terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Festivais romanos - Janeiro

Em 9 de Janeiro se celebrava a Agonalia, em honra ao Deus Janus, de quem o mês ganhou o nome e a quem os Romanos pediam por conselho. Na tradição religiosa de Roma Antiga Agonalia era um festival celebrado várias vezes ao ano em honra de várias divindades, como Janus e Agonius, os quais os Romanos costumavam evocar nos seus empreendimentos importantes. Neste festival era oferecido um carneiro, a pessoa que o oferecia era o rex sacrificulus e o local onde era oferecido era a regia. O carneiro era a vítima oferecida aos Deuses guardiões do Estado, o rex sacrificulus e a regia podiam ser nomeados apenas para estas cerimônias como se estivessem conectados com os Deuses mais poderosos e afetasse a saude de todo o Estado.
Em 11 e 15 de Janeiro se celebrava a Carmentalia. Carmentalia era a festa de celebração da Deusa Romana Carmenta, um antigo oráculo que foi posterioremnte deificado pelos Romanos. Carmenta era evocada em seu templo no Capitólio como Postvorta e Antevorta, epítetos que tem referencia ao poder dela de olhar para o passado e para o futuro. A festividade era principalmente observada pelas mulheres.
A Carmentália era a festa de Carmenta, uma Deusa de culto muito antigo, cuja função inicial era de proteger as mulheres durante o parto. Compartilhava este cargo com as Deusas Antevorta e Postvorta, assim denominadas pela posição que o bebê podia tomar no parto. Talvez pela associação com as Parcas Gregas, que predizem o destino dos homens no momento de seu nascimento, ou talvez por causa da etimologia de seu nome (carmen=canção ou verso, que era a forma como os oráculos eram ditos na Roma Antiga).[Associação Nova Acrópole][link morto]
De 24 até 26 de janeiro se celebrava a Sementivae. Sementivae, conhecida também como Feriae Sementivae ou Sementina dies, era o festival romano da semeadeira.
Estes dias de folga eram observados todos os anos, mas não em dias fixos, tinha seu início marcado pelos magistrados ou sacerdotes.
Era celebrado em honra a Ceres e Tellus. A primeira metade do evento era um festival em honra a Tellus. O festival em honra a Ceres ocorria uma semana após. A Sementina Dies era observada na época da semeadura em Roma com o objetivo de orar por uma boa colheita. Durava por um dia, o qual era fixado pelos pontífices. Ao mesmo tempo a Paganalia era observada no reino. Fonte: wikipédia [edição e tradução da casa]

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Janus, o senhor de Janeiro

Na mitologia romana, Janus (ou Ianus) era o Deus dos portais, passagens, entradas, começos e términos. Sua lembrança mais proeminente na cultura moderna é o mês de Janeiro. 

Etimologia
Janus e Jana eram um casal de divindades, adorados como o sol e a lua, quando eram lembrados como os Deuses mais poderosos e recebiam seus sacrifícios antes de todos. Janus e Jana são formas variantes de Dianus e Diana.

Origens e natureza
O culto a Janus é um dos mais antigos conhecido dos povos itálicos. Os Romanos associavam Janus com a divindade Etrusca Ani. Entretanto, ele era um dos poucos Deuses Romanos que não tinha uma contraparte ou mitologia análoga.
Muitos pesquisadores sugerem que ele era como o Deus mais importante no panteão arcaico Romano. Janus era usualmente simbolizado com duas cabeças olhando para direções opostas. Em geral, Janus era o patrono dos começos concretos e abstratos, como a religião e os Deuses em si mesmos, do mundo e da vida humana, das eras históricas e empreendimentos econômicos.
Ele era frequentemente usado para simbolizar mudança e transição como a progressão do passado para o futuro, ou de uma condição a outra, de uma visão a outra, o crescimento dos jovens e de um universo a outro. Ele era conhecido também como uma figura representando o tempo porque ele podia ver o passado com uma face e o futuro com outra. Portanto, Janus era adorado no início da colheita e da sementeira, como também casamentos, nascimentos e outros começos. Ele era a representação do equilibrio entre barbaridade e civilização, campo e cidade, juventude e maturidade.
Na Idade Média, Janus era também tomado como o símbolo de Genova, cujo nome em latim era Ianua, bem como de outras comunidades italianas. Fonte: wikipédia [tradução por conta da casa]

domingo, 28 de dezembro de 2008

A revolução que broxou


Introdução [no bom sentido]

De todos os fenômenos de natureza social e cultural que afetaram o comportamento nas sociedades ocidentais durante o século XX, o mais importante foi a chamada Revolução Sexual. Séculos de repressão criaram uma maneira de viver antinatural e neurotizante. A libertação tornou-se, assim, uma necessidade da espécie e sua urgência se manifestou tanto em termos teóricos quanto práticos. As descobertas da psicanálise foram radicalizadas e muita gente transformou suas próprias vidas nesse processo.

Por que revolução?

Não há dúvidas de que a chamada Revolução Sexual começou, no plano teórico, com as ideias de pensadores como Freud e Reich, num primeiro estágio, e continuou com Herbert Marcuse e Norman O. Brown, num estágio mais avançado. Mas ela só ganhou verdadeiro significado para a civilização ocidental quando atingiu grandes segmentos da população, modificando a mentalidade e, principalmente, o comportamento das pessoas. O principal objetivo é a eliminação, ou pelo menos a diminuição, da repressão sexual - que Freud via como um mal necessário à civilização, e Reich como um instrumento do domínio exercido por uma classe dominante sobre o todo da sociedade. A aspiração, em suma, é por uma maior liberdade sexual. Essa aspiração sempre foi experimentada como uma necessidade crucial pela maioria das pessoas que, porém, tradicionalmente optavam entre duas alternativas mórbidas - as que lhes eram normalmente oferecidas: ou se submetiam de corpo e alma à repressão, o que originava distúrbios psíquicos, que iam da neurose generalizada até extremos psicóticos mais graves, ou procuravam atender às solicitações naturais do instinto em segredo, escondidos de modo hipócrita e mentiroso, o que levava a uma cisão interna de tipo esquizóide. De qualquer maneira, a repressão sexual sempre levou à doença psíquica. O combate à repressão e a aspiração pela liberdade sexual significam, portanto, uma busca decidida da saúde psíquica, que exige sinceridade consigo próprio, honestidade de propósitos e principalmente coragem. Essas qualidades sempre marcaram aquelas pessoas que, de diferentes maneiras, se notabilizaram como o que poderíamos chamar de revolucionários sexuais. Além da audácia do espírito em busca da liberdade, a chamada Revolução Sexual foi favorecida por avanços tecnológicos, como o advento da pílula anticoncepcional. Assim, a derrubada de práticas obscurantistas, como o tabu da virgindade, a justificação de crimes passionais em nome da honra e outras aberrações de comportamento do mesmo quilate, passou a ser um objetivo prioritário das novas gerações. Essas mudanças marcaram o século XX e, embora incompletas, abriram caminho para uma libertação mais ampla e saudável nos primeiros anos do século XXI.

A Contracultura

Para os jovens dos anos 60, a geração que se caracterizou por seu interesse em sexo, drogas e rock and roll, e cujo slogan favorito era make love, not war, o sexo vinha indiscutivelmente em primeiro lugar. A liberdade sexual foi o traço de comportamento que melhor caracterizou o flower power. Costuma-se caracterizar essa geração, a da contracultura, pelas drogas. É bem verdade que o uso de drogas naturais mais leves, como a maconha, ou de drogas sintéticas criadas com propósito de tratamento psiquiátrico, como o LSD, foi bastante disseminado. Mas não era essencial para o movimento, nem sequer seu principal objetivo. A experiência com estados alternativos da consciência era apenas uma aventura capaz de atrair uma geração de jovens cujo fascínio pelo inusitado, pela exploração de áreas da experiência humana estranhas aos seus pais, foi sem dúvida marcante. Mas não era sua necessidade mais urgente. Na verdade, a necessidade mais urgente era por uma gratificação sexual plena, satisfatória. A geração da contracultura foi a primeira a colocar em questão a tradição do amor romântico, passivamente aceita por todas as gerações anteriores. A descoberta da possibilidade de se amar várias pessoas ao mesmo tempo e ter uma vida afetiva mais rica, mais diversificada, foi a grande revelação. Todo mundo podia transar com todo mundo. Essa liberdade inédita, a famosa permissividade da contracultura, foi duramente criticada pelas gerações anteriores como promiscuidade e degeneração. É possível que, em muitos casos, tal crítica tivesse até algum fundamento, mas, de maneira geral, o que se descobriu foi simplesmente a capacidade do instinto para autorregular-se, para estabelecer espontaneamente seus próprios limites e os mecanismos de autocontrole porventura necessários, sem a imposição artificial de uma repressão externa. A liberdade sexual não acarreta necessariamente uma orgia permanente de maneira que ninguém faça mais nada na vida a não ser trepar o tempo todo. Isso só é assim na imaginação dos reprimidos. Na realidade dos que experimentaram essa liberdade, como os jovens da contracultura, há também moderação, equilíbrio e tempo de sobra para se fazer outras coisas. A experiência da contracultura forneceu a evidência mais palpável, até hoje, da possibilidade de uma cultura governada pelo princípio do prazer e não pelo princípio da realidade, gerador de neurose. Ou seja: pode-se dizer que a experiência da contracultura foi a primeira experiência capaz de desmentir, na prática, a suposição de Freud de que não pode haver cultura sem repressão. A possibilidade de uma cultura libidinal, não-repressiva, cuja idéia é exposta e desenvolvida por Herbert Marcuse em Eros e Civilização, é fundamental, decisiva para os destinos de nossa civilização. Ou continuamos a nos afundar no pântano da neurose coletiva, com suas manifestações secundárias de violência e doença a que estamos assistindo todos os dias, em toda parte, ou conquistamos a liberdade necessária para criar uma maneira de viver mais saudável e mais feliz.

A repressão sexual

Ainda nos anos 30, Herbert Marcuse já considerava, a exemplo de Reich, a repressão sexual como uma das características mais importantes da ordem social exploradora. Sua crítica do dualismo ocidental enfatizou não só a miséria econômica, mas também a miséria sexual perpetuada e racionalizada pela metafísica dualista, através da noção de "pecado". Segundo Marcuse, o embotamento da sensualidade resulta na atrofia e embrutecimento de todos os órgãos do corpo humano. A repressão da sexualidade contribui assim para a manutenção de uma ordem social repressiva em todos os seus aspectos. Além disso, Marcuse acentuou a correlação direta entre a repressão da sexualidade e a erupção da agressão, nas formas mórbidas do terror sádico e da submissão masoquista. A violência é consequência da repressão sexual. Só quando a libido é forte e não-sublimada, só quando se permite à sexualidade ser livre, tanto quantitativamente no sentido de uma vida sexual mais intensa, como qualitativamente como uma sexualidade mais variada (polimórfica), só nessas condições é que a agressividade e destrutividade geradas pela repressão podem ser reduzidas.

Visão Antropológica

O húngaro Geza Roheim nasceu em Budapest, em 1891, e foi discípulo de Sandor Ferenczi, um dos grandes pioneiros da psicanálise junto com Adler e Jung. Roheim dedicou-se à Antropologia e foi atraído pelas descobertas de Freud, criando em 1915 o que chamou de "antropologia psicanalítica". Segundo Roheim, o homem se distingue dos outros animais por sua prolongada infância; essa dependência primordial é a origem da repressão. "Quanto mais prolongado for o período de íntima associação entre pais e filhos, maiores serão os efeitos dinâmicos do trauma a ser controlados", diz ele. Com Freud (e contra Reich) ele aceitou a inevitabilidade da repressão mas manteve, intransigentemente, que a civilização exagerou em seu papel ao exigir uma repressão muito maior do que a necessária. Na sua obra fundamental, A Origem e a Função da Cultura, de 1943, a prolongada infância do homem e sua demorada dependência é tomada como ponto de partida. O processo civilizatório é, no fundo, um esforço do homem para compensar o sentimento de perda que experimenta ao separar-se da mãe. Todos os esforços civilizados do homem são, na realidade, tentativas de retornar ao ventre materno. Por outro lado, o medo da morte é a manifestação final do horror do homem em ser abandonado sozinho no escuro. Em Animismo, Mágica e o Rei Divino, de 1930, Roheim já havia mostrado que a política é uma espécie de magia negra. O líder político emerge das profundezas do inferno. É um descendente dos feiticeiros e a ciência política, por conseguinte, é um ramo da demonologia. Roheim não era um cientista frio. Pelo contrário: ficava violentamente indignado com a repressão imposta pela sociedade sobre os indivíduos. Uma cólera reprimida caracterizava seu estado de ânimo. A mensagem central de sua obra é que pagamos um preço excessivamente alto pela civilização. A tolerância sexual do homem primitivo, ao contrário, é a medida e a fonte de sua felicidade. Apesar de suas privações, ele resolveu o problema da vida em comum de maneira muito mais satisfatória do que o homem civilizado. Para Roheim, a civilização moderna, com seus métodos "insanos" de educação, sua repressão da sexualidade e sua "moralidade de esfíncter" criou um homem doente. A cultura é uma neurose e as neuroses individuais são "uma supercultura", um exagero do que é especificamente humano.
Fonte: Cama na Rede [link morto]

Nota: O artigo falha ao não analisar de como ficou a dita Revolução Sexual nos dias de hoje. Talvez por ter passado tanto tempo reprimido pelo pensamento puritano, a humanidade não assimilou os princípios da Revolução Sexual, não houve a preocupação em trabalhar na conscientização do indivíduo e da coletividade (da sociedade) para se reformular os tabus e as proibições, as pessoas simplesmente se atiraram na permissividade e na liberalidade, cujas consequências fizeram retornar o puritanismo e a repressão, aumentando a violência e os desvios sexuais.

sábado, 27 de dezembro de 2008

A Gens e o Estado em Roma

Segundo a lenda da fundação de Roma, a primeira fixação no local foi a de certo número de gens latinas (cem, diz a lenda), reunidas em uma tribo. Logo se uniu a esta uma tribo sabina, de cem gens, ao que também se diz, e por último uma tribo composta de elementos diversos, igualmente de cem gens.
O conjunto da narração revela, à primeira vista, que não havia nada ali espontaneamente formado, exceto a gens, que, mesmo ela, em muitos casos, não passava de um ramo da velha gens-mãe, que tinha permanecido no antigo território.
As tribos levavam a marca de sua composição artificial, ainda que, em sua maioria, estivessem formadas de elementos consangüíneos e consoante o modelo da antiga tribo de formação natural (e não artificial); por certo, não fica excluída a possibilidade de que o núcleo de cada uma das três tribos acima mencionadas pudesse ser uma autêntica tribo antiga.
O escalão intermediário, a fratria, contava dez gens e chamava-se cúria. Eram trinta as cúrias. Pelo menos nos primeiros tempos da cidade, a gens romana tinha a seguinte constituição:
1. Direito de herança recíproco entre os gentílicos; a propriedade permanecia na gens.
Dada a vigência do direito paterno, na gens romana, da mesma forma que na grega, os descendentes por linha feminina eram excluídos na herança.
Segundo a Lei das Doze Tábuas - o mais antigo monumento conhecido do direito romano - em primeiro lugar herdavam os filhos, como herdeiros diretos que eram; não havendo filhos, herdavam os agnados (parentes por linha masculina); e, na falta destes, os demais membros da gens.
Em caso algum, a propriedade saía da gens. Aqui observamos a gradual infiltração nos costumes gentílicos de novas disposições legais, criadas pelo crescimento da riqueza e pela monogamia; o direito de herdar, a principio igual para todos os membros de uma gens, restringiu-se, em um tempo bastante remoto, aos agnados, e depois aos filhos e netos por linha masculina.
Na Lei das Doze Tábuas essa ordem aparece invertida, naturalmente.

2. Posse de um lugar coletivo para os mortos. A gens patrícia Cláudia, ao emigrar de Régilo para Roma, recebeu, além de uma área de terra que lhe foi assinalada dentro mesmo da cidade, um local para o sepultamento dos seus mortos.
Até nos tempos de Augusto, a cabeça de Varo, falecido na floresta de Teutoburgo, foi trazida a Roma e enterrada num túmulo gentílico (gentilitius tumulus), o que demonstra que a sua gens (a Quintília) ainda tinha o seu jazigo particular.

3. Solenidades religiosas em comum. Chamavam-se sacra gentilitia e são bem conhecidas.

4. Obrigação de não casar dentro da gens. Em Roma, parece que jamais se chegou a defini-la em lei escrita, mas era estabelecida como costume. Dos inúmeros casais romanos cujos nomes chegaram aos nossos dias, não é conhecido um único caso em que o marido e a mulher tenham o mesmo nome gentílico.
Outra prova dessa regra é a do direito de herança, na forma com que era adotado: a mulher saía da gens ao casar-se, perdia seus direitos agnáticos, nem ela nem os filhos que tivesse poderiam herdar de seu pai (dela) ou dos irmãos deste.
A gens não podia perder os gens dos seus membros que morressem, como aconteceria fatalmente se outras leis de herança prevalecessem. E essa regra não teria sentido se a mulher não fosse impedida de casar com um membro da sua gens.

5. Posse da terra em comum. Existiu sempre nos tempos primitivos, desde que se repartiu o território da tribo pela primeira vez. Entre as tribos latinas, encontramos o solo possuído em parte pela tribo, em parte pela gens, em parte por casas, que na época dificilmente seriam de famílias individuais.
Atribui-se a Rômulo a primeira divisão de terra entre indivíduos, á razão de dois jugera para cada um (mais ou menos um hectare).
Mais tarde, contudo, vamos encontrar a terra ainda em mãos da gens, e isso sem falar nas terras do Estado, em torno das quais gira toda a história interna da república.

6. Obrigação dos membros da gens de se ajudarem mutuamente e de se socorrerem. Na história escrita vamos encontrar apenas vestígios disso: o Estado romano, desde sua aparição, manifestou-se bastante forte para chamar a si o direito de proteção contra as ofensas.
Quando Ápio Cláudio foi preso, sua gens inteira vestiu luto, inclusive seus inimigos pessoais. E, ao tempo da segunda guerra púnica, as gens se associaram para pagar ,o resgate de seus membros aprisionados, mas o senado proibiu-as de fazê-lo.

7. Direito de usar o nome gentílico. Manteve-se até a época dos imperadores.
Aos próprios escravos alforriados era concedida permissão para usar o nome gentílico de seus antigos senhores; conquanto não lhes correspondessem, é claro, quaisquer direitos gentílicos.

8. Direito de adotar estranhos na gens. Era a adoção por uma família (como entre os índios americanos), que trazia com ela a adoção pela gens.

9. Direito de eleger e depor o chefe, não mencionado em parte alguma. Como, porém, nos tempos primitivos de Roma, todos os postos começando pelo de rei, eram preenchidos por eleição ou aclamação, e até os sacerdotes das cúrias eram eleitos por elas, é razoável que admitamos o mesmo quanto aos chefes (príncipes) das gens, ainda que pudesse ser regra eiegê-los de uma mesma família.

Conforme dissemos, dez gens formavam uma fratria, que aqui se chamava cúria e tinha atribuições mais importantes que as de sua correspondente grega. Cada cúria tinha suas praticas religiosas, seus santuários e sacerdotes; estes últimos, constituídos num organismo, formavam um dos colégios sacerdotais romanos. De dez cúrias se compunha uma tribo, que originalmente, como as demais tribos latinas, deve ter tido um chefe eleito - supremo comandante na guerra e grão-sacerdote. O conjunto das três tribos era o povo romano, o populus romanus.
Desse modo, ninguém podia pertencer ao povo romano se não fosse membro de uma gens e, conseqüentemente, de uma cúria e de uma tribo.
A primeira constituição desse povo foi como se segue. A gestão dos negócios públicos era da competência do Senado, composto dos chefes das trezentas gens, conforme Niehbur foi o primeiro a compreender; por serem dos mais velhos em suas gens, estes chefes chamavam-se patres, pais; o conjunto deles ficou sendo o Senado (de senex, velho - conselho dos anciãos).
A escolha habitual do chefe para cada gens no seio das mesmas famílias criou, também aqui, a primeira nobreza gentílica. Essas famílias chamavam-se patrícías e pretendiam para elas a exclusividade no Senado e ocupação dos demais cargos públicos.
O fato de que, com o tempo, o povo se fosse submetendo a tais pretensões e deixasse que elas se transformassem em direito real é, a seu modo, uma explicação da lenda que dizia ter Rômulo, desde o início, concedido aos senadores e aos descendentes dos mesmos os privilégios do patriciado.
O Senado, tal como a bulê ateniense, tinha poderes para decidir em muitos assuntos e proceder á discussão preliminar dos mais importantes, sobretudo das leis novas. Quem as votava, contudo, era a assembléia do povo, chamada comitia curiata (comícios das cúrias).
O povo se reunia, agrupado por cúrias, e em cada cúria provavelmente por gens, cada cúria contando com um voto na decisão das questões.
Os comícios das cúrias aprovavam ou rejeitavam todas as leis, elegiam todos os altos funcionários, inclusive o rex (o chamado rei), declaravam guerra (mas a paz era concluída pelo Senado) e, na qualidade de Supremo Tribunal, julgavam as apelações nos casos de sentença de morte contra cidadão romano.
Por fim, ao lado do Senado e da assembléia do povo, ficava o rex, correspondendo exatamente ao basileu grego - e de modo algum um monarca quase absoluto, como no-lo apresenta Mommsen.
O rex era também chefe militar, grão-sacerdote e presidente de certos tribunais; não tinha funções civis ou poderes de qualquer espécie sobre a vida, a liberdade e a propriedade dos cidadãos, desde que tais direitos não proviessem da sua condição de chefe militar no exercício de funções disciplinadoras ou de presidente de tribunal no exercício de atribuições judiciárias. As funções de rex não eram hereditárias e sim eletivas; as cúrias escolhiam o rex em comício, provavelmente de acordo com uma proposta do seu predecessor, e empossavam-no solenemente em outra reunião.
Também podia ser deposto, como prova o que aconteceu a Tarquínio, o Soberbo. Tal como os gregos da época heróica, os romanos no tempo dos chamados reis viviam, portanto, numa democracia militar baseada nas gens, nas fratrias e nas tribos, e desenvolvida a partir delas. Embora as cúrias e as tribos possam ter sido, em parte, formadas artificialmente, nem por isso deixavam de estar constituídas de acordo com o modelo genuíno e natural da sociedade de que se originaram, modelo que ainda as envolvia por toda parte.

Engels, Frederich. A Origem da Família, da propriedade privada e do Estado.


Nota: Nota-se que a gens era importante aos latinos sim, porque ligava o indivíduo à sua origem familiar, mas curiosamente houveram lutas entre as gens latinas, pelo domínio da região e, com a vitória dos Romanos, veio o Império Romano onde a gens recebeu seu valor como instituição social.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Bruxaria e Anarquia

Este é o último tópico feito como reflexo da leitura do livro de Stuart Clak, Pensando com Demônios, especialmente levando em conta os dois últimos capítulos que envolvem Política e Religião, no que eu vejo uma premente necessidade de inserir uma auto-crítica.
Em diversos tópicos deste blog existem críticas no tocante ao que idealmente eu conceituei como grandezas humanas que deveriam funcionar independentemente ou isoladamente. Mas aqui neste blog cabem também auto-críticas e eu devo substancialmente refazer este (pre)conceito. Política e Religião, como tudo que envolve ações e pensamentos humanos, acabam interferindo, influenciando, interagindo uma com a outra. O que nós devemos repensar, então, é a forma como estas se relacionam.
Tendo isto em vista, fica mais fácil entender os períodos da Idade Média e início da Idade Moderna, onde o Estado e a Igreja repartiam entre si o poder mundano e espiritual do mundo conhecido. Depois das revoluções, o conceito de Estado e as organizações políticas modificaram substancialmente, sem sinais de que venha a existir uma definição exata ou precisa de suas fronteiras ou futuros.
Pode ser que, nesse futuro, possamos tratar de forma diferente a relação entre Política e Religião, mas até lá eu preciso reiterar meu lado acadêmico e lembrar que a Política - como grandeza humana - também faz parte da Religião. A postura dos neopagãos em relação ao ambiente é uma posição política. Com essa permissão, passo ao ensaio ousado de equiparar a Bruxaria com a Anarquia.

Não-dogmatismo: "Toda a posição do anarquismo ... tolera variações e rejeita a idéia de gurus políticos ou religiosos. Não existe um profeta fundador a quem todos devam seguir. Os anarquistas respeitam seus mestres, mas não os reverenciam, e o que distingue qualquer boa compilação que pretenda representar o pensamento anarquista é a liberdade doutrinária com que os autores desenvolveram idéias próprias de forma original e desinibida."[WOODCOCK, George. Os grandes escritos anarquistas. Rio Grande do Sul: L & PM Editores Ltda, 1981. pg. 54. citado na wikipédia]
A Bruxaria nunca teve profetas, santos, messias ou qualquer outra forma de autoridade. Mesmo Gerald Gardner não pleiteou ser um profeta fundador ou ser o único e verdadeiro bruxo. Ele apenas passou aos seus aquilo que ele aprendeu, o que inclui o respeito aos mestres e a inclusão de técnicas desenvolvidas pelos iniciados.

Apoio mútuo: Aqui podem ser inseridos os princípios do humanismo, da liberdade, da autonomia, da vida comunitária. Com humanismo, entende-se que a base da sociedade está nas pessoas, na comunidade.
Na Bruxaria, as pessoas viviam em comunidades feita de indivíduos que se conheciam e tinham uma relação muito próxima. Cada um e todos trabalhavam pelo bem de toda a comunidade e a comunidade ajudava quem precisava.
Em tempos difíceis, a comunidade escolhia um líder, um chefe, que exercia temporariamente o cargo de rei, juiz e sacerdote, mas sempre zelando pelo bem comum.
Com liberdade, entende-se que a base da lei está na consciência da responsabilidade individual e coletiva.
Na Bruxaria, as pessoas tinham e recebiam condições para desenvolver laços comunitários, o que dispensava aparatos repressores, o que tornava possível cada indivíduo desfrutar a liberdade.
Com autonomia, entende-se que cada grupo se auto-regulamentava e se adaptava às condições, o que não significa estar fechado nem separado do contexto mais amplo, territorial ou regional. Na Bruxaria, as pessoas podiam experimentar e conhecer novas técnicas, quando empreendiam a viagem a outros covens como aprendizes e essas novas técnicas eram livremente expostas à comunidade, para serem avaliadas.
Com vida comunitária, entende-se como a livre associação de indivíduos com interesses e objetivos em comum, de acordo com as concessões e acordos entre os indivíduos e o grupo como um todo.
Na Bruxaria, as pessoas não eram obrigadas a aceitar as crenças e práticas do grupo ou da região, tanto o indivíduo quanto o grupo podiam decidir em que acreditar ou o que praticar.

Revolução: A Anarquia é perseguida por causa de suas propostas políticas de um Estado efetivamente na mão do povo, de todos.
A Bruxaria tem sido perseguida porque é, como a Religião Antiga, a manifestação de uma crença e prática legitimamente popular.
Desde que as cidades e as civilizações foram se desenvolvendo, as pessoas foram perdendo seus poderes para a elite.
Tal como a Anarquia, a Bruxaria é uma revolução porque postula o Estado não na mão de poucos, mas de todos; postula a Religião não na mão de poucos, mas de todos; postula a Sociedade não na mão de poucos, mas de todos; postula a Constituição não na mão de poucos, mas de todos; postula a Justiça não na mão de poucos, mas de todos; postula a Prosperidade não na mão de poucos, mas de todos; postula a Felicidade não na mão de poucos, mas de todos e (principalmente) postula o Prazer não na mão de poucos, mas de todos.

sábado, 20 de dezembro de 2008

IO SATURNÁLIA!

O Natal genuíno tem origem na grande cerimônia da Saturnália, uma das celebrações mais festivas e desinibidas da Romanidade, que marcava o aniversário da dedicação do templo de SATURNO.
Durava sete dias e incluía o Solstício de Inverno.
Quem a preside é SATURNO, o Deus da semente e da semeadura (e, por extensão, do semen), derivando o Seu nome, provavelmente, de "Satus" ("brotado de" ou "semeado"). A Sua celebração ocorria no final da última semeadura do ano.
A Sua esposa é OPS, o recurso alimentar do qual os Romanos usufruíam após a colheita do Verão. A Opália tem lugar a 19 de Dezembro.

Na época romana, acreditava-se que tais Divindades, saídas das profundezas do solo, vagassem em cortejo por todo o período invernal, isto é, quando a terra repousava e era inculta por causa das condições atomosféricas. Deviam então ser aplacadas com a oferta de presentes e de festas em Sua honra e, além disso, induzidas a retornar ao outro mundo, onde teriam favorecido as colheitas da estação estiva. Tratava-se, em suma, de uma espécie de longo "desfile de carnaval".

O templo de SATURNO continha a estátua do Deus, recoberta de óleo, o que constituiria eventualmente uma técnica de preservação; estava além disso envolvida em laços de lã, que eram desfeitos no dia do Seu festival.
Macróbio diz que isto simboliza a semente que tinha estado nas entranhas e que brota no décimo mês, que era Dezembro, como o próprio nome do mês indica, isto no antigo calendário, no qual o primeiro mês do ano era Março.
O templo de SATURNO também continha o tesouro do Estado ("Aerarium Saturni").
A SATURNÁLIA, o "melhor dos dias" era iniciada neste templo com um grande sacrifício, no qual os senadores e os cavaleiros usavam as togas. Os sacrifícios a SATURNO eram realizados "Graeco Ritu", isto é, de acordo com o Rito Grego, ou seja, com a cabeça descoberta ("capite aperto"), segundo o que diz Plutarco em "Questões Romanas". Tal fato pode derivar da identificação de SATURNO com o grego CRONOS, Rei da Idade do Ouro, que é um aspecto de SATURNO especialmente importante durante a SATURNÁLIA.
A seguir ao sacrifício, realizava-se um banquete ("convivium publicum", ou "convivium dissolutum"), ao qual toda a gente podia ir e que parece ter sido estabelecido em 217 AC.
Lívio diz que se realiza nesta ocasião um "lectisternium", ou seja, um banquete oferecido aos Deuses em certas cerimónias solenes ou em sinal de reconhecimento, em que as estátuas dos Deuses são colocadas em leitos junto das mesas.
Neste dia, usavam-se roupas menos formais ("synthesis") e capas leves ("pilei"); as pessoas enchiam as ruas gritando "Io Saturnalia!".A alegria reinava; encerravam-se lojas, tribunais, escolas, e os aedis permitiam a jogatina em público.

Nas casas com servos, os donos tratavam-nos como iguais. No seio da família, juntamente com os escravos, escolhia-se um rei momo, ou "Saturnalicius Princeps", que usava máscara e trajava de vermelho (a cor dos Deuses), o que não deixa de fazer lembrar o atual Papai Noel. Na verdade, esta igualdade, e por vezes inversão social (escravos a serem servidos por senhores) seria mais simbólica e religiosa do que propriamente social e real, pois que na maior parte dos casos eram os escravos que preparavam o banquete e, por detrás da desordem festiva, permanecia a sólida ordem romana.
Ofereciam-se presentes, tais como pequenos objectos de cerâmica, incluindo bonecas de cerâmica ("sigillaria") às crianças (especialmente nos sextos e sétimos dias). Aos amigos, davam-se velas de cera ("cerei"). Catão recomendava que se concedesse aos subordinados uma ração adicional de 3+1/2 de vinho ("vinum familiae").[wikipédia]
Fonte: Gladius

Nota: Caturo faz excelentes textos, quando se atém ao assunto dos costumes e crenças antigas, mas não quando dá vasão aos seus impulsos xenófobos. A noção de que política e religião não se misturam é um ideal que está longe do real, mas isto fica para o próximo tópico.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

A mesmice de ser diferente

Em outro tópico eu brinquei comparando o clima meteorológico com o clima das festas de fim de ano.
Pois bem, um dos outros sintomas dessa época é a chamada "resolução de ano novo", onde as pessoas fazem um planejamento das coisas que querem realizar e das coisas que querem mudar. Algumas dessas mudanças são de ordem pessoal: mudança de hábitos, de costumes, de estilos de vida.
As pessoas querem melhorar, querem mudar, querem ser diferentes, mas esperam chegar o fim do ano para prometerem se esforçar em atingir esse objetivo...no ano que vem, quando por todo o ano que passou, tiveram essa oportunidade a cada dia!
Dependendo da situação e do contexto, ser diferente não é tão bom, pois isso carrega consigo um estigma, uma discriminação, um preconceito, que se manifestam através da exclusão ou de outras formas de agressão social, verbal ou fisicamente.
As mudanças ocorrem em diversas épocas de nossa vida, algumas são constantes e cíclicas, outras são um marco de passagem que irá transformar nossas vidas radicalmente.
A primeira mudança acontece quando trocamos o núcleo familiar por um núcleo grupal, trocamos o comportamento familiar por um comportamento grupal.
Nós ficamos tão obcecados em busca de uma identidade própria, de uma auto-afirmação que achamos que, para isso, precisamos entrar em choque, em conflito, com nossa família, com a comunidade.
Essa suposta contestação se reflete na linguagem, no vestuário, no gosto musical, na expressão artística, nos valores, na cultura e até na religião.
Nós queremos tanto sermos diferentes que não percebemos que acabamos nos tornando iguais. Ser diferente não é novidade alguma, essa mania da individualidade teve início na Renascença, com o Humanismo e o Iluminismo.
E no fim, nós apenas imitamos, nos tornamos iguais aos que pertencem à quele grupo, àquela "tribo urbana" que nós escolhemos, seja por afinidade, seja por modismo, seja por contestação.
A segunda mudança acontece quando nos vemos com outras responsabilidades, outros compromissos e outras prioridades, ampliamos nossos horizontes, nossas perspectivas, nossa noção de grupo.
Entramos em uma escola, em um curso, em uma faculdade, em um trabalho, novos ambientes sociais aos quais teremos que nos adaptar, nos adequar, nos modificar.
Pode-se dizer, então, que nós nos modificamos não para sermos diferentes, mas para sermos aceitos, reconhecidos por esse ambiente social.
Fazer mudança é uma opção, ser diferente é um compromisso. Para ser diferente é preciso ter auto-estima, determinação, persistência.
O respeito à esta opção vem com o tempo e com muito trabalho. A opção de se tornar neopagão não é uma curtição, se tornar bruxo não é da hora, se tornar wiccano não é bacana. Quem opta por esse caminho vai estar em uma sociedade sexualmente doente, governada por políticos corruptos e espiritualidade reprimida pela Igreja. Mas se você quer realmente o melhor para a humanidade, para a comunidade, saia das trevas e venha para a luz.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

As raizes do nacionalismo

As idéias de nação e pátria eram completamente desconhecidas por nossos antepassados. Esta ideologia foi totalmente forjada pelas elites seculares e sacerdotais.
Na Idade Clássica, os nossos antepassados tinham o costume de agregar ao seu nome o nome da cidade onde nasceram porque as cidades por serem o centro da riqueza e da sabedoria lhes conferiam prestígio.
Com o advento do Império Romano veio o conceito de gens, com os nomes vinculados ao nome de uma família, o que estipulava a situação social do indivíduo.
Foi no Império Romano que se fundou o vínculo entre Estado e Igreja. Por meio do decreto e da espada se fundiu o exercício da cidadania com a crença religiosa.
A riqueza e o poder do Império Romano certamente atraíram a cobiça e a ganância dos reis da então Europa bárbara e pagã.
Foi pelos sonhos destes reis por conquista, poder e riqueza que começaram as invasões destes povos, não em nome da reconquista de territórios ou pela independência das colônias romanas.
Esses reis tiranos, em troca do reconhecimento de suas coroas, ofereceram à Igreja Cristã Romana a alma dos seus súditos.
Então a Cristianização da Europa foi fundamental para a formação da unidade desses povos bem como para a formação da identidade em comum entre eles.
Cidades e reinos independentes sucumbiram nas guerras de unificação promovidas pelos tiranos seculares e sacerdotais.
Nesse contexto surgiu a idéia de que a Coroa (o rei) é a Pátria (a nação) e a defesa de ambos é um dever diante de Deus. Eram muito comuns cerimônias coletivas públicas de juramento de fidelidade ao rei, à Coroa, à Nação e à Deus.
A transição da Idade Clássica, marcada pelo Império Romano, para a Idade Média, marcada pelos Impérios Bárbaros, trouxe diversas mudanças para a cultura da Europa com a imposição do modelo romano.
A fortuna do indivíduo dependia de sua linhagem familiar e da intrincada relação de vassalagem. Os reis aumentaram seu poder e influência através das guerras, apelando ora à Pátria, ora à Coroa, ora à Deus.
Com o desenvolvimento do comércio, da ciência e da tecnologia o modelo econômico feudal deu espaço ao modelo econômico industrial, a estrutura social aristocrática de lugar à estrutura social burguesa, a política monárquica absolutista deu lugar à política democrática republicana, mas os mesmos ideais de pátria e nação foram mantidos através do juramento de fidelidade à Constituição, sem os quais os conflitos das Guerras Mundiais seriam impossíveis.
A guerra civil que ocorreu na então Yugoslávia é a maior evidência que essa identidade nacional é um engôdo. A Yugoslávia foi dividida em regiões autóctones conforme as "identidades" que os grupos majoritários arbitráriamente se arrogavam.
Portanto, a exacerbação do nacionalismo e do patriotismo fazem parte do fenômeno do Cristianismo e do Monoteísmo, sendo ideologias incompatíveis com o Neopaganismo e o Politeísmo.
Mesmo na época do Império Romano não tinha essa xenofobia contra o "estrangeiro" ou o "imigrante" como tem surgido nos governos contemporâneos.
Mesmo na época do Império Romano não tinha essa intolerância e fundamentalismo contra a diversidade das crenças religiosas como tem surgido nas religiões monoteístas contemporâneas. E nós nos julgamos mais cultos e civilizados do que eles.
Discriminação, exclusão, preconceito, intolerância, fanatismo, fundamentalismo, ódio e violência não são valores neopagãos e humanos.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O perigo da ideologia política

A mentalidade nacionalista é da mesma índole que a mentalidade racista e que a mentalidade racialista – é baseada na discriminação, no privilégio, na exclusão. Por mais desentendimentos que possam existir entre nacionalistas, ou entre nacionalistas e racialistas, ou entre racialistas, tais divergências situam-se quase sempre ao nível dos conceitos de estirpe, a saber, da determinação de quem pertence ou não ao grupo, até onde se estende o grupo, quem está mais próximo ou mais distante do grupo. Ora discriminar é ver diferenças – é errado ver diferenças? Errado é não o fazer. Privilegiar é dar prioridade a uns sobre outros – é errado tratar melhor os familiares do que os estranhos? Errado é não o fazer. Excluir é pôr de fora – é errado pôr fora de um espaço algo que não pertence a esse espaço? Errado é não o fazer. Certamente que ninguém aceita que um estranho lhe entre em casa e que tenha nessa casa os mesmos direitos que os possuidores do domicílio.[Gladius]

Eu comentei em outro tópico sobre o absurdo dessa posição "etnicista" dentro do Neopaganismo, de forma que neste tópico eu tentarei esclarecer alguns conceitos que frequentemente são confundidos ou distorcidos por uma ideologia política.
A "mentalidade nacionalista" geralmente desconsidera qualquer perspectiva histórica, social ou antropológica daquilo que formou essa Nação e confundir Nação com o conceito de Raça é ignorar completamente a essência da humanidade.
Se formou uma pseudo-identidade étnica na Europa, no fim da Primeira Guerra e se forjou uma pseudo-identidade racial ariana e toda a ideologia nazifascista que jogou o mundo em um pesadelo.
Esse tipo de "identidade" é uma imposição espúria dessa ideologia política, que não tem qualquer vínculo com a ideologia humana e religiosa do Neopaganismo.
Falar em estirpe, em raça, é falso orgulho, é ilusão etnicista. Só há uma raça - a humana. Ver diferenças e discriminar são coisas diferentes. Discriminar é reagir de forma preconceituosa, é ser intolerante, é ofender e agredir algo ou alguém simplesmente pelo motivo fútil de ser diferente.
A diferença não torna algo ou alguém uma ameaça ou um crime. Dar prioridades e privilegiar são coisas diferentes. Privilegiar é dotar um grupo de mais direitos que outros, direitos muitas vezes alegados, impostos ou reclamados sem qualquer embasamento ou razão. Dar prioridades não concede a grupo algum tais privilégios. A prioridade aos que são meus não pode excluir o conjunto da comunidade - no que os "estranhos" estão inclusos. Exclusão não cabe em espaço social algum. Exclusão é sectarismo, nós não podemos agir com essa concepção bairrista, provinciana, regionalista. Exclusão é a soma de discriminação e elitismo, é desumano.
O mundo, a vida, a natureza, a herança, são valores pertinentes a todos os seres humanos. Eu ouso até em dizer que as melhores características do Neopaganismo são seu Politeísmo, sua tolerância e sua inclusão. Portanto Neopaganismo não combina com Nacionalismo, Etnicismo e Racismo capengas.

Fatores do ressurgimento do Paganismo na Europa

Michael Cooper, um professor de estudos cristãos da Universidade Trinity International, dos EUA (Illinois), elaborou em 2004 uma pesquisa a respeito do fenômeno do ressurgimento do Paganismo na Europa Ocidental. Segundo o autor, há mais trabalho a ser feito neste momento. Este primeiro ensaio tem por intuito discutir os fatores que contribuíram para a Ressurgência Gentia, bem como a crítica pagã atual à Cristandade Ocidental, para depois sugerir uma agenda missionária para "ir ao encontro" do Paganismo. O autor começa por dizer que o Neo-Paganismo nasce das antigas tradições européias num contexto pós-cristão. Ideológicamente, costuma afirmar-se como resistência contra os sistemas globalistas. Há, segundo Cooper, pelo menos cinco factores que contribuíram para esta retorno ao Paganismo no Ocidente. Individualmente, cada um destes vetores não pode ser visto como contribuições definitivas, mas, em conjunto, abriram a porta para ulteriores desenvolvimentos da identidade religiosa:

O carácter incompleto da cristianização

Diz respeito ao facto de a evangelização da Europa se ter feito à custa de muitas cedências aos paganismos locais, isto apesar de, ao mesmo tempo, o Cristianismo ter sido sempre intolerante para com os cultos religiosos indígenas, intolerância essa que se observa inclusivamente no pensamento de duas das maiores figuras intelectuais da Cristandade, Agostinho e Tomás de Aquino, ambos apoiantes da conversão ativa dos pagãos, tendo o segundo feito a apologia da supressão de outras religiões por meio do uso da força para alcançar tal efeito. Dum modo ou doutro, muito do que era pagão foi ficando, aberta ou disfarçadamente, no seio da cultura popular e também da erudita. Como dizia Alain de Benoist, "o Paganismo nunca esteve muito longe de nós, tanto na História como na mente sub-consciente, e também no ritual, na literatura, etc..."

O re-encantamento do mundo

Constitui uma reacção ao desencantamento do mundo suscitado pelo Cristianismo mais puro e duro que no dealbar da Idade Média se afastou decididamente de tudo o que fosse pagão. O Racionalismo e Cientificismo contribuíram para a dessacralização do mundo, ao negarem sistematicamente toda e qualquer visão sagrada da realidade, o que por sua vez conduziu ao laicismo e ao relativismo absoluto. Sucedeu entretanto que, ao contrário do que os positivistas e irreligiosos previam, a sociedade ocidental não se está a tornar hoje menos religiosa, antes pelo contrário - retorna o espírito do sagrado, do encantamento, ou seja, observa-se, segundo Cooper, o "reencantamento" da sociedade ocidental. A modernidade fica pois para trás, com a sua insuficiência em dar um sentido superior à vida, sendo substituída pela pós-modernidade, que é uma ânsia por uma nova consciência histórica, tradicional, continuadora duma memória mais antiga. Assim se entende, segundo outro autor citado por Cooper, o ressurgimento do Paganismo, que é, diz, uma espécie de escape ao mundo moderno urbano, na ideia de que o Cristianismo tem pouco ou nada a oferecer no que respeita aos grandes ciclos da Natureza.

A globalização

Tem a ver com uma interação entre culturas num contexto de homogeneização do mundo. Michael Cooper faz sua a teoria de que as raízes da globalização remontam aos séculos quinze e dezesseis com a expansão européia em todo o planeta e consequente colonização e imitações culturais. E os fluxos culturais acabam por não ser apenas do Ocidente para fora e são também de fora do Ocidente para dentro: tal como a Europa influenciou outras partes do globo, agora há outras partes do globo a influenciar a Europa e seus derivados. O resultado disto acaba por ser uma legitimação da existência de várias visões do mundo, e assim se vai estabelecendo uma cultura de pluralismo.

A incapacidade do Cristianismo

Explica-se pela insuficiência da doutrina cristã para responder às grandes questões dos Europeus da época pós-cristã. Há quem adira ao Paganismo como rejeição do Cristianismo, o qual oprimiu a Europa por demasiado tempo, rebaixando a mulher e desrespeitando o ambiente, mercê do seu desprezo pela Natureza e consequente dessacralização da mesma, observável na "desmitologização" da realidade. Philip Carr-Gomm sugere que o ressurgimento do Paganismo deve-se à queda das religiões estabelecidas que não são capazes de ir ao encontro das necessidades espirituais das pessoas, bem como pela crise ambiental e autoritarismo que trouxeram. Cooper indica, noutra parte do seu trabalho, que cerca de 56% dos jovens europeus vêem o ambiente, a poluição e o aquecimento global como suas principais preocupações. O Cristianismo mutilou as culturas tradicionais, étnicas, ao suprimir os seus vértices superiores, isto é, os seus Deuses. Prudence Jones e Nigel Pennick afirmam que o novo ímpeto pagão constitui uma resposta ao desejo de recolocar a Humanidade no seu contexto maior, que é ao mesmo tempo temporal e espacial, cronológico e físico - físico no sentido em que o mundo natural é uma parte essencial da vivência humana e cronológico no sentido da continuidade com as grandes mentalidades tradicionais, cujas raízes se perdem na noite dos tempos. O Paganismo oferece, segundo estes dois autores, "uma possível filosofia religiosa para uma sociedade multicultural".

A busca da identidade

Durante séculos o Cristianismo ofereceu à Europa uma identidade, mas a rejeição progressiva do Cristianismo faz com que uma busca identitária se inicie. A formação da União Européia parece poder criar uma nova identidade, mas enfrenta um desafio no facto de os Europeus se verem a si mesmos em relação à sua própria etnicidade. O vácuo criado pela queda do Cristianismo, incapaz de lidar com os temas que mais interessam aos Povos, leva a que os Europeus cada vez mais se voltem para outros caminhos que possam preencher o vazio pós-cristão. A grande divulgação das filosofias orientais levou a que se começasse a valorizar vias espirituais alternativas, e o Europeu acaba por se voltar para o fundo mais genuíno de si mesmo, isto é, o do culto aos seus Deuses antigos.
Fonte: Gladius

Nota: Eu já comentei que discordo dessa visão pseudo-nacionalista xenófoba que muitos neopagãos encampam, sem se dar conta que houve diversas "globalizações", como a dos próprios Celtas ou mesmo à dos Romanos. Eu repito: não há, na atualidade, forma alguma de "restaurar" a pureza étnica de povo algum.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Um novo puritanismo?

A nudez pode ser arte ou protesto, pode significar afeto ou defender causas humanitárias. Tornou-se uma manifestação de liberdade vencedora no mundo de hoje. É, portanto, intrigante que ela esteja sendo contestada agora no Brasil por atores e atrizes.
No século XX, em seu esforço para desvendar o inconsciente, Sigmund Freud, pai da psicanálise, disse que o sonho de estar nu em público é comum a todos os homens. Apesar da ligação estreita com vergonha e fragilidade, contudo, não se pode dizer que essas sempre tenham sido as conseqüências da nudez: ao longo da história, em diferentes contextos, o corpo despido também expressou orgulho, desafio ou liberdade.
Nas últimas semanas, a discussão sobre o significado da nudez para os brasileiros ressurgiu de onde não se esperava. Quem pôs o tema em circulação foi o ator Pedro Cardoso, em um discurso durante o lançamento de seu novo filme, Todo Mundo Tem Problemas Sexuais.
Sua tese surge meio deslocada em um tempo em que a nudez em suas várias formas – como os biquínis com tecido insuficiente para fazer uma gravata-borboleta – parece ter vencido. Mas ele atacou com força, sustentando que toda a indústria do entretenimento no Brasil estaria tomada por uma mentalidade "pornográfica", que força os artistas a se expor e assim os degrada.
A nudez está em toda parte. Não deixa de ser intrigante que essa questão esteja sendo discutida no Brasil nos dias atuais. Quando a nudez é aceitável? Quando ela é ofensiva? E quem decide isso? Uma varredura cultural e histórica sobre essas questões nos leva a conclusões surpreendentes.
É errada a idéia de que a "evolução da mentalidade", como dizia a geração que adorava tirar a roupa nos anos 60, vai sempre na direção de mais para menos roupa, de menor para maior permissividade. Cada cultura em cada era tem sua própria etiqueta e suas formalidades. Pruridos somem e reaparecem tempos depois.
Essa é uma das graças da civilização. O Brasil está vivendo uma fase mais recatada? Talvez não seja uma fase. Para o antropólogo Roberto DaMatta, a tese de que o Brasil do biquíni e do Carnaval é particularmente permissivo em relação à nudez é enganosa. Do ponto de vista de sua disciplina, explica ele, o uso de roupas, ou a falta delas, responde a certas molduras ou rituais.
No Carnaval, por exemplo, ninguém está realmente nu enquanto estiver coberto com algum elemento alegórico – ainda que seja a purpurina. E o regulamento da Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro é um eloqüente exemplo das sutilezas envolvidas nas definições da nudez: um destaque pode desfilar com seios, nádegas e tudo o mais à mostra. Mas, se deixar cair o tapa-sexo, comete falta grave e sua escola perde pontos.
"A fronteira entre a nudez aceitável e a obscena é uma dessas questões que não têm solução pronta", diz DaMatta. Vários tipos de justificativa são apresentados quando uma obra de arte com figuras nuas é censurada – do simples pudor até as teorias mais complicadas.
Um argumento clássico é o de que o "nu artístico", ao contrário do "nu vulgar", não desperta sensações carnais no espectador.
Esse argumento foi desmontado pelo crítico inglês Kenneth Clark. "Se um nu deixa de despertar no espectador um vestígio de sentimento erótico, por menor que seja, ele não é apenas arte ruim como falsa moral", escreveu Clark.
Mais recentemente, a crítica americana Camille Paglia sustentou que a grande arte não se mistura apenas ao erotismo, mas, em certas ocasiões, também à pornografia – quando explora "as forças extremas do instinto e da sexualidade atuando por baixo das convenções sociais". Na segunda metade do século XX, um novo fenômeno despontou com os movimentos hippie e beatnik: a nudez como forma de protesto social. Nos anos 80, os protestos envolvendo pessoas nuas passaram a fazer parte do repertório de entidades humanitárias.
Em seu blog, Pedro Cardoso sustenta que a nudez da televisão e dos filmes, na verdade, é uma deturpação de todas as manifestações legítimas da nudez, da arte real às passeatas para proteger os animais. Ela seria algo assim como uma forma de dominação imposta pelo "sistema" – e por isso deveria ser banida.
Nesse ponto, seu pensamento se aproxima do de feministas americanas como Andrea Dworkin e Catherine McKinnon, que atacaram a indústria pornográfica sustentando que ela era um fator de escravização política e econômica da mulher.
O que pode haver são restrições – impedindo que a pornografia, por exemplo, circule em qualquer lugar ou atinja as crianças. Esse é, aliás, o limite para a nudez em sociedades como a americana – ou a brasileira.
Controlá-la para impedir que atrapalhe o desenvolvimento de crianças faz sentido. "A exibição de conteúdo erótico na televisão, ainda que eventual, pode afetar as crianças mais do que se imagina", diz o psicanalista Joel Birman. "Elas são seduzidas sem perceber, e o resultado pode até mesmo ser traumático."
Bani-la para satisfazer adultos melindrosos ou puritanos é um erro (e não é descabido lembrar que a vida ascética costuma ser uma marca dos grandes autoritários.
Fonte: Veja [link indisponível]

Nota da casa: O discurso do ator, a despeito de estar disfarçado de contestação contra a exploração dos atores, da nudez ou da sexualidade, não explica o que ele considera uma "manifestação legítima da nudez" ou mesmo qual a relação entre esta e a ética. A nudez não tem qualquer função ética, pois ela teria que ter uma base moral e qualquer discussão nesse termo acabaria em uma contradição. Discutir a nudez em termos de ética não faz sentido algum porque induziria em considerar a nudez como anti-ética, quando a falta de ética está nas empresas de comunicação de massa, não na nudez em si mesma. Entrar nesse mérito daria ensejo a uma volta à censura, a mais repressão sexual, a mais distorções de comportamentos psicoafetivos, a mais violência sexual. A despeito de suas "boas intenções", o ator endossa um discurso que se pode considerar como neo-puritanismo.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Sonhos de uma noite de inverno

Este tópico vem, com um certo constrangimento de minha parte por não tê-lo feito antes, fazer uma reverência a Patrick Farley e ao seu trabalho entitulado Saturnalia, uma espécie de quadrinhos que tinham como intenção parodiar os panfletos de Jack Chick, que é conhecido por sua intolerância, fanatismo e fundamentalismo que exprime em seus panfletos em prol do Cristianismo. Apesar do fato de não fazermos proselitismo e de uma certa ingenuidade do Patrick, a obra (de 1995) deveria ser uma inspiração aos neopagãos para usar dos meios disponíveis para informar a opinião pública sobre nós. Segue abaixo uma transliteração da obra:

Cena inicial: uma cidade pequena em algum lugar dos EUA

Sra. Murray- Muito bem, crianças. Este será nossa melhor peça de Natal. Agora tirem suas fantasias e não esqueçam de desligar o Menino Jesus antes que sua cabeça derreta. 

Uma mãe- Obrigada, sra Murray. Nós todos apreciamos o esforço que você pôe neste projeto todos os anos.

Sra. Murray- Minha alegria é servir ao Senhor.

Uma mãe- Ei, aquele não é seu novo vizinho, senhor Thompson?

Sra Murray- Oh sim, eu acho que sim... Eu aposto que ele e sua querida esposa gostariam de trazer suas duas crianças para fazer a peça da Véspera de Natal! Será uma boa chance para trazê-los para a congregação! Eu vou pegar meu casaco.

Segunda cena: a sra. Murray sai na rua para conversar com o sr. Thompson.

Sra Murray- Ooooi, senhor Thompson! Olá! Eu sou Martha Murray, a professora da igreja aos domingos! Em nome da congregação, eu gostaria de dar as boas vindas a você e à sua família para a nossa vizinhança.

Sr Thompson- Grato, sra Murray! E por favor me chame de Bob.

Sra Murray- Decorando para as festas, não?

Sr Thompson- Oh sim, é a nossa época do ano favorita! Nós estamos nos preparando para uma grande celebração!

Sra Murray- Eu sabia que vocês eram uma familia religiosa! Por isso que eu queria...ah...convidar...uh...AAAAAHHHH!

Sr Thompson- Sra Murray, algo errado?

Sra Murray- Fique lonje! Oh Senhor Jesus...você me disse que estava decorando para as festas!

Sr Thompson- Mas nós estamos! Hoje a noite é véspera do Solstício de Inverno! Oh...Sandra e eu esquecemos de dizer que nós somos pagãos? [Cena mostrando a casa com uma decoração explicitamente pagã e erótica]

Sra Murray- Tire essa coisa horrível imediatamente!

Sr Thompson- Do que você está falando? Ninguém disse aos Robinsons na rua em frente para tirarem seu Papai Noel grande de plástico!

Sra Murray- Isso é diferente! Este não é um ídolo pagão pervertido! Não é?

Sr Thompson- Ah, sra Murray... quão pouco você sabe... [Segue algumas explicações sobre os símbolos natalinos, suas origens e correlações com o Paganismo. O autor mostra ingenuidade pois é exatamente por causa disso que os cristãos fundamentalistas criticam tanto o Natal]

Sra Murray- Eu não estou interessada em sua bobagem da Nova Era! Eu vou chamar as autoridades e prendê-lo a menos que você tire essa...coisa...imediatamente!

Sr Thompson- Escute, sra Murray...eu sou um cidadão que paga seus impostos e minha liberdade religiosa está protegida pela Constituição! Então você não vai...

Sra Thompson- Bob? O que está acontecendo?

Sr Thompson- Nada, querida.

Sra Murray- Sra Thompson!

Sra Thompson- Sra Murray, você gostaria de um biscoito caseiro de Solstício? Quente e fresquinho, saído do forno! [Cena da Sra Murray olhando para um biscoito de forma fálica]

Sra Murray[correndo]- AAAAAAAAAIIIIIIIIIIIIIIIEEEEEEEEEEE!

Sra Thompson- Não se preocupe, querido.

Terceira cena: a sra Murray começa a espalhar sua rede de intrigas.

uma mulher da congregação: O quê?

Sra Murray: Foi horrível! Chame a congregação! Reunião de emergência hoje à noite! Ore ao Senhor! [Cena da congregação se reunindo na frente da casa do sr Thompson]

um homem da congregação- Este é o lugar. Todo mundo pronto? [A congregação entoa cânticos natalinos]

Sr Thompson- Mas que porcaria? Que vizinhança é esta, onde uma família não pode sequer desfrutar de um ritual da volta do sol na privacidade de seu quintal? [Nota: a idéia do autor de fazer um ritual pagão em um quintal tão publicamente exposto contrasta com a privacidade alegada pelo personagem]

um homem da congregação- Nós não permitiremos esse tipo de abominação em nossa comunidade!

Sr Thompson- Nós interrompemos suas cantigas de Natal? Nós quebramos seus presépios? De onde vocês tiraram a idéia de que podem interferir em nossa religião? Tire a droga de seus dedos de minha cerca, pregador!

Sra Thompson- Querido...esqueça deles! O poder está aumentando...as estrelas estão descendo para nos tocar. E o ouro vermelho flui por entre meus quadris...

Sr Thompson[reverenciando]- Bendita seja minha rainha. [Os filhos dos Thompsons dão uma risada sacana]

Sra Thompson- Deixe que a tolice e a tristeza tomem aquele que acha defeito nisso!

Sr Thompson- Batam mais forte esses tambores, crianças! Papai e mamãe tem que acordar o sol. [Cena dos Thompson em pleno ritual de Solsticio. Papai e mamãe em comunhão carnal enquanto os filhos tocam os tambores. A congregação continua com suas cantigas natalinas]

padre- Senhor, tende piedade destas ovelhas teimosas...

[Sra Murray tenta seguir as intenções da congregação, mas algo parece tê-la afetado]

Quarta cena: a sra Murray desperta nua em um outro plano (astral).

Sra Murray- Onde eu estou? Que barulho é esse? É você!

Deus- Eu retornei. E uma vez que você foi uma boa menina, eu te trouxe um presente... [Deus em sua forma de Rei Azevinho/Papai Noel põe as mãos dentro da calça. Evidentemente o presente é seu falo]

Sra Murray- Eu...eu não posso...eu sou muito velha...

Deus [rindo]- Não há idade aqui pois eu sou mais velho que o próprio tempo e mais jovem que o amanhã. [Deus oferece um enorme falo a sra Murray]

Sra Murray [aceitando e recebendo Deus nela]- Como eu pude sequer esquecer...que o universo...é um eterno...SIM...

uma pessoa da congregação- Ela está voltando a si!

homem da congregação- Martha?

padre- Você desmaiou, Martha!

Sra Murray- Muito obrigada...vocês são tão gentis...feliz Natal para todos! E para todos uma boa noite![Fim]

Nota final: Ao contrário dos panfletos de Jack Chick, a estória termina sem uma conclusão se houve alguma mudança na vida da sra. Murray ou da congregação. Considerando a realidade dos EUA, a família Thompson certamente passaria por outras aventuras e perigos. Como eu disse, a estória é um tanto ingênua, mas cumpre com seu papel. Nessa época de festas de fim de ano, o "clima de confraternização" nos faz sermos melhores do que geralmente somos no resto do ano. Seria bom se pudéssemos sempre manter esse "clima" pelo ano inteiro, mas como o clima na meteorologia, o humor humano é extremamente inconstante - infelizmente muitas vezes por causa da crença, mas a descrença não é uma opção se for igualmente fanática e fundamentalista. A luta, portanto, não é contra uma religião, uma crença ou uma instituição que as representam, mas contra a doença da obsessão cujo sintoma são o fanatismo e o fundamentalismo.