quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Feliz Dia do Ekenko

No dia 24 de Janeiro as cores e cheiros bolivianos tomam conta da Praça Kantuta - este ano a festa promovida pela Associação Gastrônomica Cultural Folclórica Boliviana Padre Bento, será realizada nas instalações do Clube de Regatas Tietê, na Av. Santos Dumont, 843 Bairro: Ponte Pequena (Próximo ao metrô Armênia). A festividade também será realizada na Rua Coimbra, pontos de concetração da comunidade boliviana em São Paulo. Veja a programação.
A comemoração é especial: uma homenagem ao dia do Ekeko, o Deus da abundância. Reunidos, bolivianos, peruanos, equatorianos, argentinos e claro os paulistanos. Nas barracas, pequenos artesanatos chamados Alasitas simbolizam os sonhos que os fiéis querem ver realizados no ano que está começando. Há malas, ônibus e carros que representam o desejo de viajar ou voltar à terra natal; saquinhos de arroz e mesas de jantar que remetem à fartura dentro de casa; galinhas que prometem dar um jeito na vida amorosa; maços de dólares, euros, e outras moedas para trazer abonança. Depois de comprada a Alasita, é preciso levá-la para o Yatiri, um homem vestido roupas coloridas (poncho de aguayo) gorro de lã de Vicunha (chullo) vai abençoá-la. Só ele pode fazer isso: rega o objeto com álcool, vinho, passa pela fumaça da fogueira, (saumerio) enquanto pede, em aymara (idioma indígena da Bolívia), para o Ekeko realizar o desejo do fiel. Ao final, resta apreciar as apresentações de danças típicas, comer uma empanada, ou salteña, comprar um chá de coca ou uma colorida malha típica e ir para casa, com a enorme esperança de que a vida ainda vai melhorar.
O Ekeko, é um deus da abundância, fertilidade e alegria de origem aymara ou colla, que ainda recebe verdadeiro culto no altiplano andino, sobretudo no solsticio de verão, quando se celebra a feira da Alasita.
É um ídolo que se crê provê de abundância ao lar onde se lhe tributava oferendas de álcool e cigarros.
Toma a forma de uma pessoa sonridente, ligeiramente obesa, vestida com roupas típicas do altiplano e carregando grande quantidade de bultos de alimentos e outros objetos de primeira necessidade que penduram de suas roupas.
Actualmente a estatueta que o representa tem um orifício apropriado em sua boca para poder lhe introduzir cigarros acendidos, que a estátua ``fumaria``.
Originalmente o nome proviria do quechua iqaqu (quechua: ekjakjo ).

História
O Ekeko é uma divinidade venerada desde séculos antes da conquista do território pelos espanhóis. Seus seguidores achavam que afugentava a desgraça dos lares e atraía a fortuna.
Pensa-se que se originou entre os habitantes da cultura Tiwanaku. Depois da conquista pelos aymaras e depois pelos Incas, adotaram a divinidade, e converteram-na em símbolo da fertilidade e a boa sorte.
Em 1612 , o jesuita Ludovico Bertonio, publicou o "Vocabulario da Língua Aymara" onde menciona a esta dividade andina.
Ecaco, I. Thunnupa. Nome de um de quem os índios antigos contam muitas fábulas e muitos ainda nestes tempos as têm por verdadeiras.
O arqueólogo paceño Carlos Ponce Sanginés opinava que as antiguísimas figuras antropomorfas (com importuna prominente e adendo fálico) seriam da época do Império inca, e antecessoras do equeco da época da colônia.
Manuel Rigoberto Paredes escreveu que estas miniaturas de estatuetas fálicas seriam remanentes de remotas festas sagradas do solsticio de verão.
No ínicio, o Ekeko era de pedra, importunado, tinha rasgos indígenas e não levava nenhum tipo de vestimenta: sua nudez era o símbolo da fertilidade.
Na colónia o culto à divindade tomou nova força em La Paz (atual sede de governo da Bolívia ) durante o cerco que esta cidade suportou durante o levantamento indígena de Túpac Katari contra o controle espanhol.
A Igreja Católica tentou erradicar seu culto em tempos da colônia, sem maior sucesso, ainda que a imagem chegou a sofrer certas mudanças: foi vestida e seus rasgos alteraram para os de um mestiço.
Hoje em dia, existe na serra sul do Peru como no ocidente de Bolívia a crença de que o Ekeko é capaz de conceder os desejos de seus seguidores se estes lhe oferecem uma cópia dele em miniatura, e muitos têm em casa uma imagem para que lhes resolva os problemas, deixando dinheiro a seu lado e mantendo um cigarro acendido em sua boca, que se se consome até a metade é sinal de mau agouro . As figuras que lhe oferecem são de cerâmica, metal ou pedra e reproduções exatas o objeto de suas petições: automóveis, electrodomésticos e alimentos. Quando se deseja amor, se lhe entregam miniaturas de galos e galinhas. A divindade é conhecida nos diferentes lugares do mundo onde colónias de emigrantes bolivianos têm estendido seu culto.
A figura do Ekeko tomou grande popularidade na província de Buenos Aires (Argentina) durante o período hiperinflacionário dos anos 80. Ali seus adeptos tomam-no como uma espécie de "patrão da fortuna".
Fonte: Bolivia Cultural [link morto]

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A luta entre Osiris e Set

Assim como os mitos dos antigos Gregos e Romanos foram-nos contatos muito tardiamente, quando os homens insensatos queriam tomar o trono dos Deuses e ainda vivem nessa perigosa ilusão androcêntrica, os mitos dos Egípcios antigos também nos chegam tardiamente e de segunda mão.
Um dos principais mitos dos antigos egípcios fala da luta entre Osiris e Set.

Osíris era um deus da mitologia egípcia, associado à vegetação e a vida no Além.
Osíris, é sem dúvida o deus mais conhecido do Antigo Egito, devido ao grande número de templos que lhe foram dedicados por todo o país; porém, os seus começos foram os de qualquer divindade local, e é também um deus que julgava a alma dos egípcios se eles iam para o paraíso. Para os seus primeiros adoradores, Osíris era apenas a encarnação das forças da terra e das plantas. À medida que o seu culto se foi difundindo por todo o espaço do Egito, Osíris enriqueceu-se com os atributos das divindades que suplantava, até que, por fim substituiu a religião solar.[wikipedia]

Seth é o deus egípcio da violência e da desordem, da traição, do ciúme, da inveja, do deserto, da guerra, dos animais e serpentes. Seth era encarnação do espírito do mal e irmão de Osíris, o deus que trouxe a civilização para o Egito. Seth era também o deus da tempestade no Alto Egito. Era marido e irmão de Néftis. É descrito que Seth teria rasgado o ventre de sua mãe Nut com as próprias garras para nascer. Ele originalmente auxiliava Rá em sua eterna luta contra a serpente Apep na barca lunar, e nesse sentido Seth era originalmente visto como um deus bom.[wikipedia]

Na antiga cultura egípcia Set passou por períodos de imensa popularidade alternados por períodos de total rejeição. Set, nos períodos pré-dinásticos e arcaicos, era uma divindade essencialmente positiva, visto como uma extensão da existência. Ele era dessa forma deus da expansão dos limites/fronteiras e das mudanças radicais do ser - particularmente nascimento, circuncisão, iniciação, morte na batalha e renascimento através da cerimônia Abertura da Boca.
Popular entre os orientais - seu primeiro local de culto sendo o Pelusium no delta oriental do Nilo - o culto de Set rapidamente se espalhou para áreas vizinhas, onde ele foi identificado com deuses locais de Iniciação. Dois exemplos de tais locais de culto são Kharga no sul e o povoamento líbio de Ombos, onde Set foi identificado com o deus local Ash na II dinastia.
A adoração original de Set como uma divindade circumpolar/estrelar sofreu um declínio com o surgimento da adoração solar na IV dinastia.[Xeper][link morto]

Osiris, como toda divindadeda vegetação, tem que morrer para então renascer e trazer consigo a primavera, a fertilidade dos campos e dos rebanhos dependem disso. Coube a Set essa tarefa, a Isis de recolher seus pedaços [o caminho iniático imita essa busca] e a Horus vingar seu pai. Set, como toda divindade conturbada, foi relegado ao papel do traiçoeiro, do invejoso, do maligno. Esta história, nós, pagãos, bruxos e wiccanos conhecemos bem. Deuses antigos sendo demonificados e seus cultos sendo proibidos.

A luta entre Osiris e Set parece-se com a luta do Rei Carvalho e do Rei Azevinho. Ambos lutam não por inveja, mas pela Deusa. Set não invejava Osiris nem queria seu poder. Ele queria Isis, apesar de Neftis, porque ela era a primogênita de Nut, a Grande Deusa e, portanto, a primeira na linha sucessória. Ser o Consorte da Deusa foi quem tornou Osiris abençoado com terras férteis e Set tendo que viver no deserto.
Set apenas lutou pelo seu direito legal e real de ser o consorte de Isis. Afinal, Set lutou ao lado de Ra contra Apep. Apep era um Deus ou uma Deusa Serpente que, como todas as divindades ctônicas, estão ligados ao submundo, ao estado primordial e ao Caos. Nessa luta, Set precedeu a outros Deuses ordenadores, como Marduk e Zeus, mas sua sorte foi diferente. Ele não conquistou os favores de Isis, ou levou mais do que um ferimento dessa batalha. Ele não venceu a sua própria escuridão.

Nós travamos a mesma luta que teve entre Osiris e Set. Alguns se enganam, achando que podem subliminar seu lado escuro, vivendo dentro de preceitos religiosos que nos instam a ter certos comportamento e rejeitam outros, mas isso frequentemente resulta em neurose, fanatismo e fundamentalismo. Santidade nunca combinou com sanidade. Outros se iludem, achando que podem alcançar a iluminação dando vazão ao seu lado escuro, mas isso frequentemente resulta em psicopatia, megalomania e auto-destruição. Perversidade nunca combinou com veracidade.
O Caminho do Sábio, enveredando pelos Bosques Sagrados, vive entre a luz e a sombra. Não desperdiça sua vida em uma santidade inócua e hipócrita. Não empobrece sua vida com uma indulgência pueril e estúpida. Nós não rejeitamos nem elogiamos a sombra. Nós a reconhecemos como parte de nós mesmos, de nossa natureza, nos abraçamos e nos reunimos em nosso verdadeiro Ser.

domingo, 23 de janeiro de 2011

No centro da Arte Tradicional

Bruxaria Tradicional é um termo sujeito a uma série de equívocos que, na verdade, advêm do próprio termo. A idéia completa é que a bruxaria seja uma categoria extremamente ampla que passa através de toda a história e geografia, e conta toda uma série de concubinas, prisioneiros, astrólogos, mulheres bonitas, gente miserável, criminosos, hereges e assim por diante. É um termo pejorativo que denota aquele que desafia a ordem social cívica e seus limites. Isso significa que toda a idéia da 'bruxa' seja um termo desenvolvido pela ordem social profana, e como tal, é natural que a idéia da Arte das bruxas convide igualmente aqueles que desejam restaurar a intenção no coração da matéria, tanto as almas perdidas que vivem na alienação da Arte, e aqueles que procuram impor seu evangelho sobre a Arte das bruxas. Dada a diversidade que a própria palavra tem sido sujeita, é natural e verdadeiro que a Arte também fique sujeita a diversidade de fé e rito - mas isso nunca muda a doutrina em sua raiz.
A Arte das bruxas é tradicional - e mesmo se a idéia do que é tradicional, hoje, seja geralmente limitada a uma idéia bastante horizontal, profana e cívica de transmissão de algum tipo de conhecimento, a questão é outra. Uma Arte tradicional deve ser tradicional no verdadeiro sentido da palavra: deve revelar uma fundação em uma visão tradicional do mundo, que reconhece a importância do espírito de tal forma que teremos a encruzilhada ali, girando através dos mundos, convergindo como duas serpentes - uma em tempo telúrico e a outra através de anjos, elementais e espíritos, com uma sede pela manifestação repetida. A Arte tradicional é sempre orientada a partir de uma compreensão profunda, e da aceitação de como o ponto e o círculo são mediados por um milhão de tons, como o arco-íris e as escalas de cinza ...
Esta origem complexa também resulta em acusações de elitismo, direcionadas aos poucos grupos tradicionais da Arte que escolheram mostrar uma face pública por algum tempo. Esse elitismo é muitas vezes entendido em premissas modernas, que define uma "elite " como algo superior, enquanto se refere simplesmente sobre eleitos pelo sangue e ancestralidade. Isso não quer impor uma polaridade de superioridade e inferioridade a qualquer um, mas de parentesco ou não-parentesco. O fato de que você nunca possa pedir para ser introduzido em um clã fechado - e ter que ser convidado pelo reconhecimento de consanguinidade - provoca a alguns devido a um sentimento infeliz de inferioridade. A partir deste complexo de inferioridade e desejo velado na alienação, vemos criaturas rastejando para fora de seus buracos, pregando alguns evangelhos estranhos. Eles querem formar federações e querem reunir seguidores - tudo em nome de inferioridade e injustiça - ainda que o evangelho soe diferentes nas palavras que abrangem os complexos que estão exercendo.
A Arte propriamente pode assumir muitas formas, de caminhos solitários a adoção de uma forma de guilda ou ordem como aprendiz, caminhante e mestre, assim como um membro de um clã. No coração da Arte, encontramos ainda o mistério que liga tudo isso – relaciona-se à terra feita fértil pelas estrelas, anjos e todas as suas implicações. É neste mistério, simples e grandioso, que se estende ao centro da terra, da mesma forma que ao ponto imóvel nos céus, que encontramos a Arte - e aqui se encontra a explicação da diversidade. Terra e a esfera se comportam de maneiras diferentes, de região para região, como fizeram ao longo do tempo. Nisto encontramos a fluidez da Arte, como o Único Mistério possui mil caminhos. A Arte segue as leis silenciosas da Natureza - não da sociedade ou a ordem cívica. Ela fala da grandeza da Terra e dos muitos sábios que deram o seu sangue, ossos e carne à terra. A Arte fala na voz de terra, dos lugares selvagens, dos anjos e ancestrais - e como esta lingua ser "humana"? Esta é uma linguagem que fala com sua alma e agita seu coração!
Acredito que muitos dos delírios modernos sobre a Arte decorram de nossa ordem cívica que insiste em valores artificiais e mundanos. Os que buscam, perdidos neste assalto à natureza se sentirão ainda mais perdidos, e suas alienações serão dolorosamente evidentes à medida que tentam chamar os espíritos de uma terra agora coberta de concreto, asfalto e vidro. Um jardim dá consolo nessa alienação - e se você cuidar bem do jardim e dos espíritos, eles irão falar com você – mas na falta de até mesmo esse pequeno pedaço de terra abençoada, a pessoa estará perdendo uma parte importante da Arte propriamente.
Tenho afirmado através meu livro Artes da Noite (Editora Rosa Vermelha), que a bruxa é uma imagem poética de um legado que pertence a todos nós - e acredito que isso seja muito verdadeiro. Porém, este legado fala através da terra e do espírito, assim como era e é agora. Precisamos buscar esse legado nas nascentes e bosques, nas cavernas e lugares selvagens. É aqui, nos domínios da Natureza selvagem que esse legado é encontrado - não em federações, ou nas nefastas condenações e exaltações, ou em brigas sobre crenças. A Arte fala sobre a voz pura da natureza, assim como ela fala do sangue e o estimula a ser sábio para encontrar a sua paz.
Tradução do original publicado em Speculum Celestae, de Nicholaj de Mattos Frisvold
Fonte: Speculum Celestae [tradução divulgada no blog Diablerie, entrada do dia 18/01/2011]

sábado, 22 de janeiro de 2011

Dia Nacional dos Voduns

O Dia Nacional dos Voduns no Benin/África é comemorado em 10 de janeiro. Durante todo o dia em várias regiões do Benin, o povo entusiasmado se aglomeram nas portas dos templos executando rítmos, cânticos e danças em louvor aos Voduns. Todas as ruas e vilas são decoradas com motivos que lembram os ancestrais e os Voduns.
As mulheres fazem as melhores iguarias e os homens preparam o vinho de palma, que serão degustados no decorrer das festividades. As mulheres usam suas melhores roupas nativas e se enfeitam para agradar os deuses, os homens tocam os mais variados instrumentos musicais emitindo ritmos divinos e cantigas regionais que falam da tradição dos Voduns. Nas primeiras horas da madrugada os sacerdotes e sacerdotisas saúdam e homenageiam Legba, Sagbeto e os Ancestrais, acompanhados pelo povo.
No amanhecer oferecem sacrifícios e presentes aos Voduns. Começa a festa. Em Ouidah os adeptos de Mami Wata (mães das águas) improvisam altares nas areias das praias, rios e córregos onde são oferecidos balaios enfeitados com fitas, flores e presentes para os Voduns das águas. Diante desses altares, o povo canta e dança louvando os deuses.
O ponto culminante dessa comemoração é a hora em que esses presentes são colocados em pequenas embarcações e levados para alto mar onde serão oferecidos aos deuses; o povo acompanha todo esse movimento com gritos frenéticos e louvores. Essa data foi estabelecida após ser proclamada a independência do Benin. O governo constituído por beninenses elegeu Sossa Guedehouhoungue como Presidente Nacional do Culto aos Voduns, oficializando assim a religião.
Os principais templos aguardam a chegada de Sossa para dar início os rituais culminantes de comemoraçao ao Dia Nacional dos Voduns. Sossa se apresenta em praças públicas, onde os adoradores de Vodum o aguardam para saudá-lo por sua luta em prol da religião. Sossa Guedehouhoungue faleceu em 27/01/2001 e foi sepultado em 25/02/2001 na cidade de Dotou.
Sua urna mortuária viajou por quase toda a África, onde o grande líder recebeu rituais fúnebres como a ultima homenagem de um povo que tanto lutou para que seus direitos religiosos fossem respeitados. O dia 10 de janeiro é o marco de uma grande vitória religiosa e Sossa sempre será lembrado como o grande Sacerdote de Vodum. Comemorar e honrar os antepassados e Voduns, é uma prática natural para o povo Fon.
Fonte: Okitalande [link indisponível]
Nota da casa: Aos irmãos Caribenhos, de sangue nativo, africano, espanhol e francês, Feliz Dia do Vodun!

As crenças e práticas das bruxas

Delas era uma religião de experiência: elas eram práticas em tudo que faziam, não confiando em livros. Sentimentos e emoções eram parte importante de suas experiências de vida em geral e realizavam seus rituais em particular. [pg. 278] As bruxas eram modestas no que elas admitiam quando elas não sabiam certas coisas, inicialmente sobre a história de sua tradição [...] [pg. 283]
De acordo com o dicionário, um rito é o evento aonde o ritual relaciona-se com as coisas que são feitas nele. Hoje em dia é mais comum falar de um ritual como a coisa toda [...]
Havia ações simbólicas e práticas – coisas que eram feitas porque elas foram sempre feitas e estava certo ou porque precisavam para alguma razão especial.
Ainda que os velhos ritos fossem ocasiões alegres e mudavam a cada tempo, eles tinham uma estrutura de abertura e de fechamento – invocando e agradecendo aos Deuses. Dentro desta estrutura, no coração do rito, havia espaço para palavras e ações espontâneas. [pg. 286]
As bruxas faziam magia e eu acho que tem duas razões para a reticência delas. Primeiro, sua moral era para curar, não para prejudicar e elas não queriam que suas técnicas caíssem em mãos erradas. A segunda é que algumas das técnicas para aumentar o poder envolviam algo considerado depravado. Elas usavam o sexo.
O uso do sexo pelas bruxas como uma forma de aumentar o poder era natural e franco sem qualquer das inibições como as que a sociedade tem com o que é um processo natural. [pg. 287]
O círculo das bruxas tinha duas funções principais, uma prática outra espiritual.
Sua função prática era manter o poder que é gerado dentro de uma pequena área para que pudesse ser direcionado no que as bruxas chamavam de Cone de Poder [...]
As bruxas disseram que trabalhavam, nuas porque era a única forma de obter poder.
Habilidade psíquica e habilidade de fazer magia são lados da mesma moeda e as bruxas são proficientes nos dois. Mas eram técnicas que precisavam ser exercitadas. [pg. 289]
Fonte: Wiccan Roots - Philip Heselton [Capall Bann]
Nota da casa: Estas são traduções de alguns trechos do livro “Wiccan Roots” de Philip Heselton. Evidente, a tradução não foi literal e me restringi aos parágrafos mais objetivos. A minha intenção não é provar, mas divulgar os elementos que este blog tem defendido desde a sua inauguração.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O Dia de Reis

Eu entrei no ritmo do Tribunal de Justiça e estou produzindo em velocidade lenta. Acabei de ler o livro Wiccan Roots e espero em breve citar algumas partes interessantes sobre Bruxaria, mas até o texto sair do forno, eventual e dileto leitor, refestele-se com a série de textos [presentes] dados pela Qelimath, no blog Diablerie [link morto].
Certamente estarão citados por aqui, mas por ora, irei citar [e traduzir] o texto do blog Speculum Celeste.

Seis de janeiro, o Dia dos Reis magos [Dia de Reis no Brasil-NT] anunciando a epifania é um dia peculiar. Ele anuncia o fim dos 12 dias do natal e então celebra os signos do zodíaco e os sinceros apostolos de Jesus. Reina a confusão se o Dia de Reis começa no dia 5 ou 6 de janeiro o que traz a carta coringa, Escaiotes - o elemento de movimento e transformação que tornam a teofania possível. É o dia da iluminação, declaração e manifestação da promessa que se torna possivel pelos três reis magos.
É também o dia consagrado à "mais antiga", Befana no folclore italiano. Befana toma a forma da bem conhecida bruxa que monta uma vassoura que é como o Santo Nick e Krampus rastejando chaminé abaixo para recompensar e punir as crianças. No Haiti é o dia de Simbi – uma classe de espíritos associados com a magia, as florestas e milagres aparecendo nas esquinas obscuras da criação. Um dia em que as florestas revelam-se em toda sua glória nas fontes de água e cachoeiras.
É também um dia marcado pelo desordem no ciclo da saturnália quando o lider era escolhido pela sorte. Nos dias modernos este costume é encontrado na Rosca Espanhola feita em honra dos reis magos. O bolo contém uma única fava - e aquele que encontrar é feito rei por um dia - e às vezes um tolo pela vida toda. É o ultimo dia quando as  Moiras tentam seduzir Saturno para revelar o dia da Era Dourada para aqueles que tiverem olhos para ver.
É um dia, como a Sexta Santa, quando o véu entre os mundos está mais frágil e na Escandonávia era costume fumegar a casa e o solo intensamente nesse dia - o décimo segundo dia do ciclo natalino como é notado na última chance do maligno tentar agarrar o mundo . Juniper e estoraque, olíbano e mirra traz uma atmosfera mais agradável e uma tora de frutas coberta de mel e galões de vinho tinto perfumado e cidra irá convidar saturno e Jupiter para abençoar a casa.
Intrigantemente é a jornada dos três reis magos que definem os doze dias onde a Caçada Selvagem corre pelo mundo debaixo do sol. O ciclo da noite mais longa naturalmente convida os cidadãos da noite para festejar na ausência do sol. A jornada do sábio mediada pelos terrores de Odin e a horda de mortos te traz para a encruzilhada do ouro.
Esta é a última chance da noite e da magia antes que o sol tome o reino e despertede seu exílio. É um dia de cobras e serpentes - de iluminação e profecia. É o dia onde o juramento nunca deve ser feito. É um dia onde o que é feito poderá entrar nas salas do ouro e da prata e marcará o mundo para sempre com uma fagulha e uma visagem do infinito e da miraculosa possiblidade. Este é o dia quando o tolo pode governar e o que quer que consiga ao menos ter o cheiro da coroa real - roubando ou não. É o dia que liberta a vontade e dá conforto e um oásis em nossa jornada. Tudo isso dá motivo para celebrar, porque hoje nós todos podemos ser reis – reis da tolice ou sabedoria de acordo com a vontade das Moiras. Jogemos o velho na noite da folia tola e ascendamos nos rios da busca porque neste dia, seja visível ou invisível, o bom Deus Saturno presenteia com sua cornucópia ouro, vinho, loucura e sabedoria. Mas nunca se esqueça que um tolo com uma coroa permanece um tolo mas um sábio com uma coroa governa para sempre!

Nota da casa: E apenas os Cristãos não se dão conta dessa peculiar contradição da visita dos reis magos ao seu divino redentor.

sábado, 15 de janeiro de 2011

A tragédia como espetáculo

Recentemente fomos bombardeados com reportagens das chuvas e alagamentos no Rio e em São Paulo, com cenas impressionantes. Como se isso nunca tivesse acontecido antes. Como se nossos governantes não soubessem do perigo. Como se os populares não soubessem do risco. Como se a tragédia e a perda material e humana fosse mudar nosso estado de negligência e omissão, como se tantas mortes fossem mudar a forma de ocupação dos populares, como se os governantes fossem dar alguma prioridade ao planejamento urbano. Simplesmente vamos juntar os corpos, consolar os parentes, reconstruir as moradias e aguardar a próxima tragédia.
Infelizmente esta é a característica da Imprensa Brasileira, a Imprensa Abutre. E não é apenas no Brasil que as reportagens vão em busca de corpos, como abutres. No exterior, neste blog, eu critiquei a forma como os mais belos festivais e as mais lindas cerimônias de outros países só entravam no noticiário local e internacional se acontecesse uma tragédia.
Na Índia, o Santuário de Sabarimala apenas foi notícia não por sua beleza, sacralidade ou significado. Apenas a tragédia. Não há uma linha sequer sobre o Santuário ou sua história. Eu tenho que recorrer ao oráculo virtual [Google] para ter mais informações.

Sabarimala Sree Ayyappa Temple é um dos templos mais antigos e proeminentes templos de Sastha no país. Localizado na Gates Ocidentais no distrito de Kerala, Sabarimala Sri Dharmasastha Temple é um dos poucos templos na Índia que está aberto a todos os credos. O santuário de Sabarimala é um dos mais remotos santuários no sul dÍndia que ainda atrai de três a quatro milhões de peregrinos todos os anos.
A peregrinação começa em novembro e termina em janeiro.[Sabarimala][link morto]

Ayyappa , Hariraraputra, Sastra, Bhutanathan, Ayyannar são todos nomes de uma deidade muito famosa hoje em dia mas que durante muito tempo era praticamente confinada ao estado de Kerala onde fica seu principal templo.
Ayyappa, como seu nome Hariraraputra (Hari = Vishnu , Hara = Shiva, Putra = filho) diz é filho de Vishnu e Shiva , como? Ele é filho de Shiva com a forma feminina de Sri Vishnu , Mohinimurthi a “Forma do Encanto”, que é uma forma de Vishnu muito exaltada em Kerala.
Mohini já havia aparecido anteriormente, tanto para salvar o néctar da imortalidade da mão dos demônios lançando Seus encantos femininos e iludindo-os e também a pedido de Shiva que não se suportou tamanha beleza e A perseguiu por todo o universo tomado pelo desejo.
É dito que Shiva verteu seu sêmen e Vishnu como Mohini o conteve em Suas mãos e do poder de ambos Mohini formou uma criança, Ayyappan, uma cominação da energia de ambos.
A historia de Ayyappa neste planeta é ligada os estado de Kerala, onde ele tem seu principal templo, que se chamava Pandalam na antiguidade, abaixo irei dar uma resumida no seu passatempo.
Na época que o rei Rajashekara reinava sobre Pandalam, durante umas de suas expedições de caça, o rei ouviu o barulho de uma criança a margem do rio Pampa (foto abaixo), ao ir em direção ao barulho ele deparou se com uma criança resplandecente no local, que tinha uma bela jóia ao redor se seu pescoço (Manikhantan), o rei não sabia que o belo menino era filho de Vishnu e Shiva; O rei era piedoso, caridoso, devotado e justo, mais não havia sido agraciado com um filho, ele era um grande devoto do Senhor Shiva e sua esposa, a rainha, era devota do Senhor Vishnu e ambos oraram pedindo um filho para sua deidade favorita, e ao ver a criança o rei a encarou como a resposta a suas preces.
O raja levou o menino ao seu palácio e o criou como seu filho onde ele foi educado nas ciências e nas artes marciais além das escrituras sagradas, durante este tempo outra esposa do rei deu a luz a um menino mais o rei ainda assim considerou Ayyappa como seu herdeiro e o declarou como Yuvaraja (príncipe herdeiro).
O primeiro ministro, por inveja a Ayyappa, se juntou a segunda rainha e planejou um modo de tirar Ayyappa da posição de herdeiro, no dia da coroação de Ayyappa como herdeiro do trono a rainha fingiu que passava muito mal e com um plano feito pelo Primeiro Ministro arrumaram um médico fajuto que prescreveu que a rainha só sobreviveria que tomasse leite de uma tigresa, o rei pediu a vários querreiros de seu exercito mais nenhum se viu capaz de conseguir tão difícil ingrediente.
Então Ayyappa se ofereceu para conseguir o leite da tigresa, o rei concordou mais com aperto no coração temendo que seu filho não sobrevivesse.
Ayyappa então foi para o interior da floresta cumprir sua divina obrigação, após entrar na floresta foi atacado por um ladrão que ao perceber o poder do jovem se rendeu a ele e Ayyappa o aceitou e este ladrão, um muçulmano chamado Vavar, como seu melhor amigo( o que leva a crer que o passatempo deve ter ocorrido por volta do século XIII, um dos principais motivos de sua vinda na Terra era libertar uma jovem que havia sido transformada em demônio e residia na floresta onde era conhecida como Mahishi, que só poderia ser morta e liberada por um filho de Vishnu e Shiva, Ayyappa encontrou com a demônio na floresta e a matou liberando a jovem que havia sido amaldiçoada , a bela jovem pediu a Ayyappa que a aceitasse como esposa mais este disse que queria ser brahmacary (celibatário), disse a jovem que ela deveria residir na floresta que ele residiria em um templo próximo a ela e quando os peregrinos que fossem ali deixassem de aparecer então ele se casaria com ela, este local e hoje Sabarimala.
Indra ao ver a vitória do filho de Vishnu e Shiva apareceu e presenteou o jovem com vários tigres, Ayyappa então com seus tigres voltou ao palácio.
Ao entrar no palácio todos ficaram chocados ao ver o jovem Ayyappa montado sobre uma feroz tigresa e acompanhado pelos filhotes desta com o leite em suas mãos, ao ver que o menino tinha origem divida a rainha e o ministro caíram suplicando o perdão e o rei ficou maravilhado e tomado de amor e devoção, Ayyappa então se revelou como filho de Vishnu e Shiva e instruiu o rei acerca da salvação, Ayyappa então conduziu o rei até a floresta atirou uma flecha que atingiu o topo de Sabarimala ( neste local vivia Sabari uma mulher idosa de origem tribal que era devotada a Rama , que ofereceu frutas silvestrea a Rama e Lakshmana quando ambos se dirigiam a Lanka para resgatar Sita) e disse que naquele local deveria ser construído seu templo, o rei então ordenou que o templo fosse construído, e hoje é um dos locais de peregrinação mais importantes da Índia.
Após isso Ayyappa abençoou o rei e os outros presentes e desapareceu, o templo foi construído e Parashurama (encarnação de Vishnu que vive pelos lados de Kerala que Ele mesmo criou) pessoalmente fez a deidade de Ayyappa em madeira e instalou no templo onde está atualmente.
O templo é pequeno em comparação a vários da Índia e na sua entrada existem 18 degraus de ouro que representam os desejos que precisamos vencer nesta vida, uma vez ao ano milhões de pessoas, a grande maioria homens, faz o voto de visitar vários locais sagrados e de fazer varias austeridades num total de 41 dias que culmina na chegada em Sabarimalai, onde após carregar dois cocos, um deles cheio de ghee representando o ego, os oferece a Ayyappa quebrando os perante a entrada do templo.[Sanatha Dharma]

Nota da casa: Uma vergonha, mas como diria Felipe Neto, nós somos responsáveis pela forma como nos é transmitidas as notícias. Nós gostamos de fofoca sobre celebridades? Dá-lhe TV Fama [eu prefiro chamar de TV Lama]. Nós gostamos de saber da vida dos ricos? Dá-lhe Amaury Jr [um tipo de "Caras" televisivo, repugnante, considerando o nível médio do brasileiro]. E assim vamos nos "pocotizando", como disse o Luciano Pires.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Política = Tabu?

Por indicação, eu assisti o vídeo do Felipe Neto sobre "Política". Um consolo, ver um jovem com consciência, nesta Terra em Transe do Glauber.
Aqui eu noticiei a iniciativa na Austrália do Partido do Sexo e de como seria bom ter algo assim no Brasil.
Eu também falei da interessante obra de Riane Eisler sobre o Prazer Sagrado e de como isso tem tudo a ver com política e a nossa indigência cultural.
Por blogs amigos, cheguei ao blog que propõe a fundação de um Partido da Esquera Erótica Mexicana:

El Partido de la Izquierda Erótica, nacido con la energía de un abrazo apretado y redondo, se propone, en primer lugar, fomentar que las mujeres nos reencontremos con nosotras mismas y reconozcamos el voltaje de la corriente de posibilidad que llevamos en las venas.
Las primeras acciones y reuniones del PIE, por consiguiente, estarán orientadas a que entre nosotras nos pongamos en autos de quienes somos, de dónde venimos y con qué experiencias y fuerzas contamos.
Se propone que sean sesiones de elogios mutuos, de aplausos y jolgorio. Como es sabido, la primera obligación de la militancia del PIE es la de ser optimista, positiva y dispuesta a la felicidad.
Las instamos a reunirse, conocerse a fondo,a relatar sus circunstancias particulares y las dificultades que experimentan como mujeres en su propia vida.
[Fonte: Partido de la Izquierda Erótica Mexicana]

Eu me pergunto o que Eros diria disso. Eu me pergunto o que Afrodite diria disso. Como bom pagão e bruxo, eu prefiro a Anarquia.
Falar de sexo, de preferências sexuais, deixou de ser tabu. Pelo menos no espetáculo midiático. Na vida cotidiana e rotineira, os tabus e proibições sociais estão bem vivos, ainda que na teoria eu ouço minhas amigas concordarem com minhas opiniões sobre amor e relacionamento.
Mas nossa espécie parece depender dos tabus para poder viver de forma funcional. Haja visto o domínio do Politicamente Correto e o imerecido prestígio dado aos discursos em torno do "direito animal". Quem tem que ser preservado é a humanidade. O ambiente vai continuar a existir depois que nós mesmos nos extinguirmos.
Falar que a Bruxaria usa animais é proibido e tabu... entre pagãos e bruxos! Falar de política e que ser pagão é ter uma postura política também parece ser um tabu, algo proibido de se declarar. A postura de um pagão diante da questão ambiental e dos animais é uma postura poítica, por mais que se tente disfarçar.

Há algum tempo eu desisti de tentar avisar aos pagãos, bruxos e wiccanos sobre o surgimento e o crescimento de um verdadeiro culto à personalidade no nosso meio. Eis que as mesmas figuras, cheias de megalomania, cheias de autoridade auto-proclamada, anunciam uma Igreja... para bruxos e wiccanos! Eu sei que falar disso também é tabu, é proibido e eu fui excomungado exatamente por contestar os falsos profetas.
Depois de tanto tempo, ainda somos tremendamente inseguros. Depois de tantas conquistas, ainda procuramos segurança em falsos líderes e a salvação em falsos messias. Depois de tantas descobertas, ainda vivemos vidas vividas entre saldões e liquidações, porque nos tornamos descartáveis como as mercadorias que compramos, nos tornamos artificiais como as personalidades que cultuamos.
Meu consolo é saber que isso é apenas aparente. De tempos em tempos, eu me surpreendo em ouvir das pessoas o mesmo inconformismo que tem me mantido no rumo certo. De tempos em tempos, eu ouço mulheres falando em assumir o controle de suas vidas ao descartarem a misoginia patriarcal vigente. De tempos em tempos eu vejo pessoas resgatando o sentido do sagrado e divino no amor, no sexo, no prazer, no desejo e nos relacionamentos. De tempos em tempos eu vejo o desgaste do sistema vigente, se auto-decompondo, se auto-necrosando, de tanto que o público está saturado.
Eu não sei se vai melhorar, eu não sei se algo vai mudar mas, para alegria de uns e desespero de outros, aqui, o tabu está morto.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Teste de bruxaria

Um curandeiro indiano foi preso após ter sido acusado de forçar dezenas de mulheres a beber uma poção para provar que não eram bruxas.
Trinta mulheres passaram mal após tomarem uma infusão herbal no vilarejo de Shivni, no Estado de Chhattisgarh, região central da Índia, como parte de uma caça às bruxas no domingo.
Um porta-voz da polícia, Rajesh Joshi, disse à BBC que moradores do vilarejo suspeitavam que a doença de uma jovem de 18 anos pudesse ter sido causada por bruxaria.
'O pai dela, Sitaram Rathod, e outros moradores suspeitavam que (a doença) poderia ter sido causada por um feitiço', disse o policial.
'Eles (os moradores) chamaram um ojha (curandeiro) para desfazer o feitiço.'
Autoridades dizem que o curandeiro, identificado como Bhagwan Deen, havia recebido a ajuda de outros moradores para reunir todas as mulheres adultas no centro do vilarejo.
Ele teria então conduzido rituais que não conseguiram identificar a suposta bruxa e teria decidido apelar para o teste com a poção.
'O curandeiro forçou as mulheres a consumir uma bebida feita com uma erva venenosa local', disse Joshi.
'Ele disse que, após beber a infusão, a verdadeira bruxa confessaria voluntariamente.'
Das 30 mulheres levadas a um hospital após o incidente, 25 já receberam alta.
A polícia diz que outras cinco continuam hospitalizadas, entre elas uma mulher de 70 anos cujo estado seria grave.
Outros seis moradores do vilarejo também foram presos por ajudar o curandeiro.
Caças às bruxas são comuns nas regiões Central e Leste da Índia. Todos os anos, mulheres acusadas de bruxaria são mortas.
Fonte: G1
Nota da casa: E o Chico Bento XVI ainda tem a pachorra de dizer que os cristãos precisam ser protegidos. As bruxas são muito mais perseguidas.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Bruxaria é profissão na Romênia

A Romênia alterou suas leis trabalhistas para reconhecer oficialmente a bruxaria como profissão. A determinação, que passou a valer hoje, faz parte de um pacote de medidas para combater a evasão fiscal num país que enfrenta forte recessão. Além das bruxas, astrólogos, embalsamadores, camareiros e instrutores de direção são agora considerados profissionais, o que deve facilitar os trâmites para que essas pessoas paguem imposto de renda.
A medida, debatida durante meses, foi alvo de protesto das bruxas e da zombaria da mídia. Hoje, uma bruxa chamada Bratara disse ao Realitate.net, o site de uma das principais emissoras de televisão do país, que planeja fazer um feitiço com pimenta-do-reino e levedura para criar discórdia no governo. As informações são da Associated Press.
Fonte: Estadão
PS: Atualização vinda da Qelimath, a bruxa favorita deste blog, em comentário:
A cobrança de impostos sobre as bruxas na Romênia irritou a comunidade que decidiu protestar de modo original: lançar feitiços contra o presidente romeno Traian Basescu.
O imposto sobre as bruxas entrou em vigor no último sábado (1) como parte dos esforços do governo para combater a evasão fiscal, em um país que está em recessão. Como qualquer trabalhador autônomo, elas vão pagar 16% do imposto de renda e contribuições aos programas de saúde e de pensões.
Nesta quinta-feira (6), um grupo de bruxas das regiões oriental e ocidental da Romênia vai descer às planícies do sul e ao Rio Danúbio para ameaçar o governo com feitiços e espíritos, disse uma bruxa chamada Alisia à agência de notícias Associated Press.
"Esta lei é tolice. O que há para tributar, quando não ganhamos quase nada?", disse Alisia. "Os legisladores não olham para si mesmos, não veem quanto ganham, os truques que usam. Eles roubam e eles vêm até nós pedindo para colocar feitiços nos seus inimigos."
A bruxa Bratara Buzea, 63 anos, que foi presa em 1977 por bruxaria sob o regime do ditador comunista Nicolae Ceausescu, está furiosa com a nova lei. Em entrevista à Associated Press, Buzea disse que planejava lançar um feitiço usando uma mistura particularmente eficaz de excrementos de gato, um cão morto e um coro de bruxas.
"Nós fazemos mal a quem nos prejudica", disse ela. "Eles querem tirar o país desta crise nos usando? Eles deveriam nos tirar da crise, porque eles nos colocaram nela", disse Buzea.
"Meus feitiços sempre funcionam", riu a bruxa, sentada ao lado de seu fogão a lenha, rodeado por poções, feitiços, água benta e potes de cerâmica.
Outras bruxas viram a cobrança como prova de reconhecimento da profissão. "Esta lei é muito boa", disse a bruxa Mihaela Minca. "Isso significa que nossos dons mágicos são reconhecidos e posso abrir meu próprio negócio”, completa.
Além de bruxas, outros profissionais como astrólogos, embalsamadores, manobristas e instrutores de autoescola também terão que pagar impostos, já que agora são considerados por lei trabalhadores de "empregos reais". Alguns argumentam que a lei será difícil de cumprir, pois o pagamento recebido pelos serviços são feitos em dinheiro e em quantias relativamente pequenas (cerca de US$ 7 a US$ 10 por consulta).
Na Romênia, superstições são assunto sério até na política. Em 2009, o perdedor da corrida presidencial da Romênia, Mircea Geoana, e sua esposa, alegaram que ele foi submetido a ataques de energia negativa por assessores de Basescu durante um debate importante no qual ele não se saiu bem.
Segundo o assessor de Geoana, Viorel Hrebenciuc, havia uma conspiração do grupo esotérico "Chama Violeta" contra o então candidato. Ele disse que Basescu e outros assessores se vestiam de roxo às quintas-feiras para aumentar sua chance de vitória. Eles continuam vestindo roxo em datas importantes e às quintas-feiras, supostamente para afastar maus espíritos.
Antes disso, o ditador Ceausescu, que ficou no poder entre 1965 e 1989, e sua mulher Elena tiveram suas próprias bruxas pessoais.
Fonte: Notícias UOL

Bruxas: tradição popular

Direto do Caturo, do Gladius:
De uma colectânea de textos escritos no final do século XIX:
As superstições populares foram por muito tempo consideradas como ridículas aberrações mentais, produtos de cérebros ignorantes e sem instrução, indignas de ocupar, por um momento sequer, a atenção do investigador e do sábio. Quando muito, eram o tema dos motejos da parte dos espíritos emancipados dessas velhas crendices e, se alguma vez a elas se aludia em livros sérios, era simplesmente para mostrar o quão baixo podia descer o espírito humano entregue aos seus próprios recursos e desajudado pela luz da revelação. A própria Igreja que, na sua luta com o povo para lhe desarreigar do espírito as crenças do passado, fora obrigada admitir no seu ritual muitas dessas crenças e superstições, disfarçando-as apenas com novas vestes, promoveu crua guerra contra as que resistiram a essa assimilação forçada, como o provam de sobejo as disposições das Constituições dos Bispados, que compendiámos num escrito anterior, e mais tarde as Sentenças da Inquisição contra todas as manifestações do maravilhoso popular, ainda mesmo as mais inocentes e piedosas na aparência.
E o que se dava com as superstições, dava-se com a poesia, com os usos, com os costumes, com as tradições, com todas as criações anónimas do génio popular enfim, que, não só em Portugal mas em toda a parte, eram sistematicamente postas de banda pela literatura convencional e pedante que, ou procurava o modelo das suas composições num estéril subjectivismo sem realidade, ou na cópia servil das produções da antiguidade clássica. No nosso país mesmo foi esse desprezo do elemento popular o traço mais característico da literatura nacional como o provou o nosso colega Teófilo Braga nos seus trabalhos sobre a literatura portuguesa. E no entretanto, como muito bem diz o Sr. Adolfo Coelho, «nada mais mesquinho que os produtos da imaginação individual. Um verdadeiro artista, um Ésquilo, um Sófocles, um Dante, um Shakespeare, um Goethe acha na tradição popular todas as formas para exprimir a sua concepção da natureza e da humanidade». E é por isso que os três maiores vultos da nossa literatura, Gil Vicente, Camões e Garrett, conseguiram elevar-se acima da mediocridade que os cercava e criar três obras imorredouras, pela assimilação do elemento popular e tradicional, que cada um tomou como base das suas criações.
Este elemento começou a ser cientificamente explorado pelos irmãos Grimm na Alemanha, quase no princípio deste século (1812-1814); em seguida, o movimento propagou-se aos países escandinavos, à Rússia e hoje, pode dizer-se, não há país da Europa, não há mesmo província ou comarca que, mais ou menos, não tenha coligido os seus cantos, contos, superstições, usos, costumes, festas, provérbios, etc., etc.. Na Península Hispânica foram estas explorações verdadeiramente iniciadas em 1853 por Milá y Fontanals, e continuadas ulteriormente por Maspons y Labros, ambos da Catalunha. O Sr. Teófilo Braga, de 1867 a 1869 publicou o seu Cancioneiro e Romanceiro Geral Português (5 vols.) coligido da tradição oral, onde se encontram sob uma forma mais genuína muitos dos romances já publicados por Garrett. (...)
O estudo das superstições de um povo, além do interesse nacional propriamente dito, tem um interesse científico de primeira ordem, como contribuição para a etnologia e para o que os Alemães chamam «Kulturgeschichte» - história da civilização.
(...) ainda que na linguagem vulgar (não popular) se confunda por vezes «bruxaria» com «feitiçaria», estas duas concepções são diversas, como mostraremos, e correspondem a dois factos, análogos sim, mas nem semelhantes, nem de idêntica extensão. A crença nas bruxas entrou como um dos elementos da feitiçaria em Portugal, mas na feitiçaria entra outra ordem de elementos, que nada tem que ver com esta crença. A feitiçaria mesmo, pelo modo especial como se apresenta entre nós, tem, considerada no seu conjunto, um carácter muito menos popular, do que a crença nas bruxas. Não há dúvida que os nossos feiticeiros, como pode ver-se pelos processos da Inquisição, admitiram, submetendo-as a uma espécie de sistematização, muitas crenças e superstições verdadeiramente populares. Porém, ao lado delas encontram-se práticas e fórmulas, não só de uma procedência - digamo-lo por analogia com o que se dá na linguagem - erudita, mas mesmo completamente alheia ao génio nacional. A língua latina é por vezes empregada nessas fórmulas, e ainda quando expressas na língua vulgar, são as reminiscências bíblicas e apocalípticas que lhes constituem o fundo. (...) Nada mais alheio ao espírito popular, do que, por exemplo, os textos das diversas cartas de tocar (talismãs) empregadas pelos nossos feiticeiros, o conteúdo de muitas fórmulas, a disposição de diversas cerimónias e invocações. Pelo contrário, a crença nas bruxas é uma superstição genuinamente popular, embora não seja exclusivamente nacional e se encontre, em muitos povos, sobretudo, e sem contar com os Latinos, entre os Germanos e os Eslavos.
A bruxa não é tão-pouco a fada. Esta concepção do maravilhoso do nosso povo tem principalmente uma feição benéfica. (...) A bruxa é uma entidade muito diversa. Ainda que por vezes, e nos próprios contos populares, ela se confunda com a fada o seu carácter é essencialmente maléfico. Nas fadas há um vago eco de uma concepção de justiça. (...) A bruxa pelo contrário é um génio malfazejo, e o mal que faz, vai recair sobre os mais inofensivos entes, como acontece as crianças de mama, às quais chupa o sangue. Não trataremos aqui de investigar se esta concepção das bruxas é o resultado da transformação por que o Cristianismo fez passar a reminiscência das antigas sacerdotisas pagãs, depois de ter reduzido os Deuses, a Cujo culto elas estavam ligadas, ao tipo do Diabo medieval. É provável que assim seja. A estreita dependência em que, com efeito, as bruxas estão do Diabo, na concepção popular, é entre outros, um argumento a favor desta hipótese. (...) A feiticeira é uma mulher, de ordinário velha e hedionda, e sem possuir poderes ilimitados ou extra-humanos, a não ser a evocação do seu patrono ou dos seus delegados, e o conhecimento de drogas, ingredientes e feitiços, com que realiza os prodígios da sua arte. (...) Pouco se distanciam das nossas actuais Mulheres de Virtude a não ser pela extensão dos seus poderes.
A bruxa porém, tal como ainda hoje nela acredita o povo das nossas aldeias, é muito mais do que isto. Segundo a tradição, as bruxas começaram por ser feiticeiras, e depois de terem comunicação com o Diabo, este as induz com falsas promessas a serem bruxas, exigindo para isso delas um certo número de votos e juramentos. (...)
Fonte citada: «Contribuições para uma Mitologia Popular Portuguesa e Outros Escritos Etnográficos», de Consiglieri Pedroso, Publicações Dom Quixote, Colecção Portugal de Perto, págs. 95 e seguintes.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Navegar é preciso

ATENAS — Uma pesquisa realizada por arqueólogos em Creta, sul da Grécia, comprovou pela primeira vez que os ancestrais do homem navegaram há mais de 130.000 anos, anunciou nesta segunda-feira o ministério grego da Cultura.
Ao final de dois anos de escavações em torno da localidade de Plakia, no sul da Ilha de Creta, uma equipe greco-americana descobriu pedras talhadas do período paleolítico, datando entre 700.000 e 130.000 anos, informou o ministério em comunicado.
Estas descobertas, que atestam pela primeira vez uma instalação de hominídeos na ilha, antes do neolítico (7.000 - 3.000 anos a.C.), trazem à luz, também, "a mais antiga prova de navegação no mundo", segundo o comunicado.
Ferramentas, um tipo de "machado", foram encontradas junto aos vestígios de uma "plataforma marinha remontando a pelo menos 130.000 anos (...) o que comprova viagens marítimas no Mediterrâneo, realizadas dezenas de milhares de anos mais cedo em relação aos nossos conhecimentos", revelou o ministério.
As descobertas, junto da muito turística praia de Preveli, "modificam também as estimativas sobre a capacidade cognitiva das primeiras espécies humanas", com as ferramentas encontradas, que nos reenviam à população do "homo erectus e do homo heidelbergensis", acrescentou o comunicado.
Segundo os responsáveis pelo estudo, o americano Thomas Strasser e a grega Eléni Panagopoulou, as escavações dão uma nova visão à história "da colonização da Europa por hominídeos vindos da África", até então considerada como feita a pé.
"A visão de um povoamento da Europa apenas por terra deve ser repensada (...) houve, talvez, rotas marítimas usadas por navigadores em longas distâncias" escreveram os cientistas num artigo publicado por Hespéria, o boletim da Escola americana de arqueologia de Atenas.
Revelaram, no entanto, não poder determinar de onde provinham os hóspedes paleolíticos de Creta, "de origem africana ou do Oriente Médio, sendo também provável uma hipótese de procedência da Anatólia ou da Grécia continental".
Fonte: AFP [link morto]

Casamento de serpentes

Kandal, Camboja, 3 Jan 2011 (AFP) -Centenas de cambojanos participaram nesta segunda-feira na curiosa e inédita cerimônia de casamento de duas cobras pítons, que, segundo a crença, traz boa sorte.
A união da noiva Chamreun com o noivo Krong Pich aconteceu numa cidade da província de Kandal, sul da capital Phnom Penh, e atraiu cerca de mil pessoas.
"Organizamos o casamento das pítons para espantar as coisas ruins e trazer boa sorte e felicidade para nossa cidade", informou Neth Vy, o dono de Chamreun.
Neth Vy contou ainda que cria Chamreun em casa desde 1994, depois de capturar a cobra em um lago.
Ele disse que havia perdido a cobra durante um mês, mas que ela foi achada na semana passada, na época em que seus vizinhos encontraram uma cobra macho, que recebeu o nome de Krong Pich.
Os habitantes do lugar resolveram casar as duas cobras depois que um menino da localidade, que supostamente recebe espíritos, disse que Krong Pich queria casar com Chamreun ou "as pessoas da cidade sofreriam com doenças e azar".
Segundo a tradição local, o casamento entre pítons atrai boa sorte e harmonia para os habitantes.
"Por isso realizamos o casamento das pítons com as bênçãos de monges budistas", explicou o orgulhoso proprietário da cobra fêmea.
Muitas pessoas ofereceram dinheiro e oraram pelos ofídios durante a cerimônia.
Os cambojanos são muito supersticiosos, principalmente no interior, onde as pessoas continuam misturando práticas animistas com o budismo.
Fonte: G1
Nota da casa: Como é de se esperar, a Imprensa Brasileira noticia este evento por puro preconceito contra religiões e crenças não-cristãs. Nosso provincianismo considera tudo que não é cristão ou científico ou racional de "superstição".

O curandeiro muçulmano

"O senhor é muçulmano, Dr. Amir?" A pergunta me pegou de surpresa, como pegaria a qualquer psiquiatra americano cuidadoso em revelar informações pessoais.
Mas estávamos no Iraque, onde a religião é um elemento central para a vida e para a identidade das pessoas.
Então, após uma leve pausa, respondi com uma afirmativa tímida ao mulá que eu tinha ido ver.
O mulá Eskandar era um curandeiro - um homem de aparência jovem, bronzeado e de barba, que usava uma túnica branca e fluida e um solidéu combinante.
Sentado sobre um tapete na área da recepção com um pôster gigante da Kaaba sagrada de Meca, ele emanava autoridade e sabedoria, apesar da sua relativa juventude.
Tinha ouvido falar de curandeiros em minhas viagens ao Iraque.
Eles eram alternadamente difamados como charlatões que vitimavam uma população supersticiosa ou admirados por preencherem um vazio, particularmente nos cuidados à saúde mental, num país que presenciou um verdadeiro êxodo de médicos.
Assim, quando um colega iraquiano se ofereceu para me apresentar ao curandeiro, eu agarrei a oportunidade.

O caminho de um curandeiro é árduo, disse o mulá Eskandar, falando em curdo.
"Essa vocação", ele continuou, "é reservada a homens religiosos e espirituais".
O mulá prosseguiu, recontando seus 15 anos de aprendizagem com um renomado curandeiro, que o ensinou a essência do tratamento espiritual, da lei islâmica e das tradições proféticas.
Sua descrição me fez lembrar dos meus próprios anos na faculdade de medicina e no treinamento da residência médica, que foram longos e difíceis.
"Mais de 80% dos meus pacientes são mulheres", continuou.
"Elas sofrem de insônia, dor de cabeça, depressão e problemas conjugais".

Ele se esforçou para explicar que não aceitava dinheiro não vendia qualquer utensílio, ao contrário de um xeque ali perto "que vende mel aos pacientes - ele está mancomunado com o diabo".
"O que eu faço é como sua profissão, que tem médicos bons e ruins", ele prosseguiu.
"Os que se importam com os pacientes e os que só estão em busca de recompensas materiais".
O mulá explicou que trabalhava como clérigo assalariado numa mesquita durante a semana, e que suas atividades de cura eram reservadas para as sextas-feiras, dia do descanso.
A única recompensa que ele buscava, como comentou, era na vida após a morte.
Positivamente surpreso com a aparente integridade do mulá, aceitei o convite que ele faz a mim e ao meu colega para conhecer seu trabalho de perto.
O primeiro paciente a entrar em sua área de recepção foi uma jovem mulher, que usava uma roupa vermelha florida típica dos moradores de zonas rurais do leste do Curdistão.
Ela estava enfeitada com pulseiras e brincos de ouro, os dedos cobertos de pontos de tatuagem e hena.
Como a maioria das mulheres iraquianas solteiras, ela estava acompanhada da família: um pai pesado e de bigode, e uma mãe observadora.
A mãe explicou que, desde que a filha ficou noiva de um parente, ela apresentava ataques de desmaio, pesadelos, mau humor e incapacidade de caminhar.
A família tinha consultado um clínico geral, que a indicou a um neurologista, em vão.
Ela continuava a desmaiar quando se falava em casamento - até mesmo ficando agitada com a possibilidade do noivado iminente da irmã mais nova.
Conforme a mãe continuava a narrativa, meu colega iraquiano se inclinou e cochichou um diagnóstico no meu ouvido: "transtorno de conversão".
Esse transtorno é bem conhecido dos profissionais de saúde mental: antes chamado de histeria, ele é geralmente deflagrado ou piorado por um agente estressante bem definido, como o noivado, e seus sintomas muitas vezes envolvem funções motoras ou sensoriais.
Assim como as mulheres judias jovens, de classe média e seculares que buscaram a ajuda de Freud na Viena do século 19, as mulheres iraquianas muitas vezes se veem entre tradições antigas e necessidades pessoais numa sociedade global - e cada vez mais recorrem à medicina interna, psicologia ou curandeiro para aliviar esses sintomas.
O mulá Eskandar convidou as jovens mulheres a sentar numa cadeira alta (na verdade, uma torre de seis cadeiras de plástico empilhadas e começou a entoar um verso do Corão no ouvido direito da jovem, implorando pela ajuda de Deus e alertando sobre as tentações do demônio.
Então ele explicou que a jovem mulher estava possuída por um gênio, um tipo de espírito do mal que o Corão culpa por semear maldade e doença no mundo - neste caso, espalhar a discórdia na família da jovem ao perturbar seu casamento.
Para banir o gênio, o mulá Eskandar prescreveu um regime de orações, banhos diários e perfume de água de rosas.
E aconselhou a paciente sobre as responsabilidades de uma filha que se casa e a felicidade que a esperava quando ela tivesse sua própria família.
Ocorreu-me que os rituais do mulá Eskandar, particularmente este aconselhamento tranquilizador, parecia uma imitação da nossa terapia de apoio muitas vezes praticada na medicina ocidental.
Sua opinião respeitável e sua aparente empatia, além de sua habilidade em realinhar a visão da mulher para uma perspectiva mais positiva, pareceram dar à jovem certo conforto imediato.
Além disso, culpar o gênio permitia à família ver o mau comportamento da jovem como uma aberração e colocar a responsabilidade sobre um ser sobrenatural, em vez de nela própria.
Meu colega iraquiano concordou que, apesar de sua própria perspectiva fortemente secular, ele ainda acredita que curandeiros honestos desempenham um importante papel num país destruído pela guerra e que sofre com uma grave escassez de profissionais de saúde mental.
Vim ao Iraque profundamente descrente quanto a suas tradições de tratamentos religiosos folclóricos.
Para minha surpresa, encontrei um curandeiro preocupado que às vezes tem mais sucesso no tratamento de pessoas com problemas mentais do que os poucos psiquiatras treinados e clínicos gerais do país.
O exemplo do mulá Eskandar nos mostra que o progresso psiquiátrico não pode ser alcançado apenas pela ciência de ponta - ele só pode ser obtido quando o cuidado orientado ao paciente é prioridade.
Fonte: Yahoo! Notícias [link morto]
Nota da casa: O Islamismo, assim como o Judaísmo e o Cristianismo, assimilou diversas crenças e práticas regionais nativas por onde passou. Sacerdotes, sacerdotisas, áugures, curandeiros tiveram que se adaptar para sobreviverem, para manterem a tradição, a sabedoria e o conhecimento milenar. A grosso modo, estas crenças e práticas assimiladas são resquícios do que se chama Paganismo.