quarta-feira, 30 de março de 2016

A Árvore da Vida Assíria

Pesquisando por artigos e fontes sobre a cultura babilônica e o quanto este povo influenciou o Judaísmo e o Cristianismo em suas crenças, práticas e rituais eu encontrei um artigo descrevendo a Árvore da Vida Assíria e suas correlações com a Árvore da Vida da Cabala.
Diz-se, inclusive, que o misticismo contido na Cabala seja de origem do povo Caldeus, mais especificamente dos Oráculos da Caldéia, cuja análise faz parte da obra de Jâmblico e Plotino. O Neoplatonismo contém muito dos mistérios do Egito Antigo, Caldéia, Acádia, Suméria, conhecimento que nos foi transmitido também pelo Hermetismo e pelo Ocultismo.
Apesar das informações esparsas e discutíveis, eu pressinto que eu deva explorar os mitos envolvendo Semíramis e Nimrod, visto que estes mistérios têm muitos elementos em uso no Paganismo Moderno, na Bruxaria Tradicional e na Wicca Tradicional.
A Árvore da Vida Assíria tem, como na Árvore da Vida Judaica, dez ramos [que são chamadas de Sephirots na Cabala], que são emanações ou atributos de Alaha Ashur, o Deus Supremo [Ain Soph, na Cabala], cada ramo identificado com um Deus do panteão Assírio.
Os dez ramos da Árvore da Vida Assíra tem na primeira linha, na coluna central, Anu [Kether ]; na segunda linha, coluna esquerda, Sin [Binah]; na segunda linha, coluna direita, Ea [Hokma]; na terceira linha, coluna esquerda, Enlil [Gevurah]; na terceira linha, coluna central, Mullisu [Tipheret]; na terceira linha, coluna direita, Marduk [Hesed]; na quarta linha, coluna esquerda, Adad [Hod]; na quarta linha, coluna direita, Nabu [Nezah]; na quinta linha, coluna central, Ishtar [Yesod], na sexta linha, coluna central, Nergal [Malkuth].
A primeira tríade é o domínio intelectual composto pela coroa, sabedoria e compreensão, a tríade mediana é o domínio moral composto pelo amor, compaixão e justiça, a tríade inferior é o domínio físico composto pela glória, vitória e fundação.
A coroa é Anu [Céu] e a fundação é Nergal [Terra]. Entre o Céu e a Terra, conectando-os, está a Deusa do Amor, Ishtar.
A Santissima Trindade [Pai/Filho/Espírito Santo] é composto por Alaha Ashur [Ain Soph, Pai, Adonai], Ishtar [Yesod, Filho/a, Sol, Amor] e Mullisu [Espírito Santo, Sophia, Shekinah, Mãe].
Essa análise é de autoria de Maggie Yonan, encontrada na página do Speak Assyria.

segunda-feira, 28 de março de 2016

Bruxas modernas, mulheres de poder

Herdeiras das tradições matriarcais dos tempos em que a principal divindade era a Grande Mãe Terra, as bruxas medievais reaparecem hoje na pele – e no charme - de mulheres comuns.

Por: Luis Pellegrini

Original: Revista Oasis


“Chegou a nossa bruxinha!” Foi assim que a dona da casa saudou uma amiga convidada para o jantar. A anfitriã respondeu sorrindo quando perguntei por que chamara a outra daquele modo: “Ela estuda uma porção de bruxarias, tarô, astrologia, e sabe ler as linhas da mão”.
A “bruxinha” era jovem, bonita e elegante. Psicóloga de profissão, era casada e mãe de dois filhos. Quando me brindou com um sorriso cheio de encanto, perguntei a meus botões: Então são essas as bruxas de hoje? Se forem, o que fazer com a imagem estereotipada da bruxa tradicional, mulher má, velha e feia, corcunda, verruga na ponta do nariz, a voar nos céus montada em vassoura, ou diante de um caldeirão a cozinhar sapos e asas de morcegos com a intenção de produzir malefícios?
Uma pergunta puxa outras: O que é, afinal, a bruxa? Por que, hoje, chamar de bruxa a mulher que se interessa por ocultismos, adivinhações e magias já não é um insulto e sim, muito mais, um elogio carinhoso? O que mudou, a natureza da bruxa, ou simplesmente a visão que temos dela?
A bruxa, definida como mulher que conhece os segredos das leis mágicas da natureza – tanto a natureza externa, do mundo, quanto a interna, humana – existe provavelmente desde os tempos das cavernas. Seu objetivo fundamental é conquistar um poder de transformação sobre as coisas do mundo, sobre os outros e sobre si mesma. Bruxa, portanto, é mulher de poder.
Curandeiras, parteiras, sacerdotisas
No decorrer dos milênios, tanto nas civilizações do Ocidente quanto nas do Oriente, essas mulheres de poder quase sempre desempenharam livremente o seu papel, respeitadas e admiradas pelas pessoas. Eram curandeiras, parteiras, sábias nos usos medicinais das ervas, folhas, raízes, conhecedoras dos mistérios da natureza, da vida e da morte. Eram também sacerdotisas, profetisas, médiuns que funcionavam como elemento de ligação entre os vivos e os mortos, entre os humanos e os deuses.
Claro, havia também homens que exerciam essas funções. Mas eram minoria. Desde sempre, a natureza sensível da mulher foi considerada mais adequada para perceber os segredos da terra e manipular suas forças. No passado, como no presente, as mulheres são as herdeiras das antigas tradições dos tempos matriarcais, pré-cristãos, quando pontificava uma divindade feminina, a Grande Mãe Terra, mais simplesmente chamada A Deusa. Ela dominou a sociedade durante muito tempo, até o advento, há apenas dois ou três mil anos, do ciclo patriarcal, no qual a divindade máxima é um deus masculino, feito à imagem e semelhança dos homens. Desde então, tudo se inverteu. Os valores defendidos e ensinados passaram a ser aqueles convencionalmente atribuídos ao princípio masculino – a honra, a valentia, a competitividade, o espírito de conquista. Pouco a pouco, foram sendo esmagados os valores atribuídos ao princípio feminino – a receptividade, a adaptabilidade, a cooperação, o respeito à natureza e suas leis.
No decorrer da era patriarcal, as mulheres foram colocadas num plano muito inferior ao dos homens. Identificadas como causa e objeto do pecado pela tradição judaico-cristã, consideradas instrumentos do diabo para a perdição dos homens, as mulheres perderam quase todas as possibilidades de afirmação.
Desprestígio começou na Idade Média
Foi na Europa medieval, dominada pela religião patriarcal cristã, que se cristalizou o desprestígio da condição feminina. Todo o poder se concentrou nas mãos dos homens. Em primeiro lugar vinha o deus masculino; em seguida seus representantes na terra, o papa e o rei, com suas respectivas cortes; depois o senhor feudal; e finalmente o cidadão do sexo masculino. Para as mulheres praticamente nada restava na repartição do poder. Quase escravas dos seus senhores, seus papéis sociais limitavam-se à função de esposa e mãe, ou às profissões que reproduziam na sociedade esses mesmos papéis: enfermeiras, cozinheiras, costureiras, parteiras, domésticas. As que desejavam escapar desse destino podiam entrar para um convento (para se tornar esposas de Cristo), ou mergulhar no difícil caminho da prostituição (esposas de todos os homens).
Mas o desejo de liberdade, quando se instala no coração e na mente de uma mulher, é capaz de remover montanhas. Mesmo naquela situação de asfixia, algumas mulheres se rebelaram contra a camisa-de-força patriarcal e procuraram escapar dela. Entre essas mulheres estavam as bruxas. Herdeiras –conscientes ou inconscientes – da antiga tradição libertária dos tempos matriarcais, as bruxas faziam uso dos conhecimentos mágicos oriundos dessa tradição passada de mãe para filha, com o objetivo de conquistar poder. Muitas tornaram-se realmente mulheres de conhecimento e poder, e sua presença logo se destacou no meio da massa de mulheres reprimidas e esmagadas.
O poder patriarcal identificou nessas mulheres um perigo, uma ameaça, e reagiu. Como poderiam aqueles homens – por um lado, eles próprios prisioneiros dos papéis masculinos estereotipados que eram obrigados a representar e, por outro, pelos dogmas de uma igreja que dominava pelo terror – admitir a existência de mulheres mais livres e poderosas (no sentido mágico) do que eles próprios?
A ordem foi acabar com essas mulheres e, na onda terrível de perseguição, até alguns homens foram condenados à morte pelo mesmo “crime”: a bruxaria. Mas, segundo as estatísticas, as mulheres constituíram cerca de 80% das vítimas.
Oitenta por cento daqueles que a Inquisição mandou para a fogueira eram mulheres. Principal acusação: prática de bruxaria.
60 mil mulheres queimadas vivas
Tribunais da Inquisição eclesiástica surgiram em toda parte nos países europeus e inclusive nas Américas do Norte e do Sul. Calcula-se que cerca de 60 mil mulheres foram queimadas vivas entre os séculos 14 e 18. Um genocídio que, levando-se em conta a exiguidade da população naquela época, pode ser comparado ao massacre dos judeus pelos nazistas.
A acusação formal nesses julgamentos sumários era de heresia ou de pacto com o demônio. Mas, na verdade, bastava que o cidadão, principalmente se fosse mulher, se diferenciasse um pouco dos padrões da moral e do senso comum estabelecidos, para ser jogado no braseiro. Joana D’Arc foi queimada porque queria ser guerreira; Giordano Bruno, por afirmar que a Terra não era o centro do universo. Os anais da Inquisição estão cheios de relatos inverossímeis para a mentalidade de hoje. Existe, a título de exemplo, a história de uma mulher que não conseguia acordar durante a noite quando o marido a chamava. A infeliz foi parar num tribunal, denunciada pelo próprio marido, que a acusou de, durante o sono, abandonar o corpo em espírito para encontrar-se com o demônio. A mulher foi condenada e morreu na fogueira.
Dessa paranoia masculina nasceu a imagem feia e negativa que até hoje conservamos das bruxas. Mas, no bojo dos recentes movimentos de libertação da mulher e de resgate dos valores do feminino, essa imagem passa por um rápido processo de transformação. Ao lado da eclosão de ciências “femininas”, como a ecologia, estreitamente ligadas às leis e necessidades da terra, existe hoje, em todo o mundo, um enorme interesse pelos conhecimentos e valores essenciais da bruxaria. Claro, uma bruxaria moderna, de linguagem e roupagens renovadas, e não mais conectada a feitiços baratos à base de sapos, morcegos, vassouras e caldeirões. Muitas centenas de livros sobre o tema foram lançados nas últimas décadas, e seus autores apontam para o ressurgir de uma espiritualidade baseada na sacralização da natureza – exatamente o tipo de espiritualidade desde sempre praticado pelas bruxas.
Muitas analogias podem ser feitas entre a base essencial da religião das bruxas e a moderna psicologia. Por exemplo, as bruxas consideram reais quaisquer pensamentos ou fantasias, acreditando que eles influenciam concretamente as ações no presente. Assim, um fato realmente ocorrido e uma fantasia inventada pela imaginação têm idêntico valor psicológico. A psicologia tem essa mesma visão.
Na mente reside, para as bruxas, o poder de produzir mudanças, o poder de transformação. E cada mudança, acreditam, começa pelo encorajamento de uma atitude psicológica favorável a ela. Para exemplificar, se você deseja mudar de profissão, comece por se imaginar no desempenho de uma outra atividade que lhe proporcione sucesso, prazer e entusiasmo.
Ideias: Primeiro na mente, depois no mundo
Pelo fato de acreditarem que uma ideia deve viver na mente antes de viver no mundo, as bruxas atribuem grande importância à vida imaginativa. Por isso, as técnicas que ensinam a estimular e a focalizar a imaginação (como os recentes métodos batizados de visualização criativa ou a neurolinguística) constituem plataformas básicas da moderna bruxaria, junto ao poder da vontade e a força da mente.
Artefatos tradicionais ainda utilizados por algumas bruxas modernas, como a bola de cristal, espelhos mágicos, incenso, velas, joias, amuletos e talismãs, são na verdade usados como meios de capturar e fixar a atenção para, em seguida, desencadear processos cognitivos sutis da mente.
Na bruxaria, a vontade individual é sagrada. Depois de aprender a visualizar os seus desejos, a bruxa aplica o poder da sua vontade para trazê-los à realidade.
A única regra que controla e restringe o jogo da vontade é de tipo ético: ela nunca deve ser usada com propósitos egoístas ou destrutivos. A regra de ouro da bruxaria é: “Faça tudo aquilo que quiser, até o ponto em que o seu querer comece a perturbar ou ferir os outros”. O raciocínio que está por detrás dessa lei baseia-se muito mais num sentido de equilíbrio do que num ideal caridoso ou moralista. As bruxas acreditam que tudo aquilo que fazem produz efeitos que retornam a elas muito mais fortes do que a ação inicial. Pela “lei do retorno”, axioma fundamental da magia, o mundo é, para cada um de nós, um imenso espelho: tudo que projetamos nele, sejam atos, pensamentos, emoções ou sentimentos, mais cedo ou mais tarde voltará, como um reflexo, para aquele que fez a projeção. Assim, praticar magia para o bem trará sempre compensações positivas. Mas fazer feitiços maléficos é uma atividade muito perigosa, porque ao fazê-los a bruxa envolve-se com forças destrutivas que podem repercutir sobre a sua própria vida.
Mas, por outro lado, se alguém praticar o mal contra uma bruxa, ela estará, devido a essa mesma lei, perfeitamente a salvo ao executar o seu ato de vingança. Usará, nesse, caso, a própria energia negativa desencadeada pelo agressor, simplesmente devolvendo-a à origem.
Como a bruxinha cheia de charme que encontrei naquele jantar, as bruxas modernas estão soltas, livres e atuantes. Confundem-se a tal ponto com a mulher comum que sou tentado a dizer que toda mulher pode (e talvez deva) ser uma bruxa. Elas são pessoas que entenderam que magia não precisa ser, necessariamente, uma atividade que envolva estranhas cerimônias feitas atrás de portas fechadas.
A magia das bruxas é coisa tão natural quanto o ar que se respira, e o universo inteiro, dentro e fora de nós, faz vibrar constantemente o seu misterioso poder mágico. A natureza é mágica, e a mulher e o homem, seres que sintetizam todo o microcosmo natural, são também reservatórios do poder mágico.
[Nota deste pagão: a despeito de inúmeros dados incorretos, perpetuando muito da desinformação e excessiva mitificação, é uma boa exposição.]

domingo, 27 de março de 2016

A árvore de Berkeley

No Patheos, na seção de Paganismo, o texto de Megan na coluna “Pagan Tama” intitulado “A árvore caída na floresta foi ouvida” reascende uma conversa parecida que eu tive com Mauro Bartolomeu sobre o que eu vou chamar de “Paradoxo da árvore de Berkeley”.
George Berkeley propõe o seguinte exercício de pensamento: “Se uma árvore cai numa floresta, mas não há ninguém por perto, ela faz barulho?”
Parece uma questão simples, mas não é, a filosofia praticamente pode ser dividida em duas escolas: uma diz que a realidade existe por si mesma e a outra diz que o conceito de realidade depende da apreensão pelos sentidos.
Megan faz, mais ou menos, a mesma analogia que eu fiz com o Mauro, mas os cientistas não “ouviram” as ondas gravitacionais, visto que o som não se propaga no vácuo, mas as ondas foram detectadas, melhor dizendo, foram percebidas graças a um aparelho. Relembrando minha conversa com Mauro, a questão então é realidade ou sensação, o que define que algo existe?
O paradoxo pode ser dividido em duas partes: o evento e o observador. O evento acontece e é percebido pelo observador que, então, dá um sentido e significado ao evento. Dependendo da cultura, do conhecimento, da época e da sociedade em que o observador vive, esta interpretação terá diversas variações emocionais [para não usar a palavra sensitiva ou sensorial, o que tiraria o sentido do meu raciocínio]. Uma provocação mais que suficientemente para crentes e descrentes: a existência de algo [ou alguém] independe de um observador.
Ainda que não haja um observador, um evento deixa pistas e sinais que podem ser coletados, medidos e quantificados por um observador posteriormente. Nisto consiste o paradoxo de Berkeley: o observador precisa ter certas condições para poder perceber, ainda que posteriormente, o evento. O que nos conduz ao paradoxo da cor vermelha ao cego. Nós podemos alterar a realidade e pensar em como o aborígene brasileiro percebeu e entendeu a chegada dos navios portugueses.
Por isso que a discussão ainda está longe de ser resolvida: o fato existe de forma independente do observador, mas a existência do fato será variável conforme a percepção, sensação, interpretação e significado que o observador faz dele.
Voltando para a descoberta das ondas gravitacionais, esta descoberta ainda está em disputa, bem como seus desdobramentos e possibilidades. No entanto a explicação científica não esgota a questão, afinal tudo em nosso universo é feito de elementos, que ora são partículas, ora são energias, que sequer podem ser considerados reais, no sentido físico. Mesmo a ciência contêm diversas teorias que não possuem comprovação e evidências, inclusive algumas teorias se aproximam do esoterismo e apontam para uma realidade holística, multidimensional.

quinta-feira, 24 de março de 2016

A origem babilônica da Quaresma

O cristão observa a Quaresma antes da Páscoa e é bem interessante como existem diversas referências ao período de quarenta dias em diversos mitos bíblicos. Em sua forma original, a Quaresma e a Páscoa ocorrem na mesma época do Pessach. A narrativa mítica, compilada de diversas tradições orais, conta que a Pessach ocorreu durante o Êxodo do povo Judeu do Egito, no entanto estes fatos não possuem confirmação histórica, portanto é bem provável que os rabinos do Sinédrio, ao compilarem a Torah, na época do Segundo Templo, convenientemente encaixaram o Êxodo e a Pessach na mesma data das festividades babilônicas.

O povo Judeu tem origens em comuns com diversos povos do Oriente Médio e seus ancestrais, os Hebreus, eram politeístas. O povo Judeu é uma das Doze Tribos descendentes de Jacó, descendente de Isaque e Abraão, apenas para ficarmos com alguns patriarcas míticos. Pelo texto compilado, a árvore genealógica de Abraão remonta até aos filhos de Noé, assim os Judeus explicam miticamente seu parentesco em comum com os Cananeus e outros povos antigos do Oriente Médio. Ainda que tenham se tornado monoteístas, os Judeus guardaram muito de sua herança cultural, então não é de todo surpreendente que, durante seu Cativeiro na Babilônia, tenham facilmente adotado as crenças e cultos babilônicos, o que deve ter deixado os rabinos com o problema de encaixar a religião oficial do Sinédrio na religião popular.
Assim como os padres cristãos, os rabinos judeus fizeram uma piedosa fraude e encaixaram o calendário babilônico nas tradições judaicas. Eis o calendário babilônico que compreende o tempo da Pessach:

Ressurreição de Tammuz, 20 de março e Morte de Tammuz, 21 de julho, onde se observava quarenta dias de lamentação. [Assyrian Voice][link morto].

De acordo com os Evangelhos, Cristo estava celebrando a Pessach, não a Quaresma ou a Páscoa, estas foram santas fabricações posteriores da Igreja. No entanto, quando o Cristianismo tornou-se, graças ao Império Romano [Constantino e Teodósio], a única religião oficial, os padres da Igreja imitaram os rabinos do Sinédrio e cristianizaram uma celebração judaica que tinha origens pagãs.

A Pessach, assim como a Quaresma, tem suas raízes na celebração do Akitu, o Ano Novo Babilônico, celebrado durante o equinócio de primavera (que ocorre nos dias 20 ou 21 de março), durava 12 dias e culminava no Festival de Ishtar [hoje o domingo de Páscoa], celebrado no primeiro domingo, após a primeira lua cheia, após o equinócio vernal. O Akitu era a celebração do renascimento da natureza, o Festival de Ishtar era a celebração da fertilidade e fecundidade da Deusa Mãe, quem gerou todos, bem como a ressurreição de seu filho/consorte Tammuz, o “Filho de Deus Encarnado”. O período de quarenta dias foi decretado como um período de lamentação antecipando a morte de Tammuz, período que era acompanhado por restrições alimentares.
Estudiosos da religião e do mito de Tammuz reconhecem que as mitologias babilônicas e bíblicas são a mesma história: a descrição da concepção do Deus (o casamento sagrado no Akitu no equinócio vernal) e o nascimento do Deus no solstício de inverno, cerca de nove meses depois, por volta de 25 de dezembro, a morte do Deus no solstício de verão e então o renascimento como o Filho de Deus, no equinócio vernal. [Speak Assyria][link indisponível]

Em suma, a Quaresma é pagã, a Páscoa é pagã.

segunda-feira, 21 de março de 2016

Voltando ao ponto inicial

Em 17 de julho de 2007 eu escrevi aqui o texto “Família, esses estranhos” e em 01 de julho de 2015 eu escrevi na Sociedade Zvezda [extinto] o texto “Vamos falar do elefante na sala”. Ambos os textos, separados por sete anos, são sobre algo em mim, em minha vida, que não funciona muito bem: a família.
O que coloca uma questão em minha jornada, afinal, faz parte do princípio do Paganismo que o praticante tenha algum vínculo com sua família. Como eu posso ter alguma conexão com um grupo, comunidade, coven, se eu tenho um relacionamento problemático com minha família? Pior, como eu posso fazer o culto aos meus ancestrais se eu não tenho sequer uma convivência com minha família carnal? Talvez esta seja a raiz de meu comportamento problemático em fóruns, grupos e comunidades: eu acabo me comportando com essas pessoas com essa mesma relação tsundere que eu tenho com minha família. Talvez esta seja a razão de minha dificuldade em estabelecer uma ligação com o mundo espiritual.
Considerando que eu comecei essa jornada em 2006, considerando as experiências que tive, as decepções que eu tive com a Comunidade Pagã, com sacerdotes, com sacerdotisas e com pessoas que disseram ser minhas amigas e que iam me ajudar, eu devo estar próximo da mesma encruzilhada que me trouxe até aqui. Qual o passo seguinte?
Depois de dez anos, perceber que pouco ou nada mudou, a despeito de todo meu estudo e esforço, isso depõe unicamente contra mim e ninguém mais. Fui eu quem criou expectativas, quem acreditou em falsas amizades. Fui eu quem se deu demais ao ponto do estresse físico, mental e espiritual. Fu eu quem escolheu passar por todas as agruras que eu passei em toda minha vida. Fui eu quem idealizou em um modelo o que é uma família, um amor, uma amizade, um sacerdócio, uma religião. Fui eu quem quis acreditar que, se eu melhorasse o mundo também melhoraria. Fui eu quem se iludiu com a imagem que eu criei deste mundo.
Nenhuma família é perfeita e ideal, simplesmente não existe a família do comercial de margarina. Relacionamentos humanos são assim mesmo, imprevisíveis, explosivos, complicados, doloridos, incompreensíveis, mas indispensáveis. Nenhuma pessoa é melhor ou pior do que eu, grupos são compostos por pessoas, igualmente limitadas e falíveis. Uma comunidade não é muito diferente de uma família e é ainda mas abrangente, mais complexa e exponencialmente mais imperfeitas. Uma religião é um meio, não é o fim, não é a Verdade, o sacerdócio é apenas uma agremiação de pessoas que fazem um serviço religioso, pessoas com os mesmos dilemas, conflitos e dificuldades que nós, profanos.
Por isso que eu insisto para que o pagão moderno estude e compreenda os mitos antigos, porque eles falam mais de nossa humanidade do que dos Deuses. Os mitos são a razão dos ritos, somente através da experiência e percepção é que eu vou conseguir me superar, melhorar, crescer e, com sorte, estabelecer um vínculo com meus ancestrais e meus Deuses. Assim seja, assim é, assim será.

sexta-feira, 18 de março de 2016

Três filósofos antigos

Quando falamos em conhecimento, nós podemos definir que o conhecimento tem diversos graus.
Platão ensina que o conhecimento humano progride rumo à Verdade numa escala ascendente, composta de quatro graus: representações vulgares [conhecimento do dia-a-dia ; percepções dos sentidos [conhecimento sensível]; razão [conhecimento racional-científico] e intelecto [conhecimento suprarracional, contemplativo].
Aristóteles dizia que existem cinco níveis ou graus de conhecimento e o primeiro deles é a sensação. Da sensação, surge a memória, tornando melhores do que os outros, os seres que podem se lembrar, pois, por engendrarem memória, podem aprender. E nos seres capazes de se lembrar das sensações é possível desenvolver a experiência. Até esse nível, muitos animais, como a abelha, o cão, etc., conseguem participar. No entanto, o homem é capaz de ir além da experiência e viver, também, arte e ciência.
Três filósofos antigos do Neoplatonismo diziam que são quatro os graus do conhecimento: sensibilidade, razão, intelecto e êxtase.
Estes são Plotino, Jâmblico e Porfírio.

Plotino foi um filósofo neoplatônico, autor de “Enéadas” e mestre de Porfírio.
Grego nascido no Egito em Licópolis, ["Lyco" do grego significa "lobo", a mesma raiz que deu origem ao Liceu de Aristóteles ("o local do lobo")] no Egito, o que levou a especulações de que ele pode ter sido um egípcio de Roma descendente de gregos ou egípcios helenizados.
Jâmblico foi um filósofo neoplatônico assírio que determinou a direção da filosofia neoplatônica tardia e talvez do próprio paganismo ocidental. É mais conhecido por seu compêndio sobre filosofia pitagórica.
Nascido em meados do século III, Jâmblico estudou a magia dos caldeus e a filosofia de Pitágoras, Platão, Aristóteles e Plotino. Ao tomar contato com o neoplatonismo, foi para Roma a fim de estudar com Porfírio.
Porfírio de Tiro foi um filósofo neoplatônico conhecido por sua biografia de Plotino e seu papel na edição da obra “Enéadas”. Porfírio ajudou a popularizar e difundir o neoplatonismo em todo o Império Romano; seu comentário sobre a obra “Categorias” de Aristóteles, o “Isagoge”, foi traduzido para o latim por Boécio e exerceu grande influência na lógica e na discussão sobre o problema dos universais.
Porfírio descreve como as qualidades atribuídas às coisas podem ser classificadas, quebrando o conceito filosófico da substância como um genus/espécie do relacionamento. Com isso, Porfírio pôde incorporar a lógica aristotélica ao neoplatonismo, especialmente a doutrina das categorias do ser interpretada nos termos das entidades.  Para Porfírio, os conceitos se subordinam, partindo dos mais gerais até chegar aos menos extensos. A “árvore de Porfírio” deu início ao nominalismo, que animou a filosofia medieval por dez séculos e é uma espécie de antecessora das modernas classificações taxonômicas. [Wikipédia]

Se a escala é ascendente, se um tipo de conhecimento é superior a outro, esta é uma questão discutível e é para isso que serve a filosofia. O que interessa aqui é que quando falamos em conhecimento, este é o humano e uma mesma pessoa carrega em si todos estes conhecimentos, que se misturam e interagem, ora em harmonia, ora em conflito, mas não cabe falarmos em antagonismo ou incompatibilidade entre os graus de conhecimento.

terça-feira, 15 de março de 2016

O matemático e grão mestre

Eu estimo que meu caro e eventual leitor está ou passou por essa tortura mental chamada escola, onde “aprendeu” sobre o Teorema de Pitágoras: “Em qualquer triângulo retângulo, o quadrado do comprimento da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos comprimentos dos catetos”. E a escola nos “ensina” mais coisas incrivelmente... inúteis. Nós assimilamos o Teorema de Pitágoras na base da decoreba e a escola não nos exige mais do que repetir o “conhecimento”.
Eu tive que ir para a faculdade, para a universidade, para perceber que tudo que aprendemos é pouco, é insuficiente e costuma estar errado em muitos aspectos. Por exemplo, se você pergunta para um estudante ou acadêmico o que ele pensa sobre a numerologia, há grandes chances dele resumir sua ojeriza descrevendo este tópico como “superstição”. Deve ser uma surpresa para muitos descrentes ao saberem que essa noção mística da matemática e dos números veio de Pitágoras.

Pitagorismo é um termo usado para as crenças esotéricas e metafísicas defendidas por Pitágoras e seus seguidores. Os pitagóricos, que foram consideravelmente influenciados pela matemática. O pensamento Pitágorico era consideravelmente dominado pela matemática, mas ele foi também profundamente místico. O ensinamento pitágorico realmente começou com os ensinamentos de Anaximander , que ensinou que a substância última das coisas é o "infinito", que Anaximander chamava de apeiron ".
A absorvição do apeiron é também o que faz o mundo matemático, não apenas possível descrever com matemática, mas na verdadeiramente matemático, uma vez que mostra os números e a realidade tem o mesmo princípio.
Pitagoras sugere que a purificação maior de uma vida se da por pura contemplação. É o filósofo que contempla sobre as ciências e a matemática, que é liberado do "ciclo de nascimento".
A vida do matemático puro é, de acordo com Pitágoras, a vida no mais alto plano de existência.
Assim, a raiz de matemática e buscas científicas no Pitagorismo também é baseada em um desejo espiritual de se libertar do ciclo de nascimento e morte. É essa contemplação sobre o mundo que constitui a maior virtude na filosofia de Pitágoras.
o Tetractys (Τετρακτύς grego) é uma figura triangular constituído por dez ponto.Era um símbolo místico muito importante para o culto secreto dos pitagóricos.
The Tetractys
Os primeiros quatro números simbolizavam a harmonia das esferas e o Cosmos
Os quatro linhas adicionadas a dez, qual era a unidade de ordem superior (em decimal).
A Tetractys representou a organização do espaço:
da primeira linha representava a dimensão zero (um ponto)
a segunda linha representava a primeira dimensão (uma linha de dois pontos)
a terceira linha representava a segunda dimensão (um plano definido por um triângulo de três pontos)
da quarta linha representava a terceira dimensão (um tetraedro definido por quatro pontos)
A oração dos pitagóricos mostra a importância da Tetractys (às vezes chamado de "Tétrade místico "), como a oração foi feita a ele.
Os pitagóricos interessavam-se pelo estudo das propriedades dos números. Para eles, o número, sinônimo de harmonia, constituído da soma de pares e ímpares - os números pares e ímpares expressando as relações que se encontram em permanente processo de mutação -, era considerado como a essência das coisas, criando noções opostas (limitado e ilimitado) e sendo a base da teoria da harmonia das esferas.
Segundo os pitagóricos, o cosmo é regido por relações matemáticas. A observação dos astros sugeriu-lhes que uma ordem domina o universo. Evidências disso estariam no dia e noite, no alterar-se das estações e no movimento circular e perfeito das estrelas. Por isso o mundo poderia ser chamado de cosmos, termo que contém as ideias de ordem, de correspondência e de beleza. Nessa cosmovisão também concluíram que a Terra é esférica, estrela entre as estrelas que se movem ao redor de um fogo central. Alguns pitagóricos chegaram até a falar da rotação da Terra sobre o eixo, mas a maior descoberta de Pitágoras ou dos seus discípulos (já que há obscuridades em torno do pitagorismo, devido ao caráter esotérico e secreto da escola) deu-se no domínio da geometria e se refere às relações entre os lados do triângulo retângulo. A descoberta foi enunciada no teorema de Pitágoras.
Segundo o pitagorismo, a essência, que é o princípio fundamental que forma todas as coisas é o número. Os pitagóricos não distinguem forma, lei, e substância, considerando o número o elo entre estes elementos. Para esta escola existiam quatro elementos: terra, água, ar e fogo.
O símbolo utilizado pela escola era o pentagrama, que, como descobriu Pitágoras, possui algumas propriedades interessantes. Um pentagrama é obtido traçando-se as diagonais de um pentágono regular; pelas intersecções dos segmentos desta diagonal, é obtido um novo pentágono regular, que é proporcional ao original exatamente pela razão áurea. [Wikipédia]

O nome iniciático de Pitágoras significa “aquele que fala (Agor-) a verdade das Pythias (Pyth-)” ou seja, Pyth-Agor. Assim como muitos outros sábios, seu nascimento foi profetizado por outras Pythias e ele nasceu de uma virgem. Seus ensinamentos nada mais eram do que os mesmos ensinados pelos Egípcios em suas Escolas dos Mistérios.
Os pitagóricos estudavam a fundo a matemática, filosofia, a geometria sagrada, proporções áureas, o pentagrama, a ligação entre religião e ciência, numerologia, astrologia, reencarnação, vegetarianismo e a música. A associação entre música e magia é muito antiga e poderosa.
O Pentagrama também possui uma relação especial com o Planeta Vênus. Observando o céu e anotando a posição da “Estrela Matutina” durante 8 anos, o traçado do chamado “período sinódico” de Vênus forma um Pentagrama (período sinódico é o tempo que um planeta leva para retornar a uma mesma posição em relação ao sol por um observador na Terra).
Portanto, desde sempre o Pentagrama representou o Planeta Vênus, ou seja, a Estrela Matutina, ou seja, Prometeus, ou seja, Lúcifer. O Planeta Vênus também está ligado ao sagrado feminino, às deusas celtas e aos Templos Lunares (Vênus-Afrodite, a deusa arquetipal feminina). Não é muito difícil imaginar como a Igreja Católica chegou a associações toscas entre “satanismo” e “pentagrama” e “adoradores do diabo” e “sacerdotisas/bruxas” e “queimem as bruxas”, não é mesmo? [Teoria da Conspiração]

Mas a Igreja não foi a única a “queimar” bruxas. O Estado e a Academia também ajudaram a “queimar” as bruxas, tanto que foi comum, a partir da Renascença, um sistemático e deliberado expurgo de tudo que era considerado “superstição” e “crendice”, para que os “sacerdotes da matéria” pudessem apresentar para o público a Ciência como se fosse uma virgem vestal, como se o conhecimento científico não viesse de pensadores, filósofos, magos, sacerdotes, templos.

sábado, 12 de março de 2016

As raízes do Paganismo Moderno

O dileto e eventual leitor deve estar penando que eu endoidei de vez. Depois de três “biografias” de personalidades que deram sua contribuição ao Mundo Contemporâneo, o leitor deve querer saber o que tais personalidades tem a ver com o Paganismo Moderno.
Caro leitor, toda nossa cultura, filosofia, ciência e tecnologia nasceram e foram desenvolvidas pelos povos antigos, todos religiosos. O pensamento contemporâneo ocidental é predominantemente formado pela Filosofia Neoplatônica. Michel Onfray publicou toda uma série de outros filósofos e pensadores que seriam a “contra história da filosofia” diante da supremacia do Platonismo no Pensamento Ocidental. Mas essa é uma falsa noção, visto que Platão deu ensejo à Aristóteles, o principal teórico do método científico. Sem os trabalhos de Aristóteles, o ateu não teria fundamento ao discursar sobre razão, lógica, fato e evidência.

Neoplatonismo é o termo que define o conjunto de doutrinas e escolas de inspiração platônica que se desenvolveram do século III ao século VI, mais precisamente da fundação da escola alexandrina por Amônio Sacas (232) ao fechamento da escola de Atenas imposto pelo edito de Justiniano, de 529.
O neoplatonismo é direcionado para os aspectos espirituais e cosmológicos do pensamento platónico, sintetizando o platonismo com a teologia egípcia e judaica. No entanto, os neoplatônicos se consideravam simplesmente platônicos, e a distinção moderna é devido à percepção de que sua filosofia continha interpretações suficientemente originais a Platão para torná-la substancialmente diferente do que Platão escreveu .
Pensadores da escola neoplatônica relacionaram seus pensadores com outras escolas intelectuais. Por exemplo, certas vertentes do neoplatonismo influenciaram pensadores cristãos (como Agostinho, Boécio, João Escoto Erígena e Boaventura de Bagnoregio), enquanto o pensamento cristão influenciou (e às vezes converteu) filósofos neoplatônicos (como Pseudo-Dionísio, o Areopagita).
Na Idade Média, os argumentos neoplatônicos foram levados a sério por pensadores islâmicos e judeus medievais, como al-Farabi e Moisés Maimônides,[8] e despertou interesse novamente no Renascimento, com a aquisição da tradução dos textos neoplatônicos em grego e árabe.
O neoplatonismo nasceu em um momento histórico particular, quando o homem, impulsionado por uma crise interna profunda, sentiu intensamente a transitoriedade da realidade sensível. Os primeiros neoplatônicos foram Plutarco, Maximus, Enesidemo e Numênio Apameu, que teriam vivido no segundo século da era cristã e influenciado Plotino, o sistematizador do neoplatonismo. Segundo Numênio, havia três deuses, o Pai, o Construtor (Demiurgo) e o Mundo. Amônio Sacas, de Alexandria, é visto como o fundador da escola neoplatônica .
O termo "neoplatonismo" é uma construção moderna. Plotino, que é muitas vezes considerado o "fundador do neoplatonismo", não teria se considerado um "neoplatônico", em qualquer sentido, mas simplesmente um expositor das doutrinas de Platão. Este fato o ter obrigado a formular um sistema filosófico inteiramente novo não teria sido visto por ele como um problema, pois era, a seus olhos, justamente o que a doutrina platônica precisava. Em certo sentido, isso é verdade, pois desde o Antigo Academy encontramos sucessores de Platão lutando com a interpretação adequada de seu pensamento e chegando a conclusões muito diferentes. Além disso, na época helenística, certas idéias platônicas foram retomadas por pensadores de diferentes lealdades - judaicas, gnósticas, cristãs - e trabalharam em novas formas de expressão que variavam bastante do que Platão realmente escreveu em seus Diálogos. [Wikipédia]

Isto é algo que é ocultado tanto pela Igreja quanto pela Academia: tanto nosso pensamento religioso quanto nosso pensamento científico devem muito ao Neoplatonismo. O Neoplatonismo carregou em si as ideias sustentadas por Aristóteles, Pitágoras e outros tantos pensadores, pesquisadores e cientistas. O Neoplatonismo parece um Frankenstein e, dependendo de quem está dissecando ou costurando esse corpo, algumas partes são boas e outras podem ser descartadas. Para a Igreja incomoda a ligação do Neoplatonismo com o Gnosticismo e o Politeísmo, para a Academia incomoda a ligação do Neoplatonismo com o Hermetismo e o Ocultismo. Para a Igreja o Neoplatonismo foi útil por sua noção de Logos. Para a Academia o Neoplatonismo foi útil por sua noção de Alquimia.

Filosofia grega antiga e gnosticismo
As primeiras origens do gnosticismo são obscuras e ainda contestadas. Por esta razão, alguns estudiosos preferem falar de "gnosis" ao se referir às ideias do século I que mais tarde evoluíram para o gnosticismo e reservar o termo "gnosticismo" para a síntese dessas ideias em um movimento coerente, no século II . Influências prováveis ​​incluem Platão, o Médio platonismo e as escolas ou academias de pensamento neopitagóricas e isto parece ser verdade em ambos os gnósticos do setianismo e os do valentianismo. Além disso, se compararmos diferentes textos setianistas uns aos outros em uma tentativa de criar uma cronologia do desenvolvimento do Setianismo durante os primeiros séculos, parece que os textos posteriores continuam a interagir com o platonismo. Textos anteriores, como o Apocalipse de Adão mostram sinais de ser pré-cristão e se concentram em Sete, o terceiro filho de Adão e Eva. Estes primeiros setianistas podem ser idênticos ou relacionados com a Nazarenos, Ofitas ou aos grupos sectários chamados de herético por Fílon de Alexandria.
Textos setianos tardios como Zostrianos e Alógenes criam sobre as imagens de textos setianos mais antigos mas utilizam "um grande fundo de conceituação filosófica derivada do platonismo contemporânea, (médio platonismo tardio) com vestígios de conteúdo cristão ". Na verdade, a doutrina do "um único formado por três" (a trindade) é encontrada no texto de Alógenes, como descoberto na Biblioteca de Nag Hammadi e é "a mesma doutrina encontrada nos comentários anônimos em Parmênides (Fragmento XIV) que são atribuídos por Hadot a Porfírio e também, a encontramos na Enéadas de Plotino 6.7, 17, 13-26."
No entanto, os neoplatônicos do século III, como Plotino, Porfírio e Amélio da Toscana atacam os Setianistas. Parece que o Setianismo começou como uma tradição pré-cristã, possivelmente sincrética que incorporou elementos do platonismo e do cristianismo à medida que crescia, apenas para que ambos o cristianismo e o platonismo os rejeitassem se voltassem contra eles. O Prof. John Turner acredita que este duplo ataque levou à fragmentação do Setianismo em numerosos grupos menores como Arcônticos, Audianos, Borboritas, Fibionitas, Estratiônicos e outros.
O estudo sobre o gnosticismo tem avançado muito desde a descoberta e a tradução dos textos de Nag Hammadi que lançam alguma luz sobre alguns dos comentários mais intrigantes feitos por Plotino e Porfírio sobre os gnósticos. Mais importante ainda, as versões ajudam a distinguir os diferentes tipos dos primeiros gnósticos. Parece claro que os gnósticos setianistas e valentinianos tentaram "se esforçar para uma conciliação e mesmo afiliação" com filosofia antiga final, mas foram rejeitados por alguns neoplatônicos, incluindo Plotino.

Relações filosóficas entre o neoplatonismo e o gnosticismo
Os gnósticos emprestaram várias déias e termos do platonismo, eles exibem uma profunda compreensão dos termos filosóficos gregos e do idioma grego koiné em geral; utilizam conceitos filosóficos gregos em todo o seu texto, incluindo conceitos como hipóstase (a realidade, a existência), ousia (essência, substância, ser), e demiurgo (Deus criador). Bons exemplos incluem textos como a Hipóstase dos Arcontes ("Realidade dos Governantes") ou Protenoia Trimórfica ("O primeiro pensamento em três formas").
Porfírio em A vida de Plotino estabelece uma diferença entre os genuínos seguidores de Cristo e um outro grupo de mesclava a filosofia (gnosis) com elementos cristãos e Plotino é antagônico a esta situação ao dizer "Eles (gnósticos) tiraram algumas ideias de Platão, mas todas as novidades que acrescentaram para criar uma filosofia original, são fora da verdade", no mesmo tratado, Plotino critica o elitismo ao dizer que os gnósticos "visam à formação de uma doutrina especial", Plotino repreende os gnósticos por desfigurarem a filosofia de Platão e apesar de sempre sereno em suas exposições fala de modo áspero: "Quando esses gnósticos afirmam que desprezam a beleza terrena, fariam melhor se desprezassem a dos meninos e das mulheres, para não sucumbirem à incontinência". É preciso observar que se os gnósticos, sem exceção tivessem sido libertinos, Plotino nunca os teria admitido, já que levava uma vida de virtudes.
Outro epíteto dado por Plotino aos gnósticos é o de charlatães ao "se vangloriaram em poder expulsar doenças com fórmulas" e ainda segundo Plotino, que as doenças eram consideradas seres (ou obras) de entidades demoníacas pelo gnósticos de sua época, "Só a plebe ignara se deixa iludir(...) as doenças não são algo demoníaco.". Plotino assevera que a moral dos gnósticos é inferior à de Epicuro o qual "aconselha procurar a satisfação no prazar" e ainda adverte que a doutrina é temerária porque ridiculariza a virtude e só pensa em interesses próprios. Para chegar a essas acusações graves, com certeza Plotino levou algum tempo, ao chegar em Roma, ele encontrou entre seus ouvintes sectários do gnosticismo com os quais discutia seus pontos de vista.[Wikipédia]

Não se sabe exatamente quem deu origem a quem, ou quem influenciou quem, mas o conhecimento deixado por estes pensadores e filósofos antigos chegou até nós embora disfarçado nos textos Herméticos, Esotéricos e Ocultistas. Em pleno início da Idade moderna, enquanto começava a Renascença, estas mesmas ideias eram tranquilamente discutidas na Academia, transitando como o conhecimento científico conhecido por Alquimia. Bem debaixo das franjas da Igreja, padres e nobres clandestinamente estudavam e praticavam a magia que estava contida nos famigerados grimórios. Este cenário deu forma e estrutura ao Movimento Romântico do século XVIII, bem como a incontáveis ordens e sociedades secretas. Foram estes magos, poetas, escritores e diletantes que foram os percursores disto que se tornou o Paganismo Moderno.

sexta-feira, 11 de março de 2016

Sobre bebês e água de banho

Algum tempo atrás, quando pensamos que escrever este blog seria algo para ser feito regularmente, publicamos um artigo sobre o que fazer quando sua linhagem não é Gardneriana além de chorar. Postamos isso porque parece que uma grande faixa da comunidade Wiccan eclética tem ideia de como linhagem funciona, para que serve, ou como descobrir a sua própria se eles realmente tivessem uma. Recomendamos que você o leia algum dia. O penúltimo exemplo de identidade Gardneriana equivocada foi a reivindicação de linhagem Gardneriana por Silver Ravenwolf por meio de um grupo de bruxos ecléticos que foram iniciados em várias tradições diferentes que levam de volta a tradição Seax Wicca de Ray Buckland, e de lá, para Gerald, ou algo assim, porque parecia divertido .

Atualmente, depois de todo esse tumulto bobo, voltamos nossa atenção para a terra mágica do Carnaval e Umbanda, de terreiros de Candomblé, de adornos de penas para cabeça e uma Rainha do carnaval Globeleza que foi considerado “muito negra” para o papel. Voltamos nossa atenção para o lindo Brasil.
Por que voltamos nossa atenção agora para o maior país de língua portuguesa do mundo? Será que é porque estávamos fora até tarde noite passada praticando Umbanda com um amigo nosso que gasta tempo demais no Rio? Na verdade não. É porque há Gardnerianos no Brasil! E, assim como nos Estados Unidos, quando você tem um monte de pessoas que se identificam como Gardnerianos no mesmo país, uma tempestade de merda explode, só que desta vez isso está ainda pior do que o inglês habitual, então prepare-se para tomar um drink e Google translator para sua vida.

Claudiney Prieto tem sido um amigo nosso de internet desde quando as pessoas realmente utilizavam coisas como Tribe.net e circulavam os sites Pagãos do Ning, que antecederam o Facebook. Em termos resumidos, isso significa que nós dois somos muito velhos agora. Claudiney tem sido um bruxo e cultuador pagão da Deusa ativo de diversas matizes. Na verdade, ele é tão bom nisso que fez com que a notória Zsuzsanna Budapest, que todo mundo ama até a morte, o ordenasse como algo parecido com a versão masculina de uma sacerdotisa Diânica. (Cremos que ele é o único que existe e apostamos que mais do que algumas militantes feministas bufaram por isso) Claudiney também é, menos impressionantemente, um iniciado de nosso pequeno culto: a Wicca tradicional. Ele é um Gardneriano. Ele foi o único Gardneriano de lá que qualquer um de nós já conheceu, e ainda hoje isso é uma coisa divertida todos nós o amamos por isso.
Mas há outros wiccans que se identificam como Gardnerianos lá embaixo, e eles não gostaram que existe um novo garoto no bloco, e que ele pode ou não ter uma parceira de trabalho, e que eles podem ou não ter formado um novo Coven lá que se sustenta por si só. Isso ocorre porque o outro grupo que se identifica como Gardneriano derivam todo de um cara fascinante e eloquente chamado Mario Martinez.

Nós não conhecemos o Sr. Martinez, mas o que ouvimos de sua história é mais ou menos isso. “46 anos atrás eu estava no Reino Unido e eu fui iniciado, e talvez elevado, e eu trouxe a Wicca Gardneriana para o Brasil.” Ok, isso soa totalmente plausível. Quando as pessoas fazem afirmações sobre serem Gardnerianos, há certas maneiras que outros Gardnerianos lidam com isso. Primeiro, vamos verificar para ver quantas léguas seu covenstead está, porque alguns antigos fizeram leis que exigiam que você estivesse perto o suficiente, temos que te dar um MONTE de bebida e ter uma competição com você, do qual o perdedor deve se lambuzar com pomada para o voo das bruxas, nu, e correr pela rua com uma vassoura entre as pernas cantando Deus Salve a Rainha. Mas se você vive longe o suficiente para não podermos jogar ovos em sua casa no Dia das Bruxas, em algum lugar como o Brasil, Bem, então nós apenas pedimos um Vouch (Comprovação/Testemunho).

O Vouch é simples. Se eu sou um Gardneriano e outro Gardneriano sabe disso, ele vai levar a minha palavra a sério e eu posso testemunhar por ele aos outros. Se eu sei que Claudiney é um iniciado da Wicca Gardneriana, o que eu sei porque sua Sumo Sacerdotisa e algumas outras centenas de pessoas mais de uma vez me disseram, então eu posso testemunhar por ele, porque eu também tenho testemunhas, em privado e em público, e eu também mantenho esse blog graças aos Deuses. Voltando para o real “nós”. Então, quando deparamos com estranhos que se dizem fazer parte de nós, pedimos um Vouch (uma Comprovação/Testemunho). Quando nos perguntam, temos alguém conhecido pela comunidade Gardneriana para testemunhar por nós. Normalmente, este é o nosso iniciador, ou o seu parceiro de trabalho, ou qualquer um com quem já estivemos em um Coven Gardneriano, ou qualquer um com quem já estivemos em um círculo Gardneriano, porque eles não podem confirmar nem negar que nos viram dançando totalmente nu por aí com uma garrafa de uísque ao mesmo tempo, tecendo junto uma cruz de Brighid ao cantar furiosamente. Ou algo assim. Vouches criam um sistema de validação e verificação ao qual todos nós temos acesso.

Mas o que acontece quando alguém não pode obter qualquer outra pessoa comprovada para testemunhar por eles? Bem, esse é o problema com Mario Martinez. Praticamente todos os Gardnerianos do planeta sabem como obter um Vouch, mas de alguma forma esse cara não consegue encontrar um. Isto é sempre curioso para nós. Vamos imaginar que algo como a morte surgiu no caminho. “Meus iniciadores estão mortos.” Ok, isso coloca um abafador sobre as coisas. Existe mais alguém? E quanto aos seus irmãos de coven? Seus iniciadores? Todos mortos? E sobre aos iniciados deles? Será que algum deles já ouviu falar de você? Você tem fotos? Papéis? Comunicações? Prova de que vocês foram iniciados? Conhece a tradição oral que ajuda a provar isso? Não? Bem querido, isso é muito ruim. Felizmente, se você é o Mario Martinez e não tem Vouch, você pode simplesmente criar uma página no Facebook chamada Manifesto Gardneriano para provar quão fodão e legítimo você é, certo? Tem sorte, por não está em Inglês ou até mesmo Engrish.

Há uma situação muito fascinante que acontece de vez em quando, quando covens Gardnerianos são formados e novos covens brotam em terras distantes: quem já estava naquelas terras distantes fingindo serem Gardnerianos tendem a SAIR DO CONTROLE. Por quê? Bem, porque só os deuses sabem quanto tempo, pessoas como este Mario Martinez estavam operando nas sombras, afirmando ser Gardneriano e construindo um grupo potencialmente considerável de pessoas que têm sido enganadas pensando que alguém sem um Vouch de outro Gardneriano poderia ter sido iniciado por um de nós. Quando o negócio real chega posteriormente (Oi Claudiney!), a merda atinge o proverbial ventilador, porque agora há alguém que pode confirmar ou negar as reivindicações do outro, e este novo alguém passa a ser o iniciado de uma autora Gardneriana bastante conhecida na área metropolitana de NYC.

Então agora a merda está voando para todos os lados no Brasil, e é maravilhoso assistir, apesar da enorme dificuldade que é ler, porque não está escrito no bom inglês americano. Agora, não somos o tipo de pessoa que brinca com compaixão, mas vamos fingir por um segundo, que as alegações do senhor Martinez são verdadeiras. Certamente, algumas pessoas foram deixadas sem um Vouch porque eles eram de covens pequenos e remotos (geralmente no deserto canadense) e seus iniciadores morreram e não estavam realmente em contato com mais ninguém. Estes casos acontecem, e eles são tristes, mas há marcas em um Gardneriano que todos nós podemos reconhecer. Fomos ensinados as mesmas coisas. Conhecemos as mesmas palavras. Nós fazemos a mesma coisa. Por isso, perguntamos um ao outro, e quando aparece que essa pessoa é obviamente legítima, mas falta um Vouch, nós levantamos a mão e a dança delicada do “eu os reconheço sem essa coisa crucial ou ofereço para reiniciá-los para restaurar o link na corrente e espero que eles não achem isso terrivelmente ofensivo? ”

Mas este não é o caso lá em baixo no Brasil, por tudo o que temos lido. Sr. Martinez alega como prova de sua legitimidade que ele tem um exemplar do Livro das Sombras Gardneriano. Ele chegou a enviar uma cópia para um de nós no Texas. O que descobrimos foi que não se pode confirmar nem negar que isso era parte do Livro das Sombras real, porque hummmm…, mas o que podemos confirmar é que ele tem notas de rodapé e anotações de um maravilhoso, mas falecido Sumo Sacerdote em Seattle ou Portland ou qualquer sombria e chuvosa cidade americana que ele amava, e que não faz sentido que alguém que afirma ter sido iniciado na Inglaterra na década de 1970 tenha uma cópia de um livro que foi compilado e editado com notas de rodapé na década de 1990 na área da baía de San Francisco da América. Portanto, se o livro dele não veio de seus iniciadores e foi em vez disso possivelmente roubado de uma postagem acidental no Yahoo nos primeiros dias da internet, a pergunta é “onde está o seu próprio livro? Por que você tem uma versão americana? “Sua resposta? “Todo mundo abaixo da linha de Ray Buckland é inválido.” Citando aqueles que não concordam com você como prova de intimidação? Brilhante.

A situação fala por si. Se você ou alguém que você ama fala português, sinta-se livre para traduzir este artigo e espalhá-lo aí em baixo. Eu ADORARIA ler as postagens de ódio nos comentários <3 font="">

Obrigado,

-Um Gardneriano

Original: Gardnerians. Versão em português do autor.

quarta-feira, 9 de março de 2016

A história omitida

O dileto e eventual leitor deve estar cansado como eu da ladainha do descrente falando que religião e ciência são incompatíveis e por ai adiante. Que o Cristianismo tem lá suas lacunas, crimes e absurdos, isto eu não contesto. Mas é igualmente irracional essa retórica do descrente em jogar todas as religiões no mesmo saco. Que o Cristianismo deturpa e distorce a história, isto eu não contesto, mas o descrente comete o mesmo “pecado”. Querem um exemplo? Pois bem, o descrente omite ou desconversa quando é perguntado sobre o outro lado da vida de “sir” Isaac Newton.
Aquele que é considerado o “Pai da Física Moderna” não era ateu, mas teísta de alguma forma. Nasceu em um lar anglicano , mas tinha um tipo de cristianismo que era considerado herético. Durante sua vida, além das pesquisas que coroaram seu trabalho na ciência, Newton desenvolveu pesquisas teológicas, além de alquimia e ocultismo. Newton acreditava que os antigos filósofos e religiosos tiveram um vislumbre da verdade da natureza do mundo e do universo, mas esta verdade, tendo-se ocultado dentro da linguagem da época e de estudiosos medievais, exigia ser decifrada, a fim de ser compreendida. Embora as leis do movimento e da gravitação universal se tornaram as descobertas mais conhecidas de Newton, ele advertiu contra usá-las para ver o universo como uma mera máquina, como se fosse um grande relógio. Ele disse: "A gravidade explica os movimentos dos planetas, mas não pode explicar quem colocou os planetas em movimento. Deus governa todas as coisas e sabe tudo o que é ou pode ser feito". Atribui-se a ele, embora os descrentes neguem, uma obra contendo profecias sobre o Fim do Mundo.
Newton, como muitos cientistas e filósofos, tinha uma visão sobre o divino que certamente teve origem no Neoplatonismo, ideias presentes no Gnosticismo, Hermetismo, Orfismo, Ocultismo, Alquimia e outras escolas filosóficas e esotéricas. Newton contribuiu para formar a ideia de uma “religião natural”, que é uma das ideias básicas do Paganismo Moderno.
Newton não está sozinho nesse panteão de heróis que tentaram desvelar a verdade para todos, não aquela que convém a convenções e instituições humanas, mas a verdade sobre a vida, o mundo e o universo. Outros também contrariaram o poder da Igreja, da Academia e da Descrença.
A minha intenção é falar um pouco sobre estes personagens, mas o dileto e eventual leitor deve estar imaginando qual relação existe entre Filosofia, Neoplatonismo, Gnosticismo, Ocultismo e Paganismo Moderno. Cada coisa em seu tempo, caro leitor. Por enquanto mitigue sobre o discurso do descrente e sobre sua credibilidade.

domingo, 6 de março de 2016

O messias gnóstico

Ele nasceu há aproximadamente dois milênios. Realizou milagres, curou os doentes, alimentou os famintos e expulsou os demônios. Por onde passava promulgava a paz para as multidões que o seguiam. Denunciava os opressores do povo e por fim foi julgado e condenado em um tribunal romano, até hoje nada se sabe de seu cadáver. Se perguntássemos sobre quem você acha que está lendo, com certeza poderia confundir esse pequeno currículo com o de uma popular lenda urbana. Mas trata-se da vida de Apolônio de Tiana, um misterioso personagem cuja vida é tão apaixonante para os que a conhecem quanto desconhecida para a maioria das pessoas.

Muito do que sabemos de sua vida chegou até nos graças à biografia encomendada pela imperadriz romana Julia Domna ao filósofo e historiador Filostratus. A monarca não viveu para ver o resultado final do texto que ficou pronto alguns anos depois de sua morte. O testemunho de Filostratus, entitulado "A Vida de Apollonius de Tyana", serviu como base para todas as discussões posteriores sobre esta enigmática figura. Trata-se de um livro especialmente importante porque contém trechos de manuscritos disponíveis ao autor mas que já não existem mais, incluindo cartas do próprio Apolônio e o diário de Damis, seu fiel discípulo.

Sua obra escrita é bastante vaga e pouco chegou até os dias de hoje. Aqui merece destaque o Nuctemeron, antigo manuscrito atribuído a Apolônio, importante o bastante para ser incluído como apêndice na obra "Dogma e Ritual da Alta Magia" de Eliphas Levi. No Nuctemeron os ensinamentos de Apolônio de Tiana estão dispostos como em um relógio em 12 horas. Cada hora traz uma instrução especial até que o ciclo se feche para recomeçar, nos lembrando da necessidade de sempre reforçá-los. Embora apresentado numa linguagem alegórica de dificil acesso o Nuctemeron ganhou uma grande reputação entre os estudantes de Alta Magia.

A vida de Apolônio de Tiana

A fonte bibliográfica de Filostratus ainda recebe o endosso das fontes do mundo árabe medieval. Entre eles Apolônio recebe o nome de Abūlūniyū, Balīnās ou ainda Balinus e as lendas descritas são consistentes com o testemunho europeu. Entre estas fontes destacam-se o Kitāb Sirr al-alīqa ( Livro da Criação), o Risāla fī taīr ar-rūḥānīyāt (Tratado da influência dos seres espirituais nas coisas compostas), o al-Mudḫal al-kabīr (Introdução ao uso de Talismãs), o Kitāb alāsim Balīnās al-akbar (Grande Livro de Talismãs e Apolônio) e o Kitāb Ablūs al-ḥakīm (Livro do sábio Apolônio). Todos eles de autoria atribuída ao nosso personagem.

Segundo todas estas narrativas, Apolônio de Tiana nasceu na Grécia, na região da Capadócia turca, aproximadamente no ano 4 A.C. Discípulo da escola neo-pitagórica, destacou-se como notável filósofo e professor. Muitos de seus pensamentos, mesmo após tantos séculos, ainda se encontram presentes nas universidades e academias ao redor do mundo, sendo uma grande influência para o pensamento científico contemporâneo.

Assim como todo personagem que surgiu há mais de mil anos e se envolvia com misticismo, seu nascimento está envolto de mistérios e lendas. Conta-se que sua mãe teve um sonho durante o qual sonhou que estava grávida. Ao acordar passou a encabeçar a lista da mães virgens tão comuns à mitologia universal.

Pouco sabemos sobre sua infância diante da qual os registros históricos se calam. Todavia sabemos que aos quatorze anos foi levado para estudar com Eutidemo, professor de retórica em Tarso. Sentiu tanta repulsa com os costumes do povo de lá que convenceu seu pai adotivo a mudar-se para outra vizinhança. Tornou-se neo-pitagórico e portanto frugal e vegetariano. Se abstinha do vinho, das casas de banho e das mulheres. Andava sempre descalço com roupas muito simples e sentiu-se desde muito jovem atraído a uma vida de contemplação e ascetismo. Conta-se que até os 15 anos era um rapaz calado pouco dado a conversas e interações sociais, pronunciando sempre o mínimo de palavras necessário. Mais tarde quando seu pai adotivo morreu doou toda sua herança aos pobres da região mostrando definitivamente seu desapego aos bens materiais.

O ponto culminante de sua vida foi a descoberta do túmulo de Hermes Trimegistro, acompanhado de vários manuscritos que são significativos para o hermetismo dos dias de hoje. No Kitāb Sirr al-alīqa ele descreve este importante descoberta que serviu de ponte entre as escolas de mistérios egípcias e os taumaturgos do primeiro século. Entre estes manuscritos estavam a famosa Tábua da Esmeralda, por este motivo alguns historiadores a colocam como sendo da autoria do próprio Apolônio, embora ele mesmo negue esta hipótese nas fontes árabes acima citadas. Depois desta descoberta começou aos poucos a ganhar atenção de todos com quem entrava em contato pois apregoava a doutrina hermética abertamente para as massas. Seu estilo obscuro e setencioso aos poucos o fez rodeado de pessoas interessadas. Artesãos abandonavam seus ofícios para ouvi-lo e cidades próximas enviavam embaixadores para visitá-lo. Os árabes criaram poemas em sua homenagem e é dito que seu nome chegou com admiração até mesmo aos brâmanes da Índia, aos magos da Pérsia e aos sacerdotes egípcios.

Durante sua fase adulta Apolônio viajou por boa parte do Oriente e Mediterrâneo visitando templos, corrigindo costumes que achava intoleráveis e reformando toda forma de abuso. Seus ensinamentos eram sempre acompanhados de toda sorte de prodígios. Em Éfeso ganhou notoriedade por acabar com uma praga simplesmente repreendendo-a. Em Coríntio realizou exorcismos públicos. Às margens do Eufrates profetizou o futuro do imperador Nerón da Babilônia. Viajou ainda pelo Egito, Etiópia e outros países e povoados sempre rodeado de muitos seguidores. Finalmente, visitou a Italia e ressuscitou uma mulher.

Passava ele pelo funeral desta mulher que pertencia a uma importante família consular e, aproximando-se de seus ouvidos, pronunciou algumas palavras místicas. Ela abriu os olhos e levantou-se confusa. Apolônio foi levado para a casa de seus pais, que lhe ofereceram uma considerável quantia em dinheiro, que ele aceitou apenas para dar de volta como dote à donzela. O episódio deu ao mago uma fama sem precedentes e isso bastou para ganhar a desconfiança das autoridades.

Suas viagens foram interrompidas depois que se estabeleceu em Roma. Acusado de atiçar o povo, de conspirar contra o imperador Domiciano e de cometer o sacrilégio de não se curvar perante a éfige de césar, Apolônio foi desnudado, acorrentado e confinado em um calabouço, onde algumas versões da história dizem que finalmente morreu em 97 D.C.. Outra versão conta que foi lhe dada a chance de reconhecer publicamente seu erro e assim ganhar o indulto romano, entretanto Apolônio negou-se a aceitar seus atos como um erro sendo em seguida condenado à morte. Suas últimas palavras teriam sido: ‘Não podem deter minha alma, nem sequer meu corpo’. Tendo dito isso diante do tribunal seu corpo se desvaneceu desaparecendo diante dos olhos de todos os presentes.

Após seu inexplicável desaparecimento houveram ainda relatos de aparecimentos seus em Dicearquia e posteriormente em Creta onde conta-se teria finalmente falecido. Sua fama de milagreiro e a lenda de toda sua vida fizeram com que muitas pessoas acreditassem que ele fosse imortal. Fato é que nunca encontraram seu corpo.

A reputação de Apolônio de Tiana

Com o passar dos anos sua figura ganhou contornos populares, sendo inclusive adorado com um semi-deus em certos povoados, onde hinos eram escritos e estátuas levantadas em sua homenagem. Conta-se que o imperador Alessandro Severo tinha um retrato seu em seu oratório pessoal, ao lado das figuras de Cristo, Vopisco e Orfeo. Até o século V sua reputação era forte mesmo entre os cristãos. Prova disso é que Leon, ministro do rei dos visigodos pediu que o bispo de Auvernia traduzisse a obra de Filostrato dedicada a Apolônio. Ao terminar a tradução Sidônio remeteu ao ministro uma carta na qual exaltava todas as grandes virtudes do filósofo dizendo que para ser um ser humano perfeito só faltava que fosse cristão.

A opinião do bispo não foi seguida pelo restante da igreja. Infelizmente as similaridades entre a vida de Apolônio e a vida do Jesus bíblico acabou gerando uma grande desconfiança entre os sacerdotes. Desconfiança essa que culminou numa grande inimizade dentro da igreja romana e em uma campanha de difamação. Apolônio era então apresentado como impostor e falso-profeta que tentava enganar e desencaminhar os fiéis. Num segundo momento seus detratores o elevaram ao título de filho do diabo e perigoso necromante a serviço das forças infernais. Por fim, sua figura foi largada ao esquecimento geral.

Essa má fama persistiu até meados do século XVI, quando as cabeças pensantes do iluminismo, incluindo Voltaire, começaram a advogar suas próprias ideias ético-religiosas opondo-se à igreja e propondo uma religião não-denominacional mais compatível com a razão. Em 1680 Charles Blunt, publicou a primeira tradução em inglês do livro de Filostratus, incluindo uma poderosa introdução pessoal anti-clerical. Nos anos seguintes as similaridades da vida de Apolônio com a de Jesus dominou a polêmica sobre a originalidade do cristianismo. Teosofistas passaram a considerá-lo duas encarnações do mesmo mestre enquanto Marquês de Sade fazia pouco de ambos em seus contos. Pouco depois Ezra Pound associou Apolônio com o culto solar destacando-o como um rival messiânico de Cristo, identificado-o com uma cosmovisão de supremacia ariana de mitologia anti-semita.

No século XX Apolônio entra de vez para o universo da ficção e sua figura ganha ares cada vez mais lendários. No livro de Gerald Messadié "O homem que virou deus" Apolônio aparece como um poderoso filósofo e mago contemporâneio de Jesus. Este autor francês narra em sua obra inclusive um encontro entre os dois personagens. No cinema aparece como personagem do filme "As 7 Faces do Dr. Lao" e é ainda retratado na trilogia Illuminatus de Ribert Anton Wilson como tendo uma discussão com Abbie Hoffman, hippie ativista norte-americano.

Conclusão

Com toda a discussão sobre quem copiou e quem foi copiado, a verdade é que suas histórias de Jesus e Apolônio de Tiana são muito semelhantes. Nascidos na mesma época (Cristo também nasceu entre 4 e 6 A.C.), mortos no mesmo séculos e com atos que inspiraram muitos... a diferença apontada por muitos pesquisadores é de que a vida de Apolônio recebeu atenção de muitas pessoas que a registrou, não apenas na região em que viveu mas nas regiões vizinhas, coisa que não aconteceu com seu xará Galileu, o que faz muitos apontarem para a possibilidade de Jesus ser uma cristificação da imagem de Apolônio. Mais do que isso, muitos dos rituais e símbolos usados nos sacramentos romanos podem ser seguidos de volta no tempo até repousarem nos pés de Apolônio. O missal, o altar, as vestimenta dos padres e muitos outros detalhes não tem qualquer relação com as histórias descritas na bíblia, mas podem facilmente ser atribuídas a uma herança direta aos elementos de alta magia apresentados por Apolônio.

Original: Morte Súbita.

quinta-feira, 3 de março de 2016

O “patriarca” do Paganismo Moderno

Aqui eu citei no artigo “intervalo Autocrítico” um trecho do livro “História da Bruxaria”, de Jeffrey Russel e Brooks Alexander. Basicamente os autores atribuem o ressurgimento da Bruxaria como consequência do Movimento Romântico por volta do século XVIII.
A título de esclarecimento, na sequencia eu escrevi o artigo “Ensaio de História”, sem contar com inúmeras citações do livro de Stuart Clark que servem como um contraponto ao texto de Russel e Alexander. Ainda assim são meras hipóteses, não uma tese.
O Paganismo Moderno também é considerado como tendo origem nesse Movimento Romântico, tanto no meio acadêmico como no meio pagão. Mas um evento histórico não pode ser compreendido sendo alijado e afastado do processo histórico, ou das causas e contextos que resultaram neste fato histórico. O Movimento Romântico foi precedido pela Renascença, cuja cultura artística, literária e acadêmica recebeu influência dos mitos antigos, dos pensadores antigos, mas também do Neoplatonismo, a escola de pensamento que estruturou a filosofia e a teologia do Cristianismo.
Conforme eu vou buscando, pesquisando, lendo e estudando, eis que eu me deparo com um nome: Jorge Gemisto Pleton.

Jorge Gemisto Pleton foi um filósofo e erudito grego neoplatônico, um dos pioneiros no renascimento do aprendizado dos mestres gregos no início da Renascença na Europa Ocidental.
Pleton participou do Concílio de Ferrara, onde iniciou sua lições de filosofia platônica, que impulsionaram a criação da Academia Florentina por Cosme I de Médici, em 1459. Seu platonismo, no qual se mesclam elementos neoplatônicos, neopitagóricos e aristotélicos, configura-se como um emanatismo aonde a alma é uma emanação das idéias, que por sua vez emanam do Uno, ou de Deus e aspira a uma restauração do politeísmo grego, ao qual devia subordinar-se o cristianismo. [Wikipédia]

Antes dele, apenas o imperador Flávio Cláudio Juliano, chamado de Juliano, o Apóstata, tentou fazer algo parecido.

Em 12 de dezembro de 361, Juliano entrou em Constantinopla como imperador único, sem precisar vencer nenhuma batalha , como um eleito dos deuses para defender o império das provações que se apresentassem. Ao assumir o comando do império, Juliano assumiu sua crença no paganismo e se colocou sob a proteção de Zeus e Hélio. O período em que Juliano governou ficou conhecido “restauração pagã”, pois houve uma tentativa por parte do imperador de restaurar a cultura pagã do império. O novo imperador, embora batizado e educado no cristianismo, adotou as antigas crenças pagãs greco-romanas, o que lhe valeu posteriormente o apelido de "Apóstata". Apesar de ter tomado medidas como a proibição do exercício do ensino pelos mestres cristãos, e das ordens para que abrissem os templos e restituíssem o culto aos deuses, o governo de Juliano não foi marcado pela intolerância religiosa ou perseguição aos cristãos. [Wikipédia]

Há que se salientar que, embora muitos patriarcas do Cristianismo foram neoplatônicos, os pensadores neoplatônicos não eram, necessariamente, cristãos. O preguiçoso e intelectualmente desonesto verá neles algo como um ateísmo antigo, só que não. Muito do que na atualidade é consumido como esoterismo e ocultismo está presente nas obras neoplatônicas. Os famigerados livros de magia, chamados grimórios, foram coletâneas de textos de escolas de mistério, como o Orfismo, o Gnosticismo e o Hermetismo, de onde surgiu a alquimia e diversas ordens místicas do ocidente.
Ainda é uma hipótese, não uma tese, mas derruba a teoria de Russel e Alexander. Gemisto Pleton demonstra que o Paganismo ainda estava bem vivo, mesmo depois da supressão cultural cometida pelo Cristianismo. Gemisto Pleton mostra que havia muitas diferenças entre aquilo que a Igreja mandava crer e o que os cristãos efetivamente acreditavam e praticavam e foi na religião, crença e folclore popular que a religião antiga sobrevive até hoje.