sexta-feira, 17 de junho de 2016

O mistério de Dendera

O templo de Dendera é o mais preservado entre muitos templos egípcios. Foi construído no século I a.C pelo rei Ptolomeu VIII e a rainha Cleópatra II, porém outros monarcas da Época Greco-romana acrescentaram elementos arquitetônico e decorativos. O templo foi dedicado a Hathor, deusa do amor, música, maternidade e alegria. Conforme uns documentos , o primeiro templo de Hathor data do tempo do Antigo Reino sobretudo do reinado do rei Queops. Além disso, e conforme outros textos, havia outro templo construído no reinado de Pepi I da dinastia VI. O templo atual foi construído entre 125 e a.C e 60 d.C, no final da dinastia Ptolomaica, porém encontramos outros nomes como o de – Ptolomeu X, Ptolomeu VI, Cleópatra VII, Augustos, Tiperius, Cáligula e Nero.

O templo de Hathor:
  • 86 m de comprimento e 43 m de largura,
  • está rodeado de uma muralha circundante de barro que tem 290 m de comprimento e 280 m de largura,
  • o portal do templo situado no lado setentrional que projeta da muralha cricundante de barro, e que funciona como a entrada usada atualmente, data do tempo dos imperadores Domiciano, Nerva, e Trajano (século I d.C),
  • na face do portal encontra-se uma cena que ilustra o imperador Domiciano fazendo oferendas de vinho e pássaros perante Hathor, Hórus, Maet, Hor-wer, eIhy,
  • aparentemente o templo não tinha um pilono egípcio com duas torres,
  • o portal de Domiciano dirige a uma área aberta e espaçosa,
  • ao lado direito há ruínas de um Mamisi – casa do nascimento de Hórus – e uma basílica Copta. Ao passar pela área vasta chega-se ao pátio exterior que dirige à Colunata ( a sala hipostila ), a parede externa da colunata está decorada de diversas cenas que ilustram o imperador Tibério perante divindades diferentes, Claudio fazendo oferendas a Hathor e Ihy – o seu filho – e outra vez Tibério adiante de Hathor, 
  • a colunata tem 24 colunas divididas em 6 filas, 3 colunas em cada fila. Cada coluna tem capitel hatórico – capitel em forma da cabeça da deusa Hathor. Entre os relevos mais importantes sobressaem-se as do teto sobre tudo as que ilustram Nut – deusa do céu – em forma de uma mulher com corpo curvado e decorado de estrelas, constelações e signos, 
  • as paredes estão decoradas, geralmente, de cenas que demonstram os reis e imperadores fazendo oferendas ou preces perante Hathor e outras divindades, 
  • a colunata dirige a outra sala menor em tamanho com 6 colunas e contém 3 capelas em cada lado,
  • a primeira capela no lado direito chama-se " Casa da Prata", pois se acredita que os utensílios e equipamentos preciosos de prata e ouro foram armazenados ali, 
  • a primeira capela localizada no lado esquerdo foi conhecida como "o Laborátorio" devido à existência de relevos que representam drogas, medicamentos e receitas de remédios, e além disso neste quarto os perfumes e as essências foram fabricadas, 
  • a segunda capela no lado direito foi conhecida como quarto de oferendas, enquanto a segunda capela no lado esquerdo chama-se "quarto da Recolheita", provavelmente foi um quarto dedicado à armazenagem das recolheitas,
  • a terceira capela no lado direito tanto como a terceira capela no lado esquerdo tinham uma funcão incerta, provavelmente funcionavam como um certo porão do templo, 
  • a segunda Colunata dirige ao primeiro vestíbulo conhecido como a "Sala das Oferendas" o primeiro vestíbulo dirige ao Segundo Vestíbulo conhecido como " Sala das divindades" cujas paredes estão cobertas com cenas que representam o rei fazendo oferendas às divindades,
  • através do segundo vestíbulo chega-se ao santuário do templo, a parte mais sagrada e mais escura do templo. Um quarto quase escuro e pelos relevos das paredes sabemos que o santuário tinha originalmente um sacrário para guardar a imagem ou a estátua da divindade. Este é o lugar onde o alto sacerdote do templo exercia o ritual do serviço diário a deusa Hathor. Como o lugar mais santo do templo ninguém estava autorizado a entrar, menos o alto sacerdote,
  • o santuário está rodeado de 11 quartos dedicados a diversos deuses,
  • o templo tem 32 criptas, 11 apenas estão decoradas, 
  • de volta ao primeiro vestíbulo há um corredor que dirige ao telhado do templo por uma escada. No telhado encontra-se uma capela conhecida como a " Capela da União com o Disco Solar". É uma sala pequena situada no lado sudeste do telhado que tem 12 colunas com capitéis hatóricos e sem teto. Se acredita que com o primeiro dia do ano novo, os sacerdotes levavam as estáuas de Hathor, o seu esposo Hórus e o seu filho Ihy a está sala no telhado para receber os primeiros raios do sol e assim se realiza o processo da união com o sol.
– Dentro do recinto do templo há ruínas antigas de uma Basílica, um Sanatório, além do Lago Sagrado. A Basílica Copta é uma igreja muito destruída que provavelmente foi construída no século V. O teto da basílica caíu. É um edifício pequeno que tinha duas entradas. O átrio da igreja além do santuário estava decorado de estrelas e no fundo da basílica existe ruínas de uma capela.

– A cena mais famosa que estava representada com perfeição no lado ocidental do teto conhecida como o Zodíaco, foi transferida pelos franceses ao Museu do Louvre, agora existe uma réplica que mostra as doze figuras dos signos conhecidos: Leão, Cancer, Escorpião, Virgem, Libra, Capricórnio, Aquário, Peixes, Touro, Aries, Gêmeos e Sagitário.

– O Sanatório de Dendera é um hospício anexado ao templo. É um edifício importante que atraia os peregrinos e passageiros doentes para receberem tratamento médico. Este edifício de ladrilho tem 11 quartos que acomodavam os doentes.

– O Lago Sagrado é um dos elementos fundamentais dos templos egípcios. Situado no lado norte do recinto de Dendera. No Egito antigo todos os sacerdotes tinham que fazer ablução ou purificação com águas do lago sagrado antes de começarem o seu trabalho diário no templo. Além disso, o lago sagrado simboliza às águas ou aquele oceano de que o universo foi criado conforme as crenças egípcias antigas.

– Anualmente, há uma viagem de Hathor através do Nilo (em que o seu temperamento bravio era suavizado por músicas e bebidas) para consumar o seu divino casamento com o deus falcão Hórus, que a aguarda em Edfu (cidade situada a cerca de cento e sessenta quilometros). Esta diligência mítica, que mantinha Hathor afastada da sua morada durante cerca de três semanas, era celebrada pelos egípcios com um festival alegre e faustoso. Procurando reproduzir o trajeto executado pela deusa, a solene procissão seguia então pelo rio, rasgando com uma barca “A Bela de Amor" onde, uma estátua de Hathorse elevava. Os sacerdotes de Edfu preparam o encontro dos esposos, que ocorrerá no exterior do santuário, mais exatamente numa exígua capela localizada a norte da cidade. Este encontro deveria suceder num momento preciso, ou seja, à oitava hora do dia da lua nova do décimo primeiro mês do ano. Quando por fim Hathor abençoa Edfu com a sua magnífica presença e perfuma os lábios de seu esposo com o incenso de um beijo, iniciam-se então as festividades, no decorrer das quais a deusa é aclamada, saudada e inebriada com a música docemente tocada em sua honra.

Original: Um Mundo Distante.

terça-feira, 14 de junho de 2016

Festival da Lua Cheia de Outono

Tsukimi (月见) ou Otsukimi (お 月見) é conhecido como Festival da Lua Cheia de Outono e é relacionado com as fases da lua. No calendário lunar chinês, o festival acontece na noite do dia 15 do mês 8. Já pelo calendário gregoriano, geralmente a data cai entre meados e final de setembro ou no início de outubro.

Neste ano de 2014, o Festival da Lua cheia de Outono, ocorreu no dia 8 de setembro. No ano que vem (2015) será no dia 27 de setembro. Seguindo a tradição, nesta noite são colocados Susuki ( grama de pampas japoneses) e flores de outono em um vaso, além de oferendas de tsukimi dango e sato-imo (batata inhame) colocados no exterior ou em locais onde a lua pode ser vista claramente.

O Festival é feito de forma tranquila, pois nada mais é do que apreciar a lua, que nesta data é considerada a mais linda e brilhante do ano. Tsukimi significa literalmente “Lua-Visão” e os japoneses aproveitam essa data para celebrar a beleza da lua, se reunindo em lugares onde podem apreciar a lua com todo seu esplendor.

História do Festival Tsukimi

Festivais dedicados à Lua têm uma longa história no Japão. Originária da China, esse festival é chamado de Festival do Meio de Outono (Zhongqiu Festival) e é um dos importantes da China até hoje. Foi adotado pelo Japão durante o período Heian (794-1192), onde a lua de outono é chamada de Chushu no Meigetsu (Lua da Colheita) e a noite de lua cheia é chamada de Jugoya.

Era realizado por pessoas da realeza e aristocratas, que se reuniam sob a lua cheia para recitar poesias e compor músicas dedicados à lua. Muitas vezes essas reuniões de “visualização da lua” aconteciam em alto mar, a bordo de embarcações, a fim de ver o reflexo da lua cheia sobre a superfície da água.

Hoje, O-tsukimi também é comemorado em templos e santuários, como o santuário Shimogamo em Kyoto, onde as roupas, danças e músicas remontam o Período Heian. Há também muitos lugares que reúnem pessoas para a “visualização da lua”, como locais de cerimônias do chá e Ryokans em montanhas.

A relação entre o coelho e a lua

O coelho (Usagi é com certeza o maior símbolo do Festival Tsukimi. Os bolinhos de arroz e variadas comidas tradicionais deste dia, lembram um coelho, o que faz a alegria da criançada e dos adultos também. Mas o que ele tem a ver com a lua?

A explicação está no desenho luminoso que aparece na lua nas noites de lua cheia do outono, semelhante a um coelho que soca um pilão para fazer mochi, que acabou fazendo parte do folclore japonês, chamado de “Lua Coelho“. Há também uma lenda muito antiga sobre a origem do Festival da lua cheia do outono.

A lenda do coelho Jade:

Conforme uma lenda budista, certo dia, um velho senhor pediu comida a um macaco, uma lontra, um chacal e um coelho. O macaco colheu frutas e ofereceu ao velho homem, a lontra trouxe-lhe um peixe e o chacal, um lagarto.

Porém, o coelho não havia levado nada, pois as ervas que estava acostumado a comer, não era boa para os humanos. Então, em um ato de sacrifício, o coelho decidiu oferecer o seu próprio corpo ao velho homem e pulou no fogo.

Mas, surpreendentemente, o seu corpo não se queimou, porque o velho era um Sakra, ou seja, uma divindade. E para as pessoas se lembrarem sempre do sacrifício do coelho, o velho senhor resolveu desenhar a imagem do coelho na lua.

Outra curiosidade interessante é que o processo de fazer mochi chama-se Mochitsuki (餅つき), que soa foneticamente semelhante à palavra japonesa que se refere à “lua cheia”, que é Mochizuki (望月).

Comidas tradicionais do Tsukimi

Além das decorações típicas do festival como flores de outono e Susuki, é comum as pessoas usarem também muitos alimentos como decoração ou oferendas para a lua, que é tratada como uma divindade. Os mais tradicionais são o Kabocha (abóbora japonesa), castanhas, satoimo (batata inhame), taro, edamame, tsukimi dango (pequenos bolinhos de arroz branco, empilhados em um bandeja) e saquê.

Os bolinhos de mochi são símbolos de felicidade e boa saúde, e servem não só para celebrar a beleza da lua, que nesta data é considerada a mais bela do ano, como também uma expressão de gratidão pelas colheitas de outono.

Estes pratos são conhecidos tradicionalmente como pratos Tsukimi ( 月见料理 tsukimi Ryori). Devido à onipresença de batata doce ou inhame, entre estes pratos, a tradição é conhecida como Imomeigetsu ( 芋名) ou “lua da colheita da batata” em algumas partes do Japão.

Também é comum vermos a presença da palavra tsukimi em outros pratos durante a estação do outono, como o tsukimi soba e o Tsukimi udon. Ambos são feitos com macarrão coberto com um ovo, cuja gema presume-se parecer com a lua e a clara, as nuvens que a cercam.

Original: Japão em Foco.

sábado, 11 de junho de 2016

Hounen Matsuri

Acham mesmo que o japonês celebra apenas o Kanamara Matsuri? Para celebrar a fertilidade o japonês celebra mais duas festas: Oagata Jinja Hounen e Tagata Jinja Hounen.

O Oagata Jinja Hounen Matsuri é realizado em Inuyama no dia 14 e o Hounen Matsuri é realizado em Nagoya no dia 15. As duas festividades são antigas e tradicionais, e podem parecer um tanto estranhas para pessoas da cultura ocidental, já que utilizam objetos em forma de genitálias masculina e feminina, símbolos que garantiriam uma colheita farta, felicidade, saúde e muitos nascimentos.

Durante a celebração do Oagata Jinja Hounen Matsuri, podemos ver vários participantes portando objetos que lembram uma vagina. O destaque do festival é o desfile dos carros alegóricos carregando um enorme “kagami mochi“, bolo feito com arroz glutinoso e símbolo da prosperidade no Japão. Há também um desfile com moças em trajes de vestidos de noiva, com roupa típica japonesa.

No Tagata Hounen Matsuri, milhares de japoneses participam da tradicional parada onde sacerdotes xintoístas entoam cantos e pessoas carregam uma escultura fálica de madeira até um templo, o Tagata Jinja. Durante o desfile, homens carregam uma estátua de um pênis com mais de 6 metros de comprimento.

Os rituais da fertilidade durante os meses de março e abril são também rituais da primavera. Marcam o “renascimento” e o “crescimento” e estão profundamente ligados ao folclore japonês. Começou como um apelo aos deuses para boa e bem sucedida colheita e também para as mulheres terem um bom parto.

o meio da multidão, podemos encontrar muitos casais que desejam ter filhos e pedem pela fertilidade. Outros vão em busca de ganhar sorte nos relacionamentos amorosos e assim desejam encontrar em breve sua alma gêmea.

Outros ainda vão em busca somente de sucesso profissional e boas colheitas. É um festival onde todos se divertem, desde crianças ao mais velhos e os turistas se deslumbram com essa cerimônia pra lá de inusitada.

Durante esses festivais, muitas barraquinhas estão no local vendendo alimentos e souvenirs que lembram os órgãos sexuais femininos e masculinos como picolés, bananas com cobertura, salsichas, entre outros. Cerveja e saquê e animação também rolam soltos durante esses festivais.

Original: Japão em Foco.

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Heterogênese II

Encolhendo-se perto de uma tosca fogueira, estava Adão, que não conseguia dormir e entender porque uma noite pode estender-se tanto. Achava que o fogo o manteria a salvo das Trevas e manteria sua voz próxima à de seu Pai, o Espírito das Luzes. Como toda criatura arrogante, que se contenta com a felicidade superficial da luz, por esta fornecer-lhe calor e visão, tremia de impotência ante ao frio e densidade das Trevas, que não cessa de requisitar a argüição dos seres inteligentes.

Mais ainda nesta noite, que tinha agora um ser vivo para representá-las e melhor ainda, pois além de ser mulher, era filha do Espírito das Trevas, nascida no signo da lua nova, Lilith, a dúvida em forma carnal tentadora, a crítica em olhos flamejantes sensuais. Adão ao enfrentar a simples presença de Lilith frente aos seus olhos, aproximando-se dele, altiva e magistral, com passos flutuantes, vinda das Trevas da noite, tomou-a como sendo um demônio, como muitos dentre aqueles que seu Pai, o Espírito das Luzes, lhe advertiu cautela. Ora, instruído por seu Pai, Adão quis combater esse demônio com suas próprias armas: fogo para combater fogo. Porém Lilith, que foi talhada na pedra pelo relâmpago, não iria temer as chamas de uma mera tocha. Visto que sua arma não fazia efeito, Adão achou prudente tentar uma aliança com ela por enquanto, até que numa distração, pudesse submetê-la a seu jugo.

Quando Lilith estava ao seu lado, Adão percebeu que era uma mulher perfeita, um corpo mais evoluído e melhor que as fêmeas dos seres semelhantes a Adão. Foi somente então que passou por sua cabeça a ideia de que ela poderia ser a tão prometida companheira, presente de seu Pai, o Espírito das Luzes.
Lilith porém não pôde suportar a ideia de deixar Adão se deliciar da maneira opressiva de amar dele. Nem sequer passou pela sua cabeça a ideia de deixá-lo usufruir suas carnes tão precocemente. O vento noturno fez sentir ainda mais sua fúria ao repreender Adão:

-Longe de mim, besta humana. Por que me toma, para querer me possuir como se fosse um fruto de árvore, a se oferecer à primeira mão que se lança? Não vês como sou tua igual, como tantas outras e mereço o mesmo respeito que nutres por ti? Pois bem, animal infeliz! Que fique sabendo que sou Lilith, filha do Espírito das Trevas e não será de ti que farei gerar os meus, por causa de tua ignorância. Não é o único ser que possui cabeça, nem tão pouco és o primeiro homem. Lançarei minha geração longe da tua, com outro qualquer que saiba reconhecer o Universo, o equilíbrio entre as Luzes e as Trevas, assim como a igualdade de todos os seres. Da nossa geração virá aquela que porá abaixo teu Império das Luzes, tuas crenças superficiais e o coloque no plano que lhe é devido. Estarei presente em teu meio, a partir desta noite, como em toda noite de lua nova. Mais ainda quando a terra opor-se no caminho do sol, escurecendo a lua, para acoitar tua consciência e de tua geração, diante das Trevas da noite prolongada. Assim será até que seus filhos te julguem e se envergonhem ao descobrir que tipo de casa tu construíste para os herdeiros do Império das Luzes!

O Espírito das Trevas, vendo que isso foi dito pelos lábios de sua filha, sem ajuda, ficou orgulhoso e permitiu que a sabedoria dela lhe desse asas, a fim de buscar seus iguais, entre os seres. Ao chegar nas margens de um grande lago, a oeste do Éden de Adão, chamado de Mar Morto, Lilith ganiu sua mágoa para as montanhas, o deserto e o lago. Cantava e dançava amargurada de uma dor tão tocante, que logo muitos seres apareceram para consolá-la. Mas Lilith prosseguia, cantando:

Do amor entre o relâmpago e a pedra,
Fui formada e por ordem das Trevas,
Nasci mulher tão bela e perfeita,
Mas para que homem aos olhos apareceria?
Da lua nova, signo noturno,
Minha alma ganhei e da chama dos meus olhos
Na noite, minha sabedoria, faz as Trevas sorrirem,
Mas para que homem aos ouvidos ensinaria?
Homens são tão altivos e superiores,
Mas não conseguem enxergar além dos olhos,
Nem poupa de sacrifício a vida do semelhante.
Antes movesse o pé para mudar a opinião,
Rugisse como igual para o leão,
Olhar antes mesmo da visão,
Viver tendo o semelhante como irmão,
Mas por ser um animal da Luz,
Assim lhe parece cômodo e fácil:
Ver o que, aos olhos, a Luz deseja,
Temer o que a inteligência ignora,
Estar como num trono inexistente,
Limpar do seu mundo o que condena.
Mil vezes sou mais feliz,
Se entre estes seres
Faço meu leito
E junto deles lançar as sementes
Das gerações que ruirão
Com o Império de Adão e das Luzes.

Notando que muitos seres compartilhavam de sua dor, deixou que eles falassem. Estes, com a ajuda do espírito das Trevas, disseram em uma única língua, uníssonos:

Formosa senhorita,
Filha do Espírito das Trevas,
Nascida na noite sob o signo da lua nova,
Forjada pelo relâmpago na pedra.
Teu choro nos enche de dor e repúdio.
Conhecemos também o petulante Adão,
Que diz ser filho do Espírito das Luzes
E que é o primeiro homem,
O ser superior entre todos os seres.
Perdoamos tua ingenuidade,
Pois tens diante de ti seres
Que não somente são iguais
Mas muito semelhantes também
Ao arrogante homem Adão.
Se foi pela estupidez deste,
Não nos culpe a todos.
Sabe muito bem que não é,
Nem foi ou será o único
E último homem dentre os seres.
Mesmo tendo a paternidade
Vinda de um Espírito do Universo,
Este homem é tão besta, se não mais,
Que seus semelhantes aqui presentes.
Nossas mentes são abertas,
Nossos olhos aguçados,
Nossa vida, em dar o que desejamos obter.
Se foi tamanha sua mágoa,
Deixa-nos então te consolar.
Temos vontade e paciência de aprender,
Ainda assim teremos pouco conhecimento.
Façamo-nos colegas, amigos e irmãos verdadeiros,
Que ensinam um ao outro sem censura,
Nem educam pelo artifício do adestramento.

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Setsubun e um prato de soja


Nunca, jamais, sirva um prato de soja a um Oni. A razão disso está no mito que cerca o Festival de Setsubun, que ocorre na passagem do inverno para a primavera.

Setsubun ( 節分 ) – O Festival para espantar os maus espíritos
Setusbun (节分) significa literalmente “separar uma estação da outra”, uma forma de se despedir do inverno e comemorar a entrada da primavera ( Risshun ). O Setsubun é comemorado no dia 3 de fevereiro e nesse dia, cada família segue um ritual especial chamado Mamemaki ( jogar gãos de soja ).

O mamemaki, geralmente é conduzido pelo toshiotoko (alguem da família que tenha o signo chinês correspondente ao ano vigente) , ou então pelo chefe ou cabeça da família. Outro membro familiar é escolhido para desempenhar o papel de Oni (ogro ou demônio), que vestindo uma máscara característica, joga grãos de soja torrados, para fora da residência.

Ao mesmo tempo, os outros membros da família cantam repetidamente “Oni wa soto! Fuku wa uchi! (鬼は外!福は内!) Demônio e má sorte para fora! Sorte na casa!. Mas você deve estar se perguntando, mas por que a soja?

Bom, os japoneses acreditam que os grãos de soja são um símbolo para purificar a casa e expulsar todos os maus espíritos e má sorte. Outra superstição feita nesse dia é que a pessoa coma a quantidade de grãos de soja torradas correspondente a idade.

Por exemplo, se a pessoa tem 20 anos, então ela deve comer 20 grãos, após o mamemaki. Isso é uma superstição para trazer sorte à pessoa. As pessoas se divertem muito nesse dia e é muito interessante pois é uma festa bem foclórica japonesa.

Além dos grãos, as pessoas comem um sushi especial chamado Ehoomaki. Esse sushi não pode ser fatiado, pois cortar significa rupturas, separação e com isso pode-se cortar a sorte.
Origem do ritual do Mamemaki e Oni

A origem desse ritual popular está na cerimônia chamada Tsuina ou Oniyarai que, era realizada no final de inverno (dezembro no Japão), na casa do imperador do período Heian (794 a 1185).

É comum vermos duas figuras representativas no ritual, o Oni e uma mulher. Segundo uma antiga lenda, uma velha senhora tenta roubar alguma coisa de um velho. Porém a figura do velho era um disfarce do Oni ( ogro ) que tem o poder de se disfarçar de ser humano.

Quando o velho viu o roubo, acabou revelando sua verdadeira natureza de ogro. Com o susto, a velha apanhou a primeira coisa que viu pela frente : grãos de soja e atirou-os nele. Foi assim que surgiu omamemaki, ou seja, jogar grãos de soja para expulsar o demônio, o mal e a má sorte.

Original: Japão em Foco.

domingo, 5 de junho de 2016

A humanidade em desencanto

O ser humano quer entender a existência do mundo, das coisas e de si mesmo. Para entender a sucessão de pessoas e eventos, o ser humano criou o mito, a lenda e a história. Para o estudo desse processo, desse fluxo, chamado história, o ser humano separou em Eras esse conceito abstrato que nós chamamos de tempo. A ilusão de movimento, de sequência, criou a ilusão da passagem do tempo, mas quem passa é o mortal, não o tempo. Não há o Tempo, apenas a eternidade do espaço e as ações dos eventos. O valor do tempo é tão abstrato quanto o valor do dinheiro, o valor apenas existe enquanto o ser humano assim determinar.

O ser humano determina as Eras conforme certas características. Determinados eventos ou situações são alterados, então a humanidade iniciou outra Era, mas frequentemente os germes e indícios da “Nova Era” estão presentes na Era que sucumbe.

Dizemos que a Era Moderna foi marcada pelas revoluções, mas a ideia de direito, de cidadania, de república, de parlamentarismo, de limites aos poderes absolutistas estão presentes quando a Grã-Bretanha fez o Rei João promulgar a Carta Magna.

Dizemos que o Pós-Modernismo foi marcado pelo fim da Segunda Guerra Mundial, mas muita coisa aconteceu no meio do caminho, como a Segunda Colonização, a Primeira Guerra Mundial, as guerras de independência de várias colônias europeias, o fim do Império Otomano, o surgimento de outros Impérios. Entender o Pós-Modernismo sem incluir a Revolução Industrial é o mesmo que entender o Rock’n’roll sem incluir o Blues. Entender a Revolução Industrial sem incluir o Capitalismo é o mesmo que entender a Renascença sem incluir o Mercantilismo.

A Era Moderna é uma era de crueldade, pois o avanço industrial e tecnológico serve para expropriar o trabalho e a vida de muitos. O avanço da ciência e da tecnologia tem seu uso mais prático e imediato em melhorar a capacidade humana em matar seu semelhante. Matou-se e mutilou-se mais gente em poucos anos do que em vários séculos. Entre a Primeira e Segunda Guerra, as necessidades militares deram origem à prótese, uma segunda destinação à ciência e à tecnologia. Aqui começa o fim da ilusão do indivíduo, do corpo, do organismo, como sendo coisas necessariamente orgânicas e pertencentes à natureza. O ser humano entra em uma crise de meia idade. A Era Moderna foi cruel, o Pós-Modernismo é desumano. O homem entra em uma crise existencial, filósofos contemporâneos desconstroem todas suas falsas convicções, ideias orientais desconstroem a ilusão da existência da pessoa do indivíduo.

Cruel e desumana, a Era Contemporânea deve muito de seu conforto, facilidade, fascínio, massificação, plastificação e coisificação, ao que foi originalmente desenvolvido para fins militares. As ideias antes elitistas das revoluções do princípio da Era Moderna se tornam a fonte para estudantes e intelectuais da Classe Média, de onde surge a Contracultura. Grupos, subgrupos e setores da sociedade, antes sem voz e sem expressão, começam a se organizar, surgindo o Feminismo e a luta pelos direitos civis para todos.

O Espírito do Tempo torna tudo um produto de massa, tudo pode e será comercializado. A Indústria Pornográfica surge como uma resistência do sistema ao Amor Livre. As ideias reacionárias surgiram como uma resistência do sistema aos ideais de esquerda. Surge o rádio, a televisão, o cinema, tornando massificado o acesso à informação. Surgem diversos métodos contraceptivos, a princípio para controlar a gravidez indesejada e as doenças venéreas que se tornaram endêmicas durante as guerras mundiais. A sociedade é sacudida por casamentos inter-raciais, pelo divórcio e pela fertilização in-vitro.

O homem sonhou com liberdade e um mundo melhor desde que surgiu neste planeta. Agora ele tenta frear, sem sucesso. A criatura superou seu criador. A Igreja não pode nem consegue mais amedrontar ou deter a Ciência. O Governo não pode nem consegue mais manipular ou controlar o cidadão.

O ser humano desafia a fronteira do real e do virtual, surge a internet, a rede de computadores, a inteligência artificial, a vida artificial, a rede social artificial. Se o humano é um conjunto de partes [corpos] que constituem um sistema [organismos], então também é humana nossa persona virtual, uma vez que sua manifestação dentro do universo virtual é resultado do conjunto de partes [programas] que constituem um sistema [realidade virtual]. Não é mera coincidência, então, quando um cientista afirmou que isto que chamamos de realidade não é nada mais senão o programa de um enorme computador.

sábado, 4 de junho de 2016

Tanabata Matsuri

Eu vi ao menos em dois animes uma referência a esse festival. Como pagão, otaku e admirador da cultura japonesa, eu consultei o oráculo virtual [Google] e obtive a seguinte informação:

Festival das Estrelas ou Festival da Sétima Noite

O Japão é palco de uma grande quantidade de festivais durante o verão, como o Bon Odori por exemplo. Outro festival bastante popular e esperado pelos japoneses é o Tanabata Matsuri, conhecido também por outros nomes como Festival do Tanabata, Festival das Estrelas, ou ainda Festival da Sétima Noite.

História do Tanabata Matsuri

O Tanabata Festival (たなばた / 七夕物語) tem origem na China e remonta uma lenda de mais de 2 mil anos atrás. Na China recebe o nome de Qixi Festival e é considerado o Dia dos Namorados chinês. No Japão é comemorado no dia 7 de julho ou 7 de agosto (que é em torno do sétimo dia do sétimo mês do calendário lunar).

O festival foi importado pela imperatriz Koken no ano de 755, sendo adotado no Palácio Imperial de Kyoto a partir do período Heian. Porém se tornou realmente popular no início da Era Edo, se misturando aos tradicionais festivais Obon.

Pode-se dizer que o Tanabata seja uma das grandes influências chinesas trazida para o Japão. Na verdade existem outros festivais semelhantes em outros países do Oriente e até do Ocidente, inspiradas no folclore chinês da “Princesa e o Pastor” ou nas estrelas Vega e Altair, que veremos na lenda mais abaixo.

Como o Festival corresponde ao calendário lunar, a data das festividades podem variar conforme a região, porém começam sempre no dia 7 de julho do calendário gregoriano, se estendendo até agosto, de acordo com a região ou país.

Tradição do Tanabata Matsuri

Durante o Festival Tanabata, existe o costume tradicional de se escrever desejos em um pequeno pedaço de papel colorido (Tanzaku), que depois são pendurados em ramos de bambu, na esperança de que o desejo se torne realidade. Cada cor tem um significado: amarelo é dinheiro; rosa, amor; vermelho, paixão; azul, proteção e saúde; verde, esperança; branco, paz.


Grandes decorações coloridas também são vistas enfeitando as casas, assim como as praças e ruas principais de muitas cidades japonesas. Em outras regiões é comum também colocar lanternas de papel ou folhas de bambu no rio, para que sejam levadas pelas correntezas, sendo queimados após o festival.

Os maiores festivais Tanabata no Japão, ocorrem em Sendai (agosto) e Hiratsuka (julho). É comum também vermos o Tanabata sendo representado através de mangás, animes, dramas de TV japoneses, filmes e até canções!

A Lenda do Tanabata

A origem do Tanabata é baseado em um conto antigo chinês com mais de 2.000 anos atrás. Era uma vez uma Princesa Tecelã chamada Orihime, filha de Tenkou, o Rei Celestial e um Príncipe Pastor chamadoHikoboshi, que viviam na Via Láctea. Em certo momento se encontraram e se apaixonaram um pelo outro.

Os dois sempre foram muito trabalhadores e responsáveis com seu trabalho, porém desde que começaram a viver um fulminante romance, o jovem casal deixou de cumprir com as obrigações e tarefas diárias como de costume.

Isso provocou a ira no rei Tenkou, que resolveu separá-los em lados opostos do rio Amanogawa (Via Láctea). Orihime chorou e implorou muito a seu pai, que se comoveu e concordou em deixá-los se encontrar somente uma vez por ano, no dia 7 do mês 7 do calendário lunar, sendo representados pelas estrelas Vega e Altair.

Em agradecimento à dádiva recebida, o casal atende aos pedidos vindos da Terra, feitos em papéis coloridos (irogami) e pendurados em bambus (sassadake). Acredita-se que se nesse dia estiver chuvoso, Orihime eHikoboshi não podem ver um ao outro e o encontro só poderá ser novamente no ano seguinte.

Na mitologia japonesa, este casal é representada por duas estrelas situadas em lados opostos da galáxia, que realmente só são vistas juntas uma vez por ano: Vega (Orihime) e Altair (Kengyu).

Original: Japão em Foco.