sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Mitologia basca

A mitologia basca é o conjunto dos mitos, lendas e folclore do povo dos Pirenéus espanhóis e franceses que fala o basco ou êuscaro, língua não indo-europeia do tipo aglutinante.

Há fortes evidências de religião anterior à Era Cristã, refletidas em incontáveis lendas e tradições duradouras. Essa religião pré-cristã era aparentemente centralizada em um espírito feminino superior: Mari. Seu consorte Sugaar também parece ter alguma importância. Esse casal de deuses parece manter um poder étnico superior e também o poder da criação e destruição. Diz-se que quando eles se recolhiam nas cavernas dos altos picos sagrados, eles produziam as tempestades. Esses encontros tipicamente aconteciam nas noites de sexta-feira, o dia histórico do encontro das bruxas. Dizia-se que Mari residia no monte Anboto, e periodicamente ela cruzava os céus como uma luz brilhante para alcanças seu outro lar no monte Txindoki.
Outra divindade parece ser Urtzi (também Ost, Ortzi: "céu"), mas também parece que ele foi importado, porque as lendas não falam dele. Porém seu nome aparece como um dia da semana, nome de mês e eventos meteorológicos. Na Idade Média, Aymeric Picaud, um perergino francês, escreveu sobre os bascos, dizendo: et Deus vocant Urcia ("e o nome de seu deus é Urci-a", sendo o -a o nominativo basco ou artigo sufixado).
As lendas também falam de diversos espíritos ou gênios, como jentilak (equivalente aos gigantes mitológicos), lamiak (equivalente às ninfas), mairuak (construtores dos círculos de pedra, literalmente "mouros"), iratxoak (demônios), sorginak (bruxas, sacerdotisas de Mari), etc. Basajaun é uma versão basca para o homem selvagem. Há um trapaceiro chamado San Martin Txiki ("San Martin Pequeno").

Mari

Mari foi, originalmente, a deidade suprema na mitologia basca. O nome significa simplesmente "rainha". Ela aparece como uma dama ricamente adornada de jóias e freqüentemente voa pelos céus envolvida em fogo. Em outras ocasiões, viaja sobre um carneiro. Pode atravessar os céus em uma carruagem puxada por quatro cavalos e também pode aparecer como uma nuvem branca ou como um arco-íris. Seu marido é Maju, um deus-serpente.
Em Oñate, dizem ter visto Mari em forma de árvore que passa veloz pelo céu lançando chamas, dirigindo-se à caverna de Gaiztozulo e fazendo um ruído ensurdecedor ao ocultar-se nela. Relatos de Ataun e Cegama a descrevem como uma foice ou meia-lua de fogo cruzando velozmente o céu. Em Zaldivia, diz-se que voa horizontalmente, envolvida em fogo.

Mari envia a chuva ou a seca. Sua residência situa-se no interior da terra e acredita-se que guarda grandes riquezas. Dizem em Cegama que, na caverna de Aketegi, até as camas são de ouro. Atraídos pela riqueza ou pelo mistério, muitos entraram na gruta levando velas, mas Mari aparece em forma de corvo e as apaga com o vento de suas asas, a menos que as velas tenham sido benzidas.

Desde a adoção do cristianismo pelos bascos, tanto Mari quanto Maju passaram a ser considerados simples espíritos. Permaneceu, porém, a crença de que se pode afastar os raios colocando uma foice (símbolo de Mari) diante da casa.

Em Zumaia, se conta que uma mulher casada desejava tanto uma filha que dizia que a queria "mesmo que o diabo a levasse quando fizesse vinte anos". Um dia, nasceu-lhe, por fim, uma bela menina de cabelos dourados. Quando a filha estava para fazer vinte anos, a mãe a encerrou numa caixa de cristal e ficou a vigiá-la dia e noite, mas foi inútil: no momento em que a moça completou vinte anos, o diabo quebrou a caixa e a levou para o monte Amboto, onde ela se tornou Mari.

Outra lenda diz que em Beasain, Guipúzcoa, "uma mulher muito má" casou-se com um bom cristão e tornou-se mãe de cinco filhos. Como ela não queria que os filhos fossem baptizados  o pai os pôs em uma carroça, junto com a mãe amarrada e os levou à igreja em busca de batismo para os pequenos. No caminho, porém, a mulher se envolveu em chamas, queimou as ligaduras que a atavam à carroça e voando pelos ares, gritou: "Meus filhos para o céu e eu, agora, para o Muru". E ao monte Murumendi Mari se dirigiu e ainda vive. Em várias ocasiões foi vista em uma gruta do monte, penteando a cabeleira loura com um pente de ouro.

Maju
Maju, chamado também Suarra, Sugaar ("serpente macho", de suge, "serpente" e ar, macho; ou talvez "chama de fogo", de su, "fogo" e gar, "chama"), ou ainda Sugoi ("velha serpente", de suge, "serpente" e o(h)i, "precedente"; ou talvez "fogo alto", de su, "fogo" e goi, "alto"), é uma divindade basca, marido da deusa suprema Mari. Tende a aparecer na forma de uma serpente de fogo.

É tido como origem mitológica da linhagem dos senhores de Vizcaya. Segundo a lenda, una princesa escocesa refugiada em Mundaca teve um encontro erótico con Sugar, do qual nasceria Jaun Zuria, legendário primeiro senhor de Vizcaya.

Em Ataun, diz-se que Sugaar tem duas casas, nas cavernas de Amunda e Atarreta. Pode-se vê-lo atravessar os céus na forma de uma meia-lua de fogo, considerada presságio de tempestade. Nessa área, diz-se também que Sugaar pune os filhos que desobedecem aos pais e mães.

Em Azkoitia, é conhecido apenas como Maju. Encontra Mari toda sexta-feita, dia do sabá, e diz-se que no lugar onde os dois se encontram, cria-se uma grande tormenta.

Em Betelu é conhecido como Suarra e considerado um demônio. Dizem também que ele viaja no céu na forma de um relâmpago globular, entre as montanhas Balerdi e Elortalde.

Basajaun
No folclore basco, os basajauns ou basajuns (do basco basajaunak, "senhores da floresta", singular basajaun) são gigantes que habitam os bosques ou as cavernas situadas no alto das colinas. São imaginados com dois a três metros de altura e longos cabelos ruivos, que lhes chegam até os joelhos. Um de seus pés é semelhante ao dos humanos, o outro é redondo. São também conhecidos no folclore de Aragão, nos vales de Tena, Ansó, e Broto, com o nome de basajaraus, bonjaraus ou bosneraus. Protegem os rebanhos dos lobos e, quando se aproxima uma tempestade, um basajaun grita avisos aos pastores.

A essas entidades é atribuída a construção dos monumentos megalíticos (dólmens e menires) encontrados no País Basco e a invenção da forja do ferro. Foram também os primeiros a cultivar a terra e moer o grão. Os humanos obtiveram esses conhecimentos quando um basco chamado San Martiniko enganou os basajauns.

Os basajauns cultivavam trigo em Ataun, na montaña de Muskia. Chegando com sapatos frouxos, grandes demais, que os gigantes ridicularizaram, Martiniko desafiou-os, afirmando que conseguiria saltar sobre seus montes de trigo recém-colhidos, enquanto eles não conseguiriam fazer o mesmo. Os basajauns aceitaram o desafio e saltaram facilmente sobre os montes, enquanto o basco caiu bem sobre o monte. Os basajauns riram, mas Martiniko foi-se embora com os sapatos cheios de sementes. De repente, os gigantes deram-se conta de que haviam sido enganados, mas, lentos na corrida, não conseguiram alcançar o humano. Um deles lhe jogou um machado, mas o basco abaixou-se a tempo e o machado atingiu uma árvore, partindo-a ao meio.

Martiniko ainda não sabia, porém, quando devia plantar as sementes. Mas voltou à caverna onde moravam os basajauns e ouviu-os cantar:

Si los hombres supieran esta canción
Bien se aprovecharían de ella:
Al brotar la hoja, siémbrase el maíz;
Al caer la hoja, siémbrase el trigo;
Por San Lorenzo, siémbrase el nabo
San Martiniko contou o que ouvira a todos os humanos e a agricultura espalhou-se pelo mundo.
Mais tarde, Martiniko tirou dos basajauns o segredo da fabricação de serras, que produziam em Oiartzun. Mandou seu criado anunciar que já havia fabricado uma serra. Ao ouvir isso, o basajaun lhe perguntou se seu amo havia visto a folha da castanheira. "Não a viu mas a verá", respondeu o criado. San Martiniko viu a folha dentada do castanheiro e lavrou uma lâmina de ferro com o mesmo formato. À noite, o basajaun foi à sua forja ver se ele havia conseguido fazer a serra. Ao encontrá-la, torceu-a de um lado para os outros com os dentes, tentando inutilizá-la, mas, pelo contrário, melhorou a ferramenta, que Martiniko espalhou entre seu povo.

De maneira semelhante, Martiniko averiguou, em Kortezubi, como se soldavam duas peças de ferro. Espalhou que havia conseguido o feito e o basajaun perguntou ao humano que lhe contara a novidade se Martiniko havia espargido água argilosa em ambas as peças. O homem respondeu: "não o fez, mas o fará". Assim, San Martiniko descobriu a técnica e a difundiu pelo mundo.

Lamiak

No folclore basco, as lamiak (singular, lamia) são descritas como belas mulheres de pés de pato, garras de ave ou rabo de peixe. Moram nos ríos e fontes, onde costumam pentear suas longas cabeleiras com cobiçados pentes de ouro. Às vezes, têm filhos com eles. Algumas lendas dizem que são a deusa Mari.

O nome parece estar relacionado ao das vampirescas lâmias gregas, mas as lamiak bascas são entidades relativamente benignas, mais semelhantes às ninfas gregas ou às janas do folclore mediterrâneo. Normalmente amáveis, diz-se que ajudaram os homens a construir dólmens e pontes, mas enfurecem-se se lhes são roubados os pentes. Diz uma lenda que uma mulher roubou o pente de uma lâmia e esta começou a amaldiçoá-la, mas não o conseguiu porque o soar dos sinos da igreja salvou a mulher.

Outra lenda fala de um pastor que ouviu um canto maravilhoso e, ao segui-lo, encontrou um bela jovem sentada sobre uma rocha, que passava um pente de ouro sobre seus cabelos loiros, que lhe chegavam aos pés. Ao ver o rapaz, mergulhou n'água, mas depois reapareceu.

O pastor apaixonou-se pela jovem e a visitou dias seguidos, até que ela o pediu em casamento. O rapaz aceitou e ela lhe deu um anel. Ao chegar em casa, porém, não sabia dizer como se chamava a noiva ou quem eram seus pais, apenas que era formosa, formosa...

A mãe suspeitou de que o filho estava enfeitiçado e pediu conselhos a parentes e vizinhos, que lhe disseram que se fosse estrangeira tal coisa, se fosse bruxa outra... E o mais velho da aldeia disse que, se fosse uma lâmia teria pés de pato.

A mãe fez o filho prometer que prestaria atenção nos pés da moça. Ele imediatamente foi vê-la e a encontrou n'água, mergulhando e brincando com os peixes, mas desta vez reparou nos pés, e eram pés de pato.

Voltou para casa de coração partido, pois humanos não se casavam com lâmias. Adoeceu e delirou com a febre, vendo o rosto da amada e ouvindo sua voz chamando-o :”Zatoz,maitea,zatoz” (”Vem, querido, vem”).

O rapaz acabou morrendo. No dia de seu enterro, a lâmia apareceu em sua casa, cobriu-lhe o corpo com um lençol de ouro e beijou-lhe os lábios. Seguiu o cortejo até a porta da igreja, onde não podia entrar por ser solo consagrado. Retornou então às montanhas e tanto chorou por seu amor perdido que brotou ali um manancial que recorda o amor impossível entre a lâmia e o pastor.

Fontes:
http://pt.fantasia.wikia.com/wiki/Categoria:Mitologia_basca
http://it.wikipedia.org/wiki/Mitologia_basca
http://brujeriatradicional.blogspot.pt/2012/05/religiao-pre-crista-basca-e-mitologia.html
Publicado em: Lusitaniae Castrum

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

O fim do Paganismo na Hispânia

O ano de 399 D.C. é considerado como o ano do fim do paganismo na Ibéria. Nesse ano foi dirigida a Macróbio a lei "vicario hispaniarum", que começa da seguinte forma: “Sicut sacrificia prohibemus, ita volumus publicorum operum ornamenta servari...”.
Apesar de todos os esforços das autoridades cristãs para reprimir quaisquer manifestações pagãs, os cultos politeístas, na nossa península, mantiveram-se muito tempo depois da queda de Roma e das invasões Germânicas, durante o séc.V.
Nas grandes áreas rurais da Ibéria, principalmente na zona norte da nossa península, continuaram a fazer culto aos deuses ancestrais, por vezes misturados com o politeísmo romano e outras com o paganismo dos suevos, vândalos, etc. Daí o termo "pagão", forma depreciativa para se referirem aos camponeses que permaneciam fieis aos deuses ancestrais, rejeitando a imposição cristã. Este cenário manteve-se durante a monarquia visigótica, apesar das grandes cidades estarem completamente cristianizadas. Mesmo estes, voltavam a praticar os rituais ao menor deslize do controlo da Igreja.
Martin de Braga lamenta no seu "De correctione rusticorum" que apesar de cristianizados, "fazem mais culto de adoração a demónios que a Deus".
"Demónios" era o termo pejorativo usado pelos cristãos quando se referiam aos deuses ancestrais.

Prisciliano, bispo de Ávila, também condenou o politeísmo:
“Sea anatema quienquiera que llame dioses al Sol, a la Luna, Júpiter, Marte, Mercurio, Venus o Saturno...”“...en el mar invocan a Neptuno, en los ríos a las Lamias, en las fuentes a las Ninfas, en los bosques a las Dianas, QUE SON TODOS DEMONIOS Y ESPÍRITUS MALIGNOS...”

No início do século IV D.C. quando o cristianismo contava com o apoio do estado romano, o cânon XLI do concílio de Iliberris (Granada), obrigava os grandes proprietários cristãos a destruir os "ídolos" (representações dos deuses) e a proibirem o culto aos mesmos pelos seus servos.
No cânon LXXII do segundo concílio de Braga, celebrado no ano 572, proibiu-se a manutenção das tradições dos "gentios" ou a sua celebração. Proibiu-se também o culto aos elementos, ao curso da lua ou estrelas, a sementeira ou plantação de árvores. No cânon LXXIII, proibiu-se a celebração das Calendas (primeiro dia do mês, principalmente do mês de Janeiro), assim como os enfeites das casas com louro, coroas de flores, etc...
O cânon LXXIV proibiu a apanha de ervas medicinais.

No ano 675, na celebração do concelho de Reis de Toledo, os bispos reunidos renovaram a repressão aos pagãos ou politeístas nestes termos:

Cânon XI
“No para castigo de los delincuentes, sino para TERROR no imponemos por este nuestro decreto la pena de muerte, sino que avisamos a los adoradores de los ídolos, a los que veneran las piedras, a los que encienden antorchas, y adoran las fuentes y los árboles, que reconozcan como SE CONDENAN ESPONTÁNEAMENTE A MUERTE A AQUELLOS QUE HACEN SACRIFICIOS AL DIABLO(...)y CASTIGUEN CON AZOTES a todos aquellos que concurren a un horror de esta naturaleza, y CARGÁDOLOS CON CADENAS, los entreguen a sus señores, siempre que sus dueños prometan, mediante juramento, que ellos les vigilarán tan cuidadosamente que no les sea posible en adelante cometer tal crimen(...) y si fueran personas libres las que estuvieran complicadas en estos errores, serán castigados a la pena de excomunión perpetua y ENVIADOS A UN SEVERO DESTIERRO”.

“No te harás obra de escultura, ni figura alguna de lo que hay arriba en el cielo, ni de lo de abajo en la tierra; NO LOS ADORARÁS NI LES DARÁS CULTO. Además , EL QUE SACRIFICA A LOS DIOSES EXCEPTO SÓLO AL SEÑOR, SERÁ MUERTO.”

Exemplos como estes foram muito frequentes durante aqueles séculos sombrios onde os nossos antepassados não tinham escolha a não ser converter-se ao cristianismo ou à morte. No entanto, a força ancestral do politeísmo sobreviveu e conseguiu manifestar-se de várias formas ao longo dos séculos, apesar da repressão brutal judaico-cristã e dos ditames do monoteísmo bíblico.

Publicado em: Lusitaniae Castrum

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

O Ano do Bode

2015, de acordo com o Calendário Chinês, é o Ano da Cabra ou o Ano do Carneiro. Para os fins deste blog, está decretado que o ano de 2105 é o Ano do Bode.
Este é o Ano de nosso Senhor e Deus, tão esquecido, vilipendiado, omitido e negado pelas religiões da Deusa e pelo Dianismo. O Deus das Bruxas, ou o Deus Touro, chamado de Cernunnos e Pan, chamado de Diabo pela Igreja, Zul Karnain pelo Corão.
Sem Ele os campos e o gado não podem ser férteis. Não há vida, tal como conhecemos, o mundo não existiria. Sem Ele nós não podemos entrar no Grande Mistério da Deusa.
O ano de 2014 foi um ano complicado. Tivemos o ano eleitoral mais disputado e com mais baixaria. Projetos como o Plebiscito Constituinte, a Reforma Política e a Lei de Mídia ficaram no forno. Nunca vimos tantos movimentos reacionários, tantos grupos praticamente pleiteando por Intervenção Militar, por Impeachment, nunca vimos um partido politico e a Mídia praticamente ensaiar um golpe de Estado, dando ensejo a uma crise institucional.
Nunca se viu tanta baixaria e troca de farpas na Comunidade Pagã Brasileira. Eu vejo gente que me expulsou de comunidades ditas pagãs e wiccanas desfraldarem a bandeira da "legitimidade", da "representatividade". Se formos por este caminho, podemos colocar a UWB, IBWB, a CTB, e a TDN na hash tag #naomerepresenta. Sem falar em figurinhas como Eddie Van Feu. Infelizmente o Paganismo, a Wicca e a Bruxaria no Brasil sofrem com a falta de informação e com o excesso de "celebridades" desinformando o público.
Nosso Senhor e Deus é como Hermes e Herne, nada fica parado ou imutável, tal como Shiva, Ele anuncia o começo da mesma forma que anuncia o fim. Sendo 2015 o Ano do Bode, o mundo passará por uma transformação, uma mutação, tudo aquilo que era considerado como indubitável, imutável, ficará esfacelado, a humanidade redescobrirá a essência das coisas, a realidade última que é a divina. A humanidade dará um basta naqueles que se fazem de senhores da sociedade, da riqueza, do trabalho. A humanidade reconquistará a real liberdade e autonomia. Todos os Falsos Deuses tornar-se-ão cinzas, para o vexame de seus sacerdotes. O mundo irá reconhecer seu verdadeiro Deus e Senhor.
Ave, Pan!

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

O fardo da virtude

Desde tempos antigos a humanidade teve sábios que escreveram sobre a virtude, a moral e a ética. Em nosso mundo contemporâneo, lembrar que essas ideias nasceram e foram desenvolvidas por diversos povos antigos, todos religiosos e pagãos, irá ofender a cristãos e ateus. Mas eu concordo com o dito descrente de que não precisamos de religião para termos um comportamento moral e ético, se assim fosse, não teríamos tantos “religiosos” cometendo os mais variados pecados.

Foi-me pedido, a título de treinamento e projeto pessoal, que eu buscasse fazer voluntariado. A solidariedade e a caridade são práticas que costumam permear a espiritualidade. Curiosamente, de quem se espera um exemplo, o que mais se observa é que não se pratica o que se prega. Mas se eu aprendi algo é que não se pode esperar ou exigir que o ser humano satisfaça as nossas expectativas.

Como eu mantenho um espírito anarquista e punk, eu tenho outra posição a respeito da solidariedade e da caridade. São comportamentos típicos do pequeno-burguês com crise de consciência. A explicação que os gurus oferecem ao diletante sobre a importância da solidariedade e da caridade é que assim nos colocamos no lugar do outro, que percebemos que existem pessoas em situação pior do que a nossa. Um típico caso de pensamento medíocre. Da mesma forma como eu tenho a capacidade e a competência para melhorar de vida, da mesma forma tem o “pobre coitado”. Eu não vou esquecer quando eu ouvi de uma profissional, que trabalha em um centro de pessoas carentes, que a maioria ali tem a vida que tem por que quer.

Eu não me recordo de receber qualquer ajuda quando eu precisei. O que eu mais recebi de outros seres humanos foi desprezo e indiferença. Disso eu posso me orgulhar, eu conquistei meu espaço por esforço próprio e pela ajuda dos Deuses e ancestrais. Mesmo assim, eu aceitei o desafio e fiz alguns trabalhos de voluntariado.

Eu fiz um trabalho em um centro que atende a pessoas de rua, por iniciativa própria. Eu participei de dois cursos de voluntariado, o do Centro de Voluntariado e o da Cruz Vermelha. Como voluntário da Cruz Vermelha eu participei de dois mutirões e de uma triagem. Eu apenas não fiz mais por que eu fui recebido com indiferença e desconfiança nas diversas organizações onde me apresentei para trabalhar voluntariamente. Quando a estatística diz que apenas ¼ da população faz trabalho voluntário, eu tendo a entender que é por falta de interesse ou aproveitamento dos interessados por parte dessas organizações.

Fazer o bem e ser bom não é sinônimo de ser otário, bobo, ingênuo e inocente. Disso eu sei de sobra, pois minha família se aproveita demais da minha bondade. Vai ver que foi por eu não ter sangue de barata, por ser lobo e não ovelha, é que aqueles que diziam ser minha família no Ofício me abandonaram. Nada acontece por acaso. Acabou, passou, foi enterrado.

Eu pratico o que acredito e sustento os valores e princípios da Bruxaria e da Wicca tradicionais. Eu lutei por 20 anos, mesmo sem ser um iniciado, contra a popularização da “religião da Deusa”. Nada ganhei com isso. Mas o bom bruxo é o exilado, não o que tem o aplauso do público. Nisto consiste a verdadeira virtude: fazer o que deve ser feito.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Diferenças entre laico e secular

A coluna do Paulo Lopes publicou uma matéria divulgada na coluna de Ateísmo do Patheos onde se fala de uma pesquisa onde os homens são mais seculares do que as mulheres. Que a mulher tem um lado mais espiritualizado do que o homem não é novidade alguma, assim como não é novidade alguma os ateus quererem puxar a sardinha pro seu lado quando convém, da mesma forma como fazem católicos, evangélicos e este pagão que vos escreve.

Mas o que significa secular e qual a diferença com o laico? Usando o oráculo virtual [Google] eu obtive algumas respostas.

Secularidade (qualidade ou característica de secular) é a condição de quem vive no século, isto é, entre as coisas do mundo e da vida. Opõe-se ao estado religioso, próprio dos que fizeram votos.

Segundo Boaventura de Sousa Santos, do ponto de vista da sociologia política, há distinção entre secularismo e secularidade. Secularismo, segundo ele, implica restringir a religião ao espaço privado exclusivamente. Já a secularidade supõe a permissão das expressões religiosas no espaço público como afirmação da própria liberdade de todos os cidadãos.

O processo de secularização pode ser compreendido de dois modos: forte e brando.

A secularização forte refere-se a uma afirmação da autonomia absoluta do homem.

A secularização branda, por sua vez, refere-se a uma afirmação da autonomia relativa do temporal. É uma desclericalização da visão de mundo, uma abertura ao diálogo tolerante O secularismo é o princípio da separação entre instituições governamentais e as pessoas mandatadas para representar o Estado a partir de instituições religiosas e dignitários religiosos.

Em certo sentido, o secularismo pode afirmar o direito de ser livre do jugo e ensinamento religioso, bem como o direito à liberdade da imposição governamental de uma religião sobre o povo dentro de um estado que é neutro em matéria de crença. Em outro sentido, refere-se à visão de que as atividades humanas e as decisões, especialmente as políticas, devem ser imparciais em relação à influência religiosa.

O laicismo apenas rejeita a influência da Igreja na esfera pública do Estado pois considera que os assuntos religiosos só devem pertencem à esfera privada de cada indivíduo.

Denota a ausência de envolvimento religioso em assuntos governamentais, bem como ausência de envolvimento do governo nos assuntos religiosos.

Na sua aceitação estrita e oficial, é o princípio da separação entre Igreja (ou religião) e Estado. Etimologicamente, laïcité é um substantivo formado pela adição do sufixo -ite (português: -dade, latim -itas) ao adjetivo em latim lāicus, um empréstimo da palavra grega λᾱϊκός (Laikos "do povo", "leigo") e do adjetivo λᾱός (laos "povo"). A palavra laico é um adjetivo que significa uma atitude crítica e separadora da interferência da religião organizada na vida pública das sociedades contemporâneas. [Wikipédia]

Há uma grande controvérsia quando um ateu fala do Estado Laico, como se fosse um Estado irreligioso e que não reconhece ao divino. O Estado Laico não é antirreligioso, apenas não possui uma religião oficial e seus dirigentes não são influenciados por alguma organização religiosa. Em suma, o Estado é Laico porque o assunto da religião pertence ao leigo, à pessoa comum, não ao clero ou a uma organização religiosa. Algo bem diferente do que alguns ateus militantes, com Richard Dawkins tem apregoado, dando a entender que Estado Laico deve ser, necessariamente, ateu.

Uma questão permanece. A pessoa comum, ou uma pessoa simples, uma pessoa da terra, um camponês, é uma pessoa irreligiosa, sem Deus? Se excluirmos quem é declaradamente ateu ou agnóstico, a pessoa comum tem uma forma de espiritualidade difusa. Ainda que frequente os templos das religiões oficiais, o individuo frequenta locais onde se professam crenças e práticas alternativas, demonstra interesse ou curiosidade sobre o esoterismo e o misticismo. No caso das pessoas que preservaram as crenças nativas de seus ancestrais ou que tentam resgatá-las, algumas fazem oferendas e reverenciam um ou mais espíritos da natureza e outras tem um culto voltado a um ou mais Deuses. Para as religiões oficiais e as organizações religiosas que as representam, essas pessoas são pejorativamente tachadas de idólatras, selvagens, ignorantes, consideradas "sem Deus" porque não reconhecem o Deus Cristão, Judeu ou Muçulmano, mas definitivamente não são descrentes nem professam o ateísmo. [trecho do meu texto Laico “sem Deus”]

sábado, 7 de fevereiro de 2015

O divino no humano

Dizemos em nossos rituais: “Pois eu sou a chama que queima no coração de todo homem e no cerne de toda estrela”.

Carl Sagan, famoso cientista, afirmou na série Cosmos que nós somos poeira de estrelas.

Em antigas culturas o sinal cuneiforme usado para simbolizar "Deus" era o mesmo de "estrela".

Caetano Veloso cantou: “Gente é pra brilhar, não pra morrer de fome”.

Aleister Crowley proferiu a Lei: “Todo homem e toda mulher é uma estrela”.

Quando alguém nasce, diz-se que a mãe “deu à luz”. Quando alguém morre, diz-se que “apagou” a chama.

Quando um ator ou uma atriz alcança sucesso, se torna celebridade, diz-se que “nasceu uma estrela”.

Diversas crenças, religiões e espiritualidades se referem à alma como a “fagulha divina”. Muitas práticas usam de velas para representar as almas e os espíritos, seja da natureza, seja do desencarnado. A ligação entre fogo, alma e o divino estão presentes em diversas religiões antigas.

Diversos poetas e filósofos descreveram o quanto o humano está próximo do divino e mesmo assim não vemos nem tratamos o próximo com o respeito devido. Desmerecemos nossa essência humana e nosso potencial divino enquanto mantemos um sistema e uma sociedade que segrega as pessoas conforme sua origem, estudo, função, cultura, etnia. Apesar de estarmos no século XXI ainda há muito preconceito, intolerância e discriminação por conta da identidade, opção e orientação sexual de uma pessoa. Ao invés de praticarmos o Amor, a lei e característica em comum de todas as religiões, o que vemos é um elogio ao ódio, à violência e à agressividade. Falar em preservar o ambiente é inócuo se mantemos um deserto em nossos corações.

Crentes e descrentes, gente de ideais de esquerda ou de direita, da classe alta ou do povo, de diversas origens e etnias. Todos nós somos humanos. A base da riqueza é a natureza, a produção é sempre coletiva, deveria ter mais justiça social. Isso está além de socialismo e capitalismo, isto é humanismo.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Em nome da família

“Deus criou família! Nós precisamos proteger a família, porque a partir da família tudo, fora da família nada” – Senador Magno Malta.

“De acordo com Malta, existem 867 projetos no Congresso Nacional que de alguma forma agridem a família tradicional, assim como os princípios cristãos, assim como o sepultado PLC 122/06, que era tido como uma ameaça à liberdade de crença e expressão”. – Gospel Mais.

O que está em jogo, quando políticos evangélicos falam em defesa da família, é a manutenção do monopólio e do privilégio de uma crença nos rumos de uma sociedade. Assim como a Igreja Católica, a Bancada Evangélica recorre a diversos expedientes para assegurar seu poder e influência no Brasil.

No entanto, a raiz, a origem da família, a família “tradicional”, vem de Roma, dos tempos pagãos.

No Direito Romano, a palavra família podia ser aplicada tanto às coisas como às pessoas. Aplicada às coisas, refere-se ao conjunto de um patrimônio. No respeitante às pessoas, pressupõe parentesco, podendo ter sentido estritamente jurídico, chamado agnatio, e outro biológico, a cognatio. O parentesco jurídico englobava todos sob o poder de um mesmo pater famílias, sendo transmitido somente pela linha paterna. Durante a evolução do Direito Romano, estes dois tipos de parentesco foram, muitas vezes, postos em contraposição, o que gerou juridicamente a prevalência do princípio do parentesco consanguíneo sobre a agnação.

Os romanos distinguiam duas espécies de casamento: o cum manu e o sine manu. No primeiro caso, a mulher saía da dependência do pater famílias para a do marido e do pater famílias da família do marido. O casamento sine manu não oferecia esta possibilidade de sujeição, podendo a mulher continuar sob o poder de seu próprio pater famílias, conservando o direito sucessório de sua família de origem. Para os romanos, o casamento era um ato consensual de contínua convivência. Era um fato e não um estado de direito.

Por outro lado, o casamento em Roma jamais foi indissolúvel, e desde o direito arcaico romano já previa o divórcio. No início, o divórcio somente podia ocorrer por vontade do marido. Com o passar do tempo, esta possibilidade foi estendida também às mulheres. – Amagis.

O Brasil é um Estado Direito Democrático, Republicano e Laico, ou seja, sem religião oficial, portanto não deveria ter a ingerência da Bancada Evangélica e da Igreja Católica nos assuntos da sociedade.

O conceito de família pode ser considerado até certo ponto subjetivo, porque está amarrado a quem o define e à conjuntura social, política e familiar em que se insere.

A família igualmente pode ser avaliada como uma coesão de pessoas em interação, um sistema semiaberto, com uma história natural conchegada por múltiplos estágios, sendo que a cada um de seus membros correspondem afazeres característicos.

A partir dos diferentes entendimentos de família e de nossa própria experiência familiar, percebemos a família como um sistema inserto numa heterogeneidade de conjunturas e composto por pessoas que dividem sentimentos e valores formando laços de afinidade, solidariedade e reciprocidade, com especificidade e funcionamento próprios.

As considerações podem ser múltiplas, entretanto um mote comum é que a união dos componentes de uma família, com ou sem vínculos consanguíneos, se dá a partir da intimidade, do respeito recíproco, da afeição, da troca e do desenvolvimento conjunto.

A família vem passando historicamente por algumas modificações, pautadas pelas mutações estruturais da sociedade.

Essas alterações acometem a dinâmica de funcionamento da família, as relações entre os seus componentes e o desempenho dos múltiplos papéis sociais no seu cerne, determinando, em distintos períodos históricos, o lugar da família na sociedade. – Tribunal de Justiça de São Paulo.

O ser humano é um animal que vive em sociedade e, como tal, somos nós mesmos quem definimos e formatamos a família. Em uma sociedade contemporânea do século XXI, a família deve refletir nossa época, nossa cultura e costumes. Por questões legais e jurídicas, a lei e o direito devem ser estendidos a todas as formas de famílias.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Refletindo sobre Exu

Outro dia um colega de profissão me perguntou quem é Exú? E justificou a pergunta dizendo que queria saber o que ele significa e se é alguma coisa negativa, porque outro colega o tinha chamado por este nome, como se fosse uma ofensa ou xingamento.
-Sim, você é um Exú! Esta foi a primeira coisa que disse a ele na explicação que dei sobre Exú. Ele arregalou os olhos surpreso, e ficou sem compreender. Logo justifiquei minha explicação, com base na opinião que tenho, sobre a relação que há entre esta divindade do panteão africano e o profissional das comunicações, mais precisamente o Jornalista.
Contei ao meu colega que Exu é o ego de cada ser, o orixá em essência mais próximo ao homem, e como o ser humano ele não é totalmente bom nem totalmente mau, é como nós um ser capaz de amar e odiar, unir e separar, promover a paz e a guerra.
Além do sexo, magia, união, poder e transformação Exú, assim como alguns jornalistas, domina também a comunicação, ele fala todas as línguas e permite, ou não, que haja conversação entre o orum (céu) e o aiyê (terra), e também entre os homens e os orixás.
Exú é o dono da primazia, é dele o direito de ser louvado e de receber culto, antes dos demais orixás. Ele tem a prioridade sempre. E assim como Exú tem seus privilégios relacionados à liturgia do culto ao qual está inserido, nós jornalistas temos, de certo modo, prioridade no acesso a determinados elementos que garantem a força vital do nosso culto ao jornalismo/comunicação, que neste caso são as informações.
As informações na maioria das vezes chegam aos jornalistas primeiro, e cabe ao profissional passar a diante, ou não. Claro que isso implica uma série de fatores éticos e morais que podem resultar em ódio amor, afetos e desafetos, uniões e separações e até mesmo paz e guerras. Ai a história do formador de opinião se entrelaça com a de Exú.
Cursos e especializações proporcionam também o domínio do jornalista sobre várias normas e convenções que garantem aos homens uma boa comunicação. Cabe ao profissional dar o melhor de si para prestar melhor serviço a sua comunidade, e procurar sempre fazer o que é correto e ético de acordo com os códigos de conduta da profissão.
Agora enquanto ao sexo, magia, união, poder e transformação fica difícil qualquer um dominar, se não Exú. Mas com certeza é bem mais fácil para aqueles jornalistas que creem, agradam e agradecem a Exú da maneira devida, para que ele seja em nossas vidas a manifestação do amor, da sorte, da riqueza, da prosperidade e do bem viver.
Logo, ser chamado de Exú não é ruim, muito pelo contrário , é bom e muito bom, independente de ser jornalista ou não. Mas se for, isso seria quase uma redundância pois estamos mais próximos de Exú do que podemos imaginar.
Autor: Leonardo Barbosa, um Exú jornalista.
Fonte: Jornal GGN