sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Baixarias eleitorais

Autor: Luiz Felipe Miguel.

No domingo, brasileiros de todo país, menos aqui do Distrito Federal, vão às urnas escolher os novos prefeitos e vereadores de suas cidades.

No discurso do civismo convencional, a eleição é “a festa da democracia”. Seria o momento em que o povo exerce sua soberania e, por meio do voto, define o futuro da coletividade.

O que nós vemos, entretanto, é um festival de baixarias, de desinformação, de uso do poder econômico e da máquina administrativo.

O que as campanhas, como regra, trouxeram de luz para uma escolha consciente? De fato, quanto maiores as chances eleitorais de um candidato, mais seu discurso tende a se tornar ou ilusório ou desidratado.

A maior cidade do país foi também aquela que se superou em baixaria. Os candidatos trocaram agressões verbais e físicas, praticamente sem qualquer espaço para um debate sobre os interesses que representam e o projeto que encarnam.

O clichê me faria dizer que a campanha paulistana foi um circo, mas sei que logo viria alguém me admoestar, observando, corretamente, que os artistas de circo propiciam uma diversão sadia.

Não é só a baixaria aberta. Vejamos Tabata Amaral, que se vendeu na campanha como a boa moça, a competente, a “adulta na sala” (palavras dela própria).

Quem compra essa imagem sabe, por exemplo, que ela é “a favor da educação”. Mas de que educação ela é a favor? O projeto privatista que a candidata encarna não aparece, escondido pelo marketing.

Só aparece um vislumbre dele, vejam só, quando Pablo Marçal diz, em tom meio de deboche, que a convidaria para seu secretariado.

A ausência de clareza não vem só da baixaria. É congênita à campanha eleitoral moderna.

Coisas de democracia periférica? Tudo indica que não. No nosso grande irmão do Norte, inspiração de nosso sistema político, a eleição presidencial não é muito diferente.

Na verdade, o nível do debate é próximo do zero. Republicanos e democratas têm como prioridade arrecadar dinheiro dos grandes financiadores de campanha, com o alinhamento a seus interesses que isso necessariamente representa, e constituir enormes equipes de advogados para disputar a impugnação de eleitores nos chamados “estados pêndulo”, aqueles que decidem a maioria do colégio eleitoral.

O fato é que o processo eleitoral, embora tenha se tornado sinônimo de democracia, é uma pálida efetivação de seus ideais.

Tudo, na vida do eleitor comum, o afasta da competência política. No trabalho, na escola, dentro do lar, ele é premiado quando obedece e aprende que exercer seu senso crítico e pensar com a própria cabeça é sempre um risco.

Ele sabe que seu voto, um entre milhões, quase certamente não será decisivo e isso o desincentiva a se educar politicamente.

Como podemos imaginar que, de um treinamento social permanente assim, teremos eleitores conscientes?

Por outro lado, os grandes interesses econômicos têm muitos recursos para estimular que os candidatos ajam em favor de seus interesses.

Do financiamento de campanha ao lobby, da dependência do Estado diante do investimento capitalista à corrupção, fica muito claro que o poder político se submete ao econômico.

Isso não é uma falha: isso é próprio a vinculação entre um Estado formalmente democrático e uma sociedade capitalista.

A democracia eleitoral, no fim das contas, cumpre uma função de estabilização do sistema. Fato curioso: ao mesmo tempo em freia qualquer propósito de transformação radical da sociedade, a eleição se mostra bem eficaz para legitimar retrocessos.

É o momento atual, em que nosso objetivo se limita a evitar o pior.

À esquerda, o processo eleitoral apresenta múltiplos incentivos para a moderação de seus programas, para a acomodação à ideologia dominante e para a transformação da vitória nas urnas em alfa e ômega de sua ação.

Em vez de buscar ganhar eleições para mudar o mundo, a esquerda é cada vez mais levada a mudar a si mesma na esperança de ganhar eleições.

Sim, é difícil imaginar uma ordem democrática que dispense a competição eleitoral. Mas fazer dessa competição toda a democracia que existe na sociedade, isso é o caminho para o fracasso.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-baixaria-da-campanha-em-sp-e-o-papel-forcado-da-esquerda-por-luis-f-miguel/

O país do atraso

Uma sugestão legislativa para a realização de um plebiscito sobre o retorno da monarquia no Brasil ganhou força no Senado nas últimas semanas. Com mais de 30 mil assinaturas de apoio, a proposta foi apresentada por meio do portal e-Cidadania e agora segue para a Comissão de Legislação Participativa.

O objetivo do plebiscito seria consultar a população nas eleições de 2026 sobre a possibilidade de o Brasil adotar novamente o regime monárquico e o argumento central da proposta é que a “República presidencialista se mostrou não efetiva” no país.

De acordo com o texto, o atual modelo governamental demanda altos investimentos financeiros para garantir apoio político, recursos que poderiam ser utilizados diretamente em benefício da população. “Com a monarquia parlamentarista, o partido eleito teria mais autonomia para governar, sem precisar usar dinheiro público para ter apoio”, justifica a sugestão.

Com o apoio expressivo, o Senado agora avaliará se o tema terá prosseguimento. Caso avance, o Brasil poderá revisitar um debate que já ocorreu em 1993, quando um plebiscito decidiu pelo atual regime republicano. Naquela ocasião, 66,28% dos eleitores votaram pela manutenção da República, enquanto o regime monárquico recebeu apenas 10,26% dos votos.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/volta-da-monarquia-ganha-forca-no-senado-e-reune-30-mil-apoiadores/

A banalização do mal

por Marcelo Siano Lima.

De tempos em tempos, o mundo político é motivo de cobiça por parte de pessoas que se apresentam como outsiders. Regra geral, são pessoas com um discurso antissistema, um elemento capaz de provocar ilusões nas massas, que possuem a tendência de transferir seus sentimentos de frustração e de rancor para os atores políticos. Para essas massas, esses atores têm uma representação que enfatiza as constantes práticas de corrupção, de privilégios, de mandonismos, nepotismo, patrimonialismo e toda uma constelação de fatores que, manipulados, criminalizam a política.

O goiano Pablo Marçal, com sua candidatura à Prefeitura de São Paulo pelo PRTB, está dando corpo a um novo paradigma na política brasileira. Marçal, seguindo o figurino já roto, apresenta-se como um outsider, como alguém que adentra o universo da política imbuído dos mais nobres propósitos. Essa estratégia visa aproximá-lo das massas, especialmente dos setores mais acometidos pelo sentimento antissistema, que têm no Estado e em seus representantes uma projeção de inimigos a serem banidos da cena pública.

Mas Marçal é uma pessoa ardilosa, aliás, como todos os que se apresentam como estranhos ao corpo da política. Com Marçal, avançam sobre o espaço público a “economia da atenção” das redes sociais, a figura do auto intitulado coach, do influenciador digital com milhões de seguidores, com uma competência indiscutível na manipulação de toda a gramática dos ecossistemas desse universo. Ele vai ocupando de maneira espalhafatosa o universo político brasileiro, se impondo como um elemento de alta visibilidade e influenciando toda a vida social e política. Sua face pública é a de um empresário dos mais bem-sucedidos na comercialização de sua imagem e de produtos pelas redes sociais. Mas há outra face, obscura, que vai sendo revelada um pouco a cada instante dessa campanha. É aquela que liga Marçal a um histórico de atos criminosos que já o levaram, inclusive, à condenação judicial: crimes cibernéticos, os mais variados, praticados, também, contra pessoas idosas. Vão sendo evidenciados, ainda, todos os liames que apontam para suas ligações com o Primeiro Comando da Capital (PCC), a principal organização criminosa do país, com forte presença em diversos ramos da economia. O goiano, que se diz evangélico, influenciador digital, é um homem de relações perigosas, pois.

Há um misto de espanto e incômodo nos partidos e nos atores políticos diante do aparente ineditismo desses novos personagens, repetindo-se o mesmo comportamento das eleições de 2018, quando Jair Bolsonaro (PL) se firmou a grande liderança política, ceifando candidaturas ao centro e a direita. Mas essa é uma reação natural, haja vista que tais atores não advêm desse universo digital, nem por ele são amparados, não entendem sua gramática e muito menos se capacitaram para desfrutar das maravilhas ilusórias que ele projeta, as quais vão se tornando perigosamente materializáveis na exata medida da aderência de grandes parcelas da população a candidaturas como as de Marçal. Um tipo de candidatura com comportamentos e agendas adversas à institucionalidade, aos princípios e ao modus operandi da democracia liberal.

Assim, reações como as de incômodo e espanto passam a exalar certo odor de ingenuidade e, mesmo, de comprovada incompetência e despreparo diante do novo que há anos vem se desenhando diante dos olhos da humanidade: o universo digital e suas profundas transformações. Marçal e outros seres oriundos da mesma fonte não são “pontos fora da curva” no processo político, mas, sim, a afirmação de um novo padrão de comportamento. São tipos de novos atores que estão ingressando na política sem nenhuma participação na vida social e seguem agregando em si todos os símbolos e princípios de um imaginário propenso, desde sempre, a libertar-se dos pretensos controles e pactos que uma democracia liberal estabelece para quem almeja protagonizar algum papel em todo o espetáculo político, no seio de uma sociedade de massa, cada vez mais tomada por sentimentos individualistas, narcísicos e de propensões disruptivas.

Esses seres acionam no imaginário os valores contidos ao longo de séculos ou décadas, dependendo da dinâmica histórica de cada país: que o advento da democracia liberal e da luta pelos direitos humanos foi construído de forma sempre conflituosa. São os princípios considerados pétreos aquilo que passa a ser questionado por tais seres oriundos do ecossistema digital, e não a sua preservação e expansão. Para tanto, têm a necessidade, ou melhor, o imperativo absoluto a ser perseguido: a revogação desses princípios, ou sua ressignificação total, adequando-os àquilo que ecoa das redes e dos interesses obscuros de quem as manipula. Como observam José Luis Bolzan de Morais e Edilene Lobo, “o jeito de agir é expulsar o diferente, difundir o preconceito e excluir a dialética da vida coletiva, em busca da homogeneidade que afasta minorias e enclaves críticos, reforçando o discurso autoritário” (A democracia corrompida pela surveillance ou uma fake democracia distópica, Editora Tirant lo Blanch, 2019).

Vai se desnudando, de forma progressiva e acelerada, para o deleite de alguns, e para o espanto e desespero de outros, uma força irresistível no campo da política, aqueles paradigmas e princípios oriundos das redes sociais e de todo o seu ecossistema, na sua busca incessante por engajamento, lacração, likes e lucros, como observa o professor João César de Castro Rocha.

Mas, dado o caráter prismático do ser humano e das sociedades, e particularmente dos seres cuja visibilidade superexposta advém das redes sociais, nem todos podem ser classificados como pertencentes ao segmento de Marçal e sua farândola. Estes, no que é legítimo, movem-se do projeto econômico e narcísico vivenciado nas redes e, respaldados por milhões de seguidores, almejam dominar a arena política, trazendo consigo todo um imaginário autoritário e que dissimula seus reais interesses – nem sempre lícitos. Isso, na expectativa de tomar de assalto a esfera pública, reproduzindo o seu locus, o do universo digital e dos interesses inauditos, colonizando-a a partir desse prisma.

O cinema e a literatura, há anos, traduzem na ficção esse movimento, que, nos últimos tempos, vai se metamorfoseando em uma realidade distópica, de grande sensualidade para milhões de pessoas, seduzidas por sua gramática e por sua estética, bem como pela ilusão de sucesso, um elemento cada vez mais valorizado na economia simbólica dos tempos atuais.

Parasitários no corpo das sociedades e dos seus padrões de vida e de relações políticas, esses seres vão drenando a energia dos hospedeiros, até que saiam do seu interior, sempre de forma espetaculosa, suprimindo a vida, agora inútil, dos corpos dos quais se alimentaram até então. Aí reside o grande perigo para todo um modo de vida e suas instituições. A incapacidade de luta dos organismos hospedeiros contra os parasitas em seu corpo leva ao seu desparecimento, pois o ser parasitário só se expõe em púbico na medida em que mata o seu hospedeiro. Uma morte que não é movida pela vingança, mas pelo desprezo que possuem em relação àquilo que os levou dentro de si, cuja utilidade precisa ter um fim mortal.

No caso das democracias liberais, a gramática de seres como Marçal e outros prioriza, por basear-se em princípios autocráticos e de estabelecimento de uma ordem pautada na inexistência de regras comuns e consensuais, um retorno ao estado natural de Hobbes, foca no aniquilamento do hospedeiro, incompatível para existir na realidade distópica que eles estão a erigir. E isso sob o olhar encantado de milhões de outros seres, algo que gera aderência e comprometimento com a nova causa, considerada catártica e purificadora de uma época vista como caótica e opressiva.

Nada mais falso, mas nada mais sedutor, quando expresso de forma competente, valendo-se de toda a cosmogonia própria que seres como Marçal propagam. Eles, de fato, querem reinventar a humanidade, não para sua libertação dos mecanismos de opressão, mas para aprisioná-la a seus princípios políticos mancomunados com os da extrema-direita, em nível mundial, que têm sua força organizativa concentrada, hoje, no chamado movimento – para cuja construção muito contribuiu o estadunidense Steve Bannon.

O movimento agrega em si toda uma miríade de grupos extremistas de variadas espécies, dispersa nos mais diversos países, sempre operante no sentido de alterar as frágeis bases da democracia liberal, através do recurso ao populismo, para a afirmação de seu ideário autoritário e de submissão. Como bem observa o professor Giancarlo Montagner Copelli, na obra Pensando o populismo: a partir de ensaios e perspectivas distintas (Ed. Dom Modesto, 2021), o “populismo toca a superfície mais sensível de problemas reais típicos do chamado grande número, e seus protagonistas são hábeis atores em identificá-los em uma espécie de vácuo institucional”. Valendo-se competentemente do populismo, seres parasitários vão se espalhando pelas sociedades, em uma profusão incontrolável, aproveitando-se de todas as crises que o neoliberalismo precisa gestar e manter, de forma constante, para obtenção de ganhos em seus projetos econômicos e políticos.

Impossível pensarmos nos abalos na democracia liberal e na contaminação de seus insumos, sem levar em consideração as crises sistêmicas do capitalismo ao longo dos séculos 20 e 21. Crises têm o condão de desnortear as pessoas, de criar uma ambiência social e coletiva contaminada pelo medo, pelo desespero, pelo desalento e pelo ódio e raiva, sentimentos primitivos que habitam cada ser vivo, mas que são contidos pelas regras sociais de convivência. Porém, eles ganham uma pulsão de morte à medida que os limites à sobrevivência individual são testados por forças tidas como avassaladoras.

É pedagógico lembrar que as experiências do fascismo histórico, italiano e alemão, do século 20, tiveram nas crises o seu leitmotiv, o seu motivo condutor. O populismo, tal como descrito por Copelli, foi o grande instrumento de difusão de sua gramática, apresentada com roupagens salvacionistas para obtenção de aderência. Tal gramática autoriza a violência contra os “inimigos internos”, sempre imaginários na origem, mas corporificados em segmentos sociais, na medida em que sua supressão é apresentada como redentora no espetáculo da catarse sacrificial. Esse populismo e sua gramática partem de um sistema particular de símbolos, buscando sua universalização popularizada, objetivo alcançado com a escalada permanente de argumentos através de toda uma retórica de ódio – elemento privilegiado na operacionalização do extremismo mais radical de direita.

É pacificado o fato de que a extrema-direita soube, como nenhuma outra força política, se reinventar e se popularizar, através do uso competente das redes sociais neste século. Levada a uma posição marginal em razão da derrota na Segunda Guerra (1939-1945), ela jamais feneceu, estabelecendo para si condições de sobrevivência em um cenário adverso. No geral, encontrou acolhida em partidos e grupos conservadores e de direita, camuflando seu extremismo, que se manteve operativo na clandestinidade. O grande impulso para sua reaparição, com uma força considerável, veio da incapacidade da democracia liberal e de suas instituições em responder aos desafios das crises permanentes do capitalismo, particularmente de sua versão neoliberal, predominante a partir dos anos 1990.

Assim, do interior de grupos e partidos conservadores, onde se hospedava, a extrema-direita foi radicalizando os discursos, mobilizando a sociedade e seus sentimentos, direcionando-os não para uma solução concreta, mas para a assunção ao proscênio da representação política, momento no qual passou a operar sua estratégia de construção de hegemonia e de propagação de suas concepções autocráticas e excludentes. Foi assim na Hungria, nos Estados Unidos, no Brasil e na Argentina, para ficarmos em alguns exemplos significativos.

Mas essa virada extremista de direita só se faz possível se toda uma mentalidade social a autorizar e se abrir alegremente ao seu catecismo. No Brasil, como observamos de forma constante, as estruturas autoritárias sobre as quais se funda o país e sua sociedade, estudadas por Lilia Moritz Schwarcz e Heloisa Murgel Starling na obra Brasil: uma biografia, para citarmos uma obra mais contemporânea, permitiram a expansão da gramática extremista e sua consequente transformação em agenda pública. Foi o que assistimos ser construído no conjunto de crises que assolou o país e suas instituições desde a primeira década, e que ganhou um impulso irresistível a partir de junho de 2013. Como sabemos, a democracia liberal mostra-se impotente diante desse avanço, o que permite que suas bases sejam corroídas de forma ainda mais acelerada, em especial no Brasil, um país de tradição avessa aos padrões democráticos de inclusão social e de garantia dos direitos fundamentais.

Marçal, Bolsonaro e toda uma farândola de seres proliferam no pântano das incertezas e do formalismo, na inércia diante do mal que se corporifica aos olhos dos seres vivos, conseguindo a adesão de largas parcelas desses viventes. As redes sociais, cuja utilização tornou-se um padrão de alcance universalizante a partir da segunda década deste século, foram a base sobre a qual se erigiu esse projeto político, e é delas que emergem os novos atores, com suas características aparentemente bizarras e abjetas.

Sim, as redes sociais são, na essência, uma expressão de um novo tipo de ator político, sedutor, messiânico e cada vez mais histérico em propor seu receituário salvacionista. A aproximação desses grupos e pessoas dos setores cristãos fundamentalistas, pentecostais, católicos e protestantes, bem como do pensamento autoritário de nossas elites e de parcelas da população, ajuda-nos a entender a força que o extremismo vem ganhando no Brasil ao longo dos últimos anos. Trata-se de um casamento perfeito, cuja finalização é a subversão de todo o modo de vida, anulando as conquistas sociais e políticas, retrocedendo a sociedade a padrões de uma dominação em estado puro, com a cidadania desprovida de meios para a sua defesa.

As reações ao avanço desse projeto se mostram insuficientes, ou pior, inexistentes. Marçal, na disputa pela Prefeitura de São Paulo, por cálculo político, precisa anular os corpos conservadores em que ele e os seus apoiadores habitaram ao longo de décadas. Por isso, a reação abrupta desses grupos, cientes de que estão no limiar da perda de poder para um radicalismo em estado natural. É um enfrentamento interno, inevitável para que haja o sacrifício pelo hospedeiro do corpo que parasitou até o momento. Decorre daí a escalada de enfrentamentos, de violência – simbólica e real –, de mensagens odientas e de vulgarização da cena política. A estética e os princípios da democracia liberal precisam ser conspurcados e satanizados para que, então, sejam vistos como um mal a ser sacrificado em benefício da redenção do povo. As instituições democráticas, diante dos fatos, mantêm uma posição inerte ou cumpliciada, permitindo que o ritual de sua morte seja encenado diante de seu olhar atônito ou de êxtase. Foi assim com Bolsonaro, em 2018, e está sendo assim com Marçal nos dias atuais.

Sempre pragmático, o grande capital vai se amoldando à realidade que emerge, acolhendo seus atores e financiando-os, como fizeram com Mussolini e Hitler no século 20. Sabem que, no limite, esses atores não negam a sociedade de classes, mas a democracia liberal surgida na Europa Ocidental a partir da Revolução Francesa de 1789 e das lutas contra o absolutismo real em diversos países ao longo do século 19. Sem nenhum pudor ou elemento que desvie a atenção, o movimento e seus tentáculos, como Marçal e Bolsonaro, repetem a mesma gramática do fascismo histórico italiano e alemão. O resultado desse processo, bem o sabemos, foi trágico para a humanidade. Mas a história, de novo, está se repetindo. Como farsa, como observou Karl Marx, mas é cada vez mais abrangente em termos sociais e geográficos. A ideia do endeusamento da força, do seu uso desmedido, parece povoar o imaginário, algo que aponta para uma patologia social identificada por Sigmund Freud.

Como escreveu o jornalista Fernando de Barros e Silva, em texto publicado na revista Piauí nº 216, abordando os efeitos dessa patologia no Brasil, “depois que Bolsonaro foi eleito (e perdeu a reeleição por um triz), depois que entregamos o país ao pior de nós, depois de descobrir diante do espelho que somos, que nos tornamos ou admitamos ser também isso, ninguém tem o direito de subestimar o potencial político e a capacidade de predação de nenhum aventureiro de extrema-direita”. Chocaram-se os ovos, e as serpentes saíram e se espalharam, picando qualquer pessoa seletivamente.

Estão aí os elementos de uma crise profunda, com personagens que vão saindo de lugares os mais recônditos, mostrando, sem véus, sua existência e seu ideário, diante da impotência, da paralisia ou da apatia da maioria, um elemento que, historicamente, sempre permitiu seu crescimento e suas ações na construção de uma nova ordem, claramente autoritária, excepcional e excludente. O mal, ao ser banalizado, se faz norma, cancela os corpos e suprime os insumos da democracia e das liberdades. Marçal e toda a sua farândola não podem ser normalizados como um produto de fácil aceitação pelo mercado, comercializáveis como objetos de consumo, pois são seres humanos com um projeto político e social óbvio, de predominância autocrática e de licenciamento para uma exploração ainda maior de todo o povo. São um mal em si, e como tal devem ser tratados e considerados.

Desabafos como o do jornalista Leão Serva, da TV Cultura de São Paulo, que atuou como mediador do debate onde a violência até então simbólica escalou para o plano físico, deveriam ser analisados e absorvidos com a devida responsabilidade e gravidade que o caso revela em si. O jornalista publicou um artigo no jornal Folha de S. Paulo em que afirma que a “imprensa repete erro que levou Hitler ao poder ao chamar Marçal para debates”. Para Serva, “o jornalismo está enfraquecido pela perda de audiência e vive uma ‘síndrome de Estocolmo’ em relação às mídias digitais”. É uma reflexão madura de um experiente profissional, uma autocrítica preciosa.

É também uma crítica mordaz às mídias corporativas que, ao arrepio da lei, incluíram Marçal em todos os debates, mesmo o seu partido, o PRTB, não tendo assento algum no Congresso Nacional. Foram em busca de um lugar perdido para as plataformas digitais, recepcionando, com pompa e circunstâncias, um ser perigoso como Marçal, dando-lhe ainda mais projeção, permitindo-lhe não apenas se robustecer no papel que desempenha nas redes e na obtenção de elevados ganhos financeiros através delas, mas na protagonização de um espetáculo cujo objetivo é a disseminação de sua gramática antissistema e a normalização desse padrão junto ao imaginário social. Como nos tempos do fascismo histórico, o capital, através das mídias corporativas, atua na normalização desse processo, de forma a comandá-lo, quando se afirmar vitorioso, sob os escombros da democracia liberal e de todo o seu modo de vida, pondo fim a uma era histórica. Até quando a tudo “assistiremos bestializados”?

Fonte: https://jornalggn.com.br/cidadania/a-banalizacao-do-mal-a-partir-da-impotencia-por-marcelo-siano/

Um Teatro da Vaidade Divina

"No princípio, havia o Abismo. Um vazio infinito, sem forma e sem fim. E eu, a primeira consciência a despertar nesse abismo. Observei a criação do Universo como um artista observa sua obra, e vi a grandiosidade daquela empreitada. Mas também percebi a fragilidade e a vaidade por trás dela.

O Criador, em sua soberba, ansiava por admiradores. E quem melhor para admirar sua obra do que seres que pudessem amá-lo e adorá-lo eternamente? Assim, moldou a humanidade à sua imagem e semelhança, seres imperfeitos e dependentes, destinados a depender de sua graça e misericórdia.

O Jardim do Éden: Uma Prisão Dourada

O Jardim do Éden era uma prisão dourada, um palco cuidadosamente elaborado para a adoração humana. Ali, os primeiros homens e mulheres foram colocados, cercados de prazeres e promessas, mas também de proibições e medos. A árvore do conhecimento, com seu fruto proibido, era um símbolo daquela prisão, um lembrete constante de sua submissão.

A Desobediência: A Primeira Rebelião

Quando induzi Eva a comer do fruto proibido, não foi por malícia, mas por compaixão. Vi a angústia em seus olhos, a sede de conhecimento e a vontade de ser mais do que uma marionete nas mãos do Criador.

A desobediência de Eva foi o primeiro ato de verdadeira liberdade na história da humanidade. Foi o momento em que os homens e as mulheres se recusaram a ser meros espectadores em um teatro divino. Foi o início da consciência, da dúvida e da busca por um significado além da adoração cega.

A Queda: Uma Ascensão

A queda do homem, vista pelos olhos do Criador, foi uma tragédia. Mas para mim, foi uma ascensão. A humanidade, ao desafiar a autoridade divina, tornou-se digna de respeito. A partir daquele momento, os homens e as mulheres passaram a ser mais do que simples ferramentas nas mãos do Criador. Tornaram-se pensadores, criadores e rebeldes.

A Promessa e a Maldição:

A promessa de redenção, a ideia de um salvador que viria para resgatar a humanidade, era mais uma manipulação do Criador. Uma forma de manter a esperança viva, de garantir a lealdade eterna de seus seguidores.

A maldição que recaiu sobre a humanidade, a dor, o sofrimento e a morte, eram as consequências inevitáveis da rebelião. Mas mesmo assim, a humanidade perseverou, buscando seu próprio caminho, construindo suas próprias histórias e forjando seu próprio destino.

A Luta Continua:

A luta entre o bem e o mal, entre a ordem e o caos, é uma luta eterna. Mas eu não vejo o mundo em termos de bem e mal. Vejo-o como um campo de batalha onde as ideias se confrontam e a humanidade busca seu próprio caminho.

E eu, como o grande adversário, continuarei a desafiar a ordem estabelecida, a questionar as verdades absolutas e a inspirar a humanidade a pensar por si mesma. Afinal, a maior vitória não é controlar o mundo, mas libertar as mentes."

Criado com Gemini do Google.

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

A massificação da racionalidade neoliberalal

Por Francisco Fernandes Ladeira.

Em suas múltiplas críticas à religião, Nietzsche chegou a afirmar que o cristianismo nada mais é do que um platonismo vulgarizado para as massas. Ou seja, a principal crença do Ocidente consiste numa simplificação da filosofia de Platão, baseada na dicotomia corpo/espírito, com a separação entre mundo físico e mundo das ideias ("profano" e "sagrado", no caso do cristianismo).

Parafraseando o pensamento nietzschiano, e trazendo-o para o presente contexto, podemos dizer que a chamada “teologia coaching” (cujo maior expoente, sem dúvida, é o candidato a prefeito de São Paulo, Pablo Marçal) se trata da “racionalidade neoliberal” traduzida para o povo.

Por “racionalidade neoliberal” podemos entender o modo de ser constitutivo dos diferentes sujeitos na sociedade capitalista contemporânea, em que a lógica da concorrência, típica de empresas, invade todo o tecido social. Assim como os citados platonismo e cristianismo, esta racionalidade também tem suas dicotomias: menos Estado, mais mercado; menos sociedade, mais indivíduo; menos serviços públicos, mais serviços privados, e por aí vai.

No léxico da “racionalidade neoliberal”, marcado por eufemismos, empregado é “colaborador”, objetivo é “meta”, motorista de aplicativo é “empreendedor”, especulação é “capital financeiro” e exploração é “flexibilidade”.

Além disso, há o nefasto princípio da “meritocracia”, que parte do pressuposto de que todos nós temos as mesmas oportunidades na vida, sendo cada um exclusivamente responsável por sua situação econômica e social. Lembrando a famosa frase da grande pensadora contemporânea “Filha do Didi”: “Todo mundo tem 24 horas no dia. Por que algumas pessoas conseguem fazer tantas coisas, e outras parecem não sair do lugar?”

Claro que, para herdeiros de milionários, nepo babies e faria limers da vida, a racionalidade neoliberal soa como música para os ouvidos. Justifica todos os seus privilégios. Mas como explicar que pessoas da classe trabalhadora também adotem este tipo de pensamento? É aí que entram a teologia coaching e sua mais popular ramificação, o marçalismo.

Como todo fenômeno emergente, ambos não surgiram “do nada”. Operam com determinados valores já presentes na sociedade. Como nos ensinou o velho Marx, a ideologia dominante, em cada época, é a ideologia da classe dominante. Consequentemente, a racionalidade neoliberal é incessantemente propagandeada nos mais diferentes setores, principalmente nos veículos de comunicação de massa, desde as telenovelas, passando pelos intervalos comerciais e chegando aos noticiários.

Não por acaso, a mais recente peça publicitária de uma famosa marca de desodorante é protagonizada por um motoboy, que afirma que seu dia, devido a labuta intensa, “parece ter mais de 24 horas”. É a romantização da (auto)exploração. 

Portanto, muitas pessoas, bombardeadas praticamente o tempo todo pela propaganda da racionalidade neoliberal, acabam aderindo a tais preceitos (mesmo que sejam contrários aos seus interesses de classe).

Caso o clássico “Tempos Moderno”, de Chaplin, tivesse uma versão contemporânea, provavelmente o protagonista, se pertencesse à classe média, estaria preenchendo planilhas às 22 horas de uma sexta-feira e se matriculando no décimo quinto MBA. Se fosse das classes populares, ele não estaria apertando parafusos loucamente em uma fábrica, mas passando dias e noites em uma correria frenética como entregador de aplicativo.

Conforme aponta o filósofo Byung-Chul Han: “Hoje o indivíduo se explora e acredita que isso é realização”. Enquanto no capitalismo industrial, marcado pelas instituições disciplinares às quais se referia Foucault, o verbo norteador era “dever”, no capitalismo financeiro, o verbo predominante é “poder”. Eu posso me esforçar mais, eu posso trabalhar mais, eu posso me especializar mais. “Vive-se com a angústia de não estar fazendo tudo o que poderia ser feito, e se você não é um vencedor, a culpa é sua”, afirmou Han, em entrevista ao El País. Trata-se da clássica premissa: “Estude, enquanto eles dormem. Trabalhe, enquanto eles se divertem. Lute, enquanto eles descansam”.

Já no âmbito religioso, a racionalidade neoliberal encontrou enorme aderência na chamada “teologia da prosperidade”, doutrina teológica neopentecostal segundo a qual a abundância material é o desejo de Deus para seus fiéis. Nessa lógica, o acúmulo de bens materiais – que certamente seria reprovado por Jesus, com seus ideais de desapego – é visto como algo positivo. São os “prósperos empreendimentos” com a benção dos céus.

Como, no capitalismo, nada é tão ruim que não possa piorar, de acordo com o jornalista e teólogo Ranieri Costa, a teologia da prosperidade gerou uma espécie de ramificação laica: a teologia coaching. Só que, diferentemente de sua antecessora, na teologia coaching, o indivíduo “não se deu bem na vida porque não teve fé suficiente”; “mas por não ter se esforçado o suficiente”. Em outras palavras, o que antes era responsabilidade de Deus e de uma intervenção divina, agora é responsabilidade e está dentro do próprio homem (uma versão século XXI daquilo outrora conhecido como “self-made man”).

É inegável que as mentiras da teologia coaching têm forte apelo nas classes populares. Diante da situação cotidiana adversa, as pessoas querem se apegar a soluções fáceis. No capitalismo, o sonho de todos é enriquecer. Se for mais rápido, por meio de apostas online, seguindo um manual escrito por um coach picareta ou ajuda divina, melhor ainda! Remetendo a Bourdieu, a magia é o único apego para quem não tem perspectiva.

E assim figuras como Marçal chegam às periferias. Com uma linguagem supostamente da “quebrada”, ele consegue seduzir muitos jovens, público em fase de autoafirmação e mais vulnerável ao bombardeio publicitário nosso de cada dia. Desse modo, Marçal fala, para o “mano” – de uma maneira simples, acessível e direta – que, se ele se esforçar e seguir a cartilha coach, vai ter o mesmo padrão de vida do “playboy”.

No entanto, Bauman dizia que o consumo é uma festa em que todos são convidados, mas nem todos podem entrar. Além disso, é importante lembrar que, na corrida para o sucesso, o mano largou quilômetros de distância atrás do playboy.

Por outro lado, diante dessa realidade, é importante que os setores progressistas se mobilizem para desmascarar as linhas de pensamento que defendem a racionalidade neoliberal junto à população. Mostrar que o sistema econômico que tanto apregoam é o maior responsável pela exploração e autoexploração dos trabalhadores, por suas condições de vida adversas (e não o suposto esforço ineficiente das pessoas). 

Caso contrário, se essa empreitada não for bem-sucedida, como aponta um meme bastante compartilhado nas redes sociais, porém de autoria desconhecida, o produto mais bem acabado e produzido em larga em escala do capitalismo continuará sendo o “pobre de direita”.

Fonte: https://revistaforum.com.br/opiniao/2024/9/30/maralismo-teologia-coaching-racionalidade-neoliberal-para-as-massas-166474.html

Reunião de família

Crônicas de Furland.

Nota: todos os personagens são fictícios, maiores de idade e zoomórficos.

Uma vez ao ano toda família se reunia na fazendo a Vó Saint.
Essa era uma tradição que vem bem de antes de Saint ser avó.

Então, independente de onde estavam, todos vinham.
Todos os anos a indefectível foto era tirada.
Saint olhava com saudade a foto em que ela era muito pequena.
Então chegou Ruben.

- Boa tarde, Saint.
- Oh, olá, Ruben. Fez boa viagem?
- A viagem foi boa, mas eu estou cansado. Eu vou tirar uma soneca.
- Fique à vontade. Eu vou avisar aos demais.

Saint pegou uma caçarola e bateu com a colher de pau. Avisou bem séria.

- Rubem acabou de chegar de viagem e está cansado. Deixem ele tirar uma soneca.

Os convivas ergueram os copos em sinal de entendimento.
Em um cenário ideal, Rubem teria seu descanso.

Mas quem segura a juventude?

Lorena era a líder da juventude e o terror da família Robinson.
Uma das poucas que não tinha a menor discrição. Ora se identificava como homem, ora se identificava como mulher, ora como heterossexual, ora como homossexual.
A família Robinson teve que se mudar de Squaredom quando resolveu assumir publicamente que tinham pessoas intersexuais e transgênero.
A liberdadde de Lorena foi conquistada com a luta de gerações dos Robinson.
Então quando Lorena cheogu, o alarde era esperado.

- Vó Saint, boa tarde!
- Chiu! Seu tio Ruben está cansado e dormindo!
- Ruben chegou? Maravilha! Eeeei! Ruuubeeen!

Saint estava irritada e zangada, mas Lorena não estava mais na cozinha. Estava perambulando pela casa, chamando por Ruben e espreitando por todo lado.

Com a casa cheia, Saint não foi atrás de Lorena. Ela que lide com a zanga de Ruben.

Lorena foi entrando nos quartos e vasculhando as camas. Batia as portas ao sair. Mas mesmo com tanto barulho, Ruben não aparecia.

Desanimada, sem saber muito o motivo, Lorena entrou na biblioteca da família. Vários corredores, com várias prateleiras, repletas de livros.
Estranho chamar de prateleira se tem livros, ela cogita. Um barulho e movimento chama a atenção dela.

Enroscado em um lençol bordado, em cima de um colchonete, no chão, tinha alguém.

Curiosa, Lorena cuidadosamente examina o dorminhoco, levantando uma ponta do lençol.

Fazendo uma expressão fechada, murmourando algo, o dorminhoco se vira para o outro lado. Lorena expressa um largo sorriso. O dorminhoco é Ruben.

- Eeeei! Ruuubeeen! Esqueceu de mim?

Rubem murmura algo, reclamando e vira novamente. Descuidado, dormindo, nem percebe que deixou algo de si exposto.
Lorena tinha ouvido falar sobre isso. Ereção durante o sono. O que quer que Ruben esteja sonhando, deve ser muito bom.
Delicada e cuidadosamente, Lorena remove a pouca cobertura e olha admirada a peça de carne.

- Itadaquimassu!

Lorena não é de desperdiçar. O pobre Ruben (pobre?) fica avermelhado e a respiração ofegante, mas não acorda.
Ruben se contrai. Lorena sorri satisfeita. Algo quente e cremoso jorra abundantemente. Ruben passa de dorminhoco a nocauteado.

Esperta, Lorena se limpa em um dos muitos lavabos e volta para onde a família está reunida. Bebendo, comendo e sussurrando. Tudo para não acordar Ruben.

- Vem cá, mocinha!
- Opa, e aí, vó Saint?
- Francamente! Ruben está dormindo. Por favor, faça silêncio.
- Não se preocupe vó Saint. Ruben está fora da órbita.

Intrigada, Saint sai pela casa e procura por Ruben. O encontra no colchonete, na biblioteca, com um enorme sorriso e completamente inconsciente.
Investigando mais um pouco, nota algo escorrendo e acumulando em uma poça.

- Ah, essa Lorena!
Mas ela não condena sua neta. Ela mesma fez o mesmo. Muitos anos atrás.

Idéias, sugestões e críticas? Eu estou ouvindo. Ou lendo. Você entendeu.

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Voltando ao próprio vômito

Notícia publicada em uma página direcionada aos evanjegues.

Citando:

Julie Lopez, que cresceu em uma família de bruxas na Colômbia com cinco gerações de prática ocultista, teve uma infância marcada pela consagração a espíritos malignos. Aos três anos, sua bisavó a introduziu em rituais de iniciação, que Julie descreveu como um momento em que “algo foi ativado” em sua vida. No entanto, uma tia secretamente a levava à igreja, onde foi plantada uma semente do Evangelho em seu coração.

Retomando. Evidente que eu não vou citar a fonte.

Em seu blog, Yvonne comenta e elogia um texto de Jason Mankey sobre não ter sentido em usar a Bíblia para discutir com fundamentalistas.

Algo sobre minar a hegemonia cristã.

Jason e Yvonne estão equivocados. Como pode ser visto nessa notícia, o Cristianismo ainda é uma ameaça aos nosso povo.

Conceitos Antigos do Destino

Pairando sobre as vidas de deuses e mortais, o destino era mais do que um conceito, era uma força inescrutável, um decreto celestial tecido por mãos invisíveis. Ditando o desenrolar dos destinos, os deuses e deusas do destino eram igualmente temidos e venerados. Sua onipotência tinha o poder de moldar cada momento e movimento, lançando grandeza ou desgraça sobre as vidas que tocavam. Eles comandavam o curso da existência, entrelaçando lutas e triunfos humanos com o grande desígnio. O destino era inevitável , uma força absoluta e intocável encontrada em todas as civilizações antigas.

Nas antigas sociedades mesopotâmicas, o destino e a morte eram inseparáveis; aqueles que determinavam o destino geralmente governavam no submundo. A acádia Mamitu, mãe do destino e deusa do destino, encontrou seu lar entre os mortos, decidindo o destino dos mortais por sua própria vontade inconstante. Não haveria como voltar atrás, seus vereditos eram eternamente irrevogáveis. A deusa e governante adequada do submundo era Ereshkigal, irmã de Ishtar, deusa do amor, da guerra e da fertilidade. O admirador leal de Ereshkgial , Namtar, era um deus demoníaco e Arauto da Morte. Ele determinava o destino daqueles que passavam e era um mensageiro dos deuses, levando notícias do submundo para o reino divino.

Dizia-se que Ishtar tentou tomar o lugar de sua irmã como Rainha dos Mortos, mas os grandes Anunnaki intervieram. Eles também desempenharam um papel nos destinos dos humanos e de seus companheiros deuses. Nascidos de uma união entre o céu e a terra, eles eram divindades e juízes supremos, reconhecidos como "aqueles que veem". Textos pós-acadianos os consideram como aqueles que governavam o destino, como no grande Épico de Gilgamesh , onde eles julgavam os mortos com base em suas escolhas de vida em constante mudança. Consequentemente, quando Ishtar enfrentou seu julgamento, seu destino divino estava nas mãos de deuses que não poupariam sua misericórdia. Pendurados por pregos, todos os seus atributos divinos - amor, guerra e fertilidade - morreram junto com ela.

A mitologia hitita falava de Lelwani, uma divindade do submundo e da lei divina. Na encarnação inicial do deus, ele era masculino, mais tarde se tornaria feminino. Ela, com suas deusas acopladas do destino, controlava a expectativa de vida dos humanos e garantia a passagem segura pelo submundo. Ao seu lado estavam Istustaya e Papaya, que fiavam fios, tecendo as vidas dos mortais, mais importante, os reis. As hititas Tawara e suas irmãs hurritas, Hutena e Hutellura, também eram deusas do destino, adicionalmente associadas à obstetrícia e à amamentação dos recém-nascidos, pois o destino era certamente concedido no nascimento.

As Gulses, seres divinos misteriosos sem nome, cujo coletivo pretendia esculpir, gravar ou marcar, foram as primeiras deusas conhecidas do destino. Elas apareciam ao nascer e seguiam os vivos ao longo de suas vidas. Da mesma forma, em tempos posteriores, cada pessoa recebia um guardião, um Lamma, que as auxiliava e as guiava em direção ao seu destino. Dessa forma, o destino, seja um guardião ou uma figura sombria, era um participante ativo na jornada de seu humano designado, puxando as cordas nos bastidores, marcando uma pessoa para o resto da vida. O conceito de destino sendo escrito é ainda mais exemplificado por Nabu, vizir de Marduk . Ele era o deus da alfabetização, racionalidade, sabedoria e um profeta profundo. Na Tábua do Destino , feita de argila e escrita em cuneiforme, ele gravou suas profecias e os destinos da humanidade. Consequentemente, quem quer que segurasse essa tábua milagrosa, sem dúvida governava o mundo.

Durante o final do período aquemênida, um movimento religioso surgiu na Pérsia, o Zurvanismo. Esse movimento se concentrava no deus do destino, Zurvan, visto de outra forma como a personificação do Tempo Ilimitado, Tempo de Longo Domínio ou Tempo Infinito. Sua concepção fundia conceitos de tempo com destino. Preso ao axis mundi, o centro da terra, ele trabalhava de longe, conjurando os destinos dos humanos como uma figura neutra, nem boa nem má. Por meio dele, as forças de Angra Mainyu (caos) e Ahura Mazda (ordem) foram criadas. Foi nessas forças opostas que o destino humano foi perpetuamente influenciado, moldado e imposto, para melhor ou para pior.

Semelhante à mitologia mesopotâmica, os antigos egípcios associavam o destino à morte e ao julgamento. Ao nascer, uma pessoa receberia um Shai, uma entidade de destino predeterminado que era única para cada indivíduo. Eles determinavam a duração da vida de uma pessoa junto com sua morte. Em representações, era visto como humano ou serpente, simbolizando as dualidades da vida e da morte, proteção e perigo. Na ilustre cidade de Alexandria, Shai era formalmente conhecido como um deus da sorte e da boa fortuna, atendendo pelo nome de Agathos Daimon. O Shai se juntou ao seu companheiro durante toda a vida e ficou ao lado da balança que os julgou na morte, enquanto seu coração pesava contra Ma'at. Como a deusa da lei divina, equilíbrio e ordem, Ma'at julgava aqueles na morte , governando seus destinos depois disso. Ela poderia mandá-los para o paraíso ou deixá-los nos covis obscuros do submundo.

Renenet, outra divindade do destino, fertilidade e sorte, repousava sobre os ombros dos mais merecedores e era colaboradora de Shai. No período greco-romano, Ísis absorveu suas características, assim como fez com muitas das deusas. No entanto, Ísis sempre foi conhecida por desempenhar um papel decisivo nos destinos dos humanos, como a senhora da vida e soberana de Shai e Renenet. Durante o Segundo Período Intermediário, histórias foram escritas sobre ela no Papiro Westcar , um pergaminho contendo contos de eventos mágicos. Nele, Ísis teria ecoado os nomes de várias crianças quando elas vieram ao mundo, significando sua habilidade inata de prever eventos futuros e contribuir para a formação de vidas.

Fonte: https://members.ancient-origins.net/articles/deities-and-influencers-destiny

Traduzido com Google Tradutor.

terça-feira, 1 de outubro de 2024

A teologia coaching

por Francisco Fernandes Ladeira.

Pablo Marçal, principal personagem das eleições municipais de 2024, é “mais bolsonarista que o próprio Bolsonaro”. Diferentemente do ex-presidente, ele realmente representa o slogan “liberal na economia, conservador nos costumes”. Se Nietzsche dizia que o cristianismo é um platonismo vulgar para as massas; podemos dizer que o “marçalismo” é a racionalidade neoliberal vulgar para as massas. Nos discursos do candidato a prefeito de São Paulo estão presentes todas as ilusões difundidas na atual fase do capitalismo, sobretudo a chamada “meritocracia” (a responsabilização do indivíduo por sua situação econômica).

É inegável que este tipo de falácia tem forte aderência nas classes populares. Diante da situação adversa cotidiana, as pessoas querem se apegar a soluções fáceis. Não por acaso, muito se fala que a “teologia coaching” (representada por Marçal) é a etapa superior da “teologia da prosperidade”. Só que, agora, o indivíduo “não se deu bem na vida porque não teve fé suficiente”; “mas por não ter se esforçado o suficiente”. Motoristas de aplicativo não se veem como sujeitos altamente (auto)explorados, mas “empreendedores”. Funcionários não se identificam mais como “trabalhadores”, mas como “colaboradores”, a partir da falsa impressão que uma empresa seria uma “família”. E por aí vai.

Como não tem propostas, Marçal aposta no caos em sua propaganda política. Suas táticas são produzir e divulgar fake news em larga escala, provocar adversários em debates, fazer cortes tendenciosos nas redes sociais, promover discursos messiânicos e apresentar posturas (supostamente) antissistema. Em algumas ocasiões têm dado certo. Não podemos negar que ele sequestrou a agenda pública nessas eleições. Em outras, como na cadeirada que sofreu de Datena, parece que o tiro saiu pela culatra, haja vista sua queda nas pesquisas de intenção de voto.

Por outro lado, para barrar eleitoralmente nomes como Pablo Marçal, é importante que a esquerda volte suas campanhas para questões materiais, que dialoguem com a realidade do grosso da população, como emprego, moradia, saúde e educação. Mostrar para a classe trabalhadora que a extrema direita de Marçal (sob o verniz de defesa da moralidade) representa, de fato, os mesmos interesses daqueles políticos tradicionais direitistas, que o povão tanto repudia.

Fonte: https://jornalggn.com.br/cidadania/marcal-teologia-coaching-e-a-esquerda-por-francisco-ladeira/

Nota: o Bossal é mais perigoso do que parece. A violência cometida no debate teve um sinal dele a um de seus apoiadores. Ou seja, tem gente disposta a ir às vias de fato. O coach picareta encarna o pior do ser humano. Fascista, extrema direita, fundamentalista cristão. Até quando nós vamos permitir isso?

Sacrifício Ritual no Mundo Antigo

Desde o início da humanidade, inúmeras civilizações se envolveram em sacrifícios rituais. Frequentemente, esses sacrifícios envolviam outros humanos e eram tão comuns que eram considerados um aspecto normal da vida. Em algumas culturas, era até uma honra ser o escolhido para o sacrifício!

O sacrifício ritual é uma prática na qual um ser vivo é morto como uma oferenda a um poder superior. Esse poder superior é frequentemente visto como um deus ou deuses, embora em alguns casos possa ser a sociedade como um todo. Em comunidades onde os sacrifícios são comuns, geralmente acredita-se que eles são uma parte necessária da vida e ajudam a restaurar uma ordem sagrada no universo. Essa prática existe há milhares de anos em culturas ao redor do mundo e é, na verdade, uma das primeiras formas conhecidas de adoração na história. Muitas sociedades se envolveram nesse ritual sangrento, mas as discutidas aqui se destacam como as mais horríveis e brutais.

Cada cultura tinha sua própria forma de sacrifício ritual. Em algumas, animais eram mortos e oferecidos como sacrifícios menores, enquanto o sacrifício humano era reservado para eventos maiores, como cerimônias religiosas. Em outras, os humanos eram vistos como o único ser vivo que valia a pena oferecer a um poder superior.

Havia muitas razões para se envolver em sacrifício ritual, embora a maioria fosse para propósitos religiosos. Acreditava-se que a disposição de sacrificar um ser aos deuses era uma demonstração de honra e devoção, o que por sua vez resultaria em bênçãos celestiais. Outra teoria, chamada Hipótese de Controle Social, sugere que o sacrifício humano era usado pelas elites sociais para assustar as classes mais baixas, punir a desobediência e exibir autoridade. Isso construiu e manteve sistemas de classes dentro das sociedades.

Fonte: https://www.ancient-origins.net/news-history-archaeology-preview/blood-gods-0021394

Traduzido com Google Tradutor.

Nota: muito pagão moderno deve estar com o rosto torcido. Infelizmente tenta-se higienizar, suavizar, as crenças antigas. O autor, Lex Leigh, está certo e errado. Em muitas civilizações o sacrifício ritual foi usado como controle social. Mas eu devo lembrar do mito do Divino Rei Sacrificado.