A Grécia Antiga é considerada o berço da civilização
ocidental. Estudando suas origens, Grécia Antiga foi formada a partir da
miscigenação dos povos Jônios, Dórios, Aqueus e Eólios com os Pelasgos, povo
nativo. Os Dórios vieram pelo norte, vindo da região do Épiro, Macedônia e
Trácia. Os Jônios, Aqueus e Eólios vieram pelo leste, vindos da península de
Anatólia. Atribui-se a estes povos como sendo de origem Indo-Européia, tendo o
patriarca mítico Heleno em comum.
Em diversos pontos, tanto históricos, etnográficos, quanto
míticos, a origem da Grécia Antiga, da Europa, bem como da dita “civilização
ocidental” passa por povos e culturas da Ásia Menor e Oriente Médio. Europa era
da Fenícia, Atena era da Líbia, Hecate era de Cária, Ártemis era da Frígia.
Pouco se sabe dos povos Pelasgos, povos nativos que
habitavam o que seria a Grécia, mas são atribuídos a eles a formação da
civilização Minoica. No entanto, traços de sua cultura e religião foram
encontrados na Samotrácia, cujos mistérios tem elementos em comum com as demais
escolas de mistérios.
No Wikipédia, eu encontrei um artigo que conta um pouco
sobre esses mistérios:
Santuário dos grandes deuses de Samotrácia é um dos
principais santuários pan-helênicos, situado na ilha de Samotrácia, na costa da
Trácia. Construído imediatamente a oeste das fortificações da cidade de
Samotrácia, não dependia dela, como demostram o envio de embaixadores da cidade
ao santuário por ocasião de festas. O santuário era celebre em todo o mundo
grego pelo culto de mistérios que ali se praticava. Mistérios cabíricos, que
não era menos renomado que o de Elêusis e do que o nome dos homens que foram
ali iniciados: o historiador Heródoto, um dos raros autores a ter dado
informações sobre a natureza dos mistérios; o rei de Esparta, Lisandro, e
numerosos atenienses, o culto é mencionado por Platão e Aristófanes.
Um período de espetacular desenvolvimento ocorreu durante o
período helenista, quando se tornou, no reinado de Felipe II, um tipo de
santuário nacional da Macedônia, onde sucessores de Alexandre o grande
rivalizavam em munificiência.
Era um importante lugar de culto ainda na época do Império
Romano, o próprio imperador Adriano o visitou e o escritor Marco Terêncio
Varrão descreveu uma parte dos mistérios, antes deles se desfazerem ao fim da
antiguidade tardia.
Culto dos grandes deuses
A identidade e natureza das deidades veneradas no santuário
permanecem enigmáticas, principalmente porque era tabu pronunciar seus nomes.
Fontes literárias da antiguidade referem-se a eles com o nome coletivo de
Cabiros, enquanto nas inscrições locais eram referidos simplesmente como deuses
ou grandes deuses.
O panteão de Samotrácia
O panteão dos grandes deuses consiste de numerosas deidades
ctônicas, na maioria anteriores à chegada dos colonos gregos, no século VII
A.C., reagrupados ao redor da figura central da Grande Mãe.
A Grande Mãe, deusa frequentemente registrada em moedas de
Samotrácia como uma mulher sentada, com um leão ao seu lado. Seu nome secreto
original era Axiéros. Associada com a Grande Mãe da Anatólia, com Cibele, a
deusa da Frígia, e com a deusa mãe de Troia do monte Ida. Os gregos associaram
suas qualidades à deusa da fertilidade Deméter. A Grande Mãe é a toda-poderosa
senhora do mundo selvagem das montanhas, venerada sobre as rochas sagradas onde
eram oferecidos sacrifícios. Dentro do santuário de Samotrácia, seus altares
correspondem a porfírias, afloramentos rochosos de várias cores (vermelho,
verde, azul ou cinza). Para seus fiéis, seu poder também se manifestava em
veios de ferritas magnéticas, de que faziam anéis que usavam como forma de
identificação. Alguns exemplares foram encontrados no cemitério vizinho ao
santuário.
Em Samotrácia se veneravam também Hecate, com o nome de
Zeríntia, e Afrodite-Zeríntia, duas importantes divindades, com igual devoção.
Ali esse culto se distanciou do da Grande Mãe e se identificou mais com
divindades mais familiares aos gregos.
Cadmilo, o esposo de Axieros, é um deus da fertilidade
identificado pelos gregos com Hermes, uma divindade cujos símbolos eram uma
cabeça de carneiro e um bastão (kerykeion), um evidente símbolo fálico, e que
pode ser encontrado com alguma frequência.
Duas outras deidades masculinas acompanham Cadmilo. Eles
correspondem aos dois legendários heróis que fundaram os mistérios de
Samotrácia, os irmãos Dardanos e Éetion. Eles eram associados aos Dióscuros,
dois populares gêmeos protetores dos marinheiros em perigo.
Um par de divindades do submundo, Axiokersos e Axiokersa,
eram identificados com Hades e Perséfone, mas não parecia fazer parte do grupo
original de deidades pré-helênicas. A lenda, familiar aos gregos, do rapto da
deusa da fertilidade pelo deus do subsolo também era parte dos dramas sacros
celebrados em Samotrácia, embora menos que em Elêusis.
Durante um período tardio, este mesmo mito foi associado com
o casamento de Cadmo e Harmonia, possivelmente pela semelhança com os nomes de
Cadmilo e Electra.
Os ritos
O espaço do santuário era aberto a todos que desejassem
cultuar os deuses, embora as edificações consagradas aos mistérios era
reservada somente aos iniciados. Os ritos mais comuns não se distinguiam
daqueles praticados nos outros santuários gregos: preces e súplicas
acompanhadas de sangrentos sacrifícios de animais domésticos (carneiros e
porcos), queimados em holocausto no fogo sagrado, assim como libações feitas às
divindades ctônicas nos tanques rituais de forma circular ou retangular, os
botros (bothroi), eram utilizados numerosos altares de pedra, o maior coberto,
no fim do século IV A.C. por uma cobertura monumental .
O grande festival anual, para o qual vinha gente de toda
Grécia, provavelmente ocorria no meio de julho. Consistia na representação de
uma peça sagrada, mostrando o casamento ritual (hiero gamos). Ele ocorria no
edifício com o friso das bailarinas, construída no século IV A.C.. Nesta era se
acreditava que a procura da virgem desaparecida e seu casamento com o deus do
submundo representava o casamento de Cadmo e Harmonia. O friso que dá nome ao
recinto pode ser uma alusão a esse casamento.
Por volta de 200 A.C., uma competição dionisíaca foi
adicionada ao festival, facilitada pela construção de um teatro oposto ao
grande altar. De acordo com mitos locais, foi nessa época que a cidade de
Samotrácia honrou o poeta Iasos em Cária por ter composto a tragédia Dardanos e
ter feito outros sobre a ilha, a cidade e o santuário.
Numerosas ofertas votivas eram feitas ao santuário, e eram
guardadas num edifício próprio, próximo ao grande altar. As oferendas podiam
ser estátuas de bronze, mármore ou argila, armas, vasos, etc. Outrossim, como
Samotrácia era local de frequentadas rotas marítimas, o culto das Cabíriasera
muito popular, e numerosas ofertas votivas , embora muito modestas não menos
intensas, lhes eram destinadas: conchas e anzóis foram encontrados em
escavações, ofertas de marinheiros e pescadores pela proteção contra os perigos
do mar.
A iniciação
A característica única do culto de mistérios em Samotrácia
era sua abertura, em comparação com Elêusis, a iniciação não tinha
pré-requisitos de idade, género, posição ou nacionalidade. Todos, homens,
mulheres, adultos e crianças, gregos ou não, o livre, o liberto ou o escravo podiam
participar. A iniciação não era limitada a uma data precisa, e podia-se ser
iniciado nos dois graus sucessivos dos mistérios no mesmo dia, a única condição
era de fato estar presente no santuário.
A primeira etapa da iniciação era a myésis, o mystes, quer
dizer o iniciado, recebia a revelação de um relato sagrado e símbolos sagrados
lhe são mostrados. No caso de Heródoto, a revelação mostrou a interpretação dos
símbolos itifálicos de Hermes - Cadmilo. segundo Varrone, o símbolo revelados
nesta ocasião representavam o céu e a terra. Como resultado dessa revelação,
que devia permanecer secreta, o iniciado tinha assegurado alguns privilégios,
como a esperança de uma vida melhor, proteção no mar, e a promessa, como em
Elêusis de um pós-morte mais feliz. Durante a cerimonia, o iniciado recebia uma
faixa de pano vermelha, amarrada na cintura que se supõe ser um talismã
protetor. Um anel de ferro exposto ao divino poder de pedras magnéticas era
provavelmente outro símbolo de proteção entregue durante a iniciação.
A preparação para a iniciação ocorria numa pequena construção
ao sul do Anaktoron , um tipo de sacristia onde o iniciado era vestido de
branco e recebia uma lâmpada. A myésis então ocorria no Anaktoron, literalmente
Casa dos senhores, grande salão capaz de acomodar numerosos fiéis já iniciados,
que podiam assistir a cerimonia sentados em bancos ao longo das paredes. O
candidato à iniciação praticava uma lavagem ritual em tanque situado no canto
sudeste e então fazia uma libação aos deuses em um fosso circular. Ao fim da
cerimonia, ele tomava seu lugar sentado numa plataforma de madeira circular em
frente à porta principal enquanto danças rituais ocorriam ao seu redor. Eram
então levados ao salão norte, o santuário onde recebia a revelação propriamente
dita. O acesso a esse santuário era interdito a todas as pessoas não iniciadas.
Recebia um documento atestando sua iniciação nos mistérios e podia, ao menos no
período final, pagar para ter seu nome gravado em uma placa comemorativa.
O segundo grau da iniciação era chamado épopteia,
literalmente a contemplação. Em vez de um ano de intervalo entre os graus, como
exigido em Eleusis, o segundo grau, não obrigatório, em Samotrácia podia ser
obtido imediatamente após a myésis. A despeito disso, era realizado por um
pequeno número de iniciados, que nos leva a crer que envolvia outras condições,
embora não fossem nem financeiras nem sociais. Lehman assegura que envolvia
condições morais, quando o candidato era interrogado e devia confessar seus
pecados. Esta audiência ocorria à noite em frente ao Hierão. Escavações
revelaram a base do que devia ser uma tocha gigante. De um modo geral, a
descoberta de numerosas lâmpadas e tochas naquele lugar demonstra a natureza noturna
dos ritos principais. Depois do interrogatório e eventual absolvição
certificada pelo sacerdote ou oficiante, o candidato era trazido ao Hierão, que
também funcionava como épopteion, ou lugar de contemplação, onde ocorria um
ritual de purificação e sacrifícios eram feitos num espaço sagrado , localizado
no centro do recinto. Era conduzido aos fundos do prédio, que tinha a forma de
uma gruta. O hierofante, também conhecido como iniciador, tomava seu lugar numa
plataforma na abside onde recitava a liturgia e expunha os símbolos dos
mistérios.
Durante a era romana, cerca do ano 200, a entrada do Hierão
foi modificada para permitir a entrada de vitimas para serem sacrificadas. Um
parapeito foi construído para proteger os espectadores e uma cripta foi posta
dentro da abside. Essa modificação permitiu a celebração do Kriobolia e do
Taurobolia do culto anatoliano da Grande Mãe, agora introduzidos na epoptéia.
Os novos ritos faziam o iniciado, ou somente o sacerdote em seu nome, descer
por uma fossa onde o sangue dos animais sacrificados era vertido sobre ele,
selando um rito de natureza batismal.
A organização do santuário
A planta do santuário de Samotrácia pode parecer confusa a
primeira vista, isso é resultado da topografia muito particular do local, assim
como da sucessão de diferentes etapas de construção repartidas por dois
séculos. O santuário ocupa, na face ocidental do monte Hagios Georgios, três
terraços estreitos, separados por dois canais de água. A entrada é pelo lado
leste através do propileu (propylaeum) de Ptolomeu II, conhecido como
Ptolémaion que protege o lado ocidental e funciona como ponte. Imediatamente a
oeste, no primeiro terraço, uma depressão cercada de degraus circulares, com um
altar no centro, devia servir de área de sacrifícios, embora não se possa saber
com precisão sua função. Um caminho tortuoso descia pelo terraço principal onde
se encontravam os principais monumentos do culto. Um grande tolo, o Arsinoéion,
ou como é chamada, a rotunda de Arsinoé , a maior sala circular coberta do
mundo grego (20 metros de diâmetro ), servia para acolher os theóres, os
embaixadores sacros delegados pelas cidades ou associações às grandes festas do
santuário. A decoração com rosetas e bucrânios (cabeças de boi ornadas com
guirlandas) faz pensar que sacrifícios podiam também acontecer. A rotunda foi
construída sobre uma base mais antiga ainda, mesmo que dela só sobreviveram as
fundações. A direita do pátio aberto a direita do santuário, acha-se o maior
edifício, O Prédio do friso das bailarinas, as vezes chamado Têmenos, local que
corresponde a uma área fechada monumental muito mais antiga. A reconstituição
de sua planta varia consideravelmente, segundo o autor. É em essência um salão
precedido por um propileu jônico, decorado com o bem conhecido friso das
bailarinas é atribuído ao celebrado arquiteto Escopas.
O edifício mais importante para o culto, o epoptéion, está
localizado ao sul do Têmenos. Ele ostenta o nome de Hierão. Não se sabe quem
dedicou este edifício, mas dada a magnificência foi certamente real. é uma
espécie de templo, mas não tem periptério (filas de colunas) e só um simples
próstilo (em parte restauradas). Os ornamentos arquitetônicos da fachada revelam
grande elaboração. O espaço interior corresponde ao maior vão livre (11 metros)
do mundo grego. A construção termina ao sul por uma abside inscrita, que
constitui, como o altar de uma igreja, a parte mais sacra. Esta abside pode
representar uma gruta destinada a rituais ctônicos. O altar principal, e a
construção que abriga as ofertas votivas estão localizados a oeste do Hierão.
O Anaktoron, edifício onde ocorria a myésis, localiza-se ao
norte da rotunda de Arsinoé, e segundo as versões correntes é da era imperial.
O terceiro e final terraço, a oeste do centro espiritual do santuário, foi
primariamente ocupado por edifícios votivos, como o Miletean, assim chamado por
ter sido dedicado por um cidadão de Mileto , e o Neório, ou monumento naval . O
edifício dos banquetes também era aqui. Três outros pequenos tesouros helênicos
não são bem conhecidos. Observando o terraço central, o espaço é todo dominado
por um comprido pórtico (104 metros) que atuava como um monumental plano de
fundo do santuário, atrás do teatro. É nesta parte do sitio que estão os mais
recentes traços de ocupação, um quadrado forte bizantino construído com um
tesouro, já que reutilizou o material das construções originais.