes sociais para mobilizar um público engajado e que já esteve a serviço de candidatos ligados a denominações religiosas em outras eleições. “Por um bom tempo fomos negligentes ao ponto de dizer que não poderiam misturar política com religião. E o mal tomou e o mal ocupou o espaço. Chegou o momento, agora, da libertação”, convocou Michelle.

Em 2020, Durante mais de um mês, a Agência Pública realizou uma reportagem após ter recebido relatos sobre campanhas dentro de igrejas e templos de todo o Brasil. A prática é irregular, já que a Lei 9.504/97 prevê que é “vedada a veiculação de propaganda de qualquer natureza” nestes locais. Um dos exemplos citados era de uma distribuição de propaganda impressa no Templo de Salomão, da igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), no bairro do Brás, na capital paulista, feita no próprio domingo em que seria realizado o primeiro turno da disputa municipal. A repórter Mariama Correia recebeu um santinho do candidato a vereador André Santos, do Republicanos, junto com o candidato a prefeito Celso Russomanno, da mesma legenda.

A propaganda, obviamente, não se limita aos panfletos entregues, circulando nos grupos de redes sociais dos integrantes da igreja. Russomanno não foi ao segundo turno, mas André Santos se reelegeu, obtendo 41.584 votos e entrando na lista dos dez mais votados. Em disputas pelo Executivo, muitas vezes candidatos com propostas e defesas de ideias mais radicais afastam o eleitor médio, mas, no caso do Legislativo, não é necessário convencer a maioria, e sim um contingente importante, coeso e mobilizado não necessariamente em torno da figura do político, mas dos valores que ele representa. Como a porcentagem de votos válidos na disputa da Câmara de Vereadores é geralmente maior do que na corrida pela prefeitura (em São Paulo, brancos, nulos e abstenções chegaram a quase 50% em 2020), cada voto pesa ainda mais e a capilaridade e influência de algumas denominações evangélicas se torna mais determinante.

“O crescimento do neopentecostalismo no Brasil tem sido caracterizado por um afastamento do pentecostalismo tradicional, com ênfase na rejeição de hábitos considerados mundanos e no estabelecimento de novas crenças, práticas e rituais. As bases do neopentecostalismo residem na teologia da Prosperidade e da Dominação, que enfatizam a busca por riqueza material como reflexo das bênçãos de Deus. Isso tem tido um impacto significativo na sociedade brasileira, incluindo o envolvimento das igrejas neopentecostais em eleições políticas e seu apoio ao populismo reacionário”, explicam os pesquisadores André Mendes Pini, Fábio Rodrigo Ferreira Nobre e Maria Eduarda Angeiras de Menezes, da Universidade Estadual da Paraíba, no artigo “O Neopentecostalismo no Brasil e a convergência com a ultradireita no populismo reacionário de Jair Bolsonaro”.

As duas teologias citadas, da Prosperidade e a do Domínio/Dominação influenciam direta e indiretamente na visão do fiel. A primeira atribui, por exemplo, o progresso material de uma pessoa e ele mesmo ou a Deus. Ou seja, na avaliação dessa pessoa a criação de um ambiente econômico favorável por parte de um governo ou a promoção de políticas públicas não entra na conta, ainda mais se partir de uma legenda tida como não alinhada. Já a segunda, ao estabelecer que existe uma luta entre o bem e o mal, uma guerra espiritual em curso, justifica a ocupação de espaços como a política, como defendeu Michelle Bolsonaro.

Uma vez nos parlamentos e tendo ainda mais microfones à disposição, políticos ligados a estas igrejas e outros que não são, mas que comungam da mesma ideologia, tendem a travar a chamada “guerra cultural”, criando inimigos imaginários como a ameaça do comunismo, a ficção da ideologia de gênero, e combatendo qualquer avanço em termos de política de drogas, legalização do aborto, direitos LGBTQIA+, além de interferirem no funcionamento das escolas, cerceando a autonomia dos professores e os assediando em suas atividades.

Embora seja possível encontrar parlamentares combativos na esquerda que travam o combate contra pautas obscurantistas, além de serem em diversas ocasiões minoria diante do silêncio cúmplice ou da adesão ruidosa do chamado “centro político” ao extremismo de direita, a postura é geralmente defensiva. Candidatos ao Executivo ou ocupantes atuais também têm receio de partir para o embate mais direto, buscando preservar os possíveis votos do segmento.

Isso promove um círculo vicioso no qual os ideais defendidos por este grupo se consolidam não só entre eles, extrapolando também para o restante da sociedade. O que vai ajudar a eleger, em nível parlamentar, novos defensores dos mesmos princípios.

Se governos têm dificuldades, em virtude de um cenário que ainda é adverso para as pautas progressistas, partidos e entidades da sociedade civil poderiam assumir uma luta com caráter mais propositivo, estimulando debates que saiam do lugar comum que, certamente, não vão promover uma mudança imediata, mas apontar para um horizonte em que ideias “fora da caixa” possam cativar não quem está irresoluto, mas aqueles que têm possibilidade de participar.

Alguns exemplos de que mudanças na opinião pública são possíveis podem ser observados, por exemplo, nos Estados Unidos. Segundo pesquisa do Instituto Gallup, nunca houve um apoio tão grande da população legalização da maconha no país: são 70% dos entrevistados favoráveis, de acordo com levantamento feito em novembro do ano passado. Em 1969, quando o o instituto fez o questionamento pela primeira vez, eram somente 12% que apoiavam a legalização. O apoio ultrapassou 50% pela primeira vez em 2013 e, hoje, o índice aponta maioria favorável mesmo entre aqueles que se denominam conservadores (52%), como entre os republicanos (55%).

No mesmo sentido, mesmo um ano após a Suprema Corte dos EUA ter decidido que o aborto não era um direito constitucional, a maioria dos estadunidenses (64%) segue apoiando a legalização da interrupção voluntária da gravidez, conforme pesquisa da AP-Norc de julho de 2023.

Ainda que os cenários e os momentos históricos sejam distintos, a defesa de valores humanitários e a proposição e discussão de pautas progressistas devem ser tema nestas e em futuras eleições, mas não apenas nesses períodos. Além disso, no Brasil, é preciso enfrentar questões fundamentais como a profunda desigualdade histórica, que se manifesta em níveis distintos, e a precarização do trabalho, por exemplo. São diversas bandeiras que poderiam oferecer um horizonte possível e que trariam ao campo da esquerda e ao próprio governo federal o poder de agenda, ainda hoje em parte nas mãos do bolsonarismo. Como disse o escritor uruguaio Eduardo Galeano, por conta da primeira vitória nacional da esquerda em seu país, em 2014, “tem um pecado que não tem redenção, que não merece perdão. É o pecado contra a esperança”. Passou da hora de voltarmos a cultivá-la.

Fonte: https://outraspalavras.net/crise-brasileira/a-ameca-da-extrema-direita-nas-eleicoes-de-2024/