Na parede da caverna, uma pintura rupestre mostra um sacerdote em estado de êxtase, incorporando o Deus Antigo, o mesmo Deus cultuado pelas bruxas modernas, mas que vem sendo diminuído ou negado por algumas vertentes que tentam transformar a Wica em um monoteísmo matrifocal, como se não bastasse termos que combater o monoteísmo patriarcal, cujas religiões vivem difamando o Paganismo, a Bruxaria e a Wica.
Isso acontece por causa da falta de informação ou da excessiva exposição da visão diânica ou da visão eclética. Por causa dos traumas causados pela Igreja, as pessoas se tornaram refratárias às estruturas religiosas, elas procuram por qualquer coisa que alimente a ilusão da liberdade e, ao mesmo tempo, forneça soluções fáceis, simples e imediatas.
A tradição vem dos ciclos da natureza, da fertilidade do solo, do crescimento das plantações, sem o que nós morreríamos. O mito do Deus reflete esse ciclo em oito sabás, no qual celebramos o nascimento, maturidade, morte e renascimento do Deus. Partindo desse ponto, eu descreverei as formas que o Deus se manifesta.
O Deus como o Senhor dos Mortos
Na época do Sanhaim, o Deus está no Submundo como Osíris, Hades e Plutão. Ele abre a porta entre os mundos, permitindo que os que desencarnaram possam seguir sua jornada, tal como Anúbis, Janus e Caronte. Sem essa ajuda, as sementes não dão lugar ao broto, nessa época se celebra tudo aquilo que abriu a mão de sua existência para que a vida continue.
O Deus como o Senhor do Inverno
Na época do Yule, novas sementes e almas vão se maturando para nascerem, mas a terra está fria e estéril. Nesse momento, aprendemos o quanto a vida é preciosa e frágil, do quanto precisamos usar com sabedoria para preservar, da importância da vida comunitária e do compartilhar alimento. Com o Deus no Submundo, a Deusa deve descer, reverenciá-lo, amá-lo. O Deus escolhe renascer através da Deusa, após fertilizá-la, para ensinar aos deuses e aos homens o mistério da existência.
O Deus como o Senhor da Fertilidade
Na época de Ostara, o campo está propício para as sementes eclodirem e para os animais acasalarem. Assim como os brotos, o Deus ressurge renovado da Deusa e ele nos convida a nos juntarmos à festa, fazendo música e amor. Ele também traz a chuva que irá garantir o vigor e a produção dos novos brotos. Ele se manifesta como a Criança da Promessa, para nos ensinar a cuidar de nossos descendentes.
O Deus como Senhor da Fartura
Em Beltane, a plantação está crescida e surgem as flores, indicando os frutos que serão colhidos. Ele se manifesta como o sol e é representado pelo Rei Carvalho, vencendo seu gêmeo, o Rei Azevinho, na competição pela Deusa no mito poético. Este é um momento para agradecer pela abundância que os Deuses nos dão, nos preparando para a colheita e a estocagem.
O Deus como o Senhor do Ágape
Em Litha, celebra-se a colheita, onde o Deus se manifesta como o Homem Verde, o Senhor da Ceifa, nos lembrando que morte e vida estão interligadas. Ele é também o Senhor das Feras, o Senhor da Caça e se manifestando como o corço sagrado para nos lembrar do sacrifício que deve ser feito anualmente.
O Deus como o Senhor da Providência
Em Lammas, começa-se a estocar os alimentos e a limpar o terreno de raízes e troncos. O sol fica mais distante, chega o outono e a terra se cobre de folhas mortas. Aqui e ali, o Deus fornece raízes, sementes, ervas e cogumelos para manter seu povo durante a estiagem.
O Deus como o Senhor da Severidade
Em Mabon, não há quase mais caça, todas as plantações secaram. O pouco que é colhido ou caçado é preservado em compotas ou salgado. As carnes mais gordurosas são defumadas para usar a banha como calefação e combustível para as casas.
A natureza é a base dos mitos e os mitos são a base da religião, transmitidos pela tradição oral. Mantenha a Wica tradicional.