domingo, 13 de abril de 2025

Perdeu Mané

O ensino domiciliar – ou homeschooling – no Distrito Federal foi considerado inconstitucional pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão, realizada no último dia 28 março, foi unânime e é um desdobramento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) ajuizada pelo Sinpro sobre a Lei 6.759 de 2020, sancionada pelo governador Ibaneis Rocha, que trata da regulamentação dessa prática em âmbito local.

Na argumentação, a Primeira Turma do STF lembrou que qualquer decisão estadual ou municipal que adote o homeschooling será inconstitucional, “por invadir a competência privativa da União para legislar sobre diretrizes e bases da educação”.

“Assim que foi editada a lei (do homeschooling), nós entramos com a ação. Ganhamos do TJ-DFT (Tribunal de Justiça do DF e Territórios) e, agora, ganhamos também no STF, que negou o recurso do governo Ibaneis-Celina. Continuaremos nossa luta, em defesa da educação de qualidade”, afirma o diretor do Sinpro, Dimas Rocha.

A lei do homeschooling no DF, de 2020, é de iniciativa do governo Ibaneis-Celina, junto com os deputados João Cardoso (Avante) e Eduardo Pedrosa (União Brasil), além dos ex-deputados Delmasso e Júlia Lucy.

Segundo a lei, “a educação domiciliar visa o pleno desenvolvimento da criança e do adolescente, além de seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

Entretanto, a própria Associação Nacional de Educação Domiciliar (Aned) admite que não é possível medir os resultados acadêmicos da educação escolar em casa. Para além disso, a Constituição Federal de 1988 estabelece que a educação não tem apenas função técnica.

“Escola também é espaço de aprender a conviver com as diversidades, com a pluralidade; é espaço de socialização, de vivência. A educação domiciliar não garante isso a nossas crianças e adolescentes. É por isso que o Sinpro atua contra o homeschooling”, explica a diretora do Sinpro, Márcia Gilda.

Fonte: https://revistaforum.com.br/debates/2025/4/8/vitoria-do-sinpro-stf-nega-recurso-do-gdf-diz-no-ao-homeschooling-177108.html

Nota: aqui continua a campanha de que seja afastado e cassado todo vereador, deputado, prefeito ou governador que propuser lei inconstitucional.

sábado, 12 de abril de 2025

Suspendam a oração

O Tribunal de Justiça de São Paulo suspendeu de maneira liminar, nesta sexta-feira (11), a lei que obriga a oração do Pai-Nosso em todas as escolas públicas e privadas de São José do Rio Preto (a 440 km de São Paulo). Cabe recurso.

O texto havia sido aprovado pela Câmara no dia 1º de abril e sancionado no dia seguinte pelo prefeito, Coronel Fábio Cândido (PL).

Procurado, o prefeito disse que "respeita as decisões do Poder Judiciário e entende que não cabe manifestação pessoal sobre a decisão em questão". O presidente da Câmara, Luciano Julião (PL), autor do projeto, não se manifestou até a publicação desta reportagem.

A liminar da corte atende um pedido da Atem (Associação dos Trabalhadores em Educação) que apontou inconstitucionalidade na lei e ingressou com uma Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade) no último dia 4.

"A entidade sustenta que a norma é inconstitucional, tanto do ponto de vista formal quanto material, por violar princípios fundamentais da Constituição Federal e da Constituição do Estado de São Paulo. A lei desrespeita a laicidade do Estado, a liberdade de crença e consciência, o pluralismo de ideias na educação, além de incorrer em vício de iniciativa, ao tratar de tema de competência exclusiva do Poder Executivo", diz nota da Atem.

Em sua decisão, o desembargador Nuevo Campos considerou os argumentos apresentados pela associação. "Dada a relevância dos fundamentos deduzidos na inicial, a partir dos quais foi formulado o pedido liminar, quer quanto à competência, quer quanto ao objeto do ato legislativo em questão, consideramos ainda, os possíveis desdobramentos que podem decorrer de sua vigência, concedo a liminar para suspender a vigência da Lei nº14.776, de 2 de abril de 2025, do Município de São José do Rio Preto", diz o desembargador na decisão.

O projeto de lei foi aprovado pela Câmara por 18 votos a favor e 4 contra. O texto define que a oração do Pai-Nosso, uma tradição católica, deve ser realizada ao menos uma vez na semana, em horário e dia previamente definidos pela instituição de ensino, respeitando a rotina escolar.

E acrescenta que "o aluno que não desejar participar da oração a que se refere esta lei poderá ser dispensado do ato e permanecer na respectiva sala de aula, devendo apresentar à direção declaração assinada pelos responsáveis manifestando sua opção de não participação, eximindo-o da obrigação".

Fonte: https://www.otempo.com.br/brasil/2025/4/11/justica-suspende-lei-que-obrigava-a-oracao-do-pai-nosso-em-escolas-de-cidade-paulista

Spotify desafinou

Por Rodrigo Castro.

O Ministério Público Federal do Rio de Janeiro apura suposto racismo religioso por parte do Spotify devido a cards em sua plataforma que associavam a umbanda a "ritual" e "bruxaria".

O caso diz respeito a uma campanha de retrospectiva do provedor de streaming por meio da qual usuários podem rever, de forma personalizada, um resumo das músicas, álbuns, artistas e podcasts mais ouvidos ao longo do ano. Na de 2024, eram indicadas até três "fases musicais" desses usuários no período. E, por meio de um sistema de inteligência artificial, relacionavam-se termos às canções da plataforma.

Só que uma das combinações recebidas por usuários juntavam umbanda com "ritual" e bruxaria". A situação chegou a ser reportada em redes sociais.

Ao MPF, o Spotify esclareceu que providenciou o bloqueio da combinação dos termos assim que tomou conhecimento dos fatos, poucas horas após o início da campanha, no dia 4 de dezembro. Pelo que apresentou ao órgão, o lançamento se deu às 10h, e o gerente de produtos instruiu a equipe de engenharia às 15h14. As mudanças foram implementadas às 16h12.

A empresa disse ainda que não houve qualquer reclamação formal aos canais de comunicação. E pediu que o procedimento fosse arquivado.

Mas o Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP), representado pelo babalaô Ivanir dos Santos, está pleiteando uma audiência com o Spotify para tratar do assunto. A entidade foi responsável por reportar o caso à Procuradoria.

Em manifestação, a CEAP argumenta que, ao admitir a campanha difamatória em sua plataforma, ainda que por pouco tempo, "fica clara a incidência de racismo religioso". Os advogados Carlos Nicodemos e Lucas Albuquerque alegam que a empresa não pode se eximir da culpa sob justificativa de que a discriminação ocorreu por uma combinação involuntária de termos gerados automaticamente e que o problema foi rapidamente sanado.

Diz o documento:

"Mesmo que a discriminação não tenha sido criada voluntariamente pela empresa, ela ainda é responsável por seus serviços e pela divulgação deles, possuindo uma responsabilidade legal nos dados tratados em sua plataforma".

Fonte: https://oglobo.globo.com/blogs/lauro-jardim/post/2025/04/mpf-apura-suposto-racismo-religioso-do-spotify-por-relacionar-umbanda-a-ritual-e-bruxaria.ghtml

sexta-feira, 11 de abril de 2025

Gomenasai


Conversa com o Gemini

Escreva um texto fazendo um paralelo entre a notícia do superaquecimento do chatgpt com as requisições de geração de imagens no estilo do estúdio ghibli e as notícias comentando o seriado da Netflix, "Adolescência".

Com certeza! Aqui está um texto que estabelece um paralelo entre o superaquecimento do ChatGPT, as requisições de geração de imagens no estilo do Studio Ghibli e a série da Netflix, "Adolescência":

O Fascínio do Ilimitado: ChatGPT, Ghibli e a Complexidade da Adolescência

Em um mundo onde a tecnologia e a arte se entrelaçam, somos constantemente confrontados com a vastidão do potencial humano e as complexidades da nossa própria existência. Recentemente, testemunhamos o "superaquecimento" do ChatGPT, uma ferramenta de inteligência artificial que, por vezes, se mostra tão criativa e perspicaz que nos faz questionar os limites da máquina. Paralelamente, a busca por imagens geradas no estilo do Studio Ghibli revela nosso anseio por beleza, nostalgia e a capacidade de reimaginar o mundo através de lentes mágicas.

Esses fenômenos tecnológicos e artísticos encontram eco na série da Netflix, "Adolescência". A produção nos convida a mergulhar nas profundezas da juventude, explorando suas alegrias, angústias e descobertas. Assim como o ChatGPT, que nos surpreende com sua capacidade de gerar textos e ideias inovadoras, a adolescência é um período de ebulição criativa, onde a imaginação e a experimentação se manifestam de forma intensa.

A busca por imagens no estilo Ghibli, por sua vez, reflete o desejo de escapar da realidade e encontrar refúgio em mundos mágicos e acolhedores. A adolescência, com sua carga de incertezas e transformações, também nos leva a buscar refúgio em fantasias e idealizações. A série da Netflix, ao retratar a vida de jovens em busca de identidade e pertencimento, nos convida a refletir sobre a importância de encontrar beleza e esperança em meio ao caos da vida.

Em última análise, o superaquecimento do ChatGPT, o fascínio pelo estilo Ghibli e a série "Adolescência" nos lembram que somos seres complexos, capazes de criar, imaginar e sentir em níveis profundos. A tecnologia, a arte e a narrativa nos oferecem ferramentas para explorar nossa própria humanidade e encontrar significado em um mundo em constante transformação.

Criado com Gemini, do Google.
Arte criada com inteligência artificial.

Nota:
A cultura pop é um liquidificador.
A internet tornou tudo acessível mundialmente.
As redes sociais tornaram tudo Instagramável, curtível, uma busca alucinada por audiência.
Os geradores de imagens por inteligência artificial mostra mais sobre nós do que nossa estranha relação com a cultura e a tecnologia.

quinta-feira, 10 de abril de 2025

Apoiando as práticas

Por André Lemos.

No dia 19 de março de 2025 a Prefeitura do Rio de Janeiro publicou, no Diário Oficial, a Resolução Conjunta das Secretarias de Meio Ambiente e Clima e Saúde (nº2), pelo reconhecimento das práticas e as comunidades de matrizes africanas como promotoras da saúde e de cura complementares ao SUS. Porém, uma semana depois, 25 de março, a mesma prefeitura a revogou via Decreto (nº 55824) sem muitas explicações. Tudo indica que foi uma articulação política institucional (apoiada por movimentos sociais) que foi barrada no âmbito da execução e gestão.

Somente pela iniciativa, a data é histórica: a capital carioca seria a primeira cidade do Brasil a implementar tal feito. Estando em acordo com a Resolução n° 715/2023 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), a partir da Orientação 46: reconhece as manifestações da cultura popular dos povos tradicionais de matriz africana e as Unidades Territoriais Tradicionais de Matriz Africana como equipamentos promotores de saúde e cura complementares do SUS. E ratificando no plano municipal a Portaria Ministerial N° 992/2009, que institui a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra.

Conforme, o Artigo 1 da Resolução Conjunta SMAC/SMS n° 02, basicamente as manifestações da cultura popular dos povos tradicionais de matriz africana reconhecidas seriam: Banhos, a utilização de plantas ancestrais quinadas, maceradas ou fervidas com água, óleos essenciais e demais elementos; Defumação, o conjunto de ervas, incensos ou madeiras aromáticas queimadas que produzem fumaças visando a proteção e a purificação; Benzedeiras, mulheres que utilizam água, óleos essenciais e ervas ancestrais com preces que conectam a espiritualidade e o humano; Chás, bebidas produzidas por meio da infusão de folhas e ervas secas com água; Escalda, solução com água, sal, ervas e óleos essenciais para os pés; Limpezas realizadas no corpo e nos ambientes, com velas, água, defumação, ervas, alimentos e especiarias; e oferendas de comidas e alimentos à cabeça.

Visivelmente, tais manifestações são elementos socioculturais ancestrais, trabalhados e exercitados nas comunidades tradicionais de matrizes afro-brasileiras (especialmente nos Terreiros). Possuem adesão de parte da sociedade brasileira que tem acesso à informação e rompeu a barreira da intolerância religiosa e da discriminação. Em níveis estruturais de cidadania, comportam na sua amplitude os princípios de universalidade, integralidade e equidade dos SUS, principalmente nas diretrizes relativas aos cuidados paliativos e preventivos (complementares). Com comprovada eficiência, mediante experiências em cuidados e prevenção de enfermidades, comorbidades e procedimentos. Além disso, parte das próprias especiarias, ou matéria prima, se tornaram fitoterápicos populares.

Neste sentido, é importante reconhecer que as comunidades tradicionais de matrizes afro-brasileiras, incorporadas de suas religiões, possuem componentes que as legitimam como espaços sociais de cuidado e saúde. E com isso estão em condição de reivindicar pleitos de participação social em forma de lei para que se regulamente a grande contribuição em saúde que podem oferecer ao conjunto da população. Contexto e debate que dialoga com uma passagem, de Clóvis Moura (2020, p. 183), em relação aos afrodescendentes no Brasil: “(…) reavivando a sua identidade étnica, fato que determina um nível de consciência dos seus direitos etnopolíticos bem mais dinâmicos e abrangentes”.

É preciso admitir que a abrangência do SUS garante a possibilidade de por em prática políticas públicas com tais características, em especial na Atenção Primária à Saúde (APS) que atua diretamente na ponta, ou seja, junto à população, e que deveria aprofundar mecanismos de reconhecimento territorial e cultural. Os limites, porém, estariam no âmbito político e regulatório que deixam a desejar em outras demandas da saúde pública, e que estão além do endosso e fortalecimento de grandes programas.

Por exemplo, iniciativas que deveriam ser inerentes à APS, como capacitação de especialistas em regulação, uso da linguagem simples e estímulo da permanência do médico (nota-se grande rotatividade/volatilidade). Buscando a consolidação de políticas públicas emancipadas e emancipatórias, fortalecendo os princípios do SUS e dialogando com o conceito de Saúde Coletiva.

Fonte: https://outraspalavras.net/outrasaude/por-que-apoiar-praticas-de-matriz-africana-no-sus/

quarta-feira, 9 de abril de 2025

China sem filtro


Tem jornal dito progressista que mais parece um puxadinho da Secretaria de Comunicação da...China.

O Brasil 247 publicou uma reportagem sobre um youtuber que mostra a "China sem filtro".

Perderam essa reportagem.
Citando:

Uma jovem chinesa viralizou nas redes sociais após mostrar que mora no banheiro da loja onde trabalha, na cidade de Zhuzhou. Aos 18 anos, Yang encontrou uma maneira de economizar com aluguel ao transformar o pequeno espaço de seis metros quadrados em seu lar improvisado.

Funcionária de uma loja de móveis, ela decidiu usar o banheiro como moradia e paga o equivalente a R$ 37 por mês ao patrão para poder permanecer no local. O espaço, embora apertado, abriga seus pertences pessoais, roupas e alguns itens de higiene.

A rotina inusitada foi registrada por ela mesma e publicada no Douyin, versão chinesa do TikTok. O vídeo rapidamente chamou atenção de milhares de pessoas e gerou discussões sobre condições de trabalho, custo de vida e moradia na China.

A chinesa espera economizar o dinheiro que ganha para poder comprar uma casa ou um carro. Yang tem salário de R$ 2.320. Os seus gastos mensais giram em torno de R$ 307. Segundo ela, sua determinação em economizar é até elogiada pelo chefe. “Se eu conseguir guardar dinheiro agora, talvez possa alugar um lugar melhor no futuro”, disse Yang em uma das gravações.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/meu-lar-e-o-banheiro-da-empresa-jovem-chinesa-choca-internet/

Unicamp inclusiva

Agência Brasil - O Conselho Universitário da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior paulista, aprovou, por unanimidade, a adoção de cotas para pessoas que se autodeclaram trans, travestis ou não-binárias em seus cursos de graduação. 

Aprovada em reunião realizada na terça-feira (1º), a proposta é resultado de articulação entre a reitoria, alunos e movimentos sociais, como o Ateliê TransMoras e o Núcleo de Consciência Trans.

“Trata-se de mais um momento histórico para nossa universidade”, disse o professor José Alves Neto, coordenador da Comissão Permanente para os Vestibulares [Comvest] e integrante do grupo de trabalho que formulou a proposta. Segundo o professor, dos 15 integrantes do grupo de trabalho, sete são pessoas que se definem como trans.

A Unicamp informou que as vagas serão disponibilizadas no edital Enem-Unicamp e vão permitir a participação tanto de candidatos de escolas públicas quanto privadas.

Nos cursos com até 30 vagas disponíveis, pelo menos uma vaga regular ou adicional deverá ser voltada para essa população. Já nos cursos com 30 vagas ou mais, deverão ser ofertadas pelo menos duas vagas, que deverão ser regulares ou adicionais.

O processo de seleção dos candidatos inclui uma autodeclaração no momento da inscrição ao vestibular. Além disso, haverá exigência de um relato de vida, que será submetido a uma comissão de verificação. Após cinco anos da abertura dessas primeiras vagas, a Unicamp vai fazer uma análise sobre os resultados da aplicação dessa política.

Segundo dados da Comvest, 279 candidatos se inscreveram usando nome social no vestibular deste ano na Unicamp. Do total de inscritos, 40 foram convocados. Os cursos mais procurados foram artes visuais, ciências biológicas e medicina.

Atualmente, informou a Unicamp, 13 universidades federais ou estaduais contam com esse tipo de sistema de acesso à graduação.

Fonte: https://www.brasil247.com/regionais/sudeste/unicamp-aprova-cotas-para-pessoas-trans-travestis-ou-nao-binarias

terça-feira, 8 de abril de 2025

Placa de corno manso


A Prefeitura de Barra Mansa, no interior do Rio de Janeiro, instalou painéis com a frase “Barra Mansa é do Senhor Jesus Cristo!” em diferentes pontos da cidade.A mensagem também aparece em um telão na sede do governo municipal. A iniciativa partiu da atual gestão, comandada pelo prefeito Luiz Furlani (PL), conforme informações do Globo.

O caso gerou repercussão nas redes e foi registrado por moradores. A exibição da frase acontece em espaços públicos e contém a assinatura visual da prefeitura. Apesar da repercussão, a administração municipal ainda não se manifestou oficialmente sobre o teor religioso das mensagens.

Vale ressaltar que a Constituição Federal estabelece que o Brasil é um Estado laico, ou seja, sem uma religião oficial. O princípio garante a separação entre governo e instituições religiosas, além da liberdade de crença para todos os cidadãos.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/prefeitura-exibe-mensagem-religiosa-em-telao-barra-mansa-e-do-senhor-jesus-cristo/

Nota: aqui eu começo a campanha para que as prefeituras possam colocar painéis com a frase "-nome da cidade- pertence ao Senhor Exú"🤭😏.

Oração obrigatória

A Câmara Municipal de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, aprovou, na última terça-feira (1º), um projeto de lei que torna obrigatória a oração do Pai-Nosso nas escolas públicas e privadas da cidade, ao menos uma vez por semana.

A proposta, de autoria do presidente da Câmara, Luciano Julião (PL), agora aguarda a sanção do prefeito Coronel Fábio Cândido (PL), que, segundo sua assessoria, já se mostrou favorável à aprovação.

O projeto foi aprovado com 18 votos a favor e 4 contra. Segundo Julião, os estudantes não serão obrigados a participar da oração. “Nenhum aluno ou família estará obrigado a participar do rito. Quem não quiser, não participa”, afirmou o autor da proposta.

Ele também destacou que, de acordo com o Supremo Tribunal Federal (STF), a laicidade do Estado garante a convivência harmônica entre Estado e Igreja, o que é buscado com a iniciativa.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/cidade-do-interior-de-sp-propoe-obrigar-escolas-a-rezar-o-pai-nosso/

Nota: continua a campanha pela interdição dos municípios que propuserem leis inconstitucionais, o afastamento imediato do prefeito, governador, vereador ou deputado que apresentar pautas semelhantes.

segunda-feira, 7 de abril de 2025

Ideia para o Corpus Christi

Um decreto polêmico publicado nesta semana pela prefeitura de Florianópolis gerou reações de bares e estabelecimentos comerciais similares da região central da cidade. Por determinação do município, neste final de semana, os empreendimentos terão que fechar as portas por uma hora e meia no sábado, 5 de abril, e mais uma hora e meia no domingo, 6 de abril. O decreto foi feito por conta da Procissão de Nosso Senhor dos Passos. Em um ato de “protesto” conta a decisão da prefeitura, um bar do Centro decidiu fazer a “1ª Festa pela Estado Laico”, neste sábado.

Segundo a publicação da prefeitura feita no dia 1º de abril, “os bares, conveniências, mercados, restaurantes e similares localizados nas ruas especificadas a seguir, nos períodos de 20h00 às 21h30 do dia 05 de abril, e de 16h00 às 17h30 do dia 06 de abril do corrente ano, durante a Procissão do Nosso Senhor dos Passos, ficam sujeitos” ao fechamento integral e outras medidas similares.

A medida vale para os estabelecimentos localizados em sete ruas diferentes da região central. Todas as vias são próximas à Avenida Hercílio Luz, que também foi incluída no decreto.

O evento organizado em protesto ao decreto da prefeitura é promovido pelo Vodu Bar, que fica na Rua Victor Meirelles, uma das vias atingidas pela determinação de suspensão temporárias das atividades durante a procissão. Em anúncio divulgado nas redes sociais, o estabelecimento diz que “além de ferir a Constituição, essa medida cria concorrência desleal entre empresas e ataca diretamente a liberdade de expressão e de existência dos espaços que celebram a diversidade”.

Por conta disso, os donos resolveram fazer a festa que está marcada para começar às 21h30min deste sábado, justamente logo após o horário final estabelecido para o fechamento dos bares durante a cerimônia religiosa.

No decreto publicado no dia 1º, a prefeitura apontou três justificativas principais: 1 – “Considerando que a Procissão do Senhor dos Passos é Patrimônio Cultural Imaterial de Santa Catarina, conforme Decreto n. 2.504 de 2006, e tem o título de Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo IPHAN desde setembro de 2018”; 2 – “Considerando que a tradição de carregar a imagem do Senhor é marcada pela participação de fiéis que percorrem as ruas da cidade em um ato de fé e devoção”; e 3 – “Considerando o momento de festividade nos dias 05 e 06 de abril e a necessidade de garantir o sucesso, respeito a religiosidade, bem como a segurança da procissão”.

Fonte: https://www.nsctotal.com.br/colunistas/anderson-silva/bar-de-florianopolis-faz-festa-pelo-estado-laico-apos-decreto-da-prefeitura

Nota: o Brasil, dito país laico, ainda tem em seu calendário diversas festas religiosas, ligados ao Catolicismo. Aqui eu começo a campanha para que todos os bares façam mais festivais como esse. Dionísio/Baco agradece.

O livro que vivifica a morte

Por Marlon Marcos.

O antropólogo soteropolitano Fábio Batista Lima transita entre os principais estudiosos das chamadas religiões de matrizes africanas na Bahia e, por consequente atuação, de todo Brasil. Agora, apresenta, no formato de livro, o resultado de suas pesquisas desde 2012, quando iniciou seus estudos de pós-doutoramento na Universidade Federal da Bahia, onde também se graduou e se formou em bacharel e mestre em Ciências Sociais.

Este doutor em Estudos Étnicos e Africanos (CEAO-UFBA), é adepto do candomblé, Ogã de Oxum, no terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, e um habilidoso construtor de narrativas socioantropológicas que vão desde as experiências cotidianas no terreiro até possíveis etnografias sensoriais nos moldes de Paul Stoller. Professor da Rede Oficial de Ensino da Bahia, ensina em Nível Médio a disciplina Sociologia, cativando um bando de estudantes para o fazer sociológico.

Empenhado em fazer ciência na Bahia, como ele mesmo diz “sem bolsa, numa Academia restritiva, onde grande parte dos pesquisadores não tem o respeito e o incentivo necessário para dar prosseguimento aos seus estudos. A gente vai no desejo de fazer bem feito e publicar”.

Fábio Lima lança hoje, quarta-feira, a partir das 17h., no Museu de Arte Moderna da Bahia, o livro que traz o resultado de suas pesquisas de mais de 13 anos, supervisionadas pela professora da Ufba Mirian Rabelo. O livro Os iniciados no mistério não morrem: Axexê, ritos mortuários no candomblé (Ed. Contracorrente, SP), já chega referendado por especialistas como obra incontornável para os estudos sobre a ritualização da morte nos terreiros, que, nos candomblés nagôs, é chamada de axexê. A narrativa flui, nos convidando a conhecer o que o autor, fundamentado em relevante literatura antropológica, problematiza e disseca, as complexas camadas que fazem o fenômeno da morte no candomblé, sem ferir os caríssimos fundamentos que precisam ser salvaguardados no existir diverso das várias casas de santo em suas diferentes nações e transnações.

“Além da minha implicação como homem negro, baiano, do candomblé, estudei em meu doutorado, os sentimentos e as emoções no universo religioso dos terreiros, destacando a saúde mental. No fundo, não escolhi este tema, ele me escolheu, é um desdobramento do que já havia estudado, e na introdução explico que o axexê, Oyá, Santa Bárbara, me acompanham como intrigação desde criança, faz parte da minha memória mais remota”, conta o autor.

Fábio Lima destaca a importância dos orixás Oyá, Nanã e Omolu nos rituais de axexê, que segundo o autor pode ser traduzido como ancestral, ele também destaca a importância de Oxóssi, que na liturgia nagô seria o primeiro Axexê.

A importância desta obra repousa em aprofundamentos sobre o fenômeno da morte no candomblé, tratando da construção da entidade “egum”, o espírito do morto, e a sua convivência, a partir dos rituais, como uma entidade ancestral cultuada no cotidiano de sua comunidade espiritual. O texto do antropólogo nos faz crer que no candomblé, a morte é vivificada, é festejada, e elaborada como um “corpo-ausência” que passa a ser um corpo etéreo presente no mundo da vida dos sujeitos que compõem a comunidade do morto tornado egum.

Ao estudar a ritualística da morte nas religiões afro-brasileiras, o antropólogo perfila o muito das contribuições filosóficas das sociedades africanas que chegaram ao Brasil no desumano período da colonização e o seu processo de escravização dos corpos negros, indígenas e pobres.

A narrativa se filia à linguagem científica dos bons etnógrafos e nos mergulha em muitos momentos de fruição poética e de comoção socioexistencial por algumas difíceis experiências enfrentadas pelo autor ao longo da sua existência como um ser negro e gay, agredido pela homofobia desde criança. Perguntado sobre se a experiência nativa lhe foi maior do que a científica na escrita do livro, o autor sentenciou: ”Fiz uma antropologia e não uma teologia. Meu interesse foi entender a morte na cultura afro-baiana, em seus elementos religiosos, buscando exotizar o familiar, para descrevê-lo em suas camadas profundas, dialogando com autores que me permitissem este mergulho. Busquei a antropologia e o constrangimento que ela provoca. Me fiz perguntas que o nativo não faria por causa do seu envolvimento. E ainda assim, respeitei os fundamentos, então não faço nenhuma devassa sobre os mistérios desta religião”.

Pensar na morte como é tratada na sociologia do professor Fábio Lima, neste livro, nos leva ao entendimento da inexorabilidade deste fenômeno, entendendo-o como um rito de passagem sine qua non para o exercício da vida. O povo de santo afirma: os iniciados no mistério não morrem. Portanto, a morte não é o fim do sujeito. Ao morrer, o sujeito deixa de ser corpo físico, e é preparado para se tornar um corpo etéreo, que no candomblé nagô é chamado de egum. Egum, em analogia ao mundo católico, seria o espírito do morto. A obra discorre com desenvoltura e profundidade sobre o tema axexê, e vale ressaltar que a perspectiva da obra parte da experiência nagô, ainda que toque no chamado Mucondo dos congo-angolas e no Sirrum dos jejes, a força analítica da narrativa repousa no universo dos terreiros tradicionais conhecidos como de nação ketu ou nagô.

A linguagem poética é outro destaque. Nos faz imaginar melhor os fenômenos descritos e a perguntar: por que a esteira é a pele do chão? Lima responde que o chão é de suma importância para os cultos espirituais empreendidos pelo candomblé. A esteira, chamada de “eni”, cobre o chão para a iniciação das iaôs, e salvaguarda uma ligação espiritual indestrutível dos membros de uma casa de santo e seu legado ancestral. Os atabaques, as cabaças, os aguidavis. As comidas rituais, as danças específicas para as noites de axexê. As roupas brancas, as cabeças humanas encarnadas cobertas, a palha da costa, as moedas, as velas, a areia, o giz, o silêncio, tudo isso compõe o fazimento do egum, sua transformação em ser ancestral de uma família espiritual que pode ser consanguínea ou não.

“Trago aqui a narrativa da minha memória, de linhas que cruzam experiências, seres invisíveis dotados de força e sua conexão ao ritual do axexê. E o axexê é um evento nos candomblés no qual, ao mesmo tempo que se vive um presente, projeta-se um futuro para o terreiro, mas se resgata, valoriza e enaltece um tipo ideal de passado. A minha afeição ao axexê está ligada às minhas memórias, o que me ajudou a chegar a este texto dos ritos fúnebres do candomblé. Foi como se os tambores, cabaças, ixãs, entre outras coisas sagradas, e a Iansã dialogassem comigo a todo tempo da escrita e me apelassem para escutá-los”, conta, na introdução.

O prefácio da grande professora Miriam Rabelo, banhada em tantas teorias, referenda: “Não preciso mais justificar por que considero o livro de Fábio uma leitura fascinante e indispensável para estudiosos e curiosos do mundo das práticas de matriz africana”.

Fonte: https://atarde.com.br/cultura/ritualizacao-da-morte-no-candomble-e-tema-de-livro-com-lancamento-hoje-1312825

domingo, 6 de abril de 2025

Enfiando o pé na jaca

For what is a man, what has he got?
If not himself, then he has naught
To say the things he truly feels
And not the words of one who kneels
The record shows I took the blows
And did it my way
- My Way, Frank Sinatra.

John Beckett escreveu:

"Os caminhos deles não são os nossos."

O que não explica é qual a relação disso com a prática mística e estática.
E por que John comentou sobre a experiência estática de Tereza de Ávila, um curioso testemunho de que o Cristianismo parece uma mistura de sadismo e masoquismo.

Segundo John, essa é a descrição da experiência da Tereza:

"Vi em sua mão uma longa lança de ouro, e na ponta parecia haver um pequeno fogo. Ele me pareceu estar empurrando-a às vezes em meu coração, e perfurando minhas próprias entranhas; quando ele a retirava, parecia retirá-las também, e me deixar todo em chamas com um grande amor a Deus. A dor era tão grande, que me fez gemer; e ainda assim tão insuperável era a doçura dessa dor excessiva, que eu não conseguia desejar me livrar dela..."

Mas esta é um dos muitos caminhos que a humanidade traçou para entender e se relacionar com o divino.
Então qual é o caminho dos Deuses?
Lembrando que "way" também pode ser traduzido como "jeito", "maneira" e "modo".
Resumindo, como fazem as coisas acontecerem.

Essa é a pergunta que todos fazem quando entram em um avião. Quem está na direção?
Mas acidentes podem acontecer até quando se anda a pé.

Tem um ditado que diz "shit happens". Eu acho muito engraçado o ateu, o descrente, quando critica a religião (reduzido e simplificado para Igreja e Cristianismo), parece um floquinho de neve sensível questionando o motivo da dor e do sofrimento do mundo.
Tem uma letra de música que diz "you bleed just to know you're alive". Mas a insegurança do ateu em saber o "por quê" pode cair em outro pensamento preguiçoso.

“Tudo acontece por uma razão.”

“Tudo faz parte do plano de Deus.”

“O Universo tem algo melhor para você.”

Isaac Newton definiu uma das regras da física de que para toda ação existe uma reação na mesma intensidade, mas em sentido contrário. E isso pode ser interpretado de forma mística.

Segundo John:

"Aqui está a parte mais difícil de aceitar que sim, a vida é aleatória e não, não há um significado profundo por trás de tudo que acontece com você. Isso força você a aceitar que o mundo não gira em torno de você. Ou em torno de nós como humanos."

Talvez vale a pena lembrar que Fortuna é uma Deusa.

Mas realmente nem sempre vale a pena carregar o fardo de achar que a culpa é sua. Ou nos casos mais graves, achar que a culpa é sempre dos outros.

E nós somos péssimos em nos relacionar. Nós provocamos dor e sofrimento em nossa espécie, nas outras formas de vida e no ambiente.

Então falar que é"coincidência" ou algo casual é... ingenuidade. Não existe coincidência. Nada é aleatório. Pode não ser agradável, mas nós não somos o centro do mundo, da vida ou de existência.

Os Deuses são Deuses dos homens, mas também dos animais e da natureza. Nós podemos ser importantes, mas não somos os únicos, nem os favoritos.

Eu estou como um náufrago, tentando sobreviver e achar um propósito para a minha vida, mas essa é a minha história. Eu não vou desistir nem ter medo. Porque o que realmente faz a diferença no final é o como e o quê você fez diante dos desafios.

sábado, 5 de abril de 2025

Feliz Veneralia


A Veneralia era um antigo festival romano realizado anualmente em 1º de abril em homenagem a Venus Verticordia (“ Vênus, a Transformadora de Corações ”) e Fortuna Virilis (“ Fortuna Viril ”). Dedicado principalmente a Vênus, a deusa do amor, beleza, fertilidade e desejo, o festival também prestava homenagem a Fortuna, a deusa da sorte e fortuna. Estátuas de Vênus eram ricamente adornadas com rosas, murta, joias e outras oferendas luxuosas, e o dia também era marcado por atos de reconciliação entre amantes ou cônjuges.

Vênus Verticordia era invocada para obter assistência em questões de amor, fidelidade e beleza, enquanto Fortuna Virilis era solicitada para dar boa sorte nos relacionamentos, com a esperança de que os homens ignorassem as imperfeições.

Veneralia continua a ser celebrada por algumas tradições pagãs e praticantes solitários. Suas observâncias frequentemente ecoam práticas tradicionais, como banhos rituais e oferendas de flores, incenso e comida a Vênus. Orações ou invocações são feitas para melhorar relacionamentos românticos, beleza ou amor-próprio.

Os praticantes podem se concentrar em temas de amor, beleza, criatividade e reconciliação, muitas vezes adaptando elementos tradicionais para atender às crenças e necessidades individuais. Seja por meio de banhos rituais, expressão artística ou orações meditativas, a Veneralia continua a inspirar aqueles que honram Vênus hoje. Como Vênus também é associada às artes, muitos praticantes dedicam o dia à criação de arte ou poesia, bem como se envolvem em rituais de beleza. Além disso, o festival serve como uma oportunidade para reconciliação com entes queridos ou renovação de compromissos românticos, mantendo o espírito de unidade social e renovação pessoal que caracterizou a celebração original.

Fonte: https://wildhunt.org/2025/04/pagan-community-notes-week-of-april-3-2025.html

Traduzido com Google Tradutor.

Abril está sob a proteção de Vênus, e alguns autores antigos derivaram o nome do mês de Afrodite (talvez por meio de uma conjectura etrusca, Aprodita); outros o derivam de aperire (abrir), pois é a época em que, de acordo com Cincius e Varro, "frutas, flores, animais, mares e terras se abrem".

A Veneralia, no primeiro dia do mês de Vênus, honra Vênus Verticordia (Changer of Hearts) e sua companheira Fortuna Virilis (Fortuna Ousada). Nos tempos antigos, todas as mulheres, casadas e solteiras, iam aos banhos masculinos, como hoje podem ir às piscinas. Ao chegar, elas oferecem incenso a Fortuna Virilis e rezam para que os homens não vejam nenhuma mancha que as mulheres possam ter. Elas fazem uma libação e bebem a poção que Vênus bebeu em sua noite de núpcias: papoula triturada com leite e mel. Um comentário antigo (provavelmente de Verrius) diz que elas vão aos banhos para ver os membros viris dos homens. As mulheres, coroadas com coroas de murta, banham-se e rezam para que Vênus lhes traga concórdia e uma vida modesta. Ovídio diz: "beleza, fortuna e boa fama estão sob Sua guarda".

Além disso, as mulheres removem as joias e outros ornamentos das estátuas de Vênus e Fortuna para que possam ser lavadas, após o que são redecoradas e adornadas com rosas (flor de Vênus). [OF IV.133-64; SFR 96-7]

Fonte: https://web.archive.org/web/20051204060858/http://www.cs.utk.edu/~mclennan/BA/SF/SprEq.html#veneralia

Traduzido com Google Tradutor.

A natureza dos seres humanos


Os seres humanos (cristãos) fizeram um conclave só para decidir a natureza de Cristo e de Deus (na concepção cristã).


John Beckett escreveu:

"Imagine, se quiser, um conclave de gatos reunidos para discutir e debater a verdadeira natureza dos humanos."

Tem uma piada que envolve um cachorro, um gato e um ser humano.

No pensamento do cachorro, o ser humano cuida e alimenta ele, então o ser humano é Deus.

No pensamento do gato, o ser humano cuida e alimenta ele, então ele (o gato) é Deus.

Escreva uma paródia e uma sátira aos conclaves da Igreja Católica, contando como seria esse conclave dos gatos discutindo a natureza do ser humano.

Em um palácio de almofadas e arranhadores, envolto em um aroma de atum e erva-dos-gatos, os mais veneráveis felinos do mundo se reuniram para um conclave de proporções épicas. A questão em pauta: a verdadeira natureza dos Seres de Duas Pernas, os misteriosos provedores de comida e carinho.

O Cardeal Bigodes, um persa de olhar penetrante, abriu a sessão com um discurso inflamado: "Meus irmãos, por eras, contemplamos esses seres estranhos. Eles nos alimentam, limpam nossas caixas de areia e nos oferecem afagos. Mas qual é a sua essência? Qual o seu propósito?"

O Cardeal Rabo-Listrado, um siamês de voz melodiosa, ergueu uma pata: "Eu proponho que eles sejam servos divinos, enviados para satisfazer nossos desejos. Afinal, quem, senão um ser superior, dedicaria sua vida a nos servir?"

A Cardeal Pelúcia, uma maine coon de porte majestoso, discordou: "Servo? Que absurdo! Eles são meros autômatos, programados para nos obedecer. Seus miados e ronronados são apenas reflexos de nossos comandos."

O debate se acalorou. Alguns defendiam que os Seres de Duas Pernas eram entidades benevolentes, outros os viam como meros instrumentos de prazer. O Cardeal Ronrom, um filhote curioso, ousou perguntar: "E se eles forem... como nós?"

A sala silenciou. A ideia era tão absurda que nenhum gato ousava sequer considerá-la. Afinal, como seres tão desprovidos de elegância e independência poderiam se comparar à nobreza felina?

Após dias de discussões acaloradas, o conclave chegou a um consenso: os Seres de Duas Pernas eram criaturas complexas, com uma natureza dual. Ora servos dedicados, ora meros objetos de entretenimento. Mas, acima de tudo, eram seres inferiores, destinados a servir à glória felina.

Com um ronronar unânime, os cardeais selaram o veredicto. A partir daquele dia, os Seres de Duas Pernas seriam conhecidos como "Os Provedores", e sua única missão seria garantir a felicidade e o bem-estar dos verdadeiros senhores do universo: os gatos.

Criado com Gemini, do Google.

sexta-feira, 4 de abril de 2025

Deuses, homens e animais

Autor: John Beckett.

O antigo filósofo grego Xenófanes disse:

Mas se o gado, os cavalos e os leões tivessem mãos ou pudessem pintar com as mãos e criar obras como os homens fazem, cavalos como cavalos e gado como gado também representariam as formas dos Deuses e fariam seus corpos de um tipo semelhante à forma que eles próprios têm.

(Nota da casa: uma falácia de "petição de princípio muito usada pelos ateus)

Ainda tendemos a assumir que os Deuses se parecem conosco. E frequentemente assumimos que Eles pensam como nós. Em nossa época, a escritora cristã Anne Lamott disse:

Você pode seguramente assumir que criou Deus à sua própria imagem quando descobre que Deus odeia todas as mesmas pessoas que você.

No entanto, como politeístas, reconhecemos que isso nem sempre é verdade. Alguns dos nossos deuses não são à nossa imagem.

É mais evidente no Egito, onde muitas das divindades têm cabeças de animais não humanos. Hórus é retratado como um falcão, ou como um homem com cabeça de falcão. Thoth tem cabeça de íbis, Anúbis, cabeça de chacal, e Sekhmet, cabeça de leoa.

A deusa babilônica Tiamat é geralmente retratada como uma serpente marinha.

Algumas das tradições europeias têm deuses com chifres ou galhadas, como Pan ou Cernunnos. E enquanto a Morrigan é mais frequentemente retratada como uma mulher humana, ela se transforma em uma vaca, uma enguia, um lobo e um corvo.

A explicação acadêmica típica para essas representações é que os artistas queriam ilustrar como uma divindade em particular tem as características de um animal em particular: Sekhmet é feroz e Anúbis limpa os mortos. Há quase certamente um aspecto de reciprocidade (e de magia simpática) na representação de Deuses como animais que são caçados – se honrarmos o Deus Cervo, Ele trará os cervos para nossa caça. Há alguma verdade nessas explicações.

Uma coisa é certa: as verdadeiras formas dos Deuses estão além do nosso conhecimento, e provavelmente além da nossa capacidade de saber. Que é o ponto principal que Xenófanes estava tentando fazer, diferentemente daqueles que se apropriaram dele como uma espécie de proto-monoteísta.

No entanto, como politeístas que adoram os Deuses não inteiramente humanos como seres reais, distintos e individuais, há outra explicação possível: essas são as formas nas quais Eles escolheram revelar-Se. Se esse é o caso — e eu acredito que é — o que isso nos diz?

Um dos epítetos de Cernunnos é Senhor dos Animais. Este é um epíteto moderno – não sabemos praticamente nada sobre como Ele era compreendido e adorado nos tempos antigos. Ainda assim, dada a pintura rupestre O Feiticeiro na Caverna de Trois-Frères na França (de cerca de 13.000 a.C.), a arte do Caldeirão Gundestrup (de cerca de 100 a.C.) e os numerosos relatos de UPG contemporâneos (incluindo o meu próprio), esse título parece razoável e apropriado.

O Senhor dos Animais não entrega meramente animais aos humanos para serem usados como alimento. Ele tanto governa as forças geradoras da Natureza quanto as personifica (lembre-se de que há pessoas humanas e pessoas não humanas). Ele é o Deus de todas as pessoas, não apenas dos humanos.

Não acredito que outros animais adorem os Deuses como nós, como às vezes é retratado nas histórias do “Primeiro Natal” de animais adorando o menino Jesus. Isso é muita antropomorfização para o meu gosto. No entanto, eu não ficaria surpreso em descobrir que algumas espécies o fazem, como golfinhos, elefantes e corvídeos. Mas se um Deus tem responsabilidade por um aspecto particular da Natureza, é lógico que Eles terão um relacionamento com as pessoas que compõem esse aspecto – e essas pessoas terão um relacionamento com Eles.

Não temos relacionamentos exclusivos com nossos Deuses. Os Deuses dos humanos são os Deuses de outras espécies também.

Se nossos Deuses também são os Deuses deles, não temos razão para esperar que Eles nos prefiram aos coelhos e esquilos, ou aos lobos e ursos.

O cristianismo defende a Imago Dei – que somente os humanos são feitos à imagem de seu Deus. No entanto, além da combinação de linguagem e polegares opositores, o que temos que outras espécies não têm? Compartilhamos 96% do nosso DNA com chimpanzés e bonobos, que são mais intimamente relacionados a nós do que aos gorilas. Somos a espécie mais poderosa deste planeta – se somos os mais sábios é outra questão completamente diferente. Nosso poder – do qual frequentemente abusamos – não nos dá direito a nenhum favor especial dos Deuses.

Que os Deuses dediquem atenção a nós nos lembra que somos importantes para Eles, e que podemos formar relacionamentos com Eles que sejam mutuamente respeitosos e mutuamente benéficos. Mas nunca sejamos tão arrogantes a ponto de acreditar que somos sua única ou mesmo sua principal preocupação.

Eu regularmente me deparo com comentários de pagãos que dizem coisas como "os humanos são uma infecção na Terra que deve ser exterminada!" Agora, eu entendo e aprecio o dano que nossa espécie causou à Terra. Houve cinco extinções em massa na história do nosso planeta. Estamos no meio da sexta e, ao contrário das cinco primeiras, esta é quase inteiramente devido à atividade humana. Há mudanças significativas que precisamos fazer, algumas no nível individual e muitas mais no nível social.

Mas cada uma das sete bilhões e meia de pessoas vivas hoje são pessoas de valor inerente e mérito que, quaisquer que sejam seus pecados, não merecem a morte e a extinção. Quando ouço pessoas desejando que nossa espécie morra, o que realmente ouço é "é mais fácil desejar a morte de bilhões de pessoas do que trabalhar minha culpa católica e/ou calvinista, da qual não estou realmente ciente, porque a autorreflexão é difícil e assustadora".

Você não sai tão fácil assim. Nós não saímos tão fácil assim. Nós fizemos uma bagunça e vamos ter que limpar. Quanto mais cedo começarmos, mais cedo estará pronto.

Não somos o centro do universo. Não somos sua cabeça. Não somos nem mesmo os filhos favoritos dos Deuses.

Em vez disso, somos uma parte do mundo vivo. Somos os parentes biológicos de todas as espécies neste planeta, e somos os parentes espirituais de todas as pessoas em todos os reinos. Nossa parte é importante, valorizada e sagrada. E assim é cada outra parte.

Louvado seja os Deuses Animais e os Deuses dos Animais!

Fonte: https://www.patheos.com/blogs/johnbeckett/2018/09/animal-gods-gods-of-the-animals.html

Nota: com frequência, o ateu, o descrente, quando critica a religião (generalizando e reduzindo à Igreja e Cristianismo) parece um floquinho de neve sensível, questionando por que existe tanto sofrimento no mundo e na vida...🤭😏

quinta-feira, 3 de abril de 2025

A música dos Deuses


Arqueólogos reconstruíram um aulos — instrumento de sopro essencial na vida religiosa e social da Grécia Antiga — a partir de fragmentos descobertos em Selinunte, antiga cidade da Magna Grécia no sudoeste da Sicília. 

Fundada no século VII a.C. por colonos de Megara Hyblaea, segundo o historiador Tucídides, Selinunte abriga um santuário urbano onde os artefatos foram encontrados.

As peças, localizadas no Templo R, datam do século VI a.C. e pertencem ao modelo "tipo antigo", compatível com exemplares da Grécia continental e de colônias ocidentais.

Especialistas acreditam que o instrumento era usado em rituais dedicados a Deméter, deusa grega da agricultura e fertilidade.

Integrado ao projeto TELESTES, a musicóloga Angela Bellia empregou escaneamento digital para reproduzir o aulos em 3D, permitindo análises estruturais e acústicas inéditas. A descoberta amplia o entendimento sobre a cultura musical na Antiguidade.

“Esses dados e comparações nos ajudarão a aumentar nosso conhecimento da música grega antiga, particularmente na pólis ocidental de Selinus, onde a importância das atividades instrumentais e corais é indicada pela descoberta de instrumentos musicais e outros objetos sonoros, juntamente com esculturas, vasos pintados e estatuetas de terracota de santuários e necrópoles que apresentam representações musicais”, disse Beliia.

Fonte: https://revistaforum.com.br/historia/2025/3/28/musica-dos-deuses-cientistas-descobrem-surpreendente-instrumento-da-antiguidade-176524.html

Nota: em um mundo ateu, nem o instrumento nem a música seriam possíveis...😤🤭😏

quarta-feira, 2 de abril de 2025

Sem liberdade nos EUA

Uma tentativa de realizar uma “missa negra” dentro do Capitólio do Kansas (EUA) gerou tumulto e levou à prisão de quatro pessoas na sexta-feira (28). O evento, planejado para adorar o diabo em vez do Deus cristão, desencadeou uma briga no local, causando grande confusão entre os participantes e resultando na interrupção forçada da cerimônia.

Cerca de 30 membros de um grupo chamado Satanic Grotto, liderados por Michael Stewart, se reuniram na área externa do edifício para protestar “contra o favoritismo do Estado em relação aos cristãos”. O objetivo, segundo eles, era defender a separação entre Igreja e Estado e contestar a permissão para eventos religiosos no interior do Capitólio.

A concentração provocou a reação imediata de centenas de cristãos que se posicionaram do outro lado de uma faixa de isolamento policial. Enquanto integrantes do grupo gritavam palavras de ordem, “os cristãos respondiam com cânticos e pedidos para que aceitassem Jesus”, relatou um oficial presente no local.

“A Bíblia diz que Satanás vem para roubar, matar e destruir, então quando dedicamos um estado a Satanás, estamos dedicando-o à morte”, declarou o pastor Jeremiah Hicks, da Igreja Cure. Em resposta, membros do grupo satânico afirmaram ter crenças variadas: “Alguns de nós são ateus, outros protestam contra danos sofridos na Igreja, e há quem veja Satanás como um símbolo de independência”.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/culto-para-adorar-o-diabo-dentro-do-capitolio-do-kansas-causa-confusao-generalizada/

terça-feira, 1 de abril de 2025

Pontes de diálogo

Baseado no texto:

"Fato número dois: a esquerda surgiu historicamente assentada em pilares laicos, antirreligiosos - anticlericais, mais precisamente – e a maior parte de suas correntes (os católicos progressistas surgidos na América Latina nos anos 1960 foram exceções à regra geral) tem dificuldade em se relacionar com as religiões e as instituições que as representam. Sua história está perpassada de conflitos com elas, muitas vezes sangrentos. Os fundamentos filosóficos esquerdistas, vindos do Iluminismo, da ciência, dificultam lidar bem com deuses e seus autodenominados representantes terrestres, mesmo quando fazem um esforço sincero nesse sentido.

Fato terceiro: nós, a raça humana, temos uma necessidade atávica de deuses e religiões, seja para tentarmos dar um sentido à vida, seja por questões de sobrevivência. Desde a aurora da humanidade nós usamos as crenças como formas de fortalecer os vínculos da tribo, combater ameaças externas ou tentar curar membros doentes do grupo (como argumenta Robin Dunbar em “How Religion Evolves And Why it Endures”, Pelican Books, 2022). Para não falar do controle da sociedade pela elite, que sempre teve nas crenças religiosas uma de suas principais ferramentas.

Precisará a esquerda brasileira fazer um esforço real de associar-se a alguma religião (a algum ramo protestante, por exemplo) para voltar a ser competitiva e poder fazer avançar a sua agenda? Será esse um dos preços a pagar – depositar oferendas para os deuses, como se fazia no mundo antigo – para voltar a ter condições de vencer a guerra? E, finalmente, estarão os membros da esquerda dispostos a isso?"

Escreva uma análise crítica, apontando para o erro em simplificar e limitar "religião " para Igreja e Cristianismo, sem considerar outras crenças, como as religiões de matriz africana e as crenças do Paganismo Moderno.

A análise do texto revela uma perspectiva que, embora pertinente em alguns aspectos, apresenta uma simplificação problemática ao equiparar "religião" exclusivamente ao Cristianismo e suas instituições. Essa visão limitada ignora a rica diversidade do cenário religioso brasileiro, caracterizado pela presença marcante de religiões de matriz africana, como o Candomblé e a Umbanda, e de crenças do Paganismo Moderno, que vêm ganhando visibilidade.

Ao focar apenas na relação entre a esquerda e as instituições cristãs, o autor negligencia o potencial de diálogo e aliança com outras tradições religiosas, que também possuem valores e princípios relevantes para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

As religiões de matriz africana, por exemplo, carregam consigo uma profunda conexão com a natureza, a valorização da ancestralidade e a defesa da justiça social, temas que ressoam com os ideais de esquerda. Da mesma forma, o Paganismo Moderno, com sua ênfase na liberdade individual, na tolerância e na celebração da diversidade, pode oferecer pontos de convergência com os valores progressistas.

Ao ampliar o escopo da análise para além do Cristianismo, a esquerda brasileira pode encontrar novos caminhos para fortalecer sua base de apoio e ampliar seu diálogo com diferentes setores da sociedade. Essa abertura para a diversidade religiosa pode enriquecer o debate político e contribuir para a construção de um país mais inclusivo e plural.

Além disso, é importante ressaltar que a relação entre esquerda e religião não precisa se restringir a alianças institucionais. É possível construir pontes de diálogo e cooperação com indivíduos e grupos religiosos que compartilham valores progressistas, independentemente de sua filiação institucional.

Em suma, a análise crítica do texto revela a necessidade de uma abordagem mais ampla e inclusiva da relação entre esquerda e religião, que reconheça a diversidade do cenário religioso brasileiro e explore o potencial de diálogo e aliança com diferentes tradições e grupos religiosos.

Criado com Gemini do Google.

segunda-feira, 31 de março de 2025

A extrema direita cristã em Moçambique

Por José de Sousa Miguel Lopes.

Tirando a primeira década de independência, assistiu-se em Moçambique, nas últimas quatro décadas, a um progressivo aumento da pobreza (ver aqui). O país enquadra-se, certamente, na previsão feita recentemente pela revista The Economist que aponta para o aumento da lacuna econômica entre a África e o resto do mundo. Segundo a The Economist, até 2030 estima-se que os africanos representarão mais de 80% dos pobres do mundo.

Tentar sair desse empobrecimento, desse caminho perigoso, exige políticas radicalmente diferentes das adotadas até ao momento. Torna-se imperativa uma verdadeira mudança e a implementação de justiça social. Para o efeito, em momentos de crise tão profunda como a que está ocorrendo, Moçambique precisa estar atento e tentar se resguardar da onda ultradireitista que se está ampliando pelo globo. Com efeito, líderes populistas proliferam como cogumelos após forte chuvada, apresentando-se como Salvadores da Pátria. Alimentados por falsas narrativas, anunciam, com a maior desfaçatez, a eliminação rápida de todas as mazelas. No entendimento de Ferrajoli (2025):

Estamos assistindo a uma mutação do próprio capitalismo neoliberal, que até agora devastou a esfera pública e submeteu a política à economia, mantendo, contudo, a separação formal entre as duas esferas. O fenômeno Musk sinaliza uma involução adicional: uma espécie de regressão pré-moderna ao estado patrimonial da época feudal, quando a política não tinha se separado da economia como esfera pública acima dela. Hoje estamos diante do direto governo privado e, ao mesmo tempo, global de setores fundamentais da vida civil e pública. Como se trata de um governo privado, ele também consiste em um poder absoluto. Esfera pública, separação de poderes e direitos fundamentais são conceitos estranhos a ele e incompatíveis com ele.

A nova direita global, que tem uma visão imperialista, mas tem como líder não uma nação, mas um homem fabulosamente rico: Elon Musk. Trump será imperador por quatro anos. Mas o império de Musk está apenas começando, e durará muito mais. Se os liberais não souberem se unir, a Internacional reacionária poderá fazer da democracia uma curiosa recordação.

Em várias partes do mundo, governos progressistas assumiram o poder, mas sem possuírem uma estratégia clara para reconstruir suas sociedades a partir dos restos do neoliberalismo. Muitas vezes, não têm um programa político concreto capaz de superar tal regime de forma contundente. Incapazes de desenvolver uma política que rompa totalmente com o neoliberalismo, muitos desses governos progressistas voltam à imobilidade neoliberal.

Nos últimos cinquenta anos, durante o auge do Consenso de Washington, a maioria das nações mais pobres, como Moçambique, caiu em ciclos de dívida e austeridade, altas taxas de pobreza e profundo desespero.

É neste quadro que a extrema-direita se encontra em ascensão eleitoral no mundo. Sua máxima expressão, Donald Trump, ocupa o cargo mais poderoso do planeta. A direita passou a fazer intensa (des)educação política do povo. As forças progressistas perderam a capacidade de promover grandes mobilizações populares diante da falta de educação política do povo, da excessiva burocratização dos partidos progressistas, da perda de referências históricas. Essa extrema direita fala em nome do povo, mas não constrói políticas que ajudem o povo.

Quando esses partidos políticos chegaram ao poder, não romperam fundamentalmente com o consenso neoliberal, já que a maioria deles continuou a adotar as políticas de desregulamentação empresarial, austeridade social e compromisso com o mercado. Esses partidos não adotaram políticas fortes de protecionismo econômico e bem-estar social.

Essa extrema direita rompeu com o liberalismo social e com formas de libertarianismo convencional com sua religiosidade fortemente conservadora (antiaborto, antifeminismo, homofobia e transfobia) e tradicionalismo geral (seu enraizamento na família nuclear patriarcal e na Igreja, que se transpôs para uma crença no forte líder masculino na sociedade).

Essa extrema-direita, com muita frequência, assume carácter fascizante. Saliente-se que a palavra “fascista” assumiu uma carga moral, que é útil para fins eleitorais, mas não para entender adequadamente a extrema direita. Essa extrema direita não apareceu, como o fascismo fez cem anos atrás, para derrotar as lutas da classe trabalhadora e o movimento comunista, nem tem qualquer problema com as instituições formais da democracia. Tanto os fascistas italianos quanto os alemães queriam suspender os sistemas democráticos e eleitorais e usar todo o aparato repressivo do estado para dizimar o movimento dos trabalhadores e as instituições comunistas. Nenhuma ameaça desse tipo enfrenta atualmente o capitalismo.

No caso específico dos Estados Unidos, a eleição de Trump, um protofascista egomaníaco, como dirigente no país mais poderoso do mundo não pode deixar de ser um alento à ultradireita de todo o mundo, como se viu, por exemplo, no primeiro mandato quanto às relações entre Trump e Bolsonaro.

As débeis forças progressistas, acuadas pelo fundamentalismo religioso, sobretudo, de Venâncio Mondlane, dotado de inegável poder eleitoral, ainda não sabem como enfrentar esse desafio. Um governo que, a partir de agora, pretendesse seguir uma política progressista precisaria encontrar uma estratégia que se pudesse contrapor ao fenômeno do conservadorismo religioso, cujo impacto cultural e político é significativo. O eventual fracasso da extrema direita forneceria uma tremenda oportunidade para os progressistas — contanto que estivessem preparados para assumir a responsabilidade. Infelizmente, parecem ser poucas as esperanças para que os progressistas tenham condições de aproveitar essa oportunidade.

Em Moçambique estamos agora em presença de um conflito entre duas direitas: a frelimista, de Daniel Chapo e a personificada por Venâncio Mondlane, embora esta última seja uma clara extrema-direita

A juventude moçambicana e seus desafios

Vemos hoje adolescentes e jovens perdidos, que adotam ideologias que os fazem sentir que têm um lugar no mundo. Os poderes mais miseráveis manipulam-nos em relação às suas necessidades, à solidão e àquela falta de identidade, de saber quem é, de se sentir acompanhado, de pertencer a alguma coisa.

O eleitor em geral e os jovens em particular, desprovidos de consciência de classe, de relações corporativas (como as sindicais) e imunizados pelos impactos da grande mídia graças às suas bolhas digitais, buscam eleger quem lhes possa garantir um lugar ao sol na praia das oportunidades. Na falta de referências revolucionárias eles votam pensando, primeiro, na prosperidade individual, e não na coletiva.

Esses eleitores pobres manifestam seu inconformismo ao dar apoio aos que ostentam a bandeira da “antipolítica”. Decepcionados com os políticos tradicionais, preferem os arrivistas, os messiânicos, os que ousam contrariar o perfil da institucionalidade política e se glamourizam pelo histrionismo.

A juventude, que tem participado massivamente nas revoltas contra as políticas da Frelimo, está demonstrando seu justo e profundo descontentamento. Como silenciar a alta de desemprego, a fome, a ausência de perspectivas entre muitos outros problemas? Num quadro desta natureza, em que tudo se faz urgente, um perigo pode rondar a genuína vontade de mudança. A juventude moçambicana, com justa razão, apresenta-se bastante agressiva e impaciente. No entanto, como aponta o Editorial do Savana, um dos principais jornais moçambicanos:

A volatilidade da sociedade moçambicana é simplesmente impressionante: a obediência quase que canina com que cidadãos acatam ordens para a desobediência civil, resultando numa revolta de carácter violento de saque, mortes em massa e destruição de propriedade, é típica de um ambiente em que de tão descomandadas e desesperadas, as pessoas já não têm tempo nem espaço para pensar que o que estão a destruir hoje, lhes fará imensa falta no dia seguinte. A intensidade da violência contra seus semelhantes mostra um nível de desumanidade de pessoas que de tanto terem sido desumanizadas elas próprias, perderam qualquer grão de respeito pela vida humana. A manipulação pública, inerente a regimes de inspiração autocrática, só contribui para adensar ainda mais os níveis de violência. (Savana, 03/01/2025).

Neste cenário, será a juventude tão conhecedora das questões políticas, ideológicas, históricas e dos nebulosos meandros da situação que neste momento perpassa o tecido social moçambicano? Será que ela tem um mínimo de conhecimento sobre questões geopolíticas e como elas interferem ou podem vir a interferir no processo moçambicano? Será que ela sabe quem é Trump e Bolsonaro, ambos cultuados por Mondlane? Se não sabem é grave, mas se sabem é mais grave ainda. Conhecem o líder da extrema direita André Ventura, único dirigente partidário português com quem Mondlane se encontrou na sua campanha? E o argentino Javier Millei, o mais feroz defensor de Israel na América Latina? Ou então, ignorando tudo isso, entra de cabeça no anúncio que lhe fazem de que agora tudo vai mudar para melhor, sustentada no argumento de que “pior não pode ficar”.

Venâncio Mondlane e Daniel Chapo: os perigos do evangelismo conservador e da teoria do domínio

Os dois principais opositores na recente disputa eleitoral são evangélicos. Venâncio Mondlane é pastor e na sua campanha difundiu aberta e fortemente suas posições religiosas fundamentalistas (para mais informações sobre estas suas posições veja aqui). Daniel Chapo, que foi empossado no dia 15/01/2025 “escondeu”, durante sua campanha, seu lado evangélico. Ele pertence à IURD (Igreja Universal do Reino de Deus), a famosa congregação do bispo brasileiro Edir Macedo. Só agora, na tomada de posse e nos dias subsequentes, decidiu revelar esse seu lado evangélico difundindo fotos onde aparece ajoelhado e orando e também participando em entrevistas onde manifesta sua filiação e suas crenças.

Sentindo-se acossado pela forte religiosidade do seu opositor Venâncio Mondlane e das multidões de apaniguados que o seguem, Daniel Chapo tenta mostrar que também segue os preceitos de Deus, afim de ganhar simpatizantes. Começou timidamente se ajoelhando entre muros, mas deve ter percebido que precisa de escancarar em público seu lado evangélico. Só que é uma luta desigual neste campo. Daniel Chapo está a lutar contra um pastor e seu vasto rebanho já consolidado e ele só agora descobriu que deveria copiar o pastor para tentar trazer para seu lado, alguns indecisos. Repito, no campo religioso, parece-me que para Daniel Chapo é uma batalha perdida.

Assim, o que parece estar a emergir em Moçambique é o evangelismo conservador, uma versão reacionária do cristianismo. O horizonte político moçambicano parece estar a dar os primeiros passos para mergulhar mais fortemente numa visão de mundo que se está espalhando por todo o planeta através das missões que as organizações evangélicas estadunidenses exportam para muitas partes do mundo. São mensagens populares apoiadas em agressivas campanhas de penetração em comunidades locais, através de redes sociais, rádios, televisões e publicações por onde difundem seu credo para dominar o mercado religioso.

E agem com astúcia, combinando as tradições patriarcais com as agendas nacionalistas locais mais retrógradas. Querem restaurar um país e ordenar a sociedade segundo as leis de Deus. Isto se traduz em uma ênfase hierárquica da autoridade masculina e uma política baseada “na lei e na ordem”.

São pessoas que se opõem aos direitos de gays, lésbicas, bissexuais e transexuais, ao aborto, à imigração, à redistribuição de renda e a qualquer tentativa de abordar as desigualdades sociais, pois apoiam sem rodeios o capitalismo de livre mercado. Também são muito propensos a negar a existência do racismo.

Além disso, enquanto muitos defendem a democracia liberal, o evangelismo conservador está cada vez mais inclinado a tendências autoritárias. Apoiam as lideranças fortes, mostram muito pouca preocupação com a supressão de direitos civis e acreditam que a violência política pode ser justificada se é para proteger sua visão do que deve ser um país. Venâncio Mondlane expressa, com clareza, sua posição quanto ao uso da violência política:

No dia 18/01/2025, uma das 25 medidas propostas pelo líder opositor Venâncio Mondlane para os primeiros cem dias de governação em Moçambique é mandar matar um polícia por cada manifestante morto. Recorre, assim, à Lei de Talião do Antigo Testamento: “Chamem-me agitador: o povo está sendo morto!”, afirma ele. (RODRIGUES. 17/01/2025)

Dominam com habilidade a tecnologia moderna para disseminarem mensagens e são incrivelmente acolhedores quando as pessoas entram pela porta de sua igreja desencantadas com um Estado que não lhes oferece qualquer resposta.

Os evangélicos oferecem um senso de comunidade e identidade a seus fiéis, em uma época caracterizada pela incerteza econômica e de mudanças culturais. São formados na crença divina da prosperidade, que promete sucesso aos seus adeptos, tanto neste mundo como no próximo.

Transmitem a ideia de que se alguém é “obediente” e busca a bênção de Deus, receberá sua recompensa na forma de felicidade pessoal e sucesso financeiro.

Misturam habilmente a caridade com a evangelização. Distribuem refeições gratuitas, elaboram programas extraescolares e oferecem ajuda individual à margem das políticas estatais contra a pobreza e a desigualdade. Venâncio Mondlane já participou nesse tipo de atividade.

Aproveitam-se da devoção de seus seguidores para se apresentarem como a única opção política realmente cristã.

Há uma grande quantidade de dinheiro por trás dessas igrejas, suas redes e organizações, que reúne destacados pastores que se aliam a bilionários para obterem elevadas doações privadas. Por outro lado, milhares de evangélicos em vários lugares do mundo, doam 10% de sua renda mensal para suas congregações.

E esse dinheiro é usado para pagar os pastores (que enriquecem de forma desmedida) e a toda a sua equipe de assessores, para construir edifícios, financiar missionários, comprar recursos educacionais e alimentar a divulgação. Além disso, as editoras evangélicas são um grande negócio. Os best-sellers evangélicos costumam vender milhões de cópias, apesar de serem bastante simples e de qualidade questionável. Os circuitos de conferências que organizam também são extremamente lucrativos, e a música e suas rádios se transformaram em indústrias com um gigantesco alcance.

O evangelismo faz emergir um sinal de alerta na defesa da democracia

No país mais poderoso do mundo, na tomada de posse de Donald Trump no dia 20/01/2015, podemos constatar como ele está rodeado de inúmeras lideranças religiosas. Com efeito:

“A bênção será dada pelo rabino Ari Berman, reitor da Universidade Yeshiva; pelo imã Husham Al-Husainy, do Centro Islâmico Karbalaa em Dearborn, Michigan; pelo pastor Lorenzo Sewell, da Igreja 180 em Detroit; e pelo reverendo Frank Mann, padre da Diocese de NovaYork”, observa a José Lorenzo (15/01/2025). O comitê inaugural de Trump também informou que o presidente eleito participará novamente dos cultos inaugurais na Igreja Episcopal de St. John, no centro de Washington, bem como de um culto de oração na Catedral Nacional de Washington. (IDEM).

Até mesmo em meio à guerra na Ucrânia se pode constatar como a força da religião evangélica consegue que promover alianças entre os inimigos que se digladiam no campo de batalha. Com efeito, após a invasão russa à Ucrânia, os Estados Unidos e a Europa encontraram-se na linha da frente da batalha contra a Rússia quando, até nessa guerra, existia uma forte aliança de interesses entre evangélicos estadunidenses e empresários russos ortodoxos. Algo similar acontece com a religião: a Internacional reacionária produziu alianças inesperadas entre religiões, não só dentro do próprio cristianismo — católico, ortodoxo ou neopentecostal — mas até estabelecendo acordos contingentes com o Islã, contornando na ponta dos pés a contradição de que muitos dos partidos europeus de extrema direita têm propostas claramente islamofóbicas.

Desde 2010, as instituições europeias registaram um aumento muito significativo na atividade de grupos de pressão religiosos. Igrejas e organizações confessionais realizaram mais reuniões políticas em Bruxelas do que grandes empresas como a Google ou a gigante do tabaco Phillip Morris. Os dados refletem a preponderância do cristianismo — que inclui católicos e protestantes — cuja capacidade de influência é apoiada por um sólido apoio econômico. O lobby da Comissão das Conferências Episcopais da Comunidade Europeia (Comece) contava um orçamento de mais de um milhão de euros em 2019, segundo dados do Registo da Transparência da EU. (ALABAO, 2025).

Constata-se, pois, um espantoso crescimento das Igrejas evangélicas, cuja maioria de fiéis faz uma leitura salvacionista da Bíblia (pauta de costumes) e não libertária o que faz perigar as democracias. Os pobres estão optando pelas Igrejas evangélicas, nas quais encontram acolhimento e suporte social, inexistentes na maioria das paróquias católicas.

Os dois principais políticos de Moçambique, Daniel Chapo e Venâncio Mondlane, são ambos evangélicos, sendo o último pastor. No início do atual governo verificam-se sinais de que estes opositores começaram a dialogar. Nas questões religiosas, certamente, a sintonia será perfeita.

Face a essa sintonia, uma pergunta perturbadora não pode deixar de ser feita: estará se desenhando, a curto ou médio prazo, a edificação de um Estado Teocrático em Moçambique, à boa maneira iraniana?

Um Estado Teocrático ajuda a imposição ilegítima do controle político, diminui o espaço de liberdade que resta aos cidadãos. Com ele a Bíblia se sobrepõe à Constituição. Contra os mitos e a crença nos milagres ou aparições sobrenaturais, temos a ciência e a democracia. Saibamos usá-las em prol do pacífico convívio, sem perseguições e mentiras, santas ou seculares. Se a democracia ostenta defeitos, suas mazelas confessadamente têm origem em seres humanos que erram e podem corrigir seus equívocos. Com a teocracia nenhum limite obriga o governante, pois seus decretos são divinos. No fundo de todo teocrata dormita um totalitário. É tempo de aprender tal lição da história religiosa e política.

As forças progressistas, acuadas pelo fundamentalismo religioso dotado de inegável poder eleitoral, ainda não sabem como enfrentar esse fator que constitui o substrato cultural.

É preciso que se reaja a essa escalada bíblica, antes que tenhamos todo poder político tomado por pessoas terrivelmente evangélicas! Como reagir é a questão. Tendo em conta a aceitação que se deve ter pelo diálogo inter-religioso, pode parecer uma quebra de respeito à diversidade o combate a uma vertente religiosa específica. O caso reside no conhecido paradoxo: só não podemos ser tolerantes com os que desejam abolir a tolerância. Só não podemos abrir diálogo com os que pretendem abolir o diálogo, a diversidade, a liberdade. Faz-se necessário pensar estratégias de libertar a consciência do povo enganado e cooptado e denunciar e combater os falsos líderes que o exploram e oprimem.

Não menos importante é o crescente alastramento da chamada “teologia do domínio” que defende a subordinação das esferas pública e privada aos preceitos religiosos. É uma doutrina que prega a necessidade de os cristãos assumirem o controle sobre todas as áreas da sociedade, incluindo governo, educação e cultura, para implementar uma nação sob “princípios bíblicos”. Essa ideologia ameaça diretamente a laicidade do Estado e a diversidade religiosa, fundamentais em uma sociedade democrática. A adoção dessa teologia por líderes religiosos e políticos em Moçambique gera preocupações sobre os riscos de uma agenda que busca impor valores religiosos específicos a toda a população.

O papel da família, a essência da educação e o significado da liberdade, tudo é defendido numa perspectiva cristã. Apoiar candidaturas fundamentalistas que defendam pautas moralistas e antiestatais é algo fora do ordenamento democrático.

No Brasil, por exemplo, muitas igrejas incentivam os jovens a ingressar em cursos-chaves para ocupar posições de influência. O objetivo é contrapor o criacionismo “bíblico” àquilo que designam como “ensino ateu”. Pretende-se que os alunos que se envolvem nestes cursos se tornem palestrantes equilibrados, pesquisadores curiosos e defensores resilientes de uma cosmovisão bíblica.

Os promotores do “legado cristão” defendem um Estado mínimo e o “autogoverno”, principalmente no que se refere à educação e à cultura (o que favorece o domínio da manipulação e doutrinação para as quais são treinados incansavelmente). Em sua maioria, são inimigos das políticas públicas, principalmente as que buscam o acolhimento e dignidade das minorias e a “diversidade”.

A “teoria do domínio” prega que os cristãos têm a missão de governar todas as esferas da sociedade — incluindo política, educação, mídia e economia — para estabelecer os valores cristãos como padrão universal. A execução dessa teologia ameaça o princípio do Estado laico e pode retirar os direitos de minorias religiosas e sociais.

O Salvador da Pátria como elemento central do Populismo

Entramos no século XXI como uma era sinistra, em que paixões de um escuro passado estão sendo mobilizadas novamente contra as forças da democracia de um modo diferente de tudo que vimos desde os anos 1930.

Os moçambicanos não estão imunes aos atentados conta a democracia e parecem sentir um quase vazio de poder, que possibilita o surgimento de líderes populistas que se apresentam como Salvadores da Pátria.

Uma coisa é dizer, com toda a justiça, que o “prazo de validade” da Frelimo terminou há muito tempo, outra coisa é receber de braços abertos qualquer aventureiro que aparece prometendo este mundo e o outro. Que Venâncio Mondlane fala muito bem, como muitos dizem, é evidente. Aliás, se o modelo de comparação for o último presidente do país, Filipe Nyusi, então Venâncio Mondlane é um génio da oratória. Mas não basta falar bem e fazer belas promessas. É fundamental fazer uma espécie de Raio X daqueles que se propõem ser os Salvadores da Pátria. Basta analisar um pouco a geopolítica mundial, sobretudo após a I Guerra Mundial nas últimas décadas, para encontrarmos dezenas de Salvadores da Pátria e populistas. Dois exemplos, entre muitos outros, de “salvadores da pátria” foram Benito Mussolini na Itália e de Adolf Hitler na Alemanha, nas décadas de 1920 e 1930.

Como sabemos, Salvadores da Pátria não existem. São como o Homem Aranha ou a Mulher Maravilha, maravilhosos nos filmes e desenhos animados, mas não fazem parte do mundo real. Neste ninguém colocou em risco a humanidade mais do que esses salvadores da pátria, cheios de verdadeiras ou supostas boas intenções.

Os que acreditam nesses facínoras, por ignorância e fé, são os maiores prejudicados. Os que realmente criam valor e oportunidades são transformados em bodes expiatórios e acabam sacrificados após serem difamados, demonizados e humilhados. Os salvadores da pátria querem mesmo é enriquecer e manter o poder. Esses aventureiros nada produzem, nada criam, não conseguem nem exercer suas funções mais básicas, porque estão preocupados em controlar o povo para espoliá-lo. Infelizmente, o povo não percebe como o sistema é perverso e ele é a vítima. Somente quando a situação chega num ponto ultrajante, alguns se revoltam e recomeça o ciclo.

Se o establishment hoje é o centro neoliberal, então certamente qualquer desafio a ele será populista.

Hoje, o termo populismo precisa ser ampliado para incluir alguns aspectos-chave, como a necessidade de aceitar o capitalismo como eterno, encolher os aspectos do Estado que fornecem bem-estar social e regulam os negócios, expandir o aparato repressivo do Estado para evitar qualquer desafio ao status quo e reconhecer a centralidade dos Estados Unidos como líder do sistema mundial.

Presenciamos o suporte crescente direcionado a um populismo de direita que vê a democracia liberal como um anacronismo. Os sinais são claros. Ao redor do mundo, indivíduos, grupos e políticos vomitam desordenadas incitações de ódio e intolerância, legitimando e apoiando abertamente o racismo, a homofobia e outras selvagens formas de nacionalismo.

O que tem surgido desse abismo do poder autoritário é uma atualizada versão da política demagógica e a normalização de uma maré de ignorância com naturalização da crueldade. Um resultado direto é o crescente apoio de um populismo de direita, que trata com ódio e desdém tanto os indivíduos privados de necessidades básicas para sua subsistência – incluindo moradia, alimentação e água limpa — como as populações imigrantes deslocadas de sua terra natal por conflitos e expropriações das forças globais do capitalismo.

O populismo de direita oferece uma noção pseudodemocrática de política, em que as decisões não são informadas por evidências e a ação coletiva desaparece diante do simbólico mito de um líder totalitário e poderoso. Nesse discurso, a política torna-se personalizada na imagem de um demagogo, sustentada graças à suposta ignorância das massas, tratadas como um verdadeiro “rebanho”. A emergência desses líderes da extrema direita pode ser exemplificada com a ascensão de Donald Trump nos Estados Unidos e de Jair Bolsonaro no Brasil. Mas também já podemos notar a capilarização desse fenômeno, com versões regionais e locais dessas figuras na política. Constata-se que se articulam perfeitamente com os evangélicos quase como se fossem irmãos siameses. Aí estão Daniel Chapo, mas, sobretudo, Venâncio Mondlane conduzindo os seus rebanhos em terras moçambicanas.

Promessas de benefícios e privilégios são a chave que denuncia o populista demagogo. Quando chegam ao governo, grande parte dessas lideranças se limita a propor mudanças do status quo centradas em políticas públicas. É o caso, por exemplo, das regras mais restritivas sobre imigração — como nas normas sobre pedidos de asilo, visto de permanência para trabalho, e a expulsão nas fronteiras. Ou seja, populistas usualmente são reformistas, não querem subverter o regime vigente.

Vejam-se algumas das promessas que Venâncio Mondlane já anunciou:

Imensa gente em Moçambique vê Venâncio Mondlane como o salvador da pátria. Ele acha-se um novo messias que, como Moisés a conduzir os hebreus através das águas apartadas do Mar Vermelho, fugindo do exército do faraó, vem libertar os moçambicanos do jugo da Frelimo para transformar o país na terra que mana leite e mel, em que ele vai construir três milhões de casas em cinco anos, uma linha férrea da Ponta do Ouro até Mocímboa da Praia, e criar uma linha de crédito de 600 milhões de dólares para os empresários e investidores que viram os seus armazéns e infraestruturas destruídos pelos “manifestantes” nos dias de Natal (VAZ. NPCTB, 13/01/2025).

Portanto, o problema das falsas promessas e da ameaça de líderes populistas esconde um problema maior e mais profundo que diz respeito à incapacidade das elites políticas e dos partidos tradicionais de satisfazer as demandas da sociedade, abrindo espaço para que discursos e atitudes populistas ganhem saliência. É o que está acontecendo agora em Moçambique. Segundo Costa (2025):

Mas o que vejo dele [Venâncio Mondlane] é um discurso populista primário, de instrumentalização do justo descontentamento em relação ao poder estabelecido, mas sem fornecer qualquer alternativa programática ou propostas objetivas. É um discurso comum a todas as variantes do fascismo dos tempos atuais que vemos eclodirem por todo o mundo.

Mesmo no interior do Podemos, partido com o qual Mondlane firmou um Acordo, os conflitos internos não demoraram a surgir e se apresentam de forma contínua. Nesses conflitos, a imagem de Mondlane revela um personagem pouco confiável. Para Albino Forquilha, líder do Partido Podemos que aceitou o ingresso de Mondlane no seu Partido: “Venâncio Mondlane violou reiteradamente, e de forma grave, os termos do referido acordo, em múltiplas ocasiões, desde o período da campanha” (MUSSANHANE, (06/01/2025, p. 2).

O problema está na decisão do Podemos de tomar posse no dia 15/01/2025 e Mondlane afirmar que o Podemos não pode aceitar tomar posse, porque ainda se está a lutar pela verdade eleitoral. Conforme o investigador do Centro de Integridade Pública (CIP), Lázaro Mabunda:

O Podemos diz que essa luta já se esgotou, porque os acordos do Conselho Constitucional são irrecorríveis, mas Mondlane está a dizer que não. Ele não está contra a tomada de posse, mas está contra a tomada de posse neste momento em que ainda se está a lutar pela verdade eleitoral. (MABUNDA, apud NÁDIA, 2025).

Na verdade, o que Mondlane deseja mesmo é ser Presidente da República de imediato. No entendimento de Vaz (18/01/2025):

E para atingir esse objetivo, vale tudo — se necessário, destruir infra-estruturas públicas e privadas, promover o caos nas cidades e vilas, apunhalar a economia, incendiar o país. Desde meados de outubro, já lá vão três meses, Venâncio, o messias moçambicano, o iluminado, tem conseguido provocar sucessivas paralisações em Maputo e em algumas outras cidades moçambicanas, causando muito mais do que incómodos pessoais passageiros, ele tem causado danos sérios à nossa economia.

Um possível e urgente caminho para a resolução dos problemas que Moçambique enfrenta
Para provocar aquilo que se designa por Transformação do Conflito é preciso que uns percebam o problema dos outros. Perceber — um exercício básico — não significa concordar. Significa, tão somente, recolher informação para ajudar as partes a resolverem os seus diferendos. É sempre bom lembrar que a paz se faz com o inimigo. Na opinião de Vaz (13/01/2025):

Sejamos, porém, optimistas, iremos ultrapassar esta tormenta que estamos a viver no nosso país, como já superámos outras. Apesar de salteadores mafiosos no poder, apesar de messias fascizantes a quererem substituí-los. Iremos curar as feridas e voltar a viver unidos. Com visões diferentes, mas com o mesmo amor pelo país.

O revolucionário africano Amílcar Cabral nos ensinou que o objetivo da libertação nacional é “a libertação do processo de desenvolvimento das forças produtivas nacionais”. Portanto, a formulação de uma nova teoria do desenvolvimento para o Sul Global, em geral, e para Moçambique, em particular, também é um retorno à origem de nossas lutas pela libertação do imperialismo e do neocolonialismo. É a partir do resgate dessas lutas que urge traçar o caminho para as aspirações de justiça social de Moçambique.

Como diz o ditado, “a arrogância precede a queda”. Quando se juntam apoiadores de salvadores diferentes, o resultado só pode ser catastrófico, mesmo. Quando a arrogância de apoiadores são reflexos do candidato, então, este só tem a perder. Não se desejam deuses inatingíveis no poder. Respeite-se o slogan “Não somos servos, somos povo”. Deseja-se na governança quem olhe para o povo como uma entidade merecedora de respeito e não como servidores fiéis.

São ainda milhões os que preferem a sensatez, o diálogo, a busca por soluções realistas, não fantasiosas. São eles os que rechaçam a política da vingança, que acaba arrastando a situação para o pior.

É compreensível a revolta dos jovens moçambicanos. A frustração tinha que ter uma válvula de escape, mas agora é preciso ir em busca de serenidade. É preciso um intenso e genuíno diálogo entre as principais forças em disputa.

É fundamental reforçar a educação cívica e a conscientização sobre os valores democráticos para impedir que visões teocráticas comprometam os direitos fundamentais de todos os cidadãos. Para muitos, o desafio está em equilibrar a liberdade religiosa com a necessidade de preservar um Estado laico e inclusivo, garantindo que nenhum grupo imponha suas crenças sobre toda a sociedade.

O vocábulo “sensatez”, oposto de insensatez, deve começar a aparecer, ainda que temeroso, na boca de quem prefere pensar numa solução viável da crise, que implique limar arestas, juntar ideias distintas, dialogar até à exaustão.

A célebre frase do pensador italiano, Giuseppe Tomasi di Lampedusa fez-me soar um alerta. Diz ele que “Algo deve mudar para que tudo continue como está”. Mesmo com esse alerta, eu desejo fortemente ser contrariado pela frase de Lampedusa. O povo moçambicano merece dias melhores.

Quando uma crise ocorre, as ações tomadas dependem das ideias circulando no seu entorno. Então, talvez a função básica seja desenvolver alternativas às políticas existentes, mantê-las vivas e disponíveis até que o politicamente impossível se torne o politicamente inevitável.

Um aspecto da maior relevância que deve ser observado numa democracia é a transparência. Se não fizermos um esforço para uma renovação, reinvenção e reinstalação dos valores democráticos, o que vencerá serão as trevas. Às vezes, as sociedades optam por cometer suicídio por ignorância. Há cinquenta anos ninguém dizia que a Terra era plana, o que aconteceu para que nos dias de hoje haja tanta falta de cérebro, tanto desespero?

E o que fazer com o desespero, com a sensação física do desespero? O que fazer quando parece não haver mais saída, que nada vai mudar substancialmente a situação em que nos encontramos, que nada pode ser feito? Segundo Franco Berardi, esta é a principal questão da política hoje. Mas uma política que vá além da política. Porque o desespero não vai desaparecer por decreto-lei, argumentos ou explicações. É algo do corpo, está ligado ao corpo, que contamina toda a alma, e a possui. Um desespero que se traduz em todos os lugares em agressão. A prepotência dos fortes — “nada é como antes” — transforma-se em guerra contra os mais fracos. E o desespero dos fracos procura retribuir, vingar-se.

Como é possível interromper uma psicose (um delírio) em massa? Ou seja, como escapar do contágio do desespero agressivo ou vingativo?

Esta é uma questão central de uma política que vai além da política, uma política que sabe ouvir e dialogar com os corpos, com o que acontece nos corpos e através de suas necessidades básicas, chegar ao espírito! Todos os que enlouqueceram fascinados pela linguagem do triunfo sobre o próximo, se farão a pergunta: Ganhar o quê? O mundo é controlado, manipulado pelo 1% de milionários e estes, teleguiados por 0,1% dos mesmos! Somente eles podem ganhar! A ilusão, como sempre, termina em decepção. Grandes expectativas levam a novas frustrações. A Esperança recaiu no Desespero. Um desespero que hoje, como no passado, dá um giro para a direita. É sabido que desesperados votaram massivamente em Trump, em Bolsonaro, em Milei: os humilhados, os quebrados, os arruinados, material e mentalmente. Não estaremos vendo em Moçambique um quadro semelhante?

Nossos tempos estão doentes com o “sim, é possível”. Diante do “querer é poder” como mandato da época que nos estressa e esgota, assumir a impotência como alavanca, comparar-se com o impossível e o trágico é algo perturbador.

Resignação? Radicalização do desespero, isso sim. A descrença em todas as consolações, nas ilusões voluntárias, nas promessas políticas. É possível imaginar um político que não peça a nossa ilusão, a nossa fé? Um político que diga “não é possível”, decepcionando crenças e libertando-se assim dos deveres?

Destruir a Esperança como expectativa e crença, para que as esperanças possam talvez ressurgir em letras minúsculas, como atividade e a partir do vazio. Somente no extremo do desespero, uma vez destruídas todas as ilusões, é possível reencontrar a esperança novamente.

Para finalizar, o grande desafio, para enfrentar a pobreza e a miséria visando um Moçambique verdadeiramente soberano, é unir as forças progressistas capazes de imaginar e lutar por um Moçambique no qual o fascismo neoliberal não mais exista e onde a promessa de uma genuína democracia se torne mais que um sonho utópico ou um discurso oportunista.

A situação do país apresenta tal complexidade que falar em forças progressistas parece algo fora do lugar. Claro que tem gente progressista, mas que, no momento atual está acuada, pois a onda da extrema-direita incute medo. Mas quando a situação se acalmar, quem sabe não vão começar a ouvir-se essas vozes?

Não haverá justiça social sem mobilização popular nem futuro em que valha a pena viver sem luta coletiva. É preciso tratar a questão da democratização do poder a sério, com esforços contínuos para desenvolver uma forte aliança republicana e democrática contra a aliança evangélico-populista.

Toda gente pretende saber, de imediato, quais os rumos que o país vai tomar. O que atrás apresentamos são apenas meras sugestões sobre o que deveria ser feito de acordo com nossos valores e nossa visão de mundo. Assegurar certezas num momento político tão complexo é algo que pode acabar no “reino das frustrações”.

Fonte: https://jornalggn.com.br/africa/a-ultradireita-evangelica-aporta-em-mocambique-por-jose-lopes/