Foi desprezível como Luiz Felipe Pondé postou no X ( antigo Twitter) uma falsa equivalência entre como o atual governo está lidando com a dengue e como o Inominável lidou com a COVID.
Levou uma invertida monumental.
“Se o Lula ficasse mandando todo mundo deixar água parada; dissesse que a vacina para dengue faz virar mosquito; tentasse impedir os governadores e prefeitos de combaterem a doença e fizesse piada com a morte das pessoas, talvez a comparação pudesse chegar perto de fazer algum sentido”.
Podia ficar sem essa, Pondé. Mas como dão a ele espaço, mais tarde, ele posta na Folha uma epítome do machismo.
Título do texto: Ter filhos atrapalha a carreira das mulheres.
Não é novidade alguma que as Mídias tradicionais (jornal, revista, rádio e televisão) são dominadas por uma oligarquia. Eu usei, em algum lugar, o conceito de latifúndio midiático.
As Mídias digitais (internet, redes sociais e aplicativos de mensagens) não são, exatamente, uma alternativa. Refletem o pensamento do cidadão comum, eivado de preconceitos, inculcado com a ideologia pequena burguesa, condicionado em um provincianismo que o torna favorável ao conservadorismo, ao fundamentalismo e ao pior da direita. Aliás, aproveito para afirmar que o pior da extrema esquerda ainda é melhor do que a extrema direita.
Pondé é apenas mais um filósofo que se tornou celebridade/influencer/youtuber/tiktoker.
Isso também não é novidade, a elite dominante percebeu que a filosofia pode ser mais um produto de consumo de massa.
Mas tem outro igualmente desprezível.
Houve um tempo em que eu visitava o blog dele. Como toda “diva”, ele gostava dos elogios, mas reagia como um adolescente de 15 anos diante das críticas. O que pegou mal para quem gosta de envergar títulos como “doutor”, “professor” e “filósofo”.
Eu vou citar e criticar alguns textos publicados pelo Ghiraldelli, na esperança de que o leitor seja mais cauteloso com o que lê.
“Aqueles que acompanham as heroínas das Histórias em Quadrinhos (HQ), sabem que elas sempre adotaram um tipo de vestuário que, hoje, é o que está na moda. … O real imitou a ficção.”
Ghiraldelli deve ter pulado as aulas de sociologia e nunca deve ter tido alguma aula sobre a história da história em quadrinhos.
No meio dessa vasta e diversa história, o gênero de heróis veio bem mais tarde, por volta das década de 50, uma tendência que teve a influência dos conflitos mundiais e foi usado como propaganda política e militar dos EUA. Ghiraldelli, ignorante de história geral, esquece que foi entre os pracinhas que começou a surgir a figura da Pin-Up. Resumindo, os criadores de HQ de heróis não estavam inovando coisa alguma. A ficção sempre reflete o real. A moda apenas recicla, repagina e entrega como “novidade” algo supostamente inspirado na ficção.
“As mulheres desenhadas por Milo Manara, com pernas longas e bocas sensuais, ou as mulheres musculosas que se tornaram o padrão das heroínas das HQ, deram o ideal de corpo para as modelos, as artistas. Em seguida, a prática das academias trouxe para a cena das imagens midiáticas as mulheres com “barriga de tanquinho”, mulheres com músculos no bumbum e nas pernas.”
Novamente, uma enorme confusão mental. Dentro do universo HQ existe o “underground” e obras eróticas. Uma heresia tolerada pelos donos da sociedade, como a pornografia e a prostituição. O “modelo” idealizado, disseminado por modelos e artistas, segue mais um ideal estético absurdo e irreal para a satisfação de nossa sociedade, extremamente patriarcal, sexista e machista. Ícones populares de “heroínas” estão bem longe desse ideal. Quem assistiu a série Batman (1965 - 1968) percebeu a enorme diferença entre a Bárbara Gordon/Batgirl da década de 70 e da década de 90. Para entender isso, é necessário entender a indústria cinematográfica, algo que Ghiraldelli desconhece.
“Atualmente a Inteligência Artificial cria todas as mulheres com aspectos que, até pouco tempo, seriam exageros. A Inteligência Artificial é elogiada ao fazer uma imagem de mulher “próxima da realidade” , e isso é dito exatamente na medida em que o desenho se apresenta exagerado, fixando-se no que é o hiper-real do momento.”
Ghiraldelli errou pela terceira vez. Demostra ignorância sobre a internet, sobre redes sociais, aplicativos de mensagens e sobre inteligência artificial.
Toda imagem é um simulacro. Ghiraldelli ignora esse conceito básico. Faltou nas aulas de teoria da comunicação.
“Quando esses partidos entram, a ponderação termina e o caso, com aborto ou sem aborto, tem um e único fim: a menina fica desprotegida, volta para casa, e logo aparece no hospital para mais uma vez. Mas, em muitos casos, ela não volta. Já está mais velha, e então tenta o aborto clandestino, e morre junto com o que tinha na barriga. O Brasil tenta lidar com isso. Mas os militantes de ambos os lados sabem, a cada caso, gritar contra outros. E não creio que, ultimamente, tem ajudado.’
O obscurantismo, o negacionismo e a rejeição em garantir os direitos reprodutivos às mulheres é esperado de Ghiraldelli, que expõe a própria mulher como um “troféu”.
Ele, que se diz filósofo, professor, é incapaz de ver que a condição da menina, da garota, da mulher, é resultado de nossa sociedade extremamente patriarcal, sexista e machista?
“Aceita Jesus, aceita Anitta. Ela aceita dólares.”
Ghiraldelli estaria revelando ser cristão? Problema dele se aceitar cheque sem fundo. Eu escrevi sobre isso em algum lugar.
“É INCRÍVEL QUE A MÍDIA E OS PETURROS NÃO TENHAM CONDIÇÕES DE VER O QUE O PORTA DOS FUNDOS SEMPRE VIU.”
Isso é sério, Ghiraldelli? Um vídeo do Porta dos Fundos para embasar seu argumento furado?
“A diferença teórica foi dada no Manifesto Comunista (Marx e Engels) e no Do socialismo utópico ao socialismo científico (Engels). A diferença histórica, desenvolvida pela política, acabou se configurando na divisão entre o socialismo da social democracia, ou seja, o da II Internacional. e o comunismo de Lênin, o socialismo pedido pela III Internacional. Em um primeiro momento, ambos os movimentos objetivavam uma sociedade sem classes e sem propriedade privada dos meios de produção.”
Eu fico até com preguiça. Ou ele não entendeu, ou não leu Marx ou Engels. Ou é completamente ignorante em teoria política, econômica e social. Escolha.
“As funções sexuais atinentes à reprodução e ao prazer, como comer e acasalar, seguiram pela prática divisória: o homem penetra, a mulher recebe. O homem fura o mamute, a mulher recebe a carne para o cozimento. …
Mulheres podem ser ativas, mas ainda assim serão receptáculos. Recebem a seta. Homens podem ser passivos, mas ainda assim serão lanceiros. Sexo e alimentação nasceram imbrincados.”
Contradição detectada. O homem passivo deixa de ser a “lança”, a “espada”. A mulher ativa deixa de ser “receptáculo”. Ignorante, Ghiraldelli não deve ter visto a notícia da arqueologia e da antropologia que mostrou a existência de mulheres que caçavam e guerreavam. A divisão sexual do trabalho nunca foi única nem unânime.
Para quem diz ser filósofo, professor, Ghiraldelli deixa a desejar.
2 comentários:
O Manara é um mestre!
😲 eu não critiquei Milo Manara, o gênio das HQ adultas.
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