sábado, 31 de outubro de 2009
Halloween na Casa Branca
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
Diwali, o Ano Novo dos Hindus
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Curiosa confissão
Chega a ser uma confissão ao deparar com um texto intitulado "Apologia ao preconceito" [extinto] no blog do Roberto Cavalcanti. Meu xará deveria ter lido, antes de começar seu texto, a seguinte definição do Wikipédia:
De modo geral, o ponto de partida do preconceito é uma generalização superficial, chamada estereótipo. Exemplos: "todos os alemães são prepotentes", "todos os norte-americanos são arrogantes", "todos os ingleses são A roupagem ética do preconceito enquanto patrulhamento ideológico é o igualitarismo. frios".
Observa-se então que, pela superficialidade ou pela estereotipia, o preconceito é um erro. Entretanto, trata-se de um erro que faz parte do domínio da crença, não do conhecimento, ou seja ele tem uma base irracional e por isso escapa a qualquer questionamento fundamentado num argumento ou raciocínio.
Partindo dessa premissa, passemos à análise do texto:
Em teoria, o preconceito em si não é bom nem mau. Pode ser certo ou errado, conforme ele venha a se aproximar ou não de um conceito. Por isso o preconceito só possui valor prático. O preconceito funciona como um juízo pré-concebido; como uma ideia não muito amadurecida sobre determinado objeto, muito aproximada da ideia de estereótipo. Um estereótipo não é o preconceito em si, mas uma espécie do gênero preconceito.
O autor não cita qual é essa "teoria" nem o autor desta que afirma que o preconceito em si não é bom nem mau. O preconceito se baseia não em um raciocínio, mas em uma concepção pré-estabelecida, incutida na mente do indivíduo, partindo de visões generalizantes ou estereotipadas a respeito de algo ou alguém. A função do preconceito é o sectarismo, uma ilusão muito empregada por determinados grupos para se sentirem "melhores" ou "superiores", moral, social, politica, cultural ou religiosamente em relação aos objetos, comportamentos ou grupos que são, por prepotência e arrogância dos primeiros, "menores" ou "inferiores".
O estereótipo comumente se baseia num juízo formado acerca de determinado fato pela sua observação sistemática e repetitiva.
Estereótipo é a imagem preconcebida de determinada pessoa, coisa ou situação.[Wikipédia]
Estereótipo: substantivo, conceito infundado sobre um determinado grupo social, atribuindo a todos os seres deste grupo uma característica, frequentemente depreciativa; modelo irrefletido, imagem preconcebida e sem fundamento.[Wikicionário]
Portanto, não há juízo algum no estereótipo, não há uma observação "sistemática e repetitiva", mas uma visão incutida nos indivíduos, partindo da generalização.
Há um motivo para que o autor parta da desconstrução da palavra "preconceito" que é, curiosamente, criticar o "politicamente correto", sendo que o autor parte de um [ou vários] preconceito para definir a ação do [digamos] "patrulhamento ideológico":
A palavra “preconceito” virou uma espécie de mantra politicamente correto. É utilizada de forma tão recorrente para censurar a veiculação de determinados argumentos, que vem funcionando hoje quase como um reflexo incondicionado destinado a silenciar interlocutores.
Sutilmente [ou nem tanto, ao menos para mim] o autor descreve a crítica como censura, mas censura o uso da palavra "preconceito" nas críticas a determinados argumentos. Em breve saberemos a quais argumentos, afinal o autor está apenas no preâmbulo de sua premissa.
A roupagem ética do preconceito enquanto patrulhamento ideológico é o igualitarismo.
O autor falha, pois não explica nem argumentou como ou porque a roupagem ética do preconceito seja o igualitarismo. A crítica a algum argumento, especialmente os que usam a palavra "preconceito" visa exatamente desfazer a generalização ou a falta de fundamento que existe no argumento criticado.
Isto porque a igualdade virou um princípio ético em praticamente todas as legislações dos países ocidentais.
O princípio da igualdade tornou-se um conceito ético e virou lei nos países civilizados para evitar ou limitar as ações violentas, de um grupo ou de uma sociedade, tendo por base o estereótipo e o preconceito contra outro grupo, geralmente minoritário.
Assim, o igualitarismo é tolerante às diferenças e desigualdades, exceto, logicamente, a quem se oponha a tais misturas indiscriminadas, que é logo vítima da intolerância dos igualitaristas, com o rótulo de preconceituoso.
O princípio da igualdade e as leis baseadas nele é exatamente o direito à diferença, mas que, obviamente, deve combater o preconceito, uma vez que este não se baseia no respeito à diferença.
Fato é que a ausência de preconceitos conduz à ausência de distinções de qualquer natureza e vislumbra uma sociedade igualitária. Assim, induz-se promiscuidades de toda ordem sob o pretexto de combate ao preconceito.
O princípio da igualdade não elimina as distinções, as elogia e garante espaço para que todas se manifestem igualmente, sem as distorções incutidas pelo preconceito.
A demonização do preconceito responde pela ruptura com qualquer ideia de hierarquia, seja social, cultural ou moral, com vistas à produção de uma sociedade sem classes. Qualquer diferenciação valorativa deve ser abolida.
O princípio da igualdade coloca a hierarquia em seu devido lugar, como função em relação a algo ou alguém, dentro de um contexto. Fora do contexto, a hierarquização torna-se um preceito exatamente para que um grupo arroga a si mesmo a posição prepotente como sendo "melhor" ou "superior" a outro grupo, ou seja, um preconceito.
O princípio da igualdade não tira nem abole o valor da diferenciação, mas os garante para que todas as diferenciações possam coexistir no espaço social, para evitar que se façam julgamentos morais baseados no preconceito.
A ciência, regra geral, parte de determinadas observações preconceituosas.
A Ciência é o conhecimento ou um sistema de conhecimentos que abarca verdades gerais ou a operação de leis gerais especialmente obtidas e testadas através do método científico.
A palavra ciência, no seu sentido estrito, se opõe à opinião (doxa em grego), e ao dogma, afirmação por natureza arbitrária.[wikipédia]
Funcionam como o núcleo da produção científica, pois cientistas costumam partir de pressuposições (preconceitos) para confirmarem ou não uma tese (conceito), ou seja, através da produção científica, um conhecimento inseguro (preconceito) torna-se seguro (conceito).
Os cientistas partem de uma hipótese [uma teoria provável mas não demonstrada, uma suposição admissível], não de um preconceito [um conceito infundado não é provável nem admissível].
Na "Política", afirmou Aristóteles que "se o homem, chegado à sua perfeição, é o mais excelente dos animais, também é o pior quando vive isolado, sem leis e sem preconceitos".
Isto é muito natural, pois o isolamento é causa de auto-destruição, a ausência de leis implica na preponderância perene do mais forte sobre o mais fraco e a ausência de preconceitos desmoraliza e desnorteia a sociedade.
Curiosamente eu não encontrei a passagem citada pelo autor, mas esta:
Pois se o homem, ao atingir sua máxima realização, é o melhor dos animais, também é, quando está afastado da lei e da justiça, o pior de todos eles.
O princípio da igualdade deve combater o preconceito porque este não possui moral alguma, visto que parte de um conceito sem fundamento. O princípio da igualdade é observado por países civilizados, tanto pelos que são comunistas quanto os que são capitalistas.
Sem a separação clara dos bons e dos maus costumes, que ensejaria uma visualização clara dos bons e maus cidadãos, e nisso estabelecer discriminações, parece ter como seus fins últimos inviabilizá-las, proibindo toda sorte de proselitismos neste sentido.
A Bíblia é um manual de preconceitos e discriminações.
Começa-se a vislumbrar a real intenção e questão do autor. Ele quer fazer uma apologia ao preconceito com a intenção de justificar ou defender [daí a necessidade de uma apologia] o "direito" que os cristãos fundamentalistas se dão de serem preconceituosos sob a guarida da religião. A bíblia tem preceitos, não preconceitos, que são direcionados ora ao povo Judeu [portanto, não aos Cristãos], ora aos Cristãos [portanto, não a toda a sociedade].
Quando escolhemos previamente determinados locais a serem frequentados ou pessoas a serem evitadas. Baseando-se na ideia de estereótipo, o ser humano tira conclusões antecipadas sobre determinado objeto e, com tais conclusões psiquicamente enraizadas, tende a tomar rápidas e objetivas decisões. Assim, o preconceito serve como norma de prudência para onde quer que rumamos.
Quando escolhemos os locais que frequentamos e pessoas que evitamos, isso se chama bom senso, não preconceito. Toda escolha é feita tendo por base a reflexão, levando em consideração fatos reais, não os incutidos por meio do preconceito.
Um grande malefício no combate aos preconceitos é o de minar a capacidade reflexiva do ser humano, por censurar seu espírito crítico. A capacidade crítica do ser humano é condicionada por certas barreiras que ele não pode romper, sob pena de chegar a conclusões ideologicamente indesejadas.
A capacidade reflexiva e o espírito crítico do ser humano não devem ser baseados em preconceitos, visto que são infundados. Ao aceitar ser condicionado pelas barreiras incutidas pelo preconceito, o ser humano deixou de ter tal capacidade crítica, torna-se uma marionete.
O que se quer ocultar do público nessa pretensa "defesa do preconceito" é que se tenta usar a religião como desculpa. Este discurso em defesa do preconceito, de um cristão fundamentalista, sequer pode ser intitulado de "opinião", mas sim de sentença arbitrária, baseada em uma interpretação distorcida e tendenciosa da religião cristã. Nem se trata de defender a capacidade crítica do ser humano, mas de garantir e resguardar o totalitarismo arbitrário dessa interpretação distorcida e tendenciosa, que quer impingir seus preconceitos, escondidos sob a capa da crença, de forma covarde e hipócrita.
domingo, 25 de outubro de 2009
Curiosa interpretação
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Doutrina de Georgius Gemistos Pleto
1) A primeira destas diz respeito aos Deuses: que Eles são. Um dos Deuses é Zeus, o supremo soberano, ao mesmo tempo o maior e o melhor que é possível ser. Está por cima de toda esta ordem e é singularmente a mais alta Divindade. É no Seu próprio ser e na sua integralidade completamente não gerado; é pai e o mais alto dos criadores de todos os outros Deuses. O seu filho mais velho, também sem mãe, e segundo Deus, é Poseidon. Assuntos secundários foram conferidos por Zeus a Poseidon, que é mestre de todas as coisas que não são do Alto; e, além disso, Poseidon é a origem e o criador dos céus. Usa os outros Deuses como coadjuvantes, como irmãos, todos eles sem mãe e supercelestiais - aqui Se incluem tanto os Olimpianos como os Tartáreos. Gerou com Hera, uma Deusa que produz matéria, outros Deuses no seio dos céus, tanto a geração celestial das estrelas como a geração ctónica e os espíritos que estão por natureza perto de nós. Em Hélios, o mais velho dos Seus próprios filhos, depositou a Sua confiança como mestre dos céus, e, além disso, Hélios é a fonte das coisas mortais que aí se encontram. Todavia, Ele conseguiu isto com Kronos, um dos Titãs do Tártaro e Seu líder.
Os Tartáreos são diferentes dos Deuses Olímpicos. Os Olimpianos são os criadores e regedores dos imortais nos céus, mas os Tartáreos governam os mortais aqui; portanto, Kronos dos Tartáreos, Ele próprio líder dos Titãs, governa sobre todos os mortais. Hera, a segunda após Poseidon entre os Olimpianos, é a criadora e regedora da matéria mais elevada, em si mesma indestrutível. Fez isto pelas coisas feitas em conjunto com Poseidon. Poseidon manda em toda a forma tanto dos imortais como dos mortais. É o mestre no Universo. Verdadeiramente ordenou toda a ordem. Uma vez que Zeus, sozinho na Sua singularidade da Sua mais alta Divindade, governa à parte e acima do Universo. Que seja esta então a primeira doutrina que alguém compreende e em que acredita.
2) A seguir, que estes Deuses fazem por nós. Por um lado, Eles salvaguardam-Se a Si mesmos de imediato, por outro, através de Si mesmos seguram o que Lhes é inferior, e todos são inteiramente colocados no seu devido lugar de acordo com as leis de Zeus.
3) A seguir, que Eles não são responsáveis por quaisquer males, nem no Universo nem para nós, no entanto, são os principais responsáveis pelas coisas boas.
4) E em adenda a estas coisas, por um destino inalterável e inexorável derivado de Zeus, cada qual cumpre o seu propósito de acordo com o melhor. Estas são as doutrinas que dizem respeito aos Deuses.
5) A respeito do universo, primeiro que o universo é eterno. Tanto o segundo como o terceiro nível dos Deuses está nele. Este universo foi concebido por Zeus; não teve início no tempo nem terá um fim.
6) A seguir, que dos muitos universos, foi ajuntado numa unidade.
7) A seguir, que o melhor do possível foi feito, de tal modo que nada foi deixado de fora e tudo o que lhe fosse acrescentado seria excessivo.
8) Além disso, o que foi estabelecido desta forma irá sempre ser preservado sem perturbação. Estas são então as doutrinas sobre o universo.
9) A respeito de nós próprios, primeiro que a nossa alma, sendo da mesma espécie que os Deuses, é imortal e permanece neste universo durante todo o tempo e é eterna.
10) A seguir, que a alma é enviada cá para baixo pelos Deuses com o propósito de tomar um corpo mortal, uma vez num corpo, noutra vez noutro corpo, em nome da harmonia do Universo. Que, mesmo que tenhamos uma parte nas coisas mortais, algo em nós é dos imortais e esta é a nossa forma. Deste modo, o universo em si próprio está unido a si mesmo.
11) A seguir, que o bem está em nós, naturalmente através dos nossos laços aos Deuses, e este é o objectivo da vida.
12) Além de tudo isto, deve também ser sabido que a nossa felicidade está na nossa parte imortal, posta aí pelos Deuses que unem a nossa gente, e essa é a substância e mais importante parte do homem.
Estas, doze ao todo, são as principais doutrinas a respeito dos Deuses, deste universo e da nossa natureza. Se alguém, motivado pela prudência referentes ao que é necessário, quiser também ser realmente prudente, deve então saber e estar consciente destas coisas.
Fonte: Gladius
PS: Georgius Gemistos [1355-1452] foi um filósofo e erudito grego neoplatônico, um dos pioneiros no revival do aprendizado dos mestres gregos no início da Renascença na Europa Ocidental.
Seu platonismo, no qual se mesclam elementos neoplatônicos, neopitagóricos e aristotélicos, configura-se como um emanatismo aonde a alma é uma emanação das idéias, que por sua vez emanan do Uno, ou de Deus e aspira a uma restauração do politeísmo grego, ao qual devia subordinar-se o cristianismo.[wikipédia]
Notadamente, a concepção de Georgius reflete a degeneração da religião pré-cristã que existia na Grécia no século XIV-XV, algo que teve início na chamada Era Dourada, quando as cidades-estado da antiga Grécia tentavam a todo custo estabelecer o domínio destas sobre as cidades rurais, através da propagação dos ideais filosóficos "racionais" contra os "supersticiosos", os ideais "civilizados" contra os "selvagens", os ideais "urbanos" contra os "rurais".
sábado, 17 de outubro de 2009
Religião popular venezuelana
Saber, o Pecado Original
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
A origem do Logos
A cultura helênica, já bastante vasta, se expandiu primeiramente por todo o Oriente, no espaço maior criado por Alexandre Magno e seus sucessores seleucidas e ptolomeus. Nesta primeira fase verifica-se a atuação das assim chamadas escolas pós-socráticas, dos peripatéticos, acadêmicos, epicuristas, estóicos, céticos.
Na segunda fase do período helênico-romano acontece uma tendência ecleticista, com a penetração do pensamento de umas escolas no das outras. O platonismo penetra no aristotelismo. O pensamento cético em crescimento invade por sua vez o platonismo, de onde resulta a expressão neo - acadêmicos. Cresce também o ativismo religioso, com o domínio final das religiões orientais, sobretudo do cristianismo, num processo todavia bastante ecleticista. Nesta segunda fase acentua-se a importância do neoplatonismo, quer helênico, com Plotino, quer judaico e cristão.
O neopitagorismo e o neoplatonismo se desenvolvem com alguma autonomia em relação à Academia; no fundo, entretanto, se trata de um só grande contexto, tendente a um saber racionalista independente da razão fundada na experiência e de tendência para uma fonte mística, em que também participam as religiões de então, o gnosticismo, o judaísmo e o cristianismo.
O neoplatonismo seria a tendência mais influente em filosofia na Antigüidade tardia. Buscando interpretar o trabalho de Platão, Plotino criou um sistema filosófico vigoroso, iniciado no século III, que iria durar até o século VI, com o fechamento da academia platônica por Justiniano em 529 [DC]. Deixando uma influência profunda na tradição européia em filosofia, literatura, arte e religião.
Durante todo esse tempo teremos filósofos que não separarão o pensamento racionalista e o elemento espiritual. Uma forma holística de ver as coisas que não separava a necessidade do raciocínio lógico com a intuição, ao contrário a dialética era a base pra quê se pudesse cair numa percepção intuitiva da essencialidade das coisas.
Juntando os elementos pitagóricos e platônicos há uma visão de mundo em que se conjugam a busca pelo sagrado e a especulação filosófica, ou seja, no mesmo período em que se desenvolvia o naturalismo racionalista, se desenvolvia os sistemas filosóficos transcendentes, que permaneceu durante o processo e que no período helenístico, ganha um espaço maior, através do processo de interações culturais com uma série de religiões e filosofias orientais, entrando em contato com estas porém sem perder as características básicas. Tendo uma visão de filosofia em que a hierofania, o ato de manifestação do sagrado não passava por um processo de fé, mas sim através da reflexão filosófica, de um certo ascetismo e da meditação.
Pela volta do século 1º AC as idéias trinitárias penetram a filosofia. Tais idéias trinitárias, existentes nos mitos das religiões orientais, ganham agora um embasamento filosófico. O ser é apresentado como polivalente e emanando, de tal maneira que no alto se encontra o Uno, a seguir o Logos, em terceiro lugar a Alma do mundo. Finalmente derivam as almas individuais e a matéria. Por espécie de retorno mental, ou místico, se processa a marcha inversa, pela qual a alma humana finalmente se extasiava em união com o Uno.
Variações secundárias ocorriam entre os filósofos, mas que não retiram a mentalidade geral do movimento. Criava-se, assim, uma filosofia de embasamento para as teologias trinitárias. Por isso mesmo adquiriu importância histórica a filosofia místico-platônica dos primeiros séculos cristãos, notadamente o neopitagorismo, o neoplatonismo judaico e finalmente o neoplatonismo de Plotino.
O neoplatonismo pode ser considerado como o último e supremo esforço do pensamento clássico para resolver o problema filosófico, que tinha encontrado um obstáculo intransponível no dualismo e racionalismo gregos - dualismo e racionalismo que nem sequer o gênio sintético e profundo de Aristóteles conseguiu superar. O neoplatonismo julga poder superar o dualismo, mediante o monismo estóico, na qual o aristotelismo fornece sobretudo os quadros lógicos; e julga poder superar, completar, integrar a filosofia mediante a religião, o racionalismo grego mediante o misticismo oriental, proporcionando o racionalismo grego especialmente a forma, e o misticismo oriental o conteúdo.
Será acentuado o dualismo platônico entre sensível e inteligível, entre matéria e espírito, entre finito e infinito, entre o mundo e Deus: primeiro, identificando, por um lado, a matéria com o mal, e elevando, por outro lado, o vértice da realidade inteligível ao suprainteligível e, em segundo lugar, elaborando uma moral ascética e mística, em relação com tal metafísica, a qual, todavia, se esforçará por unificar os pólos opostos da realidade, fazendo com que da substância do Absoluto seja gerado todo o universo até a matéria obscura.
O racionalismo lúcido dos gregos se une aos fervores do misticismo oriental. Apesar das denegações dos céticos e da propaganda materialista dos epicuristas, nunca os homens foram tão famintos de Deus quanto nessa época. As religiões de salvação, o culto de Mitra, de Ísis, então se desenvolvem. O cristianismo tomará impulso. Preocupações filosóficas e religiosas se unem estreitamente. Os filósofos, além da verdade suprema, buscam a salvação. Os homens piedosos querem fundamentar suas crenças filosoficamente.
O neoplatonismo afirma certa transcendência de Deus, em que este é imaginado como o suprainteligível. Por isso, é inefável e pode ser atingido na sua plenitude unicamente mediante o êxtase, que é uma fulguração divina, superior à filosofia. Com esta doutrina do êxtase, em que é afirmada uma relação específica com a Divindade, parece abrir-se o caminho para uma nova filosofia religiosa.
De Afrodite a Apolo
A primeira mudança ocorreu na forma de subsistência, de caçadores-coletores passamos a criadores-cultivadores. Apenas com essa forma de economia se tornou possivel ocorrer um fator crucial para a segunda mudança, que é a produção de excedentes.
A segunda mudança ocorreu na forma da propriedade, de comunitária passamos à privada. A posse da terra, da riqueza e da produção passa para as mãos de quem consegue concentrar mais riqueza pela produção de excedentes. O sistema capitalista é o desenvolvimento desta forma de economia. Apenas com a forma da propriedade privada se tornou possivel ocorrer o fator crucial para a terceira mudança, que é a produção de tecnologias.
A terceira mudança ocorreu na forma de ocupação, passsamos de grupos pequenos (clãs) e de habitações rústicas (tribos) para grupos compostos (sociedades) e de habitações refinadas (cidades), passamos do ambiente rural para o ambiente urbano. A vida na cidade passou a se destacar e se distanciar da vida no campo. Com a concentração da propriedade, do excedente e da tecnologia na cidade se tornou possivel ocorrer o fator crucial para a quarta mudança, que é a produção de ideologias.
A quarta mudança ocorreu na forma de crença, passamos do Politeismo para o Monoteismo, passamos da concepção do divino como imanente para transcendente, passamos da concepção da humanidade como sagrada para maldita, passamos da percepção da comunhão para o conflito entre o espírito e a carne.
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Adonis, um titulo, um nome, um Deus
Adonis vem do título Cananeu, Adon. A palavra semítica para "mestre" ou "senhor" e "i" significa "meu", portanto Adonai (Adonis é a versão helenizada) se traduz como "meu senhor", similar ao significado de Baal.
Adonis tem duas origens: Chipre e Biblos. Em Chipre, seu pai era o rei Theias ou Cíniras; sua mãe era Mirra, a filha do rei. Em Biblos, é Fenix, pai dos Fenícios.
Nos templos fenícios, as mulheres se prostituíam em serviço da religião, crendo que assim propiciariam a Deusa e ganhariam seu favor. Em Chipre, aparentemente antes do casamento todas as mulhrees eram formalmente obrigadas a se prostituirem a estranhos no santuário da Deusa e dedicar à Deusa os ganhos auferidos em seyu sagrado meretrício.
Em Fenício haviam duas palavras que significam "senhor": Baal e Adon. Baal tem uma identidade especial para os fenícios como a divindade masculina primária. Assim, Baal não estava disponível como nome para as divindades cipriotas nativas, os Cipriotas chamavam a seu Deus de Wanax, que significa "senhor", os Fenícios nomearam essa divindade nativa com a outra palavra para "senhor": Adon.
Os Gregos tomaram a administração de Idália dos Fenícios por volta de 300 BC. A linguagem principal era o Fenício, quando os Gregos chegaram. Então pode ter sido natural para os Gregos acharem que Adon era o nome da divindade local, não um título. O nome Adon foi então helenizado, adicionando o prefixo grego "is", criando o familiar Adonis.
Na bíblia, o Deus Israelita Yahweh é ocasionalmente referido por Adon, com o termo sendo usado como título, não como nome pessoal de Yahweh. Eventualmente, o nome "Adonai" (meu Senhor) tornou-se um nome substitutivo para pronunciar o indizível nome Yahweh nas preces. nos dias de hoje, quando os Judeus encontram as consonantes YHWH nas preces, eles pronunciam "Adonai". Eles ficariam chocados em ver que esta substituição está relacionada ao "Adon" Fenício e ao "Adonis" Grego-Cipriota. Mais adiante, Muçulmanos e Cristãos que falam Aramaico/Siríaco Judaico/Arábico ficariam chocados em ver que suas palavras para Deus vem do nome do deus Fenício de "El", como em Elah, Allah, Elahona, Eloh, Elohaino, Eli, Eloi, Elohak, etc.
Aniconismo e o uso de uma pedra erigida são características das práticas de culto Israelitas. Portanto, se há alguma conexão entre a crença na antiga Chipre e na antiga Israel, o elo são os Fenícios. A religião popular entre os Israelitas embora oposta à religião oficial promovida na bíblia hebraica era similar á religião Fenícia. A bíblia apresenta um puro, monoteismo elitista devotado exclusivamente ao culto a Yahweh. as facções grupos ortodoxas, nacionalistas, que produziram a bíblia hebraica proscreveram a adoração a Baal e suprimiu tudo menos os traços tênues de uma teologia que incluíam uma consorte de Yahweh. Mas tanto Baal quanto sua Deusa continuaram a viver nas práticas religiosas populares Israelitas como também nas práticas Fenícias.
Fonte: Phoenicia Org.
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Identidade de gênero - identidade cultural
O que é o Patriarcado
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Sexo na comunhão com o sagrado
O masculino, assim como o feminino, é incompleto até se unirem. Diziam os antigos que a unificação física com a mulher era um dos poucos meios do homem se tornar espiritualmente completo e assim poder chegar à gnose, ao conhecimento do lado divino quando ainda encarnado. Um ponto básico do misticismo do Antigo Egito prendia-se ao Mito de Osíris onde consta haver ele sido dividido em pedaços e espalhados pela terra, e que Isis começou a junta-los para reconstituí-lo . No sentido simbólico isso mostra a importância do masculino pelo Divino Feminino cuja meta é o da completitude do masculino – Osíris – é através da União com o divino feminino – Isis.
Outras cosmogonias, motivadas pelo predomínio social do masculino, colocaram a fracionabilidade como sendo inerente ao pólo feminino, assim criaram a Eva Bíblica. Inverteram os pólos tirando a incompletitude – fragmentação – do pólo masculino e colocando-a no feminino. Eliminaram o Divino Feminino, apagaram o papel de Isis. Expurgaram o Divino Feminino substituindo-o pelo masculino, desde então o masculino passou a ser o lado Salvador.
Os egípcios, tendo ciência da divisão de Osíris, primava pela união das partes, do masculino com o feminino para se complementarem e constituírem a unicidade.
A sociedade separatista afastou a mulher do sagrado chegando a colocá-la no lugar de causadora do “pecado original” e consequentemente descriminá-la em uma posição de inferioridade e de gênese de todos os males oriundos da fracionabilidade.
No Antigo Egito a posição da mulher era deveras respeitável, seus direitos eram praticamente iguais aos do homem, pois os sacerdotes sabiam do Divino Feminino. Na verdade a figura de Isis no mínimo era tida como igual para igual com a de Osíris. Por isso, ali os ritos sexuais eram considerados uma forma de ligação entre o inferior e o superior, por meio dos quais o ser podia vivenciar, mais que um prazer erótico, vivenciar um estado de êxtase no qual ficava com a mente totalmente vazia, afastada de tudo o que constitui predomínio da mente e assim poder “ver” Deus.
O modo como os Mestres da antiguidade encaravam o sexo é totalmente diferente, diametralmente o oposto ao modo como o encaramos hoje em dia. Eles não consideravam a supremacia do lado erótico, o da gratificação dos sentidos físicos. Sabiam que o sexo é que possibilita a caiação de novas vidas, o milagre dos milagres, e só um deus podia realizar milagres.
Nesse contexto a união sexual tem também o seu lugar no processo é manifestação da espiritualidade, e nesse sentido transcende um nível mais elevado do que um simples ato prazeroso, uma cerimônia profundamente sacrossanta.
O conceito de sexo como caminho para Deus, a princípio, era mesmo um tanto espantoso, embora muitas Tradições envolvesse o sexo ritualístico praticado dentro dos Templos. Os templos da antiguidade diferiam dos de hoje em que eles existem como local para oração. No passado muitos aspectos da espiritualidade eram praticados nos templos.
Os primeiros judeus acreditavam que o Santo dos Santos do Templo de Salomão abrigava não só Deus, como também sua poderosa consorte feminina, Shekinah (sentido simbólico). Daí, os homens que buscavam a integridade espiritual vinham também ao Templo visitar sacerdotisas – ou hierodulas – com quais faziam amor e assim experimentar o Divino através da união física.
O uso do sexo pela humanidade para comungar diretamente com Deus representava uma séria ameaça à base do poder da Igreja Católica. Aquilo deixava a Igreja de fora, debilitando o status que ela mesma se atribuíra de único caminho para Deus. Por isso a Igreja fez de tudo para demonizar o sexo e reinterpretá-lo como um ato pecaminoso e repulsivo.
Embora nossa herança milenar e nossa própria fisiologia nos digam que o sexo é natural – um caminho muito puro para a evolução espiritual – mesmo assim, a religião moderna o deprecia considerando-o vergonhoso, ensinando-nos a temer os nossos desejos sexuais como se fossem inspirações demoníacas.
Autor: Laércio do Egito
A Prostituta Sagrada
A prostituta sagrada era uma mulher humana que encarnava a deusa do amor. Representava a sexualidade da mulher sendo reverenciada; havia vínculo entre a espiritualidade e a sexualidade pois, surgiu dentro do sistema religioso matriarcal. Portanto, a Prostituta Sagrada é paixão, espiritualidade e prazer.
Caso o princípio patriarcal não seja contrabalançado pelo princípio feminino, tem-se uma vida, em certa medida, estéril.
A deusa do amor e a prostituta sagrada são dimensões do princípio de Eros. A deusa e a prostituta sagrada são arquétipos e, por isso, não podem ser integradas totalmente; apenas aspectos parciais chegam à consciência.
A prostituta profana, ao contrário da sagrada, tinha uma vida difícil e era representante do lado negativo da sexualidade feminina.
A prostituição sagrada era um ritual do matrimônio sagrado, onde feminino e masculino se uniam sem qualquer preponderância, era a união da espiritualidade e da sexualidade. Já a prostituição profana declarava a separação absoluta da sexualidade e da espiritualidade.
Com a preponderância do dinamismo patriarcal sobre o matriarcal foi retirado o aspecto sagrado do feminino, ele foi rechaçado, associado ao demoníaco, ao pecado. Assim, a deusa deixou de ser venerada. A Igreja Católica separou o corpo da espiritualidade e tudo o que dizia respeito ao corpóreo estava passível de ser associado ao pecado e afastamento da religiosidade/espiritualidade.
A rejeição do que representava a prostituta sagrada traz insatisfação e neuroses tanto para as mulheres que dissociaram a sacralidade de seu corpo da alma, como para os homens que encontrarão intensas dificuldades no relacionamento com a sua anima como com as mulheres em geral.
A mulher que se permite reconhecer e conhecer a deusa interior (parte feminina do Self) valoriza-se, cultua-se, embeleza-se, mas não para satisfazer seu próprio ego ou de outros, mas sim por valorizar e reverenciar o feminino em si. Isso a leva a não supervalorizar a aprovação ou desaprovação dos outros; sabe o que quer, o que é bom para si mesma.
O feminino é, comumente, representado pela Lua. A mulher e a lua possuem fases, de um crescente de energia até seu total resplendor declinando até seu recolhimento e obscuridade.
Praticamente, todas as deusas que representam o amor e a paixão possuíam um filho-amante, que devia ser sacrificado. Com isso, toda mulher deve sacrificar, abandonar esse aspecto do maternal, seja de viver única e exclusivamente para satisfazer os desejos de seu filho como de viver as realizações dele como se fossem suas. Mas um parceiro, um marido pode representar esse filho-amante. Se a mulher não faz tal sacrifício de renunciar o desejo de controle e poder do ego, nenhum dos dois poderá crescer, há um vínculo simbiótico de mútua dependência. Se o homem não se libertar da mãe ou mulher possessiva, será incapaz de manter um relacionamento maduro.
Esta renúncia de algo tão precioso, carregada de emoções pranteadas é uma das tarefas mais árduas e de mais difícil integração, das faces da deusa. Para o homem, também, é algo muito doloroso pois terá que abandonar uma posição confortável infantil para tornar-se realmente um homem. Ele deve libertar-se das garras da mãe e da anima para poder, finalmente, encarar o feminino e a deusa sem medo; para render-se ao seu poder transformativo.
É através da imagem arquetípica da prostituta sagrada que a mulher consegue compreender os atributos da deusa do amor. E cabe aqui lembrar que o arquétipo da Prostituta Sagrada, também, é uma parte da Anima do homem.
Um dos exemplos mitológicos sobre uma mulher mortal encarnando os atributos da deusa é Ariadne (Teseu e o Minotauro) que é um mito correlato a libertação da mulher de sua identificação com o papel de filha do pai.
“A prostituta sagrada é a mulher humana que através de ritual formal ou de desenvolvimento psicológico, conseguiu conscientemente conhecer o lado espiritual do seu erotismo, e vive-o na prática, de acordo com suas circunstâncias individuais".
O ARQUÉTIPO DO ESTRANHO
Nos cultos a deusa do amor, um emissário dos deuses ou mesmo um deus disfarçado, vinha para se relacionar com a prostituta sagrada, consagrando, assim, o ritual. Analogamente, nos processos psicológicos, o “estranho” revela um aspecto inconsciente que se faz consciente e promove a mudança. Denomina-se de estranho, também, por causar uma sensação de algo estranho ou diferente ocorrendo. É o princípio masculino, um aspecto do Animus.
As mulheres que são frias emocionalmente, ou que apresentam ressentimentos profundos com relação ao homem ou que são promiscuas, são aquelas que vivenciam o Animus negativo (aspectos do Animus que denotam que ele não foi integrado, aparecendo como uma voz crítica) que as impede de vivenciar o amor. O Animus positivo, aquele que foi integrado, que penetrou o feminino, proporciona à mulher aspectos positivos em seu cotidiano. Dá-lhe segurança, confiança, abolindo a submissão, os sentimentos de inferioridade da sociedade patriarcal. Cabe lembrar que integrar o Animus não significa identificar-se com o mesmo, ou seja, a mulher não precisa atuar no mundo como um homem, nem possuir suas características. Portanto, não se trata de masculinização.
O MATRIMÔNIO SAGRADO
O ritual do matrimônio sagrado é a representação simbólica da união dos opostos, do masculino e do feminino diferenciados. Ele ocorre tanto na vida psíquica aparecendo em sonhos, como no mundo exterior através da união de duas pessoas.
O ARQUÉTIPO DA PROSTITUTA SAGRADA E O HOMEM
Como toda mulher carrega em si sua porção masculina – o Animus, o homem carrega sua porção feminina – a Anima, que é um elemento de propulsão e transformação na psique masculina. Ela, como o Animus, apresenta inúmeras facetas: a donzela, a mãe, a bruxa, a sereia, a prostituta, etc. Se o homem não integrar sua Anima acabará por se relacionar com a mulher e com o feminino de maneira equivocada e que lhe trará muitas dificuldades no relacionamento, pois impede que ele se relacione com a mulher de verdade.
O adultério e o divórcio são conseqüências da maneira como o homem lida com sua Anima não integrada. Para fugir da Anima-Mãe ele assume a Anima-Esposa. Mas após a chegada dos filhos, a esposa se transformando em mãe e se identificando mais com esse atributo passa a ser vista pelo homem como Anima-Mãe. E ele vai buscar a Anima-Mulher-Fêmea novamente. Com essas dificuldades para lidar com o feminino, o homem acaba por se afastar do mundo dos sentimentos, que pertence aos domínios do feminino.
ESTÁGIOS DA ANIMA
Jung descreveu quatro estágios do desenvolvimento da Anima que são análogos aos da Prostituta Sagrada:
- 2º estágio: HELENA: no qual a anima utiliza-se da sedução, com beleza e graça, ela não é mais apenas um objeto sexual.
- 3º estágio: VIRGEM MARIA: implica na transcendência do físico e do sexual, onde há uma ligação com divino.
- 4º estágio: SOFIA: a sabedoria divina.
Autora: Gabriela Peixoto [Copiado do Portal Paganus][original perdido]
sábado, 10 de outubro de 2009
As origens antigas do conto-de-fadas
Um estudo realizado por antropólogos explorou as origens dos contos populares e traçou a relação entre as diversas variantes das histórias relatadas por culturas ao redor do mundo. Os pesquisadores adotaram técnicas utilizadas pelos biólogos para criar a árvore taxonômica da vida, que mostra como cada espécie vem de um ancestral comum. Assim temos uma espécie de histórico evolutivo que nos trouxe estes clássicos literários.
Dr. Jamie Tehrani, um antropólogo cultural na Universidade de Durham, estudou não uma, mas 35 versões de “Chapeuzinho Vermelho” de todo o mundo. Embora a versão europeia conte a história de uma menina que é enganada por um lobo mau – que pega as criancinhas pra fazer mingau – disfarçado de sua avó, na versão em chinês de um tigre substitui o lobo. Enquanto isso, no Irã, seria considerado estranho para uma menina de andar sozinha com uma cesta; logo, a história tem um menino.
Contrariamente à visão de que o conto surgiu na França pouco antes de Charles Perrault produzir a primeira versão escrita no século XVII, o Dr. Tehrani descobriu que as variantes partilham um ancestral comum que remonta mais de 2.600 anos! Segundo o pesquisador, “com o tempo, esses contos populares têm sido sutilmente mudados e evoluíram como um organismo biológico. Porque muitas delas não foram escritas até muito mais tarde, eles foram relembradas de forma incorreta ou mesmo reinventadas através de centenas de gerações”.
No melhor estilo “telefone-sem-fio”, as histórias foram “evoluindo”, no sentido que em cada lugar que eram contadas, elas sofriam adaptações. À semelhança do processo evolutivo biológico, as adaptações que se identificavam com o lugar permaneciam, caso contrário, caíam no esquecimento. Isso é explicável pelo fato de mantermos vivas em nossas mentes eventos que nos foi simpáticos, recebendo o nome de memória afetiva. Da mesma forma, quando uma história é engraçadinha (menininhas saltitando pela floresta, carregando guloseimas), guardamo-nas em nossas melhores lembranças. Se fosse hoje em dia, seria difícil, pois o lobo seria taxado de pedófilo, e aquela parte que ele come a vovozinha (no sentido antropófago, por gentileza) seria considerado como algo de brutalidade horrível para com nossas crianças. Tais histórias só são perpetuadas graças às nossas melhores lembranças.
Do ponto de vista do pesquisador, ao olhar para como esses contos populares espalharam-se e mudou, talvez eles nos digam algo sobre a psicologia humana e que tipo de coisas que nós encontramos de memorável. O mais velho conto encontrado foi uma fábula de Esopo, datada aproximadamente do século VI AC, de modo que o último ancestral comum de todos estes contos certamente precedeu a este, e o Dr. Tehrani está convencido de que este é um conto muito antigo que evoluiu ao longo do tempo. Segundo suas pesquisas, foram identificadas 70- variáveis no enredo e personagens envolvidos nas diferentes versões de Chapeuzinho Vermelho.
A versão em francês de Perrault foi recontada pelos irmãos Grimm, no século XIX. Dr Tehrani disse: “Nós não sabemos muito sobre os processos de transmissão dessas histórias de cultura para cultura, mas é possível que eles podem ser passados ao longo das rotas de comércio ou com a circulação de pessoas”.
Professor Jack Zipes, um professor aposentado de alemão na Universidade de Minnesota – especialista em contos de fadas e suas origens – descreveu o trabalho como “excitante”. Ele acredita que contos populares possa ter ajudado as pessoas a passar dicas de sobrevivência para as novas gerações. Segundo ele: “Chapeuzinho Vermelho é sobre a violação ou estupro, e eu suspeito que os seres humanos eram tão violentas em 600 AC como são hoje, para que eles tenham trocado contos sobre todos os tipos de atos violentos”.
Dificilmente um conto surge do nada em sua forma mais desenvolvida, e sim sendo refinado a cada vez que é contado, como os grandes épicos da literatura mundial, como Eneidas de Virgílio, por exemplo.
Pescado do Ceticismo