Hellen é psiquiatra, psicóloga, psicanalista e terapeuta em Cartoonland. Ela atende junto com seus colegas cerca de vinte a trinta personagens por dia. A vida dos personagens em Cartoonland é estressante e os cidadãos têm crises de identidade e de ética constantemente.
Com pontualidade britânica, Hellen chega para mais um dia de atendimento. A clínica ainda nem abriu e tem uma longa fila de personagens aguardando serem atendidos. Mecanicamente, registra sua entrada no ponto biométrico e desfila, vaporosa e diáfana, pelos corredores da clínica, ignorando os olhares dos homens, seus uivos, assovios e sangramentos nasais. Inevitável, suas medidas 90 x 60 x 90 tiram qualquer homem do sério. Isso e seus dois olhos verde esmeralda e cabelos vermelhos.
O som elétrico e seco indica que a porta de entrada foi liberada. Passos, burburinho, a recepção faz o que pode para anotar os nomes e os dados. Alguns clientes protestam com alguma violência, diante da exigência de captura de retrato. Direitos de imagem ou para evitar os paparazzi. Felizmente jamais aconteceu de ser divulgada qualquer visita na clínica. Superado os ânimos mais exaltados, as fichas enchem os nichos dos profissionais, cada qual recebe, em ordem de chegada, quase a mesma quantidade de fichas. Só os clientes mais frequentes pedem preferência de atendimento e geralmente pedem por Hellen.
Por profissionalismo e ética, Hellen sempre deixa bem claro que atende conforme a ordem de chegada. Seu nicho tem vinte e cinco fichas e ainda são oito da manhã. Ela prepara seu consultório com música relaxante, atiça um incenso e liga as câmeras de segurança. Munida apenas com lápis e caderno de anotação, ela chama pelo cliente da primeira ficha.
– Senhor Squigley?
– Aqui!
– Por aqui, senhor Squigley.
A saia de Hellen faz menos barulho do que a salivação constante do cliente. Algumas portas da clínica ficam abertas para verem Hellen passar, a maioria, dos consultórios dos homens, mas também tem algumas mulheres.
– Por favor entre, senhor Squigley e sente-se.
O cliente tateia o consultório com as mãos, pois os olhos arregalados não conseguem desviar a atenção de Hellen. A língua do cliente está quase tocando o chão, onde baba começa a formar uma poça.
– Senhor Squigley, eu vejo por sua ficha que o senhor passou por esta clínica algumas vezes por causa de sua dependência à cannabis sativa e derivados. Como está sua reabilitação?
[baba]- Quê? Reabilitação? Ah, sim, eu estou sóbrio há sete semanas.
– Excelente, senhor Squigley. O que o traz a esta clínica hoje?
[sacudindo a cabeça]- Eh… hoje eu vim para tratar do meu vício… sabe… aquele vício.
– Não, eu não sei, senhor Squigley. Você tem que me dizer.
[baixando a cabeça]- Eu… eu admito… eu… [lágrimas] eu sou viciado… [cobrindo o rosto com as mãos] eu sou viciado em pornô!
– Eu acho que eu não entendi, senhor Squigley. Como o senhor chegou à conclusão que é viciado em pornô? Quando e como consumir pornô se tornou um problema?
– Ah, a senhora… [encarada] quer dizer, a senhorita sabe… a pornografia explora a mulher, a torna um objeto, uma coisa, um produto.
– Eu acho que estou começando a entender e perceber seu caso, senhor Squigley. Em algum momento de sua vida, pessoal ou profissional, o senhor passou por uma experiência que, de alguma forma, virou um trauma.
– Eu… hã… eu não entendi.
– Senhor Squigley, seres humanos [ou humanoides] produzem coisas e não existe produção sem alguma forma de exploração. Sempre haverá exploração, de matéria prima ou do trabalho.
– Ma… mas a pornografia… o corpo da mulher…
– Senhor Squigley, o corpo feminino em seu estado natural, a nudez, foi representado de diversas formas, por incontáveis eras e culturas. Por que só agora é um problema?
– Ma… mas… a indústria pornográfica… escraviza a mulher… como a prostituição.
– Senhor Squigley, meu índice de aproveitamento e aprovação sempre foi de 100%. O senhor tem que progredir, não regredir. O problema está no senhor ou na indústria pornográfica?
– Eeeh… em ambos?
[suspiro estressado]- Senhor Squigley, empresas e indústrias de inúmeras atividades existem porque atende uma necessidade, uma demanda. Simples assim. Se nós vamos criminalizar a pornografia por causa de uma suposta exploração e escravização da mulher, nós temos que criminalizar igualmente a indústria da moda, só para citar um exemplo. Então o problema não é a exploração, mas a exposição pública da nudez do corpo feminino, da insinuação sexual, da sugestão subliminar de que a mulher é uma fera sempre disposta a ter relações sexuais. Não me leve a mal, mas isso torna os homens seres inocentes, ingênuos, imaturos e influenciáveis. Pornô só atiça e estimula pré-adolescentes e adolescentes. Gente que não sabe o que é sexo, o que é uma mulher. Homem maduro não consome pornografia. Homem maduro faz pornografia com uma mulher.
– Ma… mas… eu… eu consumo pornô. Meu consumo alimenta a indústria da pornografia e da prostituição, que alicia e induz a mulher a se sujeitar a essa objetificação e sexismo que sustenta o [regime do] patriarcado.
– Eu vou deixar para outra sessão esse trabalho com sua pouca autoestima. Vamos nos ater ao problema imediato. Esse seu falso moralismo a respeito da pornografia e prostituição, que certamente foi assimilada ou adquirida após alguma experiência que se tornou esse trauma.
[indignado]- Fa… falso moralismo?
[séria]- Sim, senhor Squigley. O apelo à moral é recurso barato utilizado por conservadores e radicais para amealhar simpatizantes à causa. Mas a coisa é mais complicada do que isso. O discurso que tenta criminalizar a pornografia e a prostituição [tendo como base o falso moralismo] acaba criminalizando todos os profissionais do sexo, de todos os gêneros. Ou seja, atinge somente aquele [ou aquela] que supostamente é a vítima. Para começar, a falta de liberdade sexual, da liberdade de expressão, só favorecem aos grupos que supostamente as feministas radicais combatem. O discurso feito em cima da “exploração e escravização da mulher” apena escamoteia o falso moralismo que nega à mulher o domínio e vontade sobre seu corpo, endossando a opressão e repressão sexual. No fim das contas, o discurso radical só agrada aos grupos conservadores e religiosos.
[embaraçado]- E… eu não sabia…
[sorrindo]- Não fique embaraçado, senhor Squigley. O senhor apenas foi manipulado, induzido, doutrinado.
[envergonhado]- E… eu não tinha ideia… eu não tinha percebido…
[consolando]- Está tudo bem, senhor Squigley. Nós podemos deixar para outra sessão para explorar essa experiência que resultou em trauma.
[levantando a cabeça]- E… então… eu não tenho um problema? Consumir pornô não é um vício, um erro?
[surpresa]- Senhor Squigley, você parece um padre ou pastor falando.
[triste]- De… desculpe.
[suspirando]- Eu queria deixar para outra sessão, mas vamos lá. [levantando] O que você sente quando olha para o meu corpo?
[frases indecifráveis, entremeadas com salivação]
– Exatamente, senhor Squigley. O senhor é um homem [humanoide] normal, saudável, é mais do que natural você sentir atração sexual pelo meu corpo, por mim. Mas por algum motivo você se restringe e se inibe. Eu arriscaria dizer que isso é sintoma da repressão e opressão sexual advinda da cultura cristã, mas pode ter algo mais. Você consegue articular palavras para dizer como se sente, sem ser deselegante, indiscreto, inconveniente?
– Hã… a senhorita quer dizer aquelas frases requintadas e elaboradas que são ditas por galãs em filmes?
– Não é uma boa referência, mas tente algo nesse sentido.
[pigarro]- Se… senhorita Hellen… seu corpo é tão perfeito que deveria estar em uma galeria de arte.
[batendo palmas]- Parabéns, você conseguiu. Viu como não foi difícil? Viu como não machucou? O máximo que pode acontecer é você ouvir não. O melhor que pode acontecer é você ouvir sim. Mas criminalizar a pornografia tornaria a minha “performance” impossível na galeria de arte.
– E… eu acho que entendo.
– Ótimo. Podemos passar para a próxima fase [abre a blusa]. O que acha disso?
[com esforço, consegue controlar os impulsos]- Se… senhorita Hellen… seus seios… ahmeudeus… a senhorita está sem sutiã… eles… são… lindos, redondos, perfeitos…
– Muito bem, senhor Squigley, muito melhor. Você está mantendo autocontrole. Isso é importante. Confie em mim. Quer toca-los?
[olhos ficam vermelhos e inchados]- Se… senhorita Hellen… sim, eu quero… mas eu não sei se consigo me controlar.
– Você consegue, senhor Squigley. Eu confio no senhor. Vá em frente. Toque meus seios.
Lenta e cautelosamente Squigley estende e direciona sua mão [direita] para o seio [esquerdo] de Hellen. O coitado sente pela primeira vez o toque quente e macio de um seio. As pupilas dos olhos têm espasmos repentinos e repetitivos. Um volume se forma entre suas pernas.
– Excelente, senhor Squigley. Você está indo bem. Agora, mexa e massageie meu seio até que eu fique estimulada.
Obediente e aplicado, Squigley move o seio de Hellen. A mão esquerda rapidamente se encarrega do outro. O volume em sua calça só aumenta. Hellen começa a gemer e seu rosto começa a ganhar tons de rosados para avermelhados.
[geme]- E… excelente… [geme] senhor Squigley [geme]. O senhor conseguiu [geme] me deixar molhadinha… [geme] quer ver?
As orelhas de Squigley pareciam dois gêiseres prestes a explodir. Hellen removeu a saia e nada mais tinha para cobrir seu corpo. A calça do coitado não tinha mais para onde esticar.
[risos]- Deve estar incomodando o coitadinho preso aí. Deixe-me colocar seu amiguinho para fora, senhor Squigley. Eu quero ver o quanto o senhor aprecia meu corpo.
Com rapidez e habilidade, Hellen faz a calça de Squigley desaparecer e um troço brota grande, rígido, avermelhado.
[olhos brilhando]- Impressionante, senhor Squigley. Eu creio estar diante de um javali [risos]. Lembre-se, autocontrole. Senão a brincadeira acaba cedo. O senhor disse ser um consumidor contumaz de pornô. Está na hora de você por em prática o que aprendeu na teoria.
Por meia hora, Hellen e Squigley rolam pelo chão. Eu até diria que parece Jiu-Jitsu. Squigley está suando feito porco [piada não intencional], seus olhos estão embaçados, seus braços e pernas tremem. Hellen está em cima dele, satisfeita e triunfante. Algo dentro dela esguicha fartos jorros daquele líquido quente, gelatinoso e esbranquiçado que costuma causar aquele efeito colateral chamado gravidez.
[risos]- Excelente, senhor Squigley. Você se saiu bem. Nossa ginástica teria sido impossível se a pornografia fosse criminalizada. Essa minha terapia seria proibida se a prostituição fosse criminalizada.
[arfando]- Eu… morri e fui para o Paraíso?
[risos]- De certa forma, sim.
Hellen se levanta, fazendo com que o excedente do enorme volume de sêmen se esparramasse pelo chão.
[curiosa]- Ora… mas… que coisa.
[começando a retomar a consciência]- O que foi?
[maliciosa]- Senhor Squigley… não vai querer me dizer que você era virgem e eu fui sua primeira, vai?
[embaraçado]- Eueueueeueueu…
[risos]- Não fique assim. Você se saiu bem. Vejamos… quando você pode voltar na clínica? Afinal, para a terapia ser efetiva e eficiente, eu calculo que você vai precisar de, no mínimo, duzentas sessões.
[voltando a si]- Du… duzentas?
[risos]- Sim, senhor Squigley. Você ainda tem que desenvolver o autocontrole. E tem outros exercícios que você precisa praticar. Isso não será problema para o poderoso javali, será? Por agora, fica o aprendizado que a mulher gosta tanto de pornô [ver e fazer] quanto o homem.
Texto resgatado com Wayback Machine.
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