segunda-feira, 7 de junho de 2021
Os seis reinos do Samsara
sexta-feira, 4 de junho de 2021
Os juízes do Inferno
quarta-feira, 2 de junho de 2021
O sangue de Zeus
terça-feira, 1 de junho de 2021
Azul é a cor mais careta
Dois filmes que não tem a ver um com o outro em diversos aspectos tem algo em comum: a cor azul.
Um deles é o filme de animação “Divertidamente”. O outro é o polêmico “Azul é a Cor Mais Quente”. Em ambos a cor azul está presente.
Em “Divertidamente” a cor azul é utilizada para praticamente caracterizar a personagem “Tristeza”, pois para países de língua estrangeira se diz que quando alguém está triste, essa pessoa está “blue”. O estilo musical chamado “Blues” explica bem esse sentimento e associação.
Em doses exageradas, a tristeza conduz à melancolia e à depressão. O personagem “Tristeza” é uma epítome desse comportamento. Por sua “atitude”, “Tristeza” praticamente configura como um coadjuvante, uma “escada” e um “antagonista” da personagem “Alegria”. A “Tristeza” quase causa um apagamento total das memórias de Riley, sua hospedeira.
Até que “Alegria” tem uma revelação e “Tristeza” é colocada como co-protagonista e, juntas, conseguem “salvar” as memórias de Riley. O interessante é notar a diferença entre antes e depois de Riley quase ter suas memórias apagadas. Antes suas memórias eram monocromáticas, depois suas memórias são compostos mistos de alegria, tristeza, raiva, nojo, medo. Depois dessa experiência, Riley passa por um “upgrade” que inclui também um novo “comando”, chamado “puberdade”. Algo que os estúdios de animação tem medo de explorar.
O que não foi o caso de “Azul é a Cor Mais Quente”, onde a cor azul está presente no cabelo da co-protagonista e no vestido da protagonista. A cor azul é algo artificial, uma tintura, exerce outra função nesse filme.
Em “Azul é a Cor Mais Quente”, Adele, uma garota comum que, aparentemente, é heterossexual, repentinamente se interessa por Emma, uma garota que é francamente homossexual. O romance e envolvimento delas não é tão interessante, salvo por este ser um “filme comercial”, não um pornô.
Tirando as cenas de pegação, o filme demonstra que, mesmo entre pessoas homossexuais, certos hábitos e comportamentos “socialmente aceitos” continuam válidos.
Aqui eu faço o elo entre a cor azul e sua artificialidade. Apesar de Adele e Emma serem um casal “fora das normas”, em diversos pontos seus comportamentos românticos são os mesmos do que preconiza a sociedade. Apesar de viverem uma relação homossexual, ambas “apresentam” sua “amiga” para seus pais. Os pais nem desconfiam de que há algo mais do que uma amizade e ambas parecem terem feito um pacto de silêncio sobre seu relacionamento.
Relacionamento este que desanda por que Adele se sente “negligenciada” por Emma, então sai com outra pessoa, um homem, para “fazer ciúme” em Emma para “se vingar” do que ela acha ser uma “traição” de Emma contra ela. Emma, evidentemente, mostra que os receios de Adele são infundados, mas o “estrago” estava feito, Emma não aceita que Adele se relacione com outra pessoa. Apesar de serem um casal “fora das normas”, ainda vigora a monogamia, o privilégio e exclusividade sobre o amor e o sexo da outra pessoa envolvida. Paradoxalmente, o relacionamento de Adele e Emma ainda mantém os mesmos padrões de amor e relacionamento ditos “normais”.
O filme não teve uma revelação e Adele e Emma, apesar de terem formas de relacionamento fora do socialmente aceito, não saíram do mundo das memórias monocromáticas de “Divertidamente”.
Tomando os dois filmes em retrospectiva, eu posso dizer que azul é a cor mais careta.
Texto resgatado do extinto Sociedade Zvezda.
segunda-feira, 31 de maio de 2021
O pomar das Hespérides
sábado, 29 de maio de 2021
Homem que dá pinta
O Fabricio Longo tem uma coluna chamada Dando Pinta no Portal Fórum. A essa altura do campeonato, enquanto esse escritor pagão desenrola o fio de Ariadne no labirinto da contrassexualidade, uma questão pertinente: só os gays dão pinta? O que é “dar pinta”? Homem heterossexual cisgênero pode dar pinta? Olha lá que a minha questão não tem qualquer conotação sexual… ou será que tem? Depois de passados cinquenta anos da Revolução Sexual o ser humano está resgatando a posse e poder sobre seu direito ao corpo, ao desejo, ao prazer. Daí a importância e força da frase “o corpo é meu, as regras são minhas”. Eu dou o que é meu e dou para quem eu quiser.
Mas voltando ao assunto, “dar pinta” tem as seguintes definições:
- Parecer ser. Não necessariamente ser, mas parecer.
- Exagerar traço de personalidade. Não está diretamente ligado a sexualidade, nem a intenções sexuais.
Exemplos:
Ele ficou dando pinta de machão!
Ela deu pinta de boa mãe!
Tem pinta de ser engraçado.
Tem pinta de Bom moço!
Ele deu pinta na festa.
- Portar-se como homossexual. A expressão pode ser empregada também quando um homossexual enrustido quer dar a entender a um homem do seu interesse que deseja manter relação sexual com ele.
Exemplo:
Ficou o tempo todo dando pinta na festa!
Sinônimos:
Paquerar, dar bandeira, parecer, causar, impressão.
Dar bandeira:
Deixar à mostra aquilo o que devia ocultar; deixar transparecer algo que não devia.
Exemplo:
Fulano deu a maior bandeira, estragou todo o serviço.
Causar:
Aprontar, chamar atenção, fazer alguma coisa fora dos padrões do momento.
Palavras relacionadas:
Homossexual, viadagem, frescura, desmunhecar.
O estereótipo do homossexual, tal como é visto pela sociedade heteronormativa, pode ser visto quando o homossexual é cristalizado em algum personagem folhetinesco, uma paródia evidentemente exagerada e grotesca para expressar a aversão que a sociedade tem de outro ser humano simplesmente por não seguir os ditames dessa que é a verdadeira Ideologia de Gênero imposta pela sociedade.
Uma vez que a sociedade exprime por signos seus preconceitos, esta certamente expressará por signos seus ideais, seus modelos de homem e mulher, seus modelos de amor e relacionamento, exigindo que o ser humano se encaixe. A propaganda é a melhor vitrine desses signos de macheza, mas estes tipos são bem mais marcantes e influentes em outros meios de comunicação de massa. O homem ideal é sempre o protagonista nas categorias de aventura e ação, seja em livros, quadrinhos, teatro ou cinema. O “herói” serve de modelo e inspiração para garotos ainda em idade de formação de caráter e identidade, mas a despeito de ser tão invejado ele também é um estereótipo, praticamente uma paródia exagerada e grotesca que equipararia o homem “ideal” a um protótipo de troglodita.
O ideal é tão invejado que passa a ser amado, desejado. Pulsões, traumas ou fetiches entram em contraste com a mensagem da sociedade que o homem é “fresco”, “desmunhecado”, “mariquinha” quando ele expressa algum comportamento feminino, de tal forma que acaba sendo um tipo de misoginia quando se diz que alguém é “afeminado”. A sociedade diz que o homem tem que ser machão, “pegador”, tem que ser o líder, o macho alfa e não pode hesitar em usar seus músculos para garantir sua posição na “alcatéia”. Nesse caso, nós temos vários homens heterossexuais que dão pinta.
Com a chegada do século XXI começaram a aparecer estudos sobre a identidade de gênero, sobre a identidade, personalidade e opções sexuais, discussões sobre modelos de relacionamento e novas formas de famílias. A genética, a biologia, a neurologia e a psicologia ajudaram a mostrar para o ser humano que seu DNA apenas define sua genitália e que seu gênero é definido pela cultura e sociedade de sua época. O homem ideal, o “herói”, tem sua máscara removida e vemos apenas uma pessoa cheia de medos, inseguranças e recalques. Uma pessoa não deve ter medo ou vergonha de ser, afirmar ou expressar sua identidade, personalidade, opção e preferência sexual.
Hoje nós temos mais direitos e liberdades em nossa vida erótico-afetiva graças a essas pessoas fabulosas, seres divinamente humanos que fazem parte da comunidade LGBT. Vamos sair de nossos armários e jogar no lixo essa velha roupagem que apenas nos tornam pessoas enrustidas, amarguradas e infelizes. O Amor é a Lei, Amor sob Vontade.
Texto resgatado do extinto Sociedade Zvezda.