quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Puritanismo rima com fascismo

Quando eu escolhi ler o livro "Um Romance Sentimental" de Alain Robbe Grillet eu admito que o fiz induzido pela propaganda na capa de que aquela era uma obra de conto de fadas para adultos. Decepção. Não é uma boa leitura. Aquele que eu considero meu mentor, Alphonse Donatien, escreveu com o mesmo estilo, com muito mais propriedade.


Eu devo ter escrito isso em algum lugar. Sobre como a elite que está no poder precisa criar e cultivar uma ameaça para manter o controle social. O pânico moral deu novo nome e forma do bode expiatório para a Era Contemporânea e o que vemos eu chamo de Cruzada Contemporânea. Todo esse furor em torno de uma palavra que começa com "p".


Isso aconteceu nas cruzadas originais, na chamada de caça às bruxas (e hereges), na demonização do judeu (e do muçulmano), depois em torno dos comunistas e agora visando os homossexuais.


Eu escrevi aqui sobre a hipocrisia, citando o caso do prefeito que casou com uma adolescente. Quando Fátima Bernardes falou sobre o relacionamento com Túlio Gadelha, todo mundo ficou meigo, mesmo sabendo da diferença de idade. Túlio tinha a metade da idade da Fátima.


Então eu vejo uma indignação seletiva em relação à notícia do PM que foi fazer seu pedido de casamento para uma adolescente.

Ou quando uma influencie admitiu ter tido um relacionamento com um adolescente.


Segundo o professor Ghiraldelli:

"Quem leu Lolita sem amarras morais sabe perfeitamente que a menina jamais foi uma vítima. Ao menos não em relação a HH. É mais fácil tomar o comportamento do professor HH como sintomaticamente angustiado. Percorrer Lolita com algum conhecimento da obra de Nabokov, leva a não se furtar de ver nesse seu livro um tema relativamente constante: a infância está longe de ser descrita pela visão de Rousseau. A infância que configura o bom selvagem é o grande engodo. Nada há de mais perverso que uma criança – a infância russa de Nabokov nunca se adaptou à infância do romantismo ocidental. A garota Lô é protegida pela ideologia da infância pura, tipicamente moderna, exageradamente americana, e com isso está liberta para os prazeres do sexo bem cedo, e para a concomitante prática de manipulação dos adultos. Essa é a tese de Nabokov."


O brasileiro médio comum esqueceu completamente do filme "Beleza Americana". Ou viu e não entendeu. Eu, que sou nascido na década de 70 e estudei comunicação social, história em quadrinhos, aponto para o fenômeno dos "catecismos" de Carlos Zéfiro e para os filmes de "soft pornô" que eram transmitidos pela Record (que ainda devem ser transmitidos por alguma emissora).

As décadas de 70-80 foram o tempo áureo das publicações para o público adulto e a minha geração recebeu educação sexual lendo isso escondido. A geração atual tem a internet, as redes sociais e os aplicativos de mensagens. Mas nós, que agora somos adultos, continuamos perpetuando o mesmo recalque, frustração e trauma de nossos avós.

Eu corro o risco de ser preso (de novo ?) por falar do óbvio e eu estou cansado. O brasileiro médio comum parece ter preguiça de pensar. Eu não fico surpreso em saber que nossos jovens não completam o ensino médio. Nossa educação pública é ruim. O resultado é gente como Olavo de Carvalho, tido e considerado professor e filósofo. Só no Brasil.


Ou não. O fascismo e a extrema direita estão voltando no mundo inteiro. O fundamentalismo cristão e o conservadorismo estão pegando carona nesse movimento e ganhando poder.

A pergunta que eu deixo é quanto tempo será necessário para vermos o erro judicial e que se está punindo pessoas inocentes?

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