quarta-feira, 7 de junho de 2017

Apostolado profano VIII

Sabe porque tem tantas pessoas que rezam e pensam em Deus? Estão todas preocupadas com a salvação da alma. Sem dúvida, dedicar um dia de cada semana ou mesmo de um mês e ir a missa ou coisas do gênero são capazes, pela ingenuidade do sujeito, de deixar aliviada até as consciências mais culpadas. Até mesmo os sacerdotes e santos das religiões não escapam. Somos os “eternum pecatorum”, estamos compulsoriamente condenados por uma instrução dogmática.

A razão existencial de uma religião poderia estar baseada na premissa primeira da existência justamente do que querem combater e evitar? Sem o pecado não há culpa nem condenação, consequentemente não haveria tanta necessidade que a humanidade tem em afundar-se em religiões e cultos que expiem esse pecado que nem se tem mais conta ou memória (diria até mesmo culpabilidade).

Podemos até mesmo admitir que tenha existido esse tal deus, de qualquer que seja a religião, que fez em seguida o homem. Mas todo processo da existência da própria humanidade e até das instituições religiosas só se tornou possível graças a esse tal pecado. Tendo partido dele mesmo, resta-nos adivinhar por que esta criatura divina a cometeu, não outra e o que a levou a tal à revelia e desconhecimento de deus (tanto que o castigo é dado depois que se tomou conhecimento do fato, o que demonstra que este deus não é tanto assim onisciente e onipresente). É como se o Criador e a criatura fossem seres completamente distintos e distantes, o que não é muito racional ou lógico, quando encaramos a relação de deus com o homem, que dogmaticamente é tida como integradora, ambi- compensadora e ambi- referencial. Pelo que poderíamos admitir então, já que este deus não era tão poderosos e que o homem não era tão dependente e integrado a este deus, é que não só eram seres distintos, distantes e independentes entre si, eram completos estranhos numa relação onírica entre um ser de dotes supremos, se comparados aos do homem que era considerado o primeiro, e este homem dominado por este, por formas outras que não as sobrenaturais atribuíveis a este deus (o que se provou não o ser).

Como este pecado foi assim definido pelo julgamento deste deus contra um erro do homem, só percebido ao ter sido verificado o fato (como já foi considerado) como pode este homem tê-lo cometido sem ter noção de tal justiça e da pena que incorria em cometê-lo? Ele já tinha noção, sem dúvida e o que o levou a cometê-lo é porque sua noção pessoal assim decidiu, porque em sua própria consciência isso não era pecado, a princípio! Só assim pode ser compreendido tal fato, este deus não era tão poderoso nem tão senhor do homem. Este, apesar de ter sido criado pelo primeiro, já tinha uma consciência própria e anterior ao fato o que estranhamente é a negação do princípio dogmático que o homem conheceu a consciência após o fato, de que o homem era criatura deste deus e dele recebera as primeiras noções e a este deus deveria servir e seguir estas noções, assim como a consciência deste deus (ou sua justiça, a seu gosto). E que o princípio do pecado só se tornou real quando este deus puniu-o por julgamento deste, um ato que para o homem era natural e instintivo, causado e assumido por sua consciência pessoal e individual, distinta e desvinculada do seu Criador (o que, pela lógica, é impossível ou improvável, sem que levemos a considerar as causas e conseqüências necessárias a tal, como já o descrevemos). Este deus, sem dúvida, deve ter sido um ser e Senhor do homem, dono de uma consciência e de uma justiça que, por elas, condenou o homem. O homem, sem dúvida, acreditou ser este deus seu Criador porque assim lhe ensinaram mas apesar disso já tinha noções e consciências próprias e desvinculadas do seu Senhor que o era então, apenas fisicamente, não espiritualmente como querem os dogmas e as religiões. Não existe qualquer outra consideração a ser feita a respeito que possa ter mais razão e lógica que esta, embora sendo antidogmática e contrária a idéia que se subentende numa relação entre deus e homem, que por hora se requereu tão necessária ao passar dos anos e da evolução dessa mesma humanidade sem a qual teríamos sérios problemas existenciais.

Mas creio que já amadurecemos bastante e já está na hora de renegar este passado e consciência estranha à nossa condição e realidade. Pois, retomando a questão, não somos culpados de pecado algum nem somos tanto assim servos deste ser que se nomeou deus e que pela ideologia dele (não a nossa) nos culpamos e cumprimos uma pena por uma justiça baseada nessa ideologia alienígena, estranha e imposta ao homem.
Tomamos o fruto e erramos para ele, mas para nós não foi erro senão nem teríamos feito. Foi um ato natural e até consciente de nossa parte, não existe outra explicação, sendo assim, dessas considerações só resta mesmo as conclusões já alinhadas, mais nenhuma outra. Só como última consideração devemos por conseqüência a essas conclusões, não mais dever satisfações aos sacerdotes, representantes desta estranha justiça e ser megalômano assim como desprezar seus cultos, conselhos e moralismos já que estão baseados em falsos dogmas de um falso deus, de uma falsa religião.

É lógico, portanto, que não me incomodo, com o que as pessoas iludidas por esta fantasia de salvação da alma fazem ou dizem, preocupo-me mais com o que diretamente me diz respeito, que me atinge e pode prejudicar minha vida e meu futuro. Vencer os obstáculos que colocam para o avanço pessoal, que são inúmeros e multiplicam-se na mesma ordem e potência de nossas capacidades de raciocinar com lógica, porque num mundo construído sobre uma base tão irreal, a razão pesa e corrói com sua criticidade.E logo todo o castelo cai, pois se pode, com a mesma facilidade que aqui desmascaramos este deus, elucidar demais questões e fatos (fenômenos) que ocorrem na sociedade que, ao olhar e pensar críticos, não são mais sólidos que este deus. E de fato, podemos dizer que isso é possível por ser tudo isso parte de um todo de referências, valores e normas que podemos chamar de Império das Luzes, pois nossa sociedade baseia-se na religião, na idéia de deus e na idéia de Luz como uma coisa só, uma idéia básica e simplista, superficial e aparente que, justamente por ser apenas uma frágil película de conceitos absurdos, não suportariam o pensar crítico, cujo olhar penetrante revolve os argumentos e os testa à exaustão e logo os vence. Para todo o sistema sobreviver é preciso evitar a reflexão, a meditação, o discernimento e a crítica mais profunda, são esses que realmente destoem sem piedade esse sistema de aparências, não a rebeldia tola e descabida, que só fortalece o sistema e o alimenta de um ar de modernidade e mudança falsos, pois as condições básicas e revoltantes de sua existência permanecem e permanecerão sempre, enquanto os reais críticos puderem estar sob vigilância e isolados dos demais, sem possibilidades de divulgar seu pensamento ou participar, com a capacidade e poderes reais que deveriam ter, se esse sistema fosse realmente uma sociedade (sistema da união de pessoas com acordos mútuos e participação aberta a todos os associados).O que não é difícil ver que na realidade o sentido que se encontra na sociedade que se pratica é outro e revoltante: um grupo de poucos determinando as ações, comportamentos e até as consciências de bilhões.

É dessa forma que a religião pode ajudar na sociedade. Ambas têm seus princípios e razões de existência baseadas no domínio do individual e do geral, do particular ao público, tudo se encontra dessa forma e com base nesses princípios e razões, determinados e controlados.
Posso ir muito mais longe e ser muito mais abrangente se o quiser, por hora, me deixa muito alegre, com essa pequena semente nas consciências, que será desenvolvida e tomará forma conforme os gostos dos senhores, por enquanto leitores, mas participantes no futuro.

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