Dia 25 de Dezembro é data da celebração do Natalis Solis Invictus, isto é, do Nascimento do Sol Invencível.
O Nascimento do Sol Invencível é o momento em que o Sol inicia a Sua ascenção triunfante, representando, neste momento, a Luz que nunca morre e vence sempre. A celebração do Sol Invencível foi estabelecida em 274 DC, pelo imperador Aureliano, depois do seu triunfo no oriente, e incluía corridas de cavalos - trinta bigas - em honra do Sol.
Este Sol Invicto, Luz que nunca morre e vence sempre, é pois um reflexo da Eternidade.
De um modo sintético, pode-se começar por dizer o óbvio - que a generalidade dos povos consagrou esta época ao culto ou à homenagem do Sol, ou de forças solares divinas.
Começando pela religião gaulesa, é valioso descobrir que também estes Celtas mal conhecidos celebravam este dia sob o nome de «Deuorius Riuri», como se pode ler nessa famosa e importantíssima descoberta arqueológica que é o Calendário de Coligny.
Merece também referência que esta celebração solsticial continue viva entre os Curdos, sob a designação de Şeva Zistanê. E merece referência porque se trata dum elemento de origem pagã, enquanto o Povo Curdo já foi há muito convertido ao Islão, conversão esta que pode explicar o facto de a Seva Zistanê não ser oficialmente realizada. Já os arcaicos ancestrais desta gente acreditavam que a noite mais longa do ano era a que antecedia a vitória da luz sobre as trevas e simbolizava assim o renascimento do Sol, O Qual desempenha um importante papel em religiões antigas ainda praticadas por alguns Curdos, além do Zoroastrismo. Actualmente, várias comunidades do Curdistão preparam grandes festas e as suas crianças entretêm-se em jogos vários e recebem doces, um pouco à imagem do moderno Halloween anglo-saxónico.
Os parentes mais próximos dos Curdos, os Iranianos, também celebram esta data na sua religião nacional, que é o supracitado Zoroastrismo. No Irão zoroástrico, a celebração chama-se Deygãn. O último dia do mês de Azar (equivalente a Dezembro) é o mais longo do ano, o que significa que as forças de Ahriman (Espírito Maligno) estão no auge da sua força. Todavia, o dia seguinte, que marca o início do mês Dey, é tido como «O Dia do Sol», ou Khoram Ruz, e pertence portanto a Ahura Mazda, o Senhor da Sabedoria, Deus do Bem. O Khoram ou Khore Ruz é por conseguinte dedicado a este Deus, e também a Mithra, grande Deus ariano comum ao Irão e à Índia Cujo culto chegou a ser dos mais populares no Império Romano.De uma das culturas célticas menos bem estudadas até à mais conhecida, a gaélica irlandesa, manix e escocesa, passa-se para o «Dia da Carriça» ou «Lá an Dreoilín», celebrada a 26 de Dezembro. Nesta festa, multidões de jovens usando vestimentas carnavalescas e máscaras, e acompanhadas por músicos, punham-se ao caminho e, transportando consigo uma carriça (pássaro), iam de casa em casa, comendo e divertindo-se. Pode haver aqui algum eco de um festival druídico. Não deixa entretanto de ser interessantíssima a sua semelhança com as festas dos Caretos.
Entretanto, no outro ramo céltico que sobreviveu até aos dias de hoje, o britónico (Gales, Cornualha, Bretanha), a tradição aponta esta época como o nascimento do herói-deus Pryderi, que deu o nome à Grã-Bretanha, filho de Rhiannon, a Grande Deusa equina, eventual equivalente à famosa Épona, Cujo culto, adoptado também por soldados romanos, muito se disseminou na Gália e na Ibéria.
Merece também referência que esta celebração solsticial continue viva entre os Curdos, sob a designação de Şeva Zistanê. E merece referência porque se trata dum elemento de origem pagã, enquanto o Povo Curdo já foi há muito convertido ao Islão, conversão esta que pode explicar o facto de a Seva Zistanê não ser oficialmente realizada. Já os arcaicos ancestrais desta gente acreditavam que a noite mais longa do ano era a que antecedia a vitória da luz sobre as trevas e simbolizava assim o renascimento do Sol, O Qual desempenha um importante papel em religiões antigas ainda praticadas por alguns Curdos, além do Zoroastrismo. Actualmente, várias comunidades do Curdistão preparam grandes festas e as suas crianças entretêm-se em jogos vários e recebem doces, um pouco à imagem do moderno Halloween anglo-saxónico.
Os parentes mais próximos dos Curdos, os Iranianos, também celebram esta data na sua religião nacional, que é o supracitado Zoroastrismo. No Irão zoroástrico, a celebração chama-se Deygãn. O último dia do mês de Azar (equivalente a Dezembro) é o mais longo do ano, o que significa que as forças de Ahriman (Espírito Maligno) estão no auge da sua força. Todavia, o dia seguinte, que marca o início do mês Dey, é tido como «O Dia do Sol», ou Khoram Ruz, e pertence portanto a Ahura Mazda, o Senhor da Sabedoria, Deus do Bem. O Khoram ou Khore Ruz é por conseguinte dedicado a este Deus, e também a Mithra, grande Deus ariano comum ao Irão e à Índia Cujo culto chegou a ser dos mais populares no Império Romano.
A propósito de Mitra no Irão, é essencial fazer uma referência à Yalda, o mais importante festival do Irão actual sem contar com a cerimónia do ano novo. Diz o mito persa que Mithra nasceu no fim desta noite, após a derrota há muito esperada da escuridão perante a luz. Nesta ocasião, também chamada «Shabe Chelle», as famílias e os amigos reunem-se e comem-se frutos, secos e frescos, particularmente melancias, diospiros e romãs, todos eles representando o Sol.
Similar à Deygãn persa é a Karachun, Korochun ou Kračún, grande celebração pagã dos Eslavos Ocidentais (Polacos, Checos, Eslovacos, Wendes). O mito eslavo diz que nesta época o Deus Negro e outros espíritos malignos ainda são potentes e por isso derrotam Hors, o Sol Velho, em 22 de Dezembro. Todavia, Hors ressuscita a 23 de Dezembro e torna-Se no Sol Novo, Koleda. Karachun parece significar «O dia que liga o ano velho ao novo». A celebração pode estar ligada ao culto dos ancestrais. Assim, é sabido que nesta data os antigos Eslavos Ocidentais faziam fogueiras nos cemitérios para aquecerem os seus entes queridos já falecidos, organizando também jantares em honra dos mortos para que estes não sofressem com fome. Além disso, pegavam fogo a troncos em encruzilhadas.
Koleda ou Kolyada, teónimo acima citado, é por sua vez o nome da celebração entre os Eslavos Orientais (Russos, Ucranianos) e Meridionais (Búlgaros e Macedónios). Há quem diga que a palavra deriva da latina «Calenda», há também quem lhe veja a raiz no termo «Kolo», que significa «Roda» (a fazer referência à roda do ano, o que faz lembrar que também os Anglo-Saxões dão o nome Yule ao Natal e à roda ao mesmo tempo), há ainda quem procure a origem do vocávulo no macedónico «kole», ou «dilacerar», em referência a um possível sacrifício; mas talvez a etimologia mais provável seja a que faz «Koleda» derivar de Kolyada, Deus eslavo do Inverno. Actualmente, a palavra evoca, não tanto o Natal propriamente dito, mas sim as brincadeiras e cânticos da época natalícia.
Também no leste eslavo, mais concretamente na zona oriental da Rússia, sobrevivia no século XII uma adoração de Rozhnitsa, Deusa Mãe invernal, À Qual se ofereciam sacrifícios sem sangue, tais como mel, pão e queijo. Faziam-se decorações a representar a Deusa com cornos de veado e ofereciam-se bolos brancos na forma do mesmo animal. Ainda no século XX havia mulheres russas que continuavam este ritual.
Na vizinha Letónia, celebra-se o Ziemassvētki, ou festival de Inverno, no dia 24 de Dezembro, e é uma das suas festas mais importantes, a par da Jāņi. Na Ziemassvētki assinala-Se o nascimento de Dievs, o maior Deus dos Letões. As duas semanas que antecedem o Seu nascimento constituem a «estação dos fantasmas». Durante a Ziemassvētki, acendem-se velas a Dievs ou Divins e uma fogueira arde até ao fim, quando a sua extinção marca o adeus à infelicidade do ano anterior. À mesa, reserva-se um espaço para os fantasmas, e come-se pão, feijões, ervilhas, focinho e pés de porco. Alguns foliões (budeli) cantam de porta a porta e comem em várias casas.
A festividade decorre de 24 a 26 do corrente mês e acabou por ser adoptada pelos cristãos. Os modernos politeístas praticantes da Romuva ou Religião Nacional Báltica celebram-na igualmente, como seria de esperar.
É também mister referir a celebração equivalente dos Kalash do Paquistão, visto que este povo é, como já foi dito neste blogue, uma das poucas nações indo-europeias que preservou a antiga religiosidade pagã até aos dias de hoje. Os Kalash festejam nesta data o Choimus ou Chaomos. Diz o mito que um certo semideus retorna para recolher orações que serão depois entregues a Dezao, o Deus Supremo. É ocasião para purificações pormenorizadas de ambos os sexos e realização de grande festival, que inclui danças, cantares, fogueiras e farta comezaina à base de carne de cabra, cujo sangue fora previamente aspergido nas faces dos homens como parte do ritual de purificação.
Não deve entretanto esquecer-se a Lenia e a Brumália da Grécia, ambas em honra de Diónisos (Diónisos Lenaius no primeiro caso) mas a primeira reservada às mulheres e dominada pela encenação de cinco comédias, e tendo a segunda sido instituída também em Roma, alegadamente por obra do seu primeiro rei e fundador, Rómulo, celebrada durante trinta dias e iniciada a 24 de Novembro, para entreter o Senado.
Na Índia, o nome da da celebração é Sankranti, início da estação das colheitas, cujos pormenores da festa têm alguma semelhança às Saturnais, nomeadamente no que se refere às visitas entre amigos no segundo/terceiro dias; homenageia-se o Sol como símbolo da eternidade e da luz sem fim, além do tempo, e pede-se-Lhe inteligência e iluminação, visto que o Astro Rei constitui um símbolo de conhecimento e sabedoria. Este evento é marcado por uma recomendação que os Deuses ditam aos homens: «Tamaso Ma Jyotir Gamaya», ou «Que vás mais e mais alto - para mais e mais Luz, nunca para a escuridão».
No mundo nórdico, trata-se do Yule, bem como do Midvinterblót, ou «Sacrifício do Meio do Inverno». Os Suecos realizavam rituais sacrificiais de pessoas e de animais em muitos dos locais que agora têm igrejas.
Entre os Anglo-Saxões, a festa era denominada Modranicht ou Modresnach, isto é, «A Noite das Mães». Os sonhos que se tivessem nesta noite eram proféticos para o ano inteiro que se seguiria.
Na zona sudoeste das terras ocupadas pelos Germanos, mais precisamente nos Alpes, a grande celebração é o ritual de Perchta. Aparentemente, Perchta é uma personagem folclórica que descende da antiga Deusa germânica Hertha, Senhora da Luz e do Lar. É interessante observar que os camponeses faziam bolos no formato de sapatos, os quais depois enchiam com presentes, enquanto as casas eram decoradas com azevinho como preparativo de boas vindas dedicado à Deusa. Erigia-se então um grande altar de pedras lisas e chatas e aí se fazia uma grande fogueira com ramos de pinheiro. Hertha descia através do fumo, ajudando os mais sábios a predizer o futuro das pessoas presentes na festa. Alguns aspectos desta celebração sobrevivem ainda entre os camponeses da região.
Fonte: Gladius
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
sábado, 26 de dezembro de 2009
Ecce Corpus
Eu havia prometido às minhas amigas Adília [Sexismo e Misoginia], Yume [Hanabi] e ao blog Maçãs Podres um texto falando da pornografia e da prostituição e vou tentar conciliar minha devoção pessoal às mulheres [como homem e pagão] com minha luta pela libertação da humanidade [o que inclui minha tendência feminista].
Inevitávelmente, recorro ao oráculo virtual [Google] em busca de elementos para tamanha obra.
Sobre a prostituição como ocupação, eu encontrei esse texto:
[...]a atividade da prostituição deve ser considerada um trabalho, principalmente, por que acredito que a prostituta não vende a si e, muito menos suas partes sexuais, antes ao contrário, ela estabelece um contrato de serviços sexuais[...]
[..]há características de organização para o exercício da prostituição – regras, horários, regularidades, rotinas, preços, contatos – que a estruturam como um trabalho[...]
[...]para as prostitutas o corpo que está na prostituição é um corpo que deve comunicar uma relação calcada no corpo mercadoria, já nas relações afetivas esse mesmo corpo comunicará sentimentos de afeto, de fidelidade e intimidade[...][Elisiane Pasini]
Eu tenho que discordar que a prostituta não vende a si, porque o corpo não é algo destacável, distanciável ou alienável da pessoa, da identidade, da personalidade dessa mulher.
Se a prostituição fosse um trabalho, haveriam homens prestando tal "serviço", em iguais quantidades; teria um sindicato, uma "data-base", todos estariam cobertos pelas leis trabalhistas de praxe; teriam cursos de nível técnico e superior.
Ainda que hajam "regras", mesmo que implícitas, no exercício desta ocupação, estas "regras" apenas ocorrem em um cenário ideal, não no real, não no social.
Eu tenderia a concordar com a distinção entre "corpo mercadoria" e "corpo afetivo", se isso fosse possível sem consequencias psicológicas, mas ter multiplos parceiros não faz parte da vida da prostituta fora de seu "serviço", a maioria tem relacionamentos com um único parceiro fixo, o que ressalta que tal permissividade não é aceita sequer por quem supostamente tem uma vida sexual mais "liberal".
Sobre a postura diante da prostituição, eu encontrei essa reflexão:
O abuso sexual de menores, o tráfico de pessoas, forçar alguém a prostituir-se são crimes hediondos e devem ser punidos duramente. A prostituição não deve ser crime. Qualquer coisa que se passe entre duas pessoas adultas na sua privacidade de forma consensual dificilmente é crime.
Dir-me-ão que é a mulher, ainda que maior de idade é sempre vítima da prostituição. Que legitimidade têm de transformar as trabalhadoras sexuais em vítimas? A mulher não é dona do corpo dela?[Luis Pedro]
Ainda que possam ser fatos distintos, as condições e causas para que tais violências e abusos ocorram são dadas pela noção de que o corpo é uma mercadoria, desprovida de sentimentos, de identidade, de personalidade, de intimidade, de privacidade, algo que pode ser destacável e alienável, algo que não é humano; algo que é sujo, selvagem, indomável, inculto, que deve ser domado, subjugado, doutrinado.
Eu tenderia a concordar com a idéia de que, se a mulher é dona do seu corpo para decidir se aborta ou não, então ela é dona do seu corpo para decidir se prostitui ou não. Mas a mulher não é livre, senão fora dessa relação comercial ela teria muitos parceiros, o que não é verdade. Também temos a questão de que o corpo não é como um imóvel ou um carro, algo destacável e alienável, mas é algo que faz parte da natureza e da essência dessa mulher. O consentimento que se dá ao "cliente", para que este tenha relações sexuais com ela, mediante um pagamento, apenas ressalta a condição excepcional desse contato. Na verdade, ao aceitar o pagamento, a mulher não está apenas "alugando" seu corpo, mas está calando sua dignidade e consciência mediante suborno. Na verdade, a mulher está sendo paga para ser estuprada, a prostituição não é mais do que um estupro pago.
Eu concordo que a prostituta não pode ser transformada em vítima, mas nem por isso podemos transformá-la em heroína, em uma contestadora do sistema. Durante o tempo em que eu usei desse "serviço", todas essas mulheres demonstraram não gostar de sua ocupação, mas após 15 anos que deixei de contratá-las, elas ainda estão nos mesmos lugares, prestando o mesmo "serviço". Por mais que se queira disfarçar, fica evidente que estas mulheres estão vivendo uma condição análoga à do escravo.
Ou este, sobre a realidade social da prostituição:
Na cultura patriarcal as representações e práticas sociais são fortemente marcadas pelo gênero e no âmbito da sexualidade as mulheres são socializadas para “conter” suas pulsões sexuais e para “liberá-las” quando conectadas a uma “história de amor”. Nessa medida, essa cultura poderia contribuir para explicar a pouca expressão de mulheres como clientes de serviços sexuais e a “transgressão” das mulheres enquanto profissionais do sexo. Os homens, por sua vez, são estimulados a vivenciar sua virilidade, no imaginário social fortemente associada ao “escoamento” de suas pulsões sexuais que podem exercer seja na posição de clientes seja na de prestadores de serviços sexuais.[Almira Rodrigues]
A análise vem de encontro aos meus comentários. Efetivamente, se para viver plenamente sua sexualidade, a mulher precisa se prostituir, então ela não é uma "transgressora", mas uma patrocinadora e incentivadora, não apenas da permissividade sexista, mas da condição de miséria sexual em que nossa sociedade vive.
A questão da prostituição talvez pudesse ser melhor encarada se houvesse uma normatização, uma regulamentação dessa ocupação.
Eu encontrei essa reflexão sobre a legalização/normatização da prostituição:
(a) os direitos fundamentais possuem aplicação imediata; logo, não precisam de regulamentação legal para serem exercidos de plano;
(b) a constituição e os tratados internacionais garantem o direito fundamental à liberdade de profissão, de modo que “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer” (art. 5º, inc. XIII, da CF/88);
(c) na ausência de lei federal regulamentadora, a liberdade profissional é ampla de modo que qualquer pessoa tem o direito de escolher a atividade profissional e econômica que deseja desempenhar, de acordo com seu próprio entendimento, conveniência, vocação e habilidade;
(d) a prostituição é uma atividade como outra qualquer. Logo, se não há lei proibindo expressamente essa atividade, não é preciso que uma lei seja aprovada para “legalizar” ou permitir o exercício dessa atividade. O que é proibido é a exploração da prostituição e não a prostituição em si;
(e) qualquer lei que venha a tratar do assunto, ao invés de melhorar a situação das prostitutas, irá prejudicá-las, pois hoje a liberdade é ampla, sem limitações. A lei regulamentadora, por essência, limitará a atividade, já que é pra isso que as leis que regulamentam profissões servem. Provavelmente, grupos mais conservadores incluiriam na lei limitações de local, horário etc. que hoje não existem;
(f) não é preciso de lei para proibir a violência contra as prostitutas ou para reconhecer os seus direitos básicos, pois a constituição já garante isso. Se esses direitos não são respeitados é por uma interpretação discriminatória da legislação em vigor e não pela falta de norma jurídica. Portanto, não é preciso lutar pela legalização da prostituição, mas pela não discriminação. Hoje, a discriminação ocorre numa clara afronta da constituição e vem tanto da sociedade quanto do estado.[George Lima]
Ainda estamos longe de ter uma sociedade ideal e teremos muito que lutar para que a humanidade, cada indivíduo, tenha conquistado sua liberdade ao ponto de que nada [nem a Sociedade, nem o Governo, nem a Igreja] interfira em nosso direito de sermos felizes e em nossa liberdade de escolhermos nossas identidades de gênero, nossas preferências sexuais, nossas formas de relacionamentos. Tanto a prostituição quanto a pornografia ora instigam ora evitam tais causas e, em um país onde mal se tem consciência política, seria esperar demais que houvesse uma consciência sexual.
Talvez algum dia consigamos realizar aquilo que a Contracultura e a Revolução Sexual deu início, talvez algum dia homens e mulheres possam se amar sem as amarras impostas pela Sociedade, pelo Governo, pela Igreja. Mas para isso temos que resolver os traumas psicológicos e sexuais causados pela tirania da Igreja ao longo de 19 séculos. Teremos que redescobrir a verdadeira essência da humanidade, a verdadeira natureza do corpo, a verdadeira potencialidade do prazer e do sexo. Para isso, eu posso conclamar a todos que apostatem da Igreja e convidar para que conheçam os caminhos oferecidos pelo Paganismo.
Aqui, a humanidade poderá reencontrar o caminho para sua felicidade e realização plena.
Inevitávelmente, recorro ao oráculo virtual [Google] em busca de elementos para tamanha obra.
Sobre a prostituição como ocupação, eu encontrei esse texto:
[...]a atividade da prostituição deve ser considerada um trabalho, principalmente, por que acredito que a prostituta não vende a si e, muito menos suas partes sexuais, antes ao contrário, ela estabelece um contrato de serviços sexuais[...]
[..]há características de organização para o exercício da prostituição – regras, horários, regularidades, rotinas, preços, contatos – que a estruturam como um trabalho[...]
[...]para as prostitutas o corpo que está na prostituição é um corpo que deve comunicar uma relação calcada no corpo mercadoria, já nas relações afetivas esse mesmo corpo comunicará sentimentos de afeto, de fidelidade e intimidade[...][Elisiane Pasini]
Eu tenho que discordar que a prostituta não vende a si, porque o corpo não é algo destacável, distanciável ou alienável da pessoa, da identidade, da personalidade dessa mulher.
Se a prostituição fosse um trabalho, haveriam homens prestando tal "serviço", em iguais quantidades; teria um sindicato, uma "data-base", todos estariam cobertos pelas leis trabalhistas de praxe; teriam cursos de nível técnico e superior.
Ainda que hajam "regras", mesmo que implícitas, no exercício desta ocupação, estas "regras" apenas ocorrem em um cenário ideal, não no real, não no social.
Eu tenderia a concordar com a distinção entre "corpo mercadoria" e "corpo afetivo", se isso fosse possível sem consequencias psicológicas, mas ter multiplos parceiros não faz parte da vida da prostituta fora de seu "serviço", a maioria tem relacionamentos com um único parceiro fixo, o que ressalta que tal permissividade não é aceita sequer por quem supostamente tem uma vida sexual mais "liberal".
Sobre a postura diante da prostituição, eu encontrei essa reflexão:
O abuso sexual de menores, o tráfico de pessoas, forçar alguém a prostituir-se são crimes hediondos e devem ser punidos duramente. A prostituição não deve ser crime. Qualquer coisa que se passe entre duas pessoas adultas na sua privacidade de forma consensual dificilmente é crime.
Dir-me-ão que é a mulher, ainda que maior de idade é sempre vítima da prostituição. Que legitimidade têm de transformar as trabalhadoras sexuais em vítimas? A mulher não é dona do corpo dela?[Luis Pedro]
Ainda que possam ser fatos distintos, as condições e causas para que tais violências e abusos ocorram são dadas pela noção de que o corpo é uma mercadoria, desprovida de sentimentos, de identidade, de personalidade, de intimidade, de privacidade, algo que pode ser destacável e alienável, algo que não é humano; algo que é sujo, selvagem, indomável, inculto, que deve ser domado, subjugado, doutrinado.
Eu tenderia a concordar com a idéia de que, se a mulher é dona do seu corpo para decidir se aborta ou não, então ela é dona do seu corpo para decidir se prostitui ou não. Mas a mulher não é livre, senão fora dessa relação comercial ela teria muitos parceiros, o que não é verdade. Também temos a questão de que o corpo não é como um imóvel ou um carro, algo destacável e alienável, mas é algo que faz parte da natureza e da essência dessa mulher. O consentimento que se dá ao "cliente", para que este tenha relações sexuais com ela, mediante um pagamento, apenas ressalta a condição excepcional desse contato. Na verdade, ao aceitar o pagamento, a mulher não está apenas "alugando" seu corpo, mas está calando sua dignidade e consciência mediante suborno. Na verdade, a mulher está sendo paga para ser estuprada, a prostituição não é mais do que um estupro pago.
Eu concordo que a prostituta não pode ser transformada em vítima, mas nem por isso podemos transformá-la em heroína, em uma contestadora do sistema. Durante o tempo em que eu usei desse "serviço", todas essas mulheres demonstraram não gostar de sua ocupação, mas após 15 anos que deixei de contratá-las, elas ainda estão nos mesmos lugares, prestando o mesmo "serviço". Por mais que se queira disfarçar, fica evidente que estas mulheres estão vivendo uma condição análoga à do escravo.
Ou este, sobre a realidade social da prostituição:
Na cultura patriarcal as representações e práticas sociais são fortemente marcadas pelo gênero e no âmbito da sexualidade as mulheres são socializadas para “conter” suas pulsões sexuais e para “liberá-las” quando conectadas a uma “história de amor”. Nessa medida, essa cultura poderia contribuir para explicar a pouca expressão de mulheres como clientes de serviços sexuais e a “transgressão” das mulheres enquanto profissionais do sexo. Os homens, por sua vez, são estimulados a vivenciar sua virilidade, no imaginário social fortemente associada ao “escoamento” de suas pulsões sexuais que podem exercer seja na posição de clientes seja na de prestadores de serviços sexuais.[Almira Rodrigues]
A análise vem de encontro aos meus comentários. Efetivamente, se para viver plenamente sua sexualidade, a mulher precisa se prostituir, então ela não é uma "transgressora", mas uma patrocinadora e incentivadora, não apenas da permissividade sexista, mas da condição de miséria sexual em que nossa sociedade vive.
A questão da prostituição talvez pudesse ser melhor encarada se houvesse uma normatização, uma regulamentação dessa ocupação.
Eu encontrei essa reflexão sobre a legalização/normatização da prostituição:
(a) os direitos fundamentais possuem aplicação imediata; logo, não precisam de regulamentação legal para serem exercidos de plano;
(b) a constituição e os tratados internacionais garantem o direito fundamental à liberdade de profissão, de modo que “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer” (art. 5º, inc. XIII, da CF/88);
(c) na ausência de lei federal regulamentadora, a liberdade profissional é ampla de modo que qualquer pessoa tem o direito de escolher a atividade profissional e econômica que deseja desempenhar, de acordo com seu próprio entendimento, conveniência, vocação e habilidade;
(d) a prostituição é uma atividade como outra qualquer. Logo, se não há lei proibindo expressamente essa atividade, não é preciso que uma lei seja aprovada para “legalizar” ou permitir o exercício dessa atividade. O que é proibido é a exploração da prostituição e não a prostituição em si;
(e) qualquer lei que venha a tratar do assunto, ao invés de melhorar a situação das prostitutas, irá prejudicá-las, pois hoje a liberdade é ampla, sem limitações. A lei regulamentadora, por essência, limitará a atividade, já que é pra isso que as leis que regulamentam profissões servem. Provavelmente, grupos mais conservadores incluiriam na lei limitações de local, horário etc. que hoje não existem;
(f) não é preciso de lei para proibir a violência contra as prostitutas ou para reconhecer os seus direitos básicos, pois a constituição já garante isso. Se esses direitos não são respeitados é por uma interpretação discriminatória da legislação em vigor e não pela falta de norma jurídica. Portanto, não é preciso lutar pela legalização da prostituição, mas pela não discriminação. Hoje, a discriminação ocorre numa clara afronta da constituição e vem tanto da sociedade quanto do estado.[George Lima]
Ainda estamos longe de ter uma sociedade ideal e teremos muito que lutar para que a humanidade, cada indivíduo, tenha conquistado sua liberdade ao ponto de que nada [nem a Sociedade, nem o Governo, nem a Igreja] interfira em nosso direito de sermos felizes e em nossa liberdade de escolhermos nossas identidades de gênero, nossas preferências sexuais, nossas formas de relacionamentos. Tanto a prostituição quanto a pornografia ora instigam ora evitam tais causas e, em um país onde mal se tem consciência política, seria esperar demais que houvesse uma consciência sexual.
Talvez algum dia consigamos realizar aquilo que a Contracultura e a Revolução Sexual deu início, talvez algum dia homens e mulheres possam se amar sem as amarras impostas pela Sociedade, pelo Governo, pela Igreja. Mas para isso temos que resolver os traumas psicológicos e sexuais causados pela tirania da Igreja ao longo de 19 séculos. Teremos que redescobrir a verdadeira essência da humanidade, a verdadeira natureza do corpo, a verdadeira potencialidade do prazer e do sexo. Para isso, eu posso conclamar a todos que apostatem da Igreja e convidar para que conheçam os caminhos oferecidos pelo Paganismo.
Aqui, a humanidade poderá reencontrar o caminho para sua felicidade e realização plena.
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
Mitos do solsticio de inverno
Embora alguns de vós, caros leitores, possam pensar que quem nesta longa noite percorre os ares é um velhote a quem chamam Pai Natal, saibam que na verdade a ideia de que por esta altura há presenças sobrenaturais a correr pelos céus nocturnos vem de há muito - só que quem o faz é a chamada «Hoste Furiosa», imenso e violento tropel de caçadores fantasmas, empenhados naquilo a que se chama «Caçada Selvagem», que é perseguição incansável, ora de um javali, ora de um cavalo, ora de belas virgens, ou ninfas...
O mortal que visse este bando e dele troçasse, seria castigado; quem pelo contrário se Lhe juntasse, seria recompensado, eventualmente com ouro...
A nível humano, parece haver correspondência desta tropa sobrenatural nas sociedades de guerreiros das quais já aqui se falou a propósito dos Caretos.
Os nomes e conceitos relativos a este mito norte-europeu variam de etnia para etnia, mesmo de nação para nação nalguns casos:
- na Irlanda, é a Sluagh Sidhe, espécie de espectros ou de fadas especialmente perigosas que tudo destroem e matam à sua passagem, e que são seguidos pelos seus Cu Sidhe (Cães das Fadas), igualmente saídos do inferno; o líder da hoste é o Deus Mannanan Mac Lir, ou, noutra variante, o lendário herói Fin Mac Cumhail, que conduz os seus Fianna;
- em Gales, trata-Se de Arawn, ou de Gwyn ap Nudd, Deus das Profundezas e da Morte, que conduz a sua temível matilha vermelha e branca, a Cwn Annwn (Cães de Annwn ou Inferno) pelos ares desde o Outono até ao início da Primavera; noutras variantes, é o lendário Rei Artur quem conduz a caçada sobrenatural;
- também na Cornualha, nação céltica, se fala a este respeito dos «cães do diabo»; noutras partes do Reino Unido, crê-se que estes cães andam em busca de almas perdidas;
- na Bretanha (nação céltica do noroeste do Estado Francês), é o lendário rei Artur quem dirige a caçada;
- em certas partes de Inglaterra, é Herla, rei que ficou demasiado tempo com as Fadas e quando voltou já tinham passado cinco séculos; outras personagens do folclore inglês que supostamente dirigem esta caçada são Herne, Old Nick, ou até o famoso e histórico Sir Francis Drake; naturalmente que a Inglaterra, sendo uma nação germânica, também teve no seu folclore a crença de que esta hoste furiosa era dirigida por Woden, Deus germânico da Sabedoria e do Combate;
- na Holanda, é, tradicionalmente, Wodan, que é o mesmo que Woden, como é fácil de ver;
- em certas partes da Alemanha, é a Deusa Diana, ou uma certa feiticeira de nome Holda, Quem conduz esta atroadora tropa; e, claro, sucede o mesmo na Alemanha que na Inglaterra e na Holanda a respeito do mais antigo condutor desta cavalgada sobrenatural, ou seja, o Seu nome é Wotan;
-no norte de França, é Hallequin, espírito sobrenatural demoníaco.
A versão mais conhecida, que aliás pode bem estar na origem das outras todas, é a germânica-escandinava, que vê nesta tenebrosa Hoste das Alturas os guerreiros mortos do Valhalla a correrem na esteira das Valquírias, todos conduzidos por Odin (nome escandinavo de Wodan), o terrível zargo, Deus da Sabedoria e da Morte em Combate... há até quem vislumbre o Seu sinistro semblante por debaixo do disfarce de Pai Natal, enquanto outros vêem na rubra indumentária, na longa barba, no físico avantajado e no afável temperamento do velhote natalício um eco da roupagem vermelha e da barba ruiva do brutal mas jovial Thor, Deus do Trovão, que dirige um carro puxado, não por renas, mas por bodes.
Por cá, o equivalente galaico-português será talvez o Secular das Nuvens, ou Escolar das Nuvens, ou Nubeiro, na Galiza e que se pode também ler aqui, onde há também textos centrados na figura do Nubeiro. Ora é interessante observar que de acordo com o folclore galego, o Nubeiro cobre-se de peles caprinas, o que remete aos bodes sagrados que puxam o carro de Thor... por outro lado tem sido considerado o equivalente de Odin, que, como acima se lê, dirige a Cavalgada Selvagem.
A propósito de tempestade, é de notar que em Roma o dia 23 de Dezembro era precisamente consagrado a Tempestas, o Nume, ou Entidade Divina, da tempestade, que por acaso Se tem feito sentir hoje, e que igualmente Se manifestou durante uma batalha naval entre Roma e Cartago, ajudando a primeira a arrasar a frota da segunda.
O dia é no calendário romano igualmente consagrado a Bruma, Deusa do Inverno, e também aos Lares Permarinis (espíritos-guias nos caminhos), a Acca Larentia, a Hércules, a Diana, a Juno Regina e a Júpiter. Hoje é entretanto o culminar da Saturnália, celebração presidida por Saturno, o Deus das Sementeiras e da Idade de Ouro.
Fonte: Gladius
O mortal que visse este bando e dele troçasse, seria castigado; quem pelo contrário se Lhe juntasse, seria recompensado, eventualmente com ouro...
A nível humano, parece haver correspondência desta tropa sobrenatural nas sociedades de guerreiros das quais já aqui se falou a propósito dos Caretos.
Os nomes e conceitos relativos a este mito norte-europeu variam de etnia para etnia, mesmo de nação para nação nalguns casos:
- na Irlanda, é a Sluagh Sidhe, espécie de espectros ou de fadas especialmente perigosas que tudo destroem e matam à sua passagem, e que são seguidos pelos seus Cu Sidhe (Cães das Fadas), igualmente saídos do inferno; o líder da hoste é o Deus Mannanan Mac Lir, ou, noutra variante, o lendário herói Fin Mac Cumhail, que conduz os seus Fianna;
- em Gales, trata-Se de Arawn, ou de Gwyn ap Nudd, Deus das Profundezas e da Morte, que conduz a sua temível matilha vermelha e branca, a Cwn Annwn (Cães de Annwn ou Inferno) pelos ares desde o Outono até ao início da Primavera; noutras variantes, é o lendário Rei Artur quem conduz a caçada sobrenatural;
- também na Cornualha, nação céltica, se fala a este respeito dos «cães do diabo»; noutras partes do Reino Unido, crê-se que estes cães andam em busca de almas perdidas;
- na Bretanha (nação céltica do noroeste do Estado Francês), é o lendário rei Artur quem dirige a caçada;
- em certas partes de Inglaterra, é Herla, rei que ficou demasiado tempo com as Fadas e quando voltou já tinham passado cinco séculos; outras personagens do folclore inglês que supostamente dirigem esta caçada são Herne, Old Nick, ou até o famoso e histórico Sir Francis Drake; naturalmente que a Inglaterra, sendo uma nação germânica, também teve no seu folclore a crença de que esta hoste furiosa era dirigida por Woden, Deus germânico da Sabedoria e do Combate;
- na Holanda, é, tradicionalmente, Wodan, que é o mesmo que Woden, como é fácil de ver;
- em certas partes da Alemanha, é a Deusa Diana, ou uma certa feiticeira de nome Holda, Quem conduz esta atroadora tropa; e, claro, sucede o mesmo na Alemanha que na Inglaterra e na Holanda a respeito do mais antigo condutor desta cavalgada sobrenatural, ou seja, o Seu nome é Wotan;
-no norte de França, é Hallequin, espírito sobrenatural demoníaco.
A versão mais conhecida, que aliás pode bem estar na origem das outras todas, é a germânica-escandinava, que vê nesta tenebrosa Hoste das Alturas os guerreiros mortos do Valhalla a correrem na esteira das Valquírias, todos conduzidos por Odin (nome escandinavo de Wodan), o terrível zargo, Deus da Sabedoria e da Morte em Combate... há até quem vislumbre o Seu sinistro semblante por debaixo do disfarce de Pai Natal, enquanto outros vêem na rubra indumentária, na longa barba, no físico avantajado e no afável temperamento do velhote natalício um eco da roupagem vermelha e da barba ruiva do brutal mas jovial Thor, Deus do Trovão, que dirige um carro puxado, não por renas, mas por bodes.
Por cá, o equivalente galaico-português será talvez o Secular das Nuvens, ou Escolar das Nuvens, ou Nubeiro, na Galiza e que se pode também ler aqui, onde há também textos centrados na figura do Nubeiro. Ora é interessante observar que de acordo com o folclore galego, o Nubeiro cobre-se de peles caprinas, o que remete aos bodes sagrados que puxam o carro de Thor... por outro lado tem sido considerado o equivalente de Odin, que, como acima se lê, dirige a Cavalgada Selvagem.
A propósito de tempestade, é de notar que em Roma o dia 23 de Dezembro era precisamente consagrado a Tempestas, o Nume, ou Entidade Divina, da tempestade, que por acaso Se tem feito sentir hoje, e que igualmente Se manifestou durante uma batalha naval entre Roma e Cartago, ajudando a primeira a arrasar a frota da segunda.
O dia é no calendário romano igualmente consagrado a Bruma, Deusa do Inverno, e também aos Lares Permarinis (espíritos-guias nos caminhos), a Acca Larentia, a Hércules, a Diana, a Juno Regina e a Júpiter. Hoje é entretanto o culminar da Saturnália, celebração presidida por Saturno, o Deus das Sementeiras e da Idade de Ouro.
Fonte: Gladius
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terça-feira, 22 de dezembro de 2009
O que é um culto à fertilidade
As pessoas ouvem culto à fertilidade e imaginam...ah, quem sabe o que imaginam. Heterossexualidade selvagem, de uma maneira ou outra, eu suponho. Parece que há uma preocupação que todos os sacerdotes e sacerdotisas da WTB [Wica Tradicional Britânica] estão ativamente envolvidos em reprodução humana ou em atos que resultam na reprodução humana. Não é bem assim.
Enfim, todos nós viemos para cá através da reprodução humana. E todos nós sobrevivemos pela reprodução dos campos e gados.
Fertilidade é importante. Fertilidade é a fonte de toda a vida e fertilidade sexual é o que mantém os campos e o gado.
"A fertilidade é a essência da vida. Como um conceito, está profundamente arraigado nos costumes e comportamentos e aparece em infindas variações simbólicas em todos os tipos de esculturas. A fertilidade é o poder vital motivando o ciclo da vida que liga o homem à natureza.
A ciclo de vida humana, do nascimento, através da infância, iniciação, adolescência, casamento, procriação e morte está integralmente ligado com os próprios ciclos da natureza. O fenômeno do sol e da lua, dia e noite, a estação de chuva e de seca e o ritmo da semeadura, cultivação e colheita que depende deles, estão todos em constante renovação e renascimento. O Homen é a Natureza e a Natureza é o Homem."
Citação de: African Dolls for Play and Magic, de Esther A. Dagan, 1990, por Galerie Amrad African Arts, Montreal, PQ. Página 14.
Autor: Branson. Fonte: Forum da Amber & Jet.
Enfim, todos nós viemos para cá através da reprodução humana. E todos nós sobrevivemos pela reprodução dos campos e gados.
Fertilidade é importante. Fertilidade é a fonte de toda a vida e fertilidade sexual é o que mantém os campos e o gado.
"A fertilidade é a essência da vida. Como um conceito, está profundamente arraigado nos costumes e comportamentos e aparece em infindas variações simbólicas em todos os tipos de esculturas. A fertilidade é o poder vital motivando o ciclo da vida que liga o homem à natureza.
A ciclo de vida humana, do nascimento, através da infância, iniciação, adolescência, casamento, procriação e morte está integralmente ligado com os próprios ciclos da natureza. O fenômeno do sol e da lua, dia e noite, a estação de chuva e de seca e o ritmo da semeadura, cultivação e colheita que depende deles, estão todos em constante renovação e renascimento. O Homen é a Natureza e a Natureza é o Homem."
Citação de: African Dolls for Play and Magic, de Esther A. Dagan, 1990, por Galerie Amrad African Arts, Montreal, PQ. Página 14.
Autor: Branson. Fonte: Forum da Amber & Jet.
sábado, 19 de dezembro de 2009
A importância das religiões
A despeito de ser de autoria do sr Ratzinger e de que ele tenta puxar a sardinha para o lado da Igreja Católica, há que se levar em consideração o cerne da mensagem:
Bento XVI denuncia que o mundo atual considera a Deus "irrelevante e supérfluo" e afirma que, quando Deus desaparece do horizonte da pessoa, a humanidade perde a orientação e vai rumo à autodestruição.
O papa assinala que o tema de Deus é "central" também na época atual, na qual não se costuma desconsiderar que a importância da relação com Deus é essencial para o caminho da humanidade.
Bento XVI reitera a importância "essencial" que Deus tem para o ser humano, para sua vida pessoal e social, para entender a si mesmo e ao mundo.
Ressalta ainda a esperança que ilumina o caminho do homem na salvação depois da morte.
O papa se refere também aos diferentes caminhos que levam a afirmar "a verdade" sobre a existência de Deus, "esse Deus que a humanidade sempre, de alguma maneira, conheceu, apesar das vicissitudes de sua história".[EFE]
Bento XVI sublinhou esta Quinta-feira o contributo das religiões em favor da paz, assegurando que esta não existirá se os líderes políticos tentarem deixar as religiões à margem da vida social.
“A tão desejada paz só poderá surgir da acção conjunta dos indivíduos, que descobre a sua verdadeira natureza em Deus, e dos dirigentes das sociedades civis e religiosas que, no respeito pela dignidade e pela fé de cada um, souberem reconhecer e dar à religião o seu nobre e autêntico papel de plena realização e aperfeiçoamento da pessoa humana”, declarou.
No discurso conjunto que fez a sete novos embaixadores no Vaticano - Dinamarca, Finlândia, Letónia, Uganda, Sudão, Quénia, Bangladesh e Cazaquistão – o Papa defendeu que é necessário tender à paz universal, “sem utopias e sem manipulações”. “Todos sabemos que, para se estabelecer, a paz precisa de condições políticas e económicas, culturais e espirituais”, assinalou.
O Papa admitiu que por vezes é difícil a “coexistência pacífica das diferentes tradições religiosas, no seio de cada nação”.
“Mais do que um problema político, esta coexistência é também um problema religioso que se coloca a cada uma destas tradições, no seu próprio interior. Cada crente está chamado a interrogar Deus sobre a sua vontade a propósito de cada situação humana”, apontou.
Por isso, segundo Bento XVI, “reconhecendo Deus como único criador do homem – de todo e qualquer homem, qualquer que seja a sua confissão religiosa, condição social e opiniões políticas – cada um respeitará o outro na sua unicidade e na sua diferença”.
Mais à frente, o Papa disse que o mundo político e económico tem “dificuldade de dar ao homem o primeiro lugar”, frisando que “mais delicado ainda é admitir a importância e a necessidade do religioso, assegurando à religião a sua verdadeira natureza e o seu lugar na dimensão pública”.
Falando depois ao embaixador da Finlândia, Bento XVI aludiu especificamente ao contributo das religiões “no país e na Europa”, chamando a atenção para “certos valores que estão em risco de serem apagados pelo processo de secularização”, em particular no que se refere “à família e o respeito pela vida”.[Ecclesia]
Ou seja, o sr Ratzinger parece concordar com os ateus ao identificar a religião como sendo apenas o Cristianismo e como sendo Deus apenas o Cristão.
Quando não se reconhece a diferença entre tantas religiões e entre os Deuses adorados nestas, querendo fazer uma tábua rasa, definindo às demais religiões como meras versões ou heresias da Igreja Católica, não se está demonstrando qualquer respeito, não se está dando qualquer liberdade religiosa, não se está promovendo a tolerância. Vindo de quem vem, tal dissimulação e hipocrisia era de se esperar.
Eu dou razão aos ateus quando eles afirmam que, quando se precisa de um "Grande Irmão" para se ter uma conduta moral, é uma covardia. Pior, o sr Ratzinger se esquece ou omitiu propositalmente que a maior parte das violências e das guerras no mundo são causadas por causa da religião, ou melhor dizendo, do fanatismo e do fundamentalismo patrocinado por algumas delas.
Evidentemente que, como Pagão [e estudioso da história e antropologia], eu também ache que a humanidade esteja caminhando para a autodestruição, não apenas por ter voltado as costas aos Deuses Antigos, mas também por tratar a natureza com tanto desrespeito. Eu não fiquei surpreso com a notícia que o Acordo Climático em Copenhagen foi um fiasco.
Bento XVI denuncia que o mundo atual considera a Deus "irrelevante e supérfluo" e afirma que, quando Deus desaparece do horizonte da pessoa, a humanidade perde a orientação e vai rumo à autodestruição.
O papa assinala que o tema de Deus é "central" também na época atual, na qual não se costuma desconsiderar que a importância da relação com Deus é essencial para o caminho da humanidade.
Bento XVI reitera a importância "essencial" que Deus tem para o ser humano, para sua vida pessoal e social, para entender a si mesmo e ao mundo.
Ressalta ainda a esperança que ilumina o caminho do homem na salvação depois da morte.
O papa se refere também aos diferentes caminhos que levam a afirmar "a verdade" sobre a existência de Deus, "esse Deus que a humanidade sempre, de alguma maneira, conheceu, apesar das vicissitudes de sua história".[EFE]
Bento XVI sublinhou esta Quinta-feira o contributo das religiões em favor da paz, assegurando que esta não existirá se os líderes políticos tentarem deixar as religiões à margem da vida social.
“A tão desejada paz só poderá surgir da acção conjunta dos indivíduos, que descobre a sua verdadeira natureza em Deus, e dos dirigentes das sociedades civis e religiosas que, no respeito pela dignidade e pela fé de cada um, souberem reconhecer e dar à religião o seu nobre e autêntico papel de plena realização e aperfeiçoamento da pessoa humana”, declarou.
No discurso conjunto que fez a sete novos embaixadores no Vaticano - Dinamarca, Finlândia, Letónia, Uganda, Sudão, Quénia, Bangladesh e Cazaquistão – o Papa defendeu que é necessário tender à paz universal, “sem utopias e sem manipulações”. “Todos sabemos que, para se estabelecer, a paz precisa de condições políticas e económicas, culturais e espirituais”, assinalou.
O Papa admitiu que por vezes é difícil a “coexistência pacífica das diferentes tradições religiosas, no seio de cada nação”.
“Mais do que um problema político, esta coexistência é também um problema religioso que se coloca a cada uma destas tradições, no seu próprio interior. Cada crente está chamado a interrogar Deus sobre a sua vontade a propósito de cada situação humana”, apontou.
Por isso, segundo Bento XVI, “reconhecendo Deus como único criador do homem – de todo e qualquer homem, qualquer que seja a sua confissão religiosa, condição social e opiniões políticas – cada um respeitará o outro na sua unicidade e na sua diferença”.
Mais à frente, o Papa disse que o mundo político e económico tem “dificuldade de dar ao homem o primeiro lugar”, frisando que “mais delicado ainda é admitir a importância e a necessidade do religioso, assegurando à religião a sua verdadeira natureza e o seu lugar na dimensão pública”.
Falando depois ao embaixador da Finlândia, Bento XVI aludiu especificamente ao contributo das religiões “no país e na Europa”, chamando a atenção para “certos valores que estão em risco de serem apagados pelo processo de secularização”, em particular no que se refere “à família e o respeito pela vida”.[Ecclesia]
Ou seja, o sr Ratzinger parece concordar com os ateus ao identificar a religião como sendo apenas o Cristianismo e como sendo Deus apenas o Cristão.
Quando não se reconhece a diferença entre tantas religiões e entre os Deuses adorados nestas, querendo fazer uma tábua rasa, definindo às demais religiões como meras versões ou heresias da Igreja Católica, não se está demonstrando qualquer respeito, não se está dando qualquer liberdade religiosa, não se está promovendo a tolerância. Vindo de quem vem, tal dissimulação e hipocrisia era de se esperar.
Eu dou razão aos ateus quando eles afirmam que, quando se precisa de um "Grande Irmão" para se ter uma conduta moral, é uma covardia. Pior, o sr Ratzinger se esquece ou omitiu propositalmente que a maior parte das violências e das guerras no mundo são causadas por causa da religião, ou melhor dizendo, do fanatismo e do fundamentalismo patrocinado por algumas delas.
Evidentemente que, como Pagão [e estudioso da história e antropologia], eu também ache que a humanidade esteja caminhando para a autodestruição, não apenas por ter voltado as costas aos Deuses Antigos, mas também por tratar a natureza com tanto desrespeito. Eu não fiquei surpreso com a notícia que o Acordo Climático em Copenhagen foi um fiasco.
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Entrevista com líder pagão grego
Brilhante texto traduzido e publicado pelo Caturo [Gladius]:
Entrevista feita por Wojciech Jan Rudny, da revista polaca Gniazdo («Gniazdo - Rodzima wiara i kultura»), a um membro constitucional da YSEE, ou Conselho Supremo dos Nacionais Helénicos:
P: Na Europa, muita gente quer retornar às suas raizes espirituais, às suas religiões étnicas. Na Polónia, por exemplo, temos a «Rodzima Wiara». E os Gregos?
R: Entre os Gregos temos milhares de homens e mulheres que retornam à sua Tradição, Religião e Valores Ancestrais. Além disso, posso dizer que dentro da percepção do grego médio, o período pré-cristão é considerado como muito admirável, bem como uma era muito mais brilhante do que a da Cruz.
P: Acredita que o indivíduo moderno pode acreditar nos Deuses antigos?
R: Claro, especialmente os que sabem o que são verdadeiramente os Deuses do politeísmo: «seres» eternos, mais do que «personalidades», partes orgânicas e integrais do Cosmos do mesmo modo que as leis físicas são partes orgânicas e integrais do Cosmos. A existência dos nossos Deuses não contradiz as descobertas da ciência moderna; pelo contrário, ambas se apoiam mutuamente. A única diferença entre a nossa opinião e a da actual ciência laica é que para nós a «matéria» não é algo morto mas sim vivo e cheia de Deuses.
P: Porque é que os Deuses permitiram que os cristãos vencessem? O que pensam disto? Na Ilíada e na Odisseia, envolveram-Se neste mundo. Porque não o fizeram mais tarde, no quarto século, por exemplo? Talvez não haja Deuses? Talvez haja apenas arquétipos no nosso subconsciente?
R: Os Deuses dão simplesmente uma orientação aos mortais; não lutam ao seu lado para exterminar «os maus» ou para proteger «os bons». Tal percepção é inteiramente uma coisa judaico-cristã-islâmica. Se fosse esse o caso, aquilo a que chamamos História já teria há muito chegado a um «fim» definitivo, pelo contrário, no mundo mortal é comum que os gentis e virtuosos sejam derrotados pelos ordinários e maus.
No que diz respeito aos poemas homéricos, é preciso nunca esquecer que são épicos, não textos teológicos. Num verso vemos os Deuses a interferirem nos assuntos dos mortais enquanto noutro encontramos o Deus Supremo Zeus a aceitar que o Seu «filho» Sárpedon irá morrer no dia seguinte. Zeus sabe que os Deuses não têm permissão para alterar o destino de um mortal. O que os monoteístas (judeus, cristãos, muçulmanos) saúdam como «milagres» e «provas» da suposta existência do seu «Deus», para nós são simplesmente modificações injustificáveis das leis naturais ou do destino. Nenhum Deus verdadeiro traria tais modificações. Os nossos Deuses garantem a beleza do Cosmos, não afogam «inimigos» no Mar Vermelho. Agora, para responder à sua última questão, sentimo-nos obrigados a repetir que os nossos Deuses são «seres» eternos e reais, não são nem «arquétipos» nem «personalidades».
P: Por favor, diga-me algo sobre a perseguição aos Gregos pagãos nos século IV. E na actualidade.
R: A história da perseguição sanguinária contra os pagãos helenos aconteceu não apenas no século IV mas continuou até ao século IX e depois; os seus detalhes são fornecidos pelo nosso distinto membro Sr. Rassias que é um autor conhecido e também um historiador. No entanto, na Grécia moderna não podemos falar de perseguição; o Estado oficial pura e simplesmente recusa-se a reconhecer a nossa existência como religião. Os únicos que demonstram abertamente ódio contra nós são os teocratas da dominante Igreja Ortodoxa que, infelizmente para eles, já não têm o poder de queimar pessoas em público. Por conseguinte, são forçados a canalizar o seu ódio para propagar uma contínua «propaganda negra» contra nós, na esperança de que o seu rebanho nunca abra os olhos e leve em consideração as nossas ideias.
P: A Igreja Católica Romana diz que os Deuses são seres malignos - que são diabos, demónios... E a Igreja Ortodoxa?
R: Essa abjecta alegação é a causa de incontáveis crimes, genocídios e etnocídios cristãos que foram perpetrados contra os povos de todo o mundo. Tal alegação não brota de um certo dogma do Cristianismo mas em vez disso existe como resultado de uma crença fundamental na sua própria teologia que é consistentemente repetida nos textos dos seus chamados «Pais [da Igreja]». Esta crença fundamental transforma automaticamente o Cristianismo numa máquina intolerante que bloqueia qualquer discussão com o «outro», mas procura apenas converter ou exterminar. Para o verdadeiro cristão, que sabe aquilo em que acredita, todo o Cosmos e a Natureza, juntamente com todas as suas formas «vivas» e «sem vida» estão dentro do âmbito destes demónios. Isto é uma paranóia monstruosa!
Entrevista feita por Wojciech Jan Rudny, da revista polaca Gniazdo («Gniazdo - Rodzima wiara i kultura»), a um membro constitucional da YSEE, ou Conselho Supremo dos Nacionais Helénicos:
P: Na Europa, muita gente quer retornar às suas raizes espirituais, às suas religiões étnicas. Na Polónia, por exemplo, temos a «Rodzima Wiara». E os Gregos?
R: Entre os Gregos temos milhares de homens e mulheres que retornam à sua Tradição, Religião e Valores Ancestrais. Além disso, posso dizer que dentro da percepção do grego médio, o período pré-cristão é considerado como muito admirável, bem como uma era muito mais brilhante do que a da Cruz.
P: Acredita que o indivíduo moderno pode acreditar nos Deuses antigos?
R: Claro, especialmente os que sabem o que são verdadeiramente os Deuses do politeísmo: «seres» eternos, mais do que «personalidades», partes orgânicas e integrais do Cosmos do mesmo modo que as leis físicas são partes orgânicas e integrais do Cosmos. A existência dos nossos Deuses não contradiz as descobertas da ciência moderna; pelo contrário, ambas se apoiam mutuamente. A única diferença entre a nossa opinião e a da actual ciência laica é que para nós a «matéria» não é algo morto mas sim vivo e cheia de Deuses.
P: Porque é que os Deuses permitiram que os cristãos vencessem? O que pensam disto? Na Ilíada e na Odisseia, envolveram-Se neste mundo. Porque não o fizeram mais tarde, no quarto século, por exemplo? Talvez não haja Deuses? Talvez haja apenas arquétipos no nosso subconsciente?
R: Os Deuses dão simplesmente uma orientação aos mortais; não lutam ao seu lado para exterminar «os maus» ou para proteger «os bons». Tal percepção é inteiramente uma coisa judaico-cristã-islâmica. Se fosse esse o caso, aquilo a que chamamos História já teria há muito chegado a um «fim» definitivo, pelo contrário, no mundo mortal é comum que os gentis e virtuosos sejam derrotados pelos ordinários e maus.
No que diz respeito aos poemas homéricos, é preciso nunca esquecer que são épicos, não textos teológicos. Num verso vemos os Deuses a interferirem nos assuntos dos mortais enquanto noutro encontramos o Deus Supremo Zeus a aceitar que o Seu «filho» Sárpedon irá morrer no dia seguinte. Zeus sabe que os Deuses não têm permissão para alterar o destino de um mortal. O que os monoteístas (judeus, cristãos, muçulmanos) saúdam como «milagres» e «provas» da suposta existência do seu «Deus», para nós são simplesmente modificações injustificáveis das leis naturais ou do destino. Nenhum Deus verdadeiro traria tais modificações. Os nossos Deuses garantem a beleza do Cosmos, não afogam «inimigos» no Mar Vermelho. Agora, para responder à sua última questão, sentimo-nos obrigados a repetir que os nossos Deuses são «seres» eternos e reais, não são nem «arquétipos» nem «personalidades».
P: Por favor, diga-me algo sobre a perseguição aos Gregos pagãos nos século IV. E na actualidade.
R: A história da perseguição sanguinária contra os pagãos helenos aconteceu não apenas no século IV mas continuou até ao século IX e depois; os seus detalhes são fornecidos pelo nosso distinto membro Sr. Rassias que é um autor conhecido e também um historiador. No entanto, na Grécia moderna não podemos falar de perseguição; o Estado oficial pura e simplesmente recusa-se a reconhecer a nossa existência como religião. Os únicos que demonstram abertamente ódio contra nós são os teocratas da dominante Igreja Ortodoxa que, infelizmente para eles, já não têm o poder de queimar pessoas em público. Por conseguinte, são forçados a canalizar o seu ódio para propagar uma contínua «propaganda negra» contra nós, na esperança de que o seu rebanho nunca abra os olhos e leve em consideração as nossas ideias.
P: A Igreja Católica Romana diz que os Deuses são seres malignos - que são diabos, demónios... E a Igreja Ortodoxa?
R: Essa abjecta alegação é a causa de incontáveis crimes, genocídios e etnocídios cristãos que foram perpetrados contra os povos de todo o mundo. Tal alegação não brota de um certo dogma do Cristianismo mas em vez disso existe como resultado de uma crença fundamental na sua própria teologia que é consistentemente repetida nos textos dos seus chamados «Pais [da Igreja]». Esta crença fundamental transforma automaticamente o Cristianismo numa máquina intolerante que bloqueia qualquer discussão com o «outro», mas procura apenas converter ou exterminar. Para o verdadeiro cristão, que sabe aquilo em que acredita, todo o Cosmos e a Natureza, juntamente com todas as suas formas «vivas» e «sem vida» estão dentro do âmbito destes demónios. Isto é uma paranóia monstruosa!
sábado, 12 de dezembro de 2009
O fim da religião antiga
Conforme eu leio o excelente livro de Fustel de Coulanges - A Cidade Antiga, mais claro se torna a compreensão de como era a religião antiga e as causas de seu fim, por volta do século V AC, como resultado de uma transformação social, politica, filosófica e humana. A transformação nos trouxe até a tecnologia que torna a nossa vida no século XXI algo mais fácil e confortável, mas também deu espaço para que a humanidade abraçasse uma crença [o Cristianismo] que nos fez regredir psicológicamente.
Vale a pena ler o livro por inteiro para se ter uma idéia da riqueza que a humanidade abandonou ao querer tomar o lugar dos Deuses e do que era sagrado - a natureza e o corpo, em busca de mais liberdades [embora ainda sejamos escravos, por opção ou alienação], de mais "igualdades" [embora ainda procuramos garantir nossos pequenos feudos], acreditando piamente na razão que nos fazia sonhar na fantasia de que os Deuses eram apenas criações de nossa mente, a mesma filosofia que elegeu a razão acima dos mitos. Fustel de Coulanges registra magistralmente essa mudança lenta porém inexorável que ocorreu ao longo de 400 anos e aplainou o caminho para que após mais 400 anos o Cristianismo triunfasse e a Idade das Trevas tivesse início. Leiamos!
A princípio uma religião muito antiga fundara a família, depois a cidade; estabelecera em primeiro lugar o direito doméstico e o governo da gens; depois as leis civis e o governo municipal. O Estado estava estreitamente ligado à religião; dela nascera, e com ela se confundia. É por isso que, na cidade primitiva, todas as instituições políticas haviam sido instituições religiosas; as festas eram cerimônias do culto; as leis, fórmulas sagradas; os reis e magistrados, sacerdotes. É por isso ainda que a liberdade individual era desconhecida, e o homem era incapaz de libertar a própria consciência da onipotência da cidade. É por isso, enfim, que o Estado mantivera-se dentro dos limites da cidade, e nunca puderam ultrapassar a linha traçada em sua origem pelos deuses nacionais. Cada cidade tinha, não somente independência política, mas também um culto e um código. A religião, o direito, o governo, tudo era municipal. A cidade era a única força viva; nada lhe era superior ou inferior; nem a unidade nacional, nem a liberdade individual.
Resta-nos dizer de que modo esse regime desapareceu, isto é, como, mudando-se o princípio da associação humana, o governo, a religião e o direito se despojaram desse caráter municipal que tiveram na antiguidade.
A ruína do regime político que a Grécia e a Itália haviam criado pode ser atribuída a duas causas principais. Uma pertence à ordem dos fatos morais e intelectuais, outra à ordem dos fatos materiais; a primeira é transformação das crenças, a segunda é a conquista romana. Esses dois grandes fatos são contemporâneos; desenvolveram-se e concluíram-se juntos, durante a série de cinco séculos que precede a era cristã.
A religião primitiva, cujos símbolos eram a pedra imóvel do lar e o túmulo dos antepassados, religião que havia constituído a família antiga, organizando depois a cidade, alterou-se com o tempo, e envelheceu. O espírito humano cresceu em forças, e adotou novas crenças. Começou-se a ter idéia da natureza imaterial; a noção da alma humana tornou-se mais precisa, e quase ao mesmo tempo surgiu nos espíritos a idéia de uma inteligência divina.
Que pensar então das divindades das primeiras idades; dos mortos, que viviam nos túmulos; dos deuses lares, que haviam sido homens; dos antepassados sagrados, que deviam continuar a alimentar como se ainda vivessem? Semelhante fé tornou-se impossível. Tais crenças não estavam mais no nível do espírito humano. É bem verdade que esses preconceitos, por mais grosseiros que fossem, não foram facilmente arrancados do espírito do vulgo; reinaram por muito tempo ainda; mas desde o quinto século antes de nossa era os homens que refletiam se foram libertando desses erros. Compreendiam a morte de outra maneira; alguns acreditavam no aniquilamento, outros em uma segunda existência espiritual em um mundo de almas; em todo caso não admitiam mais que o morto vivesse no sepulcro, e se alimentasse com as dádivas que lhes ofereciam. Começou-se também a se ter idéia muito elevada da divindade, para que se continuasse a acreditar que os mortos pudessem ser deuses. Pelo contrário, imaginavam a alma humana indo procurar nos Campos Elísios sua recompensa, ou a pena de suas faltas; e, por notável progresso, não se divinizavam mais entre os homens senão aqueles que o reconhecimento ou a lisonja queria colocar acima da humanidade.
A idéia da divindade transformou-se pouco a pouco, pelo efeito natural do poder maior do espírito. Essa idéia, que o homem a princípio aplicara à força invisível que sentia em si próprio, ele a aplicou aos poderes incomparavelmente maiores que via na natureza, à espera de que se elevasse até a concepção de outro ser, que estivesse fora e acima da natureza. Então os deuses lares e os heróis perderam a adoração dos seres racionais.
Quanto ao lar, que não parece ter sentido senão enquanto se ligava ao culto dos mortos, perdeu também seu prestígio. Continuou-se a ter na casa um lar doméstico, ao qual saudavam, adoravam, ofereciam libações; mas não passava de um culto de hábito, a que nenhuma fé dava vida.
O lar das cidades, ou o pritaneu, foi arrastado insensivelmente para o descrédito em que caíra o lar doméstico. Não se sabia mais o que significava, esquecidos de que o fogo sempre aceso do pritaneu representava a vida invisível dos antepassados, dos fundadores, dos heróis nacionais. Continuava-se a alimentar esse fogo, a cantar velhos hinos, cerimônias vãs, das quais não ousavam desembaraçar-se, mas cujo sentido ninguém mais compreendia.
Até as divindades da natureza, que se haviam associado aos lares, mudaram de caráter. Depois de haver começado por serem divindades domésticas, depois de se tornarem divindades da cidade, transformaram-se ainda uma vez. Os homens acabaram por perceber que os seres diferentes que chamavam de Júpiter, podiam bem ser um mesmo e único ser; e assim aconteceu com outros deuses. O espírito desembaraçou-se de uma multidão de divindades, e sentiu necessidade de reduzir-lhes o número. Compreendeu-se então que os deuses não pertenciam mais a uma família ou cidade, mas que todos pertenciam ao gênero humano, e velavam pelo universo. Os poetas iam de cidade em cidade ensinando aos homens, em lugar dos velhos hinos das cidades, novos cantos nos quais não se falava nem de deuses lares, nem de divindades políadas, e onde se liam as lendas dos grandes deuses da terra e do céu; e o povo grego esquecia os velhos hinos domésticos ou nacionais por essa poesia nova, que não era filha da religião, mas da arte e da livre imaginação. Ao mesmo tempo, alguns grandes santuários, como os de Delfos e de Delos, atraíam os homens, fazendo que com estes se esquecessem dos cultos locais. Os mistérios e a doutrina que continham habituavam-nos a desprezar a religião vazia e insignificante da cidade.
Assim, lenta e obscuramente, foi sendo feita uma revolução intelectual. Os próprios sacerdotes não lhe opunham resistência, porque enquanto os sacrifícios continuavam a ser oferecidos nos dias determinados, parecia-lhes que a antiga religião estava salva; as idéias podiam mudar, a fé podia morrer, contanto que os ritos permanecessem intactos. Aconteceu então que, sem que as práticas fossem modificadas, as crenças se transformaram, e a religião doméstica e municipal perdeu todo o domínio sobre as almas.
Depois apareceu a filosofia, que derrubou todas as regras da velha política. Era impossível tocar nas opiniões dos homens sem tocar também nos princípios fundamentais do governo. Pitágoras, tendo uma concepção vaga do Ser supremo, desprezou os cultos locais, e isso foi o bastante para que rejeitasse os velhos moldes de governo, e tentasse fundar uma nova sociedade.
Anaxágoras concebeu o Deus-Inteligência, que reina sobre todos os homens e sobre todas as criaturas. Afastando-se das antigas crenças, afastou-se também da antiga política. Como não acreditava nos deuses do pritaneu, deixava de cumprir todos os deveres de um cidadão; fugia das assembléias, e não queria ser magistrado. Sua doutrina representava um perigo para a cidade; os atenienses condenaram-no à morte.
Vieram depois os sofistas, e tiveram mais influência que esses dois grandes espíritos. Eram homens ardentes no combate dos velhos erros. Na luta que travaram contra tudo o que se ligava ao passado, não pouparam nem as instituições da cidade, nem os preconceitos da religião. Examinaram e discutiram ousadamente as leis que ainda regiam o Estado e a família. Iam de cidade em cidade, pregando novos princípios, ensinando não precisamente a indiferença entre o justo e o injusto, mas uma nova justiça, menos acanhada e menos exclusiva que a antiga, mais humana, mais racional, e livre das fórmulas das idades anteriores. Foi uma empresa atrevida, que levantou uma tempestade de ódios e de rancores. Acusaram-nos de não ter nem religião, nem moral, nem patriotismo. A verdade é que sobre todas essas coisas não tinham doutrina bem definida, e que julgavam fazer muito combatendo os preconceitos. Eles removiam, como diz Platão, o que até então era irremovível. Colocavam a regra do sentimento religioso e da política na consciência humana, e não nos costumes dos antepassados ou na tradição imutável. Ensinavam aos gregos que para governar um Estado não bastava mais invocar velhos costumes e leis sagradas, mas era necessário persuadir os homens, e agir sobre vontades livres. Substituíam o conhecimento dos costumes antigos pela arte de raciocinar e de falar, a dialética e a retórica. Seus adversários ligavam-se à tradição, enquanto eles se ligavam à eloqüência e ao espírito.
Uma vez despertada assim a reflexão, o homem não quis mais crer sem conhecer suas crenças, nem quis deixar-se governar sem discutir suas instituições. Duvidou da justiça de suas velhas leis sociais, e surgiram outros princípios. Platão põe na boca de um sofista estas belas palavras: “Vós todos que aqui estais, eu vos considero parentes uns dos outros. A natureza, apesar da lei, vos fez concidadãos. Mas a lei, esse tirano do homem, violenta a natureza em muitas ocasiões.” — Opor assim a natureza à lei e ao costume, era atacar na própria base a política antiga. Em vão os atenienses exilaram Pitágoras e queimaram seus escritos; o golpe estava dado; o resultado do ensino dos sofistas foi imenso. A autoridade das instituições desaparecia com a autoridade dos deuses nacionais, e o hábito do livre exame estabelecia-se nas casas e na praça pública.
Sócrates, reprovando o abuso que os sofistas faziam do direito de duvidar, pertencia contudo à sua escola. Como eles, rejeitava o império da tradição, e acreditava que as regras de conduta estavam gravadas na consciência humana. Não se diferenciava deles senão em que estudava essa consciência religiosamente, e com desejo firme de nela encontrar a obrigação de ser justo e de fazer o bem. Colocava a verdade acima do costume, a justiça acima das leis. Distinguia a moral da religião; antes dele não se concebia o dever senão como um decreto dos deuses antigos; Sócrates demonstrou que o princípio do dever está na consciência do homem. Em tudo isso, quer quisesse ou não, ele fazia guerra ao culto das cidades. Em vão tomava o cuidado de assistir a todas as festas, e de tomar parte em todos os sacrifícios; suas crenças e palavras desmentiam-lhe a conduta. Sócrates fundava uma religião nova, que era contrária à religião da cidade. Acusaram-no, com verdade, “de não adorar os deuses que o Estado adorava.” Condenaram-no à morte por haver atacado os costumes e as crenças dos antepassados, ou, como se dizia, por haver corrompido a geração presente. Mas a revolução que os sofistas haviam iniciado, e que Sócrates continuara com mais moderação, não foi interrompida pela morte de um ancião. A sociedade grega libertou-se dia a dia cada vez mais do domínio das velhas crenças e das velhas instituições.
Depois dele, os filósofos discutiram com toda a liberdade os princípios e regras da associação humana. Platão, Críton, Antístenes, Espeusipo, Aristóteles, Teofrasto, e muitos outros, escreveram tratados sobre a política. Buscou-se, examinou-se; os grandes problemas da organização do Estado, da autoridade e da obediência, das obrigações e do direito, apresentaram-se a todos os espíritos.
A escola cínica vai ainda mais longe: ela nega a pátria. Diógenes vangloriava-se de não ter direitos civis em nenhum lugar, e Crates dizia que sua pátria era o desprezo da opinião alheia. Os cínicos acrescentavam esta verdade, então muito nova, de que o homem é cidadão do universo, e de que a pátria não são os estreitos limites de uma cidade. Consideravam o patriotismo municipal como um preconceito, e suprimiam do número dos sentimentos o amor da cidade.
Os estóicos retornaram à política. Zenão, Cleanto e Crísipo escreveram numerosos tratados sobre o governo dos estados. Mas seus princípios estavam muito afastados da política municipal. Sócrates julgava-se ainda obrigado a adorar, como podia, os deuses do Estado. Platão ainda não concebia outro governo senão o da cidade. Zenão passa por cima desses limites restritos da associação humana. Despreza as divisões que a religião antiga havia estabelecido. Como concebe o Deus do universo, tem também a idéia de um Estado que compreenderia toda a humanidade.
Mais eis um princípio ainda mais novo. O estoicismo, alargando a associação humana, liberta o indivíduo. Como rejeita a religião da cidade, rejeita também a servidão. Não quer mais que a pessoa humana se sacrifique ao Estado. Distingue e separa nitidamente o que deve permanecer livre no homem, e liberta pelo menos a consciência. Diz ao homem que deve fechar-se em si mesmo, que deve encontrar em si o dever, a virtude, a recompensa. Não lhe proíbe ocupar-se dos negócios públicos, antes convida-o a isso, advertindo-o, porém, de que seu principal trabalho deve ter por objeto o progresso individual, e que, seja qual for o governo, sua consciência deve continuar independente. Grande princípio, que a cidade antiga sempre desprezou, mas que devia um dia tornar-se uma das regras mais sagradas da política.
Começa-se então a compreender que há outros deveres além dos deveres para com o Estado, outras virtudes além das virtudes cívicas. A alma se prende a outros objetos além da pátria. A cidade antiga havia sido tão poderosa e tirânica que o homem fizera dela a razão de todo o seu trabalho e de todas as suas virtudes; ela havia sido a regra do belo e do bem, e não havia heroísmo senão para ela. Mas eis que Zenão ensina ao homem que ele tem uma dignidade, não de cidadão, mas de homem; que além de seus deveres para com a lei tem outros para consigo mesmo, e que o supremo merecimento não é viver ou morrer pelo Estado, mas ser virtuoso, e agradar à divindade. Virtudes um tanto egoístas, e que fizeram decair a independência nacional e a liberdade, mas pelas quais o indivíduo adquiriu importância. As virtudes públicas foram desaparecendo, mas as virtudes pessoais tomaram maior evidência, e começaram a surgir entre os homens. A princípio elas tiveram que lutar contra a corrupção ou contra o despotismo. Mas pouco a pouco se enraizaram na humanidade, e com o tempo transformaram-se em um poder com o qual todo governo teve de contar, e tornou-se necessário que as regras da política fossem modificadas para dar-lhes lugar livre.
Assim se transformaram pouco a pouco as crenças; a religião municipal, fundamento da cidade, extinguiu-se. O regime municipal, tal como os antigos o imaginaram, teve também de cair. Insensivelmente, os homens se libertavam das regras rigorosas e das formas acanhadas de governo. Idéias mais elevadas conclamavam os homens a formar sociedades maiores. A tendência então era a unidade, aspiração geral dos dois séculos que precederam a era cristã.
Autor: Fustel de Coulanges - A Cidade Antiga. Fonte: Ebooks Brasil
Vale a pena ler o livro por inteiro para se ter uma idéia da riqueza que a humanidade abandonou ao querer tomar o lugar dos Deuses e do que era sagrado - a natureza e o corpo, em busca de mais liberdades [embora ainda sejamos escravos, por opção ou alienação], de mais "igualdades" [embora ainda procuramos garantir nossos pequenos feudos], acreditando piamente na razão que nos fazia sonhar na fantasia de que os Deuses eram apenas criações de nossa mente, a mesma filosofia que elegeu a razão acima dos mitos. Fustel de Coulanges registra magistralmente essa mudança lenta porém inexorável que ocorreu ao longo de 400 anos e aplainou o caminho para que após mais 400 anos o Cristianismo triunfasse e a Idade das Trevas tivesse início. Leiamos!
A princípio uma religião muito antiga fundara a família, depois a cidade; estabelecera em primeiro lugar o direito doméstico e o governo da gens; depois as leis civis e o governo municipal. O Estado estava estreitamente ligado à religião; dela nascera, e com ela se confundia. É por isso que, na cidade primitiva, todas as instituições políticas haviam sido instituições religiosas; as festas eram cerimônias do culto; as leis, fórmulas sagradas; os reis e magistrados, sacerdotes. É por isso ainda que a liberdade individual era desconhecida, e o homem era incapaz de libertar a própria consciência da onipotência da cidade. É por isso, enfim, que o Estado mantivera-se dentro dos limites da cidade, e nunca puderam ultrapassar a linha traçada em sua origem pelos deuses nacionais. Cada cidade tinha, não somente independência política, mas também um culto e um código. A religião, o direito, o governo, tudo era municipal. A cidade era a única força viva; nada lhe era superior ou inferior; nem a unidade nacional, nem a liberdade individual.
Resta-nos dizer de que modo esse regime desapareceu, isto é, como, mudando-se o princípio da associação humana, o governo, a religião e o direito se despojaram desse caráter municipal que tiveram na antiguidade.
A ruína do regime político que a Grécia e a Itália haviam criado pode ser atribuída a duas causas principais. Uma pertence à ordem dos fatos morais e intelectuais, outra à ordem dos fatos materiais; a primeira é transformação das crenças, a segunda é a conquista romana. Esses dois grandes fatos são contemporâneos; desenvolveram-se e concluíram-se juntos, durante a série de cinco séculos que precede a era cristã.
A religião primitiva, cujos símbolos eram a pedra imóvel do lar e o túmulo dos antepassados, religião que havia constituído a família antiga, organizando depois a cidade, alterou-se com o tempo, e envelheceu. O espírito humano cresceu em forças, e adotou novas crenças. Começou-se a ter idéia da natureza imaterial; a noção da alma humana tornou-se mais precisa, e quase ao mesmo tempo surgiu nos espíritos a idéia de uma inteligência divina.
Que pensar então das divindades das primeiras idades; dos mortos, que viviam nos túmulos; dos deuses lares, que haviam sido homens; dos antepassados sagrados, que deviam continuar a alimentar como se ainda vivessem? Semelhante fé tornou-se impossível. Tais crenças não estavam mais no nível do espírito humano. É bem verdade que esses preconceitos, por mais grosseiros que fossem, não foram facilmente arrancados do espírito do vulgo; reinaram por muito tempo ainda; mas desde o quinto século antes de nossa era os homens que refletiam se foram libertando desses erros. Compreendiam a morte de outra maneira; alguns acreditavam no aniquilamento, outros em uma segunda existência espiritual em um mundo de almas; em todo caso não admitiam mais que o morto vivesse no sepulcro, e se alimentasse com as dádivas que lhes ofereciam. Começou-se também a se ter idéia muito elevada da divindade, para que se continuasse a acreditar que os mortos pudessem ser deuses. Pelo contrário, imaginavam a alma humana indo procurar nos Campos Elísios sua recompensa, ou a pena de suas faltas; e, por notável progresso, não se divinizavam mais entre os homens senão aqueles que o reconhecimento ou a lisonja queria colocar acima da humanidade.
A idéia da divindade transformou-se pouco a pouco, pelo efeito natural do poder maior do espírito. Essa idéia, que o homem a princípio aplicara à força invisível que sentia em si próprio, ele a aplicou aos poderes incomparavelmente maiores que via na natureza, à espera de que se elevasse até a concepção de outro ser, que estivesse fora e acima da natureza. Então os deuses lares e os heróis perderam a adoração dos seres racionais.
Quanto ao lar, que não parece ter sentido senão enquanto se ligava ao culto dos mortos, perdeu também seu prestígio. Continuou-se a ter na casa um lar doméstico, ao qual saudavam, adoravam, ofereciam libações; mas não passava de um culto de hábito, a que nenhuma fé dava vida.
O lar das cidades, ou o pritaneu, foi arrastado insensivelmente para o descrédito em que caíra o lar doméstico. Não se sabia mais o que significava, esquecidos de que o fogo sempre aceso do pritaneu representava a vida invisível dos antepassados, dos fundadores, dos heróis nacionais. Continuava-se a alimentar esse fogo, a cantar velhos hinos, cerimônias vãs, das quais não ousavam desembaraçar-se, mas cujo sentido ninguém mais compreendia.
Até as divindades da natureza, que se haviam associado aos lares, mudaram de caráter. Depois de haver começado por serem divindades domésticas, depois de se tornarem divindades da cidade, transformaram-se ainda uma vez. Os homens acabaram por perceber que os seres diferentes que chamavam de Júpiter, podiam bem ser um mesmo e único ser; e assim aconteceu com outros deuses. O espírito desembaraçou-se de uma multidão de divindades, e sentiu necessidade de reduzir-lhes o número. Compreendeu-se então que os deuses não pertenciam mais a uma família ou cidade, mas que todos pertenciam ao gênero humano, e velavam pelo universo. Os poetas iam de cidade em cidade ensinando aos homens, em lugar dos velhos hinos das cidades, novos cantos nos quais não se falava nem de deuses lares, nem de divindades políadas, e onde se liam as lendas dos grandes deuses da terra e do céu; e o povo grego esquecia os velhos hinos domésticos ou nacionais por essa poesia nova, que não era filha da religião, mas da arte e da livre imaginação. Ao mesmo tempo, alguns grandes santuários, como os de Delfos e de Delos, atraíam os homens, fazendo que com estes se esquecessem dos cultos locais. Os mistérios e a doutrina que continham habituavam-nos a desprezar a religião vazia e insignificante da cidade.
Assim, lenta e obscuramente, foi sendo feita uma revolução intelectual. Os próprios sacerdotes não lhe opunham resistência, porque enquanto os sacrifícios continuavam a ser oferecidos nos dias determinados, parecia-lhes que a antiga religião estava salva; as idéias podiam mudar, a fé podia morrer, contanto que os ritos permanecessem intactos. Aconteceu então que, sem que as práticas fossem modificadas, as crenças se transformaram, e a religião doméstica e municipal perdeu todo o domínio sobre as almas.
Depois apareceu a filosofia, que derrubou todas as regras da velha política. Era impossível tocar nas opiniões dos homens sem tocar também nos princípios fundamentais do governo. Pitágoras, tendo uma concepção vaga do Ser supremo, desprezou os cultos locais, e isso foi o bastante para que rejeitasse os velhos moldes de governo, e tentasse fundar uma nova sociedade.
Anaxágoras concebeu o Deus-Inteligência, que reina sobre todos os homens e sobre todas as criaturas. Afastando-se das antigas crenças, afastou-se também da antiga política. Como não acreditava nos deuses do pritaneu, deixava de cumprir todos os deveres de um cidadão; fugia das assembléias, e não queria ser magistrado. Sua doutrina representava um perigo para a cidade; os atenienses condenaram-no à morte.
Vieram depois os sofistas, e tiveram mais influência que esses dois grandes espíritos. Eram homens ardentes no combate dos velhos erros. Na luta que travaram contra tudo o que se ligava ao passado, não pouparam nem as instituições da cidade, nem os preconceitos da religião. Examinaram e discutiram ousadamente as leis que ainda regiam o Estado e a família. Iam de cidade em cidade, pregando novos princípios, ensinando não precisamente a indiferença entre o justo e o injusto, mas uma nova justiça, menos acanhada e menos exclusiva que a antiga, mais humana, mais racional, e livre das fórmulas das idades anteriores. Foi uma empresa atrevida, que levantou uma tempestade de ódios e de rancores. Acusaram-nos de não ter nem religião, nem moral, nem patriotismo. A verdade é que sobre todas essas coisas não tinham doutrina bem definida, e que julgavam fazer muito combatendo os preconceitos. Eles removiam, como diz Platão, o que até então era irremovível. Colocavam a regra do sentimento religioso e da política na consciência humana, e não nos costumes dos antepassados ou na tradição imutável. Ensinavam aos gregos que para governar um Estado não bastava mais invocar velhos costumes e leis sagradas, mas era necessário persuadir os homens, e agir sobre vontades livres. Substituíam o conhecimento dos costumes antigos pela arte de raciocinar e de falar, a dialética e a retórica. Seus adversários ligavam-se à tradição, enquanto eles se ligavam à eloqüência e ao espírito.
Uma vez despertada assim a reflexão, o homem não quis mais crer sem conhecer suas crenças, nem quis deixar-se governar sem discutir suas instituições. Duvidou da justiça de suas velhas leis sociais, e surgiram outros princípios. Platão põe na boca de um sofista estas belas palavras: “Vós todos que aqui estais, eu vos considero parentes uns dos outros. A natureza, apesar da lei, vos fez concidadãos. Mas a lei, esse tirano do homem, violenta a natureza em muitas ocasiões.” — Opor assim a natureza à lei e ao costume, era atacar na própria base a política antiga. Em vão os atenienses exilaram Pitágoras e queimaram seus escritos; o golpe estava dado; o resultado do ensino dos sofistas foi imenso. A autoridade das instituições desaparecia com a autoridade dos deuses nacionais, e o hábito do livre exame estabelecia-se nas casas e na praça pública.
Sócrates, reprovando o abuso que os sofistas faziam do direito de duvidar, pertencia contudo à sua escola. Como eles, rejeitava o império da tradição, e acreditava que as regras de conduta estavam gravadas na consciência humana. Não se diferenciava deles senão em que estudava essa consciência religiosamente, e com desejo firme de nela encontrar a obrigação de ser justo e de fazer o bem. Colocava a verdade acima do costume, a justiça acima das leis. Distinguia a moral da religião; antes dele não se concebia o dever senão como um decreto dos deuses antigos; Sócrates demonstrou que o princípio do dever está na consciência do homem. Em tudo isso, quer quisesse ou não, ele fazia guerra ao culto das cidades. Em vão tomava o cuidado de assistir a todas as festas, e de tomar parte em todos os sacrifícios; suas crenças e palavras desmentiam-lhe a conduta. Sócrates fundava uma religião nova, que era contrária à religião da cidade. Acusaram-no, com verdade, “de não adorar os deuses que o Estado adorava.” Condenaram-no à morte por haver atacado os costumes e as crenças dos antepassados, ou, como se dizia, por haver corrompido a geração presente. Mas a revolução que os sofistas haviam iniciado, e que Sócrates continuara com mais moderação, não foi interrompida pela morte de um ancião. A sociedade grega libertou-se dia a dia cada vez mais do domínio das velhas crenças e das velhas instituições.
Depois dele, os filósofos discutiram com toda a liberdade os princípios e regras da associação humana. Platão, Críton, Antístenes, Espeusipo, Aristóteles, Teofrasto, e muitos outros, escreveram tratados sobre a política. Buscou-se, examinou-se; os grandes problemas da organização do Estado, da autoridade e da obediência, das obrigações e do direito, apresentaram-se a todos os espíritos.
A escola cínica vai ainda mais longe: ela nega a pátria. Diógenes vangloriava-se de não ter direitos civis em nenhum lugar, e Crates dizia que sua pátria era o desprezo da opinião alheia. Os cínicos acrescentavam esta verdade, então muito nova, de que o homem é cidadão do universo, e de que a pátria não são os estreitos limites de uma cidade. Consideravam o patriotismo municipal como um preconceito, e suprimiam do número dos sentimentos o amor da cidade.
Os estóicos retornaram à política. Zenão, Cleanto e Crísipo escreveram numerosos tratados sobre o governo dos estados. Mas seus princípios estavam muito afastados da política municipal. Sócrates julgava-se ainda obrigado a adorar, como podia, os deuses do Estado. Platão ainda não concebia outro governo senão o da cidade. Zenão passa por cima desses limites restritos da associação humana. Despreza as divisões que a religião antiga havia estabelecido. Como concebe o Deus do universo, tem também a idéia de um Estado que compreenderia toda a humanidade.
Mais eis um princípio ainda mais novo. O estoicismo, alargando a associação humana, liberta o indivíduo. Como rejeita a religião da cidade, rejeita também a servidão. Não quer mais que a pessoa humana se sacrifique ao Estado. Distingue e separa nitidamente o que deve permanecer livre no homem, e liberta pelo menos a consciência. Diz ao homem que deve fechar-se em si mesmo, que deve encontrar em si o dever, a virtude, a recompensa. Não lhe proíbe ocupar-se dos negócios públicos, antes convida-o a isso, advertindo-o, porém, de que seu principal trabalho deve ter por objeto o progresso individual, e que, seja qual for o governo, sua consciência deve continuar independente. Grande princípio, que a cidade antiga sempre desprezou, mas que devia um dia tornar-se uma das regras mais sagradas da política.
Começa-se então a compreender que há outros deveres além dos deveres para com o Estado, outras virtudes além das virtudes cívicas. A alma se prende a outros objetos além da pátria. A cidade antiga havia sido tão poderosa e tirânica que o homem fizera dela a razão de todo o seu trabalho e de todas as suas virtudes; ela havia sido a regra do belo e do bem, e não havia heroísmo senão para ela. Mas eis que Zenão ensina ao homem que ele tem uma dignidade, não de cidadão, mas de homem; que além de seus deveres para com a lei tem outros para consigo mesmo, e que o supremo merecimento não é viver ou morrer pelo Estado, mas ser virtuoso, e agradar à divindade. Virtudes um tanto egoístas, e que fizeram decair a independência nacional e a liberdade, mas pelas quais o indivíduo adquiriu importância. As virtudes públicas foram desaparecendo, mas as virtudes pessoais tomaram maior evidência, e começaram a surgir entre os homens. A princípio elas tiveram que lutar contra a corrupção ou contra o despotismo. Mas pouco a pouco se enraizaram na humanidade, e com o tempo transformaram-se em um poder com o qual todo governo teve de contar, e tornou-se necessário que as regras da política fossem modificadas para dar-lhes lugar livre.
Assim se transformaram pouco a pouco as crenças; a religião municipal, fundamento da cidade, extinguiu-se. O regime municipal, tal como os antigos o imaginaram, teve também de cair. Insensivelmente, os homens se libertavam das regras rigorosas e das formas acanhadas de governo. Idéias mais elevadas conclamavam os homens a formar sociedades maiores. A tendência então era a unidade, aspiração geral dos dois séculos que precederam a era cristã.
Autor: Fustel de Coulanges - A Cidade Antiga. Fonte: Ebooks Brasil
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
A religião da cidade
A principal cerimônia do culto doméstico era um banquete, chamado sacrifício. Comer um alimento preparado sobre o altar foi, segundo parece, a primeira forma dada pelo homem ao ato de religião. A necessidade de se comunicar com a divindade era satisfeita por esse banquete, para o qual a própria divindade era convidada, recebendo a parte que lhe cabia.
A principal cerimônia do culto da cidade consistia também em um banquete semelhante; devia ser realizado em comum, por todos os cidadãos, em honra das divindades protetoras. O costume desses banquetes públicos era universal na Grécia; acreditava-se que a salvação da cidade dependia de sua realização.
Além desses imensos banquetes, onde todos os cidadãos se reuniam, e que não podiam ser realizados senão nas festas solenes, a religião prescrevia que cada dia houvesse uma refeição sagrada. Para isso, alguns homens escolhidos pela cidade deviam comer juntos, em seu nome, no recinto do pritaneu, na presença do lar e dos deuses protetores. Os gregos estavam convencidos de que, se esse banquete deixasse de ser celebrado por um único dia, o Estado ficava ameaçado de perder o favor dos deuses.
Em Atenas, a sorte designava os homens que tomar parte no banquete comum, e a lei punia severamente os que se recusavam a cumprir com esse dever. Os cidadãos que se sentavam à mesa sagrada ficavam revestidos momentaneamente de caráter sacerdotal; chamavam-nos parasitas; essa palavra, que depois se tornou pejorativa, começou a existir como título sagrado. Nos tempos de Demóstenes, os parasitas haviam desaparecido, mas os prítanes ainda eram obrigados a comer juntos no pritaneu. Em todas as cidades havia salas destinadas às refeições em comum.
Observando-se como as coisas se passavam nessa refeição, se reconhece perfeitamente tratar-se de cerimônia religiosa. Cada conviva tinha uma coroa na cabeça; com efeito, era costume antigo coroar-se de folhas ou de flores cada vez que se realizava algum ato solene de religião.
A refeição começava invariavelmente por uma oração e libações; cantavam-se hinos. A natureza das iguarias e a espécie do vinho que se devia servir eram regulados pelo ritual de cada cidade. Afastar-se o mínimo que fosse do costume seguido pelos antepassados, apresentar um prato novo, ou alterar o ritmo dos hinos sagrados, era impiedade grave, pela qual toda a cidade se responsabilizava diante dos deuses.
Esses costumes antigos dão-nos idéia do vínculo estreito que unia os membros de uma cidade. A associação humana era uma religião; seu símbolo era o banquete público.
Imaginemos uma daquelas pequenas sociedades primitivas reunidas, pelo menos os chefes de família, em uma mesma mesa, vestidos de branco e coroados de flores; todos fazem juntos a libação, recitam as mesmas preces, cantam os mesmos hinos, comem a mesma comida, preparada sobre o mesmo altar; no meio deles estão presentes os antepassados, e os deuses protetores participam da refeição.
Em todos os tempos e em todas as sociedades o homem sempre quis honrar seus deuses com festas, e estabeleceu dias especiais, nos quais o sentimento religioso reinaria sozinho em sua alma, sem distraí-la com pensamentos e ocupações terrenas. No número de dias que deve viver, estabeleceu a parte que caberia aos deuses.
Cada cidade havia sido fundada com ritos, que no pensamento dos antigos tinham por efeito fixar dentro de seus limites os deuses nacionais. Era necessário que a virtude desses ritos fosse rejuvenescida todos os anos por nova cerimônia religiosa; chamavam a essa festa dia natalício; todos os cidadãos deviam celebrá-la.
Vinha em seguida a festa do fundador. Depois, cada um dos heróis da cidade, cada uma daquelas almas que os homens invocavam como protetoras, passou a reclamar um culto; Rômulo tinha o seu, assim como Sérvio Túlio, e muitos outros, até a ama de Rômulo e a mãe de Evandro. Atenas, por sua vez, tinha a festa de Cécrops, a de Erecteu, a de Teseu, e celebrava cada um dos heróis do país, como o tutor de Teseu, Euristeu, Androgeu, e uma multidão de outros.
Havia ainda as festas dos campos, a do trabalho, a da semeadura, a da floração, a das vindimas. Na Grécia, como na Itália, cada ato da vida do agricultor era acompanhado de sacrifícios, e os trabalhos eram executados enquanto se recitavam hinos sagrados. Em Roma, os padres fixavam, cada ano, o dia em que deviam começar a vindima, e o dia em que se podia beber vinho novo. Tudo era regulado pela religião. A religião mandava que se podasse a vinha, porque afirmava que era impiedade oferecer aos deuses uma libação com vinho de parreira não podada.
Toda cidade tinha uma festa para cada uma das divindades que havia adotado como protetoras, e que eram muitas. À medida que se introduzia o culto de uma divindade nova, fazia-se necessário encontrar um dia do ano para consagrar-lhe. O que caracterizava as festas religiosas era a proibição do trabalho, a obrigação de se estar alegre, os cantos e jogos públicos.
O calendário não era outra coisa que a sucessão das festas religiosas.
Compreende-se que o calendário de uma cidade não podia assemelhar-se em nada ao de outra, porque a religião não era a mesma entre elas, e as festas, como os deuses, diferiam. O ano não tinha a mesma duração em duas cidades. Os meses não tinham os mesmos nomes; Atenas chamava-os diferentemente de Tebas, e Roma de modo muito diverso de Lavínio. Isso porque o nome de cada mês era tirado ordinariamente da festa principal que nele se celebrava: ora, as festas não eram as mesmas. As cidades não concordavam em começar o ano na mesma época, nem em contar a série dos anos a partir de uma mesma data.
Entre as cerimônias mais importantes da religião da cidade, havia uma que se chamava purificação. Celebrava-se todos os anos em Atenas; em Roma só se realizava de quatro em quatro anos. Os ritos então observados, e o nome que lhe davam indicam que essa cerimônia devia ter por virtude o resgate das faltas cometidas pelos cidadãos contra o culto. Com efeito, religião tão complicada era fonte de terror para os antigos; como a fé e a pureza de intenções de nada valiam, e como toda a religião consistia na prática minuciosa de inumeráveis prescrições, sempre se devia temer por alguma negligência, por alguma omissão ou erro, e nunca se tinha certeza de estar ao seguro dos golpes de cólera ou de rancor de algum deus. Era necessário, portanto, para tranqüilizar o coração do homem, um sacrifício expiatório.
Para ato dessa natureza, e de tal importância, duas coisas eram necessárias: uma, que nenhum estranho se introduzisse entre os cidadãos, o que perturbaria e viciaria a cerimônia; outra, que todos os cidadãos estivessem presentes, sem o que a cidade poderia continuar impura. Era necessário, portanto, que essa cerimônia religiosa fosse precedida pelo recenseamento dos cidadãos. Em Roma e em Atenas contavam-se os cidadãos com o maior cuidado; é provável que seu número fosse declarado pelo magistrado na fórmula da oração, e em seguida inscrito no relatório que o censor redigia sobre a cerimônia.
A essa cerimônia assistiam somente os cidadãos; mas suas mulheres, crianças, escravos, bens, móveis e imóveis, eram, de algum modo, purificados na pessoa do chefe da família. É por isso que, antes do sacrifício, cada um devia declarar ao censor o número de pessoas e coisas que dependiam dele.
Não havia um só ato da vida pública no qual não fizessem intervir os deuses. Como estavam sob o domínio da idéia de que os deuses ora eram excelentes protetores, ora cruéis inimigos, o homem jamais ousava agir sem estar seguro de seus favores.
O povo não se reunia em assembléia senão em dias permitidos pela religião.
Em Roma, antes de se abrir a sessão, era necessário que os áugures assegurassem que os deuses eram propícios. A assembléia começava por uma oração, que o áugure pronunciava e o cônsul depois repetia.
O mesmo acontecia entre os atenienses: a assembléia sempre se iniciava por um ato religioso. Os sacerdotes ofereciam sacrifícios; traçava-se depois um grande círculo, espargindo a terra com água lustral, e era dentro desse círculo sagrado que os cidadãos se reuniam. Antes que algum orador tomasse a palavra, pronunciava-se uma prece diante do povo em silêncio.
A tribuna era lugar sagrado; o orador só podia subir à mesma com uma coroa na cabeça, e durante muito tempo quis o costume que começasse o discurso invocando os deuses.
O lugar de reunião do senado de Roma era sempre um templo. Se se realizasse alguma sessão fora de lugar sagrado, as decisões tomadas seriam consideradas nulas, porque os deuses haviam estado ausentes. Antes de qualquer deliberação o presidente oferecia um sacrifício e pronunciava uma oração. Na sala havia um altar, onde cada senador, ao entrar, derramava a libação, enquanto invocava os deuses.
O senado de Atenas assemelhava-se nisto ao de Roma. A sala tinha também um altar, um lar. Antes de cada sessão realizava-se um ato religioso. Todo senador, ao entrar, aproximava-se do altar, e pronunciava uma oração.
Em Roma, como em Atenas, só se administrava justiça na cidade em dias determinados pela religião como favoráveis. Em Atenas, a sessão do tribunal era realizada junto a um altar, e se iniciava com um sacrifício.
Na guerra a religião era, pelo menos, mais poderosa que na paz. Havia nas cidades italianas colégios de sacerdotes chamados feciais, que presidiam, como os arautos entre os gregos, a todas as cerimônias sagradas inspiradas pelas relações internacionais. Um fecial, com a cabeça coberta por um véu de lã, de acordo com os ritos, tendo os deuses, como testemunhas, declarava a guerra, pronunciando uma fórmula sacramental. Ao mesmo tempo, o cônsul, em vestes sacerdotais, fazia um sacrifício, e abria solenemente o templo da divindade mais antiga e mais venerada da Itália, o templo de Jano. Antes de partir para uma expedição, reunido o exército, o general pronunciava preces e oferecia sacrifícios.
Depois de cada vitória oferecia-se outro sacrifício; essa é a origem do triunfo, tão conhecido entre os romanos, e que não era menos usado entre os gregos. Esse costume era conseqüência da opinião que atribuía a vitória aos deuses da cidade.
Assim, em tempo de paz como em tempo de guerra, a religião intervinha em todos os atos. Achava-se presente em toda parte, como que envolvendo o homem. A alma, o corpo, a vida privada, a vida pública, os banquetes, as festas, as assembléias, os tribunais, os combates, tudo estava sob o império da religião da cidade. A religião regulava todas as ações do homem, dispunha todos os instantes de sua vida, fixava todos os seus hábitos. A religião governava a criatura humana com autoridade tão absoluta, que nada lhe escapava.
Autor: Fustel de Coulanges - A Cidade Antiga - Fonte: Ebooks Brasil
A principal cerimônia do culto da cidade consistia também em um banquete semelhante; devia ser realizado em comum, por todos os cidadãos, em honra das divindades protetoras. O costume desses banquetes públicos era universal na Grécia; acreditava-se que a salvação da cidade dependia de sua realização.
Além desses imensos banquetes, onde todos os cidadãos se reuniam, e que não podiam ser realizados senão nas festas solenes, a religião prescrevia que cada dia houvesse uma refeição sagrada. Para isso, alguns homens escolhidos pela cidade deviam comer juntos, em seu nome, no recinto do pritaneu, na presença do lar e dos deuses protetores. Os gregos estavam convencidos de que, se esse banquete deixasse de ser celebrado por um único dia, o Estado ficava ameaçado de perder o favor dos deuses.
Em Atenas, a sorte designava os homens que tomar parte no banquete comum, e a lei punia severamente os que se recusavam a cumprir com esse dever. Os cidadãos que se sentavam à mesa sagrada ficavam revestidos momentaneamente de caráter sacerdotal; chamavam-nos parasitas; essa palavra, que depois se tornou pejorativa, começou a existir como título sagrado. Nos tempos de Demóstenes, os parasitas haviam desaparecido, mas os prítanes ainda eram obrigados a comer juntos no pritaneu. Em todas as cidades havia salas destinadas às refeições em comum.
Observando-se como as coisas se passavam nessa refeição, se reconhece perfeitamente tratar-se de cerimônia religiosa. Cada conviva tinha uma coroa na cabeça; com efeito, era costume antigo coroar-se de folhas ou de flores cada vez que se realizava algum ato solene de religião.
A refeição começava invariavelmente por uma oração e libações; cantavam-se hinos. A natureza das iguarias e a espécie do vinho que se devia servir eram regulados pelo ritual de cada cidade. Afastar-se o mínimo que fosse do costume seguido pelos antepassados, apresentar um prato novo, ou alterar o ritmo dos hinos sagrados, era impiedade grave, pela qual toda a cidade se responsabilizava diante dos deuses.
Esses costumes antigos dão-nos idéia do vínculo estreito que unia os membros de uma cidade. A associação humana era uma religião; seu símbolo era o banquete público.
Imaginemos uma daquelas pequenas sociedades primitivas reunidas, pelo menos os chefes de família, em uma mesma mesa, vestidos de branco e coroados de flores; todos fazem juntos a libação, recitam as mesmas preces, cantam os mesmos hinos, comem a mesma comida, preparada sobre o mesmo altar; no meio deles estão presentes os antepassados, e os deuses protetores participam da refeição.
Em todos os tempos e em todas as sociedades o homem sempre quis honrar seus deuses com festas, e estabeleceu dias especiais, nos quais o sentimento religioso reinaria sozinho em sua alma, sem distraí-la com pensamentos e ocupações terrenas. No número de dias que deve viver, estabeleceu a parte que caberia aos deuses.
Cada cidade havia sido fundada com ritos, que no pensamento dos antigos tinham por efeito fixar dentro de seus limites os deuses nacionais. Era necessário que a virtude desses ritos fosse rejuvenescida todos os anos por nova cerimônia religiosa; chamavam a essa festa dia natalício; todos os cidadãos deviam celebrá-la.
Vinha em seguida a festa do fundador. Depois, cada um dos heróis da cidade, cada uma daquelas almas que os homens invocavam como protetoras, passou a reclamar um culto; Rômulo tinha o seu, assim como Sérvio Túlio, e muitos outros, até a ama de Rômulo e a mãe de Evandro. Atenas, por sua vez, tinha a festa de Cécrops, a de Erecteu, a de Teseu, e celebrava cada um dos heróis do país, como o tutor de Teseu, Euristeu, Androgeu, e uma multidão de outros.
Havia ainda as festas dos campos, a do trabalho, a da semeadura, a da floração, a das vindimas. Na Grécia, como na Itália, cada ato da vida do agricultor era acompanhado de sacrifícios, e os trabalhos eram executados enquanto se recitavam hinos sagrados. Em Roma, os padres fixavam, cada ano, o dia em que deviam começar a vindima, e o dia em que se podia beber vinho novo. Tudo era regulado pela religião. A religião mandava que se podasse a vinha, porque afirmava que era impiedade oferecer aos deuses uma libação com vinho de parreira não podada.
Toda cidade tinha uma festa para cada uma das divindades que havia adotado como protetoras, e que eram muitas. À medida que se introduzia o culto de uma divindade nova, fazia-se necessário encontrar um dia do ano para consagrar-lhe. O que caracterizava as festas religiosas era a proibição do trabalho, a obrigação de se estar alegre, os cantos e jogos públicos.
O calendário não era outra coisa que a sucessão das festas religiosas.
Compreende-se que o calendário de uma cidade não podia assemelhar-se em nada ao de outra, porque a religião não era a mesma entre elas, e as festas, como os deuses, diferiam. O ano não tinha a mesma duração em duas cidades. Os meses não tinham os mesmos nomes; Atenas chamava-os diferentemente de Tebas, e Roma de modo muito diverso de Lavínio. Isso porque o nome de cada mês era tirado ordinariamente da festa principal que nele se celebrava: ora, as festas não eram as mesmas. As cidades não concordavam em começar o ano na mesma época, nem em contar a série dos anos a partir de uma mesma data.
Entre as cerimônias mais importantes da religião da cidade, havia uma que se chamava purificação. Celebrava-se todos os anos em Atenas; em Roma só se realizava de quatro em quatro anos. Os ritos então observados, e o nome que lhe davam indicam que essa cerimônia devia ter por virtude o resgate das faltas cometidas pelos cidadãos contra o culto. Com efeito, religião tão complicada era fonte de terror para os antigos; como a fé e a pureza de intenções de nada valiam, e como toda a religião consistia na prática minuciosa de inumeráveis prescrições, sempre se devia temer por alguma negligência, por alguma omissão ou erro, e nunca se tinha certeza de estar ao seguro dos golpes de cólera ou de rancor de algum deus. Era necessário, portanto, para tranqüilizar o coração do homem, um sacrifício expiatório.
Para ato dessa natureza, e de tal importância, duas coisas eram necessárias: uma, que nenhum estranho se introduzisse entre os cidadãos, o que perturbaria e viciaria a cerimônia; outra, que todos os cidadãos estivessem presentes, sem o que a cidade poderia continuar impura. Era necessário, portanto, que essa cerimônia religiosa fosse precedida pelo recenseamento dos cidadãos. Em Roma e em Atenas contavam-se os cidadãos com o maior cuidado; é provável que seu número fosse declarado pelo magistrado na fórmula da oração, e em seguida inscrito no relatório que o censor redigia sobre a cerimônia.
A essa cerimônia assistiam somente os cidadãos; mas suas mulheres, crianças, escravos, bens, móveis e imóveis, eram, de algum modo, purificados na pessoa do chefe da família. É por isso que, antes do sacrifício, cada um devia declarar ao censor o número de pessoas e coisas que dependiam dele.
Não havia um só ato da vida pública no qual não fizessem intervir os deuses. Como estavam sob o domínio da idéia de que os deuses ora eram excelentes protetores, ora cruéis inimigos, o homem jamais ousava agir sem estar seguro de seus favores.
O povo não se reunia em assembléia senão em dias permitidos pela religião.
Em Roma, antes de se abrir a sessão, era necessário que os áugures assegurassem que os deuses eram propícios. A assembléia começava por uma oração, que o áugure pronunciava e o cônsul depois repetia.
O mesmo acontecia entre os atenienses: a assembléia sempre se iniciava por um ato religioso. Os sacerdotes ofereciam sacrifícios; traçava-se depois um grande círculo, espargindo a terra com água lustral, e era dentro desse círculo sagrado que os cidadãos se reuniam. Antes que algum orador tomasse a palavra, pronunciava-se uma prece diante do povo em silêncio.
A tribuna era lugar sagrado; o orador só podia subir à mesma com uma coroa na cabeça, e durante muito tempo quis o costume que começasse o discurso invocando os deuses.
O lugar de reunião do senado de Roma era sempre um templo. Se se realizasse alguma sessão fora de lugar sagrado, as decisões tomadas seriam consideradas nulas, porque os deuses haviam estado ausentes. Antes de qualquer deliberação o presidente oferecia um sacrifício e pronunciava uma oração. Na sala havia um altar, onde cada senador, ao entrar, derramava a libação, enquanto invocava os deuses.
O senado de Atenas assemelhava-se nisto ao de Roma. A sala tinha também um altar, um lar. Antes de cada sessão realizava-se um ato religioso. Todo senador, ao entrar, aproximava-se do altar, e pronunciava uma oração.
Em Roma, como em Atenas, só se administrava justiça na cidade em dias determinados pela religião como favoráveis. Em Atenas, a sessão do tribunal era realizada junto a um altar, e se iniciava com um sacrifício.
Na guerra a religião era, pelo menos, mais poderosa que na paz. Havia nas cidades italianas colégios de sacerdotes chamados feciais, que presidiam, como os arautos entre os gregos, a todas as cerimônias sagradas inspiradas pelas relações internacionais. Um fecial, com a cabeça coberta por um véu de lã, de acordo com os ritos, tendo os deuses, como testemunhas, declarava a guerra, pronunciando uma fórmula sacramental. Ao mesmo tempo, o cônsul, em vestes sacerdotais, fazia um sacrifício, e abria solenemente o templo da divindade mais antiga e mais venerada da Itália, o templo de Jano. Antes de partir para uma expedição, reunido o exército, o general pronunciava preces e oferecia sacrifícios.
Depois de cada vitória oferecia-se outro sacrifício; essa é a origem do triunfo, tão conhecido entre os romanos, e que não era menos usado entre os gregos. Esse costume era conseqüência da opinião que atribuía a vitória aos deuses da cidade.
Assim, em tempo de paz como em tempo de guerra, a religião intervinha em todos os atos. Achava-se presente em toda parte, como que envolvendo o homem. A alma, o corpo, a vida privada, a vida pública, os banquetes, as festas, as assembléias, os tribunais, os combates, tudo estava sob o império da religião da cidade. A religião regulava todas as ações do homem, dispunha todos os instantes de sua vida, fixava todos os seus hábitos. A religião governava a criatura humana com autoridade tão absoluta, que nada lhe escapava.
Autor: Fustel de Coulanges - A Cidade Antiga - Fonte: Ebooks Brasil
domingo, 6 de dezembro de 2009
Militância pelo corpo
Anúncio da PETA irrita católicos.
A Igreja Católica ficou chateada com a modelo polaca Joanna Krupa devido a uma pose em que representa um anjo na mais recente campanha de promoção à adopção de animais, pela PETA (People for the Ethical Treatment of Animals).
Um crucifixo, estrategicamente colocado sobre o corpo de Krupa, cobre-lhe apenas as partes íntimas, com a mensagem ‘Sê um anjo para os animais – Adopte sempre. Nunca compre’.
Um outro anúncio da organização apresenta a modelo nua da cintura para cima, segurando o seu cão Rugby com o braço esquerda, enquanto um rosário penda da mão direita.[Correio da Manhã][link morto]
Isso me lembra o caso da Carol Castro que posou nua com um crucifixo, para uma conhecida "revista adulta" masculina. Tanto naquele quanto neste evento, a reação da Igreja e dos Católicos lembrou a reação dos Muçulmanos diante das caricaturas de Mohamed que um jornal dinamarquês publicou. Não foi a Igreja que disse que o crucifixo era um "símbolo cultural" para mantê-los em salas de aula? Então não podem querer que este símbolo seja tratado com reverência sagrada. O crucifixo ou é um símbolo cultural ou é um símbolo corporativo.
Eu por meu lado acho extremamente ridícula a postura da Peta ou de outros "defensores de animais", especialmente aqueles que tentam (como bom missionários/proselitistas) convencer/converter as pessoas para seus ideais, com clichês discutíveis, quando não infantis.
O caso vem a calhar, pois este blog contém diversos textos sobre nudez e visito com frequência o blog da Atilia [Sexismo e Misoginia] que discute como a sociedade machista/patriarcal usa da nudez para vender pornografia, incentivar a prostituição e degradar a mulher a simples objeto. A Maitê escreveu que "A melhor militância é a do corpo" [Casa da Maitê][link indisponível].
O corpo, a nudez e o sexo podem ser usados como ferramenta da militância? Como e de que forma o corpo pode ser usado na militância de um ideal? Existe uma fronteira entre o nu artístico e a pornografia? Podemos lutar pela legalização da prostituição como uma forma de forçar a sociedade a repensar suas posições, tabus e preconceitos sobre sexo e relacionamentos? Podemos usar a nudez e o sexo para curar a doença social? Podemos usar a militância pelo corpo para contestar e protestar contra os desmandos e abusos da Igreja que continua a interferir na sociedade e na vida das pessoas? Podemos, enfim, usar a militância pelo corpo para libertar a humanidade? Eu espero que sim.
A Igreja Católica ficou chateada com a modelo polaca Joanna Krupa devido a uma pose em que representa um anjo na mais recente campanha de promoção à adopção de animais, pela PETA (People for the Ethical Treatment of Animals).
Um crucifixo, estrategicamente colocado sobre o corpo de Krupa, cobre-lhe apenas as partes íntimas, com a mensagem ‘Sê um anjo para os animais – Adopte sempre. Nunca compre’.
Um outro anúncio da organização apresenta a modelo nua da cintura para cima, segurando o seu cão Rugby com o braço esquerda, enquanto um rosário penda da mão direita.[Correio da Manhã][link morto]
Isso me lembra o caso da Carol Castro que posou nua com um crucifixo, para uma conhecida "revista adulta" masculina. Tanto naquele quanto neste evento, a reação da Igreja e dos Católicos lembrou a reação dos Muçulmanos diante das caricaturas de Mohamed que um jornal dinamarquês publicou. Não foi a Igreja que disse que o crucifixo era um "símbolo cultural" para mantê-los em salas de aula? Então não podem querer que este símbolo seja tratado com reverência sagrada. O crucifixo ou é um símbolo cultural ou é um símbolo corporativo.
Eu por meu lado acho extremamente ridícula a postura da Peta ou de outros "defensores de animais", especialmente aqueles que tentam (como bom missionários/proselitistas) convencer/converter as pessoas para seus ideais, com clichês discutíveis, quando não infantis.
O caso vem a calhar, pois este blog contém diversos textos sobre nudez e visito com frequência o blog da Atilia [Sexismo e Misoginia] que discute como a sociedade machista/patriarcal usa da nudez para vender pornografia, incentivar a prostituição e degradar a mulher a simples objeto. A Maitê escreveu que "A melhor militância é a do corpo" [Casa da Maitê][link indisponível].
O corpo, a nudez e o sexo podem ser usados como ferramenta da militância? Como e de que forma o corpo pode ser usado na militância de um ideal? Existe uma fronteira entre o nu artístico e a pornografia? Podemos lutar pela legalização da prostituição como uma forma de forçar a sociedade a repensar suas posições, tabus e preconceitos sobre sexo e relacionamentos? Podemos usar a nudez e o sexo para curar a doença social? Podemos usar a militância pelo corpo para contestar e protestar contra os desmandos e abusos da Igreja que continua a interferir na sociedade e na vida das pessoas? Podemos, enfim, usar a militância pelo corpo para libertar a humanidade? Eu espero que sim.
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
Dezembro, o décimo mês
Dezembro deve o seu nome à palavra latina decem (dez), dado que era o décimo mês do Calendário Romano, que começava em Março.
Festas em dezembro:
Dia 1º- Festival de Netuno e o Festival de Pietas.
Dia 3 - Festival de Bona Dea.
Dia 4 - Festival de Minerva.
Dia 5 - Faunalia, em honra a Faunus. O Deus das plantações, criações, florestas e oráculos.
Dia 8 - Festival de Tiberinus, Deus do rio Tibre.
Dia 10 - Festival da Lux Mundi. Este festival honrava a [Deusa] Libertas como aquela que trouxe a luz ao mundo.
Dia 11 - Agonalia. Natradição religiosa de Roma Antiga, era um festival celebrado várias vezes ao ano em honra de várias divindades, como Janus e Agonius, os quais os Romanos costumavam evocar nos seus empreendimentos importantes] para o Sol Indiges [o Sol Nativo], Septimontia [festival das sete colinas de Roma] e o Festival da Diva Palatua.
Dia 12 - Consualia em honra a Consus.
Dia 13 - Festival de Tellus a Deusa da Terra.
Dia 16 - Festival da Sapientia.
Dia 17 - O Festival da Saturnália começa.
Dia 18 - Eponalia em honra a Epona.
Dia 19 - Opalia em honra a Ops e o Festival das Juventas.
Dia 21 - Divalia em honra a Angerona e Bruma (solstício de inverno).
Dia 22 - Dia Consagrado aos Lares.
Dia 23 - Larentalia em honra a Larenta. Um festival no qual os sacerdotes de Quirinus celebravam ritos funerários na tumba de Acca Larentia, a loba que amamentou Romulo e Remo.
Dia 24 - O Festival da Saturnália termina.
25 - Dies Natalis Invicti Solis (aniversário do Deus Sol Invencível).
Festas em dezembro:
Dia 1º- Festival de Netuno e o Festival de Pietas.
Dia 3 - Festival de Bona Dea.
Dia 4 - Festival de Minerva.
Dia 5 - Faunalia, em honra a Faunus. O Deus das plantações, criações, florestas e oráculos.
Dia 8 - Festival de Tiberinus, Deus do rio Tibre.
Dia 10 - Festival da Lux Mundi. Este festival honrava a [Deusa] Libertas como aquela que trouxe a luz ao mundo.
Dia 11 - Agonalia. Natradição religiosa de Roma Antiga, era um festival celebrado várias vezes ao ano em honra de várias divindades, como Janus e Agonius, os quais os Romanos costumavam evocar nos seus empreendimentos importantes] para o Sol Indiges [o Sol Nativo], Septimontia [festival das sete colinas de Roma] e o Festival da Diva Palatua.
Dia 12 - Consualia em honra a Consus.
Dia 13 - Festival de Tellus a Deusa da Terra.
Dia 16 - Festival da Sapientia.
Dia 17 - O Festival da Saturnália começa.
Dia 18 - Eponalia em honra a Epona.
Dia 19 - Opalia em honra a Ops e o Festival das Juventas.
Dia 21 - Divalia em honra a Angerona e Bruma (solstício de inverno).
Dia 22 - Dia Consagrado aos Lares.
Dia 23 - Larentalia em honra a Larenta. Um festival no qual os sacerdotes de Quirinus celebravam ritos funerários na tumba de Acca Larentia, a loba que amamentou Romulo e Remo.
Dia 24 - O Festival da Saturnália termina.
25 - Dies Natalis Invicti Solis (aniversário do Deus Sol Invencível).
sábado, 28 de novembro de 2009
A cidade [antiga]
Cidade e urbe não eram palavras sinônimas entre os antigos. A cidade era a associação religiosa e política das famílias e das tribos; a urbe, o lugar de reunião, o domicílio, e, sobretudo, o santuário dessa associação.
Não devemos imaginar as cidades antigas de acordo com as que costumamos ver nos dias de hoje. Constroem-se algumas casas, e temos uma aldeia. Insensivelmente o número de casas aumenta, e temos a cidade; e, se for o caso, acabamos por rodeá-la por um fosso e uma muralha. Uma cidade, entre os antigos, não se formava com o tempo, pelo lento crescimento do número dos homens e das construções. Fundava-se uma cidade de um só golpe, inteiramente, em um dia.
Mas era necessário que a cidade fosse constituída antes, o que era a obra mais difícil, e ordinariamente a mais longa. Uma vez que as famílias, as fratrias e as tribos concordavam em se unir, e em adotar o mesmo culto, logo se fundava a cidade, para ser o santuário desse culto comum. Também a fundação de uma cidade sempre constituiu ato religioso.
Por primeiro exemplo, tomaremos Roma, a despeito da reputação de incredulidade que se liga a essa antiga história. Muito se repetiu que Rômulo era chefe de aventureiros, que constituíra um povo chamando para junto de si vagabundos e ladrões, e que todos esses homens, reunidos sem escolha, haviam construído ao acaso algumas cabanas, para abrigar nelas o fruto de suas rapinas. Mas os escritores antigos apresentam-nos o fato de maneira bem diversa; parece-nos que, se queremos conhecer a antiguidade, devemos apoiar-nos sobre os testemunhos que a mesma nos apresenta. Esses escritores, na verdade, falam de um asilo, isto é, de um recinto sagrado, no qual Rômulo admitiu todos os que se apresentaram, no que seguiu o exemplo dado por muitos dos fundadores de cidades. Mas esse asilo não era a cidade, e não foi franqueado senão depois de fundada e completamente construída a cidade. Era um apêndice acrescentado a Roma; não era Roma. Não fazia parte da cidade de Rômulo, porque estava situado nas encostas do monte Capitolino, enquanto a cidade ocupava o planalto do Palatino. É importante distinguir nitidamente o duplo elemento da população romana. No asilo estão os aventureiros sem eira nem beira; sobre o Palatino estão os homens vindos de Alba, isto é, homens já organizados em sociedade, distribuídos em gentes e em cúrias, com seus cultos domésticos e suas leis. O asilo não é nada mais que uma espécie de aldeia ou subúrbio, onde as cabanas são levantadas ao acaso, e sem regras; sobre o Palatino ergue-se uma cidade religiosa e santa.
Sobre a maneira pela qual essa cidade foi fundada, a antiguidade é pródiga em informações; encontramo-las em Dionísio de Halicarnasso, que as busca em autores mais antigos; encontramo-las em Plutarco, nos Fastos de Ovídio, em Tácito, em Catão, o Antigo, que havia consultado os velhos anais, e em outros escritores, que sobretudo nos devem inspirar grande confiança, o sábio Varrão e o sábio Vérrio Flaco, que Festo nos conservou em parte, ambos muito informados acerca das antiguidades romanas, amigos da verdade, nada crédulos, e que conheciam muito bem as regras da crítica histórica. Todos esses escritores nos transmitiram a lembrança da cerimônia religiosa que havia marcado a fundação de Roma, e não temos direito de rejeitar tão grande número de testemunhos.
O primeiro cuidado do fundador é escolher o local da nova cidade. Mas essa escolha, coisa grave, e da qual se crê depender o destino do povo, sempre foi deixada à decisão dos deuses. Se Rômulo fosse grego, teria consultado o oráculo de Delfos; se fosse samnita, teria seguido o animal sagrado, o lobo ou o picanço. Latino, muito vizinho dos etruscos, iniciado na ciência augural, pede aos deuses que lhe revelem sua vontade pelo vôo dos pássaros. Os deuses apontam-lhe o Palatino.
Chegado o dia da fundação, oferece primeiramente um sacrifício. Seus companheiros enfileiram-se ao seu redor, acendem um fogo de ramos, e cada um deles pula através das chamas. A explicação desse rito é que, para o ato que se vai cumprir, é necessário que o povo esteja puro: ora, os antigos julgavam purificar-se de toda mancha física ou moral pulando através da chama sagrada.
Depois que essa cerimônia preliminar preparou o povo para o grande ato da fundação, Rômulo cava um pequeno fosso de forma circular, onde lança um torrão, por ele trazido da cidade de Alba. Depois, cada um de seus companheiros, um por um, lança no mesmo lugar um pouco de terra, trazida de seu país de origem. Esse rito é notável, e revela nesses homens um pensamento que é preciso assinalar. Antes de chegar ao Palatino, eles moravam em Alba, ou em alguma outra cidade vizinha. Lá estava seu lar, lá seus pais haviam vivido, e estavam sepultados. Ora, a religião proibia abandonar a terra onde o lar estava fixado e onde repousavam os antepassados divinos. Era preciso, pois, para se livrarem de toda impiedade, que cada um daqueles homens usasse de uma ficção, e que levasse consigo, sob o símbolo de um torrão de terra, o solo sagrado em que seus antepassados estavam sepultados, e ao qual estavam ligados os manes. O homem não podia mudar-se sem levar consigo a terra e seus ancestrais. Era necessário que observasse esse rito para que pudesse dizer, mostrando o novo lugar que adotara: Esta é ainda a terra de meus pais: Terra patruum, patria, aqui é minha pátria, porque aqui estão os manes de minha família.
O fosso onde cada um lançara um pouco de terra chamava-se mundus; ora, essa palavra designava, especialmente na antiga língua religiosa, a região dos manes. Desse mesmo lugar, segundo a tradição, os manes dos mortos escapavam três vezes por ano, desejosos de rever a luz por um momento. Lançando ao fosso um torrão de terra da antiga pátria, acreditavam encerrar nela também as almas dos antepassados. Essas almas, ali reunidas, deviam receber culto perpétuo, e velar sobre seus descendentes. Rômulo, nesse mesmo lugar, levantou um altar, e acendeu o fogo. Este foi o fogo sagrado da nova cidade.
Ao redor desse fogo devia erguer-se a cidade, como a casa se eleva ao redor do lar doméstico. Rômulo traça um sulco, que marca os limites. Ainda aqui os mínimos detalhes estão fixados pelo ritual. O fundador deve servir-se de uma relha de cobre; a charrua é puxada por um touro branco e uma vaca da mesma cor. Rômulo, de cabeça coberta, trajando vestes sacerdotais, segura ele mesmo a rabiça da charrua, e a dirige, entoando preces. Seus companheiros o seguem, observando religioso silêncio. À medida que a relha levanta torrões de terra, lançam-nos cuidadosamente para o interior do recinto, a fim de que nenhuma parcela daquela terra sagrada fique do lado do estrangeiro.
Esses limites traçados pela religião são invioláveis. Nem o estrangeiro, nem o cidadão têm o direito de transpô-los. Pular por cima desse pequeno sulco é ato de impiedade; a tradição romana diz que o irmão do fundador havia cometido esse sacrilégio, e o havia pago com a vida.
Mas, para que se pudesse entrar na cidade, e sair dela, o sulco era interrompido em alguns lugares; para isso Rômulo levantava a relha; esses intervalos chamavam-se portae, as portas da cidade.
Sobre o sulco sagrado, ou um pouco atrás, levantam-se depois muralhas, também sagradas. Ninguém poderá tocá-las, mesmo para restaurá-las, sem permissão dos pontífices. De ambos os lados dessa muralha, um espaço de alguns pés é reservado à religião; chamam-no pomoerium; não se permite passar por ali a charrua, nem levantar ali construção alguma.
Não podemos supor razoavelmente que esses ritos tenham sido imaginados pela primeira vez por Rômulo. Pelo contrário, é certo que muitas cidades antes de Roma foram fundadas da mesma maneira. Varrão disse que esses ritos eram comuns ao Lácio e à Etrúria. Catão, o Antigo, que, para escrever seu livro Origines, havia consultado os anais de todos os povos italianos, informa-nos que ritos análogos eram observados por todos os fundadores de cidades. Os etruscos possuíam livros litúrgicos, onde estava consignado o ritual completo dessas cerimônias.
Os gregos, como os italianos, acreditavam que o local de uma cidade devia ser escolhido e revelado pela divindade. Assim, quando queriam fundar alguma, consultavam o oráculo de Delfos. Heródoto assinala como ato de impiedade ou de loucura o fato de o espartano Dória ter ousado construir uma cidade “sem consultar o oráculo, e sem praticar nenhuma das cerimônias prescritas”, e o piedoso historiador não se surpreende ao ver que uma cidade assim construída, contra as regras, não tenha durado mais de três anos. Tucídides, recordando o dia da fundação de Esparta, menciona os cantos piedosos e os sacrifícios daquele dia. O mesmo historiador nos diz que os atenienses possuíam ritual particular, e que jamais fundavam uma colônia sem obedecê-lo. Pode-se ver em uma comédia de Aristófanes um quadro bastante exato da cerimônia usada em tais casos. Quando o poeta imaginou a alegre fundação da cidade das Aves, pensava certamente nos costumes que eram observados na fundação das cidades dos homens; assim, pôs em cena um sacerdote que acendia o fogo invocando os deuses, um poeta que cantava hinos, e um adivinho que recitava oráculos.
Pausânias percorria a Grécia nos tempos de Adriano. Chegando a Messênia, fez com que os sacerdotes lhe contassem a história da fundação da cidade de Messena, e assim nos transmitiu sua narrativa. O acontecimento não era muito antigo; dera-se nos tempos de Epaminondas. Três séculos antes os messênios haviam sido expulsos de seu país, e desde esse tempo viviam dispersos entre os outros gregos, sem pátria, mas guardando com piedoso cuidado seus costumes e sua religião nacional. Os tebanos queriam reconduzi-los ao Peloponeso, para estabelecer um inimigo ao lado de Esparta, mas o mais difícil era fazer com que os messênios se decidissem. Epaminondas, que os conhecia como homens supersticiosos, achou bom espalhar um oráculo, que predizia a esse povo a volta para a antiga pátria. Aparições miraculosas atestaram que os deuses nacionais dos messênios, que os haviam traído à época da conquista, voltavam a ser-lhes favoráveis. Esse povo tímido decidiu-se então a voltar para o Peloponeso, atrás de um exército tebano. Mas tratava-se de saber onde levantariam a cidade, porque nem se podia pensar em reocupar as antigas cidades do país: elas haviam sido manchadas pela conquista. Para escolher o lugar em que se estabeleceriam, não tinham o recurso ordinário de consultar o oráculo de Delfos, porque a Pítia estava do lado de Esparta. Por felicidade, os deuses possuíam outros meios de revelar suas vontades; um sacerdote dos messênios teve um sonho, no qual um dos deuses de sua nação lhe apareceu, e lhe disse que ia estabelecer-se sobre o monte Itoma, e que convidava o povo a segui-lo. Sendo assim indicado o local da nova cidade, restava ainda conhecer os ritos necessários para a fundação, mas os messênios os haviam esquecido; eles não podiam, aliás, adotar os dos tebanos, nem de outro povo qualquer, e não sabiam como construir a cidade. Muito a propósito, outro messênio sonhou que os deuses mandaram que se dirigisse ao monte Itoma, procurasse um seixo, que se encontrava ao pé de um mirto, e cavasse a terra nesse local. Ele obedeceu, e descobriu uma urna, e nessa urna folhas de estanho, sobre as quais se encontrava gravado o ritual completo da cerimônia sagrada. Os sacerdotes imediatamente fizeram cópias, e o inscreveram nos livros sagrados. E ninguém deixou de acreditar que a urna fora ali depositada por um antigo rei dos messênios, antes da conquista do país.
Uma vez de posse do ritual, iniciou-se a fundação. Os sacerdotes, em primeiro lugar, ofereceram um sacrifício; invocaram os antigos deuses de Messênia, os Dioscuros, o Júpiter de Itoma, os antigos heróis, os antepassados conhecidos e venerados. Todos esses protetores do país, aparentemente o haviam abandonado, de acordo com as crenças dos antigos, no dia em que o inimigo tomou posse de suas terras; conjuraram-nos então a voltar. Pronunciaram-se fórmulas, que deviam ter por efeito determiná-los a habitar a nova cidade em comum com os cidadãos. Isso é que era importante: fixar os deuses em sua companhia era o que mais lhes importava, e podemos acreditar que a cerimônia religiosa não tivesse outra finalidade. Assim como os companheiros de Rômulo cavaram um fosso, e acreditaram depositar nele seus antepassados, assim os contemporâneos de Epaminondas chamavam a si seus heróis, seus antepassados divinos, os deuses do país. Acreditavam assim, por meio de fórmulas e de ritos, ligá-los ao solo que iam ocupar, e encerrá-los dentro dos limites que iam traçar. O primeiro dia transcorreu com esses sacrifícios e essas preces. No dia seguinte traçaram-se os limites, enquanto o povo cantava hinos religiosos.
Surpreendemo-nos, à primeira vista, quando vemos nos autores antigos que não havia cidade, por mais antiga que fosse, que não pretendesse conhecer o nome do fundador e a data da fundação. É que uma cidade não podia perder a lembrança da cerimônia sagrada que havia marcado seu nascimento, porque cada ano celebrava esse aniversário por um sacrifício. Atenas, como Roma, também festejava seu dia natalício.
Muitas vezes acontecia que colonos ou conquistadores se estabeleciam em uma cidade já construída. Não tinham necessidade de construir casas, porque nada lhes impedia a que ocupassem as dos vencidos. Mas eram obrigados a observar a cerimônia da fundação, isto é, tinham de assentar o próprio lar, e fixar em sua nova morada os deuses nacionais. É por isso que lemos em Tucídides e em Heródoto que os dórios fundaram Esparta, e os jônios Mileto, embora esses dois povos tenham encontrado as cidades já construídas, e muito antigas.
Esses costumes nos dizem claramente o que era uma cidade no pensamento dos antigos. Fechada dentro de limites sagrados, estendendo-se ao redor do altar, a cidade era o domicílio religioso, que recebia deuses e homens. O que Tito Lívio dizia de Roma, qualquer um podia dizer da própria cidade, porque, se havia sido fundada de acordo com os ritos, recebera em seu recinto os deuses protetores, que estavam como que implantados em seu solo, e não deviam abandoná-lo jamais. Toda cidade era um santuário; toda cidade podia ser chamada santa.
Como os deuses estavam para sempre ligados à cidade, o povo não devia abandonar nunca o local onde seus deuses estavam fixados. A esse respeito havia um acordo mútuo, uma espécie de contrato entre deuses e homens. Os tribunos da plebe disseram certo dia que Roma, devastada pelos gauleses, não era mais que um montão de ruínas, e que a cinco léguas dali havia uma cidade completamente construída e bela, bem situada, e sem habitantes, desde que os romanos a haviam conquistado; era necessário, pois, abandonar Roma destruída, e mudar para Veios. Mas o piedoso Camilo respondeu-lhes: “Nossa cidade foi fundada religiosamente; os próprios deuses designaram seu lugar, e nela se estabeleceram em companhia de nossos pais. Embora em ruínas, ela é ainda a morada de nossos deuses nacionais.” — Os romanos ficaram em Roma.
Algo de sagrado e de divino ligava-se naturalmente àquelas cidades que os deuses haviam levantado, e que continuavam a impregnar, com sua presença. Sabemos que as tradições romanas prometiam a Roma a eternidade. Cada cidade tinha tradições semelhantes. Todas as cidades eram construídas para serem eternas.
Autor: Fustel de Coulanges - A Cidade Antiga . Fonte: Ebooks Brasil
Não devemos imaginar as cidades antigas de acordo com as que costumamos ver nos dias de hoje. Constroem-se algumas casas, e temos uma aldeia. Insensivelmente o número de casas aumenta, e temos a cidade; e, se for o caso, acabamos por rodeá-la por um fosso e uma muralha. Uma cidade, entre os antigos, não se formava com o tempo, pelo lento crescimento do número dos homens e das construções. Fundava-se uma cidade de um só golpe, inteiramente, em um dia.
Mas era necessário que a cidade fosse constituída antes, o que era a obra mais difícil, e ordinariamente a mais longa. Uma vez que as famílias, as fratrias e as tribos concordavam em se unir, e em adotar o mesmo culto, logo se fundava a cidade, para ser o santuário desse culto comum. Também a fundação de uma cidade sempre constituiu ato religioso.
Por primeiro exemplo, tomaremos Roma, a despeito da reputação de incredulidade que se liga a essa antiga história. Muito se repetiu que Rômulo era chefe de aventureiros, que constituíra um povo chamando para junto de si vagabundos e ladrões, e que todos esses homens, reunidos sem escolha, haviam construído ao acaso algumas cabanas, para abrigar nelas o fruto de suas rapinas. Mas os escritores antigos apresentam-nos o fato de maneira bem diversa; parece-nos que, se queremos conhecer a antiguidade, devemos apoiar-nos sobre os testemunhos que a mesma nos apresenta. Esses escritores, na verdade, falam de um asilo, isto é, de um recinto sagrado, no qual Rômulo admitiu todos os que se apresentaram, no que seguiu o exemplo dado por muitos dos fundadores de cidades. Mas esse asilo não era a cidade, e não foi franqueado senão depois de fundada e completamente construída a cidade. Era um apêndice acrescentado a Roma; não era Roma. Não fazia parte da cidade de Rômulo, porque estava situado nas encostas do monte Capitolino, enquanto a cidade ocupava o planalto do Palatino. É importante distinguir nitidamente o duplo elemento da população romana. No asilo estão os aventureiros sem eira nem beira; sobre o Palatino estão os homens vindos de Alba, isto é, homens já organizados em sociedade, distribuídos em gentes e em cúrias, com seus cultos domésticos e suas leis. O asilo não é nada mais que uma espécie de aldeia ou subúrbio, onde as cabanas são levantadas ao acaso, e sem regras; sobre o Palatino ergue-se uma cidade religiosa e santa.
Sobre a maneira pela qual essa cidade foi fundada, a antiguidade é pródiga em informações; encontramo-las em Dionísio de Halicarnasso, que as busca em autores mais antigos; encontramo-las em Plutarco, nos Fastos de Ovídio, em Tácito, em Catão, o Antigo, que havia consultado os velhos anais, e em outros escritores, que sobretudo nos devem inspirar grande confiança, o sábio Varrão e o sábio Vérrio Flaco, que Festo nos conservou em parte, ambos muito informados acerca das antiguidades romanas, amigos da verdade, nada crédulos, e que conheciam muito bem as regras da crítica histórica. Todos esses escritores nos transmitiram a lembrança da cerimônia religiosa que havia marcado a fundação de Roma, e não temos direito de rejeitar tão grande número de testemunhos.
O primeiro cuidado do fundador é escolher o local da nova cidade. Mas essa escolha, coisa grave, e da qual se crê depender o destino do povo, sempre foi deixada à decisão dos deuses. Se Rômulo fosse grego, teria consultado o oráculo de Delfos; se fosse samnita, teria seguido o animal sagrado, o lobo ou o picanço. Latino, muito vizinho dos etruscos, iniciado na ciência augural, pede aos deuses que lhe revelem sua vontade pelo vôo dos pássaros. Os deuses apontam-lhe o Palatino.
Chegado o dia da fundação, oferece primeiramente um sacrifício. Seus companheiros enfileiram-se ao seu redor, acendem um fogo de ramos, e cada um deles pula através das chamas. A explicação desse rito é que, para o ato que se vai cumprir, é necessário que o povo esteja puro: ora, os antigos julgavam purificar-se de toda mancha física ou moral pulando através da chama sagrada.
Depois que essa cerimônia preliminar preparou o povo para o grande ato da fundação, Rômulo cava um pequeno fosso de forma circular, onde lança um torrão, por ele trazido da cidade de Alba. Depois, cada um de seus companheiros, um por um, lança no mesmo lugar um pouco de terra, trazida de seu país de origem. Esse rito é notável, e revela nesses homens um pensamento que é preciso assinalar. Antes de chegar ao Palatino, eles moravam em Alba, ou em alguma outra cidade vizinha. Lá estava seu lar, lá seus pais haviam vivido, e estavam sepultados. Ora, a religião proibia abandonar a terra onde o lar estava fixado e onde repousavam os antepassados divinos. Era preciso, pois, para se livrarem de toda impiedade, que cada um daqueles homens usasse de uma ficção, e que levasse consigo, sob o símbolo de um torrão de terra, o solo sagrado em que seus antepassados estavam sepultados, e ao qual estavam ligados os manes. O homem não podia mudar-se sem levar consigo a terra e seus ancestrais. Era necessário que observasse esse rito para que pudesse dizer, mostrando o novo lugar que adotara: Esta é ainda a terra de meus pais: Terra patruum, patria, aqui é minha pátria, porque aqui estão os manes de minha família.
O fosso onde cada um lançara um pouco de terra chamava-se mundus; ora, essa palavra designava, especialmente na antiga língua religiosa, a região dos manes. Desse mesmo lugar, segundo a tradição, os manes dos mortos escapavam três vezes por ano, desejosos de rever a luz por um momento. Lançando ao fosso um torrão de terra da antiga pátria, acreditavam encerrar nela também as almas dos antepassados. Essas almas, ali reunidas, deviam receber culto perpétuo, e velar sobre seus descendentes. Rômulo, nesse mesmo lugar, levantou um altar, e acendeu o fogo. Este foi o fogo sagrado da nova cidade.
Ao redor desse fogo devia erguer-se a cidade, como a casa se eleva ao redor do lar doméstico. Rômulo traça um sulco, que marca os limites. Ainda aqui os mínimos detalhes estão fixados pelo ritual. O fundador deve servir-se de uma relha de cobre; a charrua é puxada por um touro branco e uma vaca da mesma cor. Rômulo, de cabeça coberta, trajando vestes sacerdotais, segura ele mesmo a rabiça da charrua, e a dirige, entoando preces. Seus companheiros o seguem, observando religioso silêncio. À medida que a relha levanta torrões de terra, lançam-nos cuidadosamente para o interior do recinto, a fim de que nenhuma parcela daquela terra sagrada fique do lado do estrangeiro.
Esses limites traçados pela religião são invioláveis. Nem o estrangeiro, nem o cidadão têm o direito de transpô-los. Pular por cima desse pequeno sulco é ato de impiedade; a tradição romana diz que o irmão do fundador havia cometido esse sacrilégio, e o havia pago com a vida.
Mas, para que se pudesse entrar na cidade, e sair dela, o sulco era interrompido em alguns lugares; para isso Rômulo levantava a relha; esses intervalos chamavam-se portae, as portas da cidade.
Sobre o sulco sagrado, ou um pouco atrás, levantam-se depois muralhas, também sagradas. Ninguém poderá tocá-las, mesmo para restaurá-las, sem permissão dos pontífices. De ambos os lados dessa muralha, um espaço de alguns pés é reservado à religião; chamam-no pomoerium; não se permite passar por ali a charrua, nem levantar ali construção alguma.
Não podemos supor razoavelmente que esses ritos tenham sido imaginados pela primeira vez por Rômulo. Pelo contrário, é certo que muitas cidades antes de Roma foram fundadas da mesma maneira. Varrão disse que esses ritos eram comuns ao Lácio e à Etrúria. Catão, o Antigo, que, para escrever seu livro Origines, havia consultado os anais de todos os povos italianos, informa-nos que ritos análogos eram observados por todos os fundadores de cidades. Os etruscos possuíam livros litúrgicos, onde estava consignado o ritual completo dessas cerimônias.
Os gregos, como os italianos, acreditavam que o local de uma cidade devia ser escolhido e revelado pela divindade. Assim, quando queriam fundar alguma, consultavam o oráculo de Delfos. Heródoto assinala como ato de impiedade ou de loucura o fato de o espartano Dória ter ousado construir uma cidade “sem consultar o oráculo, e sem praticar nenhuma das cerimônias prescritas”, e o piedoso historiador não se surpreende ao ver que uma cidade assim construída, contra as regras, não tenha durado mais de três anos. Tucídides, recordando o dia da fundação de Esparta, menciona os cantos piedosos e os sacrifícios daquele dia. O mesmo historiador nos diz que os atenienses possuíam ritual particular, e que jamais fundavam uma colônia sem obedecê-lo. Pode-se ver em uma comédia de Aristófanes um quadro bastante exato da cerimônia usada em tais casos. Quando o poeta imaginou a alegre fundação da cidade das Aves, pensava certamente nos costumes que eram observados na fundação das cidades dos homens; assim, pôs em cena um sacerdote que acendia o fogo invocando os deuses, um poeta que cantava hinos, e um adivinho que recitava oráculos.
Pausânias percorria a Grécia nos tempos de Adriano. Chegando a Messênia, fez com que os sacerdotes lhe contassem a história da fundação da cidade de Messena, e assim nos transmitiu sua narrativa. O acontecimento não era muito antigo; dera-se nos tempos de Epaminondas. Três séculos antes os messênios haviam sido expulsos de seu país, e desde esse tempo viviam dispersos entre os outros gregos, sem pátria, mas guardando com piedoso cuidado seus costumes e sua religião nacional. Os tebanos queriam reconduzi-los ao Peloponeso, para estabelecer um inimigo ao lado de Esparta, mas o mais difícil era fazer com que os messênios se decidissem. Epaminondas, que os conhecia como homens supersticiosos, achou bom espalhar um oráculo, que predizia a esse povo a volta para a antiga pátria. Aparições miraculosas atestaram que os deuses nacionais dos messênios, que os haviam traído à época da conquista, voltavam a ser-lhes favoráveis. Esse povo tímido decidiu-se então a voltar para o Peloponeso, atrás de um exército tebano. Mas tratava-se de saber onde levantariam a cidade, porque nem se podia pensar em reocupar as antigas cidades do país: elas haviam sido manchadas pela conquista. Para escolher o lugar em que se estabeleceriam, não tinham o recurso ordinário de consultar o oráculo de Delfos, porque a Pítia estava do lado de Esparta. Por felicidade, os deuses possuíam outros meios de revelar suas vontades; um sacerdote dos messênios teve um sonho, no qual um dos deuses de sua nação lhe apareceu, e lhe disse que ia estabelecer-se sobre o monte Itoma, e que convidava o povo a segui-lo. Sendo assim indicado o local da nova cidade, restava ainda conhecer os ritos necessários para a fundação, mas os messênios os haviam esquecido; eles não podiam, aliás, adotar os dos tebanos, nem de outro povo qualquer, e não sabiam como construir a cidade. Muito a propósito, outro messênio sonhou que os deuses mandaram que se dirigisse ao monte Itoma, procurasse um seixo, que se encontrava ao pé de um mirto, e cavasse a terra nesse local. Ele obedeceu, e descobriu uma urna, e nessa urna folhas de estanho, sobre as quais se encontrava gravado o ritual completo da cerimônia sagrada. Os sacerdotes imediatamente fizeram cópias, e o inscreveram nos livros sagrados. E ninguém deixou de acreditar que a urna fora ali depositada por um antigo rei dos messênios, antes da conquista do país.
Uma vez de posse do ritual, iniciou-se a fundação. Os sacerdotes, em primeiro lugar, ofereceram um sacrifício; invocaram os antigos deuses de Messênia, os Dioscuros, o Júpiter de Itoma, os antigos heróis, os antepassados conhecidos e venerados. Todos esses protetores do país, aparentemente o haviam abandonado, de acordo com as crenças dos antigos, no dia em que o inimigo tomou posse de suas terras; conjuraram-nos então a voltar. Pronunciaram-se fórmulas, que deviam ter por efeito determiná-los a habitar a nova cidade em comum com os cidadãos. Isso é que era importante: fixar os deuses em sua companhia era o que mais lhes importava, e podemos acreditar que a cerimônia religiosa não tivesse outra finalidade. Assim como os companheiros de Rômulo cavaram um fosso, e acreditaram depositar nele seus antepassados, assim os contemporâneos de Epaminondas chamavam a si seus heróis, seus antepassados divinos, os deuses do país. Acreditavam assim, por meio de fórmulas e de ritos, ligá-los ao solo que iam ocupar, e encerrá-los dentro dos limites que iam traçar. O primeiro dia transcorreu com esses sacrifícios e essas preces. No dia seguinte traçaram-se os limites, enquanto o povo cantava hinos religiosos.
Surpreendemo-nos, à primeira vista, quando vemos nos autores antigos que não havia cidade, por mais antiga que fosse, que não pretendesse conhecer o nome do fundador e a data da fundação. É que uma cidade não podia perder a lembrança da cerimônia sagrada que havia marcado seu nascimento, porque cada ano celebrava esse aniversário por um sacrifício. Atenas, como Roma, também festejava seu dia natalício.
Muitas vezes acontecia que colonos ou conquistadores se estabeleciam em uma cidade já construída. Não tinham necessidade de construir casas, porque nada lhes impedia a que ocupassem as dos vencidos. Mas eram obrigados a observar a cerimônia da fundação, isto é, tinham de assentar o próprio lar, e fixar em sua nova morada os deuses nacionais. É por isso que lemos em Tucídides e em Heródoto que os dórios fundaram Esparta, e os jônios Mileto, embora esses dois povos tenham encontrado as cidades já construídas, e muito antigas.
Esses costumes nos dizem claramente o que era uma cidade no pensamento dos antigos. Fechada dentro de limites sagrados, estendendo-se ao redor do altar, a cidade era o domicílio religioso, que recebia deuses e homens. O que Tito Lívio dizia de Roma, qualquer um podia dizer da própria cidade, porque, se havia sido fundada de acordo com os ritos, recebera em seu recinto os deuses protetores, que estavam como que implantados em seu solo, e não deviam abandoná-lo jamais. Toda cidade era um santuário; toda cidade podia ser chamada santa.
Como os deuses estavam para sempre ligados à cidade, o povo não devia abandonar nunca o local onde seus deuses estavam fixados. A esse respeito havia um acordo mútuo, uma espécie de contrato entre deuses e homens. Os tribunos da plebe disseram certo dia que Roma, devastada pelos gauleses, não era mais que um montão de ruínas, e que a cinco léguas dali havia uma cidade completamente construída e bela, bem situada, e sem habitantes, desde que os romanos a haviam conquistado; era necessário, pois, abandonar Roma destruída, e mudar para Veios. Mas o piedoso Camilo respondeu-lhes: “Nossa cidade foi fundada religiosamente; os próprios deuses designaram seu lugar, e nela se estabeleceram em companhia de nossos pais. Embora em ruínas, ela é ainda a morada de nossos deuses nacionais.” — Os romanos ficaram em Roma.
Algo de sagrado e de divino ligava-se naturalmente àquelas cidades que os deuses haviam levantado, e que continuavam a impregnar, com sua presença. Sabemos que as tradições romanas prometiam a Roma a eternidade. Cada cidade tinha tradições semelhantes. Todas as cidades eram construídas para serem eternas.
Autor: Fustel de Coulanges - A Cidade Antiga . Fonte: Ebooks Brasil
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