domingo, 2 de outubro de 2011

BDSM e Paganismo

Em um agradável contato por comentário em meu blog, a Dorei Fobofilica idealizou:
"[...]meu blog é dirigido única e exclusivamente para textos BDSM, não falo nele apenas do que gosto, falo de tudo o que seja relacionado ao BDSM de uma ou outra forma, mas confesso, não saco nada de paganismo e embora saiba que alguns o ligam ao BDSM, não sei como isto procede, por isto não sei ainda como falar, teria que fazer o que sempre faço, porém se voce tiver um bom texto, que seja imparcial e que fale de paganismo da forma como eu proponho, ou seja, ligado ao BDSM e de forma imparcial[...]"
Como bom pagão e interessado no real e efetivo Direito à Liberdade Erótico-Afetiva da Humanidade, logo imaginei de que forma eu poderia realizar este desafio.
Através do oráculo virtual [Google] encontrei este trecho no Wikipédia:
"As origens históricas do BDSM são obscuras. Durante o século 9 AC, flagelação ritual eram feitas em Artemis Orthia, uma das áreas religiosas mais importantes da antiga Esparta, onde o culto de Orthia, uma religião pré-olímpica, era praticada. Aqui a flagelação ritual chamada de diamastigosis acontecia regularmente. Uma das provas gráficas mais antigas das atividades sadomasoquistas é encontrada em um antigo cemitério Etrusco em Tarquinia. Dentro da Tomba della Fustigazione, no fim do século 6 AC , dois homens são retratados flagelando uma mulher com uma vara e uma mão durante uma situação erótica. Outra referência relacionada à flagelação é encontrada no 6º livro das Sátiras do antigo poeta romano Juvenal (século 1ª e 2º DC), referências podem ser encontradas mais tarde no Satiricon de Petronius onde um delinqüente é chicoteado para excitação sexual. Narrativas anedóticas relatam a humanos que voluntariamente são amarrados, flagelados ou chicoteados como uma substituição do sexo como parte das preliminares remontando ao 3º e 4º século."[wikipédia]
Não deve ser novidade aos meus diletos e eventuais leitores a tônica dos meus textos: todo que temos e somos devemos às civilizações da Idade Antiga. Nós colocamos um tempero mais tecnológico, mas a raiz, a fonte, continua sendo as antigas civilizações.
Uma coisa é saber as possíveis origens do BDSM e seu "vinculo" com o Paganismo, mas não custa lembrar que o termo "Paganismo" foi uma forma chula da Igreja e dos Cristãos xingar as religiões antigas.
Eu devo ressaltar que precisamos ir mais devagar com o andor. Há uma tênue diferença entre o que se entende por BDSM nos dias de hoje e os diversos jogos eróticos e as práticas espirituais ou cerimoniais dos antigos.
Devemos separar pelas intenções, pelos motivos e pela importância. As práticas antigas que são interpretadas como sendo semelhantes às atuais práticas de BDSM ora eram acessórias, ora eram principais; ora eram com intenção espiritual, ora era com intenção erótica. No tempo antigo, um servo era realmente um servo, não alguém que voluntariamente se dispunha a fazer tal papel, com regras bem definidas.
A inserção do prazer, do desejo e do sexo como partes integrantes, fundamentais e esperadas de uma doutrina religiosa apareceu junto com o romantismo e o movimento de reconstrucionismo da Idade Moderna que deram forma ao Neopaganismo, ou Paganismo Moderno, um rótulo que eu uso e acho mais apropriado.
Nas muitas formas do Neopaganismo [ou Paganismo Moderno], eu reconheço que apenas a Wicca [ao menos a tradicional] existe tal inserção e preocupação de forma explícita, seja na forma da organização dos grupos [covines], seja nas ferramentas, seja na liturgia.
Por exemplo:
Dominatrix: a alta sacerdotisa tem um papel semelhante ao da dominatrix.
Bondage: ao entrar no círculo pela primeira vez, o neófito será ritualisticamente amarrado e vendado.
Sado-masoquismo: o açoite está entre as ferramentas usadas no círculo wiccano e não é apenas para mera decoração, ele será ativamente usado nas cerimônias de iniciação.
X-rated: ainda é foco de polêmica e até mesmo de confusão, entre neopagãos, bruxos e wiccanos, mas em alguns círculos tradicionais, há a realização do Grande Ritual real entre a alta sacerdotisa e o alto sacerdote.
Diversidade: as religiões neopagãs são bem diversificadas em termos de gêneros, de preferências sexuais, de papéis sexuais, de formas de relacionamentos e até de práticas inconvencionais para comungar com o divino. Trangênero, poliamor, sado-masoquismo, bondage, dominação, shibari, tantra...todas as formas de amor e prazer são os rituais da Deusa, nós dizemos. Em um mundo ainda oprimido e reprimido sexualmente, nós devemos todos ser vistos como um culto satânico de promíscuos filhos do Tinhoso. Nós apenas estamos trazendo ao mundo uma luta pela liberdade e direitos na única área humana em que ainda estamos estagnados, que é nossa vida erótico-afetiva e reprodutiva.
Este é um aporte pessoal, portanto eu peço aos meus diletos e eventuais leitores que não generalizem nem se escandalizem com estas opiniões.

2 comentários:

Dorei disse...

Já publiquei o texto, Beto. Depois dê uma olhada.

Muito obrigada, adorei!

Beijos!

S. Thot disse...

Esta aí um texto que queria ter escrito! Como não escrevi, só posso elogiar e compartilhar!