sábado, 20 de junho de 2015

Envergonhe-se quem vê malícia

Que o Paganismo Moderno e a Bruxaria e a Wicca são compostos por inúmeros grupos, ideias e vertentes, não é novidade. Que a ausência de autoridade central e liberdade nos dá a todos a competência para discutir, discordar e criticar, mesmo altos sacerdotes e altas sacerdotisas, também não é novidade.
Por sermos tão diversos e divergentes, frequentemente nossas ideias e concepções se chocam. Sacerdotes e sacerdotisas pisam na jaca, autores escrevem besteira, celebridades falam abobrinhas. Apenas pessoas inseguras ou incapacitadas se sentem ofendidas ou consideram sua crença ameaçada pela crítica.
O dileto e eventual leitor sabe das minhas agruras em defender os princípios e valores da Wicca Tradicional diante do esquisoterismo, da neo-wicca comercial, da pop-wicca difundida entre adolescentes.
Quando falamos em Bruxaria e Wicca, falamos de um grupo dentro do Paganismo Moderno. Para fins de elucidação, meu foco é a Tradição, da Bruxaria e da Wicca, o que deixa de fora muitos grupos, vertentes e práticas. Mas se você segue ou tem apreço por estas vertentes e práticas. Não se sinta ofendido, eu não estou discutindo nem negando a autenticidade ou legitimidade de suas práticas, crenças e teologia. Lembre-se que a característica do Paganismo Moderno é a diversidade. Meu foco é simplesmente falar o óbvio, que existem princípios, valores e características intrínsecas a cada vertente. Se isto te ofende ou ameaça sua crença, sinto muito, mas há de considerar que há algo de errado em sua opinião ou interpretação disto que você diz acreditar.
Um dos assuntos que mais suscita discussão no meio pagão é a questão do gênero, da sexualidade, da opção sexual. Quando isto envolve questões como o Hiero Gamos, o Grande Ritual e magia sexual a coisa fica mais complicada. Sobretudo quando falamos de grupos ligados ao dianismo radical [exclusivamente para mulheres nascidas mulheres] ou ligados aos direitos LGBT.
Confunde-se muito gênero sexual e papéis sexuais. Nosso gênero e opção sexual é resultado de diversos fatores, genéticos, fenótipos, ambientais, sociais. Mas nada disso tem a ver com a Wicca. Como religião, esta tem princípios e valores que não precisam nem devem atender, seja  questões politicas, seja questões dos direitos LGBT. A Wicca é uma religião sacerdotal iniciática de mistérios, não há espaço para o Politicamente Correto.
Causa escândalo e protesto por parte de pessoas que se sentem excluídas simplesmente quando afirmamos que adoramos um Deus e uma Deusa, senão diversos Deuses, cada qual com seu gênero e sexualidade, incluindo divindades hermafroditas, transgêneros e transgressoras. Causa escândalo e protesto por parte de pessoas ainda envolvidas com o puritanismo cristão simplesmente quando falamos que o Grande Rito é uma união sexual entre o Alto Sacerdote e a Alta Sacerdotisa. Causa escândalo e protesto por parte de pessoas que se sentem prejudicadas simplesmente quando afirmamos que, embora a Wicca tenha 50 anos, suas raízes, seus mitos e mistérios pertencem à aurora da humanidade.
Outras formas de Paganismo Moderno, de Culto de Bruxas, surgiram ao longo dos anos, utilizando elementos dos rituais wiccanos, são chamados de vertentes wiccanas, tradições e covens utilizam a Wicca como um rótulo. Respire bem fundo por que eu vou falar do óbvio: nem tudo que leva o rótulo de Wicca pode ser chamado assim. Infelizmente agora é um rótulo e seu uso indiscriminado conduz o público achar que a Wicca é “uma filosofia de vida” ou que é um “vale-tudo”.
O irmão pagão homossexual deve se perguntar: mas fulano de tal disse... Eu não tenho problema algum com outras formas de crenças pagãs, outras formas de rituais. Da mesma forma como eu não sinto minha masculinidade ameaçada por existirem homossexuais, eu não sinto minha crença ameaçada por cultos homoeróticos ou pelas religiões da Deusa. Eu apenas quero garantir que a diversidade seja mantida, sem supremacia de nenhuma tradição, sem excluir qualquer opção sexual.
Dizem que a Wicca deve ser inclusiva. Quem exige isso, quando uma sacerdotisa diânica discriminou transgêneros? Não era para sermos inclusivos? Por que tanta exigência para que a Wicca reconheça outras formas de gênero e sexualidade, se existe espaço para todos? Por que tanta insistência em criticar a heteronormatividade ou heterocentricidade da Wicca se existe tantos caminhos pagãos que adotam os mitos e ritos homoeróticos?
Dizem que uma tradição deve evoluir. Tradição não é um organismo vivo. Não podemos confundir costume com tradição. Costumes mudam, não uma tradição. Dizem que uma religião tem que progredir. Religião não é nem tecnologia, nem ciência, mas a busca pelo eterno, pelo divino.
Dentro do círculo, diante dos Guardiões, diante de nossos ancestrais, os ritos devem ser executados da forma apropriada. A única exclusividade na Wicca Tradicional é que o interessado deve passar pelo treinamento e iniciação formais, independentemente de seu gênero e opção sexual. A Wicca Tradicional não segrega nem exclui o homossexual, apenas não há espaço para ritos homoeróticos dentro do círculo. Se vê algum mal, a vergonha é problema seu.

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