sábado, 27 de fevereiro de 2021
Os mártires pagãos
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021
Cultura Andina
Eu parei de escrever nesse blog em 25/06/2016 e
voltei quase cinco anos depois. Muita coisa aconteceu nesse período, eu passei
por uma péssima experiência, mas não irei comentar sobre isso.
Eu vou focar em divulgar o Paganismo, a Bruxaria e a
Wicca. O que eu irei abordar, hoje, fez parte de minha viagem para o Chile em
outubro de 2018.
Ali eu pude ter contato direto com a cultura, a
religião e o povo original da América Latina. Em 23 de janeiro de 2016 eu
escrevi um texto sobre a “roda do ano latina”. Foi com surpresa e satisfação
que eu encontrei no Chile a Chakana [a “cruz andina”]:
“Chacana, Chakana: (n) (1) Escadas; escada. A Cruz andina, ou Inca , cruz que reflete os três mundos (Hanaqpacha – superior , Kaypacha – face da terra , Ukhupacha – inferior e interior), com um disco central representando o Hatun Inti (O Divino Sol Central). A representação inca da constelação Cruzeiro do Sul descrito como poder simbólico para ponte entre o céu e a terra. Uma cruz, especificamente a cruz andina.; um símbolo da simetria divina e equilíbrio”. [Inca Glossary]
“A
cosmovisão andina, a imagem que a cultura tem do mundo e das pessoas está muito
ligada à cosmografia, que é a descrição do cosmos e neste caso para o céu do
hemisfério sul; o eixo visual e simbólico é marcado pela constelação do
Cruzeiro do Sul, chamado Chakana. [snip]
No universo andino existem
mundos simultâneos, paralelos e interligados, que reconhecem a vida e a
comunicação entre as entidades naturais e espirituais. A visão é baseada em
cosmologia, que é a fase da explicação mitológica do mundo, e estão organizados
como a base da sintaxe do pensamento. [snip]
A Chakana é a
representação de um conceito com vários níveis de complexidade de acordo com a
sua utilização. É o nome da constelação do Cruzeiro do Sul, resume a cosmo
visão andina e é um conceito ligado a estações astronômicas. É considerada a
ponte ou a escada que permitiu que os povos andinos mantivessem seus cosmos
latentes de ligação, um anagrama de símbolos, definindo em si a filosofia de
vida, a ciência, a cultura andina. Para essa cultura haveria dois espaços
sagrados que se opõem uns aos outros: primeiro vertical, dividido ao meio (macho
e metade fêmea), segundo horizontal, dividido em seres celestiais e seres
terrestres e subterrâneos”. [Portal Terra Base]
Eu pude conhecer também o
povo Mapuche e sua Cosmovisão:
“A terra caracteriza e dá
sentido existencial aos mapuche, fazendo parte desde seu etnônimo (gente da
terra) até a espécie de seus sobrenomes, geralmente toponímias do lugar em que
historicamente vivem (ou viviam) as diferentes linhagens de parentesco.
Os Mapuche usam a ideia de
mapu para designar a Terra, compreendida enquanto seus territórios
tradicionais, contudo não somente no simples plano material. A ideia de mapu
não faz “só uma referência ao tangível, ao material, senão que possui uma
dimensão espacial que permite situar todas as dimensões da vida no universo. Ou
seja, possui também uma dimensão transcendente” (PAILLAL, 2006, p. 31). O
conceito de Mapu alude assim a um espaço tanto físico como metafísico, onde as
forças do bem e do mal se complementam e interagem.
O universo cosmogônico
Mapuche possuiria duas dimensões: uma vertical e outra horizontal. A primeira
faz referência a uma série de plataformas que estariam superpostas no espaço,
possuindo certa hierarquia, sendo as superiores relacionadas ao bem e as
inferiores ao mal. A mapu, estaria em um grau intermediário, espaço de
intersecção, lugar onde o bem e o mal permeiam sincronicamente.
Em relação à dimensão
horizontal, estas plataformas seriam todas quadradas e de igual tamanho.
Geograficamente, esta plataforma que é a mapu, está orientada segundo os quatro
pontos cardeais, tomando como referência o leste, materializado pela
cordilheira dos Andes, direção sagrada e positiva de onde nasce o sol, matriz da
presente concepção espacial.
A ideia do mundo quadrado,
sendo os vértices os pontos cardeais é representada no kultrun, um dos
instrumentos musicais mais importantes da cultura Mapuche, utilizado
tradicionalmente em rituais xamânicos. “O kultrun é o resumo do conjunto da
criação que a machi utiliza para seus serviços como símbolo e expressão do
poder” (PIUTRÍN, 1985, p. 121). É justamente no centro deste quadrado, o centro
do universo, que as comunidades Mapuche localizam sua morada. Este ponto é
demarcado fisicamente no terreno por meio do nillatúe, um monumento
antropomórfico de madeira colocado em um campo aberto na comunidade Mapuche,
sendo um espaço sagrado onde se celebram de tempo em tempo rituais de
fertilidade (nillatún).
Cabe ressaltar dois pontos
fundamentais da cosmovisão Mapuche. O primeiro é o caráter animista desta
cultura, ou seja, a ideia de que todos os elementos da natureza são vivos,
conscientes e possuem ânima (espécie de energia, o qual os Mapuche chamam de
newén). Assim, por exemplo, uma planta medicinal possui em sua essência um
determinado newén; sendo justamente este, incorporado por aquele que ingere a
planta, o responsável pela cura do enfermo. O segundo aspecto importante é o da
reciprocidade, ideia fundamental no “Kimün Mapuche” (sabedoria Mapuche), na
qual pauta-se a ideia do equilíbrio das relações, fundamental a sua
perpetuidade”. [https://pt.wikipedia.org/wiki/Mapuches]
Aqui vale a pena anotar o
simbolismo do kultrun:
“O kultrun ou cultrún representa na visão de mundo
Mapuche metade do universo ou o mundo em sua forma semiesférica; Os quatro
pontos cardeais são representados no patch, que são os poderes onipotentes de
Ngnechen, dominador do universo, que são representados por duas linhas como uma
cruz e suas extremidades se ramificam em mais três linhas, representando as
pernas do choique (avestruz) ; Dentro das salas que são divididas pelas linhas
descritas acima, as quatro estações do ano são desenhadas.
Desde os tempos antigos, o conhecimento sobre a natureza se reflete neste instrumento sagrado. Nele você pode ver o que existia como uma linha que divide geográfica e naturalmente esta nação-nação, a Cordilheira dos Andes, marcando seus extremos: Pikun (Norte) e Willi (Sul); Outra linha imaginária que corta transversalmente é aquela que representa a trajetória do sol, Puel (Leste) e Gulu (Oeste). Desta forma, o conhecimento dos pontos cardeais é evidenciado.
Também pode ser visto nas
salas em que se divide o Kultrun das diferentes estações do ano:
Pukem (inverno): É o
momento em que o Xufken Mapu renova sua fertilidade através da chuva e da
claridade do Antu (Sol), pois é aqui que os dias começam a se alongar. Com os
diferentes elementos que usarão posteriormente para trabalhar na próxima etapa.
Pewü (primavera): é o
segundo estágio, pu kvuzaw (empregos) começam a se desenvolver . É quando as
famílias se preparam para sair do inverno. Além disso, é produzido o lxofij We
Coyin (broto da planta). O lof organiza o uso produtivo dos espaços para
superar as más condições do Xufken Mapu (solo), degradado pelos reduzidos e
sobrecarregados.
Walüng (verão): época de
colheita. Aqui o pugejipun começa a acontecer . Cada comunidade faz isso em
datas diferentes, mas sempre em apoio a kvyen (lua cheia). A celebração do
gejipun é a oportunidade de fortalecer sua identidade como povo. As autoridades
originais ( Lonko, Pijan kuse, Werken ) guiam cada pombal . O Weupife
(historiador) recria a memória. O gvlam (conselho) que é transmitido permite
recuperar a dignidade e o futuro.
Rimu (outono): É aqui que
a família se prepara para o retorno aos seus espaços de inverno. Os frutos da
colheita são armazenados, é também a época do Xafkintu (troca), uma época de
muito frio onde a vida familiar é compartilhada de forma mais intensa e permite
a prática intensiva da educação mapuche, ou seja, a transmissão do kimvn
(conhecimento). , através do epew (história), mvxam (conversa), picikece jogos
( gvjiw Polton, awar kuzem ) que eles compartilham com os idosos”. [Pueblos
Originarios – traduzido pelo Google Tradutor]
terça-feira, 23 de fevereiro de 2021
Sobre a Resistência Pagã
Na página do Pagan Square, na seção de Culture
Blogs, Steven Posh escreve um artigo intitulado “Where Were the Pagan Gods
During the Christian Centuries?”
A resposta que ele mesmo dá segue assim:
“Here we have the answer. The gods have never
deserted us. Though their groves and temples were thrown down and their worship
overthrown, they have never failed in their faithfulness to us, nor ceased to
do their sacred Work on which our lives depend.
Through all our centuries of faithlessness, they
have waited, waited for us, their people, to return.
No, the Old Gods never left us; it is we who left
Them”.
Ele cita o mito chamado Láchplesis, uma mitologia da
Letônia que, juntamente com as mitologias da Lituânia e da Prússia, faz parte
do Paganismo Moderno Báltico.
Steven Posh dá um resumo do mito:
“The Bearslayer is a fine, romping tale of love,
friendship, and treachery, filled with monsters, evil enchantresses, and
magicians. Characters include the Bearslayer's true love, daughter of Fate the
beautiful Laimdota, his best friend the hero Koknesis, and Kangars, the
traitorous pagan priest who seeks to betray his people to the Christians.
The Bearslayer rallies the people and fights the
good fight, protecting Latvia from enslavement for many years, but in the end
he himself is betrayed.
Through the treachery of Kangars, the renegade pagan
priest, the Black Knight learns the secret of the Bearslayer's strength: his
furry bear's ears.
In a sword fight, he lops off both ears. As they
grapple, locked together, they topple from a cliff into the waters of the
mighty Daugava, and are never seen again.
So begins Latvia's 700 years of enslavement to a
foreign people and a foreign creed”.
Eu estudei bastante a História Antiga e a História
do Cristianismo. Eu li o livro “Paganismo e Cristianismo” de Jocelyn Nigel
Hillgarth. Eu li “O Livro Negro do Cristianismo” de Laura Malucelli, Jacopo Fo
e Sergio Tomat. Recentemente, eu li “Assim na Terra Como no Céu”, de Mário
Jorge da Motta Bastos que mudou bastante a forma como eu encarava o processo de
supressão das religiões antigas pelo Cristianismo após esta tornar-se a única
religião oficial do Império Romano. O livro indica fontes históricas demonstrando
que o Cristianismo encontrou resistência, especialmente no meio rural, algo que
é parcialmente explicado no livro “Bruxaria e História”, de Carlos Roberto Figueiredo
Nogueira e no livro “O Imaginário da Magia”, de Francisco Bethencourt.
Conclui-se, então, que existiu resistência contra a
imposição do Cristianismo. Com o surgimento do Paganismo Moderno e de grupos de
reconstrução cultural, diversos países europeus buscaram resgatar suas raízes,
suas origens e suas religiões originais. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o
advento da Contracultura tornou-se o caldeirão de onde surgiram inúmeras
espiritualidades alternativas, no movimento chamado de Nova Era, tornando-se
extremamente fértil para o Paganismo Moderno e a Wicca.
Rapidamente, o Mercado tratou de transformar essas
religiões em mais um produto comercializado, com revistas e cursos sobre a
Wicca. Palco ideal para farsantes, vigaristas e falsários onde alguns, por meios
misteriosos, até conseguiram obter o treinamento e iniciação formais em uma
tradição wiccana. Eu passei vários anos tentando esclarecer o público sobre os
princípios e valores da Wicca Tradicional, sem sucesso. O Cristianismo não
sobreviveu depois da mutação feita por Paulo de Tarso. Se a Wicca vai sobreviver,
é problema dos wiccanos. Eu sigo resistindo, pelos Deuses Antigos e por meus
Ancestrais.
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021
Declaração sobre os Frost
sábado, 20 de fevereiro de 2021
Abalou o céu e a terra
Deusa feliz, reino feliz.
A relação entre reis históricos e divindades da Mesopotâmia foi considerada crucial para o sucesso da continuação da ordem terrestre e cósmica. Para o monarca da Mesopotâmia, então, o relacionamento sexual com a deusa do amor provavelmente envolvia certa pressão para agir.
Imagens agrícolas eram freqüentemente usadas para descrever a união da deusa e do rei. O mel, por exemplo, é descrito como doce como a boca e a vulva da deusa.
Uma canção de amor da cidade de Ur entre 2100 e 2000 aC é dedicada a Shu-Shin, o rei, e a Ishtar:
Embora a desonestidade entre amantes pudesse levar à alienação, as interações sexuais positivas traziam inúmeros benefícios, incluindo maior intimidade e felicidade duradoura.
Fonte: https://www.ancient-origins.net/history-ancient-traditions/ancient-mesopotamia-sex-among-gods-shook-heaven-and-earth-009950
Traduzido com o Google Tradutor.
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021
Imagens e símbolos
Foi há muito tempo atrás quando eu li o livro de Roberto Sicuteri, “Lilith, a Lua Negra”. O livro foi publicado em 1998 [Editora Paz e Terra] e admito que me ajudou em minha jornada de volta para minha verdadeira casa, família e origem.
O livro é uma releitura do mito na linha de Carl Gustav Jung e Joseph Campbell. Mas mesmo assim se restringe essa análise nos limites da mitologia judaico-cristã. A referência que é usada no livro [Criaturas do deserto se encontrarão com hienas, e bodes selvagens balirão uns para os outros; ali também descansarão as criaturas noturnas e acharão para si locais de descanso - Isaías 34:14] foi “corrigida” [censurada/omitida] nas constantes revisões que os padres/pastores cristãos fazem em seu “texto sagrado”.
A capa do livro contém a figura de um ser antropomorfo, uma figura feminina alada, nua, portando uma coroa na cabeça (chifres), bastão e círculo em ambas as mãos, em pé sobre dois leões e ladeado por duas corujas. O interessante, na minha jornada, foi a busca pelo conceito original, pelo mito original, saber qual personagem está efetivamente representada no “Relevo de Burney” [https://en.wikipedia.org/wiki/Burney_Relief].
A interpretação sobre quem esta figura representa ainda é debatida, podendo ser Ereshkigal, Ishtar ou Lilitu [nome original, sumério, de Lilith].
A simbologia desse relevo possui diversos conceitos:
A figura encontra-se em pé sobre dois leões como símbolo de poder e soberania [leões são associados à majestade], podendo igualmente indicar essa figura como uma “mestra dos animais”, identificando seu domínio sobre a Fauna, senão sobre a própria natureza.
As “corujas” que a ladeiam assemelham ter outra função, parecem vigilantes. A coruja é um símbolo associado à Deusa Atena, mas aqui, a simbologia remete à natureza noturna da coruja. As formas das corujas, especialmente suas penas, aparentam serem “capas”, talvez disfarces e as cabeças podem muito bem serem máscaras. A semelhança das pernas das “corujas” com as pernas da figura sugerem algum tipo de identidade ou natureza comum.
A nudez, ao contrário do que o mundo ocidental interpreta [dominado pela teologia judaico-cristã que vê qualquer coisa associada ao corpo, ao desejo, ao prazer e ao sexo como algo errado, ruim e pecaminoso], aqui representa o estado de liberdade incondicional da figura, “ela” não conhece restrição, limite ou fronteira, representação reforçada pela presença de asas.
O bastão e o círculo que “ela” segura em ambas as mãos são símbolos muito frequentes na arte da mesopotâmia, usados como símbolos de poder e majestade. O círculo pode significar os limites do mundo, senão o mundo por si mesmo. O bastão é um símbolo associado à majestade até os dias de hoje. Então “ela” segura o mundo inteiro nas mãos e reina absoluta.
Aparentemente o artista, ao representar essa Deusa, não achou suficiente adornar repetidamente o quanto “ela” é poderosa e regente do mundo. A figura porta uma “coroa” que, olhando bem, é constituída de uma fileira de chifres. Igualmente presentes na arte da mesopotâmia, chifres são constantemente parte da representação dos Deuses, como símbolos de força, poder, supremacia, vitalidade e sexualidade. A título de comparação, o unicórnio é considerado uma criatura de poderes mágicos e possui um único chifre. Os Deuses contemporâneos dessa Deusa eram representados com dois chifres. Então se pode supor o tamanho do poder que “ela” tem pela quantidade de chifres em sua têmpora.
Lendo os mitos de Ishtar [e Inanna], além de sua completa falta de prurido em suas relações sexuais, ela sabe demonstrar seu outro lado. Quando Ishtar [Inanna] fica zangada ou entra em combate com os Deuses [seus pais, irmãos e filhos], o seu apetite na batalha é igual ao seu apetite na cama, ela somente para com o massacre quando seus [lindos] tornozelos estão cobertos de sangue.
Ainda enigmática, “ela” está bem longe de ser completamente compreendida pelos pagãos modernos, especialmente os seguidores da “religião da Deusa”, que frequentemente negam o aspecto sexual da Deusa enquanto Prostituta Sagrada e escondem seu terrível Lado Negro enquanto Destruidora.
Seja quem for “ela”, seja bem-vinda, Regina Mundi, na minha vida.
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021
O mito das tábuas
“E deu a Moisés (quando acabou de falar com ele no monte Sinai) as duas tábuas do testemunho, tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus”. [Êxodo 31:18]
“Então disse o SENHOR a Moisés: Lavra duas tábuas de pedra, como as primeiras; e eu escreverei nas tábuas as mesmas palavras que estavam nas primeiras tábuas, que tu quebraste”. [Êxodo 34:1]
“According to the Hebrew Bible, the Tablets of the Law as they are widely known in English, or Tablets of Stone, Stone Tablets, or Tablets of Testimony ... were the two pieces of stone inscribed with the Ten Commandments when Moses ascended biblical Mount Sinai as written in the Book of Exodus”.[https://en.wikipedia.org/wiki/Tablets_of_Stone]
Não deve ser novidade ao leitor que a Mitologia Judaica não é original, o povo Hebreu assimilou ou copiou muito de seus vizinhos e a mitologia foi fortemente modificada depois da influência que a Cultura Judaica adquiriu após o domínio Assírio, Babilônico e Persa.
A Cultura dos Acadianos (Babilônicos) tem um forte componente, a Mitologia Babilônica possui origens semelhantes da Cultura Suméria. Dentro do grupo da Mitologia Mesopotâmica pode-se apontar o Mito das Tábuas do Destino e do Poder.
“In Mesopotamian mythology, the Tablet of Destinies ... was envisaged as a clay tablet inscribed with cuneiform writing, also impressed with cylinder seals, which, as a permanent legal document, conferred upon the god Enlil his supreme authority as ruler of the universe.
In the Sumerian poem Ninurta and the Turtle it is the god Enki, rather than Enlil, who holds the tablet. Both this poem and the Akkadian Anzû poem share concern of the theft of the tablet by the bird Imdugud (Sumerian) or Anzû (Akkadian). Supposedly, whoever possessed the tablet ruled the universe. In the Babylonian Enuma Elish, Tiamat bestows this tablet on Kingu and gives him command of her army. Marduk, the chosen champion of the gods, then fights and destroys Tiamat and her army. Marduk reclaims the Tablet of Destinies for himself, thereby strengthening his rule among the gods”.[https://en.wikipedia.org/wiki/Tablet_of_Destinies_(mythic_item)]
Vamos tentar organizar os mitos. Originalmente, as Tábuas do Destino pertencem a Tiamat, uma entidade primordial, representada na forma de uma serpente, ou dragão, consorte de Abzu/Apsu, ambos associados às Águas Primordiais [Caos]. Esses Deuses Primordiais procriavam profusamente e tiveram descendentes. Houve uma contenda entre esses Deuses, os novos quiseram tomar o poder dos antigos, dando origem às inúmeras mitologias de Deuses, semideuses e heróis que matam uma serpente ou um dragão, simbolizando o fim de uma era e o início de outra. A Mitologia Judaico-Cristã sobre a Tentação de Adão, no Jardim do Éden, pela Serpente, constitui um reflexo gritante.
Na Mitologia Suméria, as Tábuas do Destino eram chamadas de ME e a posse delas concedia ao seu portador (ou portadora) poder absoluto.
“In Sumerian mythology, a ME is one of the decrees of the divine that is foundational to those social institutions, religious practices, technologies, behaviors, mores, and human conditions that make civilization, as the Sumerians understood it, possible. They are fundamental to the Sumerian understanding of the relationship between humanity and the gods”.[https://en.wikipedia.org/wiki/Me_(mythology)]
A posse das tábuas é tão importante que a Mitologia Suméria tenta “explicar” a transmissão dos ME de Enki para Inanna. A “desculpa” esfarrapada é que Inanna embebedou Enki ou o seduziu. Os mitos antigos constituem um problema sério para a civilização ocidental dita culta, porque mostra entidades poderosas, mas promíscuas, sem limites, nem tabus. Os mitos antigos estão repletos de histórias de Deuses procriando com suas mães, irmãs, filhas, sobrinhas e netas. Constitui um embaraço para as “religiões da Deusa” que costumam ignorar a importância do casamento sagrado, o hierogamos, como bem atesta James Fraser, no livro “O Ramo Dourado”.
O poder de Inanna é tão temível quanto sua contraparte mais conhecida, Ishtar, cujo culto dominou o Oriente Médio por séculos, seguido pelo culto de Astarte e, mais tarde, o culto de Aset (Isis), disseminado pelo mundo conhecido graças ao domínio romano (que fizeram uma procissão para a Deusa Cibele). Um embaraço enorme para a leitura provinciana dos mitos antigos pelos pagãos modernos e esse conceito de uma Grande Deusa, repleta de compaixão, omitindo a Face Negra dessa Grande Deusa, expressa sem prurido em Inanna e Ishtar. Fica impossível de encaixar Inanna e Ishtar nessa teologia caiada, sem espaço para Deusas violentas, agressivas e sanguinárias, como Kali que engole seres vivos por inteiro.
A Mitologia Suméria fica confusa. As Tábuas do Destino ora estão em posse de Enlil, ora estão na posse de Enki. Pela árvore da família desses Deuses, Enki é descendente de Tiamat, mas ele envia Marduk, que combate e vence Kingu, o escolhido de Tiamat (a quem foi conferido as tábuas). Ecos desse embate mítico são vistos no combate de Zeus contra Thyphon, Apolo contra Python e na iconografia do monoteísmo abraãmico da “luta final” entre Deus e o Diabo.
O padrão, se eu posso dizer assim, é a troca de poder entre Deuses Antigos e novos Deuses que, ao tomar o poder, suprimem e demonizam os Deuses que os antecederam. Essa usurpação do poder, entretanto, não é pacificamente aceita. Da mesma forma como aparecem Deuses, semideuses e heróis que vão aparecer para “manter a ordem”, inúmeros espíritos, entidades, frequentemente identificadas como “representantes do Mal”, tentam devolver a coroa a quem de direito.
“The story of our poem, briefly sketched, runs as follows: Once upon a time there was a huluppu-tree, perhaps a willow; it was planted on the banks of the Euphrates; it was nurtured by the waters of the Euphrates. But the South Wind tore at it, root and crown, while the Euphrates flooded it with its waters. Inanna, queen of heaven, walking by, took the tree in her hand and brought it to Erech, the seat of her main sanctuary, and planted it in her holy garden. There she tended it most carefully. For when the tree grew big, she planned to make of its wood a chair for herself and a couch.
Years passed, the tree matured and grew big. But Inanna found herself unable to cut down the tree. For at its base the snake "who knows no charm" had built its nest. In its crown, the Zu-bird--a mythological creature which at times wrought mischief--had placed its young. In the middle Lilith, the maid of desolation, had built her house. And so poor Inanna, the light-hearted and ever joyful maid, shed bitter tears. And as the dawn broke and her brother, the sun-god Utu, arose from his sleeping chamber, she repeated to him tearfully all that had befallen her huluppu-tree”. [https://www.sacred-texts.com/ane/sum/sum07.htm]
A cultura ocidental não seria a mesma se seus meios de comunicação (sobretudo o cinema) não reforçassem e confirmassem esse conceito maniqueísta típico das religiões monoteístas. Filmes de terror dão uma boa amostra disso. A representação de personagens identificados com o “Mal” está associada à noite, à morte, aos feitiços, às maldições. Criou-se, inclusive, uma demonologia, com direito à hierarquia e relações de força e poder que podem ser manipuladas por fórmulas tal como são descritas nos famigerados “grimórios”. Estas criaturas e entidades não são nossas inimigas, elas estão simplesmente lutando para devolver a coroa a quem de direito. O verdadeiro inimigo, além de nós mesmos, é o Deus Usurpador, aqui no ocidente, chamado de Deus, a saber, o conceito Cristão de Deus.
Talvez esteja na hora de revisitarmos e reinterpretarmos a cena da Serpente no Éden. A legítima representante e herdeira dos Deuses Antigos não quer a ruína e destruição da Humanidade. A Serpente [ou Lúcifer] quer libertar a Humanidade de seu cativeiro. Afinal, por que Deus [o Bíblico] se sentiu tão ameaçado quando a Humanidade adquiriu o Conhecimento? Será que ali não está um mito antigo que foi distorcido pelas religiões dominantes? Será que ali não há uma cena de Iniciação dentro de um Culto de Mistério? Uma Iniciação que nos reconduziria à nossa verdadeira origem e propósito, como filhos e filhas dos Deuses.
Assim seja, assim é, assim será.