sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Novela cotidiana

Deu no jornal virtual "A Bola":

O Instituto Sangrai denunciou, este domingo, que uma mulher é assassinada a cada duas horas no Brasil. A organização não-governamental brasileira fez ainda saber que a maioria das mortes está relacionada com violência doméstica, noticia O Globo.
Um estudo levado a cabo por aquela entidade revela registos morte de 41.532 jovens e mulheres adultas, entre 1997 e 2007. Destas, 40 por cento tinham entre 18 e 30 anos. Nos casos de violência domestica, os filhos são normalmente testemunhas do crime.
O Brasil é o 12.º país onde há registos de mais homicídios de mulheres. A Secretaria de Políticas para as Mulheres tem dados que permitem saber que houve um aumento de cem por cento de denúncias de violência contra as mulheres no mesmo período.

Ou seja, a cada duas horas uma Mercia, uma Eliza são vítimas da violência. Mas a Imprensa não noticia estes casos. Por que, então, apenas o caso da Mercia e da Eliza ganharam espaço na Mídia a ponto de se tornar a nossa novela cotidiana?
Mercia mereceu sair do limbo das estatísticas porque é uma mulher de classe média, advogada e linda. O caso ganhou destaque nacional não por causa dos detalhes divulgados, mas porque seu principal acusado é um homem que possui um nivel social e educacional menor. Sem falar que é pardo e ex-policial.
Eliza mereceu sair do limbo exatamente por que o principal acusado é uma celebridade, um jogador de futebol com centenas de admiradores. E tudo o que se comenta dela é que ela fez filmes pornôs, que participou de orgias, que era uma "maria chuteira", uma "oportunista", que "se deu mal" ou que "achou o que procurava". Eliza foi duplamente assassinada.
A Imprensa apenas reforça a misoginia e a violência institucionalizada contra a mulher, esse ginocídio que tem raízes em nossa cultura patriarcal. E porquê não? Afinal, tragédias e crimes são o que mais vendem notícias. E o brasileiro acompanha a cada dia os capítulos dessa novela cotidiana, enquanto outras mulheres menos afortunadas continuam sendo vítimas da violência física e sexual.
Texto resgatado com Wayback Machine.

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