sexta-feira, 9 de maio de 2008

Compreendendo a Sombra

Para entender o que é a sombra nós temos duas perspectivas que, embora pareçam contraditórias, são formas que se complementam e existem em função da oposição uma em relação à outra.
Basicamente essas perspectivas são categorizadas em dois termos abrangentes, o chamado ‘Caminho da Mão Direita’ e o ‘Caminho da Mão Esquerda’.
Os termos se referem a uma dicotomia entre dois sistemas de crenças cujos significados tem variado conforme a época.Definições modernas do ‘Caminho da Mão Direita’ eleva a espiritualidade, a estrita observância de códigos morais e a adoração de divindades. O intento é o de conquistar uma proximidade ou integração com a divindade.Por seu lado, o ‘Caminho da Mão Esquerda’ valoram o progresso e a preservação do ego, glorificação de objetivos mais terrenos e temporais e poder pessoal do que metas espirituais.[wikipédia – traduzido]
Aquilo que divide os sistemas é, curiosamente, o motivo para que se tenham feitos tais sistemas, a saber, a visão e opinião sobre a condição deste mundo, da natureza, da humanidade, da existência.
Quando duas visões sobre um mesmo fenômeno entram em conflito, existe uma boa chance de que ambas as visões sejam produzidas por uma percepção distorcida do mesmo fenômeno.
A distorção é causada por uma reação psicológica e religiosa não à causa, mas ao efeito advindo da condição humana, da natureza e deste mundo e este efeito é o sofrimento. O sofrimento, dentre todos os elementos que constituem a nossa natureza, é o mais forte e mais evidente, mas não deveria ser o foco dos sistemas religiosos.
O sofrimento tem origem natural ou social, mas existe uma variação na reação psicológia ou religosa diante desse efeito e exatamente por ser tão crucial para nossa espécie, as variantes de reação formaram a base de muitas religiões. O problema todo começa quanto esquecemos que o sofrimento é um fenômeno natural e espontâneo e passamos a atribuir o sofrimento à causas sobrenaturais, seja como resultado da ação ou da reação de uma entidade. Em ambos os casos, ou passamos a tentar propiciar essa entidades com oferendas e cerimônias, ou passamos a observar certos padrões de conduta que supostamente agradem a essa entidade. Em ambos os casos, nós alteramos a nossa percepção natural e passamos a ter um outro tipo de comportamento diante do mundo, da natureza, da existência e essa alteração de comportamento nos fez dividir nossa própria natureza em duas partes: a material e a espiritual, a consciente e a subconsciente, a individual e a coletiva, etc.
Essa divisão produziu dois entes distintos, opostos e compelmentares, quando não antagônicos entre si: o ego e a sombra. O ego é uma simples casca útil para uma interação prática com o ambiente, com a sociedade, com a espiritualidade. Como o ego é algo que existe por um motivo prático e finito, este não causa muitos problemas. Mas a sombra, por existir em nível subconsciente, sua existência passa a ser mais duradoura, até um momento em que a sombra criada por nossa espécie se agregou e tomou consciência de sua existência - e a sombra é capaz de tudo para permanecer existindo.
Basicamente falando, a existência da sombra depende de como a alimentamos, através desses padrões de comportamento que visam, a priori, evitar esse sofrimento supostamente de origem sobrenatural. Quanto mais aumentarmos o abismo que criamos entre o espírito e a matéria, maior e mais forte será a sombra; quanto mais nos sentirmos culpados, maior será o nosso conflito existencial.
Em outras palavras, ambos os sistemas de crenças, tanto da Mão Direita quanto da Mão Esquerda, são vantajosos para a sombra se manter como uma egrégora eterna. O fundamentalismo religioso tem sido a maior fonte de alimentação da sombra e esta é esperta como nós para saber como direcionar, desviar ou barrar a energia que é empenhada nesses credos, a fim de atingir seus propósitos.
Para identificar como e onde a sombra se oculta nesses sistemas de crenças, eu listarei alguns pontos das doutrina, ressaltando as diferenças e comparando as semelhanças. Para fins práticos, o 'Caminho da Mão Direita' será chamada de 'destra' e o 'Caminho da Mão Esquerda' será chamada 'canhota'.

A sombra como o Criador (destra): a partir do momento em que os 'destros' acham que sofrem porque são punidos por ações (chamados de pecados) que desagradam a Deus, a própria condição carnal da existência humana induz em remorso e medo constantes. A sombra apenas tem que usar essa compulsão por padrões morais de virtude e ascetismo para que nós projetemos nessa ideía de Deus a perfeição e a santidade utópicas e impossiveis -humanamente- de serem atingidas. Nessa concepção ideológica de Deus, nossa mente consciente vê refletido pelo espelho do subconsciente -domínio da sombra- essa projeção daquilo que nós mesmos convencionamos como sendo 'santo', 'justo', 'puro' e 'bom'. Como ignoramos que o que é visto é uma mera aparência refletida de nosso próprios padrões e idéias, para os 'destros' faz sentido lógico ver neste Deus projetado como algo externo e além deste mundo, desta existência, desta humanidade e, portanto, superior e soberano a tudo.
A sombra como a Natureza (canhota): os 'canhotos' acham também que a Natureza é essencialmente má, uma vez que nesse mundo só há sofrimento, curiosamente concordando com os 'destros'. Mas ao invés de atribuir esse mundo como uma criação degenerada de um Deus do Bem, os 'canhotos' acreditam estarem adorando o verdadeiro Senhor do Mundo, essa 'força da natureza' essencialmente maligna, no que os 'destros' concordam. Entretanto, se para os 'destros' é plenamente lógico buscar ideais (humanos) de 'espiritualidade', 'virtude' e 'ascetismo', para os canhotos o lógico é buscar por ideais (igualmente humanos) de 'materialidade', 'liberalidade' e 'hedonismo'. A sombra tem apenas que usar esse antropocentrismo para ressaltar nos indivíduos suas pretensões de grandeza e seus sonhos de poder que apenas aumentam a casca do ego, deixando a sombra com mais conforto e segurança.
A sombra como o Salvador/Libertador (ambos): os 'destros' acham que a sombra é o Criador do mundo, o Messias e a autora das leis divinas pelas quais o Homem pode se salvar/ se libertar da morte do pecado; os 'canhotos' acham que a sombra é a Natureza, o Homem e a autora das leis naturais pelas quais o Homem pode se salvar/ se libertar da prisão das leis divinas.
A sombra como o Usurpador/ Tentador (ambos): os 'destros' acham que a sombra é o Diabo e a fonte do pecado, cuja única meta é destruir o Homem e usurpar o trono de Deus; os 'canhotos' acham que a sombra é o Falso Deus e a fonte da compulsão, cuja única meta é oprimir o Homem e subjugar o Espírito da Humanidade.
A sombra como a inspiração dos profetas/ dos filósofos (ambos): os 'destros' acham que a sombra inspirou os profetas para escreverem as 'palavras de Deus', o que torna o livro sagrado infalível, incontestável e inerrante; os 'canhotos' acham que a sombra inspirou os filósofos para refutarem as 'palavras de Deus', o que torna o raciocínio humano infalível, incontestável e inerrante.
A sombra como a divindade cósmica suprema (ambos): os 'destros' acham que a sombra é o único e verdadeiro Deus, todo o resto são demônios e as outras crenças são cultos ao Diabo; os 'canhotos' acham que a sombra é o Espírito Humano, de quem todos os Deuses são meros reflexos e as crenças são superstições.

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