No FB, uma das pessoas que eu acompanho as postagens publicou algo sobre "negar a carne".
De uma forma educada e inteligente, eu expus como eu vejo a questão do "pecado", "salvação" e etc.
Seguem citações de meus comentários:
Meu Deus deu-me a carne e as vontades por um propósito. Negar é recusar a benção dada por Deus.
Temos um Deus diferente, então não se chateie. Meu Deus também deu-me o prazer com um propósito. Negar é recusar a benção. O alimento do corpo em igual importância ao alimento espiritual. E não há distancia, por maior que seja, que me afaste de meu Deus.
Definições são capciosas, mas não tem jeito. Por definição, eu sou "neopagão".
Eu li [a bíblia] inteira 5 vezes...e estudei suas origens, a historia dos Hebreus, dos Judeus, dos Cristãos...
Os livros são uma fonte de conhecimento insubstituível.
Eu acredito [epa !] que esquecem que ali tem muita metáfora. Eu costumo dizer: a bíblia é uma ferramenta de estudo. Um ponto de partida, não o objetivo.
Eu vou falar agora como estudioso da bíblia. [pôxa isso rendeu discussões no trampo] A bíblia tem duas partes: VT e NT. O VT é bem claro: direciona-se ao povo de Israel e o povo Judeu. Tem coisas que não se aplica, tem coisas que não se aplica aos cristãos. Portanto tem coisas que não se aplica aos pagãos, tem coisas que não se aplicam aos brasileiros, etc e tal. A lista é grande...
O mesmo se pode dizer de outros textos sagrados [quanto às lições para os dias de hoje]. Daí que eu digo que Deus não nos daria carne, desejo e vontade se não tivesse um propósito.
Em um sentido mais amplo...livre arbítrio. A responsabilidade é nossa. Nossas ações, as conseqüências recaem em nós.
Daí ser uma opção de crer em Cristo e seguir a Cristo, não somente indo a igreja, mas vivenciando. E para saber o que é licito e o que é inconveniente é necessário sabedoria, experiência. Inevitável, Santo Agostinho adquiriu sabedoria depois de experimentar as "coisas do mundo"...
A bíblia é um excelente ponto de partida, para os cristãos, tem os evangelhos e os atos. Eu tenho os sábios da antigüidade.
Eu vou dividir o assunto em três partes: pecado, salvação e vida espiritual.
O homem fez regras para conviver em sociedade e fez regras para conviver com o divino. Da mesma forma que tem condenação a atos criminosos na sociedade, existe a preocupação do homem em expiar por falhas diante de Deus.
O ato de expiação era individual. Quanto mais grave a falha, maior o sacrifício, muitas vezes com sangue. Esta noção é importante para entender o sacrifício de Cristo.
Antes de Cristo existiam as chamadas "religiões de mistério" que prometiam a seus membros uma vida eterna.
Ou seja as pessoas se preocupavam com o que poderia acontecer se morressem com uma falha diante de seus Deuses.
Era mais no sentido de dever mesmo. Fides, virtus, carites. Dever com a comunidade. A responsabilidade de nossos erros e a expiação era um ato pessoal.
Falhas e erros causam conseqüências, como toda ação. A conseqüência pode ser pessoal, mas pode atingir a comunidade, o próximo. Essa divida com a comunidade gerava a falha diante dos Deuses.
Um livro da bíblia a ser considerado: Levítico. Assim como muitos povos os Israelitas tinham diversos tipos de sacrifício para cada pecado.
Os sacrifício eram destinados apenas aos Israelitas e deviam ser executados por sacerdotes, no Templo do Senhor. entre os sacrifícios tem um que servia em caso de urgência para expiar os pecados de todos os Israelitas. Esse sacrifício consistia em matar e derramar sangue de um cordeiro. Esse é outro conceito importante para entender o sacrifício de Cristo. Em outros povos, cada um tinha um sacerdote e um ou mais Deuses a quem se direcionar o sacrifício expiatório, mas a ação era sempre individual. Com isto eu aproveito um gancho "bíblico": o pai não pode pagar pelo pecado do filho e o filho não pode pagar pelo pecado do pai. Guarde essa frase que depois vai fazer sentido...
Importante frisar isso: os pecados que os Israelitas cometiam deviam ser expiados por eles, por intermédio dos sacerdotes, com sacrifícios ao Senhor de Israel. Vamos voltar ao VT? Ali Deus diz que é Senhor do povo de Israel e de nenhum outro. Em diversas partes define-se Deus como o Deus de Abraão, Isaac e Jacó. E antes? Antes temos Enoc, Noé e, por fim, Adão. Segundo a bíblia foi por causa da desobediência de Adão e Eva que o pecado entrou no mundo. Todos são descendentes de Adão e Eva? Segundo a bíblia, Caim, depois de ser banido, encontrou com "outros humanos" em uma cidade chamada Nod. Então nem todos são descendentes de Adão e Eva.
Então temos Cristo. Nascido e criado como Judeu, em uma época onde as religiões de mistério exerciam influencia nos Judeus Helenizados. Estes Judeus aceitavam a presença e a participação dos "gentios" no culto a Deus. Cristo ou o Ha-Massiah, pelo VT, devia ser da raiz de Jessé e Davi, ser um rei e sacerdote, que iria reconduzir as ovelhas da Casa de Israel de volta para Deus.
Então eu tenho de um lado um Deus que perdoa e salva apenas os Israelitas. De outro, Cristo, Deus filho de Deus [e a antigüidade está cheia deles };)]. Em diversas partes dos evangelhos, Cristo insinua que o Deus de quem ele é filho e representante, não é o Deus do VT, Jeová. Voltemos ao VT. Esta parte da bíblia é baseada no texto sagrado dos Judeus, Torah, se tiver chance, leia no original. Em seu primeiro capitulo a Torah descreve a criação de tudo não por Deus mas por Elohim, um nome coletivo, ou seja, muitos Deuses. Dez Deuses que são manifestações de um Deus Inefável. Até aí tudo bem, os Israelitas eram descendentes dos Hebreus que, como muitos povos da antigüidade eram politeístas.
Então eu considerei que existem vários Deuses e que o adequado é conhecer os Deuses dos meus ancestrais, Deuses que estão ligados à minhas origens. Deuses que me criaram com vontade, desejo e um corpo. Deuses que não irão me julgar e condenar por ser humano. Deuses que me conhecem e me concederam a fagulha divina e que confiam que eu terei a consciência e a responsabilidade pelos meus atos. Por isso que eu digo que meu Deus não proíbe que eu atenda as necessidades carnais, livre arbítrio. Mas isso não significa que eu vou deixar meu corpo me dominar, isso não é liberdade. Liberdade é disciplina, nós dominamos nosso corpo, pela mente, pela vontade, escolha consciente e responsável.