sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Os mitos de criação

A Antiguidade tinha diversos povos, cada qual com seus Deuses e mitos. Cada cultura tinha seus ritos, templos e sacerdócios. Na Era Moderna, estudiosos e historiadores da religião como Joseph Campbell e Mircea Eliade notaram que havia sinais, símbolos e ideias em comum entre povos tão distintos e tão distantes, geográfica ou cronologicamente. A questão parece ser simples, mas ainda não há uma explicação cientifica de como tantos povos tinham mitos tão semelhantes entre si. A teoria é de que estes mitos tinham a mesma origem, ou ocultavam o mesmo mistério, eram metáforas e analogias de uma antiga sabedoria.
Um dos temas em comum refere-se aos mitos de criação. Os antigos Egípcios, os antigos Sumérios, os antigos Babilônios, os antigos Gregos e os antigos Romanos tinham mitos de criação muito semelhantes entre si.
Em comum, os mitos dizem que o universo começou a partir de um estado de total entropia ou de total nulidade, definido como Vácuo, Escuridão ou simplesmente Caos. Este estado, evento, circunstância, continha em si todas as condições para o surgimento de tudo que existe, algo bem próximo do que a Ciência chama de Big Bang.
Este estado inicial é indistinto, indiferente, desprovido de consciência ou identidade própria, o que se aproxima do conceito de Mônada, se não fosse seu estado de total entropia, enquanto a harmonia é o estado da Mônada.
Dentro do Caos, surgiram os Deuses Primordiais, brotaram por vontade própria assim que tiveram consciência de suas presenças, existências e consciências. Os Deuses Primordiais são as forças e potências que geraram todo o universo e as demais gerações de Deuses. Geralmente os Deuses da Segunda Geração lutam contra um ou mais dos Deuses Primordiais e os Deuses da Segunda Geração são destronados pelos Deuses da Terceira Geração. Os Deuses da Terceira Geração dão origem ao mundo e ao ser humano, organizam a civilização e a cultura, concedem ao ser humano o Conhecimento e ensinaram ao ser humano todas as habilidades.
O primordial aqui é ressaltar que, embora todos os povos concedam o titulo de Deusa Mãe a uma de suas Deusas, isto não significa que estas Deusas sejam uma única Deusa ou que tenha existido uma antiga religião da Deusa, nos moldes das religiões monoteístas abraãmicas. O titulo de Deusa Mãe era dada a uma Deusa como um honorífico. Estas inúmeras Deusas Mães tinham características, personalidades, identidades, ritos, templos e sacerdócios totalmente diferentes e eram filhas ou netas de Deuses.
Os mitos de criação demonstram que a união de um Deus e uma Deusa é algo primordial para a existência de tudo mais. Nenhum Deus ou Deusa pode ser considerado anterior ou percussor dos demais. Todos os Deuses e Deusas foram gerados pela união sexual entre Deuses e Deusas. Mesmo o nascimento de Dioniso e Atena tem mitos que precedem.
Ainda que existam mitos como o do Divino Andrógino e dos Gêmeos Divinos, estes são mitos e mistérios que estão inseridos dentro de um contexto mítico maior. Nenhum Deus ou Deusa, da geração Primordial ou da Segunda Geração possuem atributos hermafroditas, este é um mito que aparece na Terceira Geração e mesmo assim na forma da verdadeira natureza humana original enquanto ser divino, gerado/a pelos  Deuses e Deusas.
O conceito de uma Deusa criadora e transgênero é um mito moderno, construído pelo ser humano, em busca de uma espiritualidade, uma religiosidade e uma crença que satisfaça suas necessidades egoístas. As Religiões Antigas mantiveram por milênios os mitos, os ritos e os mistérios de cada um dos Deuses, mesmo aqueles que acabaram assimilando ou sendo identificados com os Deuses de outros povos.
A degradação começou quando o homem se assoberbou, se colocou no centro do mundo, se arrogou autossuficiência e usurpou o trono dos Deuses. Reis instituíram cultos a seus nomes, impérios se apropriaram de ritos e cultos de povos dominados, permitiram a entrada de religiões e cultos estranhos às suas origens, governantes corruptos estimularam o sincretismo popular.
Nós que somos pagãos modernos e sabemos o quando devemos aos nossos ancestrais, devemos recuperar os valores e princípios das religiões antigas. Nós devemos evitar essa religiosidade de conveniência, essa espiritualidade sintética, essa crença artificial, inventada e vendida para satisfazer a vaidade humana. Nosso serviço é para nossos ancestrais e Deuses.

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