sexta-feira, 31 de maio de 2024

Mídia e Bolsonarismo

Há uma movimentação da mídia corporativa para buscar no campo bolsonarista uma alternativa a Lula, visto que o trabalho sujo realizado pela direita liberal no Brasil para realizar o Golpe de 2016 a destruiu como alternativa viável de poder e a fez refém da extrema-direita fascista.

Sem a direita "limpinha e cheirosa" do PSDB, resta aos grandes capitalistas aceitar o governo de centro-esquerda de Lula (sempre pronto a agradá-los) ou juntar-se ao chorume político disponível, resultante da mistura do crime organizado, fundamentalismo religioso, patriarcalismo, moralismo hipócrita, violência e autoritarismo civil e militar com a cultura política pré-moderna de boa parte dos brasileiros.

Nossa elite econômica, ou a maioria que realmente controla a política, é ingrata e voraz. Não quer muito: quer tudo. Por mais que o Governo Lula a tente agradar, ela jamais o apoiará. Até porque, boa parte dela é formada pelos beneficiários do tráfico de drogas, armas, animais e pessoas, da contravenção, contrabando, garimpo e extrativismo ilegal, unida ao agronegócio predatório, mineradoras, petrolíferas, indústria de fármacos, banqueiros e especuladores etc. Tudo gente que detesta regras, leis e Governos com auto-determinação.

O dinheiro de toda essa gente, tanto o limpo como o sujo, se mistura e se transforma em um único capital, cuja reprodução depende, hoje, do controle das contas públicas e da ausência total de regras ecológicas ou humanitárias para sua multiplicação. Quem melhor para isso do que nossa extrema-direita inescrupulosa, negacionista e violenta?

As empresas de mídia não são “imprensa”. São megacorporações cujo capital está mesclado com os outros legais e ilegais. Também dependem das mesmas coisas que as outras corporações.

Mesmo que o bolsonarismo ataque a imprensa livre, isso só afeta os trabalhadores das empresas de mídia, os jornalistas que são vilipendiados e agredidos e os que anseiam por um jornalismo decente, que não seja mera mercadoria para reprodução do capital.

Assim, as empresas de mídia – que aparecem no mundo que vemos como “imprensa” – podem buscar um “bolsonarismo moderado” ou até apoiar um fascismo de censura e ataque às liberdades sem caírem em contradição. Pois, além das aparências, são apenas empresas que querem multiplicar seus lucros sem nenhum escrúpulo ou consciência social, humana e ecológica.

Não se espantem, portanto, com os movimentos da mídia e direção à extrema-direita mais uma vez. Não pensem que ela está se enganando, criando corvos para comer seus olhos: quem os criam são os jornalistas que toleram o bolsonarismo e fazem o trabalho de pistolagem para seus patrões. Já os donos e acionistas das grandes corporações de mídia, esses sabem muito bem o que fazem.

Fonte: https://www.brasil247.com/blog/as-empresas-de-midia-e-o-bolsonarismo

Museu da Diversidade reaberto

Após quase um ano e meio fechado, o Museu da Diversidade Sexual reabre os espaços expositivos no Metrô República, centro da capital paulista. A visitação começa na próxima quarta-feira (29), aproveitando a semana da Parada do Orgulho LGBTQIA+.

O espaço terá duas exposições: Pajubá A Hora e a Vez do Close, com curadoria de Amara Moira e Marcelo Campos, e Artes Dissidentes, organizada a partir da pesquisa de Dri Galuppo.

Na Paujubá podem ser vistos os trabalhos de mais de 100 artistas, como Gê Viana e Vulcânica Pokaropa. A proposta da mostra se inspira na linguagem pajubá. “Termos e vocabulários, utilizados ao longo da história, em especial por pessoas travestis e trans, que, como forma de resistência, criaram um dialeto para conseguir se comunicar e conseguir garantir a sua segurança por meio da comunicação”, explica o gerente de conteúdo do museu Tony Boita.

Esse vocabulário traz, segundo Boita, o registro das memórias dessas populações. O gerente destaca que parte dessa forma de falar é incorporada ao dia a dia da maior parte da população, em palavras como “babado”. Essa linguagem incorpora ainda diversos termos vindos de religiões de matriz africana. “Tem toda essa relação do acolhimento desses espaços a esses corpos dissidentes”, pontua.

Artes Dissidentes é uma mostra fotográfica a partir do acompanhamento feito por Dri Galuppo com coletivos artísticos em áreas urbanas de várias partes do Brasil.

Com a ampliação do museu, de 100 metros quadrados para uma área mais de cinco vezes maior, totalizando 540 metros quadrados, a expectativa é receber 10 mil visitantes ainda em 2024. “É uma alegria muito grande entregar para a sociedade um novo museu, que está muito preocupado em refletir sobre as memórias das nossas memórias, as memórias das pessoas LGBTQIA+”, comemora Boita.

O espaço, que pertence a Secretaria Estadual da Cultura, Economia e Indústria Criativas de São Paulo tem entrada gratuita. Mais informações estão disponíveis na página da instituição.

Fonte: https://www.brasil247.com/brasil-sustentavel/museu-da-diversidade-sexual-sera-reaberto-em-sao-paulo

STF e a linguagem neutra

A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que o prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman, e o presidente da Câmara de BH, Gabriel Azevedo, prestem explicações sobre a proibição do uso de linguagem neutra nas escolas da capital. O prazo para resposta é de 5 dias a contar da publicação do despacho, nesse sábado.

O despacho da ministra foi no âmbito de uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) levada ao STF pela Aliança Nacional LGBTI+ e a Associação Brasileira de Famílias Homotransafetivas (ABRAFH). As entidades acionaram a Corte, a fim de tentar derrubar a proibição prevista em lei aprovada em 2023 pela Câmara de BH.

Em abril do ano passado, os vereadores da capital aprovaram o projeto de lei que proíbe uso da linguagem neutra nas escolas públicas e particulares da capital mineira.

O projeto foi vetado pelo prefeito Fuad Noman, sob argumento de inconstitucionalidade, mas o Plenário da Câmara derrubou o veto, e a lei entrou em vigor em agosto de 2023.

Na chamada linguagem neutra, a vogal temática e o artigo relacionados ao gênero são substituídos. Por exemplo, a palavra “todos” dá lugar à expressão “todes”, referência desprovida da marcação de gênero.

A reportagem entrou em contato com a Câmara e com a prefeitura de BH, abrindo espaço para que os órgãos comentem a decisão da ministra Cármen Lúcia. Em nota, a PBH disse que ainda não foi notificada.

Fonte: https://bhaz.com.br/noticias/bh/pbh-camara-linguagem-neutra-escola/

Cavalos importados

Um novo estudo publicado no fim de semana passado na revista Science Advances descobriu que as ofertas de cavalos eram tão importantes e populares no paganismo báltico do século I ao XIII d.C. que as comunidades bálticas no final desta era procuravam um fornecimento constante, até mesmo importando cavalos de cristãos, na Escandinávia.

A principal autora do estudo, Katherine M. French, PhD, da Escola de História, Arqueologia e Religião da Universidade de Cardiff, disse em uma entrevista à Archaeology Magazine : “Esta pesquisa desmantela teorias anteriores de que garanhões adquiridos localmente foram selecionados exclusivamente para sacrifício. Dada a inesperada prevalência das éguas, acreditamos que o prestígio do animal, vindo de longe, foi um factor mais importante para a sua escolha para este ritual.”

As ofertas de cavalos provavelmente diminuíram devido à propagação do cristianismo na região do Báltico, particularmente com a conversão de líderes proeminentes como Mindaugas da Lituânia em 1251 dC. Antes disso, porém, os cavalos desempenharam um papel significativo nos rituais funerários em toda a Europa, desde os tempos pré-históricos até ao período medieval. O valor socioeconómico e de prestígio dos cavalos parecia ser significativo. Os autores escrevem: “O sacrifício público e a deposição de cavalos em cemitérios humanos são características indeléveis da arqueologia báltica dos séculos I a XIII dC e atestam a persistência de sistemas de crenças pagãos”. Descobertas arqueológicas frequentemente revelam restos de cavalos em cemitérios.

Um problema persistente com as ofertas de cavalos é a sua inconsistência. “Covas de oferendas” podem conter partes de um cavalo, um cavalo inteiro ou até mesmo vários cavalos. A disposição varia muito: alguns cavalos estão agachados, alguns dispostos e outros parecem desmembrados. Em alguns casos, os cavalos podem ter sido enterrados vivos. Os cavalos às vezes eram enterrados ao lado dos humanos e outras vezes separadamente. Tanto cavalos quanto humanos podem ser cremados ou não. Ocasionalmente, era incluído equipamento de equitação e há evidências de intrincados enterros rituais. Apesar das variações de método, que duraram mais de mil anos, o elemento consistente é o significado do cavalo como oferenda.

Seja qual for o ritual, alguns aspectos pareciam altamente consistentes. Os cavalos oferecidos eram quase exclusivamente machos, pelo menos assim sugeriam pesquisas anteriores. A razão não é conhecida, mas pode estar ligada à associação dos cavalos com uma cultura masculina e guerreira, como sugerido por alguns textos contemporâneos sobreviventes. Alternativamente, poderia ser devido ao valor prático da criação de éguas nestas populações.

A equipe internacional de pesquisadores liderada por French conduziu uma análise detalhada de mais de 70 dentes de cavalo de nove cemitérios localizados na atual Polônia, Lituânia e no enclave russo de Kaliningrado, datando dos séculos I ao XIII. Eles empregaram a análise de isótopos de estrôncio, uma técnica que pode rastrear as origens geográficas dos restos de animais. Esta análise revelou que alguns cavalos eram originários de regiões tão distantes como a moderna Suécia ou a Finlândia, indicando que tinham atravessado o Mar Báltico e percorrido distâncias que variavam entre cerca de 300 e 1.500 quilómetros (cerca de 200 a 1.000 milhas). Os autores escreveram: “Embora o leste da Suécia e o centro da Finlândia sejam os candidatos mais prováveis para a origem dos cavalos, consideramos se os cavalos podem ter sido trazidos para a região pelas ordens cruzadas germânicas”. Eles descobriram que “não há possibilidade de que [a amostra] tenha se originado em qualquer lugar da Alemanha moderna, mas existe a possibilidade de que [algumas amostras] possam ter se originado no sul da Alemanha”.

“As tribos pagãs do Báltico estavam claramente adquirindo cavalos de seus vizinhos cristãos no exterior, ao mesmo tempo em que resistiam à conversão à sua religião. Esta compreensão revista do sacrifício de cavalos destaca a relação dinâmica e complexa entre as comunidades pagãs e cristãs daquela época”, disse Richard Madgwick, PhD, também da Escola de História, Arqueologia e Religião da Universidade de Cardiff e co-autor do estudo.

Pesquisas anteriores indicaram que os cavalos encontrados em cemitérios eram todos machos, normalmente identificados pela presença de dentes caninos. No entanto, essas descobertas são desafiadas pela pesquisa atual. Suposições anteriores na arqueologia do Báltico sugeriam que os garanhões eram escolhidos exclusivamente para rituais públicos como oferendas, que se acredita ocorriam nos funerais de guerreiros de elite do sexo masculino. Os autores observaram que sua pesquisa não consegue determinar se os machos eram garanhões ou castrados.

No entanto, as análises genéticas neste estudo revelam um quadro mais matizado: 66% dos cavalos foram identificados como garanhões, enquanto 34% eram éguas. As suas descobertas sugerem que os cavalos machos não eram oferecidos exclusivamente, o que significa que outros sítios arqueológicos onde foram encontradas éguas não eram atípicos.

Os investigadores também observaram que um “estudo recente sobre sacrifícios de cavalos na Islândia descobriu que os cavalos machos eram esmagadoramente escolhidos para oferendas de sacrifício, interpretado como evidência de que o propósito da realização ritual era representar características atribuídas ao garanhão, nomeadamente, agressividade ou virilidade”. ” Mas este não parece ser o caso dos Bálticos. O desequilíbrio sexual nas ofertas de cavalos observado nas suas descobertas “poderia ser devido à relativa importância económica das éguas para a elite báltica que criava cavalos e consumia leite de cavalo fermentado”. Os autores observaram que sua pesquisa continuará. Entretanto, as conclusões actuais destacam as nuances das relações comerciais que prosperam apesar da progressiva cristianização da região.

Fonte: https://wildhunt.org/2024/05/pagan-balts-imported-horses-from-scandinavia-for-religious-rituals.html
Traduzido com Google Tradutor.

quinta-feira, 30 de maio de 2024

De boas intenções...

Diz o ditado que de boas intenções o Inferno está cheio.
Esse é o caso da Gabriela Germano que publicou o texto de título "Deus e intolerância religiosa são incompatíveis".

Citando:

As falhas estarão presentes em todas as igrejas e templos, centros e terreiros, mesquitas e sinagogas, pois são os homens, com suas imperfeições, que as formam e conduzem. O que sempre deve estar acima disso e ser uma busca comum é Deus. E não há nada mais antiDeus do que o preconceito, a pretensão de alguém se julgar superior ao outro porque a crença dele é diferente.

Não adianta ir à missa, ao culto, ao centro ou ao terreiro e continuar sendo hostil com aquele que não compartilha da mesma fé que você.

Retomando.

A base de referência do que o Ocidente conceitua Deus vem da Bíblia e de uma teologia confusa. Eu devo ter escrito em algum lugar que a teologia cristã é um mosaico, um Frankenstein.
O conceito da Gabriela é algo contemporâneo. Desde o início da Era Moderna, o pensamento humanista e secular influenciou o pensamento teológico. Então pega mal para os adoradores do Deus Cristão a inconveniente associação deste (e das organizações religiosas que dizem representá-lo) essas demonstrações costumeiras de intolerância religiosa, segregação e preconceito.

Mas como a base de referência é a Bíblia, o que não falta ali é o desprezo por outros povos e crenças. Ao longo dos quase 2K anos de existência do Cristianismo foi a imposição e erradicação do que foi chamado de heresia.
O ramo neopentecostal vive depreciando as crenças de matriz africana. Isso é "autorizado" e "ordenado" pelo Deus da Bíblia. E a Bíblia (a interpretação da mesma) foi (tem sido) a justificativa para inúmeros crimes.

Infelizmente essa é a realidade, Gabriela.

quarta-feira, 29 de maio de 2024

Feira LGBT

A 28ª edição da Parada do Orgulho de São Paulo, que ocorrerá na avenida Paulista, no centro da capital paulista, no dia 2 de junho, será antecedida por uma feira de cultura, com apresentação de drags e shows de membros da comunidade, além de debates e venda de produtos.

A 23ª Feira Cultural da Diversidade LGBTQIAP+ ocorrerá no Memorial da América Latina, na zona oeste de São Paulo, no feriado de Corpus Christi, dia 30 de maio, das 10h às 21h. Alguns dos destaques a se apresentar nos palcos do evento são artistas renomadas da comunidade, como Silvetty Montilla, Thalia Bombinha e Dimmy Kieere.

O evento contará também com mais de 200 expositores que vão apresentar seus produtos, serviços e talentos para um público amplo e diversificado.

A feira terá ainda a presença de diversas ONGs e instituições, como o Instituto Mais Diversidade, a Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero da OAB-SP, o IBRAT, o Centro Cultural da Diversidade, o Museu da Diversidade Sexual, entre outros.

O evento também é visto como um espaço para diálogo e reflexão sobre temas relevantes para a comunidade, como direitos humanos, diversidade sexual, gênero e identidade. Haverá workshops, palestras e debates com especialistas e ativistas, além de atividades de conscientização e engajamento social.

Fonte, citado parcialmente: https://www.cnnbrasil.com.br/entretenimento/feira-de-cultura-lgbtqiap-antecedera-parada-do-orgulho-de-sp-veja-programacao/

terça-feira, 28 de maio de 2024

STF e o direito trans

O Supremo Tribunal Federal (STF) vai julgar, com repercussão geral, uma questão de relevância para o dia a dia da população transexual. A discussão está centrada no seguinte tema: qual deve ser o critério para o uso de banheiros públicos? Uma pessoa trans pode ser abordada e impedida de utilizar um toalete do sexo ao qual se identifica?

O processo é relacionado a um pedido de indenização por danos morais em que uma trans foi impedida de entrar no banheiro feminino em shopping de Florianópolis por funcionária do estabelecimento. Ela disse que se sentiu tão constrangida ao ser impedida de usar o banheiro que não conseguiu controlar suas necessidades fisiológicas e as fez na própria roupa, sob o olhar de quem passava na hora. Depois, ainda teve de voltar para casa, nessa condição, de ônibus.

O relator do caso é o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do STF, que marcou o julgamento para 29 de maio.

Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/direito-e-justica/2024/05/amp/6849142-banheiro-para-transexuais-na-pauta-do-supremo.html

segunda-feira, 27 de maio de 2024

Fim da impunidade?

Duas notícias que parece indicar o fim da impunidade da intolerância religiosa.

Citando:

O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) formalizou uma denúncia por intolerância religiosa contra Michele Dias Abreu, uma empresária e influenciadora de 43 anos, residente em Governador Valadares, na região dos Vales de Minas Gerais. A acusação surge após Michele associar a tragédia climática ocorrida no Rio Grande do Sul a religiões de matriz africana.

Em um vídeo compartilhado nas redes sociais em 5 de maio, Michele atribuiu os temporais e enchentes que afetaram mais de 540 mil pessoas, resultando em 155 mortes e 94 desaparecidos, à “ira de Deus”. A publicação alcançou cerca de 32 mil seguidores e atingiu três milhões de visualizações, conforme apurado pelo Ministério Público.

Segunda notícia:

O padre Paulo Santos, da paróquia São Francisco de Paula em Nova Andradina (MS), enfrenta uma denúncia no Ministério Público Federal por suposta intolerância religiosa.

As declarações controversas surgiram durante a “Missa Solidária em Oração Pelo Rio Grande do Sul”, realizada em 8 de maio, quando o padre mencionou as enchentes no Rio Grande do Sul, afirmando que o estado é o mais ateísta do país e insinuando que abraçou o satanismo e a bruxaria.

“Eu farei um alerta a todos nós. O Rio Grande do Sul há muito tempo abraçou a bruxaria e o satanismo. Há muito tempo o meu povo tem se afastado de Deus”, disse o religioso na ocasião.

“O secularismo chegou ao Rio Grande do Sul o estado mais ateu da federação. Existem mais centros de macumba na cidade de Porto Alegre do que no estado da Bahia inteiro”.

Retomando. No que concerne a este escritor, demorou.

Bergoglio não curtiu

No último domingo (19), um monge católico revelou ser um homem transgênero. Christian Matson, de 39 anos, que vive como um eremita diocesano no Kentucky, Estados Unidos, compartilhou sua história com o Religion News Service. Ele escolheu o Pentecostes, uma das celebrações mais importantes do calendário cristão, que comemora a descida do Espírito Santo, para fazer sua confissão pública.

O religioso afirmou, com a permissão de seu bispo, John Stowe, da Diocese de Lexington : “Vocês têm que lidar conosco, porque Deus nos chamou para esta igreja. Esta é a igreja de Deus, e Deus nos chamou e nos inseriu nela”. Matson, que também é oblato beneditino, acredita ser o primeiro indivíduo abertamente transgênero em sua posição dentro da Igreja Católica.

Em um e-mail enviado a amigos e apoiadores no domingo, ele detalhou sua vida atual: “Atualmente, estou morando nas montanhas Apalaches, no leste de Kentucky. Moro num eremitério no topo de uma colina arborizada, que compartilho com meu pastor alemão resgatado, Odie, e com o Santíssimo Sacramento, que foi instalado em meu oratório pouco antes do Natal”.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/monge-revela-ser-transexual-e-cre-ser-o-primeiro-na-condicao-na-igreja-catolica/

Extrema direita e Cristianismo

Neste final de semana acontece em Madrid, na Espanha, um encontro de líderes da extrema-direita global. O encontro é organizado pelo Vox, partido da extrema-direita espanhola. 

Estarão presentes, entre outros, Javier Milei, presidente da Argentina; Viktor Orban, da Hungria; Marie Le Pen, da França; a primeira-ministra Giorgia Meloni, da Itália e representantes do governo de Israel.

Pesquisas de opinião apontam que partidos da extrema-direita podem sair vitoriosos em 9 dos 27 países da União Europeia, incluindo a França, de Marie Le Pen, e a Holanda. Essas mesmas pesquisas também indicam que a extrema-direita direita já se tornou a segunda maior força política na Espanha, Portugal, Alemanha e Suécia.

No encontro deste final de semana em Madrid, um dos motes da plataforma internacional da extrema-direita para as disputas eleitorais é "proteger os cristãos em todo o mundo". Também defendem o armamentismo, o protecionismo agrícola, medidas xenófobas e uma "coisa" chamada de "valores tradicionais", expressão que dá guarita a todo tipo de retrocesso nos campos de políticas públicas focalizadas, direitos individuais, sociais e reprodutivos, além de agradar os que são saudosos de tempos imperiais e até teocratas de plantão.

Como temos alertado e considerando vários estudos sobre o crescimento de grupos extremistas, o fundamentalismo cristão é uma das bases da extrema-direita global e, no Brasil, enxergamos com clareza esse movimento.

Um dos pilares de sustentação do bolsonarismo é a religião. As igrejas, principalmente as poderosas agremiações neopentecostais evangélicas e segmentos conservadores do catolicismo garantiram (e ainda garantem) ao ex-presidente ampla base de apoio social e político.

O uso da religião tem caracterizado a nova extrema-direita global, como revelou o vaticanista Iacopo Scaramuzzi em seu livro intitulado “Dio? In fondo a destra – Perché i populismi sfruttano il cristianesimo” (em tradução literal, Deus? No fundo à direita – Porque os populismos desfrutam do cristianismo), cuja capa estampa quatro dos principais expoentes desse fenômeno: Salvini, Trump, Bolsonaro e Putin.

A pauta (moralista) de costumes associada contemporaneamente à guerra cultural e o (ab)uso da religião são as principais armas da extrema-direita direita na formação de uma nova cruzada "do bem contra o mal" - uma estratégia amplamente utilizada ao longo da história para se pavimentar os grandes retrocessos civilizatórios.

Fonte: https://www.brasil247.com/blog/extrema-direita-e-cristianismo

domingo, 26 de maio de 2024

STF libera linguagem inclusiva

Vai ter “todes” em Ibirité (MG). Pelo menos foi essa a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, no caso envolvendo a proibição do uso da chamada “linguagem neutra”, uma questão bizantina que impera entre a extrema direita desocupada, nas escolas públicas e particulares do município mineiro.

A bobajada cretina foi oficializada em terras ibiritenenses pela Lei Municipal 2.342/2022, que vetou o também denominado “dialeto não binário”. Mas o temido Xandão, como gostam de chamar os bolsonaristas, que vivem às voltas com esse tipo de luta contra moinhos de vento, derrubou a legislação, claramente inconstitucional. O magistrado foi claro em sua decisão, mostrando uma argumentação que não deixou brechas para questionamentos.

“Nesse contexto, os municípios não dispõem de competência legislativa para a edição de normas que tratem de currículos, conteúdos programáticos, metodologias de ensino ou modos de exercício da atividade docente”, despachou Moraes, frisando que a incumbência para legislar em questões relacionadas às diretrizes e bases da educação nacional é da União.

O assunto foi parar no STF depois que a Aliança Nacional LGBTI+ e pela Associação Brasileira de Famílias Homotransafetivas impetrou uma ação de Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), de número 1.155, afirmando que tal lei municipal impunha censura e comprometia a liberdade de expressão entre os cidadãos daquela cidade mineira.

Fonte: https://revistaforum.com.br/brasil/2024/5/20/vai-ter-todes-moraes-suspende-lei-de-cidade-de-mg-que-proibia-linguagem-neutra-159140.html

Nota: que essa sentença seja válida em todo o Brasil.

Pedra não pensa

Eu estava tentando assistir o anime Black Clover na Netflix (eu não estou ganhando um centavo com isso) quando achei o (anime) Dr Stone.

Black Clover foi uma decepção. Mais um anime de luta, com muita marmelada à favor do protagonista.


Eu gostei mais de Dungeon Meshi. Os autores (atenção spoiler!) não esconderam os seios das harpias, mas mostrou Izutsumi (fera humana) coberta de pelos. Laion que me perdoe, mas a Falin (irmã dele) ficou mais atraente em sua forma como monstro.

Esse anime mostra muitas receitas feitas com monstros, será que os autores sabem que “comer” tem duplo sentido no ocidente? Eu certamente “comeria” monstros fêmeas 😏. Aliás, tem um jogo assim 😏.


Enfim, voltando ao anime Dr Stone.

Um anime feito supostamente para falar de ciência. Mas cometeu muitos erros e preconceitos.


Atenção spoiler!


Tudo começa com o fim da humanidade que virou pedra. O mundo volta a ser um paraíso da natureza. Mas um dos protagonistas demonstra ter preservado a consciência, mesmo depois de virar pedra. Ciência? Não existe qualquer explicação plausível. Aqui ficou implícito a ideia do xintoísmo de que coisas podem ter uma mente, uma consciência, um espírito, habitando-as.


Então outro protagonista descobre uma forma de “ressuscitar” a pessoa empedrada através de um composto químico. Ciência? A ressurreição é um conceito espiritual. Então aparece um erro. A petrificação é superficial, por dentro, a pessoa está com o corpo em um tipo de criostase.


O outro protagonista diz algo que demonstra preconceito, ao prometer que recuperaria a civilização perdida. O modelo de “civilização” mostrada é um modelo idealizado longe da realidade social e histórica. Nesse padrão, muitas civilizações ficam de fora.


Convenientemente esse protagonista, supostamente cientista, ignora os males inerentes contidos nesse modelo de civilização que ele romantizou. O terceiro protagonista discorda e quer apenas que os “puros” sejam ressuscitados e dizer isso evoca ideias perturbadoras.


O protagonista #1 resolve ressuscitar a garota que ele gostava, o que em condições normais, consistiria em problema, pois temos nesse cenário uma fêmea para três machos.

O roteirista, talvez antecipando esse contraste, inclui mais sobreviventes, embora sem qualquer explicação plausível.


Para fazer ciência, o "dr Pedra" faz algo bem comum na "civilização", ele explora/escraviza os habitantes de uma vila primitiva.


Conforme apareciam mais sobreviventes e a "civilização" era desenvolvida, o efeito (inevitável) foi a do conflito, de batalha, de guerra. Confirmando que o problema somos nós.

sábado, 25 de maio de 2024

América, Reich Unificado

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump postou um vídeo em suas redes sociais na tarde de segunda-feira (20), que apresenta imagens de hipotéticas matérias de jornal celebrando sua vitória nas eleições americanas de 2024. O vídeo faz referência à “criação de um reich unificado” e é intitulado “O que vem a seguir para a América?”.

Após a repercussão negativa e as comparações com o nazismo, a campanha de Trump culpou um funcionário pela publicação, mas não removeu o conteúdo imediatamente. O vídeo de 30 segundos, publicado na plataforma Truth Social, apresenta várias matérias em estilo de jornais do início do século 20, aparentemente reciclando textos sobre a Primeira Guerra Mundial.

Uma arte de um artigo afirma que Trump deportaria 15 milhões de imigrantes em um segundo mandato. Outra manchete sugere que ele rejeitaria os “globalistas”, termo amplamente usado pela extrema-direita e que acadêmicos associam ao antissemitismo.

No comunicado, a campanha de Trump afirmou que o vídeo foi repostado por acidente por um membro da equipe, enquanto Trump estava em um julgamento criminal em Nova York. Porém, o conteúdo seguia no ar até a manhã desta terça-feira (21).

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/trump-usa-referencia-nazista-em-video-de-campanha-reich-unificado/

Não existe coincidência

Municípios onde o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teve mais votos nas eleições presidenciais de 2018 e 2022 tiveram mais mortes durante os picos da pandemia de Covid-19 no Brasil. As informações foram divulgadas em um estudo publicado na revista Cadernos de Saúde Pública nesta segunda-feira (20).

A pesquisa analisou a relação entre o excesso de mortalidade registrado em 2020 e 2021 e o percentual de votos obtido por Bolsonaro no primeiro turno desses pleitos.

Na crise sanitária, o ex-chefe de estado brasileiro contrariou as recomendações de autoridades de saúde e se opôs a medidas de isolamento social e uso de máscaras. O trabalho identificou que cada aumento de 1% nos votos municipais para Bolsonaro em 2018 e 2022 esteve associado a uma alta de 0,48% a 0,64%, respectivamente, no excesso de mortes dos municípios durante os picos da pandemia.

“Houve uma fidelidade enorme no eleitorado. Um núcleo de eleitores continuou a votar nele. A expectativa era que ele seria penalizado eleitoralmente, que a rejeição aumentasse. Isso não ocorreu”, explica Everton Lima, docente e pesquisador da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Lima, um dos autores do estudo, disse que a pesquisa mostra uma associação entre um maior excesso de mortes e mais votos em Bolsonaro, não uma relação de causa e efeito.

Segundo o pesquisador, não é possível dizer que as pessoas que se opunham ao uso de máscaras e ao isolamento social votaram em Bolsonaro porque ele empunhava essas bandeiras. Tampouco concluir que elas se identificavam com o então mandatário e, por isso, adotaram esses comportamentos. Já a descrença nos impactos da pandemia, a resistência ao uso de máscaras e a demora na implementação de uma campanha de imunização podem explicar essa associação, apontou o trabalho.

Mesmo assim, os dados podem refletir, por exemplo, medidas de saúde inadequadas implementadas por governos municipais onde Bolsonaro obteve mais votos.

Vale destacar que o estudo teve colaboração ainda de Lilia da Costa, da UFBA (Universidade Federal da Bahia), Rafael Souza, Cleiton Rocha e Maria Ichihara, todos da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).

Os autores utilizaram os resultados do primeiro turno das eleições para capturar melhor o voto ideológico. O excesso de mortalidade compara a média mensal de mortes entre 2015 e 2019 com o número de mortes durante os picos da pandemia.

“É um termômetro para dizer que está acontecendo algo diferente”. De acordo com a pesquisa, a oposição a Bolsonaro, representada pelos votos no PT, mostrou uma correlação negativa com o excesso de mortalidade nos municípios, ou seja, quanto maior o percentual de votos verificado nos candidatos petistas, menor foi o número de mortes.

“Há uma fidelidade até certo ponto cega”, diz Lima. “Estamos polarizados em um nível político que é o nós contra eles. Você acaba sendo alimentado por informações de dentro do seu grupo. Não conversa com o outro lado.”

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/cidades-em-que-bolsonaro-teve-mais-votos-tiveram-mais-mortes-por-covid/

A flor do Lácio

Na primeira noite 
De lua cheia
Da primavera 
Dríade observa humanos 

Deitados, dormindo 
Bêbados e saciados 
Após festejar o equinócio 
Restam nus e silentes

Alguns têm corpo parecido 
Dríade a estes não aprecia
Mas outros têm algo
Que atrai a curiosidade

Dríade conhece toda fauna
Mas não reconhece a espécie
Tem forma de cogumelo
Mas é rijo como um tronco

Vegetal, mineral e animal 
Sólido, líquido e gasoso
O sábio discerne as coisas 
Está espécie desafia categoria 

Dríade investiga, observa
Analisa, mede, cutuca 
Aquilo fica maior, mais duro 
Goteja um tipo de seiva 

Cheira como flor 
Enrijece feito galho 
Esuda como fruto
Reage feito animal 

Aqui tem magia
Ou habita espírito 
Acomete um encantamento 
Afeta corpo e mente 

De um beijo 
Nada demais 
Um ato segue outro 
Dríade suga o talo

Como fonte termal
Do fruto flor animal
Brota caldo quente 
Espesso e salgado 

Extrato natural 
Caiu no gosto dela
Foi coletar esse pólen
De outros frutos flores animais 

A muitos aliviou
Usando mãos 
Seios e coxas 
E seus orifícios 

A ninguém cause furor
Vergonha ou censura 
Esse ato é normal 
Natural e saudável 

Junção de frutos
Flores e animais 
Ventres existem 
Para serem preenchidos

Dríade satisfeita 
O ventre cheio
Nove meses 
Essa é a origem dos heróis 

Celebrada seja a primavera 
Erga o poste de maio
Acendam fogo no alto da colina 
Semeiam a terra e o ventre 

Todo aquele que se opor
Seja banido e expulso 
Maldito seja aquele 
Que tornar sexo pecaminoso

sexta-feira, 24 de maio de 2024

O capital não é solidário

A vereadora de Goiânia Aava Santiago faz uma muito bem-vinda cobrança às instituições financeiras, especialmente aos grande bancos privados — Itaú, Bradesco, Santander —, para que deem sua contribuição também no grande esforço nacional para ajudar nossos irmãos gaúchos.

Até o momento, as medidas anunciadas pelos grandes bancos são apenas de empurrar a dívida para adiante, mas nada de mexerem no bolso.

Segue a transcrição do depoimento da vereadora.

E as instituições financeiras? Até agora a gente não ouviu falar se elas irão por exemplo suspender a cobrança de dívidas, suspender o processo de negativar os gaúchos que estão com empréstimo no banco e não vão dar conta de pagar ou que vão precisar de empréstimo para reconstruir suas casas, se vai ter uma política de tarifa zero de juros.

"Porque a gente cobra dos poderes públicos, mas a verdade é que a gente vive também o capitalismo estatal. Capital parece que requer o estado mínimo, mas quando é pra ser salvo, quando vem a falência, é o estado que salva, é o estado brasileiro que salva banqueiro, é o contribuinte brasileiro que salva banqueiro da falência.

E não é só o brasileiro não, nos Estados Unidos também. A gente viu isso, né, no super primeiro mundo, onde o liberalismo funcionou. Quando teve a crise econômica de 2008 foi o dinheiro público que foi salvar os bancos da falência.

A gente precisa encarar que não existe liberalismo forte sem a mão amiga do Estado. Especialmente no Brasil.

No Brasil os grandes proprietários de terra dependem de benesses do Estado, os grandes produtores do agro dependem de benesses do Estado, os grandes produtores da indústria dependem de concessões do Estado. 

Então, assim, são todos liberais, mas às custas de capital público. É o capital público que mantém o grande capital privado nesse país.

Então a gente tem que chamar essas pessoas à responsabilidade. Cadê o Itaú? Cadê o Bradesco? Cadê o Santander? Dizendo que não vai cobrar juros e que não vai colocar no SPC a pessoa que está debaixo d'água, que tem um empréstimo pra pagar a casa e não vai dar conta de pagar. Cadê esses bancos oferecendo linha de crédito pras pessoas reconstruírem suas vidas? 

É claro e evidente que a gente tem que cobrar dos poderes públicos, mas mais ainda de quem fez fortuna com base nas benesses do Estado.

Fonte: https://revistaforum.com.br/brasil/2024/5/21/cad-itau-bradesco-santander-no-socorro-ao-rs-159173.html

Para inglês ver

O Brasil será denunciado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos por não cumprir a sentença que obriga o estado a procurar os desaparecidos e mortos da ditadura militar (1964-1985), de acordo com Jamil Chade, colunista do UOL.

Uma audiência está marcada para o dia 23 de maio em Brasília, gerando desconforto no governo que, apesar das repetidas promessas, não restabeleceu a Comissão de Mortes e Desaparecidos. Membros do próprio Executivo admitem que, se medidas não forem tomadas até a data, o país enfrentará problemas com organismos internacionais.

Criada em 1995, a Comissão de Mortes e Desaparecidos deveria realizar essas buscas, mas foi desativada nos últimos dias do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por sua vez, debateu a reativação do órgão, enfrentando forte resistência do Exército. O governo tentou adiar ações nessa direção, causando decepção entre defensores dos direitos humanos.

A falta de ação do estado brasileiro agora promete criar um problema legal. A sessão da Corte no Brasil foi marcada por convite do STF, e a Corte decidiu supervisionar a sentença do Araguaia e outros casos da ditadura.

A expectativa é que a Corte emita uma resolução sobre o grau de cumprimento pelo Brasil. Na pior das hipóteses, o país poderá ser declarado “em desacato” em relação à sentença, o que será incluído no relatório enviado à Assembleia Geral da OEA. Embora isso não resulte em sanções concretas contra o Brasil, o gesto promete causar constrangimento internacional, especialmente para um governo progressista.

Documentos internos da Corte indicam que será discutida a decisão de 24 de novembro de 2010, no caso Gomes Lund, onde o Brasil foi declarado responsável por violar os direitos de 62 desaparecidos da Guerrilha do Araguaia. Essas decisões incluem a violação dos direitos à vida, à integridade pessoal e à liberdade pessoal.

A Corte espera receber informações atualizadas e detalhadas do estado e observações dos representantes das vítimas e da Comissão Interamericana sobre o cumprimento das medidas de reparação. No entanto, fontes do governo indicam que essas medidas não foram implementadas.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/ditadura-brasil-sera-denunciado-por-corte-interamericana-entenda/

Piedosas fraudes ateístas

Trechos do texto de Jack Stacey, na página The Free Thinker:

Only through rational secularism have we ever come close to breaking this cycle. This is reflected in our language—from the Dark Ages to the Renaissance to the Enlightenment. This is not to say that secularisation has been without far-reaching implications.

Then we might see that just as the beauty of the ancient world can be appreciated and preserved without adoration for Zeus, Jupiter, or Osiris, so too can we extract significance from Christian holidays, art, and architecture without insulting the rational human impulses which may not have inspired them, but which surely created them.

Tradução pelo Google Tradutor:

Somente através do secularismo racional chegamos perto de quebrar este ciclo. Isto reflecte-se na nossa linguagem – desde a Idade das Trevas até ao Renascimento e ao Iluminismo. Isto não quer dizer que a secularização não tenha tido implicações de longo alcance.

Então poderemos ver que, assim como a beleza do mundo antigo pode ser apreciada e preservada sem adoração a Zeus, Júpiter ou Osíris, também podemos extrair significado dos feriados, da arte e da arquitetura cristã sem insultar os impulsos humanos racionais que podem não os inspirou, mas certamente os criou.

Retomando.
O conceito de Idade das Trevas é uma piedosa fraude cometida durante o Iluminismo, algo superado e descartado no século XIX.
Então por que ateus, no século XXI, ainda dissemina essa “fake new”?

O Iluminismo surgiu na Renascença, período onde a Europa passou por mudanças políticas, sociais e econômicas que permitiram o desenvolvimento da ciência, baseada na filosofia do naturismo e do humanismo, que são as bases do ateísmo.
Até então o conhecimento era dominado e manipulado pela Igreja Católica, portanto, para se estabelecer como pensamento dominante, o Iluminismo inventou que a Idade Média foi a Idade das Trevas, por causa do domínio da Igreja Católica nesse período.
Ao colocar o homem como centro do mundo (humanismo) e o mundo como palco de fenômenos previsíveis (naturismo), elegendo o pensamento racional e o método científico como padrão, por extensão adotou-se uma postura de rejeição e de crítica a toda e qualquer religião ou crença. Esse é o alicerce do ateísmo.

A ideia, simplista e rasa, concebeu que, para tirar a autoridade da Igreja é necessário afirmar que Deus não existe. Com isso, estabelece-se um paradoxo que Deus, que é conforme o conceito cristão, não existe, porque não tem evidência de existência. Eu escrevi em algum lugar aqui que é possível provar uma negativa.

Isso é um problema, pois acaba atribuindo à evidência um caráter transcendental, metafísico, até mesmo espiritual. Sobretudo se considerarmos a presença do pensamento abstrato na ciência, ou na contribuição de “religiosos” no desenvolvimento da ciência.

Eu duvido que o ateu, o descrente, vai entender que toda nossa cultura, inclusive a ciência, foi desenvolvida pelos povos antigos, todos religiosos. Pagãos, se me permitem puxar a sardinha.

Sabe o método científico?
Roger Bacon estabeleceu sua base e ele era um frade franciscano.
Que se inspirou em Aristóteles, filósofo da Grécia Antiga que também acreditava no divino.
Sabe a Teoria do Big Bang?
Foi apresentada por Georges Lemaitre, padre católico.
Sabe a Navalha de Ockham, tão fartamente usada pelos ateus?
Foi teorizada por Guilherme de Ockham, frade franciscano.
Todo nosso sistema jurídico deve muito ao Código Justiniano, do imperador bizantino Justiniano I.
O código de leis mais antigo (ou mais famoso) é o Código de Hamurabi. Em seu preâmbulo, coloca-se uma dedicatória e atribuição ao Deus Shamash.

Então eu posso afirmar que a beleza e a arte do mundo antigo seria impossível de existir ou de ser apreciada sem Zeus, Júpiter ou Osíris.
A arte vem da imaginação, criatividade e sonhos, não da razão, pelo menos não como o ateu a conceitua.

O Paulo publicou o texto do Jack em uma tentativa (inócua e infrutífera) de explicar (justificar?) a declaração de Dawkins sobre ele ser um cristão cultural.
Para quem diz ser ateu e acredita ser mais inteligente, o Paulo deixa muito a desejar.

quinta-feira, 23 de maio de 2024

Na base da porrada

O projeto de lei para implementar escolas cívico-militares na rede estadual e municipal de ensino foi aprovado na noite desta terça-feira (21) na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).

A medida foi aprovada após um confronto entre policiais e estudantes que protestavam contra a proposta.

O projeto, de autoria do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), foi aprovado por 54 votos a favor e 21 contra. Agora, a medida segue para sanção do governador.

Segundo o Tenente Coimbra (PL), o projeto prevê a implementação de 100 escolas cívico-militares até 2026, com 30 a 40 unidades previstas já para o próximo ano.

O policiamento na Alesp foi reforçado desde o início da tarde. Antes da votação, alunos tentaram invadir áreas restritas aos deputados, como o Salão dos Espelhos e o plenário, onde foram registradas agressões de agentes contra estudantes que protestavam contra o projeto.

Sete estudantes foram detidos e encaminhados ao posto da Polícia Civil na assembleia. Um dos jovens detidos protestou contra a conduta dos PMs: “que vergonha deve ser bater em um estudante para comer”.

O projeto define que escolas públicas estaduais e municipais do ensino fundamental, médio e educação profissional podem se converter para o modelo cívico-militar se desejarem.

Neste modelo, a Secretaria da Educação seria responsável pela condução pedagógica nas instituições de ensino, enquanto a Secretaria da Segurança Pública cuidaria da administração e disciplina.

Atividades extracurriculares seriam definidas em colaboração com outras secretarias e conduzidas por monitores não armados, que poderão ser militares da reserva.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/apos-repressao-a-estudantes-projeto-das-escolas-civico-militares-e-aprovado-em-sp/

Nota: não se poderia esperar outra coisa do Tarcísio. Cadê a liberdade de expressão e de manifestação?

Questão de perspectiva


What if God was one of us?
Just a slob like one of us
Just a stranger on the bus
Tryin' to make his way home?

-One of us, Joan Osborne.

Uma charge no Brasil 247 instigou a minha atenção.

O que Renato Aroeira quer transmitir?

Esse é um resumo do pensamento ateu?
Observando o absurdo das ações e palavras de pessoas supostamente representantes de Deus, a crítica, o questionamento e a dúvida devem ser estimuladas. Pena que o ateu, quando se manifesta, o faz de forma tão fundamentalista e dogmática como o cristão.

Renato não deve ter atinado no simbolismo oculto e até esotérico escondido na obra de Michelangelo que ele utilizou como base da sua charge.

Michelangelo fez uma pegadinha na Igreja Católica e escondeu uma simbologia naturista, até humanista, em sua obra na Capela Sistina.

Eu sei e digo com frequência que essa merda toda começou quando apareceram as organizações religiosas. Isso está longe da questão sobre a existência do divino.
Eu costumo também dizer que toda nossa cultura (inclusive a ciência) foi desenvolvida pelos povos antigos, todos religiosos. Naquela época, a religiosidade era pública e voluntária. A vida do cidadão comum (da cidade) estava inerentemente relacionada com uma experiência e vivência prática com o divino.
O conceito de Deus era bem diferente do que as organizações religiosas têm imposto ao longo de séculos. O divino era considerado como parte do mundo, da natureza e da realidade. Então o estudo da natureza, assunto da ciência, lida com aquilo que é manifestação do divino.
Para estabelecer uma analogia, é como olhar a linha de uma malha e dizer que não existe a estampa.

Tem uma frase de LaVey que cabe aqui. “A responsabilidade ao responsável”. Quem dá audiência para e faz essas merdas é o humano. Então quem tem que lidar com e limpar essa merda é o humano.
Quem tiver ouvidos, ouça.
Quem tiver entendimento, entenda.

quarta-feira, 22 de maio de 2024

Sleipnir curtiu

Deus não joga dados.
-Albert Einstein

Mas seus prepostos apostam em cavalos.
-Eu mesmo, neste instante.

Foi necessário Pascal passar pelo rio Estige para ele perceber que ele fez uma aposta ruim.

A despeito das psicografias, aqueles que passaram pelo véu entre os mundos não podem falar o que encontraram.

Mas o medo do inevitável constitui o melhor trunfo das organizações religiosas para aumentar a clientela.

Então um padre, um pastor, um rabino e um imam entram em uma corrida de cavalos. Os frequentadores usuais olham embasbacados. Geralmente, pessoas que ocupam o sacerdócio (ênfase no ócio) condenam a jogatina. O que vieram fazer no jóquei?

O padre torcia para o cavalo branco, que simbolizava a pureza e a fé. O pastor torcia para o cavalo castanho, que representava a força e a perseverança. O rabino torcia para o cavalo preto, que lembrava a sabedoria e a justiça. E o imã torcia para o cavalo baio, que simbolizava a paz e a harmonia.
(Trecho sugerido pelo Gemini, do Google)

Feitas as apostas, os sacerdotes sentaram na parte dos camarotes, um local privilegiado, reservado aos “Vips”, longe e isolado da arquibancada, onde ficam as pessoas.

-Senhores, então estamos combinados. O cavalo que ganhar será a prova de qual de nós está certo e de qual religião adora o Deus verdadeiro.

-Infiéis. O cavalo Salah vai ganhar.

-Vai sonhando. Sola Scriptura vai ganhar.

-Ganhar o segundo lugar depois de Brit Mila.

-Não adianta chorar, quando Kyrie Eleison ganhar.

O sinal estridente soa com a liberação dos cavalos que começam a correr. A arquibancada reverbera, com a torcida. Os clérigos esqueceram toda compostura e torciam com mais zelo do que cuidavam de seus textos sagrados.

Cerca de quinze minutos depois, a corrida tem um resultado. Ganhou Equus, montado por Epona. A outrora Deusa da Soberania acena ao público, lançando beijos aos que ela reconhece como sendo do seu povo.

-Senhores… nada disso aconteceu. Vamos esquecer isso. Essa aposta. Vamos voltar e continuar com nosso serviço.

Mas o público não esquece. A humanidade está lembrando suas verdadeiras raízes, origens e Deuses.

Sátira e paródia baseada no texto (título “Trust in God, not horses”) de Alice Murray, na coluna Feet to Faith, na seção General Christian, no Patheos.

terça-feira, 21 de maio de 2024

Carpe Diem

À primeira vista, parecia apenas um bloco de pedra esculpida.

Aquele pedaço de calcário estava voltado para baixo, completamente atolado na lama, onde antes ficava uma antiga cidade romana no centro da Itália.

Acredita-se que o bloco tenha sido roubado na era medieval – arrancado dos restos da antiga metrópole e levado embora, talvez para ser usado como material de construção. Mas a lama frustrou a tentativa e ele ficou ali, na mesma posição, por centenas de anos.

Foi preciso chamar uma equipe de três pessoas para retirar a pedra. Quando eles conseguiram, Alessandro Launaro, professor de estudos clássicos da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, soltou um grito de alegria.

"A primeira coisa que me lembro de dizer foi 'Uau! Inscrição!'", ele conta.

O bloco havia deixado para trás uma impressão de letras latinas e linhas misteriosas, prensadas na lama como se fosse um carimbo. "E achei aquilo realmente desconcertante", relembra Launaro.

Depois que a rocha foi extraída com segurança do solo, seu propósito ficou claro. Era um antigo relógio de sol romano. Centenas deles já foram descobertos em várias partes do mundo.

O fato de ter ficado enterrado na lama o deixou extraordinariamente bem preservado, com as linhas que demarcavam cada hora que passava e uma inscrição com o crédito à pessoa que pagou pela sua elaboração.

Mas o mais impressionante foi que ele demonstrou a solução encontrada pelos antigos romanos para um dilema que já dura séculos: como aproveitar ao máximo a luz do dia nas diferentes épocas do ano.

Duas vezes por ano, cerca de um terço dos países do mundo realiza um ritual amplamente debatido: alterar o relógio para criar noites de verão mais longas e manhãs de inverno mais claras.

Os Estados Unidos e a maior parte dos países da Europa, incluindo o Reino Unido, implementam o horário de verão – os relógios são adiantados em uma hora no início da primavera e atrasados em uma hora no outono, retornando ao horário padrão.

Mas os antigos romanos não tinham esse sistema. Por isso, eles praticavam uma arte há muito esquecida: a extensão da hora conforme as estações do ano.

Os antigos romanos dividiam o dia em 24 unidades, da mesma forma que fazemos hoje. Mas, na maior parte do ano, elas não tinham a mesma duração.

Todas as horas do dia eram divididas por 12, o ano inteiro. Com isso, no pico do verão, quando o Sol fica no céu por mais tempo, uma hora durava 75 minutos durante o dia e apenas 45 minutos à noite.

Já no meio do inverno, quando a luz do dia é mais escassa, o padrão era invertido. Com isso, a hora durava apenas 45 minutos durante o dia.

"Gradualmente, entre o solstício de verão e o de inverno, a duração dessas horas mudaria dia após dia, um pouco de cada vez", explica o professor de estudos clássicos James Ker, da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos.

No equinócio – um momento que ocorre duas vezes por ano, quando o Sol está diretamente acima do Equador e os dias e as noites têm aproximadamente a mesma duração – a hora tinha 60 minutos, como a conhecemos hoje.

Esse sistema notável permitia que os antigos romanos nunca perdessem a luz do dia por um único momento. Quando o Sol estava no céu, era oficialmente dia e eles normalmente estariam trabalhando. Quando ele baixava, era declarada a noite, tempo de lazer ou de dormir.

O relógio de sol de Launaro foi descoberto no local da antiga cidade romana de Interamna Lirenas, em 2017. Ele é diferente dos relógios de sol modernos.

Em vez de ser plano e circular, seu formato de tigela cortada ao meio inclui linhas que irradiam do centro até a extremidade, dividindo-a em 12 partes, representando as horas.

A face do relógio de sol é ainda subdividida por linhas de intersecção no topo, no fundo e no meio da tigela, indicando a estação: o solstício de inverno, os equinócios e o solstício de verão.

A cada momento, uma agulha central, conhecida como gnômon, lançava uma sombra com comprimento variável, dependendo da altura do Sol. Mas este detalhe se perdeu há muito tempo do relógio de Launaro.

Para ver as horas, você simplesmente verificava em qual segmento caía a sombra da agulha, como faria com qualquer versão moderna do relógio.

Na tarde de 24 de agosto do ano de 79, quando o monte Vesúvio começou sua erupção na cidade de Pompeia, os 36 relógios de sol descobertos nos escombros teriam sido lidos usando o anel de linhas externo. Com espaços mais longos entre as demarcações das horas mais distantes do centro do relógio, cada hora teria demorado mais para passar.

Naquela época do ano, uma hora tinha cerca de 70 minutos.

"Este conceito de hora para os romanos varia dependendo da época do ano", explica Launaro. "Para eles, até algo tão fundamental como a contagem do tempo era bastante diferente do nosso conceito atual."

Para o olhar moderno, a inclinação dos antigos romanos para estender e reduzir a duração das horas pode parecer incômoda ou até extravagante, mas colocá-la em prática era mais fácil do que parece. Isso porque, na maior parte do tempo, as pessoas não tentavam acompanhar as horas na sua mente, já que havia relógios de sol por toda parte.

Esses impressionantes objetos, normalmente feitos de enormes e pesados blocos de pedra, permaneciam em um único lugar pela vida inteira.

Alguns deles tinham estilos peculiares, como o famoso "relógio de porco", um relógio de sol em forma de presunto curado, com um rabo de porco retorcido no lugar da agulha, para reger a sombra do Sol e indicar a hora.

Existem hoje em dia até 600 relógios de sol que sobreviveram da Grécia e da Roma antiga. Deles, 99% usavam o sistema sazonal de contagem de tempo, inventado pelos antigos egípcios e posteriormente adotado pelas outras civilizações da Antiguidade.

"Eles ficavam em toda parte, em espaços privados, como jardins particulares, e em locais públicos", conta o professor de história das ciências exatas na Antiguidade Alexander Jones, da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos.

"Em praticamente todos os lugares aonde você fosse [no mundo romano], particularmente na época do Império Romano, você os encontrava."

Como muitos relógios de sol antigos, acredita-se que o de Interamna Lirenas tenha sido instalado originalmente sobre uma alta coluna ou pilar do Forum, uma espécie de praça que formava o centro da vida pública de qualquer cidade romana.

Colocar os instrumentos no alto permitia capturar a luz mesmo na presença de altos edifícios, de forma que as pessoas sempre tivessem uma visão clara da hora, dependendo apenas da sua qualidade de visão.

"Você precisava tentar ver a hora no relógio do sol do nível do solo, olhando para um objeto que talvez estivesse a seis metros de altura", segundo Jones.

Isso também pode explicar por que tantos relógios de sol que chegaram até nós não têm mais suas marcações, já que eles passaram anos ao ar livre, enfrentando desgastes.

Os primeiros relógios de sol costumavam ter inscritas instruções para sua leitura. Mas Jones explica que, em certo momento, no auge do Império Romano, todas as pessoas já sabiam como ver as horas.

"Os relógios mais novos têm apenas as linhas e normalmente não incluem nem os números escritos", explica ele. "Por isso, as pessoas devem ter aprendido como fazer a leitura."

As residências que não tinham seu próprio relógio de sol mandavam que pessoas escravizadas fossem regularmente até o relógio público mais próximo e voltassem para informar a hora.

Ainda assim, as pessoas tinham uma visão mais despreocupada sobre o tempo, segundo Jones.

"Nós marcamos compromissos para 15 minutos depois da hora cheia, algo que não acontecia nos tempos antigos", afirma ele. "Se você marcasse um compromisso para uma hora específica, aquela era normalmente a precisão que se praticava."

Por isso, raramente era necessário tentar calcular a duração de uma hora sazonal.

Mas a duração inconstante da hora romana realmente era alvo de comentários.

"Você ouve frases como 'em uma hora de inverno'", afirma Ker. Ele compara essa expressão com o "minuto de Nova York" – um minuto extremamente curto, que já foi comparado ao tempo decorrido entre o semáforo mudar para a luz verde e a pessoa no carro de trás tocar a buzina.

Ker menciona o exemplo de um poeta romano que alardeava que seu livro poderia ser lido em até uma hora. Ele então especificava que não queria dizer em qualquer hora, mas em uma hora de inverno – o que era ainda mais impressionante, já que essa unidade de tempo poderia durar até 45 minutos.

"Havia uma forma de falar sobre as horas que refletia sua elasticidade", segundo ele.

É claro que os longos dias de verão e os dias de inverno mais curtos influenciavam a duração das noites.

Afinal, cada rotação da Terra sobre o seu eixo em relação ao Sol tem apenas 1.440 minutos, de forma que cada minuto alocado ao dia era essencialmente subtraído à noite.

Com isso, no pico do verão, um dia tinha 900 minutos de duração, enquanto a noite ocupava apenas 540 – o equivalente a nove horas, na contagem de tempo moderno, para que as pessoas socializassem, jantassem e dormissem.

Essas noites de verão mais curtas podiam trazer problemas.

Já naquela época, como ocorre hoje em dia, dormir por tempo suficiente era uma obsessão entre os antigos romanos.

Houve um caso liderado pelo imperador Marco Aurélio (121-180). Ele permitia que sua corte descansasse por mais tempo – um raro exemplo de rebelião contra a flutuação sazonal da duração das horas do dia.

"Durante o verão, em vez de esperar até o pôr do sol para liberar seus servidores [como era comum], ele encerrava o dia, eu acho, perto da 10ª hora", explica Ker. "E, com isso, eles tinham tempo suficiente para ir para casa, talvez fazer exercícios, talvez jantar e ainda ter oito horas de sono."

Acompanhar a passagem dessas horas noturnas com duração variável podia ser trabalhoso. Afinal, é claro, os relógios de sol não funcionam à noite.

A única opção era o relógio de água, que funcionava mais ou menos como uma ampulheta. A quantidade de água que havia passado por ele indicava o tempo decorrido.

Mas muito poucos relógios de água da era romana chegaram até nós, segundo Jones. Um motivo talvez seja porque eles tinham muitas partes móveis, ao contrário dos relógios de sol, que costumavam ser feitos com um único bloco grande de pedra.

Mas ele ainda acredita que os relógios de água nunca tenham sido tão comuns quanto os de sol, já que eram objetos caros e sofisticados.

Teria sido perfeitamente possível para as pessoas que possuíam relógios de água fazer com que a hora tivesse duração padrão à noite. Mas não era o que queriam as pessoas comuns.

"Por isso, é realmente incrível que eles fizessem relógios de água ajustáveis, de forma que eles também acompanhassem a variação das horas ao longo das estações", explica Ker.

"Eles eram tão dedicados ao sistema [de extensão e redução das horas] que, até à noite, eles usavam um aparelho diferente que correspondia ao que marcava o relógio de sol."

De fato, as únicas pessoas que obedeciam a duração da hora moderna na Roma antiga eram os médicos e astrônomos. Eles precisavam de maior precisão para seus pacientes e cálculos.

Por isso, eles usavam a chamada hora equinocial, que recebeu este nome devido aos dois momentos do ano em que os períodos de dia e noite são exatamente iguais e cada uma das 24 horas tem 60 minutos.

Mas não importa se uma civilização usa o método antigo de extensão das horas ou a técnica moderna do horário de verão. O fato é que, naturalmente, não podemos aumentar a quantidade de tempo disponível durante o dia. Podemos apenas ajustar os limites para aproveitar a luz do dia ao máximo possível.

"Você não pode manipular a natureza, você não pode alterar o tempo disponível para fazer trabalho produtivo [em ambientes externos]", afirma Jones. "As pessoas precisam simplesmente conviver com isso."

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cq5kn511jyjo.amp

segunda-feira, 20 de maio de 2024

Manifestação contra o CREMESP

Manifestantes fizeram nesta quinta-feira (16) um ato na capital paulista em defesa dos serviços de aborto legal. A manifestação foi organizada pela Frente pela Legalização do Aborto do Estado de São Paulo e ocorreu na região da Avenida Paulista, em frente à sede do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp).

Os manifestantes reclamam que a prefeitura de São Paulo não está cumprindo a lei, deixando de atender ou dificultando o atendimento em casos em que o aborto é permitido. Eles também reclamam que o Cremesp tem criminalizado, afastado ou perseguido profissionais de saúde que atendem mulheres que têm direito ao aborto legal na capital paulista.

Durante o ato, as mulheres vestiram e distribuíram lenços verdes, lembrando os pañuelos verdes, símbolo da luta pela legalização do aborto na Argentina. Elas também promoveram a entrega de uma coroa de flores ao Cremesp para simbolizar as meninas que são vítimas de criminalização.

“Hoje, várias organizações feministas estão aqui na frente do Cremesp denunciando a abertura de sindicâncias contra profissionais da saúde que atenderam vítimas de violência sexual no Hospital Vila Nova Cachoeirinha. O Cremesp, junto da prefeitura de São Paulo, vem perseguindo profissionais da saúde. Consideramos isso uma violação democrática porque o aborto legal é garantido no Brasil desde 1940”, disse Tabata Pastore Tesser, que integra as Católicas pelo Direito de Decidir e a Frente Estadual pela Legalização do Aborto de São Paulo, em entrevista à Agência Brasil.

Segundo Maíra Bittencourt, obstetriz, parteira e integrante do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde de São Paulo, esse tipo de perseguição aos profissionais da saúde pelo Cremesp “é terrível” porque eles acabam temendo represálias, mesmo agindo dentro da lei. “Essa é uma forma de intimidar esses profissionais”.

Maíra citou como exemplo de intimidação o caso recente de duas médicas que trabalhavam no Hospital Vila Nova Cachoeirinha e que tiveram seus registros profissionais suspensos por realizar abortos. O Cremesp alega que essas médicas estão sendo investigadas pela prática de aborto de casos não previstos em lei, mas os manifestantes encaram esse caso como estratégia de intimidação. “Esse é um método terrível de amedrontar os profissionais de saúde. Médicos, enfermeiros e técnicos ficam com medo [de fazer o aborto legal]”, defende.

Por lei, o aborto ou interrupção de gravidez é permitido e garantido no Brasil em casos em que a gestação decorreu de estupro da mulher, de risco de vida para a mãe e também em situações de bebês anencefálicos. No entanto, em dezembro do ano passado, o Hospital Municipal e Maternidade da Vila Nova Cachoeirinha, hospital de referência, suspendeu a realização desse tipo de procedimento. Na ocasião, a prefeitura informou que a suspensão seria temporária, mas não deu prazo de quando o serviço seria retomado e o serviço continua indisponível.

“O que nos preocupa é que, além da criminalização promovida pelo Cremesp, a prefeitura de São Paulo fechou o serviço de aborto legal no Hospital Vila Nova Cachoeirinha, que é um dos principais serviços de atendimento. Usaram uma justificativa falaciosa de que seria por falta de demanda, quando vemos que as mulheres estão demorando horas para acessar um novo serviço na cidade de São Paulo. É muito perigoso isso que está acontecendo”, diz Tabata. “Nos causa muita estranheza que, nos casos em que o Brasil garante esse direito, a gente tenha o Cremesp e a prefeitura de São Paulo agindo em conluio para criminalizar as pessoas que vão procurar esses serviços. Esse é um direito que está sendo negado, na prática”, reclama.

Procurada pela Agência Brasil, a Secretaria Municipal da Saúde informou, por meio de nota, que o serviço de aborto legal “está disponível em quatro hospitais municipais da capital. São eles: Hospital Municipal Dr. Cármino Caricchio (Tatuapé); Hospital Municipal Dr. Fernando Mauro Pires da Rocha (Campo Limpo); Hospital Municipal Tide Setúbal; Hospital Municipal e Maternidade Prof. Mário Degni (Jardim Sarah). O serviço ocorre dentro das premissas de segurança e qualidade conforme prevê a legislação vigente”, diz a administração municipal.

Para a advogada Rebeca Mendes, fundadora e coordenadora do Projeto Vivas - entidade que atua junto a mulheres que necessitam de acesso ao aborto legal – o fechamento do Hospital Vila Nova Cachoeirinha é um projeto político, relacionado à extrema-direita e que tem prejudicado as pessoas que tem direito ao aborto.

“Essa é uma situação desoladora para quem precisa recorrer ao serviço de aborto legal aqui em São Paulo. A prefeitura diz que outros quatro equipamentos fazem esse serviço [de aborto legal], mas quando se chega lá nunca tem atendimento. No Hospital do Tatuapé, por exemplo, todas as vezes em que se vai até lá, alegam que o ginecologista responsável está em férias”, denuncia. “No Tide Setúbal, apenas quatro procedimentos [de aborto legal] foram feitos no ano passado. Imagina uma cidade do tamanho de São Paulo, em que um hospital faz apenas quatro abortos legais por ano. Isso é algo inconcebível na nossa realidade. Para se ter uma ideia, o Vila Nova Cachoeirinha, no ano passado [quando ainda estava aberto] fez 400 atendimentos e 153 abortos”, acrescentou.

A suspensão desse serviço pelo Hospital Vila Nova Cachoeirinha acabou gerando preocupação no Ministério Público Federal (MPF), que pediu esclarecimentos à prefeitura. Para o MPF, a suspensão dos procedimentos no Hospital Vila Nova Cachoeirinha causou transtornos às mulheres que se enquadram nos casos legalmente autorizados principalmente por lá ser uma unidade de referência, inclusive para pessoas com mais de 22 semanas de gravidez. No início deste ano, a Justiça de São Paulo também cobrou a prefeitura pela reativação da prestação desse serviço no hospital.

Para Maíra, as maiores vítimas do fechamento do hospital de referência são as crianças e adolescentes que engravidam por violência sexual e “só percebem tardiamente a gravidez”.

“O Hospital Vila Nova Cachoeirinha era o único hospital que não tinha limite de tempo gestacional. E por que isso nos preocupa? São as meninas menores de 14 anos que chegam com mais de 22 semanas [de gravidez]. São elas que são violentadas e em que as gestações só serão descobertas quando o corpo aparenta, quando já se tem a barriga. São elas que são as mais prejudicadas pelo fechamento do hospital”, concordou Rebeca.

Procurado pela Agência Brasil, o Cremesp disse que “respeita o direito da mulher ao aborto legal e ressalta que, como autarquia federal, tem a prerrogativa de fiscalizar o exercício ético da Medicina em qualquer instituição hospitalar no Estado de São Paulo. O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo vem a público reiterar que as sindicâncias e os processos ético-profissionais estão submetidos ao sigilo, razão pela qual se torna inviável a divulgação de informações específicas sobre os casos”, disse o órgão.

O Cremesp negou que esteja criminalizando o aborto legal e perseguindo profissionais da saúde que atendem os casos previstos em lei. “Torna-se necessário reforçar que o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo jamais permitiria a utilização do seu poder-dever fiscalizador para perseguir médicos, tampouco para reprimir ideologias de qualquer espectro político. A atuação desta instituição é sempre pautada pelo rigor técnico-científico e pela imparcialidade”, escreveu o órgão.

“Portanto, os médicos que norteiam a sua conduta pela ética e por padrões estabelecidos de boas práticas médicas podem desenvolver a sua atividade com autonomia e tranquilidade, especialmente quando estiverem respaldados por decisões judiciais e pelas normas a regerem a profissão. Por outro lado, aqueles poucos profissionais que pretendem utilizar a medicina para fins escusos, antiéticos e ilegais serão sancionados pelo Conselho Regional de Medicina, após regular apuração, garantindo-se a ampla defesa e o contraditório, uma vez que esta é uma das atribuições outorgadas à Autarquia Federal pela Lei 3.268/57”, acrescentou o Cremesp.

As mulheres que foram vítimas de violência sexual ou que têm direito ao aborto legal, mas que estejam encontrando dificuldades para fazê-lo na cidade de São Paulo, podem procurar ajuda com o Projeto Vivas ou a Defensoria Pública, informou Rebeca. “Elas podem entrar em contato com o Projeto Vivas por meio do Instagram @projeto.vivas. O Nudem [Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos das Mulheres] também é um grande aliado dessas mulheres”, pontua.

Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2024-05/manifestantes-em-sp-acusam-cremesp-de-criminalizar-aborto-legal

Conversa de chapado

Karl Marx cunhou a frase: “a religião é o ópio do povo”.

No Patheos, Lorraine Kisly coloca como título do texto dela uma curiosa versão: “o opiáceo da descrença”.

Eu tenho a impressão que Lorraine está enganada ou “forçando a barra”.

Citando:

“A negação generalizada, crescente e sempre cada vez mais inflexível de Deus e o repúdio da dimensão espiritual podem ser difíceis de compreender.”

A base do ateísmo, da descrença, consiste na negação do espiritual, do divino. Para embasar seus argumentos, o ateu recorre à generalização. Mas Lorraine também generaliza, pois tal como o ateu, o conceito de Deus é o cristão.

Citando:

“Esta negação é sempre expressa com total convicção, sem agnosticismos ou questionamentos geralmente admitidos.”

Lorraine pulou o detalhe de onde vem a convicção do descrente, do ateu. Nessa parte a Lorraine perde, pois a característica mais elementar do cristão é a falta de questionamento. A convicção do ateu vem do princípio (uma falácia de petição de princípio) de que algo só existe se tiver evidência.

Citando:

“Há muito que me parece que a incapacidade de sentir o sagrado é uma deficiência. O sentido do sagrado é inerente ao ser humano. Se faltar esse sentido, não será diferente de não ter a capacidade de ver, ouvir ou cheirar. É uma deficiência como qualquer outra.”

Eu concordo, mas aqui a Lorraine perde. Afinal, o que mais o cristão faz é a imposição de um determinado padrão de sensações e da negação de outras formas de sentir o sagrado e o divino.

Citando uma citação:

“O materialismo é uma convicção baseada não em evidências ou lógica, mas naquilo que Carl Sagan (falando de outro tipo de fé) chamou de “necessidade profunda de acreditar”.

Como vimos acima, Lorraine e David Bentley Hart (o autor da frase) estão errados. O ateu, o descrente, baseia sua visão de mundo totalmente em evidências e lógica.

Continuando:

“Considerada puramente como uma filosofia racional (...) oferece um refúgio de tantas perplexidades elaboradas, de tantos esforços espirituais árduos, de tantos problemas intelectuais e morais difíceis, de tantas expressões exaustivas de esperança ou medo, caridade ou remorso.
Neste sentido, deveria ser classificada como uma daquelas religiões de consolação cujo propósito não é envolver a mente ou a vontade nos mistérios do ser, mas apenas fornecer um paliativo para as mágoas existenciais e as desilusões privadas.”

O ateísmo não propõe qualquer consolo. Surgiu a partir dos absurdos que estão amplamente demonstrados pela história e pelas notícias. Embora perca todo sentido atribuir os males inerentes da vida a um ser que, teórica e conceitualmente, não existe. Essa merda toda aconteceu por causa das organizações religiosas. Quando existe um erro, a culpa é do ferramenteiro, não da ferramenta.

Continuando:

“Tendemos a presumir que, se pudermos descobrir as causas físicas (...) eliminaremos assim todas as outras explicações causais possíveis.”

No modelo científico, que é usado pelo ateu, parte-se da coleta, mensuração e observação dos fenômenos para, então, estabelecer teorias comprováveis. Então Lorraine e David perderam, porque o Cristianismo parte daquilo que quer “provar” para depois procurar “evidências” que sustentem a doutrina cristã.

Continuando.

“Aqueles que perderam completamente a capacidade de ver a realidade transcendente que se mostra em todas as coisas, e que se recusam a procurá-la ou mesmo a acreditar que a busca é significativa, confinaram-se por enquanto dentro de um mundo ilusório, e vagam em um labirinto de sonhos.”

Como vimos acima, trata-se de codificar a apreensão dos sentidos do real. Aquilo que é transcendente, o nome diz, ultrapassa o real. Aquilo que se mostra nas coisas é o imanente. O ateu provavelmente nunca vai entender que o conhecimento humano é formado também pelo pensamento abstrato, pelas experiências pessoais e pelos sonhos.
O problema, é que o cristão, tal como o ateu, rejeita as outras visões e experiências espirituais.

Continuando.

“Aqueles outros, no entanto, que ainda são capazes de ver a verdade que brilha dentro, através e além do mundo da experiência comum, e que sabem que a natureza é, em todos os seus aspectos, o dom do sobrenatural, e que entendem que Deus é aquele absoluto realidade na qual, a cada momento, eles vivem, se movem e existem (...)”.

Em outro tempo, na Idade Média, David seria perseguido, preso, torturado e morto por heresia.
Por esses crimes, o questionamento do descrente, do ateu, é bem vindo. Até o ponto em que este também se torna fundamentalista e dogmático.

Resumindo, temos visões de mundo. Nossos sentidos são limitados e sujeitos a erros. Uma teoria científica indica a possibilidade de termos outras dimensões. O método científico é uma das formas de compreender a realidade. A discussão só começa quando se coloca uma forma de ver o mundo como a única certa e verdadeira. O que não significa que devemos rejeitar qualquer tipo de conhecimento.

Em acréscimo, eu recordo a minha experiência com o maná índigo. Eu não sei como explicar ou entender essa experiência. Aquilo que eu vi e senti, esteve sempre presente e eu fui capaz de perceber por ter meus sentidos expandidos, ou aquilo que eu vi e senti foram efeitos da ação da substância enteógena?

Nenhum texto sagrado responde. A ciência também não tem a resposta. Em uma conversa de bêbado, ninguém tem razão.

domingo, 19 de maio de 2024

Preconceito atrapalha adoção

A terapeuta Carolina Rua e a empresária Laís Guerra, que vão adotar uma criança juntas, dizem que a maternidade começa no processo de preparação afetiva para receber o novo integrante da família - gestar um filho no coração. A frase pode soar estranha, quando existe uma ideia fixa e limitada ao processo biológico.

“Desde que a decisão de ter um filho por adoção foi tomada, tudo que fazemos já considera a existência dessa pessoinha. Por exemplo, nos mudamos recentemente e a escolha do apartamento dependia de ter um quarto para nosso filho”, conta Carolina, que tem 39 anos. “Com o tempo e muita terapia, fomos identificando que gestar biologicamente não era um desejo nosso. Nós queríamos ser mães, mas não nos víamos grávidas e foi aí que decidimos gestar pela adoção, gestar no coração”.

O caminho até a decisão não foi fácil, muito por causa de pressões familiares e sociais, que colocavam a alternativa biológica como a única legítima, o que as duas entendem ser um tipo de resistência mais comum para casais homoafetivos. No Dia Internacional de Combate à LGBTfobia, a Agência Brasil conversou com pessoas que ainda enfrentam preconceitos ao tentar adotar filhos por conta da orientação sexual.

Na consulta feita esta semana pela reportagem ao Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA), administrado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), 4.772 crianças e adolescentes esperavam por pais adotivos. O número de adultos pretendentes era de 36.318.

De acordo com o sistema, 21.292 crianças e adolescentes foram adotados desde 2019. Destas adoções, 1.353 foram feitas por casais homoafetivos, ou seja, 6,35% do total. O número vem crescendo a cada ano, e passou de 143 adoções em 2019 para 401 em 2023.

Não existem entraves legais para que casais homoafetivos adotem crianças. O Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu uniões estáveis do tipo em 2011 e nova decisão em 2015 reforçou esse direito à adoção. O processo é o mesmo para todos: reunir documentos, entrevistas com psicólogos e assistentes sociais e visitas a abrigos, até que um juiz dê a aprovação. Ou, seja, hoje o problema é essencialmente social, de mentalidade de algumas pessoas.

“É lamentável que ainda haja quem defenda um modelo restrito de família, ignorando a diversidade e a riqueza das relações afetivas. Temos em mente que, como mães adotivas, desafiaremos esses estereótipos, mostrando que amor, cuidado e capacidade de criar um ambiente acolhedor não têm nada a ver com orientação sexual ou identidade de gênero. Para nós, o que importa é a capacidade de construir vínculos, dar amor e cuidar dos nossos filhos”, defende Laís, que tem 36 anos.

O casal está junto há 12 anos e vai apresentar em breve a documentação exigida para se habilitar à adoção. Elas escolheram uma criança de 0 a 5 anos, sem preferência de gênero e etnia, e não colocam restrições caso tenha doenças infectocontagiosas. O processo todo pode durar até cinco anos, mas elas já estão ansiosas e não descartam uma segunda adoção depois, de uma criança acima dos 7 anos.

Nesse processo de preparação, Carolina criou até um jogo para ajudar pais aspirantes à adoção a enfrentar tabus comuns, relacionados ao gênero, etnia e idade das crianças. O tema é baseado no Harry Potter, personagem da ficção que também foi adotado tardiamente.

“Digo que nosso filho, filha ou filhe já transformou de mil formas nossas vidas, nos abriu mundos novos e têm nos tornado pessoas melhores mesmo antes de chegar”, diz Carolina. “Se você entrar no site do sistema nacional de adoção vai perceber que a maioria das crianças é da etnia negra (pretas e pardas) e isso foi crucial para o nosso movimento de racialização (somos brancas) e pela busca de uma educação antirracista. Estamos envolvidas em rodas de conversa com esse conteúdo, já como preparação para uma família interracial”.

Para que a Carolina e a Laís ganhassem mais confiança, foi essencial o trabalho do Cores da Adoção, um coletivo de voluntários que compartilha experiências e informações técnicas sobre o processo de adoção e as burocracias envolvidas. O grupo foi fundado em 4 de agosto de 2017. É formado por pais e mães de filhos adotivos, que fazem um trabalho voluntário para ajudar outras famílias a seguir o mesmo caminho. O nome e o símbolo do grupo (com cores do arco-íris) representam a diversidade das famílias atendidas, de todas as orientações sexuais e gêneros, inclusive heterossexuais.

Eles afirmam que uma das missões é permitir que as famílias “compartilhem da melhor forma possível suas experiências, angústias e preocupações”, além de estimular na sociedade uma “atitude adotiva que celebre toda a forma de amor e valorize todas as famílias e tipos de laços de afeto”.

Eles têm uma sede para os encontros mensais em Vargem Pequena e vão inaugurar uma novo local no Sesc de Copacabana na próxima semana, dia 21 de maio. As reuniões são gratuitas e abertas a todos os que pretendem adotar uma criança. O Cores da Adoção tem o apoio das quatro Varas da Infância, da Juventude e do Idoso da Comarca da capital fluminense.

“O que leva uma criança para adoção não é uma história bonita. Elas geralmente são arrancadas de lares disfuncionais, por terem sofrido abuso, abandono, negligência ou violência. E como fazer com que essa aproximação com a nova família seja exitosa? Que não gere na criança um segundo trauma? O Cores ajuda pessoas que querem adotar a refletir sobre temas que as tiram do senso comum. A qualificação da gestação adotiva só vem realmente pelo esforço da sociedade civil engajada”, diz o advogado Saulo Amorim, um dos fundadores e coordenadores do Cores da Adoção.

Apesar de não ser voltado exclusivamente para a população LGBT+, o coletivo tem cumprido papel importante de ajudar esses grupos, historicamente marginalizados no processo de adoção.

“O fato de não terem direito no passado, não quer dizer que pessoas LGBTQI+ não tenham sido pais e mães. Quantas mulheres viveram juntas como se fossem primas ou amigas e criaram filhos? Eram casais lésbicos. Quantos homens criaram filhos de suas irmãs e eram homossexuais, mas escondidos porque a sociedade não os permitiam viver isso publicamente? As famílias LGBTQI+ não são contemporâneas. Sempre existiram. Mas antes viviam em silêncio, nos guetos, apartadas dos direitos que eram exclusivos de heterossexuais”, diz Saulo.

O engenheiro Henrique dos Santos Poley, de 27 anos, e o assistente de contabilidade Ryan Poley dos Santos, de 22 anos, estão junto desde 2021. No ano seguinte se casaram e tentaram dar início à habilitação para adotar uma criança. Mas, acabaram esbarrando na falta de conhecimento e o processo não foi para a frente. Em dezembro de 2023, com a ajuda do Grupo Cores da Adoção, conseguiram dar entrada oficialmente no processo. Esta semana, tiveram a aprovação do Ministério Público e estão na expectativa para avançar mais um estágio, quando o juiz libera o acesso do casal ao SNA.

Eles sempre sonharam em ser pais, antes mesmo de se conhecerem. Chegaram a considerar inseminação artificial, mas decidiram pela adoção. Ainda não definiram preferência de sexo das crianças, mas consideram adotar até dois irmãos de uma vez.

“O coração não cabe dentro do peito. Temos esse desejo muito grande de sermos pais. No último Natal, preparamos o terreno na família. Informamos que estávamos nesse processo de adoção. Foi uma festa geral nas duas famílias. Somos muito unidos, todos aceitaram, entenderam o nosso sonho e embarcaram juntos”, conta Henrique.

Eles ainda não tiveram nenhuma experiência hostil por ser um casal homoafetivo em busca da adoção, mas já tiveram de ouvir questões preconceituosas de alguns colegas com quem convivem.

“Acabamos de passar pelo Dia das Mães. E nos perguntaram quem representaria a mãe em uma data como essa, porque deveria ter uma figura feminina na família. Sendo que o meu marido cresceu sem uma figura masculina na vida dele, porque não teve contato com o pai dele. E eu não cresci com a minha mãe, só com o meu pai. Então, as pessoas acabam trazendo algumas situações preconceituosas para algo que nem é concreto ainda. Os filhos nem chegaram ainda, mas já antecipam esses cenários”, diz Henrique.

O futuro pai reforça que, quando se tratam de crianças e adolescentes à espera de um novo lar, o que está em jogo é a possibilidade de oferecer o acolhimento necessário para o desenvolvimento delas.

“As pessoas precisam entender que religião, orientação sexual e identidade de gênero não são parâmetros para dizer quem pode prover afeto para uma criança. Um ambiente saudável para crianças e adolescente independe dessas questões”, afirma Henrique. “O mais importante é garantir um ambiente que seja lugar de amor e de afeto, aprendizado, de crescimento saudável. Uma família que tenha diálogo, troca, compreensão, escuta. Para a criança, independentemente da composição familiar em que ela esteja. Acima de tudo um lugar onde possa receber afeto”.

“Existe também um discurso muito desonesto, que frentes religiosas costumam falar muito, que é ‘Deus criou o homem e a mulher, então esse deve ser o padrão’. Isso é preocupante na perspectiva da democracia (e não somos uma teocracia), quando vozes se levantam para dizer que determinada interpretação dentro do universo cristão é o modelo que deve ser aplicado para toda uma nação. Que pode até ter uma maioria cristã, mas não exclusivamente. Existem várias outras práticas de fé. E muitas delas divergem de conceitos defendidos por quem acredita que existe Deus, que criou alguma coisa e que determinou isso em dois gêneros”, complementa Saulo.

Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2024-05/casais-homoafetivos-ainda-enfrentam-preconceitos-para-adotar-criancas