A muleta filosófica

A muleta é bastante difundida entre os pagãos modernos e vem em muitas variações diferentes. Algumas dessas variações se disfarçam de teologia (“Esta é uma lição de um poder superior”) ou escatologia (“Você deve ter escolhido experimentar isso antes de nascer”), mas tudo se resume à mesma coisa:

"Tudo acontece por uma razão."

Essa explicação pseudofilosófica é frequentemente exibida quando os pagãos enfrentam adversidades ou tragédias, muitas vezes como uma espécie de mecanismo de enfrentamento para essas circunstâncias. Ele tenta uma explicação filosófica para os eventos aos quais nos encontramos sujeitos, mas falha miseravelmente. Não é filosofia – não há lógica, nenhuma razão, e nenhuma reflexão crítica ou introspecção. Na verdade, é o oposto da filosofia: dogma.

Sejamos claros, porém: tudo  acontece por uma razão. Ou seja, tudo tem uma  causa . Tudo o que nos acontece, todas as circunstâncias em que nos encontramos e todos os eventos que testemunhamos ou dos quais participamos aconteceram por causa de condições postas em movimento por nossas próprias ações ou pelas ações (e inações) de outros. Muitas dessas coisas começaram a se mover muito antes de nascermos e muitas outras foram definidas antes de nossos avós serem concebidos. Mas ter uma razão não é o mesmo que ter um  propósito.  Isso é o que as pessoas que defendem o dogma da muleta realmente querem dizer. Eles estão dizendo que tudo o que nos acontece tem um propósito ou significado e que, se for verdade, é bastante problemático em pelo menos três maneiras diferentes.

Tudo foi planejado há muito tempo.
Se tudo o que acontece deve acontecer com um propósito, então deve necessariamente ter sido planejado e causado por uma inteligência que intervém na vida de alguém. Se um evento que ocorreu tem um propósito para a pessoa (ou pessoas) a quem acontece, então deve ter sido destinado a eles com esse propósito e as condições e circunstâncias que levaram ao evento devem ter sido manipuladas e definidas antes do evento próprio ocorreu. Existem, como se pode imaginar, milhares de circunstâncias que devemos manipular para obter a combinação certa para levar outra pessoa a um evento específico. Temos milhares de escolhas todos os dias – virar à direita ou à esquerda, sair cedo ou na hora, pegar o ônibus ou táxi, etc – e todas essas variáveis ​​devem ser levadas em conta se a circunstância certa ocorrer para levar alguém a qualquer evento específico . De fato, não apenas nossas próprias ações e circunstâncias, mas todas as outras ações e circunstâncias de nosso universo – os muitos bilhões de fios que se cruzam com os nossos – devem ser contabilizados e moldados. E se essas variáveis, as próprias decisões que todos tomamos todos os dias, estão sendo manipuladas, então não temos livre arbítrio. Se tudo o que acontece tem um propósito, então nossas ações devem ser planejadas e nossas vidas predestinadas.

Não é sua culpa.
Seguindo do primeiro problema: se nossas vidas são predestinadas e nossas ações predeterminadas, então não temos agência em nossas próprias vidas. Nenhuma quantidade de reflexão ou introspecção faz a menor diferença em nossas escolhas, em última análise, porque nossas ações foram predeterminadas muito antes de nascermos. Não tendo nenhum arbítrio, não devemos ter qualquer responsabilidade por nossas ações. Como alguém pode ser responsável por atos que não teve escolha? Como podemos ser responsabilizados? Como podemos responsabilizar uns aos outros por delitos e violações? Não podemos. Não é possível. Se tudo estiver predeterminado, não temos livre arbítrio, não temos arbítrio, então não temos responsabilidade nem prestação de contas por nossas ações. Nada é nossa escolha e nada é nossa culpa.

Um universo antiético e imoral.
Se tudo o que nos acontece não é por nossa própria criação, mas pelo poder e decreto de um poder maior, então todo o sofrimento humano, grande e pequeno, é por seu design e vontade. Esse poder seria necessariamente responsável por delitos pessoais e tragédias pessoais como o momento em que alguém roubou sua identidade e destruiu seu crédito ou a morte causada por um motorista bêbado a grandes injustiças e atrocidades como escravidão e limpeza étnica. E tudo com que finalidade? Uma lição, uma motivação, uma experiência? Não há nenhuma lição a ser aprendida na experiência de ser assassinado. Não há valor em ser um recém-nascido que morre ao nascer. Se tudo acontece com um propósito, então nos encontramos em um Universo onde aqueles que sofrem e morrem tornam-se apenas forragem para as lições e experiências dos outros. Eles foram determinados como danos colaterais aceitáveis ​​por qualquer poder projetado neste Universo que propositalmente causa tudo o que acontece. E assim, devemos encontrar falta moral no próprio projeto de tal Universo e, portanto, com seu Criador, o que constitui todo um outro conjunto de problemas e dilemas.

Portanto, se alguém não acredita que somos criaturas sem Vontade predestinadas a agir de acordo com o plano de algum poder maior, se alguém acredita que somos capazes de escolhas voluntárias e somos responsáveis ​​por essas escolhas, e se não acreditar que o Universo foi criado por um poder moralmente questionável e eticamente prejudicado, então deve-se raciocinar que, embora tudo possa ter uma causa, não tem um propósito. Mas isso não quer dizer que não podemos  encontrar  significado nas coisas trágicas e terríveis que nos acontecem. Certamente podemos desenhar ou dar sentido a qualquer coisa. Na verdade, é uma habilidade para a qual os humanos são singularmente adequados. Viver em um universo onde os eventos não têm propósito é bastante libertador, porque significa que a tragédia em sua vida não precisa definir você, você tem a capacidade de atribuir significado e aprender com isso, e você tem a agência e poder de mudar suas circunstâncias para navegar pelas infinitas possibilidades futuras. Como alguém mais sábio do que eu costuma dizer: “Merdas acontecem e fodem com você, então foda-se de volta”.

Fonte: https://bennybargas.wordpress.com/2016/08/21/the-philosophical-crutch/

Traduzido com Google Tradutor.