sexta-feira, 25 de setembro de 2015

O avesso do avesso do avesso

Há alguma coisa fora da ordem. O que um trecho de “Sampa” de Caetano Veloso está fazendo no titulo deste texto? O que Caetano Veloso, Tropicália, tem a ver com Paganismo Moderno? Tudo e nada, segundo a lógica do pós-moderno. Francis Wheen faz uma análise dos males da Era Contemporânea, focando mais na politica econômica mundial neoliberal, destruindo com fatos muitos dos misticismos contidos na ideologia do Liberalismo.
Para Francis Wheen, estamos na Era da Picaretagem o que não é contraditório, mas complementar ao que eu chamo de Era da Mediocridade. Para Francis Wheen, o pós-modernismo é o culpado. Culpado por ter ruído com o Racionalismo do Iluminismo.
Você consegue imaginar o mundo onde as palavras perderam seus significados, seus sentidos, seus conceitos? Segundo Francis Wheen é neste mundo em que vivemos. Mas vamos calma com o andor, pois falamos de história, filosofia e o ingrediente mais instável: o ser humano.
O ser humano passou por diversas fases, chamadas de “eras”. Quando um ciclo se esgota, outro surge e invariavelmente acontece um longo período onde forças sociais entram em choque, um período de transição, onde pensadores, intelectuais e governantes parecem apontar para um “Novo Mundo” em algum lugar do horizonte distante.
Em certo sentido, a Reforma e o Iluminismo foi um período de transição. O Feudalismo estava cedendo espaço para o Mercantilismo. Surge a primeira onda da Colonização. Surgem novos impérios. Surgem novas formas de fazer as coisas. Surgem novas formas de ver as coisas. Surgem novos agentes históricos que almejam e invejam o poder e a riqueza dos antigos senhores da sociedade. Surgem movimentos revolucionários, a noção de direitos, a noção de Estado, a noção de República. Entretanto, tudo que o ser humano faz é construir novas catedrais sobre os escombros das anteriores. Os burgueses copiaram a empáfia da nobreza, ao negar aos proletários os mesmos direitos que deveriam ser humanos. Os burgueses copiaram a afetação da nobreza, ao ostentar uma riqueza imoral diante da fome e da miséria produzida pelo sistema que eles mesmos criaram.
Se o Iluminismo fracassou e permitiu a ascensão da Picaretagem, a culpa é exclusiva de seus idealizadores, pois os nobres princípios e as boas vontades do Iluminismo ficaram na mão de poucos. Como nós sabemos, de boa vontade, o Inferno está cheio.
Infelizmente as ideias e ideais da “esquerda” tem sua origem na revolução francesa, uma revolução burguesa, que soube utilizar a tensão social a seu favor, para atingir seus objetivos. As guerras pela independência em muitas das colônias copiaram e assimilaram esses ideais, os nacionalizaram, mas não deixaram de serem revoluções burguesas que favoreceram a poucos. Nem mesmo a revolução russa escapou dessa tenência. Karl Marx, o autor de “O Capital”, era burguês. Lenin, que se tornou líder do Partido Bolchevique, era burguês.
Na verdade, todo intelectual e pensador foi e é burguês, inclusive este escritor que vos escreve. Fomos nós que, para tentar reconstruir o mundo, devastado pelas guerras que demonstraram todo o horror e carnificina graças à industrialização e ao capitalismo, produzimos isto que é chamado de pós-modernismo.
Se o Racionalismo, a Lógica e a Ciência não foram capazes de evitar o Fascismo e o Nazismo, então devemos inverter, desconstruir, virar as coisas do avesso. Nós começamos a questionar e a contestar a sociedade ocidental como centro político, cultural e financeiro. Nós questionamos e contestamos o monopólio do Cristianismo. Nós questionamos e contestamos os valores dúbios e a morais hipócritas do sistema. Nós defendemos novas formas de abordagens e discursos sobre a realidade, a vida, a sexualidade, a sociedade, a politica, a economia e a cultura. Chegamos ao ápice de afirmar que tudo é uma convenção determinada pela linguagem, então toda definição [mesmo a científica] é um mero texto que pode ser moldado.
Entretanto esse viés místico não é exclusivo do pós-modernismo. Muito antes, no século XVIII, intelectuais e pensadores europeus produziram o Movimento Romântico, caracterizado por um elogio aos mitos antigos e uma paixão saudosista por crenças, religiões e cultos de povos antigos ou povos “selvagens”. O pós-modernismo apenas requentou e jogou nos meios de comunicação de massa, filhotes da industrialização do sistema capitalista. O que era antes desfrutado e consumido por pequenos grupos elitistas estava agora sendo exposto a todo um público, heterogêneo sem dúvida, mas sem a capacidade ou competência intelectual de entender o que estavam consumindo. Esse “pensamento alternativo” achou seu meio ideal: universidades, estudantes, professores, artistas. Foi neste caldeirão que surgiu a Contracultura. Foi nessa viagem na maionese que surgiram as “religiões alternativas”. Foi na carona desse ônibus hippie que o Paganismo Moderno conquistou seu espaço diante das massas. Infelizmente com todo tipo de gurus paraguaios, vendedores de óleo de cobra, farsantes, vigaristas e estelionatários esotéricos.
Não há lugar melhor para o discurso pós-moderno, não há ambiente mais propício para o picareta, do que o Paganismo Moderno. Eu tive mais do que minha quota de aturar adolescente semialfabetizado vir me empurrar o “evangelismo wiccaniniano”. Eu tive mais do que a minha quota de aturar “sacerdote legitimamente iniciado” vir me empurrar sua desonestidade acadêmica sobre o Ofício. Eu tive mais do que minha quota de aturar o fundamentalismo [cristão e ateu]. Eu tive mais do que minha quota de aturar gente que se autoproclama algo, sem sustentação, sem argumento, sem vergonha em se apropriar de títulos. Eu tive mais do que minha quota de tentar dar um pouco de conhecimento acadêmico e seriedade para a Comunidade Pagã.
Então eu cheguei neste ponto. Eu melhorei muitas coisas em mim, mas ainda me pego repetindo hábitos ruins. Mas, ao contrário de John Halstead, eu não estou desencantado com o Caminho, com o Mundo, com os Deuses – eu estou desencantado com o ser humano. Como um toque de Midas inverso, nós transformamos tudo que tocamos em lixo.
Como a religião Wicca. Que era para ser um sacerdócio de uma religião iniciática de mistérios, mas virou mais um produto comercial nas mãos dos americanos. A Wicca, que tem um estigma de ser “bruxaria caiada”, foi diluída, dilapidada, vulgarizada, popularizada, edulcorada em tantos embrulhos enfeitados quantos o consumidor quiser. A América tornou-se uma provincial máquina de produzir “tradições”.
Grupos, ordens, congregações não apenas foram sendo construídas e formadas como também foram influenciadas e infiltraram as tradições. Por exemplo: segundo Dana Corby, sacerdotisa da Tradição Mohsian, um ramo da Wicca Tradicional Britânica, o Mito de Criação da Tradição Feri é o mesmo adotado por tradições do Oficio. Isso talvez explique porque um famoso sacerdote diânico brasileiro não teve problemas em receber o 3* na Tradição Gardneriana, embora isto seja irrelevante, visto que não existe autoridade central na Wicca e que o conhecimento acadêmico sobre o Ofício mostra exatamente o contrário.
O curioso, o simpatizante, o buscador, o neófito que tiver interesse no Paganismo Moderno deve ficar espantado quando vai para congressos, eventos e feiras. O que mais se vê é uma enorme mistura de produtos e serviços místicos, esotéricos, alternativos. Eu fico imaginando o que nossos ancestrais diriam ao se verem imitados em um pastiche frívolo. Eu fico imaginando o que as bruxas diriam ao se verem estereotipadas como fugitivas de um Cosplay.
Francis Ween teria material suficiente para escrever um capítulo inteiro sobre essa picaretagem. Afinal, o Paganismo Moderno, ou melhor, seus representantes, usam e abusam do discurso pós-moderno. Como a insistência em focar na Deusa, ao mesmo tempo em que se fala que Ela está além do gênero [TRANS gênero/cedente/gressora], tirando todo o sentido do sagrado feminino e se aproxima perigosamente do monoteísmo abraãmico, mas sem esse discurso muitos picaretas não poderão vender o evangelho inclusivo.
Este é o cenário e a realidade. A Comunidade Pagã Internacional está dominada por adolescentes mimados e melindrados, que não podem ser contrariados em sua obsessão por aceitação, reconhecimento e validação. Aqui não existe lugar, inclusão, tolerância, para o discurso racional, acadêmico, crítico. As coisas são como são. Aceite que dói menos.
Eu vou seguir o conselho do Caetano Veloso em “Sampa” e do Raul Seixas em “Metamorfose Ambulante”. Eu serei o avesso do avesso do avesso do avesso. Eu quero dizer agora o oposto do que eu disse antes. Ou não.

sábado, 19 de setembro de 2015

Carta para a Mariana

Mariana, hoje é um dia especial por dois motivos. Hoje é o seu aniversário, hoje você completa seis anos. Seis anos que você trouxe alegria para seus pais e seus tios. Você veio como um presente, uma benção, a poucos dias de outra data especial.

Você nasceu quase no mesmo dia em que diversos povos comemoram o Equinócio, no hemisfério sul é a chegada da Primavera, no hemisfério norte é a chegada do Outono. No entanto o Equinócio não ocorre a cada ano no mesmo dia de setembro, a chegada da primavera varia entre o dia 18 e o dia 22 de setembro. Tudo depende do movimento da Terra em torno do Sol.

A primavera é comemorada por pessoas que acreditam na sacralidade da natureza e das estações do ano, assim como seu tio.

No hemisfério norte a primavera acontece em abril, quando nós comemoramos a Páscoa. A origem dessa celebração remonta a crenças antigas que hoje são descritas como Paganismo. Em países de língua inglesa, a Páscoa é chamada de Easter, palavra que tem sua raiz em Eostre, o nome de uma Deusa adorada pelos antigos povos europeus.

No hemisfério sul a primavera acontece em setembro, quando comemoramos a florada da primavera. Como somos um país de origem e língua latina, a Deusa Flora está associada com esta estação.
Países de língua inglesa chamam esta estação de Spring que significa “brotar”. Nós chamamos de primavera por que nossa língua se originou do latim, assim “primavera” vem de “primo vere”, sendo “veris” o nome do “bom tempo”, a estação da floração e da frutificação.

A primavera é uma estação que antecipa o verão. Cheia de flores, colorido, alegria e amor. Assim como você, Mariana. Você foi a flor que chegou para alegrar seus pais e seus tios. Você traz colorido, alegria e amor todos os dias para nós. Parabéns, Mariana!

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Eu falo demais

O caro dileto e eventual leitor que tem acompanhado meus textos até o momento merece uma medalha por ter me aguentado tanto tempo. Parentes e familiares discordarão veementemente que eu falo demais. Quando eu digo que “falo” demais, não é exatamente “falar”, mas escrever. Que droga, é apenas uma metáfora.
Um texto tem diversos níveis de interpretação, mas basicamente há o significado conotativo e o significado denotativo. Ser escritor em um país semialfabetizado ou com analfabetismo funcional não é fácil. Ter algum diploma do nível superior é um privilégio. Esta é minha benção e maldição: eu sou um escritor, eu gosto de escrever e eu tenho uma excelente redação desde o ginasial.
Ser escritor com um mercado editorial medíocre, com tantos autores e livros de baixa qualidade fazendo sucesso, com as facilidades oferecidas pela internet, qualquer um deve achar que escrever é fácil e que tem capacidade de escrever. Ainda não inventaram reality shows para isso, mas não faltam pessoas sem noção que acham que são cantores/atores/comediantes e se prestam a desfilar o despreparo dos pleiteantes e a decadência que está a nossa cultura.
Escrever não é fácil, não é simples. Eu não estou falando apenas em ter cuidado com as regras da ortografia e da gramática. Eu me refiro a algo que muito suposto escritor, famoso, celebridade, sucesso de vendas, traduzido para muitas línguas, esquece: escrever necessita estudar sobre o que vai escrever. Um bom escritor é um excelente leitor. Um bom escritor passa horas em bibliotecas, faz inúmeras anotações, consulta diversas bibliografias, tem ao menos algum conhecimento acadêmico. Se você acha isso pedante, elitista, arrogante e presunçoso, eu não posso fazer coisa alguma. Algo não vai deixar de ser e ter as características que tem apenas para te agradar ou te confortar.
Eu sei que o ser humano é muito inseguro a ponto de precisar ser reconhecido, aplaudido e aceito. Então é natural que o ser humano tente adequar alguma coisa para que isto se encaixe em suas necessidades. O que me leva aos temas deste blogue: Paganismo, Bruxaria e Wicca. Antes de apontar para o elefante na sala, uma breve digressão.
Um dia eu ouvi de uma drag-queen algo que faz muito sentido. Todos nós “montamos” um personagem. Para funcionarmos nesse mundo, nós representamos diversos papéis e diversos personagens, conforme a situação. A vida é uma peça de teatro e a rotina é nosso palco. Fingimos, encenamos, sem roteiro, sem “fala de deixa”, sendo atores, protagonistas ou coadjuvantes. Cada uma dessas nossas facetas é parte de nós, todas são ambas tão reais quanto ilusórias.
A Cultura de Massa ajuda a construir esses personagens e os papéis que devem encenar. Isto é o que Jung chamou de Inconsciente Coletivo. Os personagens e seus papéis formam o que Jung chamou de arquétipo. O problema é que a imagem que a Cultura de Massa transmite é sempre um exagero, uma generalização e um estereótipo. Eu vou utilizar alguns exemplos.
O cinema consagrou a figura do “cowboy”. Baseado em um exagero, uma generalização e um estereótipo do vaqueiro que desbravou o oeste americano, a figura do “cowboy” foi disseminada em uma cultura, uma época e um público que simplesmente ignorava a realidade e a história do desbravamento do oeste americano. Para a cultura americana, um homem que vive pela “lei da arma” pode fazer todo o sentido, a não ser que você seja o “índio”, outra figura que foi construída em torno de um exagero, uma generalização e um estereótipo que chega a ser uma ofensa aos verdadeiros nativos americanos. Este é o lado ruim da Cultura em Massa, que é reforçar e reproduzir uma cultura dominante, com seus preconceitos, discriminações, privilégios e elitismos.
Elitismo é quando uma cultura reforça e sustenta algum tipo de supremacia de um pequeno grupo que detêm o poder e a influencia social sobre outro grupo que é frequentemente oprimido e reprimido pelo sistema. Quando os afrodescendentes não tinham seus direitos civis reconhecidos, a sociedade achava normal e engraçado piadas racistas. Assim também os chineses, os japoneses, os judeus, os muçulmanos, os homossexuais e as mulheres são vítimas de abuso moral.
Então quando uma expressão cultural tinha uma origem não ocidental [como kung-fu e artes marciais em geral], a Cultura de Massa tratava de distorcer, se apropriar da imagem e vesti-la em um personagem com traços mais ocidentalizados. Isso é apropriação cultural e isso aconteceu também com as crenças e religiões de origens orientais, foram transformados em pastiches vazios para o consumo.
Assim se constrói a imagem do herói: a Cultura de Massas reveste a imagem de um personagem ideal que represente o sistema dominante, atribuindo a este os valores morais maniqueístas, dúbios e discutíveis da sociedade. O inverso é também verídico, a Cultura de Massas trata de construir a imagem do antagonista do sistema vigente e a este personagem se atribui todos os males que existem e são parte do sistema. Como estamos em uma cultura capitalista ocidental cristã, fica fácil apontar os personagens antagonistas: o imigrante, o judeu, o muçulmano, o comunista, o herege, a bruxa.
Aqui cessa a digressão e eu posso começar com o tema deste blogue: Paganismo, Bruxaria e Wicca.
O termo “pagão” foi utilizado pelos Estados cristãos para estigmatizar aqueles que ainda seguiam as crenças antigas e ganhou o sentido de pessoa irreligiosa ou supersticiosa. Mas ser pagão não é, necessariamente, ser descrente ou irreligioso, como dizem os cristãos e acreditam os ateus. Mesmo os pensadores da Antiguidade que são, erroneamente, apontados como sendo descrentes, irreligiosos ou “percursores” do ateísmo, não podem ser identificados assim, pois no máximo eles criticavam a forma como as pessoas de sua época definiam o divino, não que eles não acreditavam em Deuses.
Quando intelectuais da Renascença redescobriram os mitos da Era Clássica, o Ocidente começou a resgatar suas origens e raízes, como uma forma de contestar a Igreja, como uma forma de acabar com o monopólio e tirania do Vaticano. O Movimento Romântico do século XVIII começou a construir o chamado Paganismo Moderno tendo como modelo as ideias da Renascença. Na Era Moderna, o Movimento Romântico tornou-se parte da Cultura de Massas e chegamos na Era Contemporânea com uma imagem distorcida do que seria a religião antiga, uma imagem baseada no exagero, na generalização e no estereótipo do que seria “pagão”.
Então qual era a religião deste tempo que na Era Moderna é chamada de Paganismo Moderno? Falando especificamente da Idade Antiga, as religiões tinham algumas características em comum: a religião era tanto privada [familiar] quanto pública [cívica]; a religião era politeísta e cada Deus/a tinha seu próprio templo, mito/mistério e sacerdócio; havia datas religiosas festivas marcando eventos e estações; havia a preocupação com ritos fúnebres e rituais aos ancestrais; havia diversas formas de oráculos; haviam diversas crenças e práticas populares que podem ser chamadas, grosseiramente, de simpatias. Ao contrário do que se costuma afirmar publicamente, a religião antiga estava igualmente presente na cidade e realizava sacrifícios animais.
A religião antiga estava gradualmente desaparecendo, mas o golpe final aconteceu quando o Império Romano instituiu o Cristianismo como a única religião oficial, banindo toda e qualquer outra forma de prática, crença ou religião. Pela força das espadas e dos exércitos, a Igreja ganhou de mão beijada o monopólio espiritual de todo o mundo conhecido. No entanto a imposição de um único credo oficial não foi absoluta, o Estado e a Igreja tiveram que ceder espaço para algumas crenças antigas e a população resistiu aos dogmas da Igreja através da folclorização do Cristianismo. Mesmo que na forma de sincretismo religioso, o folclore conservou muito da religião antiga, um folclore que manteve suas expressões em datas festivas e religiosas que antecedem ao Cristianismo.
Foi depois de uma crise de fé, causada pela Peste Negra, que surgiu deste caldo folclórico as primeiras tentativas do mundo ocidental em recuperar suas raízes e origens. Como o Estado e a Igreja impunham o Cristianismo como a única religião oficial e verdadeira, então a conclusão era a de que estes grupos eram compostos de hereges, cristãos que tinham se desviado da Santa Doutrina da Igreja. Assim nasceu o Santo Ofício, que compreende tanto o tribunal eclesiástico quanto o tribunal secular e disto surgiu a Inquisição: procedimentos de identificação, denúncia, acusação, torturas e assassinatos de milhares de inocentes por terem cometido o único crime de crerem em algo diferente.
O Santo Ofício organizou e formou um tipo de policia politica que tinha como única função localizar, investigar e perseguir os chamados hereges. Nestes relatórios surgiu a imagem da bruxa, o personagem que justificou um dos maiores morticínios da humanidade cometidos em nome de Deus. O discurso oficial refletiu o folclore e a crença popular que conservaram os resquícios da religião antiga. Mas quem eram essas mulheres que enfrentaram os tribunais sob a acusação de serem bruxas e de praticarem bruxaria? O que era considerado bruxaria? Pelo discurso oficial, eclesiástico e secular, a bruxa e a bruxaria consistiam ora de uma heresia, ora de uma patologia mental. Tanto no templo cristão quanto no templo cientifico, a bruxa era continuamente torturada, desumanizada, assassinada.
Quais eram os crimes que a bruxa era acusada? Os tribunais listavam contra a bruxa as mesmas acusações que se fazia contra o herege. Outras acusações eram consideradas mais graves, como a feitura de poções, a criação de um espírito familiar, a de frequentar assembleias e a de ter feito pacto com o Diabo. Curiosamente, padres da Igreja, intelectuais e nobres fabricaram os famigerados “grimórios”, livros de bruxaria, com certas práticas e rituais que eram executados em círculos muito restritos. De certa forma as ditas “sociedades secretas” nasceram destes grupos compostos de padres, intelectuais e nobres. Muito do que se definiu e se define como bruxa e bruxaria carrega consigo o folclore e a religião popular, o discurso oficial e os apócrifos livros de bruxaria. Foi esta mistura que, com a chegada do Movimento Romântico e a Era Moderna, começou a dar forma ao que seria chamado de Bruxaria Moderna.
Quem abriu a porta da civilização capitalista ocidental cristã para o ressurgimento da Bruxaria com uma imagem diferente, positiva, organizada e estruturada foi o britânico Gerald Gardner que, com a ajuda de outros colaboradores involuntários, deu forma e corpo à primeira religião britânica: a Wicca. O único pecado de Gardner foi que ele procurava, deliberadamente, publicidade nos meios de comunicação de massa, um contrassenso ao princípio de sigilo que depois provocaria em seu grupo o primeiro cisma. Até hoje criticado e desacreditado, Gardner conseguiu transmitir tanto aquilo que ele aprendera de uma tradição britânica e familiar de bruxaria, como seu próprio tempero composto de ocultismo, esoterismo, franco-maçonaria e rosacrucianismo. Seu legado, invejado e jamais equiparado, influenciou tudo mais o que surgiu depois dele e de sua Wicca.
Eu vou pular a descrição da Wicca exatamente porque eu tenho vários textos sobre isto e há uma concorrência desleal divulgando a imagem que vem da distorção e da apropriação originada da Cultura de Massas. Eu vou pular também a explicação de que esta distorção e apropriação começaram na América do Norte, como frutos da Contracultura, com todo o florescimento das religiões alternativas. Eu vou direto ao ponto que quebra as minhas pernas. A Wicca se tornou tão bem sucedida que, enquanto religião e algo tão humano, expandiu, transbordou e transcendeu muitos limites e fronteiras. Muitos grupos e tradições, tanto de paganismo moderno quanto de bruxaria moderna, influenciam e são influenciados pela Wicca. Alguns são pedantes em criticar a Wicca, mas sua estrutura e rituais são um reflexo da Wicca. Alguns são arrogantes em se equiparar com a Wicca, mas lhes faltam linhagem e ortopraxia.
Se o caro dileto e eventual leitor é um pagão, bruxo ou wiccano [mesmo que por auto proclamação] e se sente ofendido com isso, por favor, me poupe da mesma ladainha que eu estou cansado de ouvir.
Wicca não é elitista porque não há uma relação de supremacia. Nenhuma tradição ou grupo de paganismo, bruxaria e wicca arroga a si como sendo o único caminho, o único certo, o único verdadeiro.
Wicca não é privilegiada porque o que mais tem recebido atenção do público é a Religião da Deusa. O que acontece muito é que grupos de pagãos ou de bruxos acabam se identificando ou usando a Wicca como rótulo para se apresentarem em eventos, congressos e rituais coletivos.
Wicca não é sexista porque os covens são matrilineares e matriarcais, a base da sua estrutura está na Alta Sacerdotisa. O Grande Rito pode parecer sexista para grupos diânicos feministas radicais, mas para a Wicca o sexo é sagrado.
Wicca não é homofóbica porque reconhece o sacerdócio de todas as pessoas que tiveram o devido treinamento e iniciação dentro de uma tradição. Cada tipo de ritual tem sua função e razão. Ritos homoeróticos podem ser consumidos como prática pessoal ou em algum grupo dentro da enorme diversidade de tradições do paganismo.
Wicca não é intolerante porque não arroga a si autoridade suprema. A Wicca apenas vai sustentar sua ortopraxia. Cada tradição tem sua característica, com suas práticas, seus rituais e requisitos. Toda tradição tem seus limites do que é permitido para a celebração de seus mistérios. Intolerância é impor ou forçar uma tradição a abrir mão de suas regras.
Se assim mesmo você sente que a Wicca não se encaixa no que você acredita, não se desespere. Você não precisa ser wiccano para praticar a Wicca. Você não precisa ser admitido em um coven, passar pelo devido treinamento e iniciação para ganhar reconhecimento, aceitação ou permissão para seu caminho, suas práticas e crenças. Você não precisa sequer entrar em um coven para buscar o mistério, a sabedoria e a comunhão com os Deuses. Tudo o que você precisa está dentro de você mesmo. Siga seu caminho, siga sua bênção.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

A Revelação Templária

Capítulo VII A – SEXO: O SACRAMENTO FINAL

…Na verdade, reconhecendo as profundas preocupações não materiais e sexuais da alquimia, o psicólogo C. Gustav Jung considerou-a a precursora da psicanálise. Como vimos, a «Grande Obra» do alquimista era uma experiência rara e transformadora de vida e ninguém sabe, ao certo, a forma de que ela se revestia. Contudo, Nicholas Flamel (suposto grão-mestre do Priorado de Sião), que obteve este brilhante galardão, a 17 de Janeiro de 1382, em Paris, sublinhou que o conseguira em companhia da sua mulher, Perenelle.

Parece que eles constituíam um casal muito dedicado: segundo parece, Perenelle também era alquimista – muitas mulheres o eram, em segredo. Mas Flamel sublinhou a sua presença, naquele dia fatídico, como indicação da verdadeira natureza da Grande Obra? Há uma sugestão de que ela revestia a forma de algum gênero de rito sexual?

Não há dúvida quanto à existência de, pelo menos, uma componente sexual na prática de alquimia, como revela o clássico texto alquímico A Coroa da Natureza, citado em Alchemy de Johannes Fabricius:

A dama de pele branca, amorosamente unida a seu marido, de membros de cor rosa, envolvidos nos braços um do outro, na felicidade da união conjugal.Fundem-se e diluem-se quando atingem a meta da perfeição. Os dois tornam-se um só, como se fossem um só corpo.

Significativamente, existem duas disciplinas orientais que sublinham a transcendência religiosa e espiritual da sexualidade: o tantra indiano e o taoísmo chinês. Ambos são disciplinas antigas – e muito respeitadas nas suas culturas – e realçam o potencial de certas práticas sexuais para atingir o conhecimento místico, a regeneração física, a longevidade e a unidade com Deus. Atualmente, muitas destas ideias são largamente conhecidas, mas o que não é reconhecido, para além dos próprios grupos de iniciados, é que, surpreendentemente, tanto o tantra como o taoísmo têm um ramo alquímico. Como veremos, isso harmoniza-se com a verdadeira natureza da alquimia ocidental.

Por exemplo, no tantrismo, a terminologia «química» é interpretada como representação de práticas sexuais. Como afirma Benjamin Walker, um escritor ocultista, em Man, Myth and Magic:

Embora ostensivamente (aparentemente) interessada na transmutação dos metais mais vis em ouro, nas retortas, instrumentos e aparelhos da atividade, e nos gestos rituais do alquimista, na sua sala de trabalho, esta alquimia ocorre, de fato, no interior do próprio corpo humano.

Ironicamente, os elementos sexuais da alquimia ocidental têm sido interpretados como metáfora dos processos químicos! Como comenta Brian Innes, no seu artigo de The Unexplained, acerca da alquimia sexual tântrica e taoísta:


A estreita semelhança das imagens – e das substâncias utilizadas – da alquimia de todas estas culturas é surpreendente. A grande diferença é igualmente surpreendente: a alquimia medieval europeia não parece ter tido qualquer base sexual explícita.


Existia, no entanto, uma grande diferença entre as imagens públicas e os níveis de aceitabilidade do Oriente e do Ocidente. Na China e na índia, a alquimia não era uma ciência proibida, e as atitudes em relação ao sexo não eram tão neuróticas e reprimidas como eram na Europa; por conseguinte, o trabalho era mais aberto e honesto.

Recentemente, a «sexualidade sagrada» foi «descoberta» pelo Ocidente. Essencialmente, é a ideia de que a sexualidade é o sacramento mais nobre, conferindo não só júbilo mas também a unidade com o Divino e o Universo. O sexo é considerado (uma, entre muitas) a ponte entre o Céu e a Terra, provocando a libertação de enorme energia criativa, além de revitalizar os amantes de forma única – mesmo ao seu nível celular.

O conhecimento da sexualidade sagrada significa que os velhos textos alquímicos podem, finalmente, ser inteiramente compreendidos no Ocidente, embora (como habitualmente) sejam os investigadores franceses que estejam mais empenhados na exploração deste seu aspecto. Dos poucos escritores anglo-saxônicos que não se mantêm afastados do tema, A. T. Mann e Jane Lyle escreveram no seu livro Sacred Sexuality (1995):

É difícil duvidar que os ensinamentos alquímicos escondam segredos sexuais mágicos, que estavam estreitamente aliados ao conhecimento tântrico. Devido à sua complexidade e diversidade, a alquimia certamente envolveu outros mistérios em alegoria poética, a qual apenas, a mente e o CONHECIMENTO dos iniciados conseguia decifrar.


Um dos muitos autores franceses que escrevem sobre este tema, André Nataf, afirma que «[…] o segredo que a maioria dos alquimistas perseguia era um segredo erótico […] a alquimia é simplesmente a conquista do amor, uma “liga” de erótico e espiritual». Há muito que o tantrismo e o taoísmo são reconhecidos como as condutas da sexualidade sagrada da tradição oriental, mas não existiu uma tradição tão bem definida e facilmente detectável no Ocidente – a não ser que fosse conhecida simplesmente por alquimia.

As imagens sexuais dos textos alquímicos parecem demasiado banais a esta era pós- freudiana: a Lua diz ao seu esposo, o Sol: «Oh, Sol, não fazes nada sozinho, se eu não estiver presente com a minha força, tal como um galo nada pode fazer sem uma galinha.» As experiências químicas revestem a forma de «casamentos» ou «cópulas», tal como foi denominado o panfleto The Chemical Wedding de Johann Valentin Andraea.

Certamente que estas imagens podiam ser simplesmente literais: sendo exatamente uma «cópula» e não havendo nenhum segredo oculto no simbolismo alquímico. Contudo, as palavras eram cuidadosamente escolhidas para transmitir instruções complexas, abrangendo um significado tanto sexual como químico. Essencialmente, os textos alquímicos continham lições de magia sexual e de química, simultaneamente.

Curiosamente, dado o óbvio tom sexual de grande parte da atividade, a ideia-padrão histórica da alquimia era a de uma atividade apenas química e que todo o simbolismo era apenas fantasia. Isto deve-se ao fato de não existir nenhuma organização onde enquadrar toda a ideia da alquimia sexual, antes de os mistérios do Oriente serem mais largamente divulgados. Atualmente, no entanto, não temos esse problema, e este conceito está rapidamente a conquistar aceitação. Barbara Graal Waiker capta o significado subjacente da alquimia:

Parte do segredo é revelado pela preponderância do simbolismo sexual da literatura alquímica. A «cópula de Atena e Hermes» podia significar misturar enxofre [sic] e mercúrio numa retorta; ou podia significar a «atividade» sexual do alquimista e da sua namorada. As ilustrações dos livros alquímicos sugerem, com maior frequência, misticismo sexual. Mercúrio, ou Hermes, era o herói alquímico que fertilizava o Vaso Sagrado, uma esfera ou ovo, em forma de ventre, do qual nasceria o filium philosophorum. Este vaso pode ter sido real, um frasco ou uma retorta de laboratório; com maior frequência, parecia ser um símbolo místico. Dizia-se que o Diadema Real desta descendência aparecia no menstro meretricis, «no fluxo menstrual de uma prostituta», a Grande Prostituta sendo um antigo epíteto da deusa [… o poder feminino]».


Walker, no entanto, engana-se quando passa a sugerir que, na busca do vaso hermeticum – o Vaso de Hermes -, os alquimistas o identificavam com o vaso spirituale, o Vaso ou Ventre Espiritual, da Virgem Maria. Porque, qual é a outra Maria que, habitualmente, é representada levando um vaso ou um jarro? Tradicionalmente, quem é representada envergando um vestido escarlate ou envolta no seu longo cabelo ruivo? Que outra Maria está associada à ideia de prostituição e sexualidade? Mais uma vez, encontramos a Virgem Maria como disfarce do culto secreto de Maria Madalena.

Atualmente, falamos de «química sexual», mas para os alquimistas este conceito tinha um significado muito mais profundo do que a mera ideia de atração sexual imediata. Na revista esotérica francesa L’Originel, Denis Labouré, uma autoridade em ocultismo, discute a noção de alquimia «interna» em oposição à alquimia «metálica» e o seu paralelismo com o tantrismo, mas insiste em que ela faz parte de uma «herança tradicional ocidental» (o itálico é nosso) e afirma:

Se a alquimia interna é bem conhecida do tantrismo ou do hinduísmo, os constrangimentos históricos [isto é, a Igreja] obrigaram os autores ocidentais a usar da maior prudência. No entanto, certos textos fazem claras alusões a esta alquimia.

Labouré passa a citar um tratado de Cesar della Riviera, datado de 1605, e acrescenta:

Na Europa, os rastos destes antigos ritos [sexuais] passam pelas escolas gnósticas, pelas correntes alquímicas e cabalísticas da Idade Média e da Renascença – quando numerosos textos alquímicos podiam ser lidos em dois níveis – até que os voltamos a encontrar nas organizações ocultistas, formadas e organizadas, sobretudo na Alemanha, no século XVII.

De fato, o uso do simbolismo «metalúrgico» remonta ao próprio começo da alquimia, na Alexandria do 1.°-3.° século. Metáforas metalúrgicas sobre sexo encontram-se nos encantamentos mágicos e egípcios; os alquimistas limitaram-se a adotar as imagens. Este é um exemplo de um encantamento amoroso, atribuído a Hermes um Trismegisto, que remonta, no mínimo, ao 1.° século a.C. e que se centra no forjamento simbólico de uma espada:

Tragam-ma [a espada], temperada com o sangue de Osíris, e coloquem-na na mão de ÍSIS […] que tudo o que se forja nesta fornalha de fogo seja instilado no coração e fígado, nos rins e ventre de [o nome da mulher]. Conduzi-a à casa de [o nome do homem] e que ela ponha na mão dele o que está na mão dela, na boca dele o que está na boca dela, no corpo dele o que está no corpo dela, no seu bastão o que está no ventre dela.

A alquimia, tal como era praticada pela rede secreta medieval, nasceu no Egito dos primeiros séculos da era cristã. ÍSIS desempenhava um papel importante na alquimia daquela época. Num tratado intitulado ÍSIS, a Profetisa de seu filho Hórus, ÍSIS relata como obteve «de um anjo e profeta» os segredos da alquimia, através dos seus ardis femininos. Encorajou-o a alimentar o seu desejo por ela, até não poder ser contido, mas recusou entregar-se-lhe antes que ele lhe revelasse os seus segredos – uma clara referência à natureza sexual da iniciação alquímica. (Evoca a história do papa Silvestre II e Meridiana, discutida no Quarto Capítulo, em que ele obtém o seu conhecimento alquímico através do ato sexual com este arquétipo de figura feminina.)

Outro tratado primitivo, atribuído a uma alquimista, de nome Cleópatra – uma iniciada da escola fundada pela lendária Maria, a Judia -, contém imagens sexuais explícitas: «Compreender a realização da arte na união da noiva e do noivo e na sua transformação num único SER.» É notavelmente semelhante a um texto gnóstico contemporâneo, que regista o seguinte:

Quando o homem atinge o momento supremo e a semente brota, nesse momento a mulher recebe a força do homem, e o homem recebe a força da mulher […] É por este motivo que o mistério da união corporal é praticado em segredo, para que a conjunção da natureza não seja degradada por ter sido observada pela multidão que desprezaria a prática.

Os primitivos textos alquímicos estão saturados de simbolismo que sugere as técnicas secretas da sexualidade sagrada, provavelmente provenientes do equivalente egípcio do tantrismo e do taoísmo. A existência desta tradição é revelada no texto conhecido por Papiro Erótico de Turim (onde ele agora se encontra), o qual há muito é considerado um exemplo da pornografia egípcia. Novamente, no entanto, esta reação é um exemplo primordial da má interpretação “acadêmica e erudita” do Ocidente: o que é considerado pornográfico era, de fato, um rito religioso. Alguns dos mais sagrados ritos egípcios eram de natureza sexual – por exemplo, uma observância religiosa diária do faraó e da sua consorte implicava, provavelmente, que ele fosse masturbado por ela.

Este ritual era a reencenação simbólica da criação do Universo pelo deus Ptáh, a qual ele realizara por processos semelhantes. As imagens religiosas dos palácios e dos templos representavam, de forma inequívoca, este ato; no entanto, ele foi considerado tão ultrajante pelos arqueólogos e pelos historiadores que apenas recentemente o seu significado foi reconhecido – e, mesmo assim, o tema ainda é discutido em tons hesitantes e apologéticos. É evidente que o Ocidente tem um longo caminho a percorrer até alcançar a total aceitação egípcia do sexo como um sacramento (sagrado).

Esta relutância em aceitar o significado que o sexo tinha para os antigos não é um fenômeno novo. Para os eruditos do 1.º e 2.° séculos, o tema não era um problema, mas, como observa Jack Lindsay, no século VII, o simbolismo sexual das obras alquímicas é tratado de um «modo secretamente alusivo». Assim, desde o início, a alquimia ocidental tem uma faceta fortemente sexual. Devemos acreditar que, na Idade Média, esta profunda e influente tradição se extinguira totalmente?

Algumas das primeiras seitas gnósticas – como os carpocratianos de Alexandria – praticavam ritos sexuais. Não é surpreendente que fossem declarados degradantes e repugnantes pelos padres da Igreja, e, na falta de registros menos hostis, não há maneira de saber exatamente de que forma esses ritos se revestiam.

Ao longo da história da Cristandade, surgiram seitas «heréticas» que incorporavam uma atitude mais libertária relativamente ao sexo, mas foram invariavelmente condenadas e eliminadas – por exemplo, dizia-se que os irmãos e irmãs do Egito Livre, também conhecidos por adamitas, praticavam um «segredo sexual» que remontava aos séculos XIII e XIV. A filosofia dos adamitas teve uma notável influência no panfleto Schwester Katrai – que, como vimos, inclui provas de familiaridade com o retrato de Maria Madalena esboçado pelos Evangelhos gnósticos -, e a autora parece ter sido membro desta seita.

Outro grupo implicado no misticismo erótico – embora não conhecido como seita religiosa – era o dos trovadores, os famosos cantores do culto do amor do sudoeste da França (região que cultuava Madalena) cujos equivalentes alemães eram os minnesingers – sendo Minne uma mulher idealizada ou deusa. O amor do cavaleiro pela sua dama reflete uma devoção e uma reverência pelo Princípio Feminino. E o conteúdo dos poemas – um misto de «espiritualidade e carnalidade» – pode ser considerado uma série de alusões veladas à sexualidade sagrada. Mesmo a acadêmica Barbara Newman, ao resumir esta tradição, não pôde fugir a usar uma linguagem evocativa da sexualidade sagrada:

[…] um jogo erótico, com uma espantosa variedade de mudanças: o poeta podia transformar-se na noiva de um deus ou no amante de uma deusa ou fundir-se totalmente com a amada e tomar-se divino […].
Grande parte da tradição do amor cortês implica a compreensão de técnicas específicas, por exemplo, a da maithuna, a retenção deliberada do orgasmo, para induzir sensações de beatitude e conhecimento místico. Como afirma Peter Redgrove, autor e poeta britânico:

É possível reconstituir toda uma tradição de maithuna (sexualidade visionária tântrica) na literatura do conto medieval de cavalaria?

Os trovadores adotaram a rosa como símbolo, talvez porque o seu nome (em francês e em inglês, rose) é um anagrama de Eros, o deus do amor erótico. Também existe a possibilidade de que a sua «onipresente» senhora – aquela que devia ser obedecida, embora a casta distância – se destinasse a ter outro significado, a nível esotérico, como sugere o nome alemão de minnesinger.

O arquétipo desta senhora não podia ter sido a Virgem Maria porque, embora a rosa fosse conhecida como seu símbolo, na Idade Média, o seu culto não precisava de se ocultar em códigos. Além disso, a flor mais descritiva das suas qualidades não era a rosa erótica, mas o mais sugestivo lírio do Oriente: belo, mas austero, sem nenhuma sugestão de carnalidade. Então, quem mais podiam celebrar as canções dos trovadores? Quem mais era uma «deusa», muito amada pelos grupos heréticos dessa época? Quem mais senão Maria Madalena?

As grandes rosáceas das catedrais góticas estão sempre voltadas para Ocidente (leste,o nascer do SOL) – tradicionalmente, a direção consagrada às divindades femininas – e nunca estão longe de um santuário da Madonna (minha senhora) Negra. E, como vimos, estas enigmáticas estátuas são deusas pagãs, sob outra roupagem, uma personificação da antiga celebração da sexualidade feminina.

Além das rosáceas sagradas, as catedrais góticas também contêm outras imagens pagãs – por exemplo, o simbolismo da teia de aranha/labirinto de Chartres e de outras catedrais é uma referência direta à Grande Deusa, na sua manifestação de fiandeira e senhora do destino da humanidade, mas muitas outras igrejas também contêm inúmeras imagens femininas. Algumas delas são tão vivas que, uma vez interpretadas, podem alterar a impressão que os cristãos têm das suas igrejas. Por exemplo, as grandes portas góticas, que gerações de cristãos atravessaram tão inocentemente, representam, na realidade, a parte mais íntima da deusa.

Atraindo o crente as seu interior escuro e semelhante a um ventre, as portas são esculpidas em arestas afuniladas e quase sempre ostentam um botão de rosa, semelhante a um clítoris, no topo do arco. Uma vez no interior, o crente católico pára junto a uma pia da água benta, quase sempre representada por uma concha gigantesca, símbolo da natividade da deusa – como Botticelli, suposto grão-mestre do Priorado de Sião, imediatamente antes de Leonardo, tão espantosamente a representou em O Nascimento de Vênus. (E a concha de caurim, outrora símbolo dos peregrinos cristãos, é reconhecida como sendo o símbolo clássico da vulva.).

Todos estes símbolos foram deliberadamente empreguados pelos adeptos do Princípio Feminino, e, embora comuniquem algo a nível subliminar, têm um efeito perturbador sobre o inconsciente. Aliados à grande sonoridade da música, à luz das velas e ao aroma do incenso, não admira que, outrora, a ida à igreja inspirasse um fervor tão peculiar!

Para os iniciados nos mistérios do oculto, o Feminino era um conceito carnal, místico e espiritual simultaneamente. A sua energia e poder provinham da sua sexualidade, e a sua sabedoria (Sophia) – por vezes conhecida por «sabedoria da prostituta» – provinha de um conhecimento da «rosa», eros.

Segundo o ditado, «saber é poder», segredos desta natureza exercem um poder sem igual, constituindo, por isso, uma ameaça única à existência da Igreja de Roma e a todos os matizes de opinião católica. O sexo era – e, em muitos casos, ainda é – considerado aceitável apenas entre aqueles cuja união tinha probabilidades de resultar em procriação. Por esta razão, não existe conceito cristão de sexo apenas por prazer, para não referir a ideia – como no tantrismo ou na alquimia – de que ele possa proporcionar iluminação espiritual. (E, enquanto a Igreja Católica notoriamente proíbe a contracepção, outros grupos vão mais longe: por exemplo, os mórmons reprovam o sexo após a menopausa.)

O que todas estas regras inibitórias realmente pretendem, no entanto, é o controle das mulheres (do poder feminino e assim da humanidade). Elas devem aprender a encarar o sexo com apreensão – ou porque é triste, é seu dever conjugal e nada mais, ou porque conduz, inevitavelmente, às dores do parto. Esta ideia era central no modo como as mulheres eram encaradas pela igreja, e pelos homens, em geral, ao longo dos séculos: se as mulheres perdessem o receio do parto, sem dúvida que o caos se instalaria.

Um dos principais motivos que inspirou as atrocidades da caça às bruxas foi o ódio e o medo das parteiras, cujo conhecimento do modo de aliviar as dores do parto era considerado uma ameaça para a civilização “decente”: Kramer e Sprenger, autores do infame Malleus Maleficarum – o manual dos caçadores de bruxas europeus – escolheram particularmente as parteiras como sendo merecedoras do pior tratamento possível às suas mãos. O terror da sexualidade feminina terminou com centenas de milhares de mortos, a maioria das vítimas sendo de mulheres, ao longo de três séculos de julgamentos de feitiçaria, efetuados pela “santa igreja de Roma”.

Desde a época misógina dos primeiros padres da Igreja, quando ainda se duvidava de que as mulheres tivessem alma, tudo foi feito para as fazer sentirem-se profundamente inferiores, em todos os níveis. Não lhes ensinavam apenas que eram pecaminosas, em si mesmas, mas que também eram a maior – por vezes, a única – causa de pecado do homem. Aos homens era ensinado que, ao sentirem genuíno desejo sexual, estavam apenas reagindo às artimanhas diabólicas da mulher, que os enfeitiçava e os atraía para atos que, de outro modo, eles nunca teriam considerado praticar.

Uma expressão extrema desta atitude encontra-se na ideia da Igreja medieval de que uma mulher violada era responsável não só por provocar o ato contra si mesma mas também pela perda da alma do violador – perda que a mulher teria de reparar no Dia do Juízo Final. Como escreve R. E. I. Masters:

Quase toda a culpa do horrível pesadelo que foi a mania das bruxas, e a maior parte da responsabilidade pelo envenenamento da vida sexual do Ocidente, cabe inteiramente à Igreja Católica romana.

A Inquisição – que fora criada para resolver o problema dos cátaros – adaptou-se facilmente ao seu novo papel de caçadora de bruxas, torturadora e assassina, embora os protestantes também aderissem com prazer a essa prática. É significativo que o primeiro julgamento por feitiçaria se realizasse em Toulouse, quartel-general da Inquisição anti-cátaros. Foi apenas rancor por algum tipo de catarismo residual que conduziu a este julgamento crucial, ou foi um sintoma do medo que as mulheres do Languedoc provocavam aos Inquisidores, obcecados pelo sexo?

Subjacente ao ódio e ao medo das mulheres, estava o conhecimento de que elas tinham uma capacidade única para sentir prazer sexual. Os homens medievais podiam não ter se beneficiado da atual educação anatômica, mas a investigação pessoal não podia ter deixado de revelar a existência do órgão feminino do prazer, curiosamente ameaçador, o clítoris. Essa pequena protuberância, tão inteligentemente – embora subliminarmente – celebrada como o botão de rosa, no topo dos arcos góticos das igrejas, é o único órgão humano cuja função é unicamente dar prazer.

As implicações deste fato são, e sempre foram, enormes e estão no âmago de toda a supressão patriarcal, por um lado, e de todos os ritos sexuais tântricos e místicos, por outro. O clítoris, que ainda hoje não é considerado um tema adequado a discussão, revela que as mulheres se destinavam a ser sexualmente extáticas, talvez ao contrário dos homens, cujo órgão sexual tem a dupla função de urinário e reprodutor.

Contudo, a tradição misógina do patriarcado judaico-cristão teve tanto sucesso que apenas no século XX se tornou aceitável, no Ocidente, a ideia de que as mulheres têm prazer sexual, e, ainda hoje, não é este o caso no que diz respeito à Igreja. Embora seja verdade que a desigualdade sexual e a hipocrisia não sejam criações exclusivas das três grandes religiões patriarcais, catolicismo, judaísmo e islamismo – basta observar o costume indiano de queimar a esposa -, no entanto, a ideia de que o sexo é inerentemente sujo e vergonhoso é uma tradição meramente ocidental. E, em qualquer parte que esta atitude prevaleça, haverá sempre o tipo de desejo reprimido e de culpa que, inevitavelmente, darão origem a crimes contra as mulheres, talvez mesmo a manias de feitiçaria.

O ambiente puritano do Ocidente e o seu ódio e medo do sexo deixaram um terrível legado até ao fim do milênio, sob a forma de espancamento da esposa, pedofilia e violação. Porque, onde quer que o sexo seja olhado com desconfiança, o parto e as crianças também serão considerados intrinsecamente condenáveis, e os filhos serão vítimas de violência, tal como as mães. O contraditório e irascível Jeová do Antigo Testamento criou Eva – e, manifestamente, teve ocasião de se arrepender.

Quase logo que «nasceu», ela revelou uma capacidade para pensar por si própria que ultrapassava muito a de Adão. Eva e a «serpente» formaram uma equipe poderosa: o que não é de admirar porque as serpentes eram o antigo símbolo de Sophia, representando a sabedoria (conhecimento em oposição à ignorância) e não a maldade. Mas ficou Deus Jeová satisfeito porque a mulher que criara, mostrou iniciativa e autonomia ao comer da Árvore do Conhecimento – querendo aprender?

Depois de ter revelado uma curiosa (e estúpida) falta de previsão, relativamente às capacidades de Eva, especialmente para um “onipotente e onisciente” criador de universos, Deus condenou-a a uma vida de sofrimento, começando, deve observar-se, com a maldição da costura… (Porque ela e o infeliz Adão tiveram de fazer tangas de folhas de figueira para cobrir a sua nudez.) Assim, Adão e Eva conheceram a ideia de vergonha dos seus corpos e da sua sexualidade. Bizarramente, somos levados a concluir que foi próprio Deus que ficou horrorizado com a visão da carne nua, o próprio Jeová.

Este mito simplista serviu de justificação retrospectiva para a degradação das mulheres e desencorajou o alívio das agonias ginecológicas e do parto. Negou voz às mulheres durante milhares de anos – e aviltou, degradou e mesmo diabolizou o ato sexual, que deveria ser jubiloso e mágico, pois preserva a perpetuação da própria espécie humana. Se substituiu assim o amor e o êxtase criativo pela vergonha e pela culpa e inculcou um medo neurótico de um Deus masculino que, aparentemente, se odiou tanto que abominou a sua melhor criação – a própria Humanidade.

Desta história perniciosa nasceu o conceito do pecado original, que condena até os recém- nascidos inocentes ao Purgatório; até recentemente, envolveu o espantoso milagre do nascimento num manto de embaraço, ignorância e superstição e eliminou o poder único da mulher – que, evidentemente, foi a razão pela qual, em primeiro lugar, esta história foi inventada.

Embora, na nossa cultura, ainda exista um medo e uma ignorância espantosos em relação ao sexo, as coisas estão muito melhores do que estavam mesmo há dez anos atrás. Vários livros importantes abriram novas perspectivas – ou talvez renovassem antigas perspectivas. Entre eles encontram-se The Art of Sexual Ecstasy de Margo Anand (1990) e Sacred Sexuality de A. T. Mann e Jane Lyle (1995); ambos celebram o sexo como meio de iluminação e transformação espirituais.

Como vimos, outras culturas não sofrem do mesmo problema (a não ser que fossem contaminadas pelo pensamento ocidental). E, em certas culturas, o sexo era julgado superior a uma arte: era considerado um sacramento – algo que habilitava os participantes a identificarem-se com o Divino. É esta a raison d’être do tantrismo, o sistema místico de união com os deuses, através de técnicas sexuais como a Karezza ou a obtenção da felicidade, sem orgasmo. O tantrismo é a «arte marcial» da prática sexual, implicando uma preparação espantosamente disciplinada e demorada, tanto para homens como para mulheres – sendo ambos considerados iguais.

A arte do tantrismo, no entanto, não é exclusiva do mundo exótico do Oriente. Atualmente, surgem escolas de tantra em Londres, Paris e Nova Iorque, embora o extremo rigor da arte afaste muitas pessoas; por exemplo, são necessários meses somente para aprender a respirar de modo correto. Mas o uso do sexo, como sacramento, não é novo no Ocidente.

Fonte: Thot 3126.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Religiosidade Inclusiva

O Cristianismo começou como diversas vertentes, ele se consolidou como uma organização religiosa quase totalitária e depois se dividiu em três vertentes principais: Igreja Católica, Igreja Ortodoxa, Igreja Protestante. Dentro destas vertentes existem diversas ordens, irmandades, tendências. Com a chegada do século XXI, o Cristianismo está se reinventando para poder sobreviver.
Notadamente tem surgido dentre as igrejas cristãs o que foi chamado de Evangelho Inclusivo, igrejas cristãs tem flexionado dogmas antes imutáveis e fossilizados para atingir um público que antes se via excluído, quando não condenado e perseguido, pelas vertentes majoritárias. A Igreja Católica tem a Renovação Carismática e a Igreja Protestante tem o Cristianismo Progressista. Dentro dos moldes das igrejas neopentecostais, vertente da Igreja Protestante, tem surgido igrejas que pregam um Evangelho aberto para a comunidade LGBT.
Esse é um esforço complicado, considerando que o Cristianismo é uma religião de livro. Haverá um determinado ponto onde ou o Cristianismo deixa de ter suas características e se torna outra religião, ou simplesmente vai deixar de existir, ou então vai deixar de ter algum tipo de organização central, voltando a ser tão diversificado como era em seu aparecimento.
Isso será bom, tanto para o cristão, quanto para o mundo inteiro. Quando pastores cristãos deixarem de instilar o ódio, o preconceito e a intolerância e quando organizações medievais deixarem de fazer sentido ou de existir, a humanidade poderá continuar sua evolução. Com o tempo, isso vai afetar o Judaísmo e o Islamismo, se é que isto não está acontecendo.
Fora das religiões majoritárias, outras religiões, de origem oriental e as alternativas, tem uma diversidade que o mundo ocidental desconhece. Para o ocidental, o Hinduísmo é apenas uma religião, quando são múltiplas. O Islamismo tem vertentes tão diversas quanto o Cristianismo. O Judaísmo vai além do Ortodoxo, apresentando uma forma de religião israelita reconstruída, cujas características são similares das do Paganismo Moderno.
No ocidente, temos as ordens secretas, as ordens místicas e esotéricas e o Paganismo Moderno. Para os objetivos deste escritor e deste blog, eu vou focar no Paganismo Moderno, que surgiu e se desenvolveu durante a Era Moderna.
O Paganismo Moderno é um guarda-chuva com diversas formas de práticas, crenças, religiões e visões do divino. Pejorativamente acusado pelos seus críticos de ser fruto do Movimento Romântico do século XVIII e turbinado pela Contracultura, o Paganismo Moderno assimilou muitas ideias e ideais: feminismo, direitos civis, ambientalismo e a causa LGBT.
Sable Aradia descreveu, com certo humor, sobre a maldição da gentileza pagã:
“A maldição da gentileza pagã pode levar-nos a se tornar um paraíso para abusadores. Tentamos ser tão inclusivos e esse ‘viva e deixe viver’ sobre as coisas, que podemos fornecer um excelente espaço para um predador ou dar um mero empurrão para fugirem desenfreadamente de nós. A Maldição da Gentileza Pagã erroneamente sugere que devemos aturar pessoas sem ética, insistentes e rudes, quando de outra forma não deveria ser tolerado o seu comportamento.”
Em meus nove anos dentro do Paganismo Moderno eu tive experiências e conheci pessoas que mostraram que o Paganismo Moderno não é tão tolerante e inclusivo quanto apregoa. Muitos grupos, covens e tradições flexionam tanto suas práticas que em algum ponto vão perder seus valores e princípios que os caracterizam como parte de uma tradição. Muitos grupos, covens e tradições por manterem seus princípios e valores correm o risco de serem duramente criticados se não são mais “inclusivos”. Muitos grupos, covens e tradições arriscam a si mesmos e a todos nós se apregoam publicamente práticas e crenças que extrapolam o provincianismo e o puritanismo que ainda vigora na sociedade ocidental.
Considerando que o Paganismo Moderno é composto de diversas tradições e que, como tais, prezem pela preservação da tradição, até que ponto e o que se pode “incluir” é tanto um paradoxo quanto um dilema.
O Paganismo Moderno mais parece um circo de aberrações. Quando pagãos, bruxos e wiccanos reúnem-se em um congresso, feira ou celebração pública, para o público geral nós parecemos egressos de algum cosplay. A Wicca, que carrega a mancha de ser uma Bruxaria caiada, está cada vez mais diluída e alvejada para satisfazer os gostos do público. Certos temas e práticas da Bruxaria são evitados e até mesmo proibidos em fóruns, grupos e redes sociais que dizem pertencer à Bruxaria. Eu mesmo carrego a péssima reputação por defender aquilo que eu acredito, pratico e sustento com conhecimento acadêmico.
Então caro dileto e eventual leitor, antes de entrar no Caminho dos Bosques Sagrados saiba que você tem que se adequar ao Caminho e não o inverso. Os caminhos, práticas e crenças, tanto as espirituais quanto as e religiosas, não são Roma, não irão acabar no mesmo lugar. Você não precisa de autorização, validação, aceitação ou reconhecimento para seguir seu caminho, sua prática e sua crença. Seja como você perceba, sinta e experimente o divino, siga sua benção. Tudo que você precisa está em você mesmo, em seus ancestrais e nos Deuses.