A cor azul e a cor púrpura estão intimamente ligadas ao sacerdócio, ao mistério, ao mito, à realeza e ao próprio sentido da majestade.
Assim celebramos os mistérios e os mitos do universo, em nossos rituais entoamos a “Carga da Deusa” nestes termos:
“Ouçam as palavras da Deusa Estrela: Eu te amo, eu anseio por ti, pálido ou púrpura, recatado ou voluptuoso.”
Eu sou um pagão moderno, politeísta, com uma visão tradicional da Arte e da Wica. Meu estudo e dedicação estão à serviço dos Deuses e dos ancestrais. Por anos lutei contra a imposição da neo-wicca e do dianismo, por anos denunciei falsos gurus e vigaristas que colocam suas agendas pessoais acima do sacerdócio. Em diversos textos neste blog eu critiquei o excessivo enfoque na Deusa e no sagrado feminino. Infelizmente no Brasil a Wica chegou americanizada e muitas de suas figuras construíram sua reputação usando todo tipo de apelo, como o Paganismo Queer.
O Paganismo Queer é uma criação pós-moderna, com mito inventado, com sacerdócio inventado, com Deus inventado. Qualquer um que tenha estudado história deve saber bem o que aconteceu com o Egito, a Grécia e Roma, quando o ser humano começou a inventar religiões para atender a necessidades espirituais, emocionais e materiais.
O Paganismo Queer está centrado no Deus Queer, também chamado de Deus Púrpura, Deus Azul, Aquele que Dança, Rei Flor, Deus Risonho, Dian Y Glass.
O Deus Queer é considerado o primeiro reflexo visto pela Deusa quando ela se mirava no espelho curvo e negro do Universo, fazendo amor consigo mesma para criar toda a vida. Esta é a visão cosmológica da Tradição Feri, uma das formas do Paganismo Moderno, uma das vertentes modernas de Culto das Bruxas, infelizmente confundido como sendo uma forma de Wica.
Iconograficamente, o Deus Queer é retratado muitas vezes como um ser andrógino jovem, com seios de mulher e pênis ereto. Em volta de seu pescoço encontra-se uma serpente e em seu cabelo uma pena de Pavão. O Pavão é o animal mais sagrado ao Deus Queer.
No Paganismo Queer, o Deus é considero um aspecto da Deusa. Seu poder vêm através Dela e só é possível conhecê-lo por intermédio Dela. Isso não passa de monoteísmo disfarçado, eu não preciso de mais 2 mil anos para saber o que acontece com a humanidade debaixo de uma Jeovulva.
Eu escrevi neste blog sobre o mito Dian Y Glass, o mito de Antinous, o mito de Ganymedes e o mito de Hiakinthos. Como estudioso das Religiões Antigas, da História Antiga, dos Povos Antigos, eu sei qual é a verdadeira origem da figura do Deus Pavão que, como um Deus legítimo, tem um sacerdócio, tem um mistério, tem um povo, tem um mito que revela a constituição do universo. E isto não tem coisa alguma a ver com a invenção do Paganismo Queer. O Deus Pavão é Melek T’aus.
Melek Taus, ou o Anjo Pavão, é o nome Yazidi para a figura central de sua fé.
No sistema de crença Yazidi, Deus criou o mundo, e o mundo está agora sob os cuidados de sete seres santos, muitas vezes conhecidos como Anjos. O mais proeminente entre estes é Tawûsê Melek, o Anjo Pavão.
O Yazidi considerar Tawûsê Melek uma emanação de Deus e um anjo benevolente que redimiu-se de sua queda e tornou-se um demiurgo que criou o cosmos a partir do ovo cósmico.
A crença dos Yazidis, como outras crenças pré-cristãs de origem Persa, como o Mazdeísmo, acreditam que Deus não criou este mundo, mas um demiurgo “maligno”. Para os Yazidis, Melek T’aus é o demiurgo criador e, como criador do mundo, é Senhor deste mundo. Como em outras tradições de mistério e esotéricas antigas, Melek T’aus é descrito como hermafrodita, como andrógino, porque ele incorpora em si nossa natureza bissexual, o que é bem diferente de afirmar que é um “Deus” homossexual. A função dos mitos, ritos e mistérios dos cultos homossexuais e dos deuses andróginos são bem outros dos que estão sendo promovidos pelo Paganismo Queer.
O pagão homossexual tem uma enorme variedade de rituais, cultos e Deuses existentes, sem ter que inventar ou criar algo para atender suas necessidades materiais, emocionais e espirituais. O pagão homossexual não precisa inventar um Deus para se sentir incluído e amado pelos Deuses. O pagão homossexual não precisa criar outra hegemonia para celebrar sua sexualidade. A Wica Tradicional tem seu próprio mito, mistério, teologia e sacerdócio. Deturpar uma crença por questões e agendas pessoais é desonestidade.
Somente vigaristas e farsantes, falsos gurus que desconhecem sua própria religião, que não possui qualquer linhagem ou tradição, promoveria tal desconstrução de um Deus, com mitos, mistérios e sacerdócio próprios. Nenhuma espiritualidade, crença ou religiosidade consegue manter-se desprovida de mitos, mistérios e Deuses.