sexta-feira, 18 de abril de 2008

Beijo da bruxa

Um assunto polêmico e evitado pelos pseudo-bruxos e sacerdotes é o folclore que cerca o suposto hábito entre as bruxas de beijar o trazeiro do Bode do Sabat.
Encontrei uma vaga citação do livro "Wicca: A Feitiçaria Moderna" de Gerina Dunwich:
"O culminar da mitologia da bruxaria ocorreu na descrição dos Sabbath, nos processos contra a Bruxaria, na famigerada Caça às Bruxas. O Sabbath era considerado uma paródia da Missa. Bruxas e feiticeiros eram representados como voando em vassouras ou bodes, até ao Sabbath onde o Diabo celebraria a Missa Negra. Haveria danças obscenas, um banquete com poções feitas em caldeirões. Um ato particular do Sabbath incluía o beijo ritual do traseiro do Diabo, aparentemente uma farsa ao tradicional ato cristão de submissão, de ajoelhar e beijar a mão ou o anel do clérigo."
Entretanto tal ato, ao invés de ser humilhante, pode conter um mistério iniciático. Segundo Alain Danielou (Shiva e Dioniso, pg 106):
"No corpo humano, a porta estreita que conduz ao centro-terra, à Deusa-Serpente, é o anus. O iogue que consegue despertar a energia enrolada atinge, um a um, todos os centros onde residem as formas superiores da vida e os poderes sutis que farão dele senhor de todas as energias latentes em si mesmo e fora de si, e que lhe permitirão dominar as forças obscuras da natureza elementar."

O 'beijo infame', como foi chamado, servia não como um sinal de submissão, mas era um ato ritual para despertar esse centro e, com isso, despertar a divindade interior do celebrante. Outras ordens iniciáticas foram igualmente acusadas dessa prática, como os Albigenses, os Valdenses, os Cátaros, os Templários.
Doreen Valiente no livro 'Witchcraft for Tomorrow' explicou a prática do Beijo Quíntuplo na Wica:
"Muitas práticas mágico-religiosas posteriores também influenciaram o culto dos bruxos medievais, tais como o conhecimento de técnicas de magia sexual e os cinco beijos rituais, legados pelos sarracenos, invasores da Península Ibérica na Idade Média. Atualmente, em covens modernos, o Beijo Quíntuplo é dado sobre os pés, joelhos, púbis, seios ou peito e boca, porém entre os iniciados tradicionalistas e em covens que ainda seguem o velho caminho, esses beijos são dados sobre os pontos energéticos destinados a levantar o poder."
A escola de mistérios sarracena é explicada por E.W.Liddell, na revista 'The Cauldron':
"As únicas inovações da Arte que podem ser positivamente atribuídas às fontes sarracenas foram: o uso das cordas, o conceito do 'segundo templo', os cinco beijos rituais e as específicas técnicas de magia sexual. Os chamados cinco beijos e as técnicas sexuais estão interrelacionadas. Os adeptos árabes ativavam vários centros no corpo dos iniciados soprando de um modo peculiar em regiões específicas. Muitos praticantes interpretaram mal o 'sopro mágico' dos mestres árabes e fomentaram a prática de beijar certas partes do corpo do candidato. Os adeptos sarracenos sopravam os pés do iniciado para remover impurezas cármicas e medos. Os pés representam o eu inferior ou a mente subconsciente, nas escolas de mistérios do Oriente Médio. Os adeptos sarracenos sopravam no falo para acelerar o poder solar no corpo masculino. A correta aplicação da energia sexual habilitava o aspirante a construir o 'segundo templo', a região da virilha para a garganta era considerada como representante do eu médio, ou mente consciente. Os mestres árabes sopravam na boca para ativar os centros da cabeça. Os centros da garganta, testa e cabeça eram ativados por um sopro quente e frio, técnicas dos adeptos sarracenos. É trágico que o sopro mágico aplicado no ânus ou centro da raíz tenha sido mal interpretado, pois os mestres árabes sopravam ali para desobstruir as faculdades psíquicas dos iniciados. Isso está ligado com habilidades de clarividência e memórias cármicas."
Formas posteriores contemporâneas da religião Wica acabou por incorporar causas mais políticas e ideológicas do que sagradas, como o feminismo radical, a exclusão do Deus e o foco na Deusa, a invenção de divindades para sacralizar a homossexualidade, a ausência dos ritos eróticos e da nudez ritual, a mistura de panteões e o sincretismo de métodos. A Wicca Brasileira está se tornando uma imitação do Cristianismo por colocar a Deusa no centro do culto, como uma substituta do Deus Cristão e por promover o puritanismo sexualmente recalcado, quando não é usada para agendas pessoais.

2 comentários:

pedro disse...

Vocês falaram dos Valdenses de forma pertinente.
Mas só há um problema básico com este artigo:
Ele se baseia naquela velha idéia petulante e mal embasada de que o "Sabbat" wiccano tem origens antigas e remontam não só a Idade Média,quando foram "perseguidos e esteriotipados",mas também a tempos imemoriais do mundo pagão.
Ou seja,seu artigo é uma bosta:
1-Primeiro,não há evidências concretas que indiquem que o "Sabbat" tenha alguma coisa a ver com rituais pagãos similares aqueles presentes dos ritos da Wicca.
2-O "SABBAT" é uma clara indicação aos JUDEUS e ao imaginário popular em cima dos seus ritos que depois,com a caça as bruxas,tomou proporções diabólicas e terríveis nos tempos da Reforma,quando surgiu os Valdenses que,no meio de toda aquela perca de coesão social e econômica,praticavam rituais de forma discreta e também secreta ,aos SÁBADOS,pois guardavam os sábados assim como os judeus.Oras,esta é uma clara HERESIA JUDAIZANTE,mais cristã,do que pagã.Robert Muchembled,no seu "Uma história do Diabo" defende tese similar e acredita que todos os rituais macabros e obscenos que supostamente eram promovidos nos "sabás" eram frutos de histeria coletiva,de medo social e que não representavam rituais satânicos,mas meros rituais reformistas mal compreendidos,CRISTÃOS e não PAGÃOS.
Entre estas lendas geradas esta o "osculum profanum" que seria o beijo no CU de algo que personifica o Diabo.
Antes do Bode,era um Gato Preto,este "ato" representava na mente dos detratores não uma simples via de submissão,mas de submissão em prol de BAIXOS DESEJOS.
3-A acusação de quebra de pudores era gravíssima.O Malleus Malleficarum dava tanta atenção a ela que um dos fatores que ditavam as bruxas era justamente a PROMISCUIDADE e o "beijo infame" esta ligado a esta aversão cristã a degeneração sexual.
O CU também esta ligado na Idade Média como uma OFENSA.Mostrar o cu representava uma INJÚRIA terrível e em diversas representações do Diabo,visto como um zombador e enganador,há esta posição dele mostrando o anûs.Vale lembrar também da demonização da SODOMIA tanto masculina quanto feminina,o Lex Visigothorum proibia o sexo pelo "vaso traseiro",neste sentido,o anus representa o TABU SEXUAL máximo,pois indica sodomia,indica PODRIDÃO.
Esta minha colocação é só um começo,deve-se considerar o imaginário e o cerne de crenças do povo da época com relação a caças as bruxas pela Inquisição e não colocar um ET na hora da ponderação.
Este texto deste site aqui evoca o ET da noção de anus pagão e o ET da ritualística wiccana,que NADA TEM A VER com os tais "sabás" medievais.
Leiam o "História da Magia", de Jeffrey B. Russell , e observem esta diferenciação da parte de um historiador sério e não de um wiccano vitimista que de tão petulante estende sua dor,sua historia e sua "origem" a dimensões IRREAIS só para acusar a Igreja de ter "perseguido pagãos".
Os "pagãos" que a Igreja "perseguiu" -colocação esta IMPRUDENTE,pois este tipo de perseguição não partiu da Igreja,em si - não tem nada a ver com os wiccanos e nem sua essencial esta invariavelmente ligada ao paganismo ancestral.
Dica:Deixem os livros wiccans de lado e estudem história de forma séria e imparcial,com o mínimo de senso científico.
Vão ler um Thomas Woods,Ricardo Costa...

betoquintas disse...

Pedro, vamos por partes.
Quem falou mal dos Valdenses foi a Igreja Católica, em sua campanha contra os hereges.
Sobre o sabbat wiccano, este não provém do sabbat judeu, mas sim da origem comum do nome e da celebração per se: as cerimônias que existiam na Assíria em adoração à Ishtar.
Quanto a Jeoffrey Russel, leia o artigo onde eu fiz uma análise comparativa.
Thomas Wood tem vínculos com a Igreja, portanto pé tendencioso.
O Ricardo Costa pode até ser espécialista em história medieval mas lhe falta a visão panorâmica.
Dica: deixe de lado os livros escritos por e pela doutrina cristã.