sábado, 31 de outubro de 2009

Halloween na Casa Branca

Deu nos jornais internacionais e em alguns locais a festa de halloween que aconteceu na Casa Branca:

Sasha e Malia Obama, as filhas do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, receberão 2 mil crianças amanhã na Casa Branca para a tradicional festa norte-americana do Halloween. Os convidados são todos estudantes de ensino fundamental e médio que foram convidados pelo presidente e pela primeira-dama dos Estados Unidos, Michelle Obama. Desta forma, na noite de amanhã, 2 mil crianças provenientes dos estados de Maryland e Virginia, e do Distrito de Columbia pedirão doces aos adultos nos jardins da Casa Branca. Apesar de o número de convidados para a festa infantil já ser elevado, inicialmente era ainda Maior, já que o convite foi mandado para muitas outras crianças, devido a um erro no sistema de envio de e-mails. Em seguida, foi preciso enviar uma outra mensagem de desculpas pelo equívoco e de esclarecimento sobre quais escolas estavam realmente convidadas para a festa típica. A Casa Branca não informou mais informações sobre a comemoração do Halloween. Mas segundo o jornal Washington Post, durante a festa haverá uma exibição do Chicago's Redmoon Theatre, especializado em criar espetáculos fantásticos ao ar livre.[Ansalatina][link morto]

Por algumas horas da semana, estudantes de 30 escolas de Washington DC acreditaram que ganhariam um presente especial neste Halloween: convite para uma festa particular na Casa Branca que acontecerá neste sábado, informa o jornal "Washignton Post". Mas os jovens se depararam com a realidade dias depois ao descobrirem que um superintendente de Educação acidentalmente encaminhou o convite para todas as escolas, em vez de apenas algumas selecionadas. A Casa Branca tradicionalmente recebe alguns estudantes locais. Desta vez, 2.500 alunos do Ensino Fundamental e suas famílias foram convidados. E a convocação faria sentido, já que os dias de Malia e Sasha pedirem doces na casa da vizinhança - tradição americana no Dia das Bruxas - acabaram. A lista de convidados inclui famílias de militares, alunos de áreas afastadas e mil crianças de escolas de diferentes bairros da capital americana. Mais detalhes da cerimônia não foram divulgados, mas há boatos de que uma companhia de teatro vai se apresentar para a platéia.[O Globo][link morto/indisponível]

Evidentemente, o Vaticano criticou a festa como sendo "anti-cristã", esquecendo que a festa foi celebrada pela primeira vez nos EUA, um país fundado por pessoas Cristãs, que levaram os costumes da Inglaterra de celebrar o Dia dos Mortos [Dia de Finados no Brasil], cuja origem remonta à cultura Celta e às crenças que existiam na Europa antes do Cristianismo. Como se a humanidade ainda ouvisse ou obedecesse ao Vaticano. Vamos comemorar e, como diz a Musa Nana Odara, vamos gozar na cara dos caretas.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Diwali, o Ano Novo dos Hindus

"Os indianos definem a data do seu ano novo através de estudos astronômicos, mas geralmente é em outubro (em alguma regiões da Índia, o mês pode ser outro).
Este ano, a festa tem o seu ápice no dia 18, mas os preparativos já começam cinco dia antes, no dia 14", explica Fernanda Payo, diretora da academia Shiva Nataraj Danças e Práticas.
O calendário hindu varia conforme as regiões, pode ter início na lua nova ou cheia, mas de forma geral é baseado no movimento lunar e compreende doze meses de 29 dias e meio.
Os doze meses completam um total de 354 dias, ou seja, 11 dias de menos do calendário solar. O ano novo dos indianos é conhecido como a Festa das Luzes (Diwali), marcada pelo retorno da deusa Lakshmi (ou Laxmi), símbolo de prosperidade.
A celebração é repleta de história e vários significados, um deles indica o retorno de Rama e Sita, reencarnações de Vishnu, deus sustentador do universo, e de Lakshmi, que foi resgatada das mãos do demônio Ramavana.
Esses deuses só conseguiram enxergar o caminho de volta porque o povo deixou a floresta toda iluminada.
Por este motivo, as casas recebem durante os cinco dias de comemorações muitas luzes e incensos. São limpas e decoradas com lamparinas de óleo. À noite familiares e amigos trocam presentes ao redor de muita música e pratos típicos, além de estourar fogos de artifício com a intenção de destruir as forças do mal.
"Aqui no Brasil, as comemorações são mais tímidas, geralmente em um dia só. Mas a festa sempre começa com um puja (oferendas) à Ganesha, e no desenrolar da noite há muita dança, música e teatro, além de entoação de mantras, sempre com lamparinas acesas. Há ainda a encenação das partes do Ramayana, semelhante à Paixão de Cristo", explica.
A diretora que estuda a cultura indiana montou um espetáculo baseado na festa com cinco atos, que simbolizaram os dias de preparação. As coreografias apresentadas neste sábado, dia 10, encenaram a preparação do Diwali.
"Lá na Índia, no primeiro dia são feitas orações à deusa Lakshimi para pedir prosperidade no ano que se inicia. Já na manhã do segundo dia, chamado de Chhoti Diwali ou pequeno Diwali, as mulheres se ocupam em fazer bonitos e coloridos Rangolis na entrada das casas. São mandalas coloridas feitas de areia tingida", explica a diretora.
O terceiro dia é considerado o mais auspicioso e dedicado ao apaziguamento de Lakshmi, por isso a casa fica extremamente arrumada e iluminada, pois a deusa gosta de limpeza. Há também a explosão de fogos de artifício nas ruas.
"O dia seguinte ao Amavasya é conhecido como Gudi Padwa, um símbolo de amor e devoção entre a mulher e o marido. Neste dia, recém-casados e filhas com seus maridos estão convidados para refeições especiais. As esposas aplicam tilakan vermelho em seus maridos como símbolo de amor eterno e fazem orações pedindo saúde e longa vida aos seus companheiros".
Segundo Fernanda é lembrado nesta data o episódio em que Krishna elevou o Monte Govardhan com o dedo mindinho, abrigando toda a humanidade de um dilúvio, dessa forma grandes montanhas de alimentos são oferecidas aos necessitados como forma de agradecimento.
"O último dia lembra o episódio em que Yamaraj foi para a casa da sua irmã, que colocou em sua testa uma marca auspiciosa para o seu bem-estar. Assim, neste dia, as irmãs fazem puja para seus irmãos desejando segurança e bem-estar. E os irmãos dão presentes em troca, para como um símbolo do amor", finaliza.
Fonte: Vila Mulher.[link morto]

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Curiosa confissão

Como se não bastasse distorcer os fatos ou citar de forma tendenciosa e desonesta artigos científicos, eis que os cristãos fundamentalistas avançam em mais uma categoria - a distorção dos conceitos das palavras, de seus significados e dos valores que estas palavras representam.
Chega a ser uma confissão ao deparar com um texto intitulado "
Apologia ao preconceito" [extinto] no blog do Roberto Cavalcanti. Meu xará deveria ter lido, antes de começar seu texto, a seguinte definição do Wikipédia:

Preconceito é um juízo preconcebido, manifestado geralmente na forma de uma atitude discriminatória perante pessoas, lugares ou tradições considerados diferentes ou "estranhos". Costuma indicar desconhecimento pejorativo de alguém, ou de um grupo social, ao que lhe é diferente. As formas mais comuns de preconceito são: social, racial e sexual.
De modo geral, o ponto de partida do preconceito é uma generalização superficial, chamada estereótipo. Exemplos: "todos os alemães são prepotentes", "todos os norte-americanos são arrogantes", "todos os ingleses são A roupagem ética do preconceito enquanto patrulhamento ideológico é o igualitarismo. frios".
Observa-se então que, pela superficialidade ou pela estereotipia, o preconceito é um erro. Entretanto, trata-se de um erro que faz parte do domínio da crença, não do conhecimento, ou seja ele tem uma base irracional e por isso escapa a qualquer questionamento fundamentado num argumento ou raciocínio
.

Partindo dessa premissa, passemos à análise do texto:
Em teoria, o preconceito em si não é bom nem mau. Pode ser certo ou errado, conforme ele venha a se aproximar ou não de um conceito. Por isso o preconceito só possui valor prático. O preconceito funciona como um juízo pré-concebido; como uma ideia não muito amadurecida sobre determinado objeto, muito aproximada da ideia de estereótipo. Um estereótipo não é o preconceito em si, mas uma espécie do gênero preconceito.

O autor não cita qual é essa "teoria" nem o autor desta que afirma que o preconceito em si não é bom nem mau. O preconceito se baseia não em um raciocínio, mas em uma concepção pré-estabelecida, incutida na mente do indivíduo, partindo de visões generalizantes ou estereotipadas a respeito de algo ou alguém. A função do preconceito é o sectarismo, uma ilusão muito empregada por determinados grupos para se sentirem "melhores" ou "superiores", moral, social, politica, cultural ou religiosamente em relação aos objetos, comportamentos ou grupos que são, por prepotência e arrogância dos primeiros, "menores" ou "inferiores".

O estereótipo comumente se baseia num juízo formado acerca de determinado fato pela sua observação sistemática e repetitiva.
Estereótipo é a imagem preconcebida de determinada pessoa, coisa ou situação.[Wikipédia]
Estereótipo: substantivo, conceito infundado sobre um determinado grupo social, atribuindo a todos os seres deste grupo uma característica, frequentemente depreciativa; modelo irrefletido, imagem preconcebida e sem fundamento.[Wikicionário]
Portanto, não há juízo algum no estereótipo, não há uma observação "sistemática e repetitiva", mas uma visão incutida nos indivíduos, partindo da generalização.
Há um motivo para que o autor parta da desconstrução da palavra "preconceito" que é, curiosamente, criticar o "politicamente correto", sendo que o autor parte de um [ou vários] preconceito para definir a ação do [digamos] "patrulhamento ideológico":

A palavra “preconceito” virou uma espécie de mantra politicamente correto. É utilizada de forma tão recorrente para censurar a veiculação de determinados argumentos, que vem funcionando hoje quase como um reflexo incondicionado destinado a silenciar interlocutores.
Sutilmente [ou nem tanto, ao menos para mim] o autor descreve a crítica como censura, mas censura o uso da palavra "preconceito" nas críticas a determinados argumentos. Em breve saberemos a quais argumentos, afinal o autor está apenas no preâmbulo de sua premissa.

A roupagem ética do preconceito enquanto patrulhamento ideológico é o igualitarismo.
O autor falha, pois não explica nem argumentou como ou porque a roupagem ética do preconceito seja o igualitarismo. A crítica a algum argumento, especialmente os que usam a palavra "preconceito" visa exatamente desfazer a generalização ou a falta de fundamento que existe no argumento criticado.

Isto porque a igualdade virou um princípio ético em praticamente todas as legislações dos países ocidentais.
O princípio da igualdade tornou-se um conceito ético e virou lei nos países civilizados para evitar ou limitar as ações violentas, de um grupo ou de uma sociedade, tendo por base o estereótipo e o preconceito contra outro grupo, geralmente minoritário.

Assim, o igualitarismo é tolerante às diferenças e desigualdades, exceto, logicamente, a quem se oponha a tais misturas indiscriminadas, que é logo vítima da intolerância dos igualitaristas, com o rótulo de preconceituoso.
O princípio da igualdade e as leis baseadas nele é exatamente o direito à diferença, mas que, obviamente, deve combater o preconceito, uma vez que este não se baseia no respeito à diferença.

Fato é que a ausência de preconceitos conduz à ausência de distinções de qualquer natureza e vislumbra uma sociedade igualitária. Assim, induz-se promiscuidades de toda ordem sob o pretexto de combate ao preconceito.
O princípio da igualdade não elimina as distinções, as elogia e garante espaço para que todas se manifestem igualmente, sem as distorções incutidas pelo preconceito.

A demonização do preconceito responde pela ruptura com qualquer ideia de hierarquia, seja social, cultural ou moral, com vistas à produção de uma sociedade sem classes. Qualquer diferenciação valorativa deve ser abolida.
O princípio da igualdade coloca a hierarquia em seu devido lugar, como função em relação a algo ou alguém, dentro de um contexto. Fora do contexto, a hierarquização torna-se um preceito exatamente para que um grupo arroga a si mesmo a posição prepotente como sendo "melhor" ou "superior" a outro grupo, ou seja, um preconceito.

Se procura abolir qualquer diferenciação valorativa, logicamente combate-se igualmente a moral. Assim, no combate aos preconceitos combate-se a moral.
O princípio da igualdade não tira nem abole o valor da diferenciação, mas os garante para que todas as diferenciações possam coexistir no espaço social, para evitar que se façam julgamentos morais baseados no preconceito.

A ciência, regra geral, parte de determinadas observações preconceituosas.
A Ciência é o conhecimento ou um sistema de conhecimentos que abarca verdades gerais ou a operação de leis gerais especialmente obtidas e testadas através do método científico.
A palavra ciência, no seu sentido estrito, se opõe à opinião (doxa em grego), e ao dogma, afirmação por natureza arbitrária.[wikipédia]
Algo que pode ser testado e observado por métodos científicos, que se opõe ao dogma e à afirmação arbitrária dificilmente parte de observações preconceituosas.

Funcionam como o núcleo da produção científica, pois cientistas costumam partir de pressuposições (preconceitos) para confirmarem ou não uma tese (conceito), ou seja, através da produção científica, um conhecimento inseguro (preconceito) torna-se seguro (conceito).

Os cientistas partem de uma hipótese [uma teoria provável mas não demonstrada, uma suposição admissível], não de um preconceito [um conceito infundado não é provável nem admissível].

Na "Política", afirmou Aristóteles que "se o homem, chegado à sua perfeição, é o mais excelente dos animais, também é o pior quando vive isolado, sem leis e sem preconceitos".
Isto é muito natural, pois o isolamento é causa de auto-destruição, a ausência de leis implica na preponderância perene do mais forte sobre o mais fraco e a ausência de preconceitos desmoraliza e desnorteia a sociedade.

Curiosamente eu não encontrei a passagem citada pelo autor, mas esta:
Pois se o homem, ao atingir sua máxima realização, é o melhor dos animais, também é, quando está afastado da lei e da justiça, o pior de todos eles.

Quando o autor escolhe um trecho de Aristóteles de forma deliberada conforme lhe convém este pretende emprestar a propriedade do citado ou da obra escolhida ao seu próprio argumento, ele tem a intenção de convencer o leitor de que o que o autor afirma é certo ou verdadeiro. Entretanto a citação foi alterada, o que indica desonestidade intelectual e, ao apelar à propriedade do citado, indica uma falácia ad verecundiam.

A ética de combate ao preconceito é, como visto, uma retórica de fundo comunista, pois visa banir do nosso convívio a moralidade e substituí-la por uma ética igualitária.
O princípio da igualdade deve combater o preconceito porque este não possui moral alguma, visto que parte de um conceito sem fundamento. O princípio da igualdade é observado por países civilizados, tanto pelos que são comunistas quanto os que são capitalistas.

Sem a separação clara dos bons e dos maus costumes, que ensejaria uma visualização clara dos bons e maus cidadãos, e nisso estabelecer discriminações, parece ter como seus fins últimos inviabilizá-las, proibindo toda sorte de proselitismos neste sentido.
Aqui o autor tenta induzir o leitor de que este defende determinados valores universais, mas o preconceito não provém da distinção entre os costumes e os cidadãos, mas da estigmatização de uns em detrimento de outros. A discriminação, tanto dos costumes quanto dos cidadãos, não concede aos pertencentes à essas categorias qualquer privilégio ou preferência, não se tem um comportamento nem se é um cidadão "bom" somente por pertencer a esta categoria, não se é "melhor" ou "superior" que outros simplesmente por pertencer a determinada categoria.

A religião cristã é uma religião repleta de toda sorte de preconceitos e tem como base a Bíblia, como todos sabemos.
A Bíblia é um manual de preconceitos e discriminações.

Começa-se a vislumbrar a real intenção e questão do autor. Ele quer fazer uma apologia ao preconceito com a intenção de justificar ou defender [daí a necessidade de uma apologia] o "direito" que os cristãos fundamentalistas se dão de serem preconceituosos sob a guarida da religião. A bíblia tem preceitos, não preconceitos, que são direcionados ora ao povo Judeu [portanto, não aos Cristãos], ora aos Cristãos [portanto, não a toda a sociedade].

Quando escolhemos previamente determinados locais a serem frequentados ou pessoas a serem evitadas. Baseando-se na ideia de estereótipo, o ser humano tira conclusões antecipadas sobre determinado objeto e, com tais conclusões psiquicamente enraizadas, tende a tomar rápidas e objetivas decisões. Assim, o preconceito serve como norma de prudência para onde quer que rumamos.
Quando escolhemos os locais que frequentamos e pessoas que evitamos, isso se chama bom senso, não preconceito. Toda escolha é feita tendo por base a reflexão, levando em consideração fatos reais, não os incutidos por meio do preconceito.

Um grande malefício no combate aos preconceitos é o de minar a capacidade reflexiva do ser humano, por censurar seu espírito crítico. A capacidade crítica do ser humano é condicionada por certas barreiras que ele não pode romper, sob pena de chegar a conclusões ideologicamente indesejadas.
A capacidade reflexiva e o espírito crítico do ser humano não devem ser baseados em preconceitos, visto que são infundados. Ao aceitar ser condicionado pelas barreiras incutidas pelo preconceito, o ser humano deixou de ter tal capacidade crítica, torna-se uma marionete.
O que se quer ocultar do público nessa pretensa "defesa do preconceito" é que se tenta usar a religião como desculpa. Este discurso em defesa do preconceito, de um cristão fundamentalista, sequer pode ser intitulado de "opinião", mas sim de sentença arbitrária, baseada em uma interpretação distorcida e tendenciosa da religião cristã. Nem se trata de defender a capacidade crítica do ser humano, mas de garantir e resguardar o totalitarismo arbitrário dessa interpretação distorcida e tendenciosa, que quer impingir seus preconceitos, escondidos sob a capa da crença, de forma covarde e hipócrita.

domingo, 25 de outubro de 2009

Curiosa interpretação

Saulo de Tarso, um judeu que se converteu ao cristianismo e que adotou o nome de Paulo de Tarso, é o único apóstolo que se refere ao tema "homossexualidade", mas de modo nada explícito. Alguns autores recentes especulam que Paulo de Tarso (ou Saulo) era homossexual, mas escondia sua orientação sexual e vivia em conflito entre seus desejos e a sua fé judia. Apesar da afirmação não poder ser comprovada, é uma interessante teoria para se explicar a exacerbada hostilidade de Paulo com relação aos relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo, o qual reagia de forma muito exagerada e que revelava, implicitamente, algum medo interior. É ponto pacífico entre terapeutas que a maioria das pessoas que condenam a homossexualidade de forma radical possuem um medo inconsciente de serem elas próprias homossexuais e diante do ato de condenação procurarem disfarçar esta tendência ou orientação sexual.
As cartas de Paulo, com toda a certeza, não podem fornecer qualquer resposta específica aos anseios dos fundamentalistas que tentam justificar sua aversão à homossexualidade com bases bíblicas. Nos escritos de Paulo, nem a prática homossexual nem a promiscuidade heterossexual nem sequer outro vício específico é identificado como pecado.
Na sua visão do pecado fundamental, por exemplo, do qual todos os males particulares derivam, a idolatria é uma adoração que vem antes do Criador, pois admite que para se adorar um deus é necessário adorar sua imagem material.
À primeira vista, Paulo parece condenar a atividade homossexual. Paulo critica a atividade sexual que vai contra a natureza ou disposição da pessoa. Na sociedade grega daquela época, a homossexualidade e a bissexualidade eram vistas como uma atividade natural para algumas pessoas. Assim, Paulo poderia estar criticando heterossexuais que praticavam atos homossexuais, contra sua natureza.
Entretanto, Paulo era judeu e também poderia estar ridicularizando a rebelião religiosa pagã, dizendo que os pagãos conheceram Deus, mas adoraram ídolos ao invés de Deus. Ele se refere à práticas típicas de cultos de fertilidade envolvendo sexo entre sacerdotisas e entre homens e eunucos prostitutos como os que serviam à Afrodite, em Corinto, de onde ele escreveu a carta para os Romanos. Seus ritos de auto-castração resultavam numa "penalidade corpórea".
Naquele período, de acordo com historiadores, os homens usavam véus e cabelos compridos como sinal de sua dedicação à deusa, enquanto que mulheres não usavam véus e aparavam os cabelos para indicar sua devoção. Os homens se mascaravam como mulheres e, numa rara pintura de um vaso de Corinto, uma mulher está vestida em calças "equipadas" com o órgão sexual masculino. Em seguida, ela aparece dançando diante de Dionísio, uma divindade que tinha sido criada como menina e chamava-se a si mesma de "macho-fêmea".
A troca de sexo que caracteriza os cultos de tais deusas como Cibele, Afrodite, Artemis de Éfeso etc., eram mais assustadores, pois homens se auto-castravam voluntariamente e assumiam trajes de mulheres. Uma antiga gravura romana mostra um sacerdote de Cibele o qual está castrado, usando véu, colares, brincos e roupas femininas, tendo "trocado" sua identidade sexual e se tornado uma "sacerdotisa". Como tal, estes prostitutos religiosos se engajavam em orgias envolvendo o mesmo sexo nos templos pagãos por onde passavam as viagens missionárias de Paulo.
A concepção de Paulo da homossexualidade foi afetada pela atmosfera cultural do paganismo grego. A homossexualidade em si não é o tópico da discussão, mas sim a prática de um ato contra a natureza própria do ser. Assim, é contra a natureza de um homossexual viver o estilo de vida heterossexual e vice-versa. O ponto da passagem não é estigmatizar o comportamento sexual de qualquer forma, mas condenar os gentios por sua infidelidade.
O que é mais importante é que as pessoas que Paulo condena não são manifestamente homossexuais. O que ele derroga são atos homossexuais cometidos por pessoas aparentemente heterossexuais. Paulo está estigmatizando pessoas que têm ido além de sua própria natureza pessoal para cometer ator homossexuais. Especificamente, Paulo se refere a todos os atos sexuais entre pessoas e possivelmente animais, assim como no contexto de adoração de ídolos de falsos deuses.
Muitos se avançam em dizer que o verso 27 está se referindo à AIDS, sendo a presunção de Deus para o homem onde se lê "e eles receberam a devida pena pela sua perversão". Se isto é desta forma, então nós podemos usar a mesma lógica "boba" para dizer que a sífilis é a punição de Deus para os heterossexuais.
Na verdade, o argumento é muito ignorante. Paulo é claro referindo-se ao templo de prostituição e adoração de ídolos, especialmente dos deuses da fertilidade. Para alguns estudiosos, Paulo não estaria se referindo aqui à violação das leis da natureza de um modo geral, mas sim à violência contra a natureza própria de cada um. Neste sentido, seria o mesmo que um heterossexual se envolver em relações homossexuais por mero prazer ou mesmo violência, ou um homossexual se envolver em paixões heterossexuais, indo contra a natureza particular.
Novamente, aqui se faz necessária uma observação maior do contexto histórico-cultural do tempo em que o texto bíblico foi escrito. O texto é dirigido ao povo romano que, notoriamente, antes da conversão ao cristianismo, devotava adorações à inúmeros outros deuses, como Júpiter, Netuno, Diana etc. Em meio a isso, realizavam inúmeras festas pagãs, inclusive orgias sexuais visando a satisfação de seus deuses. Estas festas eram promovidas pelos imperadores romanos e envolviam também a prática de rituais sexuais por meio de violência, envolvendo tanto a prática de relações heterossexuais quanto homossexuais entre pessoas com estas orientações sexuais. Assim, homossexuais e heterossexuais tinham a obrigação de praticar sexo com indivíduos do sexo oposto para agradar aos deuses.
Observa-se, aqui, a alusão de Paulo, um judeu convertido, que viveu grande parte de sua vida sob a lei Mosaica, referindo-se unicamente à idolatria. Não queremos aqui justificar ou defender a prática dos rituais sexuais da Roma Antiga. Mas apenas demonstrar que toda forma de interpretação dos textos bíblicos deve ser cautelosa e levar em conta, também, o contexto histórico, social e cultural da época em que foi escrito.
Perto de Corinto havia um monte onde ficava o templo de Afrodite, a deusa do amor. Aqui, não menos do que mil garotas escravas serviam como escravas sagradas ligadas ao serviço do templo e dos adoradores que utilizavam seus serviços em orgias de adoração. Corinto era largamente conhecida como uma cidade de prazer e vício. A cidade recebeu este nome na língua grega através da expressão "korinthia kore", que significa "prostituta", e "korinthtazesthat" (divertir-se com a garota de Corinto) o que significava visitar uma casa de prostituição. Corinto era bem conhecida por seus bordéis, tanto masculinos quanto femininos.
Não é difícil perceber nesta passagem a mesma tendência de Paulo em escrever baseado em suas reminiscências judias. Corinto era uma cidade grega que praticava a idolatria, o paganismo e a prostituição visando agradar aos deuses. É importante notar que as palavras contidas nos versos tentam condenar tanto homossexuais quanto heterossexuais, pois tanto um quanto o outro é capaz de praticar bebedices, roubos e outras iniquidades. Não ocorre a condenação dos homossexuais, mas sim de todos aqueles que praticam o mal. Mas, antes de tudo, é importante não nos esquecermos do contexto histórico e cultural daquele tempo.
A atividade sexual entre pessoas do mesmo sexo que Paulo teria encontrado durante suas visitas missionárias estariam associadas à idolatria, pederastia ou prostituição. Muitas das uniões que eram comuns em Corinto eram também de natureza adúltera. Muitos dos homens que tinham jovens amantes do sexo masculino ou que praticavam atividades sexuais com pessoas do mesmo sexo nos templos tinham mulheres e filhos em casa.
Estas práticas sexuais, frequentemente, também envolviam escravidão. Inúmeros garotos eram comprados através do comércio de escravos e castrados para preservarem sua aparência juvenil para o prazer de seus mestres.
Para alguns autores, na época de Paulo havia somente um modelo básico de homossexualidade masculina no mundo greco-romano, o qual era a pederastia, a atividade sexual envolvendo um homem adulto e um garoto. Estes meninos eram sexualmente explorados pelos seus proprietários adultos. Os garotos desejados eram imberbes ou pelo menos sem barbas, assim se pareciam com "fêmeas". Estes homens tinham esposas, procriavam e tinham herdeiros. É provável que, ao se referir à homossexualidade masculina, Paulo pudesse estar se referindo à pederastia porque era o único modelo além das atividades nos templos. A Bíblia não diz nada específico sobre a homossexualidade como tal, sobre relacionamentos baseados em amor e respeito mútuos.
O curioso é que este texto foi copiado de "Deus e homossexualidade", de um site evidentemente cristão, mas com uma interpretação bem diferente das correntes ortodoxas e fundamentalistas. Não é novidade alguma ao eventual leitor deste blog que, na opinião desse escritor pagão, os fundamentalistas cristãos apenas estão querendo justificar o ódio, fazer apologia à intolerância, disfarçada como "direito de liberdade opinião, expressão e crença" mas, de fato, os interesses são outros e depõe contra a religião que dizem professar. Quando fatos são distorcidos, quando direitos são manipulados, usando como desculpa uma crença, a lei é o remédio, embora eu prefira a Revolução e a Apostasia.
PS: original perdido.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Doutrina de Georgius Gemistos Pleto

Estas são as principais doutrinas que devem ser conhecidas por quem for prudente:
1) A primeira destas diz respeito aos Deuses: que Eles são. Um dos Deuses é Zeus, o supremo soberano, ao mesmo tempo o maior e o melhor que é possível ser. Está por cima de toda esta ordem e é singularmente a mais alta Divindade. É no Seu próprio ser e na sua integralidade completamente não gerado; é pai e o mais alto dos criadores de todos os outros Deuses. O seu filho mais velho, também sem mãe, e segundo Deus, é Poseidon. Assuntos secundários foram conferidos por Zeus a Poseidon, que é mestre de todas as coisas que não são do Alto; e, além disso, Poseidon é a origem e o criador dos céus. Usa os outros Deuses como coadjuvantes, como irmãos, todos eles sem mãe e supercelestiais - aqui Se incluem tanto os Olimpianos como os Tartáreos. Gerou com Hera, uma Deusa que produz matéria, outros Deuses no seio dos céus, tanto a geração celestial das estrelas como a geração ctónica e os espíritos que estão por natureza perto de nós. Em Hélios, o mais velho dos Seus próprios filhos, depositou a Sua confiança como mestre dos céus, e, além disso, Hélios é a fonte das coisas mortais que aí se encontram. Todavia, Ele conseguiu isto com Kronos, um dos Titãs do Tártaro e Seu líder.
Os Tartáreos são diferentes dos Deuses Olímpicos. Os Olimpianos são os criadores e regedores dos imortais nos céus, mas os Tartáreos governam os mortais aqui; portanto, Kronos dos Tartáreos, Ele próprio líder dos Titãs, governa sobre todos os mortais. Hera, a segunda após Poseidon entre os Olimpianos, é a criadora e regedora da matéria mais elevada, em si mesma indestrutível. Fez isto pelas coisas feitas em conjunto com Poseidon. Poseidon manda em toda a forma tanto dos imortais como dos mortais. É o mestre no Universo. Verdadeiramente ordenou toda a ordem. Uma vez que Zeus, sozinho na Sua singularidade da Sua mais alta Divindade, governa à parte e acima do Universo. Que seja esta então a primeira doutrina que alguém compreende e em que acredita.
2) A seguir, que estes Deuses fazem por nós. Por um lado, Eles salvaguardam-Se a Si mesmos de imediato, por outro, através de Si mesmos seguram o que Lhes é inferior, e todos são inteiramente colocados no seu devido lugar de acordo com as leis de Zeus.
3) A seguir, que Eles não são responsáveis por quaisquer males, nem no Universo nem para nós, no entanto, são os principais responsáveis pelas coisas boas.
4) E em adenda a estas coisas, por um destino inalterável e inexorável derivado de Zeus, cada qual cumpre o seu propósito de acordo com o melhor. Estas são as doutrinas que dizem respeito aos Deuses.
5) A respeito do universo, primeiro que o universo é eterno. Tanto o segundo como o terceiro nível dos Deuses está nele. Este universo foi concebido por Zeus; não teve início no tempo nem terá um fim.
6) A seguir, que dos muitos universos, foi ajuntado numa unidade.
7) A seguir, que o melhor do possível foi feito, de tal modo que nada foi deixado de fora e tudo o que lhe fosse acrescentado seria excessivo.
8) Além disso, o que foi estabelecido desta forma irá sempre ser preservado sem perturbação. Estas são então as doutrinas sobre o universo.
9) A respeito de nós próprios, primeiro que a nossa alma, sendo da mesma espécie que os Deuses, é imortal e permanece neste universo durante todo o tempo e é eterna.
10) A seguir, que a alma é enviada cá para baixo pelos Deuses com o propósito de tomar um corpo mortal, uma vez num corpo, noutra vez noutro corpo, em nome da harmonia do Universo. Que, mesmo que tenhamos uma parte nas coisas mortais, algo em nós é dos imortais e esta é a nossa forma. Deste modo, o universo em si próprio está unido a si mesmo.
11) A seguir, que o bem está em nós, naturalmente através dos nossos laços aos Deuses, e este é o objectivo da vida.
12) Além de tudo isto, deve também ser sabido que a nossa felicidade está na nossa parte imortal, posta aí pelos Deuses que unem a nossa gente, e essa é a substância e mais importante parte do homem.
Estas, doze ao todo, são as principais doutrinas a respeito dos Deuses, deste universo e da nossa natureza. Se alguém, motivado pela prudência referentes ao que é necessário, quiser também ser realmente prudente, deve então saber e estar consciente destas coisas.
Fonte: Gladius
PS: Georgius Gemistos [1355-1452] foi um filósofo e erudito grego neoplatônico, um dos pioneiros no revival do aprendizado dos mestres gregos no início da Renascença na Europa Ocidental.
Seu platonismo, no qual se mesclam elementos neoplatônicos, neopitagóricos e aristotélicos, configura-se como um emanatismo aonde a alma é uma emanação das idéias, que por sua vez emanan do Uno, ou de Deus e aspira a uma restauração do politeísmo grego, ao qual devia subordinar-se o cristianismo.[wikipédia]

Notadamente, a concepção de Georgius reflete a degeneração da religião pré-cristã que existia na Grécia no século XIV-XV, algo que teve início na chamada Era Dourada, quando as cidades-estado da antiga Grécia tentavam a todo custo estabelecer o domínio destas sobre as cidades rurais, através da propagação dos ideais filosóficos "racionais" contra os "supersticiosos", os ideais "civilizados" contra os "selvagens", os ideais "urbanos" contra os "rurais".

sábado, 17 de outubro de 2009

Religião popular venezuelana

Foi publicado no G1: "Seguidores de deusa indígena se encontram na Venezuela. Adeptos de María Lionza fizeram evento anual no monte Sorte".

Apenas isso, mais nada, para noticiar uma legítima expressão de crença popular, resultado da mescla (sincretismo) de diversas crenças, como é comum na América Latina. Para saber mais dessa festa popular, desse folclore, eu recorro ao sagrado oráculo virtual, o Google, onde encontro notícias de los hermanos:

Milhares de devotos se consagraram à luz de velas em umas montanhas remotas que são o centro de peregrinação anual para venerar uma Deusa indígena mística venezuelana conhecida como María Lionza. Muitos fumam tabaco nos rituais de purificação, enquanto que outros fecham os olhos, deitados de boca para cima, rodeado de velas e em cima de elaborados desenhos pintados no solo com um pó branco. Os rituais se iniciaram na semana passada e se prolongaram até depois da meia-noite de 12 de Outubro, nas montanhas de Sorte, localizada a uns 290 km a ocidente de Caracas e próxima da cidade de Chivacoa. Alguns repetiam a palavra "fuerza" dançando em cima de brasas ardentes em uma cerimônia em honra à Deusa da madrugada de segunda. O culto a María Lionza, cujas referências datam de há mais de 500 anos, é uma mescla de indigenismo, espiritismo, afroamericanismo e catolicismo. Os crentes frequentemente pedem uma cura espiritual ou proteção contra bruxaria, ou trazem oferendas à Deusa em agradecimento pela cura de alguma enfermidade. A Venezuela é predominantemente católica. A hierarquia da Igreja Católica desaprova esse culto, mas há tempos que abandonou seus intentos para suprimi-lo. No ano de 1953 o ditador Marcos Pérez Jiménez, que era devoto da Deusa, ordenou instalá-la [sua estátua-NB] sobre um pedestal no meio da avenida que atravessa a cidade de leste a oeste. Este lugar é considerado pelos seus devotos como o centro energético da cidade. O ditador, que promoveu ativamente o estabelecimento de santos patronos em toda a Venezuela, esperava legitimar seu governo com a imagem da Deusa. Os seguidores de María Lionza regularmente deixam oferensdas de flores, licores, moedas ou frutos nos santuários em honra à Deusa ou de outros santos populares. Copiado do El Nuevo Herald.[link morto]

O culto a María Lionza se remonta ao século XV, antes da chegada dos Espanhóis à Venezuela. Para estes, os indigenas que habitavam o território que é atualmente o Estado de Yaracuy, veneravam à Yara, Deusa da natureza e do amor. A tradição popular a descreve como uma mulher formosa de olhos verdes,largas sombrancelhas, quadris amplos e cabelo liso adornado por três flores abertas. Segundo a lenda, Yara era uma princesa indígena que foi raptada por uma enorme anaconda [boitatá?] que se apaixonou por ela. Quando os espíritos da montanha se interaram d ocorrido, decidiram castigar à serpente, fazendo com que inchasse até que explodisse e morresse. Logo nomearam a Yara senhora das lagoas, rios e cascatas, mãe protetora da natureza e rainha do amor. Copiado de Venezuela Esotérica.[link morto]

Saber, o Pecado Original

No estudo os anos da macabra caça às bruxas em territórios europeus, nos relatos dos julgamentos, é evidente o traço da corrupção da justiça, dos homens e da Igreja. A chacina de cidadãos não foi apenas uma histeria religiosa, um terrível engano fruto de ignorância e superstição. A Inquisição serviu a propósitos muito pessoais daqueles que ganhavam dinheiro com a indústria dos processos e dos confiscos. Muitos dos condenados como bruxos foram eram pessoas que detinham saberes superiores àqueles que a Igreja-Estado podia oferecer diante dos problemas do povo.
Especialmente mulheres, que trabalhavam como curandeiras no sentido estrito da palavra, ou seja, porque tinham o conhecimento dos recursos necessários para curar moléstias diversas; essas foram proibidas de exercer suas habilidades. O conhecimento útil e superior dessas mulheres [e de homens também], conhecimento oriundo de fonte suspeita posto que fonte pagã, aquilo era uma afronta à autoridade absoluta pretendida pela Igreja. A sabedoria daquelas mulheres era uma sabedoria maldita, coisa que não era de se estranhar posto que o pecado entrou no mundo pela mão da mulher, ela! que aceitou comer o fruto do Conhecimento. Sobretudo o conhecimento do se entendia como magia precisava ser monopolizado pela Igreja por conta do poder que proporciona a quem o possui.
Aliás, o cristianismo trouxe junto com a doutrina do amor incondicional a reivindicação ser o único poder verdadeiramente legítimo autorizado a fazer milagres. Não é de se estranhar que Papas e outros eclesiásticos tenham tido seus nomes ligados à bruxaria. Até porque, enquanto a plebe ignara [povo ignorante] chamava de bruxaria a todo poder que consideravam sobre-humano, sobrenatural, os intelectuais da Igreja sempre souberam que a palavra magia, em sua origem, foi um sinônimo de ciência. Todos os cientistas da Antiguidade histórica foram chamados Magos; investidos na condição de sacerdotes e mais, os Magos dos tempos mais arcaicos, mitológicos, foram eles próprios mitificados, considerados deuses ou semi-deuses.
No Antigo Testamento destaca-se a figura de um dos mais famosos dentre esses magos: o rei Salomão que, segundo o texto bíblico, controlava Elementais e outras entidades metafísicas tendo sido instruído nessa ciência pelo próprio Deus.
O testamento de Salomão, suas Clavículas, nada mais são que instruções sobre como adquirir semelhante poder. No século XIX, estudiosos ocultistas como Eliphas Levi tentavam esclarecer em seus tratados de magia que o fundamento do poder mágico era, simplesmente pensamento e vontade do homens educados, treinados, convertidos em instrumentos capazes de operar voluntariamente sobre a realidade.
O segredo do pentagrama foi revelado: com sua ponta virada para cima, símbolo do homem evoluído. O enigma da magia, explicado: não existe o sobrenatural; existem somente fenômenos não explicados. Mas apesar do esforço para informar a verdade sobre magia, o estigma do mistério, que tanto fascina quanto assusta, permanece até os dias atuais.
Copiado de Sofá da Sala.[link morto]

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A origem do Logos

No fim do 4º século AC alteraram-se profundamente as condições políticas e culturais de todo o Ocidente e Ásia Menor. O novo contexto político veio a ser denominado mundo helênico-romano, em função a dois povos que o dominaram, com uma perduração de cerca de mil anos.
A cultura helênica, já bastante vasta, se expandiu primeiramente por todo o Oriente, no espaço maior criado por Alexandre Magno e seus sucessores seleucidas e ptolomeus. Nesta primeira fase verifica-se a atuação das assim chamadas escolas pós-socráticas, dos peripatéticos, acadêmicos, epicuristas, estóicos, céticos.
Na segunda fase do período helênico-romano acontece uma tendência ecleticista, com a penetração do pensamento de umas escolas no das outras. O platonismo penetra no aristotelismo. O pensamento cético em crescimento invade por sua vez o platonismo, de onde resulta a expressão neo - acadêmicos. Cresce também o ativismo religioso, com o domínio final das religiões orientais, sobretudo do cristianismo, num processo todavia bastante ecleticista. Nesta segunda fase acentua-se a importância do neoplatonismo, quer helênico, com Plotino, quer judaico e cristão.
O neopitagorismo e o neoplatonismo se desenvolvem com alguma autonomia em relação à Academia; no fundo, entretanto, se trata de um só grande contexto, tendente a um saber racionalista independente da razão fundada na experiência e de tendência para uma fonte mística, em que também participam as religiões de então, o gnosticismo, o judaísmo e o cristianismo.
O neoplatonismo seria a tendência mais influente em filosofia na Antigüidade tardia. Buscando interpretar o trabalho de Platão, Plotino criou um sistema filosófico vigoroso, iniciado no século III, que iria durar até o século VI, com o fechamento da academia platônica por Justiniano em 529 [DC]. Deixando uma influência profunda na tradição européia em filosofia, literatura, arte e religião.
Durante todo esse tempo teremos filósofos que não separarão o pensamento racionalista e o elemento espiritual. Uma forma holística de ver as coisas que não separava a necessidade do raciocínio lógico com a intuição, ao contrário a dialética era a base pra quê se pudesse cair numa percepção intuitiva da essencialidade das coisas.
Juntando os elementos pitagóricos e platônicos há uma visão de mundo em que se conjugam a busca pelo sagrado e a especulação filosófica, ou seja, no mesmo período em que se desenvolvia o naturalismo racionalista, se desenvolvia os sistemas filosóficos transcendentes, que permaneceu durante o processo e que no período helenístico, ganha um espaço maior, através do processo de interações culturais com uma série de religiões e filosofias orientais, entrando em contato com estas porém sem perder as características básicas. Tendo uma visão de filosofia em que a hierofania, o ato de manifestação do sagrado não passava por um processo de fé, mas sim através da reflexão filosófica, de um certo ascetismo e da meditação.
Pela volta do século 1º AC as idéias trinitárias penetram a filosofia. Tais idéias trinitárias, existentes nos mitos das religiões orientais, ganham agora um embasamento filosófico. O ser é apresentado como polivalente e emanando, de tal maneira que no alto se encontra o Uno, a seguir o Logos, em terceiro lugar a Alma do mundo. Finalmente derivam as almas individuais e a matéria. Por espécie de retorno mental, ou místico, se processa a marcha inversa, pela qual a alma humana finalmente se extasiava em união com o Uno.
Variações secundárias ocorriam entre os filósofos, mas que não retiram a mentalidade geral do movimento. Criava-se, assim, uma filosofia de embasamento para as teologias trinitárias. Por isso mesmo adquiriu importância histórica a filosofia místico-platônica dos primeiros séculos cristãos, notadamente o neopitagorismo, o neoplatonismo judaico e finalmente o neoplatonismo de Plotino.
O neoplatonismo pode ser considerado como o último e supremo esforço do pensamento clássico para resolver o problema filosófico, que tinha encontrado um obstáculo intransponível no dualismo e racionalismo gregos - dualismo e racionalismo que nem sequer o gênio sintético e profundo de Aristóteles conseguiu superar. O neoplatonismo julga poder superar o dualismo, mediante o monismo estóico, na qual o aristotelismo fornece sobretudo os quadros lógicos; e julga poder superar, completar, integrar a filosofia mediante a religião, o racionalismo grego mediante o misticismo oriental, proporcionando o racionalismo grego especialmente a forma, e o misticismo oriental o conteúdo.
Será acentuado o dualismo platônico entre sensível e inteligível, entre matéria e espírito, entre finito e infinito, entre o mundo e Deus: primeiro, identificando, por um lado, a matéria com o mal, e elevando, por outro lado, o vértice da realidade inteligível ao suprainteligível e, em segundo lugar, elaborando uma moral ascética e mística, em relação com tal metafísica, a qual, todavia, se esforçará por unificar os pólos opostos da realidade, fazendo com que da substância do Absoluto seja gerado todo o universo até a matéria obscura.
O racionalismo lúcido dos gregos se une aos fervores do misticismo oriental. Apesar das denegações dos céticos e da propaganda materialista dos epicuristas, nunca os homens foram tão famintos de Deus quanto nessa época. As religiões de salvação, o culto de Mitra, de Ísis, então se desenvolvem. O cristianismo tomará impulso. Preocupações filosóficas e religiosas se unem estreitamente. Os filósofos, além da verdade suprema, buscam a salvação. Os homens piedosos querem fundamentar suas crenças filosoficamente.
O neoplatonismo afirma certa transcendência de Deus, em que este é imaginado como o suprainteligível. Por isso, é inefável e pode ser atingido na sua plenitude unicamente mediante o êxtase, que é uma fulguração divina, superior à filosofia. Com esta doutrina do êxtase, em que é afirmada uma relação específica com a Divindade, parece abrir-se o caminho para uma nova filosofia religiosa.

De Afrodite a Apolo

Aproveitando o texto sobre o patriarcado, eu tentarei estabelecer uma cronologia para essa transição de uma sociedade matriarcal para uma sociedade patriarcal que ocorreu na humanidade.
A primeira mudança ocorreu na forma de subsistência, de caçadores-coletores passamos a criadores-cultivadores. Apenas com essa forma de economia se tornou possivel ocorrer um fator crucial para a segunda mudança, que é a produção de excedentes.
A segunda mudança ocorreu na forma da propriedade, de comunitária passamos à privada. A posse da terra, da riqueza e da produção passa para as mãos de quem consegue concentrar mais riqueza pela produção de excedentes. O sistema capitalista é o desenvolvimento desta forma de economia. Apenas com a forma da propriedade privada se tornou possivel ocorrer o fator crucial para a terceira mudança, que é a produção de tecnologias.
A terceira mudança ocorreu na forma de ocupação, passsamos de grupos pequenos (clãs) e de habitações rústicas (tribos) para grupos compostos (sociedades) e de habitações refinadas (cidades), passamos do ambiente rural para o ambiente urbano. A vida na cidade passou a se destacar e se distanciar da vida no campo. Com a concentração da propriedade, do excedente e da tecnologia na cidade se tornou possivel ocorrer o fator crucial para a quarta mudança, que é a produção de ideologias.
A quarta mudança ocorreu na forma de crença, passamos do Politeismo para o Monoteismo, passamos da concepção do divino como imanente para transcendente, passamos da concepção da humanidade como sagrada para maldita, passamos da percepção da comunhão para o conflito entre o espírito e a carne.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Adonis, um titulo, um nome, um Deus

Adonis é um Deus da Fertilidade e representa morte e renascimento nos cultos agrários orientais. Ele também é conhecido como o Deus Agrário Eshmun.
Adonis vem do título Cananeu, Adon. A palavra semítica para "mestre" ou "senhor" e "i" significa "meu", portanto Adonai (Adonis é a versão helenizada) se traduz como "meu senhor", similar ao significado de Baal.

Adonis tem duas origens: Chipre e Biblos. Em Chipre, seu pai era o rei Theias ou Cíniras; sua mãe era Mirra, a filha do rei. Em Biblos, é Fenix, pai dos Fenícios.
Nos templos fenícios, as mulheres se prostituíam em serviço da religião, crendo que assim propiciariam a Deusa e ganhariam seu favor. Em Chipre, aparentemente antes do casamento todas as mulhrees eram formalmente obrigadas a se prostituirem a estranhos no santuário da Deusa e dedicar à Deusa os ganhos auferidos em seyu sagrado meretrício.
Em Fenício haviam duas palavras que significam "senhor": Baal e Adon. Baal tem uma identidade especial para os fenícios como a divindade masculina primária. Assim, Baal não estava disponível como nome para as divindades cipriotas nativas, os Cipriotas chamavam a seu Deus de Wanax, que significa "senhor", os Fenícios nomearam essa divindade nativa com a outra palavra para "senhor": Adon.
Os Gregos tomaram a administração de Idália dos Fenícios por volta de 300 BC. A linguagem principal era o Fenício, quando os Gregos chegaram. Então pode ter sido natural para os Gregos acharem que Adon era o nome da divindade local, não um título. O nome Adon foi então helenizado, adicionando o prefixo grego "is", criando o familiar Adonis.

Na bíblia, o Deus Israelita Yahweh é ocasionalmente referido por Adon, com o termo sendo usado como título, não como nome pessoal de Yahweh. Eventualmente, o nome "Adonai" (meu Senhor) tornou-se um nome substitutivo para pronunciar o indizível nome Yahweh nas preces. nos dias de hoje, quando os Judeus encontram as consonantes YHWH nas preces, eles pronunciam "Adonai". Eles ficariam chocados em ver que esta substituição está relacionada ao "Adon" Fenício e ao "Adonis" Grego-Cipriota. Mais adiante, Muçulmanos e Cristãos que falam Aramaico/Siríaco Judaico/Arábico ficariam chocados em ver que suas palavras para Deus vem do nome do deus Fenício de "El", como em Elah, Allah, Elahona, Eloh, Elohaino, Eli, Eloi, Elohak, etc.
Aniconismo e o uso de uma pedra erigida são características das práticas de culto Israelitas. Portanto, se há alguma conexão entre a crença na antiga Chipre e na antiga Israel, o elo são os Fenícios. A religião popular entre os Israelitas embora oposta à religião oficial promovida na bíblia hebraica era similar á religião Fenícia. A bíblia apresenta um puro, monoteismo elitista devotado exclusivamente ao culto a Yahweh. as facções grupos ortodoxas, nacionalistas, que produziram a bíblia hebraica proscreveram a adoração a Baal e suprimiu tudo menos os traços tênues de uma teologia que incluíam uma consorte de Yahweh. Mas tanto Baal quanto sua Deusa continuaram a viver nas práticas religiosas populares Israelitas como também nas práticas Fenícias.
Fonte: Phoenicia Org.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Identidade de gênero - identidade cultural

Freud nos aponta que ao nascer somos todos bissexuais. Podemos ser do sexo masculino ou feminino de acordo com nosso órgão sexual e as diferenças hormonais, mas no que diz respeito ao gênero homem ou mulher, somos indiferentes. No entanto, ao ser lançado nesse mundo a cultura escolhe por nós, nos impõe o que devemos ser e qual o papel sexual a ser desempenhado.
O patriarcalismo separou o mundo em dois pólos, o mundo do homem e o mundo da mulher. Se colocarmos dois bebês de sexos diferentes lado a lado, ambos com o órgão sexual ocultado e o restante do corpo nu, e perguntarmos a alguém quem é do sexo masculino e feminino a chance de acerto será de 50%. Não há nada que os diferencie enquanto homem e mulher. Mas os pais se empenharão intensamente em fazer a diferenciação de acordo com o sexo, usando os adornamentos e roupas possíveis para caracterizá-los. – Além de definir o gênero, a sociedade também impõe a orientação sexual do sujeito ao nascer; para sexo masculino o gênero homem e a orientação heterossexual, para sexo feminino o gênero mulher e a orientação também heterossexual.
A partir daí homens e mulheres percorrerão caminhos diferentes no que diz respeito à constituição física e psíquica, construção de valores, crenças, hábitos, comportamentos, preferências, imagem corporal, etc. Homens e mulheres são condicionados a mundos diferentes um do outro, quase sempre, antagônicos.
A cultura é responsável por uma forma extremamente violenta e invasiva no que diz respeito à educação sexual. Suas formas de conseguir tanto êxito a ponto de fazer as pessoas acreditarem que existem diferenças entre homens e mulheres que sobrepujam àquelas dos elementos biológicos, se mostram explicitamente e, sobretudo, em suas formas veladas, inconscientes e implícitas.
Homens e mulheres podem ter os mesmos potenciais e os mais variados comportamentos. Não há comportamentos, sentimentos, profissões, preferências e valores que são para homens e outros para mulheres. Nossa cultura e, sobretudo, a supremacia masculina ilegítima advinda do patriarcado, prejudica todas as relações humanas, trazendo danos incalculáveis para homens e mulheres. É legítimo sermos masculinos e femininos. Homem e mulher são invenções humanas, não se trata apenas de diferenciações de acordo com o órgão sexual.
Nascer com pênis ou vagina não determina o gênero homem e mulher. Não há o que é de homem e o que é de mulher, todas as coisas de gênero que nos determinam são dadas pela cultura e pelo nosso meio social. Antes de tudo somos todos humanos, com potenciais iguais.
A educação de homens e mulheres são tão diferentes e deterministas que torna difícil identificar o que desejamos por nós mesmos ou o que desejamos porque nos ensinaram a desejar. Embora todos nós sejamos cúmplices em maior ou menor grau dessa “educação” que impõe uma série de “normalidades” de acordo com o sexo que nascemos, podemos mudar nossa realidade e para isso se faz fundamental um conhecimento crítico acerca da sexualidade.
Felizmente, muitas coisas têm contribuindo para superar o patriarcalismo e os determinismo autoritários de muitas religiões, mas ainda, muita coisa precisa ser superada.
Dentro desse contexto, não estou dizendo que homens e mulheres que foram educados sexualmente a considerarem enquanto legítimas apenas as relações heterossexuais devem mudar. Mas o que deve ficar claro é que não podemos aceitar os padrões de normalidade que nos impõem, colocando todos aqueles que não se encaixam em categorias de anormalidade. Copiado de Log MSN.[link morto]

O que é o Patriarcado

O patriarcalismo é um modo de estruturação e organização da vida coletiva baseado no poder de um “pai”, isto é, prevalece as relações masculinas sobre as femininas; e o poder dos homens mais fortes sobre outros.
Didaticamente podemos dizer que a sociedade patriarcal teve início na Grécia Antiga, onde a mulher basicamente era objeto de satisfação masculina e terminou com a Revolução Francesa objetivada na igualdade entre todos.
Mas a realidade nos mostra que o patriarcalismo ainda impera mesmo que inconscientemente nas sociedades. Suas raízes estão fincadas desde a era primitiva quando o homem descobriu que o seu sêmen poderia gerar a vida, sendo a mulher simplesmente um “depositário” para receber e desenvolver o nascimento da criança.
A partir daí uma série de elementos sociais e culturais vão se estruturando e colocando cada vez mais o homem acima da mulher. Nem lembramos que nas eras primitivas homens não sobrepujavam as mulheres, pelo contrário, as mulheres que se constituíam enquanto núcleos de organização.
A ideologia patriarcal não atinge apenas o relacionamento entre homens e mulheres, mas recai sobre toda história da humanidade. A ideia de um líder ou uma figura centralizadora afeta os valores, o desempenho dos papéis e as formas de organização das instituições.
Um dos pilares de sustentação do patriarcalismo no mundo ocidental fica evidente na religião judaico-cristã. As passagens bíblicas que submete a mulher ao homem são inúmeras. Se inicia com o mito de Adão e Eva no jardim do Éden onde Deus fez o homem à sua imagem e semelhança, mas a mulher foi feita do homem. Nesse sentido, a mulher não provém do divino.
Aqui fica claro qual a função da mulher, ou seja, subjugada pelo homem e pelo marido, aquela que só existiu à partir do homem. Para piorar a situação da mulher, a expulsão do “paraíso” foi devido a Eva que comeu o fruto proibido e “seduziu” Adão a experimentar; daí em diante o mundo se divide em lado “bom” e “mau”, devendo a mulher carregar o fardo da culpa por ter expulsado toda humanidade do paraíso.
Claro que há outras interpretações de Adão e Eva, mas todas elas destinará à desgraça unicamente a Eva que irá selar o destino da mulher na religiosidade cristã: dar à luz de forma dolorosa. Hoje poucos sabem o que é patriarcalismo e quais suas consequências.
De fato, ele deixou de ser explícito, mas está presente silenciosamente em todas nossas relações. Todos têm uma diversidade de antagonismos – decorrentes de crenças e mitos – entre homens e mulheres para contar, em sua maioria o homem levando vantagem sobre a mulher.
No casamento a mulher coloca o sobrenome do marido em detrimento do seu, torna-se uma posse do homem, mas parece não fazer muito a diferença, poucas pensarão nessa ideia e realizarão com orgulho a mudança do nome.
Embora a configuração social seja diferente, com a representação da família tradicional tornando-se cada vez mais desmantelada, as mulheres passando a dividir a tarefa de suprir a casa e os filhos, além de outras modificações significativas, os “fantasmas” do patriarcalismo ainda ronda as nossas relações.
As consequências podemos vislumbrar nas organizações e instituições, nas relações trabalhistas, na desconfiança entre homens e mulheres, no idioma, nas religiões, nas crenças, nos ritos, na sexualidade, etc. – Muitas dessas relações onde prevalece os mandos e os desmandos, ainda são naturalmente aceitas e justificadas.
Copiado de Log MSN[link morto]

PS - Encontrei uma citação ao trabalho de Jakob Bachofen que ilustra com se deu a transição entre o matriarcado e o patriarcado:
Primeiro estágio: Dominado pela deusa Afrodite, a vida se encontrava então em plena de símbolos do feminino e da natureza. O direito natural que prevalece aqui é o da fecundidade. Da terra, sua capacidade criadora. A terra é a grande mãe. - Segundo estágio: Predomina o culto à deusa Deméter, na qual o feminino aceita a mediação do matrimônio num plano social e na agricultura como uma forma essencial, contudo, em unidade com a natureza. - Terceiro estágio: Triunfo de Apolo, o deus-sol. Aqui inicia-se o predomínio masculino e o desprezo ao feminino, produzindo-se, assim, a passagem do sistema matriarcal para o patriarcal. A sociedade patriarcal privilegia o racional, a individualidade, a guerra, a autoridade, a dominação.[Geh][link morto/indisponível]
Vale a pena guardar para os próximos textos.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Sexo na comunhão com o sagrado

Em geral se crê que a união sexual tem apenas dois objetivos, o do erotismo – prazer erótico – e o da reprodução, mas na verdade há outros objetivos e, por mais inacreditável que seja para a maioria das pessoas, existe um aspecto ligado à comunhão com o Divino. Podemos dizer que a união sexual pode não ter como motivação somente a gratificação erótica, e a reprodução da espécie, mas também uma forma de complementação dos seres, tal como acontece com dois elementos químicos que se combinam, com dois imãs que se unem.
O masculino, assim como o feminino, é incompleto até se unirem. Diziam os antigos que a unificação física com a mulher era um dos poucos meios do homem se tornar espiritualmente completo e assim poder chegar à gnose, ao conhecimento do lado divino quando ainda encarnado. Um ponto básico do misticismo do Antigo Egito prendia-se ao Mito de Osíris onde consta haver ele sido dividido em pedaços e espalhados pela terra, e que Isis começou a junta-los para reconstituí-lo . No sentido simbólico isso mostra a importância do masculino pelo Divino Feminino cuja meta é o da completitude do masculino – Osíris – é através da União com o divino feminino – Isis.
Outras cosmogonias, motivadas pelo predomínio social do masculino, colocaram a fracionabilidade como sendo inerente ao pólo feminino, assim criaram a Eva Bíblica. Inverteram os pólos tirando a incompletitude – fragmentação – do pólo masculino e colocando-a no feminino. Eliminaram o Divino Feminino, apagaram o papel de Isis. Expurgaram o Divino Feminino substituindo-o pelo masculino, desde então o masculino passou a ser o lado Salvador.
Os egípcios, tendo ciência da divisão de Osíris, primava pela união das partes, do masculino com o feminino para se complementarem e constituírem a unicidade.
A sociedade separatista afastou a mulher do sagrado chegando a colocá-la no lugar de causadora do “pecado original” e consequentemente descriminá-la em uma posição de inferioridade e de gênese de todos os males oriundos da fracionabilidade.
No Antigo Egito a posição da mulher era deveras respeitável, seus direitos eram praticamente iguais aos do homem, pois os sacerdotes sabiam do Divino Feminino. Na verdade a figura de Isis no mínimo era tida como igual para igual com a de Osíris. Por isso, ali os ritos sexuais eram considerados uma forma de ligação entre o inferior e o superior, por meio dos quais o ser podia vivenciar, mais que um prazer erótico, vivenciar um estado de êxtase no qual ficava com a mente totalmente vazia, afastada de tudo o que constitui predomínio da mente e assim poder “ver” Deus.
O modo como os Mestres da antiguidade encaravam o sexo é totalmente diferente, diametralmente o oposto ao modo como o encaramos hoje em dia. Eles não consideravam a supremacia do lado erótico, o da gratificação dos sentidos físicos. Sabiam que o sexo é que possibilita a caiação de novas vidas, o milagre dos milagres, e só um deus podia realizar milagres.
Nesse contexto a união sexual tem também o seu lugar no processo é manifestação da espiritualidade, e nesse sentido transcende um nível mais elevado do que um simples ato prazeroso, uma cerimônia profundamente sacrossanta.
O conceito de sexo como caminho para Deus, a princípio, era mesmo um tanto espantoso, embora muitas Tradições envolvesse o sexo ritualístico praticado dentro dos Templos. Os templos da antiguidade diferiam dos de hoje em que eles existem como local para oração. No passado muitos aspectos da espiritualidade eram praticados nos templos.
Os primeiros judeus acreditavam que o Santo dos Santos do Templo de Salomão abrigava não só Deus, como também sua poderosa consorte feminina, Shekinah (sentido simbólico). Daí, os homens que buscavam a integridade espiritual vinham também ao Templo visitar sacerdotisas – ou hierodulas – com quais faziam amor e assim experimentar o Divino através da união física.

O uso do sexo pela humanidade para comungar diretamente com Deus representava uma séria ameaça à base do poder da Igreja Católica. Aquilo deixava a Igreja de fora, debilitando o status que ela mesma se atribuíra de único caminho para Deus. Por isso a Igreja fez de tudo para demonizar o sexo e reinterpretá-lo como um ato pecaminoso e repulsivo.
Embora nossa herança milenar e nossa própria fisiologia nos digam que o sexo é natural – um caminho muito puro para a evolução espiritual – mesmo assim, a religião moderna o deprecia considerando-o vergonhoso, ensinando-nos a temer os nossos desejos sexuais como se fossem inspirações demoníacas.
Autor: Laércio do Egito
Original perdido.

A Prostituta Sagrada

A prostituta sagrada era uma mulher humana que encarnava a deusa do amor. Representava a sexualidade da mulher sendo reverenciada; havia vínculo entre a espiritualidade e a sexualidade pois, surgiu dentro do sistema religioso matriarcal. Portanto, a Prostituta Sagrada é paixão, espiritualidade e prazer.

Caso o princípio patriarcal não seja contrabalançado pelo princípio feminino, tem-se uma vida, em certa medida, estéril. As deusas do amor e da paixão, algumas, também, da fertilidade são: Inana (Sumária), Istar (Babilônia), Isis ou Hátor e Bastet (Egito), Astarte (Fenícia), Afrodite (Grécia) e Vênus (Roma).

A deusa do amor e a prostituta sagrada são dimensões do princípio de Eros. A deusa e a prostituta sagrada são arquétipos e, por isso, não podem ser integradas totalmente; apenas aspectos parciais chegam à consciência.

A prostituta profana, ao contrário da sagrada, tinha uma vida difícil e era representante do lado negativo da sexualidade feminina.

A prostituição sagrada era um ritual do matrimônio sagrado, onde feminino e masculino se uniam sem qualquer preponderância, era a união da espiritualidade e da sexualidade. Já a prostituição profana declarava a separação absoluta da sexualidade e da espiritualidade.

Com a preponderância do dinamismo patriarcal sobre o matriarcal foi retirado o aspecto sagrado do feminino, ele foi rechaçado, associado ao demoníaco, ao pecado. Assim, a deusa deixou de ser venerada. A Igreja Católica separou o corpo da espiritualidade e tudo o que dizia respeito ao corpóreo estava passível de ser associado ao pecado e afastamento da religiosidade/espiritualidade.

A rejeição do que representava a prostituta sagrada traz insatisfação e neuroses tanto para as mulheres que dissociaram a sacralidade de seu corpo da alma, como para os homens que encontrarão intensas dificuldades no relacionamento com a sua anima como com as mulheres em geral.

A mulher que se permite reconhecer e conhecer a deusa interior (parte feminina do Self) valoriza-se, cultua-se, embeleza-se, mas não para satisfazer seu próprio ego ou de outros, mas sim por valorizar e reverenciar o feminino em si. Isso a leva a não supervalorizar a aprovação ou desaprovação dos outros; sabe o que quer, o que é bom para si mesma.

O feminino é, comumente, representado pela Lua. A mulher e a lua possuem fases, de um crescente de energia até seu total resplendor declinando até seu recolhimento e obscuridade.

Praticamente, todas as deusas que representam o amor e a paixão possuíam um filho-amante, que devia ser sacrificado. Com isso, toda mulher deve sacrificar, abandonar esse aspecto do maternal, seja de viver única e exclusivamente para satisfazer os desejos de seu filho como de viver as realizações dele como se fossem suas. Mas um parceiro, um marido pode representar esse filho-amante. Se a mulher não faz tal sacrifício de renunciar o desejo de controle e poder do ego, nenhum dos dois poderá crescer, há um vínculo simbiótico de mútua dependência. Se o homem não se libertar da mãe ou mulher possessiva, será incapaz de manter um relacionamento maduro.

Esta renúncia de algo tão precioso, carregada de emoções pranteadas é uma das tarefas mais árduas e de mais difícil integração, das faces da deusa. Para o homem, também, é algo muito doloroso pois terá que abandonar uma posição confortável infantil para tornar-se realmente um homem. Ele deve libertar-se das garras da mãe e da anima para poder, finalmente, encarar o feminino e a deusa sem medo; para render-se ao seu poder transformativo.

É através da imagem arquetípica da prostituta sagrada que a mulher consegue compreender os atributos da deusa do amor. E cabe aqui lembrar que o arquétipo da Prostituta Sagrada, também, é uma parte da Anima do homem.

Um dos exemplos mitológicos sobre uma mulher mortal encarnando os atributos da deusa é Ariadne (Teseu e o Minotauro) que é um mito correlato a libertação da mulher de sua identificação com o papel de filha do pai.

“A prostituta sagrada é a mulher humana que através de ritual formal ou de desenvolvimento psicológico, conseguiu conscientemente conhecer o lado espiritual do seu erotismo, e vive-o na prática, de acordo com suas circunstâncias individuais".

O ARQUÉTIPO DO ESTRANHO

Nos cultos a deusa do amor, um emissário dos deuses ou mesmo um deus disfarçado, vinha para se relacionar com a prostituta sagrada, consagrando, assim, o ritual. Analogamente, nos processos psicológicos, o “estranho” revela um aspecto inconsciente que se faz consciente e promove a mudança. Denomina-se de estranho, também, por causar uma sensação de algo estranho ou diferente ocorrendo. É o princípio masculino, um aspecto do Animus.

As mulheres que são frias emocionalmente, ou que apresentam ressentimentos profundos com relação ao homem ou que são promiscuas, são aquelas que vivenciam o Animus negativo (aspectos do Animus que denotam que ele não foi integrado, aparecendo como uma voz crítica) que as impede de vivenciar o amor. O Animus positivo, aquele que foi integrado, que penetrou o feminino, proporciona à mulher aspectos positivos em seu cotidiano. Dá-lhe segurança, confiança, abolindo a submissão, os sentimentos de inferioridade da sociedade patriarcal. Cabe lembrar que integrar o Animus não significa identificar-se com o mesmo, ou seja, a mulher não precisa atuar no mundo como um homem, nem possuir suas características. Portanto, não se trata de masculinização.

O MATRIMÔNIO SAGRADO

O ritual do matrimônio sagrado é a representação simbólica da união dos opostos, do masculino e do feminino diferenciados. Ele ocorre tanto na vida psíquica aparecendo em sonhos, como no mundo exterior através da união de duas pessoas.

O ARQUÉTIPO DA PROSTITUTA SAGRADA E O HOMEM

Como toda mulher carrega em si sua porção masculina – o Animus, o homem carrega sua porção feminina – a Anima, que é um elemento de propulsão e transformação na psique masculina. Ela, como o Animus, apresenta inúmeras facetas: a donzela, a mãe, a bruxa, a sereia, a prostituta, etc. Se o homem não integrar sua Anima acabará por se relacionar com a mulher e com o feminino de maneira equivocada e que lhe trará muitas dificuldades no relacionamento, pois impede que ele se relacione com a mulher de verdade.

O adultério e o divórcio são conseqüências da maneira como o homem lida com sua Anima não integrada. Para fugir da Anima-Mãe ele assume a Anima-Esposa. Mas após a chegada dos filhos, a esposa se transformando em mãe e se identificando mais com esse atributo passa a ser vista pelo homem como Anima-Mãe. E ele vai buscar a Anima-Mulher-Fêmea novamente. Com essas dificuldades para lidar com o feminino, o homem acaba por se afastar do mundo dos sentimentos, que pertence aos domínios do feminino.

ESTÁGIOS DA ANIMA

Jung descreveu quatro estágios do desenvolvimento da Anima que são análogos aos da Prostituta Sagrada:

- 1º estágio: EVA: no qual a anima manifesta sua energia biológica, instintual e sexual. Ela deseja o homem mas um homem.

- 2º estágio: HELENA: no qual a anima utiliza-se da sedução, com beleza e graça, ela não é mais apenas um objeto sexual.

- 3º estágio: VIRGEM MARIA: implica na transcendência do físico e do sexual, onde há uma ligação com divino.

- 4º estágio: SOFIA: a sabedoria divina.

Tanto o homem ao vivenciar estes estágios da Anima, como a mulher ao vivenciar tais estágios do Feminino, vão experimentando aspectos diferentes do princípio feminino. Com isso, o homem poderá transformar sua vida dando-lhe um sentido, criatividade e a oportunidade de relacionamentos positivos com as mulheres. E, a mulher, resgatando seus aspectos do feminino, transformará seu Animus em aliado ao seu desenvolvimento.

Autora: Gabriela Peixoto [Copiado do Portal Paganus][original perdido]

sábado, 10 de outubro de 2009

As origens antigas do conto-de-fadas

Por séculos, contos de fadas vêm sendo contadas geração após geração. Os mais famosos autores são os irmãos Jacob e Wilhelm Grimm. Histórias de aventuras, heroísmo, sangue, terminando sempre com um fundo moral. Pode a ciência determinar a origem desses contos e tradições? Sim, pode.
Um estudo realizado por antropólogos explorou as origens dos contos populares e traçou a relação entre as diversas variantes das histórias relatadas por culturas ao redor do mundo. Os pesquisadores adotaram técnicas utilizadas pelos biólogos para criar a árvore taxonômica da vida, que mostra como cada espécie vem de um ancestral comum. Assim temos uma espécie de histórico evolutivo que nos trouxe estes clássicos literários.
Dr. Jamie Tehrani, um antropólogo cultural na Universidade de Durham, estudou não uma, mas 35 versões de “Chapeuzinho Vermelho” de todo o mundo. Embora a versão europeia conte a história de uma menina que é enganada por um lobo mau – que pega as criancinhas pra fazer mingau – disfarçado de sua avó, na versão em chinês de um tigre substitui o lobo. Enquanto isso, no Irã, seria considerado estranho para uma menina de andar sozinha com uma cesta; logo, a história tem um menino.
Contrariamente à visão de que o conto surgiu na França pouco antes de Charles Perrault produzir a primeira versão escrita no século XVII, o Dr. Tehrani descobriu que as variantes partilham um ancestral comum que remonta mais de 2.600 anos! Segundo o pesquisador, “com o tempo, esses contos populares têm sido sutilmente mudados e evoluíram como um organismo biológico. Porque muitas delas não foram escritas até muito mais tarde, eles foram relembradas de forma incorreta ou mesmo reinventadas através de centenas de gerações”.
No melhor estilo “telefone-sem-fio”, as histórias foram “evoluindo”, no sentido que em cada lugar que eram contadas, elas sofriam adaptações. À semelhança do processo evolutivo biológico, as adaptações que se identificavam com o lugar permaneciam, caso contrário, caíam no esquecimento. Isso é explicável pelo fato de mantermos vivas em nossas mentes eventos que nos foi simpáticos, recebendo o nome de memória afetiva.
Da mesma forma, quando uma história é engraçadinha (menininhas saltitando pela floresta, carregando guloseimas), guardamo-nas em nossas melhores lembranças. Se fosse hoje em dia, seria difícil, pois o lobo seria taxado de pedófilo, e aquela parte que ele come a vovozinha (no sentido antropófago, por gentileza) seria considerado como algo de brutalidade horrível para com nossas crianças. Tais histórias só são perpetuadas graças às nossas melhores lembranças.
Do ponto de vista do pesquisador, ao olhar para como esses contos populares espalharam-se e mudou, talvez eles nos digam algo sobre a psicologia humana e que tipo de coisas que nós encontramos de memorável. O mais velho conto encontrado foi uma fábula de Esopo, datada aproximadamente do século VI AC, de modo que o último ancestral comum de todos estes contos certamente precedeu a este, e o Dr. Tehrani está convencido de que este é um conto muito antigo que evoluiu ao longo do tempo. Segundo suas pesquisas, foram identificadas 70- variáveis no enredo e personagens envolvidos nas diferentes versões de Chapeuzinho Vermelho.
A versão em francês de Perrault foi recontada pelos irmãos Grimm, no século XIX. Dr Tehrani disse: “Nós não sabemos muito sobre os processos de transmissão dessas histórias de cultura para cultura, mas é possível que eles podem ser passados ao longo das rotas de comércio ou com a circulação de pessoas”.
Professor Jack Zipes, um professor aposentado de alemão na Universidade de Minnesota – especialista em contos de fadas e suas origens – descreveu o trabalho como “excitante”. Ele acredita que contos populares possa ter ajudado as pessoas a passar dicas de sobrevivência para as novas gerações. Segundo ele: “Chapeuzinho Vermelho é sobre a violação ou estupro, e eu suspeito que os seres humanos eram tão violentas em 600 AC como são hoje, para que eles tenham trocado contos sobre todos os tipos de atos violentos”.

Dificilmente um conto surge do nada em sua forma mais desenvolvida, e sim sendo refinado a cada vez que é contado, como os grandes épicos da literatura mundial, como Eneidas de Virgílio, por exemplo.
Pescado do Ceticismo