quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Monogamia é crime

Parte 1: Monogamia
A monogamia prega que devemos viver e ser única e exclusivamente de uma pessoa, depositando nesta todos os nossos desejos e necessidades. Construiu-se assim um modelo de felicidade sustentado pelo casamento e pela família perfeita. Vive-se pelo outro, não por si e apenas um único ser deve lhe nutrir. As personalidades se misturam e se perdem, é preciso manter a aparência, diminuir o afeto pelos outros, negar o desejo, os futuros envolvimentos, descobertas e vínculos, o amor é canalizado, não mais distribuído.
Reprimir, esconder, mascarar são artifícios que tornam o homem um ser fantoche, sem autonomia e identidade. Perdendo sua essência no meio de tantas farsas que precisa criar. Tornando-o escravo do outro, movido pelos desejos alheios e pela imposição social.
Não carregarei o peso dessa herança monogâmica, não serei mais vítima desse sistema que prende, cega e iludi com falsas idéias. O modelo monogâmico não se encaixa no que vivo, vai contra o que eu pense e sinto. Desejo e preciso de diversas pessoas, por necessidades e escolhas e não repetirei as mesmas histórias nem construirei uma farsa para adequar-me a sociedade. Sou livre e tenho o direito de manifestar e seguir meus desejos. Vivo através do que acredito ser real e cabível à minha vida, não pela sobrevivência, mas pela liberdade de viver.
Parte 2: Comercial
O que é em nome do amor não precisa de contrato, assinatura, papéis, prata, ouro. Estar algemado não significa estar unido a alguém. Não preciso ter uma aliança no dedo ou subir em um altar para comprovar meu amor. Os bens materiais, que simbolizam um relacionamento, estão muito aquém quando se trata de demonstração de sentimento. Sou mais que qualquer status social ou relacionamento pode me oferecer.
Sentimentos, desejos, paixões são invisíveis aos olhos, são marcas mais fiéis que qualquer tatuagem, o capitalismo não compra, nem vende, muito menos manda fazer. A sociedade cobra um ideal de relacionamento eterno e verdadeiro, materializa a felicidade em objetos e pessoas, favorecendo a economia. Felicidade não se compra, se constrói e é através da troca com cada ser que construo um relacionamento. Basta um toque ou um olhar para sentirmos que algo é real e verdadeiro.
Parte 3: Autonomia
Ninguém é objeto para ser posse de alguém, por isso não deixo que prendam meu corpo, nem minha mente. Sou dona de mim, dona do meu corpo, das minhas atitudes e pensamentos. Não admito pedir permissão, dar satisfação, provar e comprovar o que diz respeito a mim e ao que faço ou ser reprimida por manifestar minhas vontades. Ajo através dos meus desejos e tenho a liberdade de escolher o que quero.
Não crio farsas ou teatrinhos morais baseados na perfeição do romantismo ou nas juras de amor eterno. Não procuro uma cara metade, pois não preciso de metade alguma para me completar. Sou um ser único e inteiro, não me falta nenhuma parte. Minha felicidade depende apenas de mim e ninguém é dono ou responsável por ela. Não deposito em ninguém o peso minhas escolhas, sou a única responsável por tudo que tenho e sinto, pois sou a fonte das minhas alegrias e tristezas, se algo der certo ou errado a vitória e a culpa serão minhas.
Parte 4: Multiplicidade
Sou apaixonada pela vida e vivo intensamente minhas paixões sem precisar tê-las só para mim. Alegro-me ao ver aqueles que amo amando e serem amados por outras pessoas. Não sou egoísta em querer vê-los felizes apenas ao meu lado e não tenho motivos para odiar alguém que ama quem eu amo. Não sou melhor nem pior que ninguém, não me firmo nos erros ou fraquezas dos outros para atingir quem desejo. Não estou em um jogo para competir ou disputar sentimentos e espaço. Amo e sou amada e não preciso dividir sentimentos, eu os multiplico.
Fogo de palha ou vulcões em erupção, superficial ou não, do dia pra noite, da noite pro dia, diariamente, semanalmente, pra vida inteira ou somente algumas horas. Não é preciso haver regras. Não tem dia nem hora marcada, simplesmente acontece, e o silêncio de um olhar e um abraço responde muito mais que grandes discursos furados de fidelidade.
Amo cada ser de forma completa e absoluta sem precisar medir ou colocar na balança meus sentimentos. Cada ser tem seu valor e sua importância sejam elas estáveis ou não. Cada um contribui de forma única e essencial para a construção de uma relação sem perder seu eu original, gerando um bem estar para ambos. Assim relações são construídas, compreendendo, respeitando e valorizando a individualidade de cada ser.
Parte 5: Liberdade
Não cavo buracos, dos quais não consigo sair, não vendo meus olhos, não me finjo de morta, não me calo nem me faço de desentendida. Entendo e entendo muito bem e mais que entender: sinto! Não sou um zumbi social querendo corações batendo, sou vida querendo mais que calor humano. Quero e cultivo sinceridade, confiança, respeito, honestidade e liberdade.
Sou livre em mim e sou fiel a mim mesma, não traiu minhas vontades, não minto nem me engano, não nego o que quero, não faço feridas pro tempo apagar. Destrui as gaiolas e as jaulas que me cercavam. Não me prendo, nem prendo mais ninguém, não carrego nem coloco correntes, não cultivo sentimentos escravos. Minhas paixões são livres e assim eu as deixo.
Querer, desejar, amar, não importa o verbo ou o sentimento, liberdade encaixa-se muito bem com qualquer um deles. Liberdade, não de plenitude, utopia, rompimento com o mundo, não egoísta ou narcísica. Liberdade como alimento que nutre, fornecendo vida, tornando-nos vivos e autônomos, capazes de fazer e assumir o que desejamos. É esta liberdade que nos une, em uma união mais forte que qualquer nó formado pela monogamia.
O que há de mais puro e natural no ser humano são seus sentimentos. Não vou contra minha natureza, não prendo nem repreendo meus sentimentos, sejam eles dóceis ou selvagens. Tenho uma fauna em mim! Não mantenho em cativeiros sentimentos que são mais puros e belos quando soltos, podendo habitar diferentes terra, ares, mares e quando quiserem voltarão para os lugares que desejarem. Quem quer volta, não precisa de coleira!
Parte 6: Crime
A monogamia ilude o homem, fazendo-o achar que por amor deve-se prender e deixar de lado seu eu essencial, que a felicidade esta no outro, fazendo do outro seu objeto e que somente assim se mantém uma relação. Tira do homem sua liberdade de escolha, taxa e rebaixa seus sentimentos, repreendendo toda e qualquer manifestação do ser, por mais natural que seja.
Para mim este é o maior crime que o homem é submetido, pois torna-o refém dos outros, submisso ao relacionamento. Monogamia para mim é crime, um crime que não é previsto pela lei, mas que vai contra o meu ser, meus ideais de vida e minha liberdade.
Não cometo o crime de ser infiel a mim mesma, de prender meu corpo e minha mente, negar meus desejos e sentimentos. Crime é tentar fugir do que sou ou esconder-me nessas diversas prisões sócio-culturais. Estou quebrando esta redoma, não aceitarei este monopólio sentimental. Monogamia para mim é crime e deste crime não serei cúmplice, muito menos vítima!
Autora: Maura Oliveira
Fonte: Rede de Relações Livres

4 comentários:

Nana Odara disse...

mto bom...
acho a teoria poli sensacional, mas na prática é q deixa a desejar...
só acredito no poliamor inserido num novo modelo social amplo, por isso me exclui do ativismo poli...
sou polipagã...kkkkkkk...
falaremos sobre isso a posteriori...

poliabreijos
;D


(http://lugardehomem.blogspot.com/search?q=poliamor)

Unknown disse...

Olá, que bom que gostou e esta divulgando meu texto.
Muito bom ver ele proliferando!
Obrigada!
Abraços

Unknown disse...

ah, faz uma alteração no texto, tem umas 3 palavras erradas, copia do meu blog q ja ta corretinho. :)
http://mauramor.blogspot.com/2010/10/monogamia-e-crime.html

betoquintas disse...

Oi Maura. Eu acho que agora seu texto está corrigido.
Como bom pagão eu adoro ver as coisas proliferarem. Tipo "crescei-vos e multiplicai-vos".
Oi Musa Nana. Eu sou um virtuose, em se tratando de escrever sobre amor e relacionamentos.
A Riane Eisler tem uma visão interessante sobre amor=sexo=relacionamento=política.
Mas teorias sempre serão incompletas. Por isso, mais do que tudo, eu apregôo a prática!