Jair de Souza pergunta, em seu artigo publicado no Brasil 247:
Mas, se os evangélicos se orgulham de estar entre os mais fiéis seguidores de Jesus Cristo, como explicar que eles apareçam como base de sustentação para um governante que demonstra não cultivar nem praticar quase nenhum dos fundamentos com os quais o próprio Jesus se identificou plenamente em todo seu período de vida entre nós?
(https://www.brasil247.com/blog/os-ensinamentos-de-jesus-para-iluminar-os-rumos-do-presente?amp)
Eu acrescentei uma questão, comentando:
O que Jesus diria ao ver gente que se diz cristão disseminando ódio e preconceito contra a comunidade LGBT?
Não é difícil encontrar discursos e sermões no meio evangélico com mensagens que disseminam o ódio e o preconceito contra a comunidade LGBT. Eu aponto o Gospel Prime como exemplo. Embora esse discurso possa ser visto também no Gazeta do Povo, jornal tendencioso, conservador e de direita (distorce fatos e apenas divulga textos que defendem o presidente fascista genocida).
Ainda que tenham colunistas que digam que os evangélicos são um grupo diversificado, eu digo que tem fatores no Cristianismo que não são negociáveis. Digo mais: se os cristãos nada fazem para combater o discurso de ódio, tornam-se cúmplices. Acrescento: ainda que os evangélicos sejam diversificados, os fanáticos fundamentalistas são mais expressivos, social e politicamente.
Eu recomendo ao eventual e dileto leitor a ver a série sobre a história do Cristianismo e das heresias. O fenômeno do evangelismo no Brasil é uma tendência importada dos EUA. E o produto importado veio com a homofobia, como pode ser visto com o caso da Igreja Batista de Westboro (que faz discurso de ódio também contra ateus, muçulmanos, pessoas transgênero e outras denominações).
Pode parecer paradoxal que a dita "Terra da Liberdade" tenha se tornado o antro do racismo, da xenofobia e da homofobia (e intolerância religiosa). Mesmo se considerarmos que os colonos que ali se estabeleceram quiseram construir um país (ao contrário dos portugueses que aqui vieram unicamente para explorar as riquezas), o fizeram para que ali se cumprisse a promessa do "Novo Mundo" (tanto que a Europa é chamada de Velho Continente) e, quando chegou a década de 30 do século XX (com o surgimento do Fascismo e Nazismo), apenas foi acrescentado um aspecto político ao fundamentalismo cristão.
Desde que Constantino descobriu (e usou) essa seita que surgiu entre servos e escravos, o Cristianismo tornou-se uma ferramenta política, inclusive para as igrejas. Um bom exemplo disso é a teoria da ideologia de gênero, a teoria da agenda gay e a teoria da esquerda estar querendo destruir a família. Católicos e Protestantes anteciparam o que hoje é chamado de fake news.
Eu citei em algum lugar aqui a carta para a "doutora" Laura Schlessinger. O conteúdo da carta é uma sátira feita para se refletir sobre o absurdo de se ater à interpretação literal de um texto sagrado. Mesmo assim, o cristão se atém ao que ele ouve o padre/pastor falar. Teve até um pobre coitado que tentou sustentar seu argumento, dizendo que o homossexualismo é condenado pelo VT e NT, mas acabou capitulando (sem perceber) ao admitir que ele não era judeu e que a Lei foi abolida.
O objetivo desse tipo de discurso moralista é o de fomentar e cultivar o medo. Essa opressão e repressão sexual é inerente ao Cristianismo, tudo que se refere ao mundo, ao corpo, ao desejo, ao prazer e ao sexo é visto como algo ruim, prejudicial e maligno, um pecado. O medo é utilizado para conversão e proselitismo, sem o medo do Diabo, do Inferno ou da condenação eterna, o Cristianismo sumiria. Em algum lugar eu escrevi que aquilo que se teme, se quer destruir, então não é estranho ver tanta violência contra a comunidade LGBT, violência essa estimulada e incentivada pelo discurso de ódio.
Eu vou tentar responder minha questão, fazendo um resumo do que os Evangelhos contam sobre a missão e ensinamentos de Jesus.
Jesus foi revolucionário, pois tirou dos rabinos o monopólio e o privilégio sobre a religião.
O cristão segue, bovinamente, o que seu padre/pastor fala.
Jesus ensinava publicamente, nas ruas, não nas sinagogas e nunca cobrou por isso.
O cristão acredita que o dízimo que seu padre/pastor lhe cobra vai garantir sua ida ao Paraíso.
Jesus desafiou e questionou a autoridade dos rabinos. A palavra "fariseu" ficou com um sentido pejorativo.
O cristão (como o fariseu) cita e interpreta a Lei (ou a Bíblia) ao pé da letra.
Jesus desafiou e quebrou a Lei, ele não apedrejou a adúltera e curou no sábado.
O cristão segrega, discrimina e alguns até observam o sábado.
Jesus falou com a samaritana, com os gentios, com os publicanos, com os coletores de impostos e todos os excluídos.
O cristão é intolerante e preconceituoso. Só dialoga (quando consegue) com outro cristão.
Jesus acolheu a todos, não julgou nem condenou pessoa alguma.
O cristão vive julgando e condenando.
Então, caro cristão, pouco lhe vale ir na igreja, ler a Bíblia e dar o dízimo. Seus atos e palavras são contrárias ao que Jesus fez e disse. Você não vai chegar no Paraíso prometido.
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