Meu filho, ouça-te o saber, ouve a tua inteligência e terás juízo e ciência, eles honrarão teus lábios.
Entrega-te à mulher perversa, os lábios da sua vulva destilam mel, sua palavra é mais valiosa que o vinho, o fim é mais amargo que o vinagre e mais aguçado como a dúvida que desperta.
Seus passos vão para a morte e nossos caminhos têm de passar por ali obrigatoriamente.
Longe das veredas da vida, uma via fácil e agradável porém superficial, para não parecermos tolos.
Ouça-te sempre, meu filho não te desvies de tuas decisões.
Faz teu caminho por ela, termine tua inútil vida na sua cama, temendo tua cabeça vá a ela.
E caso teus saberes sejam condenados pelos justos, temendo que tua obra beneficie perseguições e o fruto de teu prazer se perca tão cedo, temendo a evidência da tua execução, o corpo e a carne trucidados, reagirás e declararás: Odeio a repressão, meu coração despreza a moral, não ouvi os que se dizem mestres nem sigo o que instruem!
Logo serão um monte de estrume no meio do povo e de sua assembléia!
Censuras só são boas a quem ama a vida, pois te proibirão de desfrutar da mulher perversa e da língua gulosa da estrangeira.
Não resistas à beleza, o teu coração, nem te deixes de notar esses olhares sedutores.
À cidadã basta um único homem, mas a adúltera é fonte de experiências preciosas.
Pode alguém deter o fogo natural interno sem que sua mente seja submetida?
Pode alguém negar as brasas sem que seus olhos teimem a desejar?
Tal é o que vai à mulher alheia, quem a compartilha jamais esquece.
Não se pune a emoção que surge para completar a falta desse alimento!
Se for aplicado, ganhará o décuplo e receberá tudo o que quiser desta causa.
Mas à adúltera, sobra-lhe recursos.
Quem quer aumentar os seus, consulte-a, sim!
Ela recebe tímidos e acanhados que jamais tornarão a ter vergonha!
O cume excita a vinha dos maridos, não terá prioridade no dia da lambança, não cederá com pouca consumação, nem se satisfará muito cedo, se o tentares.
Ela o guia com tesão, excita-o com lábios sedutores.
Tu te pões a contentá-la, como um boi trepado no seu couro, tal qual um cervo, preso nos lençóis.
Logo a seta entra no seu princípio, como um pássaro que entra no buraco, sem saber que ali se dirige toda a vida.
Agora meu filho, prepara-te e ouve as palavras dela.
Teu coração descarregue nestas vias sem se desperdiçar por outros caminhos, pois ela o conduzirá à morte, os mais robustos são preferidos.
Sua causa, caminhar para a perfeição, que adentra pelo templo do prazer.
Meu filho, dá-lhe teu coração, teus olhos observem esses caminhos.
Uma cava profunda: sua arma, um poço estreito: a estratégia.
Ela faz enlaces como uma rainha e aumenta o número dos gozos.
Tal é o caminho da mulher prazerosa: come e depois, limpando a boca, diz: Não foi nada mal...
Esposa lasciva é como o vinco de dois seios fartos: querer reparti-la é como aliviar a pressão.
Mulher embriagada é motivo de orgia: sua sinceridade é tocante.
A lascívia da mulher enlouquece, na devassidão do seu olhar e compensa-lhe pelas nádegas.
Não exagere na vigilância de uma filha bem dotada, para que ela não se descubra com fraqueza e não tire bom proveito disso.
Guarda-te de a seguir com olhar mendicante e não te espantes se a arrastam para o lado.
Como um amante tarimbado, abre-a a boca e a faça beber de toda a sua água, sente-a, como mulher, independente diante de qualquer homem e entregue seu corpo à volúpia dela.
Foi-me dirigida a palavra das Trevas, nos seguintes termos:
Homem mostra a Jesebel suas intenções admiráveis. Diz-lhe:
-Assim diz o Soberano Leviathan: segundo tua origem, procedes da Suméria sendo seu pai árabe e sua mãe judia. Eis a história de teu nascimento: no dia que nasceste, já trazia teu destino amarrado a ti ainda no cordão umbilical, daí teres sido lavada com vinho ao invés de água, esfregada com algodão ao invés de sal e foste vestida na pele de um cordeiro ao invés de ser envolvida em faixas para que se pudesse cumprir teu destino. Sobre ti a atenção de teus pais pois não tinham mais ninguém, embora lhe fosse dispensável tais serviços e piedades; foste criada em campo aberto para que aproveitasse bem da vida junto aos cabritos que criava.
Foi então que lhe descobri e te vi tão linda cuidando de seu rebanho. Falei-te enquanto rias ocupada em teu fazer: Quero te foder! Cuida de mim como o cabrito campestre! E cuidaste, deglutiu-me e chegaste ao orgasmo. Retesaram-se teus seios, eriçaram teus cabelos e estavas em completa felicidade.
Tornei a desejar e tomei de ti. E eis que chego ao seu templo, o templo do amor. Distendi para ti a vara do meu culto e cobri a tua graça. Fiz-te uma copulação e concluí contigo num desenfreado gozo – diz o Soberano Leviathan – que assim te tornaste minha.
Banhei-te com meu leite, lavei a porra de ti e ungi-te com meu sangue.
Revesti-te com os teus trajes originais, devolvi-te os calçados de couro curtidíssimos, ajustei-lhe a cinta e te cobri de beijos.
Devolvi-te as jóias, colocando teus braceletes nos punhos e o colar no teu pescoço.
Pus teu anel em teu nariz, teus brincos em tuas orelhas e magnífica girava minha cabeça.
Estavas enfeitada de ouro e prata, teus trajes me pareciam os mais preciosos do mundo. Teu corpo era delírio puro, de doçura e pureza. Cresceste mais em desenvoltura, já que sempre estavas apta para a realeza.
Espalhei entre os meus amigos a fama de tua entrega que era deliciosa, graças aos atributos com que és dotada. Eis meu orgulho ao Soberano Leviathan.
Mas tu te reservas a mim tua beleza e recusaste prostituir-se com outros que a procuraram por minha culpa. Não entregarias a qualquer um tanto desejo carnal com um objeto desprovido de vontade a qualquer macho que a requisitasse.
Com tua raiva justa quebrou meu santuário idolatrado para nunca mais, nem a mim, te ofereceres.
Tomaste teus enfeites de ouro e prata que eu te devolvera e deles livrou-se para não mais me lembrar nem voltar a me desejar.
Para acalmar-te, usaste tuas vestes de rigor por luto e diante de todos apresentou-se em meu nome e sobre meu cadáver.
Também fizeste diante das outras, como ofendida por justo pudor, o dom que eu te havia entregado, a dor da carícia, o desfeito e o fel que tornei este momento. Eis meu falso orgulho caindo, Soberano Leviathan.
Tomaste teus cabritos e cabritas que havias reservado para mim e os aceitaste em meu lugar como marido para o idílio.
Mas não estavas satisfeita ainda com esta vingança.
Sacrificaste meu sangue, oferecendo-o ao julgo do fogo negro, para tirá-lo do teu corpo.
No meio dessas atitudes justas, sempre me clamavas, pelos dias de abundância, quando te fiaste em minha honradez e entregaste-me teu corpo.
Agora, depois de toda raiva dissipada, digo ao Soberano Leviathan: Ai! Ai de mim!
Construíra em ti fortes alicerces de confiança e me fizeste de ti corpo sacro em cada celebração.
Em todo enlaçamento ergueste meu monumento e ali me consumiu em teu templo e mereci teu corpo a tanta e tão grande consagração, metendo-me assim em tuas entranhas.
Tu te zangas contra minha falta de princípios, entregue ao orgulho machista. Meu erro infantil e por tal baixaste sobre mim tua justiça para vingar-te.
Foi por tanto que entendi com custo e por ti reduzi minha pretensão, entreguei-me a teu arbítrio que era por justiça e por amor ferido ante minha péssima honradez.
Estenda tuas sanções à minha propriedade e posses nesta e noutra existência e ainda te deverei.
Como é louvável teu amor – eis minha salvação Soberano Leviathan – e por ele estou julgado, como merecedor de tua misericórdia, lhe recorro agora!
Ao sentenciares meu legado elementar em tua advocacia e dizeres tua pena sagrada contra minha alma, não faças com ódio incomum, pois sou capaz de recusar tudo para desculpar-me.
Como mulher, ignora o pobre pensar do homem, este primata demente.
É costume, por nossa precária situação racional, fazer muito alarde para cada quinhão que se conquiste, mesmo quando isto se refere a uma divindade sagrada como a mulher.
Sucedi entretanto contigo exatamente o que demais machos da minha raça não fariam, te entreguei mais que um pedaço de meus dias até a morte, entreguei-te toda a vida, a alma que tenho e lhe reservei-me, a ti também, para a vida vindoura.
Por isso, teu amante que sou, considere meu recurso que o faço em nome do Soberano Leviathan.
E assim me disse o Soberano Leviathan: Visto que é justo o que já lhe pertence, esta pessoa em integral por tempos incontáveis, que se faça a justiça de proprietária a objeto para que a parte atingida se satisfaça e seja satisfeita na medida da ofensa recebida.
Por isso eis que reúno todos os teus sentimentos que a este tanto te entregaste, mesmo agora com raiva e antes no amor. Vou juntá-los lado a lado e comparar seus tamanhos e medirei para que prevaleça o mais forte.
Conduzirei-te a considerar este em detrimento de teu direito de justiça a fim de não vir a se arrepender no futuro pois uma vez tomada a ação de punição não há como retroceder.
Entregar-te-ei a este sentimento para que venhas a reconhecê-lo para abrandar o peso de tua ira sobre teu amado, tirará dele tua nova consideração e aí lhe entregarei teu objeto para que seja punido.
Em seguida, deverá conceder a teu amado por um certo período, em tempos sucessivos e regulares, condições de lhe mostrar que já é merecedor novamente de ser admitido em teu templo, com todos os direitos renovados e plenos.
Se consumará assim tal justiça que lhe é direito, sem te privares do prazer que eu te proporcionava, para que não venha a ser tu também sair perdendo da ação tomada.
Desafogará aos poucos teu furor contra teu amado e deixarás de zangar com a infidelidade dele. Estará sossegada e poderá voltar a desfrutá-lo plenamente.
Já que esqueceste dos dias em que eras feliz na mocidade antes de teu amado violar as regras, que não te negues então agora pelo menos o prazer. Tu amas e por causa de tanta dedicação é que te ofendes e exiges teu direito de justiça – eis meu conselho, eu, Soberano Leviathan.
Acaso não é capaz de esquecer um sentimento ocasional em benefício deste eterno e interminável?
És filha das Trevas, que aceitou as regras que fixei em acordo e feitas em conjunto com todos os espíritos das Trevas.
És quase que irmã de minha filha, Lilith que me enche de orgulho e admiração da imensidão de sua beleza e sabedoria: não é muito louvável de tua parte desmerecer-te agora.
Teu amor é Caim, que com sua ingenuidade conquistou teu lado esquerdo, teu amado veio a ti como criança e tu o fizeste homem maduro e consciente por tua mão direita.
Acaso não o amas mais e achas-te capaz de condená-lo duramente sem te ferires também? Não, logo perdoa-o ou abrande tua fúria sobre ele.
Por nossas regras – com minha autorização, eu, Soberano Leviathan – teu amado Caim, com amor que este lhe entregou, não o renegues como os pais dele e o maldito Jeovah, meu irmão.
Olha, a culpa de teu Caim foi esta: arrogância, pretensão, egoísmo e machismo, eis as faltas dele por sua pobre condição mental que ainda não está madura por completo.
Assim ficou orgulhoso e fez estas coisas abomináveis a ti e a fez renegá-lo até se fazer a justiça, como me pediste.
Quanto a Caim, não farei contra ele nem a metade da ação que me pedes. Foste um pouco rude, entregue a este sentimento temporário, do qual normalmente terias vergonha de senti-lo, mas o tens por revolta justa e acusaste teu amado Caim dos abusos que cometera.
Pois bem, faça tu mesma a ação baseada no julgo amoroso, sem rigor, sem que te punas também, negando-te o desfrutamento e o prazer que tinhas com ele de maneira que não venha arrepender-se tardiamente.
Entretanto te apoiarei no que lhe for necessário – a sorte de Caim e de sua existência nas Trevas depende de ti – e não podemos mudar um destino inteiro sem graves consequências, mesmo que este nos pertença.
Então te sentirás vingada e satisfeita desta ação que tomaste, para tua vitória plena e justa.
Teu amor, Caim, com seu orgulho machista, lhe é conduzido a tuas mãos e assim teu direito e justiça serão realizados para tua satisfação.
Agora não faça o nome de Caim e o amor que ambos nutrem um pelo outro objeto de remorso e arrependimento no templo sagrado, antes que este se perca de desgosto. Assim não se dirá palavras rudes, levadas pelo sentimento momentâneo de tua parte e não se partirá os lados que destes ao teu amado, para que não caias em melancolia.
Terá ele que carregar as conseqüências se sua estupidez e seu proceder abominável – eis a permissão do Soberano Leviathan.
Assim diz no fim, o Soberano Leviathan: Procedas com ele exatamente com espera que ele o faça ou faria em teu lugar ao violar as regras e os princípios das Trevas.
Eu porém farei lembrar a ambos a ação que decidiste neste tempo e assim assentarei mais tuas fidelidades nestes princípios das Trevas.
Ao vos lembrares desta punição, não o farei para que sintam vergonha ou pena, mas para que nunca mais vos afasteis um do outro e tornem ainda mais forte este amor.
Eu mesmo me certificarei deste amor total entre vós. Então com ele virão a conhecer a plenitude da vida nas Trevas e me conhecerão pessoalmente, eu, Soberano Leviathan. Para que eu posso torná-los parte de meu Reino e partilhem então juntos do prazer, do amor soberbo, que é o da cópula espiritual, que eu tornei real por minha filha Lilith e meu general Samael, pelo amor que tinham desde que viviam na Terra e se conheceram, promessa do Soberano Leviathan.