Causa-me risos ver Cristãos tentando [inútilmente] refutar os pensadores antigos, especialmente quando o pensamento desafia a doutrina limitada do Cristianismo.
O paradoxo de Epicuro diz:
Deus deseja prevenir o mal, mas não é capaz? Então não é onipotente.
É capaz, mas não deseja? Então é malevolente.
É capaz e deseja? Então por que o mal existe?
Não é capaz e nem deseja? Então por que lhe chamamos Deus?
Então, um cristão [católico], cita parcialmente a coluna de Hélio Schwartsman que diz:
Com efeito, a contradição entre a ideia de um bem absoluto e o mal visível é conhecida desde a Antiguidade. Atribui-se a Epicuro o seguinte dilema: Se Deus é bom e onipotente, não poderia haver mal sobre a Terra; havendo, ou Deus não quer acabar com o mal --e não é benevolente-- ou não pode fazê-lo --e não é onipotente. (Poderíamos, é verdade, reduzir o dilema a um problema de linguagem e, portanto, a um falso paradoxo: a questão é insolúvel porque foi mal formulada; não posso exigir nem de um Ser Supremo que aja contraditoriamente. Mas, com essa interpretação, perderíamos toda a graça do debate metafísico).
Helio Schwartsman não deve ter entendido o paradoxo de Epicuro, pois um paradoxo não é um dilema e a questão não é de linguagem, mas de ética. Mas como o paradoxo incomoda aos Cristãos, tenta-se desviar do paradoxo, reduzindo-o à uma questão mal formulada e, portanto, insolúvel. Não procuram responder porque sabem que isto os levaria a questionar a base ética do Deus Cristão e é insolúvel porque o Deus Cristão é amoral.
E o cristão [católico] comemora uma falsa vitória:
[O texto de Schwartsman] Só queria apontar que (a) Epicuro é um falso paradoxo, como o próprio articulista comenta; (b) o mal não é uma “aparência”, e sim uma ausência; e (c) é interessantíssimo que o articulista reconheça que o acaso, “a ausência de propósito”, são insuportáveis ao ser humano.
Que foi derrubada com um único comentário:
A despeito do esforço do articulista, o paradoxo de Epicuro resiste.
Se o problema do mal é ausência, permanece o paradoxo, pois se teu Deus é onipotente e onipresente, como pode haver ausência?
O paradoxo de Epicuro é um desafio aos teístas, não porque questiona o problema do mal - fato, ação, circunstãncia - mas porque questiona a presunção das crenças humanas ao atribuir a um (ou mais) Deus(es) a Bondade, a Justiça, a Onipotência, a Onipresença e a Onisciência. Este era o cerne da questão quando Epicuro escreveu seus pensamentos, uma época em que as cidades-estado da Grécia Antiga concentravam o poder político, econômico e religioso; uma época quando o Politeísmo começava a se transformar em Monoteísmo; uma época onde começava a ter uma religião de Estado, uma religião nacional.
Nesta Era dos Impérios, uma transformação se operava no espírito humano, mas ainda assim se buscava um respaldo, uma base, uma consagração na Religião Antiga. Uma vez consolidada a transformação, a organização social e política na Idade Antiga foi determinada pela religião de Estado, pela religião nacional, pela religião do Império.
Com o colapso do Império Romano, a organização política ficou com os Bárbaros e a estrutura religiosa do Império ficou com a Igreja. Assim como os reis bárbaros haviam assimilado a cultura romana, os sacerdotes cristãos haviam assimilado a filosofia grega. Assim como os reis bárbaros usaram o poder militar dos romanos, os sacerdotes cristãos usaram o poder da retórica grega.
A Idade Média foi uma época de estagnação na filosofia. Mesmo os pensadores apologéticos, como Santo Agostinho e Tomás de Aquino, não se aprofundaram nas questões filosóficas, apenas repetiam ou citavam os pensamentos de Aristóteles. A Igreja nunca consegui refutar completamente os trabalhos de Epicuro, Celsus, Juliano e outros.
O paradoxo deixa de ser um desafio simplesmente refutando a premissa de que um (ou mais) Deus(es) deve(m) ser bom(ns), justo(s), onipotente(s), onipresente(s) e onisciente(s). Na concepção dos povos antigos, conservada nos mitos, os Deuses demonstravam ter um comportamento assombrosamente humano. Mesmo os Deuses seguiam determinados padrões de ética e moral.
Nos dias atuais, a humanidade vê sacerdotes de uma religião majoritária dar mais importância às doutrinas de suas crenças do que aos valores humanos. Diante disso, é necessário retomar os questionamentos, contestar, resistir e, por fim, apostatar. Está na hora da humanidade acabar com a tirania da Igreja. Está na hora do ser humano retomar o domínio de sua vida.
PS: há que se anotar que o "Paradoxo de Epicuro" não é de autoria do mesmo, foi-lhe atribuído por Lactâncio.