Ao contrário de muitos colegas meus, não pretendo ser profeta ou sacerdote das minhas crenças, ou de crenças ocultas, ou das Trevas. Pretendo, antes de tudo, plantar a dúvida e a crítica que qualquer um pode ter e são as únicas coisas sagradas, quando consideramos o gênero humano. Melhor que falar com parábolas sacras, falo então por sonhos profanos, já que nestes estão minha morada, já que nas Trevas cresço em inteligência e sabedoria. Que caiba a cada culpado reconhecer seu papel nas aventuras e caiba o jugo ao leitor esperto.
Terminarei minhas visagens, tendo que avisar mais a mim mesmo. Como os personagens para a consciência, serei esquecido por muitos, meus avisos ecoarão no vazio desértico de suas cabeças.
Não é sem propósito que minhas palavras e a consciência, estarão sendo continuamente sepultadas pelos senhores da sociedade. Já que o poder destes se garante pela repressão e pelos comodismos. Já que estão apoiados pelo Império das Luzes, contra quem a crítica e a dúvida perturbam sua superfície plana, sua película frágil de religiosidade pelo bem, sua casca de austeridade social, sua escama de fé hipócrita e podre num deus martirizado. O que escrevo pode não ser verdade, mas fere a filosofia fácil e nebulosa do Império das Luzes e alquebra o poder mesquinho e absurdo dos senhores da sociedade. Continuarão a esmagar seus semelhantes em nome de interesses obscuros, que não são do interesse de milhões, mas assim se faz em nome da Nação e do Estado. Coisas que, supostamente, deveriam ser do povo, mas que na verdade, não são mais do que os senhores da sociedade como as idealiza, a serviço de seus propósitos.
O mundo não faz sentido, já devia saber muito bem. Compreendê-lo, por mais que tente explicá-lo, muitas questões ainda surgirão insolúveis. Só tenho a certeza de que estou fora deste jogo. Dificilmente poderei entrar, qualquer que seja o método ou o meio, de romper as fronteiras e atravessar suas portas. Uma vez fora, melhor posso observá-lo; uma vez fora, dirão que tenho alucinações, ou que criei de mim mesmo este mundo. Escolhido de vontade, uma vida e um pensamento, nada me está reservado, que não a mendicância ou o asilo de loucos. Nada mais anormal que saber pensar e escolher independentemente, que mercado, acostumado a ordens e ideais aguados, iria querer roer os ossos da dúvida e beber o vinagre da crítica? Os motivos dados serão muito variados, mas isso não comuta minha pena, cuja condenação é morte por esquecimento e fome.
Cabe a cada um decidir seu rumo, ainda que contra um deus ou toda uma sociedade, contra toda história, que é escrita por regras preestabelecidas.
Uma vez que escrevo, estou assumindo a responsabilidade destes pensamentos como meus, como os riscos que trarão. Não deverá, de forma alguma, caso haja um futuro mais racional, as futuras gerações, regenerarem-me, cultuarem ou fazerem monumentos ou efígies meritórias a mim. Primeiro que não sou memória nem pretendo estar em museus de qualquer ordem. Depois que não sou mais que uma casca com um vácuo por alma. Além do mais, o mérito deve ser feito, não lembrado, em cultos ao intelecto, do qual quero ficar bem longe. Devem ter somente o que escrevi neste livro e o que foi lido pelos olhos, à parte, farão cada leitor, seus apontamentos, nada mais do que uma referência ou base, deve ser meu livro e minhas obras.
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