terça-feira, 16 de agosto de 2011

Cabo de guerra

Um jogo que faz muito sucesso e não requer muitos instrumentos – apenas dois times e uma corda. O objetivo do jogo, ao contrário do que se pode pensar, não é a de premiar a equipe que tiver mais força, mas sim a de desenvolver o trabalho em equipe.
Depois de ler a reportagem com
Rebecca Goldstein, a impressão que fica é que cristãos e ateus estão jogando cabo de guerra. Eu não posso criticar este jogo, afinal, eu também puxei minhas cordas. O que eu posso fazer é refletir o que, afinal de contas, queremos ao ficar medindo nossas forças com nossos “adversários”.
O que acontece neste cabo de guerra é crentes e descrentes, todos estagnados, arraigados, enraizados nas convicções, nas verdades. Nós tentaremos, a todo custo, puxar pela corda, mais pessoas para o nosso lado. Eu também puxei minhas cordas. O que eu consegui? Coisa alguma, eu fiquei exatamente no mesmo lugar. Não cresci nem adquiri coisa alguma, apenas alimentei a resistência interna e externa. Eu apenas aumentei o veneno que corroia minha essência.
Esse cabo de guerra entre razão e crença não produz coisa alguma. Tudo que alimentamos nesse cabo de guerra é a força de resistência e rejeição à convivência, ao diálogo, à tolerância, ao respeito que tanto cobramos do “outro”. A força que empregamos para mover uma pessoa do outro lado da corda irá apenas alimentar sua motivação para explicar, justificar, desculpar sua visão de mundo. O indivíduo irá ficar ainda mais arraigado em sua necessidade de ter a certeza, de estar certo, pois isto concede ao indivíduo um falso sentimento de segurança, de proteção, de conforto.
Basta vermos como foi pronta e imediata a reação dos cristãos quando os homossexuais começaram a lutar pelos seus direitos. Basta lembrarmos da ação de altos prelados eclesiásticos atentarem contra o processo eleitoral com um panfleto contra o aborto. Basta lembramos os monólogos doutrinários totalitaristas pelo mais alto pontífice contra o uso de preservativos. Basta lembrarmos do triste episódio de excomunhão pública dos médicos que tiveram a humanidade de fazer o procedimento clínico mais adequado. Quanto mais grupos lutam por mais humanismo em nosso mundo, em nossa sociedade, mais terão pessoas que tentarão, a qualquer custo, manter "as coisas como são".
Do lado dos ateus, não tem sido nada "racional" nem razoável a forma deliberada e gratuita como atacam a religião - qualquer uma - fazendo uma tábua rasa. A Ciência não é uma vestal, em nome dela também se cometeu atos atrozes. Basta lembrarmos as experiências nazistas. Basta lembrarmos a incrível tecnologia militar. Basta lembrar o maior produto da "razão" científica - a bomba atômica. Quanto mais grupos lutam por mais humanismo em nosso mundo, em nossa sociedade, mais terão pessoas que tentarão, a qualquer custo, esterilizar nossa fantasia em prol de um mundo "racional".
A escolha sempre é pessoal, individual. Se alguém quer viver escravizado pela Igreja e viver feito carola, o problema é dele, desperdiçará a oportunidade de fazer seu Paraíso aqui e agora. Se alguém quer viver bitolado pela Ciência, o problema é dele, desperdiçará a oportunidade de apreciar o sonho, a imaginação.
Todos nós estamos apenas alimentando uma força reativa, quando devíamos alimentar uma força pró-ativa. A única forma de um indivíduo mudar de sua postura fossilizada é não alimentando essa força reativa.
Eu estou fazendo um trabalho onde eu estou deixando de puxar as cordas. E pela primeira vez, eu estou sentindo que estou realmente ficando livre das amarras. Se queremos um mundo melhor e mais humano, devemos começar a melhorar e a humanizar a partir de nós mesmos. Solte a corda e liberte-se das amarras.

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