terça-feira, 17 de outubro de 2023

Saia do armário e viva

A cultura pop deve muito ao cinema e ambos devem muito à literatura. Dos gêneros no cinema, o infanto juvenil é o que mais influencia a garotada. Não confunda gênero infantil com infantilizado.
Um bom exemplo é o filme "As crônicas de Nárnia: o Leão, a Feiticeira e o Guarda Roupa", baseado na obra de C S Lewis.

Quem diria que Clive era ateu até ser convertido pelo seu amigo J J R Tolkien. Isso e a influência de G K Chesterton fez Lewis virar um verdadeiro apologista do Cristianismo. O que é interessante é que se Lewis ficou conhecido por sua defesa (e propaganda) do Cristianismo, Tolkien será lembrado por sua defesa da mitologia celta.

Os símbolos mais evidentes e declarados no título da obra, são o leão, a "feiticeira" (a tradução mais certa é bruxa) e o guarda roupa (que aqui nós conhecemos como armário).

O símbolo do leão está associado à figura de Cristo, tirado da leitura de Apocalipse, versículo 5:5. Curiosamente, o mesmo texto sagrado coloca o símbolo do leão associado ao Diabo, como pode ser lido em 1 Pedro, versículo 5:8.

O cenário é de um mundo alternativo dominado por um inverno eterno causado pela feiticeira Jadis, a Imperatriz de Charn e rainha usurpadora de Nárnia. Quem estuda um pouco sabe que tanto o inverno quanto o verão têm igual importância na preservação da vida. Um inverno eterno não é bom, mas com a crise climática e o aumento da temperatura, um verão eterno também não seria bom.
Lewis escreveu a obra em 1950 e parece não ter ficado impressionado com os horrores que o Cristianismo, a Igreja, proporcionou na história com o Santo Ofício. Milhares de pessoas foram perseguidas, presas, torturadas e mortas apenas por causa de suas crenças. Foram chamadas de hereges e bruxas, eram pessoas comuns que simplesmente seguiam o resultado do sincretismo das crenças antigas e o Cristianismo imposto pela Igreja.

Desde que se tornou a única religião oficial e se misturou com o governo do mundo, o Cristianismo sempre agiu com brutalidade e violência contra aquilo que era diferente ou destoava do padrão. O que nos leva ao guarda roupa, que nós chamamos de armário.
O mundo de Nárnia só é acessível através do armário. Trata-se de um mundo oculto ou proibido. Como a sexualidade de muitas pessoas, que precisam ficar escondidas por causa da doutrina cristã.
E a humanidade escolhe seus alvos para exercitar seu ódio e intolerância. Muçulmanos, judeus, ciganos, hereges, bruxas, comunistas e agora os homossexuais.

Se nós quisermos um mundo melhor, devemos caçar esse leão. Tirar as pessoas de seus armários. E deixar as bruxas viverem. Libere sua Jadis. Tire do armário. Venha para minha cama. Porque eu também sou do seu povo.
Assim seja, assim é, assim será.

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