sexta-feira, 30 de junho de 2023

Os crimes do Tio Sam

A relatora especial para a proteção dos direitos humanos na luta contra o terrorismo, Fionnuala Ní Aoláin, visitou a prisão militar dos Estados Unidos em Guantánamo, território cubano ilegalmente ocupado, e avaliou a situação do local e dos prisioneiros, informa a Prensa Latina.

A relatora constatou que as torturas, prisões arbitrárias e outras violações de direitos humanos são frequentes e sistemáticas, e que causam sérios danos físicos e psicológicos nos detidos. Para além destas violações, verificou que existem graves deficiências nos cuidados de saúde e acesso inadequado à família.

Após testemunhar em primeira mão a crueldade que ocorre na prisão de Guantánamo, Ni Aoláin destacou ainda que os crimes cometidos na prisão violam o direito internacional e declarou que é urgente "fechar imediatamente essa instalação".

A prisão foi aberta em 2001 com o suposto intuito de combater o terrorismo, mas tem fracassado sistematicamente em encontrar culpa e julgar adequadamente os detidos. 

Esta visita da relatora, a primeira visita oficial a Guantánamo de um especialista da ONU, renova a esperança de que a prisão seja encerrada e as autoridades dos Estados Unidos sejam responsabilizadas criminalmente pelas violações de direitos fundamentais e pela ocupação ilegal de território.

Fonte: https://www.brasil247.com/americalatina/onu-classifica-prisao-dos-estados-unidos-em-guantanamo-como-cruel-e-desumana-e-insiste-no-seu-fechamento

Classificados de empregos

O primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, anunciou na quinta-feira (01) um plano de ajuda para as famílias no valor de US$ 25 bilhões (cerca de R$ 127,3 bilhões na cotação atual) com o intuito de evitar a queda de natalidade no país.

Com duração de três anos, o projeto prevê um aumento das ajudas diretas aos progenitores, apoio financeiro à educação dos filhos e ao pré-natal, além de promover horários de trabalhos flexíveis ou licença para os pais.

As medidas buscam combater o colapso na taxa de natalidade, que caiu para um nível "sem precedentes".

O Japão, com 125 milhões de habitantes, registrou menos de 800 mil nascimentos em 2022 — o número mais baixo desde o começo dos registros. Ao mesmo tempo, a proporção de idosos no país aumentou.

O plano levantou críticas, já que até o momento não foram especificadas as fontes do financiamento.

Fonte: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2023/06/02/japao-investira-r-1273-bilhoes-para-promover-natalidade.ghtml

Nota: alô, senhor Kishida, eu me ofereço para ajudar o Japão. Eu quero ocupar a função de reprodutor 🤭😏.

quinta-feira, 29 de junho de 2023

Homenagem descabida

O governo de São Paulo promulgou nesta quarta-feira (28) uma lei em homenagem ao coronel Erasmo Dias. O projeto foi apresentado pelo deputado bolsonarista Frederico D’Avila (PL), e batiza com o nome do militar um viaduto na cidade de Paraguaçu Paulista, onde Dias nasceu. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) está em um evento em Lisboa. Assim, o vice-governador Felício Ramuth (PSD) e secretários ficaram responsáveis pela promulgação.

Erasmo Dias, representante e ícone do regime militar no país (1964-1985), ficou conhecido como o secretário de Segurança Pública de São Paulo que promoveu a invasão na Pontifícia Universidade Católica (PUC), em 1977, que resultou na detenção de 854 estudantes. Desses, 42 foram processados com base na Lei de Segurança Nacional, acusados de subversão. Na data da operação, 22 de setembro de 1977, os estudantes faziam um movimento e ato público pela reorganização da União Nacional dos Estudantes (UNE).

A reitora da PUC-SP na época era Nadir Kfouri, primeira mulher no mundo a ser reitora de uma universidade católica. Na defesa da instituição e de seus alunos, ela desafiou o secretário de Segurança Pública, negou-lhe um aperto de mão, virou-lhe as costas e disse: “Nāo dou a māo a assassinos”. Ela morreu em 13 de setembro de 2011, aos 97 anos.

Dias também prendeu sindicalistas (petroleiros, portuários e estivadores), aprisionando-os no navio-prisão Raul Soares em 1964, quando era comandante do Forte Itaipú, na Baixada Santista.

No final de maio de 2023, nove centrais sindicais e a UNE pediram a Tarcísio de Freitas que vetasse a homenagem, aprovada pela Assembleia Legislativa de São Paulo. As entidades classificaram a iniciativa como “inadmissível”, e destacaram que Erasmo Dias era uma pessoa “reconhecidamente autoritária, violenta e antidemocrática”.

Erasmo Dias foi deputado federal nos períodos entre 1979 e 1983. De 1987 a 1999 foi deputado estadual. Ele morreu em 2010 aos 85 anos.

Fonte, citado parcialmente: https://www.brasil247.com/regionais/sudeste/tarcisio-promulga-lei-em-homenagem-a-erasmo-dias-icone-da-ditadura

Termas etruscas foram encontradas

Arqueólogos encontram estátuas submersas em uma casa de banho anterior ao período romano, na Toscana. Acredita-se que as 24 imagens encontradas podem ter sido feitas pelos etruscos, antiga civilização que habitava a península itálica anterior aos romanos, entre o séc. II a.C e o séc. I d.C. Os achados datam de 2300 anos atrás e são feitos de bronze, algumas chegam a quase 1 metro de altura.

A descoberta pode ser considerada uma das mais importantes do seu tipo nos últimos 50 anos. Elas representam imagens de deuses como Hygeia e Apolo, adolescentes, matronas, crianças e imperadores. Junto com elas foram achadas milhares de moedas, que acredita-se que se tratava de um gesto para atrair saúde.

O spa fica localizado em San Casciano dei Bagni, próximo a Siena. Os etruscos aproveitaram das 42 fontes termais existentes no local para construir piscinas de banhos, além disso eles também ergueram fontes e altares. Entretanto, o local passou a ser mais luxuoso no período romano quando imperadores como Augusto se tornaram visitantes do local em busca de seus benefícios à saúde. O local foi fechado por volta do séc V na era cristã, com pilares de pedras isolando as piscinas e as estátuas ficando submersas na água.

Os etruscos influenciaram fortemente as tradições artísticas e culturais do império romano. Os achando contam um pouco sobre o período de transição entre os dois povos e a relação deles com o local sagrado. “Mesmo em épocas históricas em que os conflitos mais terríveis estavam acontecendo lá fora, dentro dessas piscinas e nesses altares os dois mundos, o etrusco e o romano, parecem ter coexistido sem problemas” aponta Jacopo Tabolli, líder das escavações, em resposta à Ansa.

As estátuas serão alojadas em um edifício histórico da cidade San Casciano dei Bagni e antiga casa de banhos se tornará um importante parque arqueológico da região.

Fonte: https://olhardigital.com.br/2023/06/15/ciencia-e-espaco/estatuas-encontradas-na-italia-podem-mudar-tudo-o-que-sabemos/amp/
Nota: não está explícito, mas Romanos e Etruscos conviveram nas termas, até que veio o Cristianismo.

quarta-feira, 28 de junho de 2023

Campanha contra a intolerância

Vestido de verão, cabelo loiro no estilo de Marilyn Monroe e batom vermelho: assim o vice-prefeito de Estocolmo apareceu em um encontro com crianças, no contexto de uma campanha lançada nesta semana contra a "intolerância e o populismo". Nesta quinta-feira (15), Jan Jönsson, de 45 anos, disse que se transformou em uma drag queen para responder a políticos que se manifestaram contra a liberdade de expressão de artistas transformistas.

Filiado ao Partido Liberal (de centro-direita), ele explicou à AFP que iniciou essa campanha após o surgimento de críticas formuladas pelos Democratas da Suécia (de extrema-direita) contra drag queens que leem para as crianças em bibliotecas ou que guiam visitas no Royal Drama Theatre, em Estocolmo.

Animações desse tipo são realizadas no país desde 2017. "Faço de mim uma espécie de tela para os artistas drag queens poderem dizer que todos devem ser livres para se expressar", explicou o político. "Alguns partidos tentam restringir as liberdades dos outros e em particular das drag queens. Com esta posição, espero que outros possam dizer que já chega. A Suécia deve ser um país livre", acrescentou.

Em um vídeo no Twitter, Jan Jönsson aparece como um travesti bastante elegante, sob uma peruca loira exuberante, usando cílios postiços, um vestido azul claro com flores e salto agulha. Sentado em uma cadeira, rodeado de crianças sentadas no chão, ele lê um trecho de "Les Frères Coeur-de-Lion", um romance da famosa autora infanto-juvenil sueca Astrid Lindgren.
"As histórias não são perigosas para as crianças. Nem as drag queens. Mas o populismo e a intolerância são perigosos para as crianças e para os adultos", diz ele olhando para a câmera.

Fonte, citado parcialmente: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/rfi/2023/06/15/politico-sueco-se-veste-de-drag-queen-em-encontro-com-criancas-para-sensibilizar-contra-preconceito.amp.htm
Nota: eu escrevi em algum lugar aqui sobre o banheiro unissex. Eu também sou a favor dessa iniciativa de drag queens lendo para crianças, afinal, el@s precisam ver e saber que sua circunstância (crianças homossexuais e transgênero) é normal.

terça-feira, 27 de junho de 2023

A ideia ateísta não se sustenta

O ateísmo está, em última análise, enraizado na racionalidade? Para ateus públicos como Sam Harris, a resposta é, sem dúvida, sim. Harris, junto com outras vozes proeminentes do Novo Ateísmo, há muito argumenta que as pessoas se tornam ateias porque usam suas faculdades como seres racionais para pensar em uma saída da doutrinação religiosa.

A noção de que o ateísmo é, em última análise, racional é estrategicamente central para o pensamento neoateu. Afinal, usar a ciência e a racionalidade como cunhas para afastar as pessoas da fé só funciona se houver uma relação estreita entre ateísmo e racionalidade.

Mesmo fora dos Novos Ateus, a noção de que o ateísmo é sobre racionalidade se mostra incrivelmente popular. Às vezes dou palestras para grupos ateus e converso com pessoas sobre como elas se tornaram ateus. A narrativa mais comum, de longe, envolve pessoas aplicando suas faculdades racionais para escapar de uma educação religiosa. Vez após vez, as pessoas me dizem que saíram da religião pensando clara e racionalmente sobre afirmações religiosas que simplesmente não condizem com a ciência.

Mas é a racionalidade que, em última análise, enfraquece a fé?

Aqueles que fazem essa afirmação tendem a ser firmes defensores da ciência. Então vamos ver o que a ciência tem a dizer sobre o assunto.

Sou um cientista que estuda a psicologia do ateísmo há mais de 15 anos e acho que os novos ateus e outros que sugerem uma conexão causal forte e direta entre racionalidade e ateísmo entenderam a ciência de maneira errada. A racionalidade geralmente não é corrosiva para a fé, e as escassas evidências científicas alardeadas por aqueles que ligam o ateísmo à racionalidade são em si bastante incertas. À medida que nós, cientistas, passamos a entender melhor o ateísmo ao longo dos anos, aprendemos que a relação entre racionalidade e ateísmo é muito mais complexa do que pensávamos.

A noção de que a racionalidade está no cerne do ateísmo não é totalmente exagerada. A experiência vivida por muitos ateus sugere uma ligação entre racionalidade e ateísmo, e a ideia também tem alguma plausibilidade teórica. Desde o final dos anos 1990, tem havido um esforço interdisciplinar consistente para entender a religião com ferramentas científicas. Esse movimento, muitas vezes chamado de ciência cognitiva da religião, tentou situar o impulso religioso humano em um contexto evolutivo e cognitivo mais amplo. O que na história evolutiva levou nossa espécie, e somente nossa espécie, a ter religiões?

Central para esse esforço tem sido a noção de que não evoluímos para ter a religião como uma adaptação em si mesma, mas que as religiões podem surgir como subprodutos cognitivos . Temos adaptações cognitivas que ajudaram nossos ancestrais a resolver muitos desafios recorrentes. Essas adaptações mentais geralmente funcionam abaixo de nossa percepção consciente. E talvez, dizem os cientistas cognitivos da religião, todas essas adaptações mentais funcionem juntas de tal forma que alguns conceitos religiosos sejam apenas “pegajosos”.

Tudo o mais igual, nossos cérebros funcionam de tal forma que os conceitos religiosos são intuitivamente atraentes, mesmo que não tenhamos evoluído especificamente para sermos religiosos.

Dentro dessa estrutura, as religiões dependem de nossas intuições. Como espécie, parece que achamos bastante intuitivo pensar em mentes existindo separadas de corpos; achamos intuitivo pensar que objetos e animais existem por alguma razão funcional; não temos dificuldade em imaginar deuses, fantasmas, djinn e outros agentes sobrenaturais. Isso não quer dizer que nossos cérebros tenham “centros de Deus”, mas, em vez disso, nossos cérebros apenas funcionam de uma maneira que torna os conceitos religiosos fáceis de pensar.

Mas a psicologia humana não é só intuição. Desde pelo menos William James, os psicólogos reconhecem que temos maneiras diferentes de processar informações. O livro do ganhador do Prêmio Nobel Daniel Kahnemann, Thinking, Fast and Slow, resume décadas de trabalho descobrindo que as pessoas alternam entre confiar em intuições instintivas e confiar em um pensamento racional mais esforçado. Esses dois sistemas – um intuitivo rápido e um racional mais lento – geralmente funcionam em paralelo, mas às vezes entram em conflito. Portanto, se as religiões são apoiadas por nossas intuições naturais, talvez o ateísmo resulte do sistema racional assumindo o comando. Como Pascal Boyer, uma figura importante na ciência cognitiva da religião, colocou em um resumo proeminente , “Alguma forma de pensamento religioso parece ser o caminho de menor resistência para nossos sistemas cognitivos. Em contraste, a descrença é geralmente o resultado de um trabalho deliberado e esforçado contra nossas disposições cognitivas naturais – dificilmente a ideologia mais fácil de se propagar.”

Por volta de 2010, no final da minha carreira na pós-graduação, Ara Norenzayan e eu decidimos testar cientificamente se o pensamento racional era um pilar do ateísmo. Especificamente, queríamos testar duas possibilidades: primeiro, que diferenças individuais no pensamento racional prediziam o ateísmo e, segundo, que estímulos experimentais para pensar de forma mais racional promoveriam o ateísmo. Publicamos um artigo na Science que parecia mostrar suporte para ambas as possibilidades. Um estudo revelou uma correlação segundo a qual as pessoas com pontuação mais alta em um teste padrão de racionalidade sobre a intuição também se classificaram como menos religiosas do que os pensadores mais intuitivos. Quatro estudos de acompanhamento descobriram que vários estímulos experimentais para envolver o sistema racional levaram as pessoas a relatar menos crenças religiosas. Nossos resultados foram acompanhados por resultados semelhantes publicados por duas equipes independentes.

Nosso trabalho atraiu muita atenção, tanto popular quanto dentro da torre de marfim. Popularmente, nosso artigo foi visto como uma peça-chave de evidência ligando a racionalidade ao ateísmo. O que era isso, afinal, senão a comprovação científica da ideia de que a racionalidade era a chave do ateísmo?

Para dar um exemplo infeliz e comovente dessa retórica, em A Manual for Creating Atheists , Peter Boghossian exorta seus novos seguidores (denominados Street Epistemologists) a procurar crentes em público e tentar desviá-los da fé. Ele aconselha os ateus a confrontarem racionalmente os fiéis no trabalho, na escola, nos supermercados e até mesmo em voos de avião (ele recomenda reservar um assento do meio, para que você tenha mais vizinhos para enfrentar). Ele até afirma que a ciência apóia sua estratégia proposta, citando nosso artigo de 2012 como prova positiva de que a racionalidade enfraquece a fé: “em outras palavras, se alguém ganha proficiência em certos métodos de raciocínio crítico, há uma probabilidade maior de que não crenças religiosas."

Embora a atenção popular em nosso jornal fosse em grande parte comemorativa (pelo menos entre os ateus públicos), a atenção acadêmica rapidamente se tornou crítica. Em 2017, Clinton Sanchez e Bob Calin-Jageman (juntamente com seus colegas) publicaram um sólido esforço de boa fé para replicar nossa descoberta de 2012. O projeto deles era muito mais rigoroso metodologicamente do que nosso esforço inicial: as amostras eram maiores, as técnicas mais afinadas. E seus resultados foram negativos - ao contrário de nossas afirmações iniciais, cutucadas experimentais para pensar racionalmente tiveram efeito precisamente zero nas crenças religiosas autodeclaradas. Um artigo de 2018 tentou replicar todos os artigos de ciências sociais publicados na Science and Nature ao longo de um período de tempo ,e este artigo também não conseguiu replicar nossos resultados de 2012 (juntamente com um grande número de outras descobertas importantes).

Norenzayan e eu encaramos a música e negamos publicamente nossas descobertas . Parece cada vez mais que nossos resultados foram um falso positivo, ruído que presumimos erroneamente ser um sinal interessante. Estímulos experimentais para pensar racionalmente não parecem ter nenhum impacto perceptível nos relatos de religiosidade das pessoas. Para complicar as coisas, uma equipe liderada por Miguel Farias tentou experimentos indo na outra direção - perguntando se cutucadas para ir com o instinto e confiar nas intuições aumentariam a crença - também resultou em um monte de nada.

Quaisquer que fossem os vínculos entre racionalidade e religião, não era algo que pudéssemos impor facilmente no laboratório.

Portanto, experimentos ligando racionalidade ao ateísmo (e intuição à fé) não continham água científica (não se sustentava). Mas e as diferenças individuais? Afinal, nosso jornal e duas equipes independentes descobriram quase simultaneamente que o pensamento racional estava pelo menos correlacionado com o ateísmo. Esse padrão, com o dom da visão retrospectiva e agora uma década de pesquisa, parece ser legítimo. Gord Pennycook conduziu uma meta-análise para sintetizar todas as evidências disponíveis sobre a correlação entre pensamento racional e ateísmo e relatou que, em geral, a correlação era robusta.

Isso não salva parcialmente a ideia do ateísmo racional? Afinal, aqui está uma evidência em larga escala de que, amostra após amostra, os pensadores racionais tendem a ser um pouco menos religiosos do que as pessoas que confiam mais em suas intuições instintivas.

A meta-análise de Pennycook encontrou uma correlação de apenas cerca de r = 0,2 entre o pensamento racional [1] e a irreligião. Isso significa que, se conhecermos as pontuações das pessoas em um teste de pensamento racional, podemos explicar apenas cerca de 4% da variabilidade na crença em deus(es). Não é nada, mas também não é tão impressionante. A correlação entre racionalidade e ateísmo também parece ser bastante inconstante em contextos culturais. Liderei uma equipe para procurar o ateísmo racional em 13 paísesabrangendo uma porção bastante completa do espectro global do secular ao sagrado, da Holanda e Finlândia à Índia e Emirados Árabes Unidos. Em lugares como os EUA, a correlação é confiável sem ser forte, mas desaparece completamente em outras partes do mundo. Descobrimos que a modesta correlação entre racionalidade e ateísmo desapareceu quase inteiramente em amostras europeias mais seculares e foi mais fraca na maioria dos lugares do que parece nos EUA. Calculando a média de todos os 13 países, encontramos uma correlação mísera de r = 0,1 entre racionalidade e ateísmo, o que significa que, nesta análise global, a racionalidade representa apenas cerca de 1% da variabilidade observada nas crenças religiosas.

Claramente, outros fatores são muito mais importantes aqui.

Outro projeto de pesquisa nos permitiu testar uma dinâmica muito específica sugerida pelos novos ateus: a possibilidade de que a racionalidade possa ser especialmente impactante para afastar as pessoas de uma educação fortemente religiosa. Talvez a racionalidade não seja geralmente corrosiva para a religião (como sugerem as análises mencionadas anteriormente), mas pode ser um fator-chave no ateísmo entre pessoas que foram fortemente criadas para serem religiosas? Maxine Najle, Nava Caluori e eu publicamos recentemente um estudono qual testamos vários preditores de ateísmo uns contra os outros em uma amostra nacionalmente representativa de norte-americanos. Conseguimos realizar uma análise estatística para identificar especificamente a relação entre racionalidade e ateísmo entre aqueles que foram mais fortemente expostos à religião enquanto cresciam. E entre essas pessoas educadas culturalmente para serem religiosas, a correlação entre racionalidade e descrença religiosa caiu para zero.

Isso mesmo: entre as pessoas mais expostas à religião, não há correlação confiável entre racionalidade e ateísmo. Isso significa que, entre aqueles com forte educação religiosa, aqueles que são mais racionais não têm maior probabilidade de acabar como ateus do que aqueles que estão mais inclinados a confiar em suas intuições. Longe de a racionalidade ser um fator-chave que leva as pessoas para longe de uma educação fortemente religiosa e para o ateísmo, verifica-se que a racionalidade não é nem modestamente correlacionada com o ateísmo entre este subconjunto de pessoas. Não há relação alguma.

O que dizer então da narrativa popular que liga o ateísmo e a racionalidade? Todas as pessoas em encontros ateus que me contam sua jornada racional para o ateísmo estão simplesmente iludindo a si mesmas?

De jeito nenhum. Para uma pessoa que deixou a religião, a racionalidade pode parecer o fator mais importante. Mas, em conjunto – olhando para toda a população de todos que foram criados em um lar religioso e que tentam aplicar a racionalidade em suas vidas – não há uma tendência geral pela qual a racionalidade leve as pessoas ao ateísmo. As narrativas individuais das pessoas não são inválidas, elas simplesmente não podem falar sobre tendências mais amplas. Os grupos ateus com os quais converso podem ser genuinamente compostos de pessoas que usaram a racionalidade para se tornar ateus; é que esses grupos não incluirão todas as pessoas com educação semelhante que usam a racionalidade para explorar e fortalecer sua fé.

Os novos ateus proclamam a racionalidade como o antídoto para a fé. No entanto, eles falharam em se envolver com um corpo agora substancial de evidências científicas que contradizem categoricamente sua premissa central. Experimentos que ligam causalmente o ateísmo e a racionalidade falharam em se reproduzir e foram denunciados por seus autores (inclusive eu!). A correlação entre o pensamento racional e o ateísmo parece robusta, embora um tanto inexpressiva em magnitude. Claro, as pessoas que pontuam um pouco mais alto em uma tarefa que mede a racionalidade também tendem a se classificar como um pouco menos religiosas. Mas essa correlação é pequena em magnitude, inconstante em contextos culturais e desaparece inteiramente entre pessoas fortemente expostas à religião durante o crescimento. Em cada um desses pontos, a evidência científica teimosamente não se alinha com o mundo que os Novos Ateus descrevem.

Ateus, livres-pensadores e céticos geralmente abraçam a ciência. Confiamos na ciência em parte porque confiamos nos cientistas para se manterem atualizados sobre as evidências relevantes. Em Os Quatro Cavaleiros, Christopher Hitchens resume concisamente essa deferência às autoridades científicas: “Vou aceitar as coisas que [Dennett e Dawkins] dizem sobre as ciências naturais … sabendo que [Dennett e Dawkins] são o tipo de cavalheiro que teria verificado.” No entanto, por mais de uma década, os ateus públicos falharam em se envolver com a ciência em uma de suas suposições mais valiosas: que a racionalidade pode afastar as pessoas da religião e levá-las ao ateísmo. A evidência nunca apoiou fortemente a racionalidade como um suporte chave do ateísmo. E agora, depois de mais de uma década de estudo direto, parece que a racionalidade é, na melhor das hipóteses, um fio menor na tapeçaria do ateísmo, em vez de um tema central.

O ateísmo racional é (mais ou menos) um mito.

O que significa que o ateísmo racional é em grande parte um mito? Os livres-pensadores devem parar de promover a racionalidade? Dificilmente! A promoção da racionalidade pode intrinsecamente trazer suas próprias recompensas e deve ser perseguida por seus próprios méritos, sem quaisquer pretensões pseudocientíficas de que converterá os crentes ao ateísmo. Também acredito firmemente que abandonar o mito ateu racional pode pagar dividendos secundários se levar os pensadores aliados do novo ateu a parar de tentar usar a ciência e a racionalidade para minar a fé religiosa. Esses esforços são incrivelmente improváveis de serem bem-sucedidos. Pior ainda, eles têm um potencial substancial para sair pela culatra. Dawkins e outros há muito tentam usar a ciência e a racionalidade para afastar as pessoas da religião, mas, em primeiro lugar, eles diagnosticaram erroneamente a origem do ateísmo.

Nosso mundo atualmente enfrenta uma série de ameaças existenciais sobrepostas: mudança climática, desigualdade racial e de riqueza, guerra. Para resolver esses problemas, precisamos de todas as mãos científicas no convés. Esses desafios são importantes demais para arriscar alienar as pessoas da ciência, por meio de suposições errôneas de que a racionalidade afastará as pessoas das crenças religiosas.

Fonte: https://onlysky.media/wgervais/a-treasured-atheist-idea-that-reason-undercuts-faith-just-doesnt-hold-up/
Traduzido com Google Tradutor, com um pequeno acréscimo. Destaque por conta da casa.

Estragando uma boa ideia

Olhando páginas direcionadas aos evanjegues eu vi uma notícia que parecia ser boa.

Citando uma fonte alternativa:

Universidades do Texas financiam cursos sobre bruxas e magia negra.

A Texas Tech University anunciou que oferecerá um curso chamado "Bruxas, Bruxas e Magia Negra".

O curso é descrito como introduzindo o “estudo de crenças e práticas, passadas e presentes, associadas à magia, feitiçaria, espiritualidade, realismo mágico e religião”.

Os tópicos discutidos incluirão “ritual, simbolismo, mitologia, estados alterados de consciência e cura, bem como sincretismo, mudança e os papéis sociais dessas crenças e práticas”.

A Texas Tech não é a única universidade pública do Texas que oferece cursos de bruxaria.

A Universidade do Norte do Texas oferece o ANTH 4751: Magia Sobrenatural, Bruxaria e Religião, enquanto os alunos da Universidade do Texas podem fazer o HIS 343P: História da Bruxaria.

A maioria dos cursos são classificados em faculdades de estudos de gênero e mulheres das universidades.

Fonte, citado parcialmente: https://texasscorecard.com/state/texas-universities-fund-courses-on-witches-and-black-magic/
Traduzido com Google Tradutor.

Mas como era de se esperar, houve reação por parte dos conservadores e fundamentalistas cristãos e o curso foi cancelado.
Mas ai de nós se tentarmos mexer na escola dominical.😤.

segunda-feira, 26 de junho de 2023

O preço da futilidade

The ship is going down fast
But I won't be around
I'm jumping in a lifeboat
And heading for dry ground

I'm not going down with the ship
- Scatterbrain

Você deve ler algum jornal para saber das notícias e, para ser bem sincero, nós perdemos as vísceras em algum momento, porque a Imprensa vive de tragédia e sensacionalismo.
As páginas que eu leio até levantou a questão - por que se deu mais notícia dos bilionários que ficaram atolados no submarino que fazia um passeio ao Titanic do que aos imigrantes que morrem tentando encontrar asilo.

O que ninguém está falando é o preço da futilidade. Nosso mundo é caracterizado pelo modo de produção capitalista, onde é considerado normal 2% da população ter mais dinheiro que os demais 98%. Gente que tem dinheiro demais e não sabe utilizar e não se importa que tem milhões de pessoas passando fome. Gente que prefere criar uma rede social ou comprar uma. Gente que usa a riqueza produzida por seus funcionários para bancar uma viagem no espaço. Então por que essa surpresa ou falsa repulsa por gente que prefere gastar dinheiro com um passeio até o Titanic?

O conceito de reforma tributária deveria ser mundial. Quem tem mais dinheiro deveria pagar mais imposto. Ou alguma outra iniciativa que promova a igualdade e justiça social. Ou mudar a forma de produção para o socialismo.

Enfim, morreram. Todo dinheiro que tinham de nada valeu. Eu espero que isso te faça pensar. Não importa o quanto você estudou, o trabalho que você faz, a função que ocupa, seus títulos, importâncias ou autoridade que você possa estar investido. Nós todos vamos para o mesmo buraco no final.

Então o que vale a pena? Sustentar essa sociedade cruel e desumana ou usar o pouco tempo que temos para tornar real uma sociedade mais justa e igualitária para todos?
Sem mudança, nós vamos nos causar nossa própria extinção.

A mitologia grega fundou a civilização ocidental

Na Grécia antiga, se falava uma língua isolada e se usava um alfabeto diferente. Seu povo não se parecia com os europeus - aliás, boa parte do que era a Grécia naquele tempo nem ficava na Europa, mas na Ásia, onde hoje é a Turquia. Ainda assim, foi lá que nasceu o mundo Ocidental.

A mitologia teve papel fundamental na disseminação de valores que soam familiares a nós ainda hoje. Das noções de ciúme e de inveja, da soberba ao heroísmo, somos herdeiros de determinado jeito de pensar que nasceu ali. Afinal, o que havia de tão especial com esse povo e seus deuses para que suas ideias sobrevivam até hoje?

"As pessoas se referem frequentemente ao milagre grego", escreveu a pesquisadora germano-americana Edith Hamilton em seu livro Mitologia. "Sabemos apenas que nos primitivos poetas gregos manifestou-se um novo ponto de vista, diferente de tudo com que se sonhara antes deles, mas que, depois deles, seria uma conquista permanente do mundo."

Pense na imagem de Deus. Aquele mesmo, da Bíblia. É provável que tenha vindo à sua cabeça um homem maduro, vigoroso, de barba branca. Se Ele ficar irritado, mandará raios na cabeça de alguém. Sim, você imaginou deus, mas não o da Bíblia ("Homem nenhum verá minha face e viverá", diz o Êxodo). A imagem em sua cabeça é a de Zeus (Júpiter para os romanos).

O marido e irmão de Hera (ou Juno). O imperfeito, irascível, briguento, mulherengo e todo-poderoso deus grego. O Novo Testamento não foi escrito na linguagem que Jesus e seus discípulos falavam, o aramaico, mas em grego, a língua franca da Antiguidade. Por causa disso, entidades mitológicas gregas acabaram batizando conceitos cristãos.

O Sheol, o inferno de acordo com a Bíblia, virou Hades, a terra dos mortos grega, que não era nem boa nem ruim. Os shedin e mazikin do Velho Testamento foram traduzidos para daimon, origem da palavra demônio. Entre os gregos, daimon era um espírito incorpóreo, geralmente benigno, uma espécie de anjo da guarda.

"O cristianismo é uma religião greco-romana, e não judaica", diz Jacyntho Lins Brandão, da Universidade Federal de Minas Gerais. "Ela é fruto de um grupo de judeus helenizados e teve que passar por adaptações. As próprias imagens eram coisas que os judeus não tinham, eram proibidas." A força da mitologia era tão grande que os padres tiveram de engolir a manutenção de certos costumes. Sobreviveu algo do paganismo nas maiores datas cristãs.

O Natal não cai em 25 de dezembro porque Jesus nasceu nessa data. Ninguém sabe o dia em que Jesus nasceu. Havia uma grande festa pagã, a Saturnália, comemorada entre 17 e 23 de dezembro. Ela homenageava o pai de Zeus, Cronos, ou Saturno, em latim. A Igreja decidiu marcar o Natal para essa época para sobrescrever a Saturnália. Durante a festança, os romanos decoravam a casa, davam presentes e faziam um grande banquete, com direito a muito álcool — a parte mais selvagem das comemorações foi transferida hoje para o Ano-Novo.

A Páscoa tem coincidências ainda mais evidentes. No final de março, gregos e romanos comemoravam a morte e ressurreição de uma figura divina, nascida de uma virgem, e cujos sacerdotes eram celibatários. O evento se caracterizava pela abstinência de certos alimentos, seguido por um dia de comiseração, em que alguns fiéis chegavam a se autoflagelar.

Por fim, havia uma grande festa e os alimentos eram liberados. Assim era o festival Hilaria, que homenageava o deus Attis, marido de Cibele, a deusa da colheita. A páscoa cristã, que não cai no mesmo dia da judaica, também foi calculada para obscurecer antigos festivais pagãos.

O legado grego ao mundo contemporâneo passa pela maneira como os antigos encaravam seus deuses. Os deuses não eram os inventores do mundo, mas parte de algo que já existia. Zeus, o manda-chuva de turno, não criou a Terra, nem mesmo os homens, que foram invenção de seus primos. Zeus, seus irmãos, filhos e aparentados formam uma segunda geração de potestades. Enquanto na tradição judaico-cristã, Deus vive em um céu inalcançável, os deuses da mitologia grega tem endereço físico, o monte Olimpo, a maior montanha da Grécia. Quer dizer, os deuses estavam, literalmente, ao alcance dos humanos.

O Deus cristão é representado como um ser distante, sobre-humano. Nas raras vezes em que desceu à Terra, apareceu na forma de luz ou fogo — ou só sua voz era ouvida. Com o pessoal da mitologia, era diferente.

Quando Zeus dava o ar da graça por aqui, por vezes se disfarçava para iludir e seduzir as mortais. Virou touro e cisne — e dormiu com as humanas até em forma de gotas de chuva. Os deuses gregos eram demasiadamente humanos. Podiam se ferir e se alimentavam todos os dias, de néctar e ambrosia. Enfim, tinham sua própria vida privada. "Embora tivessem características gregas, o fato é que os mitos da Grécia são compreensíveis pelos seres humanos de outras épocas e culturas", afirma Pedro Paulo Funari, professor de História Antiga da Unicamp e autor de Grécia e Roma.

Quando ouvimos as histórias mitológicas, nos deparamos com nossos próprios sentimentos. Um exemplo: o ciúme de Hera, a primeira-dama do Olimpo, diante das escapadas do marido em busca de deusas e mortais. Outro: Narciso, o herói que se julgava mais bonito que Apolo e por obra da deusa Nêmesis se apaixonou por ele mesmo. Ou Afrodite, que nasceu do sêmen de Cronos e é sinônimo de beleza — veja O Nascimento de Vênus, ou pense na Vênus de Milo. Algumas criações da Antiguidade, como drapeados, fivelas e tiaras, nunca mais saíram da moda.

O conceito de beleza masculino, de músculos definidos e rosto anguloso, vigora desde lá. Até há pouco tempo, um homem belo era um Apolo. Hoje, encontramos a herança helênica na TV e no cinema. Quem nunca quis ser super-herói? Pois o culto ao herói é algo tipicamente grego.

Héracles — ou Hércules, em latim —, ele mesmo transformado em personagem da Disney, inaugurou a senda de heróis semidivinos (ele virou imortal ao fim de seus 12 trabalhos), que são obrigados pelo destino a cumprir determinadas tarefas. E sua história ajuda a revelar o caráter dos deuses. Filho de Zeus com uma mortal, ele quase foi morto no berço por causa da ciumenta Hera.

A primeira-dama do Olimpo não hesitou em botar serpentes no berço do recém-nascido. O bebê, claro, matou as cobras. Continuamos contando as mesmas histórias. Luke Skywalker e Darth Vader, de Star Wars, são fruto da mesma árvore.

George Lucas, que criou a saga, era fã de Joseph Campbell, possivelmente o maior mitólogo que já existiu. Ou para quem gosta de analogias mais sofisticadas: "Ao escrever Ulisses, James Joyce reescreve também a tradição literária do Ocidente desde Homero, com a Odisseia e a Ilíada. Tradição que explora sem cessar os valores da jornada", escrevem Giulia Sissa e Marcel Detienne em Os Deuses Gregos.

O que nos chegou da vida cotidiana dos deuses veio principalmente de Hesíodo, com sua Teogonia, e Homero. A diferença entre a mitologia grega e as religiões monoteístas é que não há nada parecido a um livro sagrado para os gregos. As narrativas das façanhas divinas eram literatura. Variavam de cidade para cidade, com deuses mais populares aqui que ali.

"Eles acabaram não tendo uma ideia de verdade absoluta", diz Funari. Não ter um imperativo moral único e criar deuses com comportamento humano ajudaram os gregos a projetar um sistema de pensamento que forjaria o caráter do Ocidente. Eram cosmopolitas, conheciam muitos outros povos e suas crenças. A tolerância permitiu o surgimento da filosofia, o pensar só pela razão, desprendido de magia. Livres do peso de deuses rebarbativos, deram vazão ao pensamento criativo. Tudo podia ser colocado em dúvida. Este é o legado grego ao Ocidente: a nossa forma de pensar.

A Grécia não inventou a ciência moderna, que se baseia em experiências reproduzíveis, algo que só apareceu no século 18. Mas passou perto. Aristóteles estudou a física do movimento e estabeleceu uma teoria sobre as causas dos fenômenos que se sustenta até hoje. Entre a nobreza grega, valorizava-se mais o pensar do que o fazer, mas ainda assim a tecnologia prosperou. Inventaram engrenagens, catapultas, bombas e instrumentos musicais automáticos. O matemático Heron de Alexandria criou bombas hidráulicas, a primeira máquina de venda automática, o órgão e o motor a vapor — para o qual não viu uso.

Para os gregos, os números eram unidades concretas, parte de uma visão de mundo de harmonia e simetria. Não havia números decimais, negativos e o zero. O número 1 tinha características divinas. Pitágoras chegou a criar uma seita reverenciando números — entre os mandamentos, estava o vegetarianismo, mas feijões eram proibidos. Na religião pitagórica, a existência de números irracionais, incompatíveis com 1, era um conhecimento secreto, para iniciados. "Sob o signo de Pitágoras, os gregos descobrem as virtudes espirituais do cotidiano", diz Giulia Sissa. Como os gregos entendiam os números? Com uma veneração quase mística. Veja o caso da chamada proporção áurea, o número 1,618 (o fi, ou f, em homenagem ao escultor Fídias). Ela era considerada a chave para a beleza em tudo: esculturas, edifícios e objetos do cotidiano.

Fídias usou a proporção áurea para desenhar o Parthenon. Todos os artistas que o seguem costumam esconder proporções áureas em estátuas, quadros e prédios. Mas você não precisa ir a um museu para encontrá-la: basta tirar um cartão do bolso. Cartões de crédito, pôsteres de cinema, e um monte de objetos retangulares são feitos em proporção áurea. Prédios a usam em elementos como janelas, fachadas e o próprio formato da construção. A arquitetura clássica pode ser vista no Capitólio, em Washington, baseado em construções gregas. O logotipo da Unicef, o órgão das Nações Unidas para a educação, ciência e cultura, é um prédio que poderia ter sido erguido em Atenas. Falando em educação, quase tudo o que entendemos do assunto veio de lá. As crianças gregas começavam estudar aos 7 anos, por meio de um tutor, o paidagogeo — pedagogo.

"O primeiro livro que aprendiam era a Ilíada", diz Brandão. Para a educação do corpo, havia facilidades públicas, os gymnasion — centros de treinamento físico, que também tinham locais para discussões intelectuais. A palavra vem de gymnos, pelado, porque era como os gregos praticavam esportes. É a origem de ginástica e, obviamente, de ginásio.

Sócrates era um filósofo de rua, que ensinava as pessoas por meio de diálogos informais. Seu maior discípulo, Platão, decidiu levar a coisa a outro nível. Em 387 a.C., fundou a primeira instituição de ensino superior do mundo, onde se formaria Aristóteles. O lugar ficava num bosque de oliveiras e chamava-se Akademia, uma homenagem a Akademos, herói da guerra de Troia.

A Academia original durou até 84 a.C., quando foi destruída numa guerra — mas novas academias surgiram. A partir de então, o termo foi aplicado a várias escolas e também ao mundo da educação superior em geral. Só no Brasil é lugar de atividade física e ginásio, um local de estudo. "A história da formação grega começa com o nascimento de um ideal definido de homem superior", escreve Wener Jaeger em Paideia.

A democracia nasceu em Atenas, pelas mãos de Sólon, no século 6 a.C. Só os homens livres podiam tomar parte da festa, mas o princípio permaneceu. Com a democracia, apareceu uma figura que também dura até hoje: o demagogo. Eles se diziam inimigos dos aristocratas. Mas tão logo conquistavam o poder transformavam-se em tiranos (outra criação grega).

A Grécia antiga morreu com a ascensão do cristianismo. No final do Império Romano, a tradição do pensamento livre foi esmagada pela união de Igreja e Estado. De perseguidos, os cristãos se tornaram perseguidores implacáveis e destruíram textos e obras de arte.

Transformada em Império Romano do Oriente, a Grécia — que agora atendia pelo nome de Bizâncio — renegou seu passado: a palavra helenos, "grego", em grego, passou a significar pagão. Eles chamavam a si mesmos de rhomaion - romanos. A última versão da Academia, que havia sobrevivido a várias dissoluções e renascimentos ao longo de quase 900 anos, foi fechada de vez pelo imperador Justiniano em 529.

Mas ao mesmo tempo quase tudo o que sabemos sobre filosofia grega foi preservado em mosteiros. Outra parte, com muito mais conhecimento prático e utilitário, foi salva pelo Islã — como tratados matemáticos da Antiguidade.

Tanta sabedoria guardada explodiria no Renascimento. Para se contrapor à rigidez de ideias da Idade Média, gente como Dante Alighieri, Petrarca e Boccaccio vasculharam bibliotecas atrás de textos antigos, que citavam deuses e heróis. Assim, começou um movimento irreversível de recuperação do saber grego.

A tradição humanista foi um novo tempo para a humanidade, embalado numa estética clássica. A pintura e a escultura puderam ir além dos temas sacros representando os mitos da Antiguidade. No caso da escultura, com um erro histórico: as estátuas gregas eram pintadas. Os renascentistas achavam que elas eram brancas porque o tempo havia desgastado a tinta no mármore.

Desde o fim da Idade Média, os gregos nunca mais nos abandonaram. Até o século 19, não se era ninguém sem educação clássica — grego era o avançado, o básico era o latim. No século 20, Sigmund Freud usou os mitos para ilustrar a condição humana moderna e criar a psicanálise. "O núcleo de todas as neuroses é o complexo de Édipo", escreveu em Totem e Tabu, de 1913. Freud deu nomes mitológicos a conceitos psicanalíticos. Seu colega e discípulo Carl Jung usou a mitologia para explicar a psique humana. "Os arquétipos criam mitos, religiões e ideias filosóficas que influenciam e deixam sua marca em nações e épocas inteiras." Para Jung, o inconsciente coletivo era algo que nos tornava humanos, capazes de compartilhar as mesmas histórias em qualquer tempo.

Freud e Jung remavam na contra-mão do século 20. A arte moderna fez um grande esforço em renegar o espírito clássico — a simetria, harmonia e a busca do belo foram abandonadas em favor de obras inspiradas na cultura da África, Polinésia e Japão. O modernismo decretou o pensamento humanista superado. No entanto, Grécia e Roma são mais populares do que nunca.

Fonte: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/como-a-mitologia-grega-fundou-a-civilizacao-ocidental.phtml

domingo, 25 de junho de 2023

Vingança se serve fria

Não é incomum que alguns itens comprados usados venham com “marcas” deixadas pelos antigos donos. No entanto, um casal ficou assustado após encontrar um bilhete na geladeira que já usava há mais de um ano.

De acordo com um perfil de entretenimento do Twitter, em uma publicação que se tornou viral nas redes sociais, o casal contou que decidiu abrir alguns compartimentos depois que o eletrodoméstico deixou refrigerar e se deparou com dois guardanapos com coisas escritas.

“Compramos uma geladeira a mais de um ano atrás e recentemente ela parou de refrigerar a parte de baixo. Quando eu e meu tio abrimos o fundo do freezer para identificar o problema encontramos dois guardanapos dobrados de forma que ficasse bem pequenos.

Abrimos com cuidado pra não rasgar e ver o que era, e acredite, na parte onde faz o gelo da geladeira, tinham aparentemente dois trabalhos feitos, um tinha dois nomes de um casal em formato de Cruz, não sei ao certo o sentido desse, se é pra prender ou conseguir a pessoa amada, o outro era ainda pior.

Eu não vou reescrever mas está escrito ai na foto, a pessoa pede pra CONGELAR várias áreas da vida de uma tal de Fátima.

Fiquei horrorizado ao imaginar que isso estava na nossa casa, e a gente nem sabia, contei pra minha esposa que estava no trabalho e ela ficou toda arrepiada, podemos acreditar que de certa forma, por isso estar em nossa casa, isso interferia no nosso lar também, porque o normal é matar um leão por dia, só que eu e Naty Cardoso matamos um leão e no outro dia já tem dois esperando, como se a nossa vida estivesse congelada! Tá repreendido em nome de Jesus!!!

Oramos e repreendemos tudo que foi feito pra essa pessoa e tudo de ruim que possa ter entrado na nossa casa! Deus é mais!!

Que isso fique de lição, cuidado, a gente nunca sabe a história por trás de cada ‘desapego’ da internet!”, escreveram.

Nas redes sociais, os usuários brincaram com o acontecido e alguns até revelaram que também já encontraram o mesmo

“A bisavó do Enzo quando morreu o que achamos de nomes no congelador dela”, disse uma delas.

Nas redes sociais, os usuários brincaram com o acontecido e alguns até revelaram que também já encontraram o mesmo.

Fonte: https://emtempo.com.br/140365/pais/casal-descobre-bilhete-encontrado-em-geladeira-que-comprou-usada-bruxaria-reagiram-usuarios-nas-redes/
Nota: a justiça diz que não tem ameaça, mas o povo pensa diferente. Eu tenho minhas coisas, quem é do meio vai identificar. Geladeira, não, mas bem que eu queria ter uma bruxa na cama 😏🤭.

Senta lá, Cláudia

O pastor e teólogo Renato Vargens ficou incomodado com a declaração de Xuxa sobre reescrever a Bíblia. Ele questionou se a Xuxa tinha "lugar de fala".

Evidente que as páginas direcionadas aos evanjegues pegaram carona e divulgaram esse comentário. Os cristãos estão incomodados porque até o Chatgpt está sendo usado para reescrever a Bíblia e tem feito trabalho melhor que seus possíveis autores.
Eu devo ter escrito em algum lugar sobre a Bíblia ser uma coletânea de textos altamente forjados, interpolados e mal traduzidos. Mesmo entre os cristãos, existem várias versões do mesmo texto sagrado. E mesmo assim cada vertente afirma que está "defendendo a verdade".

Mas Renato não entendeu o que significa "lugar de fala". Citando:

... a ideia do lugar de fala tem como objetivo oferecer visibilidade a sujeitos cujos pensamentos foram desconsiderados durante muito tempo.

Isso não significa que quem não faz parte daquele grupo não pode expressar sua opinião, entretanto, o ideal é abrir espaço para aprender, entender e respeitar o que aquele grupo está tentando dizer.

O lugar de fala não se trata de calar ninguém, mas de abrir espaço para que diversas vozes sejam ouvidas e levadas a sério.

(https://www.politize.com.br/o-que-e-lugar-de-fala/)

A leitura que se tem de lugar de fala é muito equivocada, esse conceito tem mais ligação com uma localização social, histórica, cultural e contextual de onde emana a voz e o enunciando. As pessoas confundem o lugar de fala com a lógica de autoridade, ou com argumentos de censura. Todo mundo tem lugar de fala, não é uma coisa fixa.

(https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2021/04/08/o-que-significa-lugar-de-fala-conceito-nao-e-uma-forma-de-calar-as-pessoas.htm)

Então Renato confundiu lugar de fala com autoridade ou representatividade. Mas esse pastor pode ser considerado o padrão do mundo gospel para se atribuir representatividade? Não, o mundo gospel é tão diverso quanto o Paganistão. Qualquer padre ou pastor pode alegar autoridade sobre a interpretação da Bíblia? Não, ateus (e alguns pagãos modernos) possuem mais conhecimento e autoridade sobre a Bíblia.

Não convenceu, Renato. Pegue o seu banquinho e saia de mansinho.😏🤭
Mas falando de Xuxa, programas infantis e a "década perdida" (80 - 90), muitos programas seriam proibidos na atualidade. Tanto pelos desenhos, quanto pelo formato, com apresentadoras transbordando sensualidade.
Pergunta rápida:
Por que a Xuxa colocou Paquitas?
Sim eu estou evidenciando a excessiva sensualidade, de pessoas que eram garotas jovens, brancas, magras e loiras. Mas por que a roupa de cadete? Lembrando que a Xuxa era de Santa Catarina, conhecido reduto neonazista. Não existe coincidência 🤭😏.
Nota: como está ficando difícil encontrar ideia para escrever, eu vou publicar o que der na telha. Não tem ninguém lendo mesmo...😝

sábado, 24 de junho de 2023

Justiça não vê ameaça

A contratação de serviços espirituais de uma mãe de santo para provocar a morte de autoridade policial, promotor de justiça, vereador, prefeito e repórter investigativo não configurou crime de ameaça. Esta é a decisão unânime da 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) em ação originada na cidade de São Simão, em Goiás, e cuja relatoria em Brasília foi da ministra Laurita Vaz.

“O delito de ameaça somente pode ser cometido dolosamente, ou seja, deve estar configurada a intenção do agente de provocar medo na vítima. Na hipótese dos autos, a representação policial e a peça acusatória deixaram de apontar conduta da paciente direcionada a causar temor nas vítimas, uma vez que não há no caderno processual nenhum indício de que a profissional contratada para realizar o trabalho espiritual procurou um dos ofendidos, a mando da paciente, com o propósito de atemorizá-los. Não houve nenhuma menção a respeito da intenção em infundir temor, mas tão somente foi narrada a contratação de trabalho espiritual visando a ‘eliminar diversas pessoas’”, destaca a decisão da 6ª Turma do STJ.

“Dos elementos colhidos não ficou demonstrado que a Paciente, ora Ré: ‘teve a vontade livre e consciente de intimidar os ofendidos: a conduta dela consistiu em contratar uma ‘profissional especializada’ que trabalha com esse tipo serviço – que se pode denominar de metafísico -, a fim de que fosse causado mal grave e injusto aos ofendidos”.

Para Laurita Vaz, “inexiste ameaça quando o mal anunciado é improvável, isto é, liga-se a crendices, sortilégios e fatos impossíveis de demonstrar cientificamente. Por outro lado, é indispensável que o ofendido com efetividade se sinta ameaçado, acreditando que algo de mal lhe pode acontecer; por pior que seja a intimidação, se ela não for levada a sério pelo destinatário, de modo a abalar-lhe a tranquilidade de espírito e a sensação de segurança e liberdade, não se pode ter por configurada a infração penal. Afinal, o bem jurídico protegido não foi abalado”.

O crime de ameaça, prossegue o voto da relatora, “deve ter potencialidade de concretização, sob a perspectiva da ciência e do homem médio, situação também não demonstrada no caso”. Diante do contexto, “a instauração do inquérito policial, e as medidas cautelares determinadas, bem como a ação penal, porquanto baseadas em fato atípico (ameaça), são nulas, e consequentemente a imputação pela prática do crime previsto no art. 241-B, c.c. o art. 241-E, ambos da Lei n. 8.069/1990”.

A relatora da 6ª Turma do STJ concedeu habeas corpus para, “acolhido o parecer do Ministério Público Federal, trancar a ação penal ajuizada em desfavor da Paciente, com anulação do inquérito policial e das medidas de busca e apreensão, quebra do sigilo telefônico e suspensão do exercício das funções públicas”.

Fonte, citado parcialmente: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/contratar-servicos-espirituais-para-provocar-a-morte-de-alguem-nao-configura-crime-de-ameaca-define-stj/

sexta-feira, 23 de junho de 2023

Uma triste realidade

Divulgada nesta segunda-feira (12), uma pesquisa realizada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), da Organização das Nações Unidas (ONU), aponta que, no Brasil, 84,5% das pessoas têm pelo menos um tipo de preconceito contra as mulheres.

Foram analisadas quatro dimensões sobre preconceito de gênero, em que meninas e mulheres enfrentam desvantagens e discriminação. São elas: integridade física; educacional; política; e econômica.

Os piores indicadores no país são em relação à integridade física. São avaliados a violência íntima e o direito à decisão de querer ou não ter filhos. Segundo o levantamento, no Brasil, 75,56% dos homens têm esse preconceito. Entre as mulheres são 75,79%.

A educação tem o menor índice de preconceito: apenas 9,59% dos entrevistados acreditam que a universidade é mais importante para homem do que para a mulher. Já na dimensão política, 39,91% das pessoas afirmam que mulheres não são tão boas quanto os homens ao desempenharem a função.

O levantamento também mostra que 31% dos brasileiros acreditam que os homens teriam mais direito ao trabalho do que as mulheres ou homens fazem melhores negócios do que as mulheres. Por outro lado, o relatório aponta que apenas 15,5% dos brasileiros não têm preconceito contra mulheres.

O PNUD analisou 80 países que abrangem mais de 85% da população mundial. Na escala global, 90% das pessoas têm algum tipo de preconceito contra as mulheres.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/onu-diz-que-preconceito-contra-mulheres-atinge-845-da-populacao-brasileira/

quinta-feira, 22 de junho de 2023

Nada fala, mas diz muito

Assistindo animes eu percebi um padrão interessante. Para ser mais exato, uma flor.
Lírio da aranha vermelha.

Citando:

A flor Lycoris radiata, também chamada de Higanbara é um Lírio Aranha, seu nome se origina da palavra Ohigan, uma celebração budista que acontece duas vezes por ano.

Equinócio da Primavera (春分の日 Shunbun no Hi) em março
Equinócio de Outono (秋分の日 Shūbun no Hi) em setembro.

É comum ser associada com a morte na sociedade japonesa, por estar muito presente nos cemitérios. É uma linda flor, embora venenosa, ela ajuda a manter animais escavadores longe dos restos mortais.

Uma característica interessante é que as folhas e a flor nunca aparecem ao mesmo tempo, por conta desta característica, a flor Higanbara representa a saudade e dor da perda, como também a morte, mas não no sentido de azar, e sim no sentido de transição para uma nova vida.

Fonte: https://www.asweetmagic.com.br/2021/09/a-flor-vermelha-popular-nos-animes.html?m=1#:~:text=Uma%20caracter%C3%ADstica%20interessante%20%C3%A9%20que,transi%C3%A7%C3%A3o%20para%20uma%20nova%20vida.

Com isso, também dizem que a flor representa dois amantes apaixonados que devido às circunstâncias precisam viver separados. Também significa a dor da perda e da saudade, como também pode representar a morte, mas não sentido pejorativo da palavra e sim no sentido de transição para uma nova vida. Enfim, esta flor tem inúmeros significados e uma grande simbologia na religião budista.

É também referido como Manjusaka (曼珠沙华), com base em uma antiga lenda chinesa sobre dois duendes: Manju guardava as flores e Saka, as folhas, mas nunca se encontravam, pois a planta nunca dá flores e folhas ao mesmo tempo.

Eles estavam curiosos em conhecer um ao outro, de modo que desafiaram as ordens dos deuses e marcaram um encontro. Por causa dessa desobediência, os dois duendes foram punidos, ficando separados por toda a eternidade.

Fonte: https://www.japaoemfoco.com/higanbana-e-sua-simbologia-no-japao/

Essa flor pode ser vista no anime Demon Slayer, Tokyo Ghoul e Hell Girl. Menos conhecido e não citado, também no anime Dance In The Vampire Bund, talvez porque o anime contém um tabu na cultura ocidental.
Eu espero ansioso pelo dia que Ai Enma vai falar para mim:
- Ippen shinde miru?😻

quarta-feira, 21 de junho de 2023

De mandíbulas e dentes

Jesus não tem dentes no país dos banguelas.
-Titãs

Passamos seis meses e o Brasil ainda não se livrou do Bolsonarismo. Aliado ao conservadorismo e ao fundamentalismo cristão, o público ouve, anestesiado, o pastor Anderson Silva declarou no podcast (que ele é proprietário) Tretas e Diálogos o seguinte:
- "Senhor arrebenta a mandíbula do Lula. Senhor, prostra enfermos os ministros do STF, para que eles te conheçam no leito da enfermidade".

No Brasil 247 o Neggo Tom escreveu, candidamente:
- Antes de propor uma reflexão com base no que prega esse cristianismo que passou a vigorar a partir de Constantino, e que nada tem a ver com os ensinamentos de Jesus Cristo (...) é importante entendermos que, por mais que nos pareça escabroso, a oração do pastor kickboxer tem base bíblica e, portanto, seria aprovada por Deus. Pelo menos, pelo deus da Bíblia.

Ele distingue o Deus do Antigo Testamento e Jesus Cristo, mas será que os ensinamentos do Messias não continham violência?

Basta uma rápida consulta ao Skeptic's Annotated Bible para ver que não é bem assim.

Para facilitar, eu vou listar os links de passagens dos Evanelhos violentos.

Mateus:
https://www.skepticsannotatedbible.com/mt/cr_list.html

Marcos:
https://www.skepticsannotatedbible.com/mk/cr_list.html

Lucas:
https://www.skepticsannotatedbible.com/lk/cr_list.html

João:
https://www.skepticsannotatedbible.com/jn/cr_list.html

Atos:
https://www.skepticsannotatedbible.com/acts/cr_list.html

Lamento, Neggo, mas o Cristianismo é violento.

A cultura do cancelamento foi longe demais

O senhor Pink, alter-ego de Roger Waters, corre o risco de ser proibido e o show cancelado.
Eu, quando era mais jovem, vi e assisti no cinema, a versão do cinema para a ópera rock The Wall e ouvi o disco duplo depois. O impacto, profundo, foi esculachado quando deixaram Cindy Lauper cantar Leave Us Kids Alone. O pop matou a obra prima, mas eu falei sobre isso em algum lugar.
Só débil mental não entendeu a personagem do senhor Pink. Só débil mental não entendeu que Roger é anti-sionista, não anti-semita. Ele teve a coragem de mostrar os crimes cometidos pelo Estado de Israel e tem coragem de mostrar a hipocrisia por trás da guerra da Ucrânia.

No que eu pergunto se artista tem tratamento privilegiado. Recentemente um quadro foi censurado e retirado de uma exposição em Uberaba. O mesmo aconteceu em Paris. Só quem tem memória vai lembrar da polêmica do Queer Museu e da performance no MAM.
O artista reclama pela liberdade de expressão enquanto pessoas comuns estão sendo presas por arquivarem e compartilharem imagens consideradas ilegais/criminosas.🤔

Momento do humor ou do TBT.
Você deve conhecer ao menos duas dessas mulheres na foto.


A loira é Sara Winter, que saiu do cosplay de feminista e mostrou o que sempre foi: fascista. A ruiva é Carla Zambelli, conhecida por ser uma ativista ferrenha do Bolsonarismo. Duas figuras que participaram (ou fingiram) de atos mais típicos da esquerda, mas que pertencem ao conservadorismo de direita e fascista. Não existe coincidência.

terça-feira, 20 de junho de 2023

O enigma do barco de Teseu

Uma das civilizações mais intrigantes da história humana é a dos antigos gregos. Embora tenham sido posteriormente dominados e tiveram vários de seus elementos culturais e tradicionais incorporados aos romanos, são os gregos considerados, até hoje, os predecessores da filosofia, da democracia, além de terem descoberto diversos avanços na matemática.

No entanto, um fato curioso sobre essa civilização, que inclusive é o que atrai grande parte das pessoas fascinadas por ela, é o fato de possuírem lendas incorporadas em seu dia a dia para tentar, de fato, encontrar explicações para fenômenos até então inexplicáveis. E como pais da filosofia, por que os filósofos gregos também não usariam alegorias para explicar dilemas e criar paradoxos?

Esse é o caso do conhecido paradoxo do navio de Teseu. Compartilhando o título de herói e semi-deus com outras importantes figuras — como Hércules, Aquiles, Odisseu e Perseu —, Teseu era, segundo as lendas, fruto de uma relação dupla entre Etra, Egeu (rei de Atenas) e Poseidon, o deus dos mares.

Entre seus maiores feitos, o que mais se destaca é ter sido o responsável pela libertação de Atenas do domínio do tirano rei Minos, de Creta. Para isso, precisou derrotar o minotauro, que era alimentado todos os anos com sete moças e sete rapazes, sendo essa a maneira como o rei obteve a paz naquela nação.

Plutarco, um historiador, biógrafo, ensaísta e filósofo médio platônico grego, propõe em uma de suas obras, 'Vidas Paralelas', o seguinte contexto: imagine que Teseu parte, a navio, de um ponto A até um ponto B.

Até aí, a história parece simples, porém, ao longo da viagem — que durou cerca de 50 anos —, peças da embarcação vão sendo substituídas conforme se desgastam e, eventualmente, todas as partes teriam sido trocadas. Fica então o questionamento: o navio que chegou em B seria o mesmo que partira de A, ou já poderia ser considerado outro?

Fonte: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/amp/noticias/reportagem/o-enigma-do-paradoxo-do-navio-de-teseu.phtml
Resposta rápida - não importa quantas peças foram substituídas. O navio continua sendo propriedade de Teseu, portanto, é o mesmo 😏🤭.

Até a ONU acusa

Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) acusa explicitamente, pela primeira vez, Jair Bolsonaro (PL) de ter ameaçado a democracia brasileira e de questionar, sem provas, a higidez do sistema eleitoral. O documento foi divulgado na mesma semana em que o ex-mandatário enfrentará um julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que poderá resultar na sua inelegibilidade.

Segundo a coluna do jornalista Jamil Chade, no UOL, o informe preparado pelo relator especial Clément Nyaletsossi Voule será debatido diante do Conselho de Direitos Humanos. Voule ocupa o cargo de relator especial da ONU sobre direitos à reunião pacífica e liberdade de associação e esteve no Brasil no primeiro semestre de 2022.

Apesar da acusação, Chade ressalta que “o documento não implica qualquer tipo de sanção internacional contra Bolsonaro. Mas amplia a pressão internacional e o constrangimento sobre o ex-presidente. O documento ainda pode servir para embasar decisões ou argumentos do Judiciário, no próprio país”.

O relatório aponta que a política implementada por Bolsonaro ao longo do seu mandato desmontou a estrutura de participação social na definição de políticas públicas e atesta que o ex-mandatário atacou as instituições democráticas e questionou as eleições, estimulou a presença de militares em órgãos do Estado e nomeou oficiais militares para vários cargos no governo, além de ter defendido abertamente a ditadura militar e minimizado a gravidade da pandemia de Covid-19.

“A transição do Brasil do regime ditatorial para a democracia foi formalizada pela Constituição de 1998, que garante o direito à liberdade de expressão, associação e reunião. As garantias constitucionais, no entanto, foram afetadas negativamente nos últimos anos como resultado da proliferação de leis e decretos adotados pelas autoridades brasileiras em uma tentativa de minar esses direitos. Tais leis e decretos enfraqueceram a democracia do país e a participação da sociedade civil e das comunidades marginalizadas nos assuntos públicos”, diz um trecho do relatório, segundo a reportagem.

Ainda segundo Chade, “terminado o governo Bolsonaro, o relator ‘está confiante de que o Brasil tem a capacidade, a vontade política e a maturidade para restaurar a confiança e a esperança entre aqueles que sofreram com a marginalização e anos de violações de direitos humanos, inclusive como resultado do exercício de suas liberdades fundamentais’”.

Fonte: https://www.brasil247.com/mundo/pela-primeira-vez-relatorio-da-onu-acusa-explicitamente-bolsonaro-de-ter-ameacado-a-democracia-brasileira

segunda-feira, 19 de junho de 2023

Os mistérios juninos

Hoje cristãs, as festas celebradas em junho em homenagem aos santos católicos Antônio, João Batista e Pedro, tão apreciadas no Brasil, têm origem pagã. Derivam de antigos ritos da fertilidade praticados pelos antigos europeus: Os mistérios do solstício de verão, no hemisfério norte.

As festas juninas estão profundamente gravadas no imaginário de todos os bra­sileiros. Quem, numa noite de junho, não pulou fogueira, comeu canjica ou bebeu quentão? Quem não dançou quadrilha, soltou rojão e, sobretudo no Nordeste, não subiu num pau-de-sebo? Essas festas são as mais alegres e populares celebrações de fundo religioso do nosso país, sobretudo em cidades do interior e zonas rurais. Embora muita gente nas grandes metrópoles ainda as comemorem como folguedos indispensáveis no início do inverno.

Apesar da sua popularidade, poucos sabem que todas as festas juninas são herança, assimilada pela Igreja Católica, de festividades pré-cristãs ligadas a cultos da fertilidade. No hemisfério norte, junho marca a chegada do verão, da abundância e da alegria.

Nessa época, os pagãos europeus comemoravam o solstício de verão (o dia mais longo e a noite mais curta do ano, o que ocorre no hemisfério norte por volta de 21 de junho) com rituais ligados às colheitas, dos quais faziam parte sacrifícios aos deuses da terra e da fertilidade.

Essa tradição já existia nas culturas egípcia e grega, que a passaram aos romanos. O período era também considerado o mais propício em todo o ano para as “atividades de reprodução” da espécie...

Porque se uma mulher engravidava no decorrer de junho, iria ter a criança entre março e abril do ano seguinte, quando o inverno estaria terminando e as primeiras frutas e verduras surgindo, enquanto, ao mesmo tempo, pariam as vacas, cabras e ovelhas, e as aves chocavam seus ovos. Tudo isso significava: comida farta, e leite no peito para as crianças.

Fonte, citado parcialmente: https://www.brasil247.com/cultura/noite-de-sao-joao-o-misterio-das-festas-juninas


domingo, 18 de junho de 2023

Humanos e desumanos

Dois prefeitos desafiaram o status quo.
Citando:

O prefeito de Roma, Roberto Gualtieri, desafiou a extrema-direita do país e permitiu a lésbicas o direito de registrar os filhos. Ele transcreveu, nesta sexta (9), as certidões de nascimento de dois filhos gerados no exterior por casais homoafetivos: um menino nascido na França, com uma mãe italiana e outra francesa, e uma menina gerada na Inglaterra, com duas mães italo-britânicas.
(https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/prefeitura-de-roma-desafia-extrema-direita-e-da-a-lesbicas-o-direito-de-registrar-filhos/)

Segundo caso, citando:

O prefeito da cidade francesa de Grenoble, Éric Piolle, propôs no Twitter trocar os feriados religiosos por comemorações que celebrem assuntos como revoluções, direitos das mulheres e da comunidade LGBTQ+.

O assunto surgiu há algumas semanas, quando o político criticou o ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, que pediu uma avaliação sobre a taxa de faltas em aulas escolares por causa do fim do Ramadã, uma celebração islâmica.
(https://www.aliadosbrasiloficial.com.br/noticia/prefeito-frances-propoe-trocar-feriados-religiosos-por-lgbts)

A segunda notícia foi destaque em páginas direcionadas aos conservadores, de direita e fundamentalistas cristãos (redundância?) com a habitual histeria e pânico moral.
E como nós vivemos no Brasil, não causou qualquer furor o deputado que quer criminalizar o feminismo. Citando:

O deputado estadual Isamar Júnior (PSC-RR) apresentou na Assembleia Legislativa do Estado de Roraima um projeto que estabelece “diretrizes para a promoção de ações que visem à valorização de homens e meninos e a prevenção e combate à violência contra os homens”.

No texto, o relator defende que “considera-se violência contra os homens e meninos todas as práticas e relações sociais fundamentadas no feminismo, na crença da inferioridade de homens e meninos e na sua submissão ao sexo feminino”.
(https://www.diariodocentrodomundo.com.br/inacreditavel-deputado-apresenta-projeto-para-criminalizar-o-feminismo/)

Isso confirma que o homem é o sexo frágil 😏🤭.
Adendo: a direita e a esquerda fica babando (hidrofobia?) toda vez que sai uma pesquisa de opinião pública. Só uma dica - política e governo não é BBB 🤭😏.

sábado, 17 de junho de 2023

Esquenta eleitoral 2024

Já faz alguns bons anos que o mês de junho é comemorado em todo o país como o Mês do Orgulho LGBTQIAP+, e em São Paulo não é diferente. Entre as homenagens oficiais que a cidade presta à comunidade, desde 2019 uma enorme bandeira com as cores do arco-íris é estendida sobre a fachada do exuberante Theatro Municipal, no centro da capital paulista. Neste ano, a lembrança estava armada como de praxe, até que nesta semana a Prefeitura, que tem Ricardo Nunes (MDB) à cabeça, decidiu removê-la.

A ordem mergulhou a Secretaria Municipal de Cultura em uma crise com os funcionários do Theatro Municipal e a Sustenidos, organização social que faz a gestão do espaço. Ambos, trabalhadores e gestores, se mostraram profundamente incomodados com o fim da homenagem.

A Sustenidos inclusive publicou uma nota em protesto contra a retirada da bandeira. Mas nada, nem a nota pública dos gestores, nem a insatisfação dos funcionários ou a saia justa na Secretaria de Cultura conseguiu fazer com que o prefeito voltasse atrás. As bandeiras acabaram retiradas na última quarta-feira (14).

A Prefeitura alegou, por meio de nota oficial da Secretaria Municipal de Cultura, que a retirada das bandeiras se deu por conta da rotatividade de eventos que se dão no local, nem todos com direcionamento ou audiência da comunidade LGBTQIA+. “A remoção foi feita após diversas celebrações em torno dos direitos da comunidade LGBTQIAP+”, diz a nota, referindo-se à Parada do Orgulho LGBTQIAP+ ocorrida no último domingo (11).

Fonte: https://revistaforum.com.br/lgbt/2023/6/16/ricardo-nunes-retira-homenagem-comunidade-lgbtqia-do-theatro-municipal-137820.html
Nota: ano que vem é eleição para as prefeituras e câmeras municipais. Aqui, os bolsonaristas estavam divididos entre Ricardo Salles e Ricardo Nunes. Nós erramos em eleger o Tarcísio. Errar de novo é burrice.

Inaugurada casa tradicional nativa

"Onde germina o tekoha-território para que as forças dos ñanderu/ñandesy conduzam o caminho da resistência na busca do belo teko porã.” A frase na placa de aço escovado que contrasta com a rusticidade do sapé e da terra vermelha resume o ideal da construção tradicional inaugurada na última sexta-feira (02/06), na área externa da Faculdade Intercultural Indígena (FAIND) da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) – Unidade 2 da instituição.

Na presença de centenas de estudantes e seus familiares, professores, técnicos administrativos e convidados externos, de diversas entidades, o Espaço de Práticas Pedagógicas Interculturais Oga Pysy foi entregue à comunidade acadêmica como símbolo da resistência do povo Guarani e Kaiowá, pela primeira vez erguido dentro de uma universidade no Brasil.

A cerimônia de entrega institucional, conduzida pelo reitor da UFGD, Jones Dari Goettert, foi iniciada com rituais ancestrais realizados em conjunto por rezadores de comunidades Guarani e Kaiowá de Dourados e de aldeias da região. Com cânticos e danças, as lideranças abençoaram a entrada principal da casa, seu entorno e seu interior.

“Este espaço, Oga Pysy, é um espaço construído na relação ancestral de gerações e gerações, que cada ñandesy, que cada ñanderu, que cada aluna e aluno Guarani e Kaiowá fez para a gente. É um presente”, agradeceu o professor, em nome de toda a gestão da universidade.

Representando o Ministério dos Povos Indígenas, o docente Eliel Benites, ex-aluno e professor da FAIND/UFGD, agora licenciado para ocupar a chefia do Departamento de Línguas e Memórias da pasta federal, afirmou que a Oga Pysy é onde se encontra o guarani kaiowá com sua ancestralidade. “Essa relação com a ancestralidade conduz à cura da terra, que vai dando sentido ao lugar. Esse sentido é a reconstrução constante, permanente do território. E a FAIND é um território. A palavra território não traduz na totalidade o que é tekoha, pois o tekoha é uma continuidade da existência, desde a ancestralidade até agora”, explicou.

Apesar de na língua guarani a expressão Oga Pysy ter como significado “Casa de Reza”, a estrutura tem simbolismos e funcionalidades que ultrapassam a tradução. No local, toda a atividade ritualística da comunidade é realizada. “O batismo da criança (mitã karai), curas de pessoas, a festa do milho (jerosy), o ritual de perfuração dos lábios dos meninos (kunumi pepy). Na casa, também é lugar onde se realiza contação de histórias antigas sobre as origens do mundo, dos antepassados, das aldeias sobre os guardiões – divindades – que povoam o multiverso Guarani e Kaiowá. Essas divindades são os guardiões da água, da terra, das florestas, das plantas medicinais, das roças, das caças e muitos outros”, explica o professor Eliel.

Em 130 metros quadrados de chão batido, estrutura de madeira e cobertura de sapé, a Oga Pysy é uma construção tradicional, desde seu planejamento, que envolveu o trabalho de mestres indígenas de aldeias e de áreas de retomada da região, o acompanhamento de estudantes indígenas dos cursos da FAIND e a coordenação de docentes da faculdade, como o professor Walter Roberto Marschner, diretor da unidade acadêmica, que colocou a iniciativa de construção no papel e foi em busca de recursos para sua realização.

A ideia que deu origem à instalação da Oga Pysy, surgiu de uma demanda antiga de alunas e alunos das licenciaturas Intercultural Indígena – Teko Arandu e em Educação do Campo (LEDUC). “Foi uma luta dos acadêmicos. Nos organizamos e pedimos ajuda para os materiais que seriam necessários para a construção, que é muito importante para nós, pois é uma coisa sagrada e um local em que podemos aprender mais sobre os rituais ancestrais da cultura Guarani e Kaiowá”, contou Urbano Escalante, estudante da Licenciatura Intercultural Indígena e presidente do Centro Acadêmico Teko Arandu (CATA). Ele pertence à aldeia Pirakua, no município de Bela Vista.

Com aproximadamente 570 estudantes indígenas em seus cursos de graduação e de pós-graduação, a UFGD se configura como um espaço de saber e de representatividade desses povos. Somente na FAIND, 400 alunos vão ao campus todos os anos pela Pedagogia da Alternância em que suas formações são estruturadas e a essas temporadas de estudos na universidade são integradas práticas rituais tradicionais com a presença de mestres e rezadores.

A construção da Oga Pysy, portanto, tem o sentido de resistência para as novas gerações indígenas que frequentam a UFGD, pois, conforme o professor Eliel, se busca no passado e na ancestralidade a vivacidade para o presente. Aprendendo com os mais antigos o modo de ser guarani, eles podem “curar a terra e as mentes dos destruidores/decompositores dos mundos”.

A obra de construção da casa ficou a cargo dos mestres Roberto Alziro e Zaracho Hirto, da área de retomada Itay, em Douradina. Os dois é que coordenaram e executaram os trabalhos, contando com o auxílio dos estudantes para a coleta e o carregamento dos materiais. As regras originais de edificação são expressas e não permitem que os mais jovens realizem etapas como a cobertura da estrutura, por exemplo.

Em um texto sobre a Oga Pysy, o professor Eliel Benites detalha um pouco dessa tradição:

“A casa não tem repartições, cômodos ou divisões internas, ela é um espaço grande onde as pessoas podem se relacionar coletivamente no processo ritualístico. A cobertura é feita de capim original do bioma do tekoha (aldeia), hoje conhecido como Dourados e região. O nome desse capim é jahape (sapé); são dois tipos: jahape’i (sapé pequeno) e jahape guasu (sapé grande) e costumam estar próximos das áreas alagadas. Devem cobrir desde o chão até o teto da casa. As portas devem ser três: duas laterais e uma principal, estabelecendo-se no meio da casa na posição lateral, sempre na direção do sol nascente para que as luzes possam adentrar pela porta, todas as manhãs. Os mais velhos dizem que através dos primeiros raios do sol chegam os guardiões, visitando a casa e abençoando-a (jehovasa).

Os materiais usados para a construção devem respeitar as regras originais para que os guardiões possam adentrar, como por exemplo: o corte do sapé e da madeira deve respeitar as fases da lua e as estações do ano. Na atualidade, pode-se usar madeira de eucalipto devido à falta de madeiras originais como yvyra katu (madeira sagrada), desde que seja abençoada pelos anciões. O madeiramento deve ser feito de taquaruçu, porque ele pode ser maleável para que no teto da casa possa estar amarrado e se estabelecer semelhante a um arco. Uma das regras importantes é o papel dos jovens na construção: eles podem até ajudar, mas não devem cobrir a casa, principalmente no início, quando se começa pelo chão, pois dizem que quando o sapé apodrece eles podem vir a falecer. Por isso, devem apenas ajudar, dentro das regras e das orientações do construtor mestre”.

Fonte: https://www.douradosnews.com.br/dourados/em-cerimonia-ritual-guarani-e-kaiowa-casa-tradicional-indigena-e/1211369/

sexta-feira, 16 de junho de 2023

Pelos direitos fundamentais

Em um marco para a luta pelos direitos e reconhecimento dos adeptos das tradições religiosas de matriz africana, a Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro (OABRJ) sediou o lançamento da aguardada Cartilha de Direitos dos Povos Tradicionais de Matriz Africana. O evento, que aconteceu no centro do Rio de Janeiro, contou com a presença de lideranças religiosas.

A iniciativa da cartilha tem como objetivo esclarecer e garantir os direitos fundamentais dos povos tradicionais de matriz africana, que há séculos contribuem para a cultura e história do Brasil. A cartilha, resultado de um trabalho coletivo e multidisciplinar, reúne informações essenciais sobre os direitos constitucionais dessas comunidades, além de abordar questões relacionadas à religiosidade, cultura, discriminação e preconceito enfrentados por esses povos.

A solenidade de lançamento foi marcada por discursos emocionantes, que ressaltaram a importância da valorização e respeito às tradições africanas presentes na sociedade brasileira. Lideranças religiosas de diversas tradições estiveram presentes, destacando a relevância desse marco para a promoção da diversidade religiosa e o combate à intolerância.

O evento também contou com a presença de advogados, representantes de organizações não governamentais e pesquisadores, que participaram ativamente de debates sobre os desafios enfrentados pelos povos tradicionais de matriz africana e a importância da luta pelos seus direitos.

O lançamento da Cartilha de Direitos dos Povos Tradicionais de Matriz Africana representa um avanço significativo na busca pela igualdade e justiça social. Ao promover o conhecimento sobre os direitos dessas comunidades, a cartilha se torna uma ferramenta essencial para a promoção da cidadania e o combate ao preconceito. É um passo importante rumo a uma sociedade mais inclusiva e respeitosa com suas raízes históricas e culturais.

Fonte: https://cn1brasil.com.br/evento-historico-marca-o-lancamento-da-cartilha-de-direitos-dos-povos-tradicionais-de-matriz-africana-na-oabrj/

quinta-feira, 15 de junho de 2023

A disputa pelos pronomes

Artigo encontrado no OnlySky:

Cristãos contra pronomes.

Uma escola cristã demitiu dois funcionários simplesmente por mencionarem seus pronomes em suas assinaturas de e-mail. É o cristianismo contra os pronomes!

Admitir que poderia haver uma dúvida sobre isso atinge o cerne da crença cristã em um binário de gênero rígido e impermeável. Em sua visão de mundo, os homens estão deste lado da linha e as mulheres estão do outro lado . Não há exceções, ninguém está no meio, e você não pode ultrapassar a linha ou ultrapassá-la.

Por exemplo, algumas pessoas são intersexuais, nascem com genitália ambígua. Algumas pessoas têm insensibilidade hormonal que as faz ser “geneticamente” de um sexo, mas corpos que parecem ser de um sexo diferente. Em casos raros, as pessoas nascem com síndrome ovotesticular (anteriormente chamada de hermafroditismo), na qual possuem tecido funcional de testículos e ovários.

De que gênero são essas pessoas, de acordo com os cristãos? Que pronomes eles devem usar?

Quaisquer que sejam suas outras repercussões, a decisão de Houghton deixa uma coisa clara. O Cristianismo como é praticado hoje não é sobre amor, hospitalidade ou inclusão radical. Em vez disso, trata-se de criar uma lista de regras estritas e arbitrárias que tocam todos os aspectos da vida, do mais importante ao mais trivial, e exige que os crentes as obedeçam ao pé da letra. Eles estão mais preocupados com as demonstrações de obediência às regras do que com a forma como tratam os outros seres humanos.

Fonte: https://onlysky.media/alee/christians-against-pronouns/
Traduzido com Google Tradutor.

Mas Steven Posch tem outra opinião.
Citando:

Os Prydn não têm palavra para “eu”.

Os Prydn são a resposta do romancista Parke Godwin à pergunta de Margaret Murray: E se aqueles que passamos a chamar de “Fadas”, os Velhos das Colinas, fossem na verdade os aborígines da Terra? Como seria, como poderia ser essa cultura vista de dentro?

Sua mentalidade é totalmente coletiva. A linguagem deles não tem palavra para “eu”, “ele”, “ela” ou “eles”.

Ainda assim, é preciso se perguntar. Como seria o mundo se, mesmo que por um breve período, todos voluntariamente deixássemos de lado o assunto favorito de todos?

Há uma epidemia devastadora na América hoje, e não me refiro a cobiça. Este é tão ruim quanto, e (no final) provavelmente matou mais pessoas do que a própria Red Hag.

Refiro-me à epidemia da alteridade.

Não preciso dizer o quão socialmente corrosiva essa epidemia de alteridade se tornou. A alteridade destrói. A alteridade mata.

Fonte: https://witchesandpagans.com/pagan-culture-blogs/paganistan/the-language-with-no-word-for-i.html
Traduzido com Google Tradutor.

A solução pula da gramática para a filosofia. Sexto Empírico escreveu algo que soa como heresia - colocar gênero nas palavras é ridículo porque coisas não possuem sexo. Mas seres vivos nascem com algum tipo de sexualidade e Richard Dawkins (ateu) recusa a reconhecer a existência de pessoas intersexuais e transgênero.
Da mesma forma que os afrodescendentes afirmam sua identidade, pessoas LGBT afirmam sua sexualidade através dos pronomes.
Um pensador melhor do que eu disse que nós somente conseguimos estabelecer quem nós somos a partir do momento que reconhecemos o outro.
A alteridade pode nos ajudar a entender e aceitar a diferença e a diversidade.

quarta-feira, 14 de junho de 2023

Uma sueca milenar

Feições de uma mulher morta há cerca de 7 mil anos, no período Mesolítico, foram recriadas graças às técnicas de reconstrução facial. Encontrada em um cemitério em Skateholm, na Suécia, acredita-se que ela tenha pertencido aos últimos grupos caçadores-coletores da Europa.

De acordo com os testes, ela tinha entre 30 e 40 anos quando faleceu. Segundo o Museu Trelleborg, que armazena seus restos mortais, a mulher foi enterrada sentada de pernas cruzadas em torno de chifres de veado, com um cinto feito dos dentes de 130 animais. Como outros povos escandinavos da época, ela tinha pele escura e olhos claros, e os objetos encontrados indicam que seria a xamã de seu povo.

Segundo Oscar Nilson, arqueólogo especialista em reconstruções faciais que criou o modelo em 3D, “o rosto humano é um motivo que nunca deixa de me fascinar: a variação da estrutura subjacente e a variedade de detalhes parecem infinitas". Acredita-se que as comunidades do local não adotaram a agricultura por opção própria, pois o estilo de vida caçador-coletor atendia às suas necessidades. A reconstrução facial será revelada em breve no Museu Trelleborg, em uma exposição permanente intitulada "Eye to Eye" que contará com outras recriações dos enterros de Skateholm.

Fonte: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/reconstrucao-facial-de-mulher-de-7-mil-anos-revela-tracos-surpreendentes.phtml
Nota: destaque por conta da casa.
Coitado do Caturo. A arqueologia destruiu a fantasia dele 😏🤭.

terça-feira, 13 de junho de 2023

Gente de mais ou de menos?

Por falar em declínio, uma página que tem como público alvo o evanjegue publicou um artigo do John "Stoned"street 😏🤭 para fazer aquilo que o fundamentalismo cristão faz melhor: cultivar o pânico moral.

A postagem é baseada em uma notícia real. A taxa de natalidade está diminuindo. Quem teve o mínimo de educação escolar sabe que quando uma determinada espécie atinge um nível populacional muito elevado é normal ter menos nascimentos. Em termos culturais, isso ocorre porque a mulher tem tido mais acesso à educação e ao trabalho. Desde que os países começaram a pensar em políticas sobre o direito reprodutivo, o acesso a planos de planejamento familiar tornou-se uma realidade tangível. Mas para o pessoal conservador de direita e fundamentalista cristão (redundância?), isso é errado.

Curiosamente a mesma página divulga uma notícia dizendo que o Movimento Político Cristão Europeu está  em campanha para proibir a "barriga de aluguel". Em prospecto, alegam que a barriga de aluguel alimenta o abuso, o tráfico humano, violando os direitos de mulheres e crianças vulneráveis, afetando a dignidade humana. Eles afirmam que a prática mercantiliza tanto as crianças quanto os úteros das mulheres, o que é inaceitável.
Me engana que eu gosto. Fazem isso sabendo que essa é a alternativa para casais homossexuais terem filh@s. Hipocrisia. Ou, se preferir, é mais fácil achar cabelo em ovo do que coerência no fundamentalismo cristão.🤭😏