O Brasil comemora em novembro o Dia de Todos os Santos e o Dia de Finados e isto nos inclui.
Nós estamos nesse mundo, criaturas mortais geradas, nós somos santos e pecadores, nós somos seres vivos e mortos.
Nesse mundo de Maya, nós nos enredamos nesse sonho que chamamos de vida, de realidade, acreditamos nisso e vamos tocando a vida, permitindo que nossa fantasia silencie para o fato de que morremos pouco a pouco, cada vez que exalamos nossa respiração. Até que o corpo, como uma vela, se consome.
Para os descrentes, não há nada além, mas isto que faz com que cada um de nós ser uma pessoa não está limitado a este corpo físico.
Esta é uma verdade que a humanidade sabe desde seus primórdios.
Na aurora da história humana, nossos ancestrais começaram a desenvolver ritos e cerimônias fúnebres, para homenagear os mortos.
Os primeiros indicio vem do neolítico, período onde corpos foram encontrados em posição fetal, adornado com enfeites e cercados de objetos de uso diário.
Conforme a humanidade se desenvolveu, formando cidades, reinos e impérios, os ritos e cerimônias fúnebres também se desenvolveram. Chefes e reis eram enterrados em montes, câmaras mortuárias, mausoléus. Os antigos egípcios chegaram ao ponto da sofisticação ao elaborar as pirâmides e o processo de mumificação.
Mesmo nesse mundo contemporâneo, pós-moderno e niilista, em todo mundo, em todos os países, povos e culturas, existem festas populares para celebrar os mortos.
Nos países de origem anglo-saxônica, o Dia de Todos os Santos é chamado de Halloween, uma festa popular que tem origem na celebração do Sanhaim. O Halloween transformou-se em uma festa internacional pela influencia da cultura inglesa, que ainda resguarda muito de seu folclore e cultura pagã, ainda que de forma assimilada e sincretizada pelo Cristianismo.
Ainda que o Brasil tenha raízes portuguesas e latinas, nossa cultura tem muito dessa herança cultural pagã e européia. Então causa-me espanto ver brasileiros quererem instituir o dia 31 de novembro como o Dia de Saci, porque vê com seu nacionalismo e patriotismo piegas a celebração do Halloween como colonialismo.
O saci é parte da cultura aborígene brasileira, não de nossa cultura. O Halloween/Sanhaim não é apenas a celebração do outono, mas é também uma celebração para os mortos.
O brasileiro é uma soma de diversas culturas, não há vergonha ou inconveniência alguma em celebrar o Halloween/Sanhaim, pois faz parte de nossa herança européia.
O saci, que pertence à herança cultural aborígene brasileira, não tem uma data, um rito ou celebração. Nós deveríamos conhecer melhor esta cultura, se realmente queremos fazer alguma justiça a esta herança. O brasileiro deve buscar e conhecer suas origens, a cultura de seus ancestrais e valorizar o folclore e a crença que fazem parte dessa herança.
Feliz Halloween! Feliz Sanhaim! Feliz Dia de Todos os Santos! Feliz Dia de Finados!