sábado, 13 de setembro de 2008

O Touro Negro dos Chifres Dourados

O uso de máscaras de animais na Arte é um aspecto atávico que remonta à adoração de Deuses bestiais nos tempos primitivos. Da mesma forma há evidência de que a Arte Antiga tradicional herdou a sabedoria antediluviana estelar ensinada aos primeiros humanos pelos Deuses Antigos.
Essencialmente, a Arte Antiga herdou de forma adulterada e corrompida os símbolos e crenças do tráfego com “Aqueles que são de Fora”, o qual foi filtrado ao longo de muitos períodos históricos e tradições esotéricas diferentes. Essa sobrevivência é mais forte nos padrões genéticos e espirituais daqueles indivíduos que trazem astralmente a marca secreta. Essa marca é um símbolo da sua herança mágica, como o “povo serpente”. Eles são os membros verdadeiros do “sangue de bruxa”, herdado fisicamente ou pela reencarnação da alma.
O Deus Cornífero das bruxas era popularmente conhecido como o Sátiro Negro ou o Homem de Preto no sabá medieval das bruxas. O Cornífero da Arte Sabática é a Grande Serpente de Luz que guia seus discípulos à Gnose do despertar supremo e ao objetivo final de unidade com o Ente Supremo.
Como uma divindade cornífera, o Deus das bruxas é quase exclusivamente representado como o Deus Veado gaulês Cernunnos. Entretanto, no passado, o Deus também era representado na forma zoomórfica de um cachorro preto, um gato, um bode, um carneiro e um touro. A adoração ao Deus touro remonta a um passado muito antigo.
Na Idade do Bronze na Europa, a adoração ao touro era muito difundida. Ele representou o símbolo primário da virilidade e potência masculinas como um dos zoomorfos da força da vida solar e do deus da tempestade e do trovão. Na Idade do Bronze, petróglifos do touro são retratados ao lado de discos e rodas solares. Na Idade do Ferro, as imagens do touro são igualmente comuns. Para os povos celtas, o Deus touro era associado ao sol, ao trovão, ao céu e ao fogo.
Na Europa setentrional, o gado sempre foi muito apreciado como um indicador de riqueza e prestígio tribal, evidenciado nas grandes oferendas de touros sacrificados feitas no período romano-britânico. Imagens de um Deus touro, geralmente com uma serpente chifruda, são frequentemente encontradas na Grã-Bretanha nesse período e são mais comuns que Deuses veados.
Esses são apenas alguns dos muitos sinais evidentes do culto do touro na Europa. Entretanto, sob esses sinais externos, repousam estratos misteriosos mais profundos e talvez menos visíveis, nos quais a imagem do touro assume uma majestade particularmente pressagiosa, como a personificação dos segredos da eternidade, do tempo e da precessão celestial dos equinócios. Esses aspectos são preservados dentro de um complexo de ritos populares antigos, procissões rituais desordenadas e frenesis mascarados.
O Touro Negro da desordem pertence ao assustador complexo cerimonial da “charivari”, aparência teriantrópica e cultos e rituais incontroláveis da [Caçada Selvagem]. Estes representam o nodo limiar divino das Doze Noites em pleno inverno como o “tempo entre os tempos”, a reversão para a expiação primitiva na qual toda a distinção dualista profana entre as formas e as estatísticas mundiais são misticamente inválidas e nulas. Entre o passado, presente e o futuro, à Meia-Noite ou hora das bruxas, quando o relógio bate 13 vezes, o ano mesocósmico começa. Então ocorre a separação dos limites dividindo os vivos e os mortos, os humanos e os não-humanos e o fenômeno e o nômeno. A Saturnália em pleno inverno é a recuperação temporária da época do rei Saturno ou Cronos, os primórdios do tempo.
De acordo com os ensinamentos dos neoplatonistas o primeiro reinado de Saturno representou a bem-aventurada plenitude de Nous, a Mente Pura do Divino. Esse é o Sabá Divino (shabbatu, zabat, shabbathai- a esfera de Saturno) no qual o velho Touro era o Senhor sintetizando a Mente Arrebatadora da Desordem. O Mais Velho é o Senhor liminar do Tempo e da Eternidade, e Ele preside além dos circuitos de transformação temporal, acima das incansáveis estrelas circumpolares que descrevem as vastas revoluções do ciclo do progresso.
Do templo anglo-romano do Deus Mithra aos bailes de máscaras do sudoeste da Inglaterra, do culto à estrela Setian do antigo Egito às procissões com máscaras do Boeuf Gras na Paris medieval, o Touro Negro de Chifres Dourados é o símbolo eterno dos Mistérios da Saturnália. Os sabás das bruxas no período medieval incorporava uma misteriosofia antinomiana envolvendo a subversão ou reversão total dos estados de realidade objetivos habituais, foi uma ruptura dos limites da normalidade a fim de ocasionar o esclarecimento gnóstico. Isso se traduziu em um ethos de desordem e revolta contra a falsa autoridade dos poderes do mundo profano.
Idries Shah alegou que o culto europeu medieval de bruxaria havia sido fortemente influenciado por origens árabes, ocorrendo supostamente durante os séculos VII ao XIV, quando a Espanha e o norte da África estavam sob influência dos mouros. Essa influência veio de bando de nômades ascetas, chamados de culto dos Dois Chifres ou dos Chifres Duplos pelas autoridades islâmicas. Esse rituais envolviam danças em círculo no sentido anti-horário, acompanhadas de tambores, citações de orações muçulmanas de trás para a frente e invocações a El Aswad, o Homem Negro. Cerimônias noturnas eram realizadas “onde os dois caminhos se cruzavam”, e esses encontros eram conhecidos como zabbats, “o forte ou poderoso”. Esses magos árabes se formaram em uma irmandade clandestina que, juntamente com os sobreviventes pagãos, supostamente criaram o culto medieval das bruxas.
Autor: Michael Howard e Nigel Jackson
Livro: Os Pilares de Tubalcaim, pg. 163-174. Ed. Madras.

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