domingo, 4 de maio de 2008

Quando o cliente não tem razão

Eu me divirto entre os ateus da ESFC, mesmo quando há alguma notícia falando de bruxos que se dão mal. Eventualmente aparecem cristãos tentando argumentar, o que torna o fórum mais divertido.
Os cristãos não sabem como explicar direito o que o rei Saul foi fazer em Endor nem o que aconteceu ali com a mulher que ele foi ver. Em algumas versões da bíblia, ela é descrita como 'necromante', outras como 'médium', outras que 'tinha espírito de feitiçeira', outras que ela tinha um 'espírito familiar', outras que ela 'adivinhava por um fantasma'. Em páginas cristãs a passagem é devidamente 'interpretada' que a mulher em questão era uma bruxa, não uma profetisa, não uma pitonisa, nem uma sacerdotisa.
A 'versão' da bíblia foi dita, mas qual seria a versão da mulher de Endor?
Eis a estória para contar a versão da sacerdotisa de Endor.

Eu estava tranquilamente recolhendo meus objetos a fim de me mudar para a Fenícia aonde meu ofício ainda é permitido quando veio um senhor com um pedido de urgência.
- Grande sacerdotisa, eu vos peço que chame um espírito para mim.
- Ora, vá a Megido ou Jesrael. Eu fui intimada a ir embora pelos asseclas do rei Saul.
- Graciosa serva da Deusa, é por causa da guerra entre Filisteus e Israelitas que Saul vos enxotou, pois sentiu-se traído por não ter sido avisado que Davi serviria a Aquis.
- Não era este o Davi que outrora era consultor de Saul?
- Sim, aquele fedelho! Eu o alimentei, dei roupas, casa, cama, um lugar no meu exército e não satisfeito com o que eu dei, me roubou até meus favores diante do Senhor de Israel!
- Ora, ora! Senão é o rei em pessoa! Vós não tendes profetas em Israel? Vós não dizeis que nós merecemos apenas a morte? Vós não dizeis que nossa Deusa e nosso Deus são demônios? Então volteis para vossos sacerdotes e consultem ao vosso Deus Vivo.
- Piedade, santa senhora! Eu vim até tu, sem coroa, sem manto, sem majestade porque o Senhor não me responde nem tem mandado profetas para me aconselhar.
- Vede que vós me proscristes, mas como todo soberano voltas atrás do que resolvestes quando vos é pertinente. Eia! Levanta-te! Que me deixa embaraçada ver-te assim te humilhando! Quem tu quer que venha para consultar?
- Aquele espírito que me é mais próximo ao coração, muito embora houvera partido deste mundo magoado com este servo do Senhor de Israel.
Eu procedi, então, como de costume, chamando ao espírito que Saul clamava do coração e eis que tive mais uma surpresa ao ver o profeta Samuel diante de nós.
- Saul, o Senhor me permitiu vir a ti, apesar que entre nosso povo ser proibido tais coisas para vos lembrar de teus erros e de que o Senhor arrependeu-se de te ter feito rei do povo de Israel. Eis que o Senhor de Israel escolheu Davi e por intermédio dele faz uso dos Filisteus para castigar a ti e ao povo de Israel por tuas faltas.
Fim da consulta, Samuel voltou a dormir com seus pais e eu distribui o alimento da propiciação diante dos meus Deuses, como é de nosso costume, mas o consulente a princípio voltou a ser o mesmo Israelita que era se recusando a comer com meus Deuses e eu temi de não receber minha paga.
- Saul, não te convém agora se comportar assim. Eu não te trouxe aqui nem te instei a me consultar. Tu veio aqui como pessoa comum, então te comporte como pessoa comum, reparta comigo e teus servos a refeição com meus Deuses e volta a Israel que de minha parte nada falarei do ocorrido, se tu nada contares.
A contragosto, Saul comeu com meus Deuses e antes de partir disse-me:
- Profetisa de Endor, eu te prometo que nada do que aqui ocorreu ou do que foi dito será contado.
Boatos confirmaram mais tarde para mim que essa seria mais uma promessa quebrada. Eu não me surpreendi, o povo de Israel é reconhecido pela sua mania de contar as coisas apenas pelo lado que lhes favorece.

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