sexta-feira, 1 de maio de 2015

O fogo no alto da colina

Cristãos comemoram o Pentecostes, uma festa que tem sua origem na festa judaica do succot, que por sua vez tem origem em festas da colheita dos cananeus [ou seja, uma festa pagã]. Então é necessário explicar estas três ocasiões.

Pentecostes é uma das celebraçőes importantes do calendário católico e, comemora, segundo esta crença, a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos de Jesus Cristo. O Pentecostes é celebrado 50 dias depois do domingo de Páscoa. O dia de Pentecostes ocorre no sétimo dia depois do dia da Ascensão de Jesus. Isto porque ele ficou quarenta dias após a ressurreição dando os últimos ensinamentos a seus discípulos, somando aos três dias em que ficou na sepultura somam quarenta e três dias, para os cinquenta dias que se completam da páscoa até o último dia da grande festa de Pentecostes, sobram sete dias; e foram estes os dias em que os discípulos permaneceram no cenáculo até a descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes.
Pentecostes é histórica e simbolicamente ligado ao festival judaico da colheita, que comemora a entrega dos Dez Mandamentos no Monte Sinai cinquenta dias depois do Êxodo. Para os católicos, o Pentecostes celebra a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos e seguidores de Cristo, através do dom de línguas, como descrito no Novo Testamento, durante aquela celebração judaica do quinquagésimo dia em Jerusalém. Por esta razão o dia de Pentecostes é, às vezes, considerado o dia do nascimento da igreja. [Wikipédia]

Originalmente, a festa recebeu o nome "Festa da Colheita", porque se tratava de uma cerimônia que girava em torno de uma sega de grãos, após o período de formação e maturação. O nome "Festa das Semanas" também faz sentido, porque ele diz respeito às sete semanas de duração da festa quando se processava a colheita de trigo e cevada. [Portal Metodista]

Antes de ser uma festa dos cristãos, Pentecostes foi festa dos judeus, e sua origem se perde nas sombras do passado. Antes de se chamar assim, tinha outros nomes, e era uma festa agrícola. Em Êxodo 23,14-17 é chamada de festa da Colheita, a festa dos primeiros feixes de trigo colhidos. Em Êxodo 34,22 é chamada de festa das Semanas. Por que "festa das semanas"? A explicação é dada pelo Levítico (23,15-21): calculavam-se 7 semanas a partir do inicio da colheita do trigo. 7 semanas = 49 dias.

Com o tempo, ela perdeu sua ligação com a vida dos agricultores, recebeu o nome grego de Pentecostes e se tomou festa cívico-religiosa. [Paroquia São Paulo Apóstolo]

Até algum tempo atrás, tudo que se sabia da religião cananita vinha das descrições do Velho Testamento. Baseados em descobertas contemporâneas, os estudiosos acreditam que os cananeus adoravam uma família de deuses e deusas, que tinham duas características impressionantes: sua personalidade e poder mudavam constantemente e seus nomes tinham significados e fontes que podiam ser facilmente seguidas. O panteão cananeu tinha importantes personalidades como:

EL - que significa "deus, o forte, poderoso", representado por um ancião de cabelos e barbas brancas;

BAAL - o deus da tempestade, rei dos deuses, logo sobrepujou El em importância, representava o poder das forças da natureza.
Deidades femininas: foram encontradas em escavações arqueológicas, muitas estatuetas de terracota representando deusas cananitas.

Como lutavam para sobreviver na terra hostil, os cananeus ofereciam sacrifícios aos deuses que acreditavam poderiam ajudá-los a prosperar. Se os deuses e deusas se agradassem da adoração, o resultado seria uma colheita farta. A adoração acontecia num santuário ou "alto lugar" onde eram oferecidos os sacrifícios. Evidências arqueológicas indicam que animais de todos os portes eram oferecidos num grande templo. [Ensinador Cristão]

A história do monoteísmo entre os Judeus e Cristãos demonstra que houve uma supressão deste passado pagão destas religiões, mas não foi possível suprimir completamente as crenças e tradições populares que sobreviveram à repressão/opressão da Sinagoga e da Igreja debaixo do sincretismo e da folclorização da religião oficial. Ainda nos fias de hoje existem festas de colheita, devidamente assimiladas e normatizadas, como a festa de São João. Pagãos Modernos festejam Beltaine, que é uma celebração restaurada de antigos rituais pagãos. Mas o pagão moderno teria uma celebração para a descida do “fogo do Espírito Santo” celebrado pelos Cristãos?
A mitografia cristã costuma representar o Espírito Santo na forma de uma pomba, animais que estão vinculados a diversas Deusas e ao divino feminino. Em termos mais gnósticos, o Espirito Santo é equiparado a Sophia, ou Sabedoria, que é um aspecto do divino feminino em diversas religiões antigas. Nesse caso, nós temos Deusas que são as responsáveis pelo “fogo divino”: as Musas. Temos também Hestia e também as Vestais. Uma das características mais comuns das religiões antigas, em seu aspecto familiar ou comunitário, é a existência de um santuário onde se mantém, piedosamente, um fogo aceso.
Se me perdoam a repetição, Beltaine é exatamente tudo isso. Uma festa da colheita, uma festa do fogo divino. No alto da colina, nos idos de maio, as fogueiras e o poste de maio são símbolos de que as Deusas nos enviam o fogo divino. Este fogo divino garante a fertilidade dos campos e do gado, muitos celebrantes “se incendeiam” e acabam fazendo amor, escondidos nas moitas ou nos fardos de trigo.
As Musas também cederam o “fogo divino” aos povos antigos, sem o que não teríamos a poesia, a filosofia, a arte, a música, o teatro, a ciência e a tecnologia. Nós devemos muito a estes pensadores, sonhadores e filósofos antigos.
Em muitos países católicos ou cristãos, haverá a ocasião das festas juninas, uma tradição popular que remonta as festas de colheita, resquícios de tradições e crenças que sobreviveram. Quando acenderam a fogueira de São João e subirem o mastro de Santo Antônio, o pagão moderno sabe muito bem o que está sendo celebrado, quem está sendo homenageado e quem está sendo adorado. Que venha o fogo divino e nos faça recordar de nossas verdadeiras raízes, origens e crenças.

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