segunda-feira, 7 de junho de 2021

Os seis reinos do Samsara

No Budismo a morte e o renascimento são encarados como fatores naturais, pois fazem parte de um ciclo de nascimento, desenvolvimento e declínio. Samsara é descrito como o fluxo incessante de renascimentos através dos mundos. E hoje, o versinho trouxe para vocês os seis reinos segundo o budismo.

O Reino dos Seres do Inferno: Naraka/gati/Jigokudõ.

O Inferno dos budistas é tão ruim quanto o que estamos habituados a ouvir nas religiões cristãs. São experiências muito intensas que sofremos na forma física como humanos: fome, sede e dor.

É o mais baixo e desprezível reino. As descrições falam de planícies e montanhas de ferro em fogo, atravessadas por rios de metais em fusão. O calor é sufocante o céu está sempre em brasa e ali todos sofrem diversos tipos de torturas. Pelo que dizem os textos, o sofrimento desses mundos é verdadeiramente inconcebível para nós.

No inferno frio, a paisagem é apenas neve, gelo e desolação. O frio é tão intenso que só se avista neve e gelo. Nesses infernos recaem os seres violentos que não aceitam a ponderação e o acordo. Seja como for que se manifestem, o verdadeiro obstáculo que permanece é a intensa raiva que eles experienciam. Só transcendendo este fator que será possível limpar seu karma e avançar para o próximo reino do Samsara.

O Reino dos Espíritos/Fantasmas Famintos: Preta-gati/Gakidõ.

O reino dos espíritos famintos tem como característica principal uma grande ânsia, que parece nunca ser satisfeita.

Este reino não suporta prazeres viscerais ou sensações reconfortantes. Em vez disso, a paisagem é um vazio de qualquer nutrição; nenhum alimento ou bebida, e nenhuma roupa ou calor e frio. Suas figuras representam os seus vícios ao invés das necessidades mundanas e seu estado necessário para transcender é o desapego.

O Reino Animal: Tiryagyoni-gati/Chikushōdō.

O reino animal lida com a sobrevivência e brutalidade, mas também contém certas regalias que os seres de luz ou os seres humanos não seriam capazes de desfrutar, como voar como uma ave ou nadar como um peixe, e toda a multiplicidade de outras maravilhas que a primavera do mundo animal contém. Este reino é dominado pelo torpor e pela falta de iniciativa, pela ausência de sentido de humor e de inteligência criativa. Sua condição é considerada inferior por não possuírem a liberdade para decidir que tipo de comportamento deve ser adotado em cada situação específica.

Na visão tradicional Budista, esse reino é um pouco mais áspero. Os nascidos no reino dos animais são vistos como pagadores pelos pecados do passado e dentro deste dogma, se pode transgredir e ser jogado de volta para os reinos anteriores mesmo pensando que os tinham ‘concluído’. O pagamento normalmente vem com o nascimento, por exemplo, como gado vivendo uma vida esgotante puxando carrinhos, sendo chicoteado e em geral, são maltratados. Como animais funcionam principalmente por instinto, eles são incapazes de gerar um bom karma e podem ficar presos neste ciclo por centenas de milhares de anos terrestres. É daí também que a visão vegetariana do Budismo vem – a compreensão de que há uma alma ali, um ser – foi espalhado por Buda em forma de protesto à matança prevalecente e os sacrifícios populares de animais. Sua única esperança é de que um ser humano pode mostrar-lhes amor e compaixão como um animal de estimação, ajudando-os a sentir o início da próxima fase; o humano.

O Reino dos Seres Humanos: Manusya-gati/Nindō.

O reino humano, embora não seja o ‘maior’ reino, é o mais cobiçado, é aqui que se têm mais probabilidade de alcançar a iluminação. Tendo quantidades iguais de sofrimento e de felicidade, o ser humano atinge o equilíbrio e o incentivo necessário para tentar sair do atoleiro do karma. Com a aptidão dos animais e com o aspecto negativo do desejo, nós temos dentro de nós mesmos os ingredientes para reconhecer o ciclo de samsara e pará-lo em suas trilhas para o bem. Como todos os arquetípicos da psique humana, o ser humano é um perfeito Ying Yang, a bondade e a maldade, com a luz e a sombra em medições iguais.

A condição humana, embora privilegiada no ciclo dos renascimentos, possui muitas vicissitudes, desilusões e sofrimentos intensos e variados. A humana é a primeira das existências dos reinos superiores, esse nível é o único dotado das condições necessárias para o progresso espiritual. Porém, estar no reino humano não garante esse progresso. O valor da vida humana é variável e apenas uns poucos se situam no patamar possível ao desenvolvimento espiritual. Renascer como humano, é quase um milagre, por isso não podemos nos dar ao luxo de não praticarmos. Dizem os sutras que a vida humana é considerada preciosa, quando não está sob o domínio das ações, atos e pensamentos.

Segundo o budismo, o reino humano é afetado por nossas decisões passadas e ainda é capaz de mudar facilmente o futuro com as nossas decisões presentes.

O Reino dos Semi-Deuses: Asura-gati/Ashuradō.

Os Asuras são Semideuses comprometidos com ciúmes e não são, ao contrário dos deuses gregos do Partenon, o bem e o mal. Estes semideuses parecem gostar de pensar que eles são divinos, mas, depois de ter transcendido o desejo do reino humano, ainda de alguma forma, têm o ego humano ainda firmemente enraizado. Eles são seres humanos em forma de Deus, mas ainda não são seres celestiais. E são totalmente bêbados pelo poder. O resultado de ações positivas realizadas com alguma inveja ou com um sentido de competição, condiciona o “nascer” no mundo dos semi-deuses.

É relatado que no mundo dos semi-deuses, existe uma árvore gigantesca cujos frutos só podem ser colhidos pelos deuses, que habitam um reino acima. Achando que os frutos da árvore deveriam ser seus, os semi-deuses sentem inveja dos deuses. Infelizmente para eles, o karma dos deuses é superior e os semi-deuses sofrem por não poderem se satisfazer com os frutos da tal árvore. Os semi-deuses vivem num estado muito alegre e feliz, mas como ainda possuem o sentimento da inveja e da competição não se espiritualizam porque estão imersos em facilidades e felicidades, deste modo, esgotado suas reservas karmicas renascem em outro reino – dizem os sutras.

O Reino Divino: Deva-gati/Tendō.

Recompensado com prazer ou felicidade intensa, eles reinam sobre os reinos celestiais e vive em esplendor, talvez ilusoriamente, já que tantas vezes eles esquecem o ponto principal de sua existência e desaparecem no nada, não tendo  completado sua meta. Juntamente aos aspectos negativos dos Deuses, está o Orgulho. Enriquecido pela devoção mundana e à grandes e amáveis atos, eles também persistem em ver a distinção, tentando ser mais elevados que a criação.

Você pode imaginar os deuses como seres perfeitos que foram confiados com grande poder, mas ainda ainda estão lutando contra sua falta de humildade e compreensão de que não existem fronteiras entre nós. Eles ainda batalham para compreender seu mal-entendido sobre a ilusão de poder e a verdadeira lição que encontra-se dentro como uma ostra na areia. Os deuses do nível da forma e sem forma são seres que, como resultado de sua herança karmica, advinda de práticas espirituais avançadas, nascem em níveis de existência superiores e usufruem de experiências muito profundas, durante um período de tempo muito longo.
Não se trata do reino de Deus, descrito em outras religiões. No mundo sutil, eles ajudam os seres humanos em dificuldades, mas são benefícios condicionados, e não do tipo que produz libertação. Esse reino é o que os seres humanos buscam em seus sonhos. Vivemos almejando, trabalhando ou sonhando chegar lá.

Segundo os textos, karma extremamente positivo, combinado com quase nenhum karma negativo, condiciona o nascimento nesse reino. É importante ressaltar que todos os reinos, desde os mais miseráveis até os mais felizes, estão sob o controle do desejo. Os seres no nível sem forma não experimentam nenhum sofrimento e não possuem desejos. Existem em forma sutil e suas mentes tem acesso a absorção do espaço infinito, absorção da consciência infinita e absorção do nada, mas tendo esgotado seu karma positivo, podem renascer em outros níveis. Para que não haja mais renascimento, devem se transformar na sabedoria primordial, pois ainda se encontram presos a roda do samsara, como não tem o poder de permanecerem nesse estado “ad eternun” ainda sofrem com isso.

Fonte: https://www.oversodoinverso.com.br/os-seis-reinos-do-samsara/

sexta-feira, 4 de junho de 2021

Os juízes do Inferno

Os Três Juízes do Inferno foram popularmente conhecidos após o Anime Cavaleiros do Zodíaco, mas estes Três seres Mitológicos já existiam há muito tempo atrás dentro da Mitologia Grega.

Conheça os Três Juízes:

O grande tribunal era presidido por três juízes: Éaco, Radamanto e Minos. O julgamento das almas era assistido pelo próprio Hades e, conforme a sentença, seguiriam para o Campo de Asfódelos, os Campos Elísios ou o Tártaro. As sentenças propostas por Hades eram irrevogáveis e nem mesmo Zeus não poderia interferir na sua decisão. Os que tivessem cometido delitos, especialmente contra os deuses, eram diretamente enviados ao Tártaro, onde cumpririam suas penas. 

Sabemos também que Éaco era quem julgava as almas europeias, enquanto Radamanto julgava as almas asiáticas, e Minos por fim decidia para qual região do inferno as almas iriam. Tem-se relatos de que os julgados que fossem destinados ao Tártaro, recebiam algum tipo de sacrifício que deveria ser feito pelo resto de sua vida. Um exemplo bastante conhecido é o de Sifiso que foi condenado a rolar uma enorme pedra até o topo de uma alta montanha e toda vez que ele chegava até lá a pedra rolava novamente para baixo, tendo que repetir incansavelmente o processo.

O Reino de Hades:

Na mitologia grega o inferno é conhecido como o Hades (do grego Aidòs), é a terra dos mortos, governada pelo deus homônimo. Situado no mundo inferior, em baixo da superfície terrestre, é conhecido também como casa ou domínio de Hades (dómos Aidaoú) e é o lugar para onde vão as almas das pessoas mortas (sejam elas boas ou más), guiadas por Hermes, o emissário dos deuses, para lá tornarem-se sombras. 

É governado pelo deus Hades, usa-se seu nome freqüentemente para designar seu mundo. Ao chegarem ao mundo dos mortos, as almas eram julgadas por três juízes, com responsabilidades específicas: Minos, tinha o voto decisivo, Aiacos julgava as almas européias e Radamanthys julgava as almas asiáticas. Nem mesmo o próprio Hades interferia no julgamento deles, a não ser em raras ocasiões.

Minos, Estrela Celeste da Nobreza:

Na mitologia grega, Minos foi um rei lendário da ilha de Creta, filho de Zeus e da princesa fenícia Europa, sendo irmão de Sarpedão e Radamanthys. Teria nascido em cerca de 1445 a.C. e reinado de 1 406 a.C. a 1 204 a.C. O mesmo foi quem trancou o minotauro no labirinto de Creta, construído por Dédalo a mando do rei Minos (essa história é muito grande e merece um post só dela).

A civilização que prosperou em Creta, quando foi descoberta pelo arqueólogo Arthur Evans, recebeu a alcunha de minoica, em referência a Minos. Após sua morte, Minos tornou-se um dos três juízes do inferno, sendo ele o juiz responsável pelo veredito final, ou seja, as decisões dos demais Juízes só eram validadas se Minos as aprovasse, as almas dependendo de seus pecados seriam enviadas ao Tártaro para punição ou para os Campos Elísios se absolvidas, sendo assim líder dentre os Juízes. É um homem muito calmo e racional e sempre calcula o próximo passo de acordo com a situação a sua frente, é considerado um homem bem frio e sádico.

Aiacos, Estrela Celeste do Heroísmo:

Segundo a mitologia grega, Aiacos é filho de Zeus e da ninfa Égina, filha do deus-rio Asopo. Aiacos casou-se com Endeis, filha de Sciron, e teve dois filhos, Peleu e Telamon, também teve um filho com Psâmate, filha de Nereu, chamado de Foco e uma filha, Aicímaco. Piedoso por natureza, ele é amado pelos deuses que se comprazem a satisfazer os seus votos. Assim, durante uma invasão inimiga, todos seus soldados foram mortos e sua cidade ardia em chamas, bastante ferido, Aiacos se ajoelha em frente a um carvalho sagrado da cidade e clama ajuda a Zeus, o rei dos deuses atende sua súplica e transforma todas as formigas do carvalho em soldados muito fortes, estes foram chamados Mirmídões (formiga em grego), no mesmo instante o jogo virou e os inimigos de Aiacos foram exterminados em poucos minutos. 

A sua sabedoria e a sua paixão pela justiça fizeram com que os deuses o escolhessem para ser juíz e, mais tarde, para juíz no tribunal do Além, presidido por Hades, ao lado de Minos e Radamanthys. Ele estava, particularmente, encarregado de julgar, no inferno, as almas vindas do continente europeu.Os habitantes da ilha de Egina renderam-lhe um culto fervoroso, cujas festas eram combinadas com jogos olímpicos. Os vencedores destes jogos suspendiam as suas coroas no templo que lhe tinha sido consagrado. Atenas venerou também Aiacos, edificando-lhe um santuário na Ágora. Aiacos é geralmente representado usando um cetro real e a chave dos Infernos, de que ele é o único detentor.

Radamanthys, Estrela Celeste da Fúria:

Filho de Zeus e Europa, irmão de Minos e Sarpedão. Foi adotado por Astério, rei de Creta, quando este se casou com Europa. É atribuída a ele a organização do código de leis cretense, que serviu de modelo a várias cidades gregas. Expulso de Creta por seu irmão Minos, que tinha ciúme de sua popularidade, fugiu para a Beócia, onde se casou com Alcmena, viúva de Anfitrião. Teve com ela dois filhos, Gortis e Eritro e estabeleceu-se na Lícia. Era conhecido por sua sabedoria e justiça. Por causa de sua integridade, ao morrer tornou-se um dos juízes do Hades, juntamente com seu irmão Minos e Aiacos. Segundo Platão, supunha-se que Radamanthys julgava as almas vindas da Ásia. 

Em toda parte adquiriu a reputação de um príncipe justo, mas severo, também nos Infernos as suas decisões têm cunho não só de justiça, mas de rigorosa severidade. Como Juíz de Hades ele é designado para julgar particularmente os habitantes não só da Ásia, mas também da África, enquanto Aiacos fazia o mesmo com as ocidentais, tendo Minos o voto decisivo. Foi Radamanthys quem ensinou a Hércules o manejo do arco. É conhecido como sendo um dos mais leais ao imperador Hades e é ordinariamente representado com um cetro e sentado em um trono cedido por Zeus, à porta dos Campos Elíseos.

Fonte: https://www.spartacusbrasil.com/l/tres-juizes-do-inferno/

quarta-feira, 2 de junho de 2021

O sangue de Zeus

ATENÇÃO! SPOILERS!

Quem tem Netflix deve assistir a série "Sangue de Zeus" [eu não estou ganhando um centavo com isso]. Ali é possível ter um bom vislumbre da mitologia da Grécia Antiga.

A série fala de duas batalhas que Zeus teve que travar para garantir a soberania do Olimpo [e dele mesmo]: a batalha contra os Titãs [não a banda] - chamada Titanomaquia - e a batalha contra os Gigantes - chamada Gigantomaquia.

Zeus era filho de Cronos, um dos Titãs, e neto de Urano, sendo este um provável "filho" do Caos. Nós podemos dizer que é um assunto de família. Evidente que para o mundo ocidental moderno a dicotomia Bem versus Mal tão onipresente na espiritualidade judaico-cristã não poderia deixar de estar presente no filme. Para este escritor que vos fala, os Titãs [e os Gigantes] estavam unicamente tentando devolver a coroa e o trono a quem é devido.

Os Titãs, filhos de Urano e Gaia, além de Cronos, são: Oceano, Céos, Crio, Palas, Perses, Astreu, Hiperião e Jápeto. E tem as Titanesas, que são: Febe, Mnemosine, Reia, Têmis, Tétis e Teia.

Zeus é o sexto filho de Cronos e Reia [que eram irmãos], que tiveram mais cinco filhos. Zeus casou-se com Hera, sua irmã. Esse, digamos, padrão de um Deus casando-se com sua mãe, irmã ou filha [Deusas] deu origem ao tabu [no sentido de sagrado] do incesto.

Zeus venceu os Titãs. Então vieram os Gigantes, possíveis descendentes dos Titãs, senão descendentes indiretos [bastardos?] de Urano e Gaia.

Os Gigantes são: Agrius, Alcyoneus, Alektos, Aristaeus, Asterius, Clytios, Damysus, Enceladus, Ephiates, Euryalus, Eurymedon, Eurytus, Gration, Hopladamus, Hippolytus, Lion, Mimas, Pallas, Pelorus, Picolous, Polybotes, Porphyrion e Thoas. [lista consultada no Wikipédia em inglês]

No filme, os Gigantes não são nomeados, mas eu gostei bastante das gigantas. Eu estou em dúvida por qual eu estou mais apaixonado: a Dama da Lâmina ou a Dama Lula.

terça-feira, 1 de junho de 2021

Azul é a cor mais careta

Dois filmes que não tem a ver um com o outro em diversos aspectos tem algo em comum: a cor azul.

Um deles é o filme de animação “Divertidamente”. O outro é o polêmico “Azul é a Cor Mais Quente”. Em ambos a cor azul está presente.

Em “Divertidamente” a cor azul é utilizada para praticamente caracterizar a personagem “Tristeza”, pois para países de língua estrangeira se diz que quando alguém está triste, essa pessoa está “blue”. O estilo musical chamado “Blues” explica bem esse sentimento e associação.

Em doses exageradas, a tristeza conduz à melancolia e à depressão. O personagem “Tristeza” é uma epítome desse comportamento. Por sua “atitude”, “Tristeza” praticamente configura como um coadjuvante, uma “escada” e um “antagonista” da personagem “Alegria”. A “Tristeza” quase causa um apagamento total das memórias de Riley, sua hospedeira.

Até que “Alegria” tem uma revelação e “Tristeza” é colocada como co-protagonista e, juntas, conseguem “salvar” as memórias de Riley. O interessante é notar a diferença entre antes e depois de Riley quase ter suas memórias apagadas. Antes suas memórias eram monocromáticas, depois suas memórias são compostos mistos de alegria, tristeza, raiva, nojo, medo. Depois dessa experiência, Riley passa por um “upgrade” que inclui também um novo “comando”, chamado “puberdade”. Algo que os estúdios de animação tem medo de explorar.

O que não foi o caso de “Azul é a Cor Mais Quente”, onde a cor azul está presente no cabelo da co-protagonista e no vestido da protagonista. A cor azul é algo artificial, uma tintura, exerce outra função nesse filme.

Em “Azul é a Cor Mais Quente”, Adele, uma garota comum que, aparentemente, é heterossexual, repentinamente se interessa por Emma, uma garota que é francamente homossexual. O romance e envolvimento delas não é tão interessante, salvo por este ser um “filme comercial”, não um pornô.

Tirando as cenas de pegação, o filme demonstra que, mesmo entre pessoas homossexuais, certos hábitos e comportamentos “socialmente aceitos” continuam válidos.

Aqui eu faço o elo entre a cor azul e sua artificialidade. Apesar de Adele e Emma serem um casal “fora das normas”, em diversos pontos seus comportamentos românticos são os mesmos do que preconiza a sociedade. Apesar de viverem uma relação homossexual, ambas “apresentam” sua “amiga” para seus pais. Os pais nem desconfiam de que há algo mais do que uma amizade e ambas parecem terem feito um pacto de silêncio sobre seu relacionamento.

Relacionamento este que desanda por que Adele se sente “negligenciada” por Emma, então sai com outra pessoa, um homem, para “fazer ciúme” em Emma para “se vingar” do que ela acha ser uma “traição” de Emma contra ela. Emma, evidentemente, mostra que os receios de Adele são infundados, mas o “estrago” estava feito, Emma não aceita que Adele se relacione com outra pessoa. Apesar de serem um casal “fora das normas”, ainda vigora a monogamia, o privilégio e exclusividade sobre o amor e o sexo da outra pessoa envolvida. Paradoxalmente, o relacionamento de Adele e Emma ainda mantém os mesmos padrões de amor e relacionamento ditos “normais”.

O filme não teve uma revelação e Adele e Emma, apesar de terem formas de relacionamento fora do socialmente aceito, não saíram do mundo das memórias monocromáticas de “Divertidamente”.

Tomando os dois filmes em retrospectiva, eu posso dizer que azul é a cor mais careta.

Texto resgatado do extinto Sociedade Zvezda.

segunda-feira, 31 de maio de 2021

O pomar das Hespérides

Um mito da Grécia Antiga com várias curiosidades.

Dentre os chamados "Doze Trabalhos de Hércules" [outro mito "copiado" pelos gregos antigos, algo que eu talvez escreva depois] consta que ele foi incumbido de buscar algumas das "maçãs douradas" que frutificavam no Jardim das Hespérides.

Vamos conhecer primeiro quem são as Hespérides:

"As Hespérides (em grego Ἑσπερίδες, "entardecer"), na mitologia grega, são primitivas deusas primaveris que representavam o espírito fertilizador da natureza, donas do jardim das Hespérides, situado no extremo ocidental do mundo". 

Donas? Nem tanto:

"O jardim das Hespérides era considerado o mais belo de toda a Antiguidade. Quando Hera se casou com Zeus, recebeu de Gaia como presente de núpcias, algumas maçãs de ouro. Hera as achou tão belas que as fez plantar em seu jardim, no extremo Ocidente".

Zeladoras, talvez. Contavam com a ajuda de certos "vigilantes":

"Para chegar até o jardim havia muitos obstáculos, tais como a gruta das Greias e a gruta das Górgonas. O próprio jardim era povoado de monstros que o protegiam, tais como um terrível dragão, filho de Fórcis e Ceto, e também Ladão, o dragão de cem cabeças filho de Tifão e Equidna".

O que motivaria alguém a ir se aventurar em tal lugar perigoso?

"O jardim das Hespérides era conhecido como jardim dos imortais, pois continha um pomar que abrigava árvores mágicas de onde nasciam os pomos de ouro, considerados fontes de juventude eterna".

Fonte: [https://pt.wikipedia.org/wiki/Hesp%C3%A9rides]

E onde está a provável localização desse jardim?

Na página do site Theoi, com a ajuda do Google Tradutor, sugere que os Argonautas encontraram o jardim [e as Hespérides] na região do norte da África, onde fica a Líbia.

Fonte: https://www.theoi.com/Titan/Hesperides.html

O norte da África estava também Cartago, a cidade fenícia, que quase sobrepujou Roma. Fenícios que colonizaram a Hispania, possivelmente sendo os fundadores de Tartessos e Turdetânia, junto com os Iberos e Lusitanos, entre outros povos pré-romanos.
Sem esquecer a mistura posterior com Godos e Romanos, esses são os povos que deram origem aos atuais portugueses e espanhóis. Todos nós somos miscigenados.

sábado, 29 de maio de 2021

Homem que dá pinta

O Fabricio Longo tem uma coluna chamada Dando Pinta no Portal Fórum. A essa altura do campeonato, enquanto esse escritor pagão desenrola o fio de Ariadne no labirinto da contrassexualidade, uma questão pertinente: só os gays dão pinta? O que é “dar pinta”? Homem heterossexual cisgênero pode dar pinta? Olha lá que a minha questão não tem qualquer conotação sexual… ou será que tem? Depois de passados cinquenta anos da Revolução Sexual o ser humano está resgatando a posse e poder sobre seu direito ao corpo, ao desejo, ao prazer. Daí a importância e força da frase “o corpo é meu, as regras são minhas”. Eu dou o que é meu e dou para quem eu quiser.

Mas voltando ao assunto, “dar pinta” tem as seguintes definições:

  1. Parecer ser. Não necessariamente ser, mas parecer.
  2. Exagerar traço de personalidade. Não está diretamente ligado a sexualidade, nem a intenções sexuais.

Exemplos:

Ele ficou dando pinta de machão!

Ela deu pinta de boa mãe!

Tem pinta de ser engraçado.

Tem pinta de Bom moço!

Ele deu pinta na festa.

  1. Portar-se como homossexual. A expressão pode ser empregada também quando um homossexual enrustido quer dar a entender a um homem do seu interesse que deseja manter relação sexual com ele.

Exemplo:

Ficou o tempo todo dando pinta na festa!

Sinônimos:

Paquerar, dar bandeira, parecer, causar, impressão.

Dar bandeira:

Deixar à mostra aquilo o que devia ocultar; deixar transparecer algo que não devia.

Exemplo:

Fulano deu a maior bandeira, estragou todo o serviço.

Causar:

Aprontar, chamar atenção, fazer alguma coisa fora dos padrões do momento.

Palavras relacionadas:

Homossexual, viadagem, frescura, desmunhecar.

O estereótipo do homossexual, tal como é visto pela sociedade heteronormativa, pode ser visto quando o homossexual é cristalizado em algum personagem folhetinesco, uma paródia evidentemente exagerada e grotesca para expressar a aversão que a sociedade tem de outro ser humano simplesmente por não seguir os ditames dessa que é a verdadeira Ideologia de Gênero imposta pela sociedade.

Uma vez que a sociedade exprime por signos seus preconceitos, esta certamente expressará por signos seus ideais, seus modelos de homem e mulher, seus modelos de amor e relacionamento, exigindo que o ser humano se encaixe. A propaganda é a melhor vitrine desses signos de macheza, mas estes tipos são bem mais marcantes e influentes em outros meios de comunicação de massa. O homem ideal é sempre o protagonista nas categorias de aventura e ação, seja em livros, quadrinhos, teatro ou cinema. O “herói” serve de modelo e inspiração para garotos ainda em idade de formação de caráter e identidade, mas a despeito de ser tão invejado ele também é um estereótipo, praticamente uma paródia exagerada e grotesca que equipararia o homem “ideal” a um protótipo de troglodita.

O ideal é tão invejado que passa a ser amado, desejado. Pulsões, traumas ou fetiches entram em contraste com a mensagem da sociedade que o homem é “fresco”, “desmunhecado”, “mariquinha” quando ele expressa algum comportamento feminino, de tal forma que acaba sendo um tipo de misoginia quando se diz que alguém é “afeminado”. A sociedade diz que o homem tem que ser machão, “pegador”, tem que ser o líder, o macho alfa e não pode hesitar em usar seus músculos para garantir sua posição na “alcatéia”. Nesse caso, nós temos vários homens heterossexuais que dão pinta.

Com a chegada do século XXI começaram a aparecer estudos sobre a identidade de gênero, sobre a identidade, personalidade e opções sexuais, discussões sobre modelos de relacionamento e novas formas de famílias. A genética, a biologia, a neurologia e a psicologia ajudaram a mostrar para o ser humano que seu DNA apenas define sua genitália e que seu gênero é definido pela cultura e sociedade de sua época. O homem ideal, o “herói”, tem sua máscara removida e vemos apenas uma pessoa cheia de medos, inseguranças e recalques. Uma pessoa não deve ter medo ou vergonha de ser, afirmar ou expressar sua identidade, personalidade, opção e preferência sexual.

Hoje nós temos mais direitos e liberdades em nossa vida erótico-afetiva graças a essas pessoas fabulosas, seres divinamente humanos que fazem parte da comunidade LGBT. Vamos sair de nossos armários e jogar no lixo essa velha roupagem que apenas nos tornam pessoas enrustidas, amarguradas e infelizes. O Amor é a Lei, Amor sob Vontade.

Texto resgatado do extinto Sociedade Zvezda.

sexta-feira, 28 de maio de 2021

O elementar é transcendental

Sherlock Holmes : "Elementar, meu caro Watson".

Mas será mesmo? Lamento, Sherlock, mas quando se fala em magia [e forças da natureza] existem muito mais elementos [e elementais] do que supõem nossa vã filosofia.

Vamos à definição dada pelo Wikipédia sobre os elementos e elementais clássicos:

"De acordo com o esoterismo, Elemental é todo e qualquer espírito que crê-se existir na natureza. Todo princípio divino, após emanar-se do "Absoluto", deve iniciar seu processo de desenvolvimento incorporando-se à matéria.

Essa incorporação, segundo os princípios platônicos da Metempsicose acontece consoante a uma ordem estabelecida. Os princípios divinos devem iniciar sua jornada no mundo material incorporando-se inicialmente ao reino mineral. Após o aprendizado neste reino, o princípio divino deve passar ao seguinte estágio, ou seja, ao reino vegetal. Após concluir o aprendizado do reino vegetal, o princípio divino deve passar ao estado animal, e, posteriormente, ao estado humano.

Também são conhecidos como personagens fictícios, que representam seres da natureza e que seriam capazes de controlar os elementos e os representar. São eles:

Silfos - os elementais do ar
Salamandras - os elementais do fogo
Ondinas - os elementais da água
Gnomos - os elementais da terra
Ice - os elementais do gelo".

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Elemental

Opa! Espere um minuto. O Wikipédia acabou de aumentar os elementos e os elementais em mais um tipo/espécie. Eu não vou deixar de registrar as lendas envolvendo a Rainha do Gelo de onde se originou a animação "Frozen" e a rainha Elsa.

Eu vou complicar mais. Na filosofia chinesa existe a "teoria dos cinco elementos":

"A teoria dos cinco elementos (ou movimentos) (五行, wŭ xíng: "cinco" [Wu] e "andar" [Hsing/Xíng]) afirma que o fogo (火), a água (水), a madeira (木), o metal (金) e a terra (土), são os elementos básicos que formam o mundo material. Existiria uma interação e controle recíproco entre eles que determinaria seu estado de constante movimento e mudança. Nessa teoria que estabelece um conjunto de matrizes, todas as coisas podem ser classificadas de acordo (em analogia) a estes elementos ou relações entre eles". [https://pt.wikipedia.org/wiki/Wu_Xing]

Mas o "Livro dos Cinco Anéis" cita outra "teoria dos cinco elementos":

"A filosofia dos cinco elementos no budismo japonês, godai, é derivada de crenças budistas. É talvez mais conhecida no mundo ocidental por seu uso no famoso texto de Miyamoto Musashi, Gorin no Sho (O Livro dos Cinco Anéis), no qual o autor explica os diferentes aspectos da esgrima, atribuindo cada aspecto a um elemento". [https://pt.wikipedia.org/wiki/Cinco_elementos_(filosofia_japonesa)]

Outra referência que cruza esoterismo, magia e artes marciais. Coincidências demais para serem meras coincidências.

Satisfeito? Eu não. Quem joga [ou jogou] games deve ter visto outros elementos [e elementais]: Escuridão, Luz, Trovão [entre outros].

Para o elemento Madeira, tem o elemental Dríade. Para o elemento Metal, tem o elemental Golem. Para o elemento Escuridão, tem o elemental Espectro [veja a obra Nightbreed de Clive Barker]. Para o elemento Luz, tem o elemental Anjo [e outros personagens vinculados ao Céu]. Para o elemento Trovão, tem o elemental "Raiden" [eu peguei emprestado do personagem do Mortal Kombat].

Nós podemos incluir o elemental Morte com o elemental morto-vivo e o elemento Inferno com o elemental Demônio [geralmente associados ao elemento Escuridão e ao elemental Espectro].

Para o elemento Éter, há muitas associações, como o elemento Luz e o elemento Escuridão. Nós podemos associar aqui as almas e os espíritos. Mas o Éter não está limitado ao aspecto espiritual, esse elemento pode estar ligado aos corpos celestes, com o elemento Estelar e o elementar "Alien" [qualquer criatura cósmica].

Portanto, quando se fala em elemento [e elementais], não há nada elementar, mas sim tanscendental.