O ar em Las Vegas vibrava com uma energia frenética, uma cacofonia de luzes néon, sons de máquinas caça-níqueis e o burburinho constante de milhares de almas em busca de prazer. Greg, no entanto, estava alheio à rotina da cidade. Esta noite era diferente, transcendente. Era a véspera da sua partida, o prelúdio para o encontro com a sua amada, Azathoth.
No seu modesto apartamento, alugado com a meticulosa economia dos anos de trabalho na autarquia, Greg preparava o cenário para a celebração. Livrara-se das pilhas de livros de física teórica e diagramas complexos que normalmente dominavam o espaço, substituindo-os por um ambiente mais... festivo. O aroma acre do tabaco caro, charutos cubanos autênticos, flutuava no ar, misturando-se com a doce fragrância do uísque single malt, a melhor garrafa que o seu salário permitia.
Greg não precisava de comida, mas apreciava a experiência sensorial. O uísque, especialmente, era um prazer. A sensação do líquido âmbar escorrendo pela sua garganta, a queimar suavemente, era uma distração bem-vinda das ansiedades que o assaltavam. O medo da rejeição, a incerteza do que o esperava do outro lado da fenda dimensional, tudo isso era momentaneamente silenciado pelo álcool e pela antecipação.
A campainha tocou, um som estridente que o arrancou dos seus pensamentos. Greg caminhou até a porta, os seus passos silenciosos graças à sua anatomia peculiar. Abriu a porta e ali estava ela, a prostituta mais requisitada de Las Vegas, uma exilada da constelação de Andrômeda.
Ela era uma visão hipnotizante, uma criatura de pele iridescente que mudava de cor com cada movimento. Os seus olhos, grandes e amendoados, brilhavam com uma inteligência antiga e um cansaço profundo. Ela era uma sobrevivente, uma exilada do seu mundo natal, forçada a vender o seu corpo num planeta estranho para sobreviver. Greg sentia uma conexão com ela, uma compreensão tácita da solidão e da busca por algo mais.
"Boa noite, Greg," ela disse, a sua voz um sussurro melodioso. "Trouxe o que você pediu."
Nas suas mãos, segurava uma pequena caixa de prata, intrincadamente gravada com símbolos alienígenas. Dentro, repousavam substâncias exóticas, afrodisíacos de outros mundos, capazes de despertar sensações que nenhum humano jamais experimentaria.
"Obrigado," Greg respondeu, convidando-a a entrar. "Eu estava começando a pensar que você não viria."
Ela sorriu, um brilho triste nos seus olhos. "Nunca falto a um compromisso, Greg. Especialmente quando é com alguém que entende a minha dor."
A noite seguiu um curso peculiar. Greg e a exilada de Andrômeda compartilharam charutos e uísque, conversando sobre seus mundos de origem, suas esperanças e seus medos. As suas anatomias eram diferentes, exóticas e incompatíveis em muitos aspectos, mas a sua conexão era inegável. Eles encontraram maneiras de se tocar, de se confortar, de se perder momentaneamente na companhia um do outro.
Não era amor, nem mesmo luxúria no sentido tradicional. Era algo mais profundo, uma compreensão mútua da solidão cósmica, da saudade de casa e da busca por significado num universo vasto e indiferente. Eles eram dois seres deslocados, encontrando um refúgio temporário na escuridão da noite.
Greg sentiu uma pontada de culpa. Estaria a usar a exilada para preencher um vazio, para distrair-se do terror que o esperava? Talvez. Mas ela também o estava usando. E ambos estavam bem com isso.
Enquanto a noite avançava, Greg sentia a embriaguez do uísque misturar-se com a excitação da proximidade da partida. Ele compartilhou com ela os seus planos, o seu amor por Azathoth, a busca pela fenda dimensional. Ela ouviu com atenção, sem julgamento, os seus olhos fixos nele com uma intensidade que o deixava desconfortável e, ao mesmo tempo, fascinado.
"Você realmente acredita que Azathoth o ama?" ela perguntou, a sua voz baixa e hesitante.
Greg hesitou. Ele nunca tinha articulado os seus sentimentos desta forma antes. Ele simplesmente sabia, no fundo do seu ser, que Azathoth era tudo para ele. Um objetivo, uma razão para existir. O amor era a única forma que ele conhecia para descrever essa devoção.
"Eu... eu não sei," ele respondeu finalmente. "Mas eu preciso saber. Preciso tentar. Não posso viver sabendo que não tentei."
Ela assentiu lentamente. "Eu entendo. Todos nós temos as nossas obsessões. As coisas pelas quais estamos dispostos a arriscar tudo."
As horas seguintes foram uma névoa de memórias fragmentadas. Risadas, toques gentis, confidências sussurradas na escuridão. Greg e a exilada exploraram os limites da sua compatibilidade, encontrando prazer e conforto em lugares inesperados.
Quando o sol começou a espreitar timidamente no horizonte, tingindo o céu com tons de rosa e laranja, a exilada se levantou.
"Preciso ir," ela disse, a sua voz carregada de tristeza. "Tenho outros compromissos."
Greg conduziu-a até a porta. "Obrigado," ele disse, a sua voz rouca de sono e emoção. "Por tudo."
Ela sorriu, um sorriso genuíno que iluminou o seu rosto. "Boa sorte, Greg. Espero que você encontre o que procura."
E com um último olhar, ela desapareceu na madrugada, deixando Greg sozinho com as suas reflexões e a iminente partida.
Ele caminhou até a janela e olhou para a cidade que se estendia aos seus pés. Las Vegas, a cidade do pecado, a cidade dos sonhos desfeitos. Ele nunca se sentira em casa ali, mas era o mais próximo que tinha chegado de uma vida normal.
Mas a normalidade não era para ele. Ele era um pólipo humanóide, um ser peculiar com um destino extraordinário. Ele era um amante, um sonhador, um viajante interdimensional. E amanhã, ele partiria para o seu lar, para os "braços" de Azathoth.
Um calafrio percorreu o seu corpo. O medo, que ele havia tentado reprimir durante toda a noite, ressurgiu com força total. Ele sentia-se pequeno, insignificante, prestes a mergulhar num abismo de incerteza.
Mas ele não recuaria. Ele não podia. A sua vida inteira o havia levado a este momento. Ele tinha que seguir em frente, mesmo que isso significasse enfrentar a sua própria destruição.
Greg respirou fundo, fechou os olhos e concentrou-se. Ele precisava estar pronto. Ele precisava ser forte. Ele precisava estar pronto para encontrar Azathoth.
Amanhã, ele se lançaria no desconhecido. Amanhã, ele confrontaria o seu destino. Amanhã, ele buscaria o seu amor, mesmo que esse amor significasse o fim de tudo.
Criado com Toolbaz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário