sexta-feira, 27 de junho de 2014

A cor púrpura

A cor azul e a cor púrpura estão intimamente ligadas ao sacerdócio, ao mistério, ao mito, à realeza e ao próprio sentido da majestade.

Assim celebramos os mistérios e os mitos do universo, em nossos rituais entoamos a “Carga da Deusa” nestes termos:

“Ouçam as palavras da Deusa Estrela: Eu te amo, eu anseio por ti, pálido ou púrpura, recatado ou voluptuoso.”

Eu sou um pagão moderno, politeísta, com uma visão tradicional da Arte e da Wica. Meu estudo e dedicação estão à serviço dos Deuses e dos ancestrais. Por anos lutei contra a imposição da neo-wicca e do dianismo, por anos denunciei falsos gurus e vigaristas que colocam suas agendas pessoais acima do sacerdócio. Em diversos textos neste blog eu critiquei o excessivo enfoque na Deusa e no sagrado feminino. Infelizmente no Brasil a Wica chegou americanizada e muitas de suas figuras construíram sua reputação usando todo tipo de apelo, como o Paganismo Queer.

O Paganismo Queer é uma criação pós-moderna, com mito inventado, com sacerdócio inventado, com Deus inventado. Qualquer um que tenha estudado história deve saber bem o que aconteceu com o Egito, a Grécia e Roma, quando o ser humano começou a inventar religiões para atender a necessidades espirituais, emocionais e materiais.

O Paganismo Queer está centrado no Deus Queer, também chamado de Deus Púrpura, Deus Azul, Aquele que Dança, Rei Flor, Deus Risonho, Dian Y Glass.

O Deus Queer é considerado o primeiro reflexo visto pela Deusa quando ela se mirava no espelho curvo e negro do Universo, fazendo amor consigo mesma para criar toda a vida. Esta é a visão cosmológica da Tradição Feri, uma das formas do Paganismo Moderno, uma das vertentes modernas de Culto das Bruxas, infelizmente confundido como sendo uma forma de Wica.

Iconograficamente, o Deus Queer é retratado muitas vezes como um ser andrógino jovem, com seios de mulher e pênis ereto. Em volta de seu pescoço encontra-se uma serpente e em seu cabelo uma pena de Pavão. O Pavão é o animal mais sagrado ao Deus Queer.

No Paganismo Queer, o Deus é considero um aspecto da Deusa. Seu poder vêm através Dela e só é possível conhecê-lo por intermédio Dela. Isso não passa de monoteísmo disfarçado, eu não preciso de mais 2 mil anos para saber o que acontece com a humanidade debaixo de uma Jeovulva.

Eu escrevi neste blog sobre o mito Dian Y Glass, o mito de Antinous, o mito de Ganymedes e o mito de Hiakinthos. Como estudioso das Religiões Antigas, da História Antiga, dos Povos Antigos, eu sei qual é a verdadeira origem da figura do Deus Pavão que, como um Deus legítimo, tem um sacerdócio, tem um mistério, tem um povo, tem um mito que revela a constituição do universo. E isto não tem coisa alguma a ver com a invenção do Paganismo Queer. O Deus Pavão é Melek T’aus.

Melek Taus, ou o Anjo Pavão, é o nome Yazidi para a figura central de sua fé.

No sistema de crença Yazidi, Deus criou o mundo, e o mundo está agora sob os cuidados de sete seres santos, muitas vezes conhecidos como Anjos. O mais proeminente entre estes é Tawûsê Melek, o Anjo Pavão.

O Yazidi considerar Tawûsê Melek uma emanação de Deus e um anjo benevolente que redimiu-se de sua queda e tornou-se um demiurgo que criou o cosmos a partir do ovo cósmico.

A crença dos Yazidis, como outras crenças pré-cristãs de origem Persa, como o Mazdeísmo, acreditam que Deus não criou este mundo, mas um demiurgo “maligno”. Para os Yazidis, Melek T’aus é o demiurgo criador e, como criador do mundo, é Senhor deste mundo. Como em outras tradições de mistério e esotéricas antigas, Melek T’aus é descrito como hermafrodita, como andrógino, porque ele incorpora em si nossa natureza bissexual, o que é bem diferente de afirmar que é um “Deus” homossexual. A função dos mitos, ritos e mistérios dos cultos homossexuais e dos deuses andróginos são bem outros dos que estão sendo promovidos pelo Paganismo Queer.

O pagão homossexual tem uma enorme variedade de rituais, cultos e Deuses existentes, sem ter que inventar ou criar algo para atender suas necessidades materiais, emocionais e espirituais. O pagão homossexual não precisa inventar um Deus para se sentir incluído e amado pelos Deuses. O pagão homossexual não precisa criar outra hegemonia para celebrar sua sexualidade. A Wica Tradicional tem seu próprio mito, mistério, teologia e sacerdócio. Deturpar uma crença por questões e agendas pessoais é desonestidade.

Somente vigaristas e farsantes, falsos gurus que desconhecem sua própria religião, que não possui qualquer linhagem ou tradição, promoveria tal desconstrução de um Deus, com mitos, mistérios e sacerdócio próprios. Nenhuma espiritualidade, crença ou religiosidade consegue manter-se desprovida de mitos, mistérios e Deuses.

terça-feira, 24 de junho de 2014

Via Destra vs Via Sinistra

Embora eu discorde dessa polarização entre dois tipos de caminho, um o da “direita” e outro o da “esquerda”, pois isso acaba confundindo o leitor, curioso e simpatizante com esta dicotomia política, eu considero um assunto inevitável. Nós temos pagãos [reconstrucionistas culturais] que flertam com a “direita” religiosa e política e temos organizações sociais, ocultistas e místicas que flertam com a “esquerda” religiosa e política.

O caminho da mão direita é mais conhecido, pois está representado pelas religiões monoteístas. O caminho da mão esquerda está, infelizmente, muito associado ao Satanismo, ao Luciferanismo e ao Setismo, mas nem por isso se limita a essa inversão pueril das religiões monoteístas, do caminho da mão direita.

O Paganismo Moderno tem vertentes que podem ser descritas como pertencentes ao caminho da mão direita e outras como pertencentes ao caminho da mão esquerda. Eu encontrei um texto que pode definir, em termos gerais, como se caracterizam estes caminhos.

O «caminho da direita» professa a resignação perante o infortúnio, alegando que a dor, a perda e o tormento são provas ou lições que um certo Deus põem no nosso caminho para nos fazer evoluir. Por isso, o «caminho da direita» diz-nos: «aceitai a dor. Ela é uma bênção. Não vos preocupeis com o tormento que viveis neste mundo, pois tudo o que é da carne é pecado. Aceitai mansamente o vosso destino, porque depois de morrer sereis recompensados.»

O «caminho da esquerda» alega o contrario, dizendo: «não vos resigneis perante a dor. A dor não é uma bênção, é apenas o que é: dor. Podeis alterar o rumo dos eventos, pois a dor não constitui uma lição, nem uma prova, nem é o objectivo de virmos a este mundo. Este mundo não é uma passagem passiva de sofrimento sobre sofrimento, mas antes uma viagem activa em busca da sabedoria. A felicidade e a realização são as metas de uma alma, e o mundo espiritual pode ajudar a encontrar o rumo desse destino bom. A resignação cega não é o passaporte para o céu, mas antes a sabedoria é a chave para a felicidade. O que é deste mundo não é pecado, mas sim algo para ser vivido com plenitude, ambicionando a sabedoria que nos eleva. Pois isso se diz:

«Procurai os espíritos, ambicionai a sabedoria, vivei em busca da felicidade, pois nisso não há pecado. »

Na verdade, nos círculos esotéricos e ocultistas, aquilo que é denominado normalmente chamado de «magia branca» é na verdade o dito «Caminho da mão direita», ao passo que aquilo que é comummente conhecido por «magia negra» é na verdade o «Caminho da mão esquerda».

Muitas são as definições mais ou menos aprofundadas em termos teológicos sobre estes dois distintos caminhos espirituais.

O «caminho da direita» geralmente suporta as concepções espirituais de religiões como o Cristianismo, ao passo que o «caminho da esquerda» normalmente serve de fundamento ao pensamento teosófico que subsiste nas doutrinas espirituais da Bruxaria.

E no entanto, apesar das complexas argumentações e conceitos espirituais professados nas doutrinas do «caminho da direita», ou no «caminho da esquerda», as diferenças entre ambos são tremendamente fáceis de apontar, ao passo que tão profundamente complexas.

Aquilo que o padre da sua paróquia lhe dirá tanto sobre o mundo espiritual, como sobre os infortúnios que atingem a sua vida, será um discurso fundamentado nos princípios doutrinários do «caminho da direita». Por isso, ao aqui lê-los, facilmente conseguirá identificar o discurso conformista, resignado e subserviente que caracteriza o «caminho da direita».

Ao contrario, aquilo que um Bruxo lhe responderá tanto quando aos infortúnios que atingem a sua vida, bem como sobre o mundo espiritual, facilmente você identificará no discurso ambicioso e libertador do «caminho da esquerda».

São essas mesmas distinções que aqui se procuram esclarecer de forma sintética e sistematizada.

O Caminho da direita:

I O caminho da mão direita diz: «Aceita a tua dor de hoje, porque depois, (após a tua morte, uma vez chegado ao céu), serás feliz».

II O caminho da mão direita alega: «A dor, a angustia, o tormento, a pobreza, a solidão, a perda, são:

- ou lições para nos testar

- ou castigos por culpas nossas, ( karmas)»

Seja como for, para o caminho da mão direito, a dor é sempre um instrumento para alcançar salvação

III O caminho da mão direita defende: «Tudo o que sofremos é para nos purificar. A evolução espiritual advêm por isso do sofrimento, do tormento, da perda, de todo o mal que passamos nesta vida»

Para o caminho da mão direita, o mal que nos atinge é por isso glorificado como fonte de aperfeiçoamento e salvação.

IV O caminho da mão direita professa: «O mundo espiritual está separado do mundo físico. O mundo físico e as suas expressões são pecaminosas, ao passo que apenas a esfera celestial é virtuosa. O plano carnal e físico são fonte de pecado.»

V O caminho da mão direita diz-nos por tudo o que foi exposto, que devemos negar a carnalidade e reprimir os nossos desejos, para atingir a espiritualidade. A espiritualidade é por isso atingida pela abnegação, abstinência, sofrimento e contemplação. Diz assim o caminho da mão direito, que devemos aceitar pacifica e mansamente o destino que nos é imposto, se desejamos a espiritualidade.

O Caminho da esquerda:

I O «caminho da esquerda» afirma que nem a dor, nem o tormento, nem a pobreza nem a solidão, nem a perda, são instrumentos para se ser feliz numa próxima vida. Assim questiona o «caminho da esquerda»: «Como pode alguém ser feliz no «Além», se nunca conheceu a felicidade nesta vida ? Como pode um cego saber o que é ver, se nunca viu? Como pode aquele que viveu e morreu de fome, saber o que é estar saciado? O caminho da esquerda nega por isso que mal que nos atinge possa constituir um instrumento de evolução espiritual, uma vez considera que a felicidade, a realização e a sabedoria são o objectivo da existência de uma alma, e o mundo espiritual deve de servir para construir esse percurso.

II O «caminho da esquerda» defende que não devemos aceitar destinos impostos por uma deidade tirânica. Especialmente os destinos e os mandamentos que advêm de um Deus que disse: «não matarás», mas logo a seguir é responsável pelos genocídios, guerras, banhos de sangue, pragas e destruição que enviou há humanidade através dos seus anjos. O «caminho da esquerda» afirma que o destino não esta na cega subserviência e mansa resignação aos caprichos de um deus, mas antes que o destino está nas nossas mãos, e os espíritos podem ajudar a construir esse destino.

III O «caminho da esquerda» alega que não devemos aceitar salvações que vem em troco da resignação. Resignação é a melhor forma de um pastor guiar ovelhas a caminho de um matadouro, e nós não somos ovelhas e muito menos nos devemos sentir felizes por estar a caminho do matadouro.

IV O «caminho da esquerda» professa que evolução espiritual não advêm do tormento, nem da perda, nem da dor, mas sim da sabedoria.

O «caminho da mão esquerda» acredita por isso , ( ao contrario do que o seu padre da paroquia local lhe dirá), que o infortúnio não é uma bênção de Deus, mas antes que um infortúnio é apenas isso: um infortúnio. A bênção está em possuir sabedoria que nos permita sair do infortúnio, viver a felicidade e conquistar a plenitude. E os espíritos podem auxiliar nesse percurso.

V O «caminho da esquerda» revela que o mundo espiritual actua em parceria com o mundo físico.

O «caminho da esquerda» professa assim que o mundo espiritual influencia o mundo terreno, assim como o mundo terreno influencia o mundo espiritual. As relações entre estes dois mundos, ( o mundo terreno e o mundo espiritual), não são por isso de oposição, ( nega-se por isso o conceito de que o mundo terreno é pleno de pecado, ao passo que o mundo celestial é pleno de virtude), mas antes são relações de interacção. Tal como na natureza o elemento positivo se relaciona com o elemento negativo e da dinâmica que dai advêm nasce movimento e vida, também o mundo espiritual e o mundo físico se relacionam vão «beber» um ao outro, e nesta relação reside o próprio «motor» da criação e da existência.

O mundo físico procura «beneficiar» do mundo espiritual, assim como o mundo espiritual também procura «alimentar-se» do mundo físico.

O mundo espiritual exige evolução espiritual, mas o mundo espiritual também deseja participar nas realizações do mundo físico.

O mundo espiritual recompensará na esfera celeste aquilo que foi alcançado na esfera terrestre através da permuta de experiências e evoluções entre ambos os mundos.

O mundo espiritual interage como o mundo físico e vice-versa.

O caminho da esquerda advoga por isso que o mundo físico não é por isso pecaminoso, nem o mundo espiritual é por isso uma realidade tão virtuosa como subsequentemente punitiva da realidade física.

O caminho da esquerda crê por isso que a espiritualidade não é atingida pela abnegação, abstinência, sofrimento, dor, infortúnio e mera contemplação, mas antes pela carnalidade aliada á sabedoria, bem como pela felicidade aliada á força da evolução, assim como pela acção aliada ao contacto com os espíritos.

Fonte: Portal Astrologia e Esoterismo. [original perdido]

sábado, 21 de junho de 2014

Na fila do banco

Eu preciso lembrar que eu sou pagão, pagão moderno, mas tento estudar e saber o máximo da religião dos meus ancestrais. Como eu, pagão moderno, conseguiria explicar como nossos ancestrais acreditavam para um cristão? O texto da Bia vem bem a calhar.

Imagine uma vida simples, onde você conhece todo mundo. Imagine uma cidade com diversos bancos, bancos grandes e bancos pequenos. Os bancos grandess geralmente representam grandes instituições, tem políticas que abrangem muitas regiões e o atendimento reflete essa política. Os bancos pequenos tem pouco alcance, mas ao menos você conhece seus funcionários e até seu dono, conhece como funciona o banco e o que se pode esperar dele.

Então o que esperar de Cristo, sendo ele funcionário do Banco Cristão? Ele faz tudo, o caixa dele está lá para isso, enquanto outros caixas lidam com outras funções. Em outros bancos, provavelmente teriam os mesmos procedimentos, algum caixa central, um caixa geral que faz tudo e caixas com funções específicas, tudo de acordo com a política do banco.

Agora é que entra a diferença entre o banco, representante de uma grande instituição e o banco pequeno.

Dentro do Banco Cristão, de onde Cristo é o faz tudo, ele ainda está vinculado a uma politica interna. Por mais que ele queira te ajudar, ele tem que seguir as regras do Banco Cristão. Então vamos entrar no Banco Cristão e ver como ele funciona? Primeiro: para fazer uso do Banco Cristão, é preciso ter uma “conta corrente”. Quem vier de outro banco ou quem não tiver banco não será atendido por Cristo. Digamos que você tenha um cheque. No Banco Cristão, você não vai conseguir sacar ou depositar se não for correntista e Cristo não poderá te ajudar, por mais que ele queira. Digamos que você precise de um empréstimo [benção]. No Banco Cristão, você não vai conseguir empréstimo nem crédito, se não for correntista e Cristo não poderá te ajudar, mesmo que ele queira.

Isso é chato, eu sei, mas é assim que funcionam os Grandes Bancos. Então como você vai conseguir resolver seu problema, sacar um cheque, abrir uma poupança, fazer empréstimo ou ter crédito? Vamos tentar no banco pequeno, ver como ele funciona? Na entrada você conhece de longe os funcionários. Todos os que trabalham ali te conhecem desde que você nasceu e te acompanhou toda sua vida, vivem ao seu lado. Eles te conhecem desde seu berço, sabem de suas necessidades, sabem de seus problemas, sabem de suas dores e conhece bem sua vida porque passaram por isso também. Então, quando você entra nesse banco pequeno, os funcionários irão te ajudar, mesmo que você não seja correntista. Pode chegar no caixa, ele pode ser seu vizinho, seu pai, sua mãe, seu avô, seu ancestral, um Deus antigo. Eles estão ali, te ouvindo, estão dispostos e vão te ajudar, do jeito que puderem, como puderem. Quer descontar um cheque? Sem problema, o caixa passa o cheque para quem pode fazer isso. Quer um empréstimo? Sem problema, o caixa passa para quem pode resolver isso. Você não tem conta? Sem problema, o caixa te conhece, confia em você, sabe onde você mora, sabe o que você faz para viver, conhece toda sua família. Ali você não vai resolver todos os seus problemas, mas ao menos ali você tem acesso total. Mesmo quando o problema for grande demais, o banco pequeno passa para outro banco pequeno, para os funcionários deste banco, ou mesmo pode levar seu caso para o Grande Banco, isso não importa, para eles o que importa é resolver o seu problema. Mesmo que você acabe abrindo uma conta no Grande Banco, isso também não importa, eles não exigem exclusividade como o Grande Banco. Eles vão continuar ao seu lado, vivendo com você, sofrendo com você, conhecendo você, amando você tal como você veio ao mundo porque você e eles tem a mesma origem, o mesmo sangue, a mesma natureza. E vão continuar a te atender, mesmo não sendo correntista, mesmo tendo conta no Grande Banco.

Agora nós temos as opções:
Escolhemos abrir uma conta no Grande Banco, cheio de regras, cheio de exigências, com pacotes de serviços que não te interessa, mas que você é obrigado a ter.
Escolhemos usar um banco pequeno, onde os funcionários nos conhecem. Funcionários que tem a mesma origem, sangue, natureza que você. Um banco que não exige exclusividade, não impõe regras, não nos impinge pacotes de serviços que não nos interessa.
Qual dos dois você escolheria para resolver seus problemas?

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Dez problemas do Paganismo e do Cristianismo

Eu escrevi outrora como o Paganismo e o Cristianismo são irreconciliáveis, a despeito do esforço ecumênico de gente que fica em cima do muro. Eu encontrei um artigo na internet que mostra bem como é impossível haver conciliação entre Paganismo e Cristianismo. A autora, no alto de seu pedestal, descreve os “problemas” do Paganismo Moderno. Ela faria melhor se cuidasse de sua própria casa.

Segue em azul o trecho do artigo e meus comentários em vermelho.

1.Insiste que todas as religiões são iguais

A ideia do Paganismo que todas as religiões são igualmente plausíveis e, portanto, devem ser tratadas da mesma forma, significando que defesas efetivas contra religiões violentas não podem ser organizadas.

1.Insiste que o Cristianismo é superior

A ideia do Cristianismo que é a única religião legítima porque veio inspirada por Deus e, portanto, suas instituições e seguidores têm a verdadeira autoridade, privilégio e monopólio sobre o divino, significando que podem impor suas doutrinas e práticas a todo mundo.

2.Remove a revelação divina da ideia humana

O fato que o Cristianismo tem sido tirado da vida pública no Ocidente tem tido terríveis consequências. Primeiro, se não há mandato divino, os Dez Mandamentos não podem ser verdade. Mas quem decide as regras depois disso? Mesmo quando casamento heterossexual tem sido considerado como irrelevante, podemos nos surpreender quando as pessoas começam a querer incluir poligamia e bestialidade como parte do sagrado matrimônio?

2.Esquece que a revelação divina é uma invenção humana

A bíblia é um livro feito por seres humanos. Dependendo da denominação cristã, existem diferentes traduções, diferentes capítulos, diferentes interpretações, diferentes práticas. Os Dez Mandamentos é um caso emblemático. Faz parte do Velho Testamento e foi direcionado ao povo de Israel, não a todo mundo. Cristãos não são Judeus, nem são descendentes do povo de Israel. Mas citam trechos pinçados nesse livro contraditório, cuja autoria, originalidade e veracidade são discutíveis, para justificarem seus preconceitos sobre relacionamentos, desejo, prazer, amor, sexualidade e gênero.

3.Exigem justice cósmica da economia

A ideia que o capitalismo é inerentemente maligno e deve ser extinto tem sido uma das teorias falsas mais destrutivas, onerosas e perniciosas na historia humana. A ideia que o socialismo pode ser considerado pagão, no sentido que a propriedade privada não era um direito absoluto no mundo antigo. O governo pode e tiraria o que precisasse dos cidadãos em tempos de crises.

3.Oculta a política econômica

A doutrina econômica do Cristianismo está mais próxima do comunismo do que do capitalismo. A ideia de propriedade privada surgiu no mundo antigo, bem como as primeiras leis para assegurar a propriedade ou a indenização por danos ao patrimônio. A Igreja foi a que mais confiscou bens e patrimônios de pessoas privadas, para seus interesses próprios.

4.Usa o “Darwinismo” como padrão biológico

Os romanos não tinham teoria sobre a origem do universo, nem outros pagãos. O fato que ocidentais modernos sejam agnósticos sobre a vida e sua origem levou a monstruosidades como aborto e eugenia.

4.Ignora qualquer padrão biológico

Tudo que sabemos sobre biologia e ciência natural foi desenvolvido e criado pelos povos antigos, todos pagãos. A teoria da evolução de Darwin tem, ao menos, evidências e provas, o mesmo não se pode dizer dos cristãos que defendem o Criacionismo. Na concepção cristã, um embrião é uma pessoa, portanto, com os mesmos direitos. Entretanto cristãos perseguiram, prenderam, torturaram e mataram diversas pessoas simplesmente por terem uma crença diferente.

5.Remover a Lei Natural destrói a democracia

De acordo com o Paganismo, não há lei acima da lei porque não pode ter uma revelação de Deus. Portanto, os direitos que a Constituição nos diz que são desejadas por Deus, seriam impossíveis. Pelo contrário, você teria o que temos de lidar hoje em dia, uma Constituição apagada e debates intermináveis sobre como ela precisa ser modificada.

5.Confunde Lei Natural com Lei de Deus

A Lei Natural é aquilo que ocorre naturalmente, o que frequentemente está em desacordo com a visão do que o Cristianismo define como Deus. Mesmo na bíblia pode-se ver como Deus não observa os Mandamentos dados por Ele. Se Deus se mostra um Déspota Cósmico sádico, vingativo e ciumento, não seria de se espantar em ver cristãos frequentemente violando os mandamentos, tanto os de Deus quanto dos Homens.

6.Educação

O sistema educacional debaixo do humanismo tornou-se outro truque no teatro político. Uma vez que o único objetivo de um governo pagão é a retenção do poder, não é antiético negar educação na lógica dos estudantes, os predispondo para a propaganda, porque as pessoas não têm direitos naturais.

6.Inculcação

O sistema educacional sofre com os desafios e limitações, especialmente quando estudantes recebem uma inculcação doutrinária na Igreja. O sistema educacional tem sido negado, rejeitado, obstruído por cristãos para manter o poder, a influência e a autoridade da Igreja. O direito de uma pessoa dentro de uma sociedade, previsto em lei, é tido como natural por convenção, não por fato.

7.Humanismo mata

Como o grande filósofo grego Protágoras disse, o Homem é a medida de todas as coisas. Mas, se não há referência a Deus no comportamento humano, quem pode dizer que matar outro ser humano é errado?

7. Cristianismo mata

Como Tertuliano o cristão apologista disse, creio porque é absurdo. Assim, nos dois mil anos de existência do Cristianismo, a despeito da referência a Deus, cristãos mataram sem nenhuma misericórdia e consternação.

8.Paganismo é emocionalmente superficial

Como na antiga Roma, apenas fama, poder e dinheiro são valorizados.

8.Cristianismo é mentalmente instável

Valores como honra, dignidade, decência, recato, prudência e pudor eram valorizados no mundo antigo. Os cristãos apenas imitaram a caridade e a piedade. No entanto, suas doutrinas rejeitam o corpo, dando origem a uma cultural mentalmente perturbada.

9.Poligamia era padrão no mundo pagão

A poligamia era a regra na maioria das sociedades pagãs primitivas.

9.Recalque é padrão no mundo cristão

Houve um tempo onde a Igreja era contrária ao casamento. Existem seitas cristãs que adotam a poligamia, porque isso está na bíblia. Recentemente houve um escândalo com o caso dos padres pedófilos. Ainda assim o Cristianismo quer impor um padrão de sexualidade que beira a neurose, a paranoia. Criados dentro de rígidos limites ao corpo, ao desejo, ao prazer, ao relacionamento, ao gênero e ao sexo, os cristãos são pessoas recalcadas, infelizes e irrealizadas em suas vidas erótico-afetivas.

10.Crianças não estão seguras no Paganismo

Na Roma e Grécia Antiga, as crianças tinham um curto tempo de vida, eram muitas vezes abandonadas ou mortas por sua própria família.

10. Crianças não estão seguras no Cristianismo

Tivemos os casos de padres pedófilos. Temos casos de crianças morrendo porque suas famílias não permitem que sejam tratadas por questões religiosas. Em várias ocasiões a Igreja se interpôs ao desenvolvimento de novas formas de tratamento médico, ou nada fez para cessar endemias, como a Peste Negra.

Fonte: artigo de Kelly OConnell, no Canada Free Press.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Tem início o mico oficial

Hoje tem início a Copa do Mundo de 2014 e começamos mal, nós não temos a infraestrutura necessária para um evento desse porte.

A escolha do Brasil para a Copa do Mundo de 2014 tem um histórico típico brasileiro: tráfico de influência, corrupção, politicagem.

Mas antes, vamos aos fatos mais amenos:

No dia 3 de Junho de 2003, a Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL) havia anunciado que a Argentina, o Brasil e a Colômbia se candidataram à sede do evento. Em 17 de março de 2006, as confederações da CONMEBOL votaram de forma unânime pela adoção do Brasil como seu único candidato.

O presidente da FIFA, Joseph Blatter, disse em 4 de Julho de 2006 que, nesse caso, a Copa do Mundo de 2014 provavelmente seria sediada no país. No dia 28 de Setembro do mesmo ano, ele se encontrou com o Presidente Lula e disse que queria que o país provasse sua capacidade antes de tomar uma decisão. O dia 7 de fevereiro de 2007 seria a data final para as inscrições, porém a FIFA antecipou o prazo, tendo este acabado em 18 de dezembro de 2006.

No dia 13 de abril de 2007, após visitar o Maracanã, no Rio de Janeiro, o Morumbi, em São Paulo, o Mineirão, em Belo Horizonte, e o Beira-Rio, em Porto Alegre, Blatter disse que o país não tinha nenhum estádio em condições de sediar a Copa. Lula, porém, disse a jornalistas no dia 15 de setembro de 2006 que o Brasil deveria construir doze novos estádios para ser capaz de sediar a Copa. Lula ainda disse que nem mesmo a Kyocera Arena, o moderno estádio do Atlético Paranaense em Curitiba, tinha os pré-requisitos, pois havia questões de acesso e estacionamento.

Apesar de tudo, tanto Blatter quando o Presidente Lula estavam otimistas na reunião. O Ministro dos Esportes do Brasil, Orlando Silva, disse que "o Brasil fará o que for preciso para que a Copa seja realizada no país." O presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, disse que recuperar estádios e/ou construir novos estádios seria responsabilidade da iniciativa privada.

Em 31 de maio de 2007, encerrou-se o prazo dado pela FIFA e pela CBF para que as cidades interessadas em sediar partidas do Mundial fizessem suas respectivas candidaturas. Vinte e uma cidades de dezenove estados, mais o Distrito Federal entregaram à comissão organizadora os protocolos preenchidos de acordo com o Caderno de Encargos da FIFA.

Joseph Blatter faz o anúncio do país-sede. Em 31 de julho de 2007 a CBF entregou na sede da FIFA em Zurique, na Suíça, os documentos da proposta, na qual apareciam as dezoito cidades selecionadas (incluída a candidatura conjunta de Recife e Olinda).

No final no mês de agosto de 2007 uma comissão formada por inspetores da FIFA esteve nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e Porto Alegre, para vistoriar pessoalmente os estádios e a infraestrutura destas cidades candidatam a sede. Além das visitas, os inspetores da FIFA assistiram às apresentações dos projetos das demais cidades candidatas.

No dia 30 de outubro de 2007 a FIFA ratificou o Brasil como país-sede da Copa do Mundo de 2014. [wikipedia]

Na época, a CBF era dirigida por Ricardo Teixeira e a Fifa era influenciada por João Havelange. Ambos compartilham uma ligação que não é apenas familiar, mas também em negócios escusos. Ambos acabaram pedindo demissão dos cargos que ocupavam quando a coisa engrossou.

No Brasil, o presidente Lula e seu populismo neoliberal se empenharam em transformar o Brasil no palco adequado para o evento, restando pouco mais de sete anos para tentar construir ou reformar diversos estádios para satisfazer os dirigentes da Fifa e seus padrões. Disso veio a piada pronta do “padrão Fifa” que vem sido usado nas recentes manifestações.

Comentários polêmicos surgiram de personalidades, como os do ex-jogador Ronaldo e do ex-jogador Pelé. No exterior, não faltou quem também mostrasse a ingerência do governo brasileiro em sanar diversos problemas que vão afetar a Copa, ainda tem estádio sendo construído, como o Itaquerão, que é palco da inauguração ainda com tapumes e entulho de obra. Em termos de serviços, a coisa está precária, foi dado prioridade aos estádios e não foi feito coisa alguma para melhorar nossos aeroportos, portos, rodoviárias, transportes públicos, vias de acesso, hotéis. Não há nenhum planejamento para urgências e emergências, sistemas de ambulâncias, bombeiros, hospitais. O brasileiro mal fala sua própria língua, menos ainda o inglês mais básico.

A escolha do Brasil para a Copa de 2014, da Rússia para a Copa de 2018 e do Qatar para a Copa de 2022 fez com que a Fifa alterasse as regras dos países elegíveis para serem sede da Copa a partir de 2026: organizado, com dinheiro em caixa, sem grandes problemas de política externa e cuja escolha para receber o Mundial que não gere choques.

No meio do ano de 2013 surgiu um novo aspecto pertinente cuja motivação pode vir a ser mais uma pedra no sapato dos organizadores da Copa. Durante o mês de junho de 2013, em diversas cidades do Brasil, surgiram protestos contra a situação calamitosa da política brasileira, marcada por negligência, imperícia, omissão, imprudência, corrupção, nepotismo, ineficiência e tráfico de influência. O estopim foi o aumento da tarifa de ônibus, mas o protesto acabou agregando diversos grupos, diversas agendas e diversos objetivos, alguns não muito éticos, como as ações do Black Blocks.

A motivação central das manifestações, sem entrar no mérito da ação violenta, da depredação e do vandalismo pontual que aconteceram, é o descontentamento do cidadão contra seu estado de abandono. Nós somos um dos países com a mais alta taxa de juros e impostos, sem que isto não reverta em benefícios à população. Não faz sentido, em um país com um longo histórico de falta de investimento em educação, transporte e saúde pública, faça um esforço tão hercúleo para reformar ou construir estádios. O discurso oficial tenta nos enganar dizendo que a Copa irá beneficiar a população, mas não nos enganemos, apenas as elites e os políticos irão se beneficiar com essa pantomima.

Entretanto, nos meses que antecederam a abertura da Copa, o brasileiro parece que sucumbiu ao efeito hipnótico. As manifestações perderam volume, são noticiadas apenas quando acontece depredação ou tragédia. As ruas ostentam enfeites, painéis, pinturas. Lojas do mercado popular vendem itens para os torcedores. Em seu trabalho, o brasileiro pensa apenas na folga que terá nos dias de jogos da seleção brasileira.

Somente no apito final do último jogo da Copa é que o brasileiro irá voltar ao mundo real e se dará conta que estamos em ano eleitoral. Uma chance para mostrar nossa indignação, uma chance para nos organizarmos e termos consciência política. Ou uma chance para repetir os mesmos erros das eleições passadas e elegermos as mesmas figurinhas que tem se mantido no governo. Ou para ficarmos reclamando por mais um período de quatro anos, feito velhas corocas, dos nossos representantes. Basta de ficar reclamando, a única solução para o Brasil é o brasileiro se envolver na política, é ter participação nas decisões do governo, fiscalizando, cobrando, exigindo soluções.

A Copa dura um mês e quem quer que seja o campeão, isso não irá mudar a nossa conjuntura. O resultado de uma eleição, no entanto, dura muito mais e atinge diretamente nossas vidas. Entre um gol da seleção brasileira e um voto consciente do cidadão, eu fico com o segundo. Entre acrescentar um troféu do Brasil e garantir a justiça social no Brasil, eu fico com o segundo. Vamos mudar o jogo, Brasil.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Os quatro centros do Paganismo

O movimento pagão tem quatro centros, quarto conceitos e práticas centrais nas quais o Paganismo Moderno se desenvolveu: 1) Natureza, 2) Divindades, 3) o Self e 4) Comunidade.

O paganismo centrado na natureza encontra o divino na natureza. A preocupação principal é o mundo natural e nossa relação com ele.

Esta pode ser uma prática não-teísta, mas não necessariamente. Inclui Animismo, a ideia de que o que quer que dê ânimo a nós, pássaros e insetos também anima o vento, a chuva e mesmo as montanhas.
Nós sabemos que a vida na Terra desenvolveu-se uma vez – todos os seres vivos compartilham um ancestral em comum e, portanto, estão relacionados. Pagãos centrados na natureza compreendem que a Terra é sagrada por si e nela mesma – seu valor não depende de sua utilidade para os humanos e então nós tratamos a Terra com honra e respeito.

Práticas centradas na natureza começaram com a ciência, o estudo da natureza. Seus mitos de criação incluem o Big Bang e a evolução. Suas práticas diárias incluem observar o sol, a lua, as árvores e os animais, simplesmente dispendendo tempo no mundo natural. Muitos pagãos centrados na natureza são ativistas ambientais.

O paganismo centrado no divino encontra a divindade nos muitos Deuses e Deusas. Esta é uma prática geralmente politeísta, embora possamos debater sobre o que significa “politeísmo”. Paganismo centrado no divino está preocupado principalmente em formar e manter relacionamentos com os Deuses, ancestrais e espíritos. Isso é feito através de atos de devoção: adoração, oferendas, sacrifícios, orações e meditação.

Os politeístas olham para o mundo como nós o experimentamos e se vê pouca evidência de um Deus Todo Poderoso e Bondoso. Mas múltiplas divindades, de poder e alcance limitados, se encaixam melhor em nosso mundo.

O paganismo centrado no divino incluem muitos dos reconstrucionistas étnicos que estão tentando restaurar e reinventar as religiões de nossos ancestrais pré-cristãos. Eles enfatizam o conhecimento acadêmico, tanto para aprender como nossos ancestrais adoravam tais divindades e para encontrar e compartilhar a melhor maneira para adorar aqui e agora. Nós lemos Suas histórias, mas também estudamos a história humana, arqueologia e antropologia.
Um compromisso com os Deuses é um compromisso em incorporar Suas virtudes. Muitos de nossos Deuses têm o título de “Deus/Deusa de Alguma Coisa”. Isto não significa que Eles sejam mais do que artista, ou engenheiro ou mãe ou qualquer dos Seus papéis ou identidades descrevam tudo que nós somos. Ainda assim, é uma parte importante do que Eles são e o que Eles têm a nos ensinar. Eles são diferentes de nós, mas não tão diferentes. O quanto mais nós incorporarmos Suas virtudes, o quanto mais nos tornamos como Eles.

O paganismo centrado no self não significa estar centrado em você ou no seu ego, significa encontrar o divino dentro de si. Significa que o foco de sua prática religiosa é torna-lo mais forte, sábio, compassivo e magico, assim você pode prestar um grande serviço ao mundo.
A Wicca – ao menos em suas formas tradicionais – é centrada no self. Assim como muito da magia cerimonial, bruxaria tradicional e bruxaria feminista.
O paganismo centrado no self pode ser não-teísta, panteísta ou monístico. Está mais preocupado com o uso da magia.
O paganismo centrado na comunidade encontra o divino na família e na tribo – seja lá como eles definem esses grupos. As antigas religiões tribais eram [e ainda são] sobre manter uma relação harmônica e preservar as coisas como sempre foram. O individuo é secundário à família e imortalidade é a continuação da família, não do indivíduo.
Este tipo geralmente inclui alguma forma de veneração aos ancestrais e pode incluir alguma oferenda ao daimon – o bom espírito ou espírito guardião da residência. Os ancestrais e espíritos familiares são geralmente mais acessíveis do que os Deuses.
Os humanos são animais sociais – nós vivemos juntos, nossas famílias de sangue e escolha providencia encorajamento, reforço e responsabilidade. Comunidades são suas próprias entidades – elas são mais do que uma coleção de indivíduos. Comunidades existem para cumprir com sua missão e continuar sua tradição, não para satisfazer suas necessidades – estar em uma comunidade é tornar-se parte de algo maior que você mesmo.

Pagãos centrados em comunidade ensinam hospitalidade para os convidados, incluindo os divinos. E ensinam reciprocidade – você está dando tanto quanto recebe? Comunidades são auxiliadoras e recompensadoras, mas exigem trabalho de todos os seus membros. Evitar as partes desagradáveis da comunidade irá te marcar como um consumidor religioso ao invés de alguém que está comprometido com os objetivos da comunidade.

Síntese e exceções

Na prática, muitos se identificam com mais de um centro. Nós sentimos o chamado da natureza, mas nos interessamos por magia. Nós adoramos aos Deuses, mas preferimos fazê-lo junto com outros pagãos.

Nem todos que fazem estas coisas é pagão. Existem ateus que reverenciam a natureza, hindus que adoram muitos Deuses, cristãos que praticam magia e judeus que amam a comunidade. E existem pessoas que estão claramente dentro da Grande Tenda do Paganismo que simplesmente não gosta do termo e prefere ser chamado de outra coisa.

Fonte: Under the Ancient Oaks, autor John Beckett.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Aprendendo a ser gente

Nós devemos a nossos ancestrais tudo de bom que temos. Mas nossos ancestrais também nos deixam uma herança ruim. O patriarcado, o sexismo, o machismo e a misoginia são um legado que vem desde o Período Clássico e o livro “The Reign of the Phallus” de Eva C Keuls analisa extensivamente a realidade da mulher na sociedade da antiga Atenas.
Para o interesse do pagão moderno, eu traduzirei um trecho do capítulo 12 de título “Aprendendo a ser homem, aprendendo a ser mulher”.

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Na Grécia Clássica, como em outras sociedades antigas, os rituais eram observados em diversos números e variedades. Todas as maiores funções da vida estavam associadas a uma ou mais divindades patronas e um corpo de mitos e rituais. Nossa distinção entre “sagrado” e “profano”, o reino da igreja e da rua seria ininteligível aos gregos antigos. E nós não podemos compreender o mundo deles a menos que nós percebamos que todos os processos da vida estavam interligados com noções místico-religiosas. Estudantes do passado tem procurado por uma teoria, uma chave única, que poderia abrir a porta para a compreensão da natureza e do propósito dos rituais religiosos nas sociedades pagãs. Uma teoria mais velha via no ritual primariamente um proposito imediatamente pragmático: o alvo do ritual era promover a fertilidade da terra e da espécie humana, produzir chuva, pacificar os Deuses ou evitar desastres. A antropologia mais recente tem apontado o papel do ritual como um perpetrador dos valores sociais e normas comportamentais, ou em seus méritos psicológicos como ajudar as pessoas a conviver com as contradições e problemas da vida. O homem quer viver, mas tem que morrer e para sobreviver ele tem que matar. O homem quer ordem e justiça em sua sociedade, mas ele é cheio de ganancia e agressividade. Apenas uma coisa é certa no confuso estudo do mito e ritual e seus significados ocultos: nenhuma prática de culto sobreviveu por muito tempo a menos que corresponda a uma profunda necessidade social ou emocional.

Rituais de significância social são melhores considerados sob dois títulos: iniciação e liberação ou escape. Ritos de iniciação e puberdade seguem um padrão básico amplamente atestado entre os mais diversos povos: os jovens passam por certas provas e humilhações que simbolizam a dureza da vida. Eles fazem tarefas odiosas e subordinam suas vontades aos mais velhos. Geralmente eles morrem simbolicamente e renascem, algumas vezes através de um processo de nascimento físico imitado e são cerimonialmente recebidos como membros plenos da comunidade adulta. A iniciação nas religiões de mistério segue um cenário similar exceto que aqui o processo não está ligado a um estágio definido de vida, mas pode ocorrer em qualquer idade e o esquema de morte e renascimento simbólicos é mais elaborado. Não há uma sociedade sequer que não perpetuem os costumes sem vestígios de iniciação.

Se o proposito da iniciação é didático, para doutrinar as futuras gerações com os valores das velhas para que a sociedade continue, os rituais de escape tendem a proteger os padrões sociais por providenciar uma liberação temporária e controlada. O significado mais comum que serve a esse proposito é a inversão de papéis, que é tão atestado quanto a iniciação. Nas condições controladas do ritual, o excluído, o submisso e o maldito podem sair das restrições sociais e das limitações da existência. O servo pode chicotear seu mestre. A mulher pode sair e conduzir um comércio. O homem pode brincar de Deus. O filho pode mandar no pai.

Fonte: The Reign of the Phallus, Eva C Keuls, capítulo 12, pg 300-302, University of California Press.

domingo, 1 de junho de 2014

Encontrando a Deusa

Jason Mankey escreveu em seu blog “Raise de Horns” um texto intitulado “Finding the Goddess”. O texto descreve a experiência pessoal do autor com a Deusa e isso é crucial para uma análise crítica, haja visto que a maioria dos pagãos modernos teve um “contato” com a Deusa [e o Deus] por livros de autores pagão que começaram a surgir pela década de 70, no século XX. Eu vou tentar não estressar o caro dileto e eventual leitor com o fato de que eu sou politeísta, tradicional e tenho aversão ao domínio da neo-wicca e do dianismo no cenário pagão mundial. Neste blog eu tenho textos que abordam os aspectos da Deusa, mas não em como isto se encaixa no paganismo moderno.

Na definição de Jason Mankey, o Paganismo [Moderno] tem como definição: a) religião natural, b) politeísmo c) princípio feminino d) tradição religiosa ocidental. Isto coloca vários problemas com a experiência que ele teve e a forma como ele expressou tal experiência.

Como pagãos modernos encaixam a natureza como base de sua religião enquanto falamos e defendemos o uso do sacrifício ritualístico de animais? Para muitos pagãos modernos esse é um tema polêmico e conturbado, principalmente aos que optam pelo veganismo, pela defesa do “direito animal” e pela preservação ambiental.

Como os pagãos modernos encaixam o politeísmo como base de sua religião, se acabamos nos rendendo a formas de henoteísmo, panteísmo, monismo e até monoteísmo? Muitos pagãos modernos, devido à influência literária e pouca investigação acadêmica, irão ter problemas em conciliar sua epifania divina com a Deusa [e o Deus] com a sua interpretação de tal experiência, com a forma como ele irá expressar tal experiência e até mesmo com a visão do grupo ou tradição ao qual ele faz parte.

Como pagãos modernos encaixam o princípio feminino como base de sua religião, especialmente homens, sem incluir o princípio masculino, o Deus? Eu passei muitos anos de minha jornada lutando contra a impostura da neo-wicca e do dianismo. Per faz, per nefas, eu agora estou focando em minha jornada. A comunidade pagã brasileira que se resolva com gurus, farsantes e vigaristas.

Como pagãos modernos encaixam uma “tradição religiosa ocidental” como base de sua religião se muito de nosso legado cultural e religioso provêm do Oriente Médio, Ásia Menor e regiões mais orientais? O conceito de uma religião indo-europeia nos remete ao vale do rio Indus, bem no meio do atual Paquistão. Fica difícil encaixar a Anatólia nesse eurocentrismo, nessa ocidentalização de nosso legado.

Transmitir, por escrito, uma experiência espiritual, uma epifania, uma revelação, é um trabalho difícil e ingrato. O limite da forma de uma redação, o limite da língua, o limite de nossa capacidade mental em compreender quando Ela [ou Ele] mostra Sua face para nós chega a ser cruel. Livros sagrados nasceram dessa necessidade que temos em compartilhar o que presenciamos e quando o pensamento se fossiliza em papel e tinta, deixa de ser divino para ser humano, eis o porquê não existem livros sagrados no Ofício.

O encontro com a Deusa passa pela questão de como conceituamos, vemos e percebemos a divindade. A referência mais primordial da Deusa é a nossa mãe e a figura, o símbolo e o papel da mãe na mente ocidental nos dá uma pálida ideia da Grande Mãe. A segunda referência da Deusa que é mais forte é a nossa mulher e essa figura se subdivide entre a esposa e a amante, onde conceitos como a virgem, a santa, a cortesã e a prostituta se misturam. A referência mais temida é a anciã e essa figura se subdivide na bruxa e na morte, pois Ela é o ventre e o túmulo. Outras referências, como a figura da irmã e filha, são menos exploradas e utilizadas e, mesmo nesses papéis, há uma mistura de laços de família e tabus como o incesto, um mito que poucos falam e é evitado pela neo-wicca e pelo dianismo.

Apesar de tudo isso, os aspectos Dela ainda estão longe de ser amplamente explorados. Ela é associada à lua, à natureza, à noite, ao firmamento, ao campo, ao plantio, à colheita, às estrelas, ao nascimento, à fertilidade, à fecundidade, à fartura. Ela não é a soma da multitude de outras Deusas e as outras Deusas tem suas próprias identidades e personalidades. Ela resume a completude divina do feminino, Nela há recato e ousadia, pudor e sensualidade, pureza e erotismo, castidade e promiscuidade. Ela resume a plenitude da mulher, sendo dona de si, de seu corpo, de sua sexualidade, de sua sensualidade, esposa e amante, santa e puta, anjo e demônio. Procura-la é querer a morte, morrer para renascer. Encontra-la é loucura, a loucura dos poetas e profetas. Deseja-la é querer abraçar o Amor, consumir-se em uma união que irá desintegrar nossa existência, ser arrebatado no mais longo orgasmo.